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ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO DA CHINA E SEUS IMPACTOS NO SISTEMA INTERNACIONAL (2000 A 2010)

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ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO DA CHINA E SEUS IMPACTOS NO SISTEMA INTERNACIONAL (2000 A 2010)
Manuela Ferreira dos Santos1 Estudante de Graduação de Bacharel em Relações Internacionais na Universidade Vila Velha – UVV. 
Andreia Coutinho e Silva2 Mestre em Administração de Empresa e professora na Universidade Vila Velha – UVV. 
RESUMO
Este trabalho busca analisar o processo de desenvolvimento chinês e suas consequências para o sistema internacional. Analisamos as transformações que a China tem passado ao longo dos anos, a evolução de sua política externa, assim como as relações multilaterais e bilaterais, dando enfoque maior nas interações com os Estados Unidos considerando a importância do papel que a potência americana tem sob as mudanças na trajetória de crescimento chinês. O levantamento bibliográfico realizado possibilitou explorar os aspectos teóricos a respeito da questão chinesa, através da apresentação de elementos que justifiquem o processo de crescimento chinês, apresenta-se uma perspectiva econômica e política analisando os períodos anteriores e posteriores a década de 1990, para que se possa identificar as principais características das variadas fases que o gigante asiático tem passado até a sua atual posição. Conclui-se apresentando uma visão do contexto geral que se encontra o sistema internacional, os seus atores e o papel que a China exerce no modelo atual, apontando os pontos positivos e negativos que o desenvolvimento chinês tem trazido ao cenário internacional, demonstrando também que os estudos sobre este tema se tornam cada vez mais amplo conforme o papel chinês ganha mais relevância no mundo.
Palavras Chave: China. Sistema internacional. Estados Unidos. Ascensão.
ABSTRACT
This paper analyzes the Chinese development process and its consequences for the international system. We analyze the transformations that China has undergone over the years, the evolution of its foreign policy, as well as multilateral and bilateral relations, focusing more on the interactions with the United States, considering the importance of the role that the American power has under the changes in China's growth trajectory. The bibliographic survey made it possible to explore the theoretical aspects regarding the Chinese question, through the presentation of elements that justify the Chinese growth process, an economic and political perspective is presented, analyzing the periods before and after the 1990s, so that can identify the main characteristics of the various phases that the Asian giant has passed to its present position. It concludes by presenting a view of the general context of the international system, its actors and the role that China plays in the current model, pointing out the positive and negative points that Chinese development has brought to the international scene, also showing that the study on this theme becomes increasingly broad as the Chinese role gains more relevance in the world.
Keywords: China. International system. U.S. Rise.
1 INTRODUÇÃO
A ascensão chinesa tem sido algo impressionante, com a economia crescendo 10% ao ano a mais de 30 anos, podendo ser considerada como o “produtor do mundo”. A China vem passando por um processo de expansão política e comercial, “[...] tendo obtido mais poder no âmbito das instituições multilaterais – Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Mundial do Comércio (OMC), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, G-20 financeiro – como nas negociações bilaterais com outros países [...]” (ACIOLY, LEÃO, 2011, p. 14).
Durante muito tempo a China foi um país que priorizava medidas protecionistas com o objetivo de evitar a aproximação com o exterior e proteger seu império e sua cultura da influência do Ocidente. No entanto, o que se pode observar atualmente é um país cada vez mais aberto ao investimento estrangeiro, dando mais importância às relações multilaterais e bilaterais, com foco no seu desenvolvimento. Assim a China foi capaz de conquistar o seu lugar de destaque no cenário internacional, cuja relevância garante participação nos principais grupos internacionais, políticos e econômicos.
Foi assim que a China conseguiu subir na hierarquia do sistema mundial. Apesar do progresso chinês, sua rivalidade com os Estados Unidos ganha cada vez mais força no meio internacional, a potência americana assumiu o papel de frear o crescimento chinês. Essa relação da China com os Estados Unidos estabelecida na década de 2000 provocou mudanças na econômica mundial, essa relação que até os dias atuais é essencial para que o modelo internacional como é apresentado hoje, continue a funcionar, o equilíbrio do sistema internacional se divide ao invés de estar nas mãos de um único ator, e a China tem um papel muito importante na manutenção e no futuro que este modelo terá (ACIOLY, LEÃO, 2011).
O objetivo deste artigo é analisar o processo de desenvolvimento chinês no período dos anos 2000 a 2010, para isso, é necessário observar os fatores políticos, econômicos e até sociais, para que seja possível entender como esse país conseguiu crescer tão rapidamente não apenas em sua região, mas também no contexto global. Justifica-se este artigo, pois o cenário internacional tem sofrido muitas mudanças nos últimos anos, os Estados Unidos mesmo mantendo sua posição de líder regional tem sofrido forte pressão com o rápido avanço chinês, e não somente ele, mas todos os demais países passaram a enxergar a China como uma nova oportunidade, um novo e enorme mercado a ser explorado. Torna-se proveitoso este estudo, pois compreender como ocorreu o desenvolvimento chinês poderá permitir entender seus próximos passos na sua trajetória evolucionária e identificar as características que compõe este país em ascensão.
Assim sendo, este artigo é composto de 4 seções. A primeira delas, O recente desenvolvimento chinês, busca apresentar os elementos que compõe o processo de desenvolvimento chinês, desde as mudanças políticas e econômicas até as sociais. Neste primeiro momento busca-se apresentar as principais mudanças observadas no cenário internacional a fim de apresentar informações que possam demonstrar o caminho realizado pelo país na sua trajetória de ascensão, assim como a apresentação de uma perspectiva ocidental sobre o seu processo de crescimento, apresentando uma ideia onde a China está apresentada como um “grande rival” em relação aos Estados Unidos, utilizando como base a perspectiva de John Meisheimer (2006) para fundamentar tal pensamento.
Na segunda seção, A diplomacia chinesa, busca-se conhecer o funcionamento da diplomacia chinesa, qual história que a precede, a fim de compreender a sua evolução durante o tempo e como ela vem se adaptando até se tornar o modelo chinês que é apresentado atualmente. Assim como, a criação do Consenso de Beijing e a sua importância, demonstrando a estratégia chinesa de expansão de sua influência, tanto regional quanto mundialmente, acredita-se que compreender o funcionamento da diplomacia chinesa mais a fundo possibilitará identificar os elementos responsáveis por suas mudanças.
Na terceira seção, Desenvolvimento econômico, modernização e inserção internacional, serão apresentadas as mudanças que ocorreram no período de 1978 a 2002 , que foram responsáveis por definir o planejamento das ações chinesas atualmente, o seu processo de desenvolvimento econômico e a importância de sua inserção no cenário internacional através da sua abertura de mercado. Será demonstrado também, o conceito de “ascensão pacífica” defendido pela China em seu atual momento, e como esta ideia influência em suas tomadas de decisões, assim como, demonstra a aproximação do país com a região do Sudeste Asiático em busca de unir a Ásia sob uma mesma “bandeira”.
2 O RECENTE DESENVOLVIMENTO CHINÊS
A rápida ascensão da China tem ocorrido devido a dois fatores principais, em primeiro o seu desenvolvimento interno, e em segundo a sua entrada e expansão no meio internacional. Analisar, portanto, o desenvolvimento chinês pode vir a permitir, compreender as basesdo poder que sustentam e permitem uma grande influência da China no mundo. Através da perspectiva teórica será possível entender as ações comportamentais que o país tem tomado e como tais ações tem possibilitado à China, um lugar de destaque no cenário internacional.
2.1 A PERSPECTIVA REALISTA
A teoria realista parte do princípio de que “[...] o sistema internacional é formado por Estados que buscam alcançar seus interesses e aumentar seu poder [...]” (LACERDA, 2006, p.59). Além disso, as ideias provenientes do realismo sugerem que o sistema internacional se trata de uma anarquia, ou seja, não há nenhum poder superior que governa as relações entre Estados. Assim, os Estados utilizam dos meios necessários para defender seus interesses e ampliar seu poder, o que frequentemente causa tensões e conflitos com demais atores do sistema. O desenvolvimento chinês, portanto, seguindo essa perspectiva teórica, teria uma grande possibilidade de desestabilizar o sistema internacional (MEARSHEIMER, 2001). A teoria realista por sua vez é geralmente dividida em três principais vertentes, são elas: realismo clássico, realismo estrutural defensivo e o realismo estrutural ofensivo. Nesta seção será dado maior atenção na aplicação do modelo realista ofensivo, para que se possa explicar de uma perspectiva realista o desenvolvimento chinês.
Um grande expoente das teorias realistas nas RI, Mearsheimer (2001), busca apresentar o sistema internacional como um modelo onde cada ator busca a sua própria sobrevivência, e o sistema internacional atual é dominado pelas grandes potências que buscam através do seu fortalecimento, impor sua influência no contexto internacional. Em seu livro The Tragedy of Great Power Politics, Mearsheimer (2001), apresenta a ideia de que mesmo com o fim da guerra fria e o surgimento de uma suposta “paz” entre as nações, não passaria de um véu que estaria encobrindo o medo de cada nação por uma possível guerra ou conflito. Como exemplo deste pensamento, o próprio Estados Unidos, mesmo com o fim da ameaça soviética ainda mantém cerca de cem mil soldados na Europa e aproximadamente o mesmo número no Nordeste da Ásia. Fazem isso porque reconhecem que provavelmente surgiriam rivalidades perigosas nessas áreas caso as tropas fossem retiradas, como afirma Mearsheimer (2001), “[...] para não dizer que tal guerra é provável, mas a possibilidade de haver uma, nos lembra que a ameaça frente a um grande poder, a guerra nunca desaparecerá” (MEARSHEIMER, 2001, p. 1 – tradução nossa). 
Seguindo essa linha de pensamento, o objetivo final de cada Estado seria prezar por sua sobrevivência, aumentar seu poder para diminuir a chance de que haja conflitos futuros. Neste sentido Mearsheimer (2006), em seu artigo China’s Unpeaceful Rise aplica sua teoria diretamente ao desenvolvimento chinês, segundo ele o crescimento pacífico apresentado pela China não é possível de ocorrer sem que haja o aumento de tensões entre os atores do sistema, principalmente os Estados Unidos.
Pode a China ascender pacificamente? Minha resposta é não. Se a China continuar com seu impressionante crescimento econômico durante as próximas décadas, os Estados Unidos e a China irão provavelmente iniciar uma intensiva competição com considerável potencial de guerra. (MEARSHEIMER, 2006, p. 160 – Tradução nossa).
Segundo a teoria defendida por Mearsheimer (2001), o sistema internacional possui algumas características básicas que demonstram o comportamento dos atores no contexto internacional. Para ele os atores são independentes, ou seja, não há nada acima deles, não existe uma soberania maior do que a dos próprios atores do sistema, buscando sempre se fortalecer tanto militarmente quanto economicamente, a fim de conquistar um patamar de destaque no sistema, o que poderia possibilitar uma menor chance de haver uma ameaça ao seu domínio regional. Assim, um sistema em que seus membros podem ter atitudes imprevisíveis, os Estados tendem a temer uns aos outros. Desta maneira, o objetivo final de toda grande potência é tornar-se hegemônica, a maior de todo o sistema3 Mearsheimer (2001) argumenta que é muito improvável que um Estado, no mundo moderno, consiga a hegemonia mundial, pois é quase impossível possuir e gerenciar poder em todo o sistema, seja por limites geográficos ou por não possuir influência em zonas mais distantes. (MEARSHEIMER, 2001).
Compreender o pensamento realista de Mearsheimer (2001), possibilita entender como o sistema internacional funciona, de uma forma pessimista e constantemente agitada, no entanto servindo como reflexo às ideias de Mearsheimer (2001), os atores estão mais interligados e dependentes uns dos outros. Embora a diplomacia tenha sido um dos elementos mais valorizados recentemente, é descuidado afirmar que cenário internacional é um cenário de paz, os conflitos estão presentes a todo o momento, disfarçados por acordos e relações multilaterais, e a China tem papel de destaque neste meio, sendo um dos principais pesos na balança internacional, busca impor seu domínio regional e expandir a sua influência sobre a Ásia.
3 A DIPLOMACIA CHINESA
A partir da década de 1970 a China e os Estados Unidos estreitaram suas relações, o que marcou uma grande mudança na diplomacia chinesa. Com maior relevância internacional e um papel de destaque nas instituições internacionais, a China tem assumido a posição de potência em ascensão, com foco em seu desenvolvimento, expansão econômica e em fortalecer suas relações bilaterais e multilaterais.
Visto a relevância que a China possui no sistema internacional, compreender a construção de sua política externa é de grande importância para que se possa entender o processo de desenvolvimento que levou o país à posição de destaque no cenário mundial.
Nesse contexto, a principal estratégia da política externa do país para o século XXI ficou conhecida como “ascensão pacífica”, cujos objetivos se concentram em um desenvolvimento que não abale as estruturas da ordem vigente, ajudando outros países a buscarem o desenvolvimento, sempre preservando a paz [...] (AMARAL, 2016, p. 4).
Nesta seção será abordada a relação China e Estados Unidos, buscando explicar como a interação entre estes países foi fundamental para as mudanças que a política externa chinesa sofreu com o passar dos anos e o surgimento do conceito de “ascensão pacífica”. 
		A RELAÇÃO COM OS ESTADOS UNIDOS: A NOVA DIPLOMACIA CHINESA
A década de 1970 teve importante papel nas relações sino-americanas, “[...] a década de 1970 aparece com particular destaque para a compreensão do rearranjo político das relações internacionais, responsáveis por caracterizar a atual configuração do sistema internacional [...]” (AMARAL, 2016, p. 5). Nesse período o mundo estava passando pela Guerra Fria e a disputa dos Estados Unidos com a União Soviética estava afetando todo o mundo. Os Estados Unidos via seu poder sendo afetado fortemente no cenário internacional, com a Guerra do Vietnã, fim de Bretton Woods e da crise do petróleo, uma nova abordagem era necessária para que o país se reerguesse (AMARAL, 2016).
Richard Nixon e Henry Kissinger, então presidente e secretário de Estado americanos, buscaram analisar quais eram as principais peças do tabuleiro internacional e desenvolver as melhores jogadas para os Estados Unidos permanecerem como líder mundial. (AMARAL, 2016, p. 5).
Frente a esse cenário, a União Soviética, Europa Ocidental, Japão e China, eram possíveis pontos de ação do governo americano, em especial a China e União Soviética, que partilhavam o território e eram da frente comunista, e naquele período viviam momentos de tensão (AMARAL, 2016).
A aproximação da China e dos Estados Unidos ocorreu de forma proveitosa para ambos os lados, em um primeiro momento a China enxergou em uma relação sino-americana a oportunidade através da influência americana, diminuir o poder e influência soviética na região, por outro lado, os Estados Unidos percebeu que era prudente manter uma aproximação com a China, a fim de estar mais próximo do que viria a ser umapotência capaz de ameaçar a sua hegemonia. Durante o período em que a China não manteve relações diplomáticas com os Estados Unidos, ela estabeleceu sua política externa de maneira isolada (KISSINGER, 2011). Neste período as relações sino-americanas eram limitadas e sempre com um pouco de desconfiança para com os dois lados.
		A ASCENSÃO PACÍFICA (2003-2012)
Em 2002, ocorreu o 16º Congresso do Partido Comunista Chinês. Assumiram os principais cargos Hu Jintao como Presidente da República, Secretário-Geral do Partido e Presidente das Comissões Militares do Estado e do Partido e Wen Jiabao como Primeiro-Ministro.
Hu e Wen herdaram um país em franca ascensão, porém com problemas decorrentes do seu modelo de desenvolvimento: desigualdades sociais e regionais; fluxos migratórios que aumentaram drasticamente a população dos grandes centros urbanos; o envelhecimento da população; problemas ambientais, como a poluição; e a dependência cada vez maior de matérias-primas e recursos energéticos oriundos do exterior [...]. (SILVA, 2016, p. 15).
O crescimento da China e as críticas ao seu modelo político, social e econômico favoreceram o surgimento de uma visão “antichinesa”. Para lidar com os desafios que viriam a ter pela frente, a plataforma do governo Hu-Wen se concentrou nos princípios da “’sociedade harmoniosa’, do ‘desenvolvimento científico e tecnológico’” (SILVA, 2016, p. 15) e, externamente, da “ascensão pacífica” que depois viria a se tornar “desenvolvimento pacífico”. 
[...] A sociedade harmoniosa seria o resultado de reformas de caráter social, que reduziriam as desigualdades entre o campo e a cidade, ricos e pobres, litoral (leste) e interior (oeste) e garantir a ordem, a estabilidade e a prosperidade. O “desenvolvimento científico” seria uma forma de adaptar o modelo de desenvolvimento chinês tornando-o mais abrangente e balanceado, evitando apresentar a ideia de crescimento a qualquer custo [...] (SILVA, 2016, p. 15).
A utilização da expressão “harmonia” tem um propósito. A era de Hu-Wen ficou caracterizada por resgatar o legado confuciano de diversas formas. Primeiro, a promoção da meritocracia, característica essencial do modelo administrativo confuciano esteve entre os seus conceitos-chave (CHAN, 2010). Com o aumento dos problemas internos oriundos principalmente das regiões centrais da China, o governo chinês buscando amenizar a situação, passou a realizar diversos investimentos estruturais e econômicas, como forma de incentivar a vinda de empresas para essas regiões e consequentemente fomentar o seu crescimento, melhorando assim a qualidade de vida da população. Criou uma série de políticas sociais como um sistema público de saúde, a reforma das leis trabalhistas, a lei de promoção do emprego e a lei de seguridade social, assim como reduziu a carga tributária sobre as propriedades rurais (SILVA, 2016).
Ao mesmo tempo o poder econômico, político e militar da China cresceu, o que gerou uma sensação de desconfiança por parte da comunidade internacional, pois de um lado, enquanto o medo da “ameaça chinesa” se espalhava, havia também a esperança de que esse crescimento tornaria a China um bom aliado no cenário internacional. Vendo a precaução dos atores do sistema frente as suas iniciativas, o governo chinês precisava apagar a imagem de grande rival dos Estados Unidos que havia sido construída durante muito tempo, para assumir o papel de um “aliado mundial”. Foi a partir dessa mudança de posicionamento que se passou a utilizar o conceito de ascensão pacífica.
“o desenvolvimento da China teria como contrapartida a contribuição ativa para o desenvolvimento, a prosperidade e estabilidade da Ásia e do mundo”, posteriormente, Hu Jintao passou a adotar o termo “desenvolvimento pacífico”, em vez de “ascensão” (STEINBOCK, 2012, p. 1).
Sob o governo de George W. Bush, os Estados Unidos tinham colocado como principal objetivo de sua política externa, conter a China, que neste momento voltavam seus olhos para o Leste Asiático. Em contrapartida as relações da China com o Sudeste Asiático avançaram bastante na era Hu-Wen, em 2003 a China assinou o Tratado de Amizade e Cooperação da ASEAN4 “Criada em 8 de agosto de 1967, a ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático) surgiu de um acordo entre Cingapura, Indonésia, Filipinas, Malásia e Tailândia, para assegurar o desenvolvimento econômico e a estabilidade política da região. Os principais objetivos dessa instituição são: acelerar o crescimento econômico, progresso social e desenvolvimento cultural na região e promover a paz e a estabilidade através do respeito e justiça entre os países [...]” (FRANCISCO, 2017, p. 1). , mesmo ano em que foi acordado o início da área de Livre Comércio China-ASEAN, iniciado em 2010. Ficava claro que a partir dessa aproximação com o Leste Asiático, a China demonstrava a sua intenção de exercer uma relação de parceria com a região, estabelecendo uma base sólida para que seus interesses na região fossem atendidos, além de criar um ambiente harmônico que favorecesse sua influência na região (STEINBOCK, 2012). Neste período surgiu um debate a respeito de qual o caminho deveria ser seguido pela China. Foram apresentados dois modelos, Chongqing e Guangdong.
[...] O modelo de Chongqing baseava-se no controle do estado sobre a economia, em reformas sociais, na centralização política e no combate ao crime à corrupção. [...] O modelo Guangdong colocou-se como contraponto: buscava abrir e liberalizar a economia, fortalecer o governo da lei e a meritocracia e promover meios de participação popular nos processos do governo [...]. (SILVA, 2015, p. 55).
A ascensão chinesa afeta diretamente o comportamento dos demais países, que buscando se precaver frente a este avanço, passa a adotar uma postura de contenção a este crescimento. Um bom exemplo são os Estados Unidos, que tentam frear o desenvolvimento chinês para evitar uma concorrência regional que poderia vir a ameaçar a sua dominância. 
“Como resposta à política expansionista estadunidense para a Ásia, a China tem apostado em uma ‘Ásia para os Asiáticos’ e empregado, ironicamente, uma versão asiática da Doutrina Monroe5 Conjunto de medidas apresentadas pelo presidente americano James Monroe, em 1823, onde reivindicava para seu país, a “posse” do Hemisfério Ocidental, deslegitimando qualquer pretensão imperial europeia na região (ARÉVALO; KUHN, 2016). . Mais do que isso, a China deixou de responder aos acontecimentos regionais, para adotar uma postura proativa e se apresentar como líder regional” (SILVA, 2015, p. 58).
A ascensão pacífica chinesa é caracterizada por seus conceitos de expansão que não seriam ameaças para os demais países, sob está bandeira de “paz” a China procura alcançar seus objetivos políticos e econômicos principalmente no que diz respeito ao Sudeste Asiático. Neste sentido, a China possui elementos que podem contribuir a seu favor, a cultura se tornou uma importante chave para que haja uma maior aproximação do país com está região. Durante os últimos anos, a China vem buscado tomar iniciativas para fortalecer esse vínculo com o Sudeste Asiático, a criação de uma área de livre comércio com a ASEAN foi uma das iniciativas chinesas que possibilitariam uma maior aproximação com a região, através de acordos de cooperação a China buscou construir uma base sólida que possibilitasse uma dominância chinesa na região. A aproximação chinesa da região tem sido vista pelos países ocidentais como algo a ser observado cuidadosamente, pois com uma aproximação cada vez maior a Ásia está se unindo, podendo criar e desenvolver, um bloco político e econômico ainda mais poderoso que afetaria com maior intensidade a balança mundial (PINTO, 2005).
	DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, MODERNIZAÇÃO E INSERÇÃO INTERNACIONAL (1978 A 2002).
Após uma mudança de comportamento em relação ao mercado internacional e as mudanças no seu sistema político, o governo chinês decidiu reestruturar de forma gradativa a sua economia, incentivando o desenvolvimento do setor privado, proporcionando maior liberdadede negociação para o comércio, abrindo as portas para mais investimentos oriundos do exterior. Apesar dessa parcial abertura do comércio o controle estatal ainda prevalecia e nada aconteceria sem o consentimento do governo.
Houveram mudanças em vários seguimentos do governo, na agricultura a propriedade rural ainda pertencia ao Estado, no entanto, “[...] o direito de uso da terra passou a ser concedido às famílias, de modo, que esse direito poderia ser transferido para outras famílias mediante negociação e celebração de contratos [...]” (SILVA, 2015, p. 41), a essas famílias também foi permitido que negociassem o seu excedente de produção com o exterior. Essa mudança de comportamento foi essencial para que houvesse um incentivo na produção de grãos na década de 1970 quando as mudanças estruturais passaram a vigorar, até os anos 2000 quando a China já se estabelecia como grande produtor de grãos, visto que o cultivo de outras culturas não representa impacto significante considerando as condições climáticas e topográficas da região. Tal crescimento pode ser notado na Figura 1 abaixo, que ilustra o crescimento na produção de grãos chinesa no período de 1970 a 1984, representada em toneladas.
Figura 1 – Produção de grãos da China, de 1970 a 1984.
Fonte: The World Bank Data, 2016.
No que diz respeito a indústria, segundo Silva (2015) o objetivo era aumentar a produção de carvão e aço, atraindo investimentos para as Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), que iria favorecer a qualificação da mão de obra e o desenvolvimento científico e tecnológico.
Em contradição com as reformas, no que diz respeito a sua política externa, a China passou a combater a influência soviética com certo receio de que viesse a sofrer com o seu avanço na Ásia. 
“Em 1978, a China assinou um tratado de paz com Japão e no ano seguinte com os EUA. Em ambos os tratados, havia uma cláusula “anti-hegemônica”, na qual os signatários se comprometiam em não estabelecer uma hegemonia regional e a lutar contra qualquer potência que buscasse fazer o mesmo. Esses tratados acabaram criando um mecanismo institucional para a manutenção da estabilidade regional, através de uma divisão informal do trabalho” (SILVA, 2016, p. 11).
Os Estados Unidos, a partir da Doutrina Guam6 A Doutrina Guam (também chamada de Doutrina Nixon), foi um conjunto de princípios criados durante o governo do presidente dos Estados Unidos Richard Nixon, que tinha como base três princípios: Honrar os compromissos firmados em tratados; agir contra ameaças de potências nucleares; prover assistência a outros países quando necessário, sem comprometer a sua força. Para FURTADO (2010), tal doutrina tratava-se apenas de uma medida de contenção, voltadas para evitar a emergência de uma potência regional asiática fora do círculo dos Estados aliados, sendo esse círculo aplicado tanto à União Soviética, quanto à China (FURTADO, 2010). reduziram sua participação militar na defesa de seus aliados, na prática os Estados Unidos estavam mais preocupados com um possível cenário de guerra com a União Soviética na Europa. Vendo o afastamento americano, seu principal aliado, o Japão que não possuía recursos para investimento em Defesa, enxergaram na China um possível “escudo” contra os soviéticos, investindo bastante na economia chinesa, principalmente no setor tecnológico. Assim, a China assumiu o papel de conter a União Soviética no Leste Asiático e de deixa-la em uma posição complicada diante da possibilidade de haver uma guerra em duas frentes (SILVA, 2016).
Ainda em 1978, foi anunciada a “Política de Portas Abertas”, que em 1980, foi responsável pela criação das Zonas Econômicas Especiais (ZEEs) nas províncias de Guangdong e Fujian (SILVA, 2016). Essas zonas foram criadas com o objetivo de abrir espaço para o investimento estrangeiro no país. O estabelecimento destes locais próximos a grandes centros fazia parte da estratégia chinesa para a facilitar a entrada de capital e tecnologia no país. Embora as ZEEs fossem de grande importância para o plano chinês de expansão comercial, houve uma grande migração de trabalhadores para esses espaços, em busca de emprego e melhores condições de vida, o que gerou ao governo chinês um problema com o enfraquecimento das regiões centrais do país que estavam perdendo mão de obra para as zonas o que acarretou no aumento da desigualdade econômica entre as regiões. Apesar deste ponto negativo, pode-se concluir que tais mudanças econômicas foram de grande importância para o que viria a ser o modelo chinês atual, abrindo espaço para a China no mercado internacional (SILVA, 2016).
		O “INCIDENTE DE TIANANMEN” (1989).
“Ao final da década de 1980, a Guerra Fria estava perto do fim. Entre os anos 1970 e 1980, diante do objetivo de conter a União Soviética, os Estados Unidos haviam cooperado com países como a China e permitido o desenvolvimento das economias asiáticas sob o protecionismo econômico e regimes políticos que eram considerados ‘autoritários’” (SILVA, 2015, p. 46). 
Isso se via necessário para os Estados Unidos, pois precisaria de apoio na tentativa de parar o avanço da influência soviética. Com o fim da União Soviética criou-se uma ideia de que a democracia capitalista liberal havia sido responsável pela vitória dos Estados Unidos e que por isso se provaria superior aos demais modelos concorrentes (KISSINGER, 2011). “Os efeitos desse processo foram sentidos na Ásia, em 1987 a Coréia do Sul promoveu eleições à Presidência por voto direto, enquanto Guomindang (sediada em Taiwan) anunciou no mesmo ano que também realizaria eleições, mas em 1996” (SILVA, 2015, p. 46). Esse “movimento liberal” começou a se espalhar aos poucos pelos demais países do Leste Asiático que passaram a ser cada vez mais pressionados para que houvesse uma abertura política e econômica. A China por sua vez não viu com bons olhos o movimento capitalista liberal que se aproximava cada vez mais da Ásia, o incidente de Tiananmen7 O protesto na Praça da Paz Celestial em 1989, ficou mundialmente conhecido como o incidente Tiananmen (local onde ocorreu) e afetou de forma impactante a imagem da China no cenário internacional. O protesto se tratou de um conjunto de manifestações de estudantes chineses, intelectuais, trabalhadores e diversos outros grupos, que acusavam o governo chinês de serem responsáveis pelos problemas sociais que o país enfrentava, afirmando que as mudanças econômicas que haviam sido realizadas eram o motivo pelo aumento das desigualdades entre as regiões, assim como, visava criticar a forma como o governo lidava com a expressão popular, onde segundo os manifestantes era feita de forma repressiva e intransigente (ZHANG, 2010). como ficou conhecido, foi um marco que teve grande importância para que houvesse um maior afastamento dos interesses americanos, após o incidente a China sofreu duras críticas da comunidade internacional devido as suas atitudes de repressão dos movimentos populares e do uso da força militar para suprimir a voz dos grupos contrários as medidas adotadas pelo governo chinês. Assim até 1990 a imagem da China se viu manchada, pode-se dizer que serviu como gatilho para grande mudança que o modelo chinês viria a ter a partir da década de 90.
		 A DÉCADA DE 1990 E O STATUS DE GRANDE POTÊNCIA (1992-2002).
Durante toda a década de 1990, a China enfrentou as consequências do incidente Tiananmen, mas conseguiu manter o seu ritmo de crescimento. Enquanto isso no cenário externo os Estados Unidos aproveitavam o momento delicado pelo qual a China estava passando e iniciaram um conjunto de sanções econômicas e militares, onde apoiado por seus aliados, visava conter o desenvolvimento chinês. Para Silva (2016), essa foi a oportunidade perfeita para os Estados Unidos iniciarem suas ações “antichinesas”.
Desde então as relações sino-americanas têm se desenvolvido de forma pouco amigável e com grande rivalidade. Não se pode afirmar que as tensões entre estas nações sejam equiparadas a Guerra Fria, mas, é possível notar que a disputa por influência e mercadoacaba gerando um ambiente de constante preocupação para ambos os lados. 
“[...] a ofensiva ideológica contra a China iniciada pelos EUA desde o incidente de Tiananmen, o triunfo estadunidense ao final da Guerra Fria e a vitória na Guerra do Golfo levaram o país a incrementar de modo consistente seus gastos militares. Segundo dados oficiais, na década de 1990, os gastos militares chineses cresceram a uma média anual de 15,7%, contra 1,6% ao ano durante a década de 1980” (SILVA, 2016, p. 14).
Como consequência do aumento da rivalidade entre o gigante asiático e o gigante das Américas, a China se reaproximou da Rússia e da Ásia Central, tal reaproximação fazia parte da estratégia chinesa de estabelecer aliados próximos ao seu território com o objetivo de minar a crescente influência norte americana na região asiática. A partir desta aproximação surgiu os Cinco de Xangai8 O grupo dos Cinco de Xangai era composto por China, Rússia, Cazaquistão, Quirquistão e Tadjiquistão. Que mais tarde viria a se tornar a Organização para a Cooperação de Xangai (OCX). . Como resposta à aproximação chinesa e soviética os Estados Unidos realizaram um novo ataque ideológico aos chineses, abordando temas que sempre foram polêmicos no contexto chinês, como a liberdade de expressão e os direitos humanos, utilizar destes pontos contra os chineses era importante, pois garantiria um possível apoio da comunidade caso a China viesse a sofrer sanções.
“[...] após um período de desenvolvimento econômico os asiáticos passaram a afirmar que seus valores não eram inferiores aos ocidentais. Dessa forma, cada país ou região deveria administrar suas questões internas de acordo com seus próprios referenciais políticos e sociais” (SILVA, 2016, p. 14).
Ao afirmar sua nova posição perante aos demais países, até mesmo o Japão que chegou a aprovar sanções contra a China em razão do “Incidente Tiananmen”, rapidamente mudou sua posição e passou a pressionar os seus parceiros a fazer o mesmo.
Essa mudança de postura política, gerou consequências quase imediatas para a China. Foi logo em 1992, quando ocorreu o 14º Congresso do PCCh9 O Congresso do Partido Comunista da China (PCCh), é realizado a cada cinco anos, onde os representantes nacionais são eleitos pelas unidades eleitorais de províncias, regiões autônomas, municípios centrais e Exército de Libertação Popular da China. A realização do primeiro Congresso Nacional implicou na fundação do Partido Comunista da China. , cuja importância se dá devido a adoção do modelo econômico socialista proposto como substituto do até então utilizado modelo centralizado de poder. Como apresenta o artigo 15º10 Artg.15º da Constituição de 4 de dezembro de 1982 da República Popular da China, “O Estado pratica o planejamento econômico baseado na propriedade pública socialista e garante o crescimento gradual e coordenado da economia nacional, através de um equilíbrio geral conseguido graças ao planejamento econômico e ao papel regulador suplementar desempenhado pelo mercado” (Revista Administração nº 48 – Edição SAFP – Tradução não oficial). da Constituição do país. Assim seria estabelecida a estrutura institucional que vigora até hoje (SILVA, 2015).
		 A CRISE ASIÁTICA DE 1997.
A crise asiática de 1997 teve início devido à grande desvalorização das moedas das economias emergentes da Ásia em relação ao dólar, assim como, a queda nos preços dos ativos em seus mercados acionários. Como consequência da junção destes fatores houve uma rápida saída de capital o que viria a reduzir as reservas externas daqueles países, dentre os países mais afetados pela crise estão a Tailândia, Malásia, indonésia, Filipinas e Coréia do Sul. O problema cambial, no entanto, não afetou a China diretamente, como ilustra a Figura 2, em relação aos demais países sofreu um pequeno impacto no crescimento de sua economia que no período de 1997 a 1998 teve uma diminuição de pouco mais de 1% enquanto os países emergentes da região tiveram quedas em seu crescimento a partir de 4%.
Figura 2 – Percentual de crescimento do PIB per capita das nações asiáticas no período de 1997 a 1998.
Fonte: The World Bank Data Base, 2017.
Isso porque o governo chinês controlava a saída de capitais o que permitiu ao país manter o seu ritmo de crescimento em relação aos demais vizinhos regionais que tiveram que aderir à empréstimos para manter suas economias sob controle. Ainda assim, mesmo que tenha resistido à crise cambial, a China ainda sofria com as altas taxas de inflação, por consequência das altas taxas muitas empresas estatais se endividaram e não estavam conseguindo pagar os empréstimos que haviam tomado do governo. Frente ao novo cenário que se formava, em 1998, o então primeiro ministro chinês Zhu Rongji incentivou uma reestruturação da economia, através da privatização de empresas públicas e a redução do contingente de servidores públicos, Zhu buscava dar um novo fôlego a economia. Vale salientar que a China não passou necessariamente a defender o modelo de privatizações, mas sim a criação de vários modelos de propriedade que viriam a funcionar de maneira semelhante aos modelos empregados na área rural anteriormente, dando certa liberdade de negociação ao proprietário, mas mantendo o controle do Estado sob a propriedade SULEIMAN, 2008).
“As empresas privadas tiveram papel muito importante no elevado ritmo de crescimento da economia rural. A parcela do valor bruto das empresas privadas desse grupo foi de 6,9% em 1984, tendo aumentado para 27% em 1991, o que demonstrou a grande vitalidade das empresas privadas rurais” (SULEIMAN, 2008, p. 21).
Favorecendo a privatização de alguns setores e abrindo seus mercados para investimento estrangeiro, a China deu um grande passo para a sua manutenção no sistema internacional, hoje uma grande potência que cada vez mais vem modificando o cenário internacional e a forma como sua política externa lida com os desafios apresentados pelos demais atores do sistema.
		A RIVALIDADE AMERICANA, COMPARAÇÕES ECONOMICAS E MILITARES
Desde a fundação da República Popular da China em 1949, seus investimentos em Defesa nunca foram tão altos do que tem sido nos últimos 50 anos, somente no período de 1990 até 2015 o gasto chinês com a área militar cresceu consideravelmente como demonstra a Figura 3 a seguir. A partir de 1989, o orçamento de defesa chinês sofreu um aumento significativo, até 2010 o gasto com Defesa chinês cresceu a uma média de 15,9% ao ano. Isso demonstra que a cada cinco anos ele dobrou. Em comparação com os Estados Unidos a diferença orçamentaria entre as nações em relação ao gasto caiu consideravelmente, isso é consequência da diminuição americana com investimento militar, após as sucessivas operações no Oriente Médio e a queda do apoio popular as operações militares realizadas pelo país e principalmente a crise financeira de 2008, como se pode observar na Figura 4. No entanto pode-se dizer que se for considerado os gastos com a aquisição de armamentos do exterior, o investimento em pesquisas militares e os auxílios estatais para a indústria bélica, gastos esses que não são informados nos dados oficiais chineses, essa diferença pode aumentar bastante (JÚNIOR, 2012).
Figura 3 – Gasto militar chinês no período de 1990 a 2015 (em Dólar)
Fonte: The World Bank Data base, 2017.
Figura 4 – Gasto militar da China e Estados Unidos no período de 1990 a 2015 (em Dólar)
Fonte: The World Bank Data Base, 2017.
Os efeitos da crise de 2008 foram bastante graves para os Estados Unidos, com um retrocesso do PIB na faixa de 6,25% no último trimestre de 2008, e uma redução de 5,5% no primeiro trimestre de 2009. A solução encontrada pelo governo norte-americano foi a criação do Trouble Asset Relief Program (TARP), que liberou US$ 700 bilhões às instituições financeiras que foram mais afetadas pela crise. Essa ação foi seguida por cortes na taxa e juros e no apoio financeiro ao mercado imobiliário, principal ator dessa situação. Essas medidas trouxeram um retorno rápido, quando no fim do terceiro trimestre de 2009 foi anunciadoque a recessão estava oficialmente finalizada e a economia americana voltaria a crescer, ainda que em passos lentos, com as taxas de desempregos elevadas a aproximadamente 10%. A tabela a seguir demonstra o PIB estadunidense antes e depois do período de crise (JÚNIOR, 2012).
Tabela 1 – Percentual de crescimento da economia dos EUA (1999 - 2011)
	Ano
	1999
	2000
	2001
	2002
	2003
	2004
	2005
	2006
	2007
	2008
	2009
	2010
	2011
	% de Crescimento do PIB
	4,1
	5
	0,3
	2,45
	3,1
	4,4
	3,2
	3,2
	2
	1,1
	-2,6
	-2,8
	1,7
Fonte: Junior 2012, p. 114. 
Após observar os dados apresentados anteriormente, se pode notar que apesar do ligeiro avanço chinês em relação aos Estados Unidos, a situação de ambos os países é bem parecida, enquanto os norte-americanos sofrem com um déficit fiscal a República Popular da China sofre com os problemas ligados à sustentabilidade ambiental e social do seu desenvolvimento econômico.
Figura 5 – Valor do PIB dos Estados Unidos e China, no período de 1990 a 2015 (em Dólar)
Fonte: The World Bank Data Base, 2017.
De modo geral o principal desafio chinês está na desigualdade socioeconômica entre as zonas rural e urbana enquanto os estadunidenses lutam para diminuir as taxas de desemprego e fazer a economia voltar a crescer em ritmo acelerado. Embora a situação chinesa seja vista como mais favorável no atual momento do cenário internacional, o PIB norte-americano ainda é consideravelmente superior ao chinês, como ilustra a Figura 5. A situação entre as duas potências tende a se manter estável mesmo que haja picos de tensão entre ambos, é pouco provável que haja um confronto direto entre as duas nações, no entanto, no que diz respeito a disputa de mercado essa só tende a se intensificar, Estados Unidos e China um tentando conter o avanço do outro e expandir sua influência.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da análise do processo de desenvolvimento chinês e como este desenvolvimento tem afetado o cenário internacional como um todo, ao longo desta pesquisa, o processo de ascensão da China traz uma mudança nas características de poder, como extensão territorial, população, economia e capacidade militar, a ascensão chinesa se baseia na mudança estrutural que sofreu a sua política externa. A nova postura externa do país é ativa, no sentido de propor novos padrões de relacionamento regional, incluindo a criação e promoção de instituições econômicas e de segurança.
A ascensão da China corresponde as reações dos demais atores regionais. Isso acaba criando novos padrões de relacionamento regional e, consequentemente, de polarização regional. Foi levantado que o padrão mais comumente observado deste tipo de polarização é entre China e Estados Unidos, apesar de haver uma tendência maior de atores regionais se alinhar com a China e Estados Unidos, esses por sua vez, procuram garantir o máximo possível de autonomia estratégica e buscam evitar o acirramento das tensões entre as duas potências.
Chega-se ao entendimento de que é cada vez mais improvável que haja o surgimento de uma hegemonia global, considerando os Estados Unidos e China como os dois polos regionais, assim, torna-se mais aceitável a ideia de um equilíbrio regional de poder bipolar ou multipolar, favorecendo assim a administração conjunta do ambiente regional. Embora haja competições estratégicas, seriam estabelecidas formas para possibilitar a resolução de conflitos por meio da diplomacia. Para garantir que houvesse uma cooperação maior entre as potências, seria necessário adotar medias diplomáticas que permitissem o diálogo entre as potências e os demais atores regionais. Uma das fontes de inspiração seria a ASEAN, principalmente na flexibilidade na forma como se relacionam os atores.
Assim, devido às limitações deste trabalho, como também, as incertezas do cenário político internacional, muitos fatores podem vir a mudar o contexto regional, tornando-se assim difícil de apresentar previsões claras ou definitivas sobre o que irá ocorrer no Leste Asiático ou no relacionamento Estados Unidos e China. No entanto, alguns levantamentos podem ser feitos.
O objetivo da China de ascender pacificamente pode ser atingido. Isso, entretanto, dependerá em parte do seu próprio comportamento externo. Caso se mostre capaz de liderar a construção de uma nova ordem regional – algo que foi demonstrado ao citar suas intenções com a aproximação regional e união da Ásia - terá então boas chances de cumprir esta tarefa. Se utilizar a força e abdicar do diálogo, a tendência será o contrário, a de atrair inimigos contra si.
O comportamento dos demais atores fica ainda em aberto, embora possa considerar que o Japão seja chave para as perspectivas de concertação e conflito regionais devido à sua importância geopolítica e econômica. A Índia pode influenciar o contexto regional, mas não dá para saber se terá intenções de moderar a região ou apenas utiliza-la em benefício próprio.
Por tudo o que foi descrito e analisado ao longo deste trabalho, é possível observar que o mais provável é o aumento da competição entre China e Estados unidos e, consequentemente, dos impactos para os demais países da região. Por essa razão tanto a liderança de apenas um país, seja ele a China ou os Estados Unidos, assim como, a capacidade da ASEAN de se colocar em pé de igualdade com as potências da região, parecem menos prováveis. O surgimento ou não, de conflitos regionais, torna-se dependente da forma como Estados Unidos e China irão administrar suas diferenças estratégicas e como o cenário internacional vai se estabelecer com o surgimento de vários pontos de poder pelo mundo.
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