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MEDICINA DO TRABALHO (Saúde e sociedade) Talita Valente ATM 2023/A 1 PATOLOGIAS OSTEOMUSCULARES LER (Lesões por esforços repetitivos) / DORT (Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho • Não é uma doença. • Não está incluído no CID 10. • São patologias do sistema locomotor/osteomioarticulares. • Termo abrangente que se refere às entidades neurológicas e ortopédicas definidas como tenossinovites, sinovites, compressões de nervos periféricos, síndromes miofasciais, que acometem principalmente pescoço, cintura escapular e membros superiores. Devem estar relacionadas ao trabalho. • Paciente/trabalhador apresenta quadro clínico heterogêneo, onde a relação causa/efeito não é direta e vários fatores laborais e extralaborais concorrem para o seu aparecimento. • O termo está muito relacionado a condições sociais e culturais em processos trabalhistas. • O termo LER/DORT é considerado inapropriado por entidades médicas oficiais. O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), por meio do Parecer n.º 76034, oficializou a opinião de que “É incorreto considerar-se LER como entidade mórbida bem definida”. O CREMESP considera o termo polêmico (“LER ainda hoje é um tema polêmico”) e admite oficialmente que as morbidades relacionadas com o termo LER/ DORT sofrem forte influência de “fatores sociais, culturais, disputas trabalhistas”. • LER (Norma INSS) o “Afecções que podem acometer tendões, sinóvias, músculos, nervos e fáscias, ligamentos, isolada ou associadamente, com ou sem degeneração de tecidos, atingindo principalmente, porém não somente, os membros superiores, região escapular e pescoço, de origem ocupacional, decorrente , de forma combinada ou não, de: uso repetitivo de grupos musculares; uso forçado de grupos musculares; e manutenção de postura inadequada". • DORT (Norma INSS) o Síndrome clínica, caracterizada por dor crônica acompanhada ou não por alterações objetivas e que se manifesta principalmente no pescoço, cintura escapular e/ou membros superiores em decorrência do trabalho, podendo afetar tendões, músculos e nervos periféricos." • Outros termos que podem aparecer: o LTC – Lesões por Traumas Cumulativos o DCO – Doença Cervicobraquial Ocupacional o SSO – Síndrome da Sobrecarga Ocupacional o LER – Lesões por Esforços Repetitivos • Por que mudança da terminologia de LER para DORT? Por que evitar este termo? o A maioria dos trabalhadores com sintomas no sistema musculoesquelético não apresenta evidência de lesão em qualquer estrutura; o A outra razão é que além do esforço repetitivo (sobrecarga dinâmica), outros tipos de sobrecargas no trabalho podem ser nocivas para o trabalhador como sobrecarga estática (uso de contração muscular por períodos prolongados para manutenção de postura); excesso de força empregada para execução de tarefas; uso de instrumentos que transmitam vibração excessiva; trabalhos executados com posturas inadequadas. FATORES DE RISCO: • Ergonômicos, físicos entre outros não técnicos como os sociais, familiares, econômicos. • Não são independentes, • Na caracterização da exposição aos fatores de risco, alguns elementos são importantes: o A região anatômica exposta aos fatores de risco; o A intensidade dos fatores de risco; o A organização temporal da atividade (por exemplo: a duração do ciclo de trabalho, a distribuição das pausas ou a estrutura de horários); o O tempo de exposição aos fatores de risco. MEDICINA DO TRABALHO (Saúde e sociedade) Talita Valente ATM 2023/A 2 • Os fatores de risco podem ser correlacionados com (Kuorinka e Forcier, 1995): o O grau de adequação do posto de trabalho à zona de atenção e à visão; o O frio, as vibrações e as pressões locais sobre os tecidos; o As posturas inadequadas; o A carga osteomuscular (força, tipo de preensão, postura do punho, duração da carga) ; o A carga estática (contração muscular por períodos prolongados para manutenção da postura); o A carga dinâmica (esforço repetitivo) § Movimentos de alta repetitividade = são aqueles que possuem um ciclo básico de menos de 30 segundos e/ou atividades em que mais do que 50% do ciclo de trabalho envolve movimentos similares das partes superiores do corpo humano o A invariabilidade da tarefa; o As exigências cognitivas,e; o Os fatores organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho. FISIOPATOLOGIA: Sobrecarga e intervalo • São resultado da combinação da sobrecarga das estruturas anatômicas do sistema osteomuscular com a falta de tempo para sua recuperação. A sobrecarga pode ocorrer seja pela utilização excessiva de determinados grupos musculares em movimentos repetitivos (Carga dinâmica) com ou sem exigência de esforço localizado, seja pela permanência de segmentos do corpo em determinadas posições por tempo prolongado (Carga estática), particularmente quando essas posições exigem esforço ou resistência das estruturas músculo-esqueléticas contra a gravidade (Carga osteomuscular). • CARGA DINÂMICA: movimentos de alta repetitividade” são aqueles que possuem um ciclo básico de menos de 30 segundos e/ou atividades em que mais do que 50% do ciclo de trabalho envolve movimentos similares das partes superiores do corpo humano. DIAGNÓSTICO: a) Anamnese clínica com atenção aos comportamentos e hábitos relevantes b) Anamnese ocupacional c) Exame físico. d) Exames complementares pertinentes com a hipótese diagnóstica. O valor da eletroneuromiografia e das ecografias e ressonâncias magnéticas devem ser valorizadas apenas quando dão resultados alterados (relacionados com a clínica) e são analisados por profissionais experientes. • O diagnóstico é "eminentemente clínico, comumente difícil e deve se afastar patologias degenerativas e sistêmicas (DM e neuropatias). História da doença atual: • As queixas são encontradas em diferentes graus • É importante caracterizá-las quanto ao tempo de duração, localização, intensidade, tipo ou variações no tempo: o Dor localizada, irradiada ou generalizada, espontânea ou à movimentação; o Desconforto, o Fadiga, o Sensação de peso, o Formigamento, dormência, o Áreas de atrofia ou hipotrofia, o Sensação de diminuição de força, o Edema e enrijecimento muscular, o Choque, falta de firmeza nas mãos, o Sudorese excessiva, MEDICINA DO TRABALHO (Saúde e sociedade) Talita Valente ATM 2023/A 3 o Alodínia. • Insidioso; • Eminentemente clínico, auxiliado por exames diagnósticos (ecografias, eletroneuromiografia, RNM, termografia, raio-x); • Predomínio nos finais de jornada de trabalho ou durante os picos de produção, ocorrendo alívio com o repouso noturno e nos finais de semana. • Intermitentes, de curta duração e de leve intensidade (“mau jeito”). História patológica pregressa: • Trauma, doenças do colágeno, artrites, diabetes mellitus, hipotireoidismo, anemia megaloblástica, algumas neoplasias, artrite reumatóide, espondilite anquilosante, esclerose sistêmica, polimiosite, gravidez e menopausa. • Para ser significativo como causa, o fator não ocupacional precisa ter intensidade e freqüência similar aquela dos fatores ocupacionais conhecidos. • O achado de uma patologia não-ocupacional não descarta de forma alguma a existência concomitante de patologia do grupo da LER/DORT. • É importante saber que a síndrome do túnel do carpo - STC, principalmente quando bilateral, é comum nas grávidas e em situações não-ocupacionais Comportamentos e hábitos relevantes: • Uso excessivo de computador em casa, • Lavagem manual de grande quantidade de roupas, • Ato de passar grande quantidade de roupas, • Limpeza manual de vidros e azulejos, • Ato de tricotar, • Carregamento de sacolas cheias, • Polimento manual de carro, • O ato de dirigir. • Outros.História ocupacional: • Duração de jornada de trabalho, • Existência de tempo de pausas, • Forças exercidas, • Execução e freqüência de movimentos repetitivos, • Identificação de musculatura e segmentos do corpo mais utilizados, • Existência de sobrecarga estática, • Formas de pressão de chefias, • Exigência de produtividade, • Falta de flexibilidade de tempo, • Mudanças no ritmo de trabalho ou na organização do trabalho, • Existência de ambiente estressante, • Relações com chefes e colegas, • Insatisfações, • Falta de reconhecimento profissional, • Sensação de perda de qualificação profissional. AGRAVO À SAÚDE RELACIONADO AO TRABALHO • Como seriam classificadas as patologias do grupo LER/DORT? o No Brasil, para fins de aplicação previdenciária, o INSS definiu a incapacidade como "a impossibilidade de desempenho das funções específicas de uma atividade (ou ocupação), Cabe ao médico atentar para os seguintes questionamentos: 1. Houve tempo suficiente de exposição aos fatores de risco? 2. Houve intensidade suficiente de exposição aos fatores de risco? 3. Os fatores existentes no trabalho são importantes para, entre outros, produzir ou agravar o quadro clínico? MEDICINA DO TRABALHO (Saúde e sociedade) Talita Valente ATM 2023/A 4 em conseqüência de alterações morfopsicofisiológicas provocadas por doença ou acidente” (Mendes, 2003:60) • Do ponto de vista da legislação previdenciária, havendo relação com o trabalho, a doença é considerada ocupacional, mesmo que haja fatores concomitantes não relacionados à atividade laboral. Segmentos mais acometidos: • Pescoço. • MMSS. o Bursite o Epicondilite o Síndrome de Guyon (compressão ulnar) o Síndrome do impacto o Síndrome do túnel do carpo (mediano); o Tenossinovite (Quervain) o Tendinite -> Anamnese + Exame clínico o Exemplos: Tenossinovite de De Quervain Estabilização do polegar em pinça seguida de rotação ou desvio ulnar do carpo, principalmente se acompanhado de Força. Apertar botão com o polegar Doenças reumáticas, tendinite da gravidez (particularmente bilateral), estiloidite do rádio Síndrome do Túnel do Carpo Movimentos repetitivos de flexão, mas também extensão com o punho, principalmente se acompanhados por realização de força. Digitar, fazer montagens industriais, empacotar Menopausa, trauma, tendinite da gravidez (particularmente se bilateral), lipomas, AR, diabetes, LES, amiloidose, obesidade neurofibromas, insuficiência renal Tendinite da Porção Longa do Bíceps Manutenção do antebraço supinado e fletido sobre o braço ou do membro superior em abdução. Carregar pesos Artrorpatia metabólica e endócrina, artrites, osteofitose da goteira bicipital, artrose acromioclavicular e radiculopatias C5-C6. Tendinite do Supra – Espinhoso Elevação com abdução dos ombros associada a elevação de força. Carregar pesos sobre o ombro, Bursite, traumatismo, artropatias diversas. TRATAMENTO • Afastamento das atividades laborais e extralaborais de sobrecarga, remanejo; • Anti-inflamatórios, relaxantes musculares, gelo local, imobilizações; MEDICINA DO TRABALHO (Saúde e sociedade) Talita Valente ATM 2023/A 5 • Fisioterapia; • Acupuntura; • Infiltrações; • Grupos terapêuticos; • Pós- fase aguda: alongamento, fortalecimento muscular, hidroginástica. PREVENÇÃO • A prevenção das LER/DORT não depende de medidas isoladas, de correções de mobiliários e equipamentos. • Avaliação e monitoramento das condições e dos ambientes de trabalho, integrando setores de assistência e vigilância. • Criteriosa identificação dos fatores de risco presentes na situação de trabalho ( PCMSO e Comitê de Ergonomia). CASOS CLÍNICOS (FAZER E ENVIAR PARA O PROFESSOR) Caso 1 P.M., 20 anos, branco, nadador. Atleta de grande clube. Vínculo empregatício: carteira assinada. Há 2 meses evoluindo com dor localizada nos ombros quando eleva e abaixa lateralmente os braços e os dobra. Fratura de úmero direito aos 6 anos Ao exame: crepitação a movimentação dos ombros; teste de Gerber +; teste de bear hug + à direita; teste belly press positivo à direita teste de Speed + 1. Diagnóstico Ruptura do tendão subescapular. 2. Ocupacional ou não? Sim. 3. CAT (comunicação de acidente de trabalho, sim ou não?) Sim. Caso 2 J.A.S., 30 anos, pardo, operário da construção civil. Trabalha há 6 meses para firma de construção civil (carteira assinada). Durante levantamento de 2 sacos de cimento (20kg) relata travamento das costas, não conseguindo levantar. Ao exame: contratura da região paravertebral lombar à esquerda, dor à digitopressão de musculatura. Lasègue negativo à esq Bragard positivo à esq Reflexos profundos preservados 1. Diagnóstico Lombalgia 2. Ocupacional ou não? Sim 3. Exame complementar Tomografia computadorizada para avaliação de lesões em ossos (como degenerativas ou discais), caso não houver diagnóstico definitivo solicitação de ressonância para avaliação de estruturas não ósseas e também para confiar diagnóstico em casos suspeitos de hérnia discal ou lesão degenerativa. MEDICINA DO TRABALHO (Saúde e sociedade) Talita Valente ATM 2023/A 6 Caso 3 A.B.S., 24 anos, branco, halterofilista. Atleta da seleção brasileira de halterofilismo. Autônomo, contribui para o INSS. Nega trauma e uso de drogas ilícitas. Durante treinamento relata forte dor em face anterior de braço esquerdo com impotência funcional e alteração de forma (sinal do Popeye). 1. Diagnóstico Lesão proximal do bíceps. 2. Ocupacional ou não? Sim. 3. CAT? Não, pois é autônomo. 4. Exame complementar US se dores não forem persistentes e não houver redução da força, apresentando somente inflamação e edema em que não é necessário cirurgia, somente tratamento com fisioterapoa e medicação. Se dor persistente solicitaria RNM e encaminharia para cirurgia. Caso 4 F.F.C., sexo feminino, branca, 29 anos. Secretária há 05 anos. Vínculo empregatício: carteira assinada. Durante avaliação médica periódica relata estar grávida de 05 meses e que vem evoluindo há mais de um ano com desconforto em região da palma da mão direita. Inicialmente relatava melhora nos finais de semana. Piora com a gravidez passando a apresentar também dor no local irradiada para os dedos e comprometimento da outra mão. Ao exame apresenta edema de mmii (1+/4) com cacifo, e de mãos com outros sinais inflamatórios na mão direita, testes de Durkan, Tinel positivos bilateralmente e Phalen positivo à direita. Manobra do estiramento (Gliding) positivo. Teste de força do abdutor curto do polegar à direita positivo. Restante da avaliação osteomioarticular sem alterações. 1. Diagnóstico Síndrome do túnel do carpo. 2. Ocupacional ou não? Sim. 3. CAT Sim. 4. Exame complementar Eletroneuromiografia. ENMG MEDICINA DO TRABALHO (Saúde e sociedade) Talita Valente ATM 2023/A 7 As alterações (na ENMG) podem ser graduadas da seguinte forma: - Discreta: detectável somente através de testes de alta sensibilidade, tais como os testes comparativos; - Leve: redução da velocidade de condução sensitiva do nervo mediano; - Moderada: aumento da latência distal motora do nervo mediano; - Acentuada: potenciais sensitivos indetermináveis e/ou degeneração axonal motora significativa; - Extrema: potenciais sensitivos e motores indetermináveis. Exame físico: • Durkan é o mais sensível • Phalen denota gravidade • Músculo abdutor curto do polegar é o mais frequentemente envolvido Caso 5: M.P., 19 anos, branco, tenista profissional. Patrocinado por grande empresa de telefonia. Contribuipara previdência privada. Há longa data relata dor mal localizada em ombro direito que piora quando se deita sobre ele. Fratura de úmero direito aos 6 anos Ao exame: dor à circundação do ombro; teste de Jobe +; A- Sustenta em abdução peso de 3kg B- Sustenta em abdução peso de 1kg C- Não sustenta em abdução peso algum 1. Diagnóstico A - Lesão parcial do manguito rotador. Diagnóstico B - Lesão total do manguito rotador. Diagnóstico C - Tendinite + Bursite do ombro. 2. Ocupacional ou não? Sim 3. CAT? Sim 4. Exame complementar? Inicialmente US para avaliar o caso, já que não envolvimento ósseo, mas sim em tendões, músculos e cartilagens. Se não houver remissão da dor com tratamento pode-se considerar pedir ressonância magnética para diagnóstico definitivo. Caso muita gravidade pode-se pedir inicialmente RNM. MEDICINA DO TRABALHO (Saúde e sociedade) Talita Valente ATM 2023/A 8
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