Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Nicolle Marcondes – 5°sem. Psicologia DESDOBRAMENTOS DA TEORIA PSICANALITICA MELANIE KLEIN (1882 – 1960) CINTRA, E. M. U.; FIGUEIREDO, L.C. Melanie Klein, estilo e pensamento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. Capítulo 1: Melanie: algumas informações introdutórias VIDA E OBRA Melanie Reizes, nome de família de seu pai, se torna Klein após um infeliz e mal-sucedido casamento com Arthur Klein. Veio ao mundo em Viena, no dia 30 de março de 1882, em uma família de origem hebraica bastante humilde e de poucas condições financeiras, embora dotada de um certo nível cultural, sendo a quarta e última filha do casal Moriz (médico e dentista) e Libussa (dona de casa e proprietária de um pequeno comércio). Dois de seus irmãos, aos quais era especialmente ligada, morreram precocemente: sua irmã Sidonie, aos sete anos, quando Melanie contava apenas quatro; e seu querido irmão Emanuel, quando ela chegava aos vinte. Os temas das perdas e da melancolia insinuaram- se bem cedo em sua existência, e marcaram profundamente seu pensamento teórico. Melanie Reizes, poderia ter sido, como milhões de outras mulheres de sua época e situação social, uma pobre mulher judia condenada pela posição de filha, esposa e mãe a uma vida repleta de submissão, humilhação, e, fracasso. De fato, o decurso de sua história se mostrou assim até seus trinta anos, quando o conhecimento da psicanálise a “salvo- a da depressão, da inveja, raiva e mediocridade, inclusive de seu casamento”. Noiva desde os 17, Melanie casou-se com um amigo de seu irmão Athur Klein (Engenheiro Químico). Após casamento Klein (nome de seu marido), passou a residir em diversas cidades do Império Austro-Húngaro até chegar em Budapeste, em 1910. Neste período Melanie sofria de profundos episódios depressivos de desesperança trazendo prejuízos na capacidade cuidar de seus filhos, principalmente os mais velhos, ficando por vezes, longas temporadas ausente, em repouso, deixando para sua mãe os cuidados com as crianças. Foi também na década de 1910, que em meio aos desgostos de sua vida conjugal e familiar, residindo em Budapeste e deprimida, que Melanie Klein entrou em contato com a psicanálise. Em primeiro lugar, pela leitura de Freud e, logo em seguida, pela experiência de análise como paciente de Sándor Ferenczi. É com o incentivo desse grande desbravador das teorias e técnicas que Melanie começa a atender – em sua casa, naturalmente – o próprio filho Erich, que padecia de algumas inibições de aprendizagem. Com base nessa experiência de mãe-analista, ela elabora sua primeira apresentação – “Der Familienroman in statu nascendi" -, e é aceita como membro da Sociedade de Psicanálise de Budapeste. Em 1914, morreu mãe de Klein ao mesmo tempo em que seu marido se afasta da família, devido a Primeira Guerra. Neste mesmo ano Melanie entra em contato com a obra sobre os sonhos e ao que parece iniciou análise com Ferenczi, nessa ocasião, seu filho Erich apresentava sinais de inibição intelectual, bloqueios na curiosidade, Klein deu início a intervenções guiadas pela teoria psicanalítica e analista. Em 1918, participou do 5º congresso internacional de Psicanálise em Budapeste, ouviu Freud sobre os avanços da terapia psicanalítica. No ano seguinte Klein escreve seu primeiro artigo, sendo ingressa como membro da sociedade de Budapeste. Em 1921 mudou-se para Berlim sem a companhia do marido (partiu a trabalho para Suécia) e filhos mais velhos (Melitta e Hans). A segunda etapa importante de sua trajetória deu-se com sua mudança para Berlim, depois que alguns acontecimentos políticos na Hungria, os quais Ferenczi esteve envolvido, tornavam menos confortável a permanência de judeus naquele país. Foi então, em 1921, para a capital da Alemanha, onde veio a iniciar, em 1924, uma "segunda análise, com Karl Abraham (abortada pela doença e morte de Abraham, em 1925). Melanie começou, desde sua chegada, a analisar alguns filhos dos analistas locais, tornando-se membro da Sociedade de Berlim e elaborando alguns de seus primeiros trabalhos escritos. Em 1922 teve sua primeira mudança realizada por iniciativa própria e interesse, mudou-se para Alemanha, de início acompanhada apenas pelo filho Erich. Em 1924, começou análise com Karl Abraham e leu seu primeiro trabalho em um congresso internacional, além de apresentar outro texto sobre psicanálise de crianças, “trabalho para o qual os Freuds já torcem o nariz...” Seu casamento passará por tentativas de reconciliação, mas em 1924, o casamento rompe definitivamente, advindo divórcio, em 1927. Nicolle Marcondes – 5°sem. Psicologia Em 1925, foi convidada para realizar palestra em Londres, e, em 1926 mudou-se definitivamente para Londres, mudança que correspondia aos convites dos analistas ingleses, impressionados com originalidade da jovem Melanie Klein. Após morte de Abraham seu analista e protetor, Klein ficava mais exposta a críticas de membros mais conservadores da Sociedade Local e de Viena. Era acusada de violentar a inocência das crianças e perturbar a relação elas com seus pais. A partir daí, sua ascensão na sociedade de Psicanálise Inglesa foi fulminante, no entanto no âmbito familiar Klein colhia muitos dissabores. Em 1930, morre seu filho Hans de acidente em uma escalada, esse filho “pré-Psicanalitico”, pelo tudo que parece fora analisado por Klein, na adolescência, tendia à depressão e lhe suspeitava de tendência homoafetiva. Sua morte acidental podia ser interpretada como suicídio, Klein ficou paralisada diante a notícia e sequer quis comparecer ao enterro. De outro lado Klein, após reencontro feliz com Melitta (formou-se em medicina, sonho da mãe), casada com outro psicanalista (Walter Schmideberg) supervisionando de Freud, as relações da filha com a “mãe começaram a azedar”. Melitta tornou-se nos anos posteriores a mais agressiva das opositoras de Klein, “exibindo um comportamento que chamava atenção pelo destempero e pela falta de pudor. Melanie Klein nunca revidou publicamente esses ataques escandalosos. Mais tarde Melitta mudou-se para os EUA e nunca mais se reconciliou com sua mãe. Melanie Klein, se meteu em diversas confusões, sendo quase excluída da sociedade. No entanto, recuperou-se, consolidou grupo de adeptos, vindo a gozar, no final da década de 40 e durante os anos 50, de uma posição estável, solida e prestigiável no seio da Sociedade Britânica. Ao longo dos anos Klein teve uma vida confortável, até mesmo luxuosa. Klein morre em 1960, aos 78 anos fortemente consolidada na sociedade Britânica e das sociedades da América do sul e por último nos EUA E França. 1910: leitura de Freud; inicia análise com Sandor Ferenczi; começa “atender em casa”, o próprio filho Erich, experiência que gerou seu primeiro trabalho; é aceita na sociedade de Budapeste. 1921: mudou-se para capital da Alemanha. 1924; iniciou análise com Karl Abraham (abortada pela doença e morte em 1925). 1926: publica “The Psychological principles of early analysis”. “Os princípios psicológicos da análise infantil”. De 1921 a 1926, publicou 6 pequenos trabalhos; mudou-se para Londres. 1927: “A importância da palavra na análise de crianças”. 1928: “Um sonho de interesse forense”. 1929: “Deduções teóricas a partir de uma análise de Dementia praecox na infância”. 1931: tornou-se didata da sociedade Britânica, começou a formar “seus” analistas. 1932: primeiro livro “The Psycho-Analysis of Children”- “ A Psicanálise de Crianças”. O livro de 1932 ainda trazia agradecimentos a filha Melitta. 1934: sob impacto da morte de Hans e início da briga com Melitta, Klein publica o primeiro de suas publicações radicais:”A contribution to the psychogenesis of maniac- depressive states”. “Uma contribuição para a psicogênese dos estados maníacos- depressivos”. 1935: Tensão política precária diante o nazismo, caracterizadas divergências dos psicanalistas de Viena, Berlim e ingleses. Havia ideia de expurgar a psicanálise inglesa, como antes fizera com Adler e Jung. Essas divergências motivaram palestras Kleinianos em Viena e Vienenses Freudianos proferiam palestras em Londres. Essa troca não deu certo, agudizando quando os vienenses foram obrigados a fugir da Áustria, aceitando convite de refúgio dado por Ernest Jones. 1939: Com a morte de Freud, a disputa por sua herança ficara mais encarniçada. Com isso, consolidou-se o grupo Kleiniano composto de sua maioria feminina: Klein, suzan Isaacs, Paula Heimann, Joan Rivière e Donald Winnicott (que se afasta na década seguinte). 1940: publica “O luto e suas relações com os estados maníaco-depressivos”, onde amplia os conceitos já introduzidos pela posição depressiva, postulando que o luto não seria mais que uma repetição das sensações dessa posição. O complexo de Édipo à luz das ansiedades arcaicas (1940) Klein introduz as ansiedades persecutórias e depressivas na dinâmica do complexo de Édipo, ampliando sua atuação no psiquismo infantil. Ao localizar o complexo de Édipo com o surgimento da posição depressiva, aos seis meses de idade, Klein dá um salto na compreensão da formação do superego infantil, bem como de eventuais distúrbios ligados ao Édipo. Com “Notas sobre alguns mecanismos esquizóides” aprofunda a compreensão das defesas do ego em relação às ansiedades persecutórias, ampliando os conceitos da posição esquizoparanóide. Ele também introduz o importante conceito de identificação projetiva como base para as relações objetais. Nicolle Marcondes – 5°sem. Psicologia Acréscimos importantes sobre esse tema são feitos por W. Bion. Esse trabalho e “Uma contribuição à psicogênese dos estados maníaco-depressivos” formam os eixos principais de sua teoria. Em “Inveja e Gratidão” de 1957, seu mais controverso trabalho, Klein postula a presença do sentimento de inveja presente desde o nascimento no bebê, e analisa suas consequências para as posições esquizo-paranóides e depressivas, bem como para o Complexo de Édipo. Ela também faz nesse trabalho um importante avanço em relação às resistências ao tratamento analítico. Melanie Klein morreu em Londres em 22 de setembro de 1960, mesmo ano em que escreveu “Sobre saúde mental”:
Compartilhar