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ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS Aline Alves dos Santos Índice capital circulante líquido Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir o conceito e a formação do capital circulante líquido. � Descrever o cálculo do capital circulante líquido. � Resolver situações aplicando o índice de capital circulante líquido. Introdução Neste capítulo, você vai adquirir conhecimentos relacionados ao índice de capital circulante líquido (CCL). Primeiramente, você estudará o conceito do CCL, que se refere à diferença existente entre o ativo circulante e o pas- sivo circulante, de acordo com um período específico. Serão apresentados o conceito e a formação do índice de capital líquido, como é realizado seu cálculo e as circunstâncias em que esse índice pode ser aplicado. O que é CCL? Conforme Blatt (2001), o CCL também é denominado de capital de giro líquido (CGL) e representa o excesso financeiro empresarial, ou seja, a folga ou falta de ativos circulantes em contrapartida aos passivos circulantes. O ativo circulante aborda algumas contas, como, por exemplo, a soma das contas a receber, dos estoques, dinheiro em caixa, dinheiro em banco, aplicações financeiras e duplicatas a receber. O passivo circulante envolve algumas contas, como, por exemplo, fornecedores, contas a pagar, folha de pagamento, encargos sociais, impostos a pagar, empréstimos a pagar e demais dívidas vencíveis dentro do prazo de um ano, ou seja, 12 meses. A fórmula usada para calcular o CCL é definida da seguinte forma (BLATT, 2001, p. 99): CCL = CGL = AC – PC Ou CCL = (PNC + PL) – ANC Onde: CCL: capital circulante líquido CGL: capital de giro líquido AC: ativo circulante PC: passivo circulante PNC: passivo não circulante PL: patrimônio líquido ANC: ativo não circulante Através do CCL fica evidente a falta ou o excesso do ativo circulante relativo ao passivo circulante. Desse modo, quanto mais elevado for o CCL ou CGL, melhor será para a empresa, já que a partir desse resultado ela possui um excesso financeiro, o que não representa uma folga de caixa. O resultado adquirido com o CCL corresponde à proporção em que o passivo circulante financia o ativo circulante. O uso do CCL busca evidenciar se há estabilidade entre risco e rentabilidade. É possível afirmar que o CCL ou CGL corresponde à soma dos recursos financeiros de curto prazo que estão disponíveis para financiamento das operações empresariais. Observe os possíveis resultados para o CCL e o que eles indicam: Índice capital circulante líquido2 CCL > 0: quando o CCL for maior que 0 significa que o ativo circulante é maior que o passivo circulante, o que resulta em um índice de liquidez corrente maior que 1. Analisando o Quadro 1, é possível constatar no exemplo que o ativo cir- culante é relativamente maior que o passivo circulante, o que representa que o CCL da empresa é positivo e que ela possui uma folga financeira. CCL = 0: quando o valor do CCL for igual a 0 resultará em um índice de liquidez corrente igual a 1. Fonte: Adaptado de Blatt (2001, p. 99). ATIVO PASSIVO AC PC ELP RLP PL AP Quadro 1. CCL maior que 0 Observando o Quadro 2, verifica-se que o ativo circulante é equivalente ao passivo circulante, ou seja, possui a mesma proporção. CCL < 0: quando o resultado obtido do CCL for menor que 0, significa que o ativo circulante é menor que o passivo circulante, resultando em um índice de liquidez corrente menor que 1. Nesse caso, o CCL é negativo. 3Índice capital circulante líquido Fonte: Adaptado de Blatt (2001, p. 100). ATIVO PASSIVO AC PC RLP ELP AP PL Quadro 2. CCL igual a 0 Ao analisar o Quadro 3, observa-se que ao contrário do Quadro 1, o passivo circulante é maior que o ativo circulante, significando que a empresa não possui excesso ou folga financeira. Fonte: Adaptado de Blatt (2001, p. 100). ATIVO PASSIVO AC PC RLP ELP AP PL Quadro 3. CCL menor que 0 Índice capital circulante líquido4 Calculando o CCL De acordo com Saporito (2015), ao calcular o CCL pode-se obter um resultado positivo, negativo ou nulo. Ao adquirir um resultado negativo, constata-se que essa empresa possui um risco mais elevado da sua operação, já que ela possui obrigações de curto prazo que são superiores aos ativos de curto prazo. No entanto, mesmo com o índice CCL negativo, muitas empresas conseguem se manter no mercado. Isso pode ocorrer em virtude da operação empresarial ou também das diversas obrigações que a empresa possui, que vencerão no próximo exercício social, e que serão substituídas por outras obrigações do curto prazo. Com base nas informações apresentadas, relativas ao índice de CCL, é possível afirmar que quanto maior o total do CCL da empresa, menor risco ela apresentará, ou seja, ela terá menor probabilidade de insolvência técnica. O Quadro 4 apresenta o resultado adquirido para o CCL no ano de 2013 e no ano de 2014. No ano de 2014, o ativo circulante prevaleceu sobre o passivo circulante, onde o resultado do CCL foi de R$ 100.000. Para chegar nesse resultado, foi preciso coletar os dados do ativo circulante e passivo circulante e aplicar a fórmula do CCL. Fonte: Adaptado de Saporito (2015, p. 264). CIA. Exemplo completo 31/12/2014 31/12/2013 Variação R$ mil R$ mil R$ mil Ativo circulante 300.000 257.000 43.000 (–) Passivo circulante 200.000 170.000 30.000 (=) CCL 100.000 87.000 13.000 Quadro 4. Resultado para o CCL nos anos de 2013 e 2014 5Índice capital circulante líquido CCL = AC – PC Ano 2014 CCL = 300.000 – 200.000 = 100.000 Ano 2013 CCL = 257.000 – 170.000 = 87.000 A variação do CCL do ano de 2013 para o ano de 2014 foi de R$ 13.000,00, e isso pode ser visualizado ao comparar os dois períodos (R$ 100.000 – R$ 87.000). Quando aplicada a fórmula do CCL será obtido um resultado que pode ser favorável ou desfavorável para a empresa. Ao obter um CCL positivo se identifica que o total dos investimentos de curto prazo, como, por exemplo, caixa, clientes, entre outros, é maior que as obrigações que constam no pas- sivo circulante e que estão compreendidas dentro do curto prazo, como, por exemplo, fornecedores, empréstimos bancários, entre outros. Ao calcular o CCL, o resultado de um CCL positivo identifica o equilíbrio financeiro empresarial, conforme demonstra o excesso de recursos financeiros de longo prazo, como obrigações e capital próprio, que são investidos no curto prazo. Desse modo, um CCL positivo demonstra a capacidade de solvência que a empresa possui no curto prazo, assim como as decisões estratégicas, dado que os investimentos de longo prazo são financiados por recursos financeiros também de longo prazo. Vale destacar que a sobra referente aos recursos financeiros de longo prazo designados ao curto prazo, fonte do possível excesso financeiro, pode ter sido investida em ativos que não possam ser convertidos tão facilmente em caixa. Dentre os ativos que são de difícil transformação em dinheiro, estão os capitais que foram investidos em estoques com baixo giro ou em clientes inadimplentes, entre outros. Com base no Quadro 5, a seguir, é possível visualizar o que seria exatamente essa folga ou excesso financeiro posterior aos cálculos do CCL. Índice capital circulante líquido6 ANO X 1 ANO X 2 AC 70% AC 55% PC 49% PC 34% Quadro 5. Representação do cálculo do CCL O Quadro 5 permite visualizar os resultados do CCL posterior ao seu cálculo, que deve ter por base valores apresentados por uma empresa, onde as parcelas cinza escuro expostas no ativo circulante de ambos os períodos (X1 e X2) correspondem à folga financeira empresarial, pois comparando ativo circulante e passivo circulante proporcionalmente, essa sobra existiria somente no ativo circulante, evidenciando que este é maior que o passivo circulante, ou seja, representa uma medida de ativos disposta pela empresa para financiar dívidas de curto prazo, no entanto, se esses ativos circulantes foremtransformados em dinheiro facilmente. Aplicando o índice de CCL Através da aplicação do índice de CCL, se realiza a análise dos recursos financeiros empresariais vencíveis no curto prazo e, desse modo, se necessário, criam-se estratégias para fins de controlar o fluxo de caixa da empresa. A partir do Quadro 6, é possível visualizar a situação empresarial mediante o cálculo do CCL e definir métodos que modifiquem a situação futura da empresa. 7Índice capital circulante líquido Fonte: Adaptado de Padoveze e Benedicto (2010, p. 192). BALANÇO PATRIMONIAL 20X1 20X2 Ativo circulante 85.000 95.800 Caixa e equivalentes de caixa 25.000 23.800 Clientes 15.000 32.000 Estoques 45.000 40.000 Ativo não circulante 100.000 93.500 Duplicatas a receber 30.000 30.800 Investimentos em controladas 13.000 17.200 Imobilizados 150.000 162.000 (-) Depreciação acumulada -80.000 -99.300 TOTAL 185.000 189.300 Passivo circulante 91.800 90.100 Fornecedores 28.000 29.900 Contas a pagar 29.000 17.000 Impostos a recolher 3.800 6.200 Dividendos a pagar 7.000 5.000 Empréstimos a pagar 24.000 32.000 Passivo não circulante 34.400 37.000 Financiamentos a pagar 34.400 37.000 Patrimônio líquido 58.800 62.200 Capital social 41.000 41.000 Reservas 13.300 16.000 Lucros acumulados 4.500 5.200 TOTAL 185.000 189.300 Quadro 6. Balanço patrimonial Índice capital circulante líquido8 Com base no exposto pelo balanço patrimonial da Figura 6, a empresa poderá calcular o CCL buscando entender a situação nesses dois períodos, 20X1 e 20X2. 20X1 CCL = AC – PC CCL = 85.000 – 91.800 = (6.800) – CCL negativo 20X2 CCL = 95.800 – 90.100 = 5.700 – CCL positivo A partir dos resultados encontrados, é identificado que no período de 20X1 a empresa apresentou um CCL negativo de R$ 6.800 e que através dessa análise foi possível definir algumas estratégias de gestão que não estavam sendo realizadas, buscando melhorar os resultados empresariais. O gestor financeiro estabeleceu algumas medidas simples, porém eficientes, para refletir de forma relevante no resultado financeiro da empresa, como, por exemplo: � Delegação de funções específicas, onde o colaborador responsável pela movimentação do caixa não execute outras atividades. � Realizar um controle de fundo fixo com o intuito de pagar dívidas de pequenos valores diários da empresa, não utilizando, desse modo, os valores disponíveis no caixa para todos os gastos. � Aplicar um controle diário referente aos pagamentos e recebimentos, o que antes não era efetuado. Através desse controle, a empresa iden- tificou que alguns clientes estavam pagando fora do prazo definido, o que resultou em atrasos de recebimentos, fazendo com que a empresa utilizasse mais dos seus recursos disponíveis em caixa. O uso do CCL permite identificar essas situações e possibilita que a em- presa crie melhorias. Quando o CCL apresenta resultado negativo, significa que o ativo circulante é menor com relação ao passivo circulante, desse modo a empresa possui CGL negativo. Com base nessa situação, o CGL representa a fração dos ativos fixos da empresa, que é financiada por recursos de longo prazo, representando um grande risco, já que as dívidas de curto prazo são vencíveis antes mesmo que os ativos não circulantes possam ser transformados em caixa. 9Índice capital circulante líquido BLATT, A. Análise de balanços: estruturação e avaliação das demonstrações financeiras e contábeis. São Paulo: Makrons Books, 2001. PADOVEZE, C. L; BENEDICTO, G. C. de. Análise das demonstrações financeiras. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010. SAPORITO, A. Análise e estrutura das demonstrações contábeis. Curitiba: Intersaberes, 2015. Leituras recomendadas BRUNI, A. L. A análise contábil e financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. v. 4. (Série des- vendando as finanças). GARRISON, R. H; NOREEN, E. W; BREWER, P. C. Contabilidade gerencial. 14. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. HIGGINS, R. C. Análise para administração financeira. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. LINS, L. S; FRANCISCO FILHO, J. Fundamentos e análise das demonstrações contábeis: uma abordagem interativa. São Paulo: Atlas, 2012. MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. MARQUES, J. A. V. da C.; CARNEIRO JÚNIOR, J. B. A.; KÜHL, C. A. Análise financeira das empresas. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2015. PEREZ JUNIOR, J. H.; BEGALLI, G. A. Elaboração e análise das demonstrações financeiras. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2015. SANTOS, J. L. dos; SCHMIDT, P.; FERNANDES, L. A. Contabilidade avançada: aspectos societários e tributários. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2012. Índice capital circulante líquido10 Conteúdo:
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