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1553991519053_LIVRO+Òsú.

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ÒSÚN 
Água, Vida, Amor, Gota Divina,Fonte Bendita 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Bàbálàwo: Ifálekan Abimola 
 
2 
 
Ìndice 
 
Poema água................................................................................................................... ..............03 
Kiki fun Òshún...........................................................................................................................04 
Origem de Òshún........................................................................................................................05 
Òshún é água, àgua é Òshún................................................................................................... ....09 
Òshún o nosso recurso natural....................................................................................................11 
A importância de Òshún e dos Mananciais.................................................................................13 
A relação de Òshún com o poder e sensualidade da mulher.......................................................15 
Relação de Òshún com Ifá e toda a sua esfera enigmática.........................................................18 
O culto de Òshún relacionado com os Odù-Ifá..........................................................................20 
A manifestação de Òshún...........................................................................................................24 
Os títulos de Òshún relacionados com os Odù-Ifá.....................................................................25 
Os mitos e equívocos em torno de Òshún...................................................................................32 
Destronando o mito da rivalidade entre Òshún e Ogbà..............................................................34 
A relação de Òshún com Òyà......................................................................................................35 
Òshún e os Espíritos Infantis, os chamados Emere.....................................................................37 
Minúcias sobre o culto de Òshún................................................................................................38 
A relação de Òshún com Òsóròngà e seu poder de fertilidade...................................................40 
A importância do Idé no culto de Òshún....................................................................................43 
Òshún e sua relação com o Igba (a cabaça)................................................................................44 
Obele Òshún...............................................................................................................................45 
Abebe Òshún..............................................................................................................................46 
Características das Filhas e Filhos de Òshún.............................................................................48 
Èèwó-Òshún (proibições no culto de Òshún).............................................................................51 
A Òshún se oferece freqüentemente...........................................................................................52 
As Adimu ofertadas no culto de Òshún......................................................................................53 
Oshogbo a terra do Original culto de Òshún..............................................................................64 
Odun-Òshún (festividade Anual à Òshún).................................................................................67 
Òjòjù-Òshún (saída de Ìyáwo-Òshún).......................................................................................70 
Itens para Assentamento Básico de Òshún.................................................................................74 
Awure – Magias e Prevenções....................................................................................................76 
Orìkì Òshún................................................................................................................................79 
Oração diária à Òshún................................................................................................................99 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
Água é gota bendita, é gota saída 
Do seio da terra, no meio da serra, 
Pra vida trazer. 
Fonte divina. 
Água, que é gota divina, que rega a campina, 
Que molha a serra e fecunda a terra, 
Para vida viver. 
É gota tão pura, que faz a fartura 
Nas plantas, no chão. 
É gota, é vigor, que abranda o calor 
Do sol de verão. 
É água do céu, da nuvem em véu, 
Que vem pra formar 
As ondas do mar. 
Os rios e vazantes, os lagos brilhantes, 
Oh água!, Se és gota divina, 
Que a todos fascina, 
Se és vida do ser. 
Por quê? 
O homem maldoso, voraz, ambicioso, não perceberá 
Que um dia, que logo virá e tu partirás, sem nada dizer. 
E o homem, voraz, sem clemência, na própria indolência irá perecer. 
Oh água!, que és gota divina, acorda, ilumina, os homens de bem! 
Lhes rega o chão da consciência, desfaz a indolência, 
A incúria, o desdém! 
Abram-lhes, oh gota bendita! 
Os olhos pra vida, 
Que vai muito além! 
Faz que eles, qual guarda da vinha, te salvem, gotinha; 
Se salvem, também!!! 
 
 
 
4 
 
Kiki fun Òshún 
(saudações à Òshún) 
 
Ore Yèyé ó! 
O kaare ooo! 
Oloshere Yeye ooo! 
Ò du sin yèyè o! 
Idé lowo, idè lèsè, idè lori 
Òshún a fidè ri omòn, ` 
F’awon ágbo atò 
Òshún aiku ooo 
Òshún ifè t’Olorun, ifé oorun o! 
Òshún logùn k’pàá ibi. 
Òshún Oluèwéri. 
Bondosa Mãe, 
Aquele que faz a bondade inúmeras vezes. 
Mãezinha, dona da bondade. 
Aquela que é a fonte de sobrevivência. 
Bronze nos pés, bronze nas mãos, Bronze na cabeça. 
Òshún, aquela que enfeita as crianças com o bronze, 
Para elas terem saúde e vida longa. 
Òshún é vida! 
Òshún é o amor de Deus, o amor infinito. 
A charmosa e encantadora Òshún que sucumbe o mal. 
Òshún é a senhor que purifica as cabeças. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
A origem de Òshún 
A sua origem, data do momento que o Àsè se tornou autoconsciente e deu à luz a Òlòdúnmàré. 
Logo em seguida, quando o mesmo experimentou a primeira emoção de puro amor. Foi nesse 
exato momento, na primeira manifestação desse legítimo Amor incondicional, originou-se o 
Ìrúnmòlé-Òshún. Após a sua origem, desse “Asè de Amor”, Òshún se desprendeu de 
Òlòdúnmàré e sua força, amor, começou a se alastrar pelo mundo, na finalidade de fazer jorrar 
e criar tudo através do intenso amor absoluto. Portanto, nos primórdios da criação, quando 
Òshún estava vindo das profundezas do Òrun, além, Olódùmaré confiou-lhe o poder de zelar 
por todas as crianças que iriam nascer no Àiyé, a terra. A partir de então, Òshún se tornou a 
provedora do bom comportamento e passou relacionar-se com todas as coisas ou situações que 
expõem total pureza, virgindade, bondade, carinho, beleza de caráter, inocência, perfeição, 
generosidade, franqueza, esclarecimento, cristalinidade, transparência, ponderação, bom senso, 
atilamento e prudência. Nessa sua tarefa, Òshún deveria fazer com que as crianças 
permanecessem no ventre de suas mães, grávidas, assegurando o desenvolvimento, nutrição, 
transformações do feto, de forma apropriada para evitar abortos e contratempos antes do 
nascimento; isso mesmo depois da criança nascer e até que a mesma começasse a dá seus 
primeiros sinais de consciência, percepção e relação progressiva com o mundo fora do útero, ou 
seja, assim que a criança começasse a articular as suas primeiras palavras. E por isso, Òshún 
recebeu um rigoroso tabu, que lhe proibia encolerizar-se com quem fosse; ao ponto de ser 
proibida até de recusar uma criança a qualquer inimigo, não podendo se limitar a fornecer 
gravidez somente à um amigo ou protegido. Por esse fato, que tal tarefa é somente atribuída a 
Òshún. 
 
 
6 
 
 
Deste modo,Ifá relata que Òshún foi a primeira Ìyáàmi, encarregada de ser a Olùtójú-Awon-
Omode (aquela que vela por todas as crianças) e a Álàwòyè-Omode-Omitutu (aquela que 
cura as crianças recém nascidas apenas com a sua água fresca). Isso é tão rigoroso, que Òshún 
foi proibida de se tornar inimiga de qualquer Òrìsà ou pessoa. Também por este ultimo fato, 
Òshún se tornou a soberana em muitas áreas, principalmente na arte de engravidar. Òshún está 
ligada, paralelamente, ao corrimento menstrual e todas as atividades que representam esse 
corrimento. Também ao sentimento final de sentir o prazer no deleite sexual. Em contrapartida, 
a força de Òshún é completamente antagônica à sensualidade excessiva, promiscuidade, 
volúpia, devassidão, pornografia, escândalos, agito, alvoroço, conflito, qualquer tipo de 
extravagância, desordem, sujeira, malícia, manipulação, feitiçarias agressivas, complexo de 
inferioridade, ardiloso, palavra com duplo sentido, arrogância, vaidade, presunção, sentimento 
de fúria, ao menor sinal de raiva, violência, agressão física ou verbal, imoralidade, falta de 
caráter, desonestidade, mentira, infidelidade, deslealdade, desunião, inimizade, inveja, 
falsidade, indecência, imprudência, indiretas, deboche, ironia, brigas, confusões, desrespeito, 
corrupção, desconsideração, desprezo, fraude, falta de clareza nas palavras e falta da lucidez, 
tanto como a roupa negra, aos tecidos brilhosos e ofuscantes. Òshún é contrária a morte e todos 
os utensílios originados depois da mesma, assim como o marfim, os ossos, a prática de quebrar 
ossos nos dentes, ao mau cheiro, a putrefação, a caça e matança de animais, o aborto, a intenção 
de matar ou prejudicar. Também é avessa ao uso da força, as situações e coisas enfadonhas, ao 
desgaste físico, envelhecimento, ruínas, abandono, desaparecimento, locais sujos, empoeirados, 
fedorentos e bagunçados. 
 
Como Ifá relata, Oyeku-Meji é Odù Ishalaye de Òshún, o primeiro e original Odù das águas. 
Mas, EFON, teria sido o primeiro e mais antigo nome de Òshún. O termo ÒSHÚN (òshún), 
originalmente significa: EMANAR, derivar, originar, fluir, proceder, provir, deslizar, 
nascimento, surgimento, sair de, desprender-se, disseminar-se em partículas sutis. Ou seja, 
“Algo que emana” ou “Aquela que emana”. Òshún’enire: “Aquela que nasce da bondade”, ou 
Osunwalorunke “Aquela que procede do Além”! 
 
 
 
 
 
7 
 
 
Primitivamente, Òshún é considerada uma força elementar materializada através da água 
potável, tanto que a sua energia é extraída desse mesmo líquido precioso. Seja ele vindo do céu 
na forma de chuva, surgindo das entranhas da terra, ou contido em todos os corpos vivos, ou 
ainda gerado no útero na formação dos Bebes. Porém, é a água da chuva que está originalmente 
ligada a Òshún, a mesma depois de cair torrencialmente deu origem aos oceanos e mares de 
água salgada, que foi filtrada pela terra, dando finalmente origem aos rios, córregos e lagoas. 
Nesse ciclo dinâmico à água sempre retorna à sua origem, vapor, tornando cair em forma de 
chuva. Conseqüentemente, Òshún é considerada um Imolé que expressa a liquidez, que flui ou 
corre, tendendo sempre a nivelar-se e a tomar a forma de bacia que o contém, se ajustando, 
cuidando, corrigindo, liquidando, verificando. Sempre disponível. Assim como á água não é 
empatada por nada, Òshún não pode ser contestada, devido ao seu peso líquido. Òshún é o 
designativo de calor e vapor que se combinam facilmente geram água, corpo líquido. Portanto, 
Òshún também expressa o humor orgânico, a liquidificação muito ativa e inquieta. 
Primordialmente, assim como a água, Òshún é considerada uma força inerente ao dinamismo, 
sensibilidade, comoção, calor afetuoso etc.. Porém, rápida e objetivamente, Òshún tem uma 
característica de se manter refrescante, renovada, confortante, acessível, afagada, dócil, afável, 
contagiante, aprimorada, imaculada, essencialmente capaz de fornecer carícias, zelo, mimo, 
cuidados, purificação, limpeza, fluidez, facilidades, espontaneidade, benevolência, 
generosidade e muita vida. 
 
Mais abaixo, apresentaremos vários Itan a respeito de Òshún, alguns deles com a finalidade de 
serem bem estudados e bem interpretados, de forma a conhecer este grande, poderoso e 
enigmático Imolè, que se transforma em uma Divindade versada na mais extraordinária 
benignidade, amabilidade, meiguice, bondade. 
 
Como já sabemos, Òshún é considerada o primeiro fragmento de bondade absoluta, que ao se 
desprender de Deus tomou a forma de poder gerador, fonte existencial de todas as coisas no 
universo físico, espiritual e emocional. Foi essa primeira manifestação de bondade que deu 
origem ao Òrún e possibilitou a origem de todas as coisas no Aiye. Inicialmente, basta 
começarmos analisar tudo que Òshún rege com soberania, a exemplo da cabaça (ícone mítico 
do universo), ovo, a vagina, útero (além, infinito), como tudo que tem forma ovulada e 
expansiva. Encontramos a manifestação liquida de Òshún retida no interior de um elemento, 
outras vezes a encontramos na forma de jorramento. Ainda assim, Òshún é muito mais 
grandiosa que essas meras reproduções. 
8 
 
 
A maioria dos seres limitados, mortais, só tem acesso mesmo à uma minúscula partícula dessa 
grandiosidade de Òshún, que na verdade para muitos despreparados, seria um perigoso e 
extrema imprudência tentar concebê-la na sua profundidade. Até porque, há uma grande 
distancia entre o conceito de concebê-la e conhecê-la. Entretanto, Òshún como um elemento 
isolado é um fragmentado de Olodunmare, em sua particularidade. Òshún é um Imolè que se 
materializa tanto na água em movimento como na acumulação da mesma, as águas tranqüilas, 
que são algumas vezes as águas mais perigosas. Seja como for, Òshún está associada a 
transformação e purificação através das águas encontradas em toda a natureza, é uma força 
soberana em muitos aspectos, profundamente enigmática e inigualável, quase inexplicável se 
não fosse Ifá. 
No seguimento da criação universal, Òshún se converteu no Òrun em a primeira divindade das 
águas doces, dês da chuva até o olho d’água que origina os rios e afluentes de água potável, os 
quais asseguram e mantém a perpetuidade da vida no planeta até em tempos atuais. Ao passo 
que as águas da chuva propiciam as enchentes, catástrofes naturais devido ao volume em 
turbilhões de água, concomitantemente fertiliza o solo, aduba as lavouras e fornece o 
desenvolvimento da vida em todo o planeta. Por isso, na sua manifestação mais simples, Òshún 
está associada ao caráter brando quase já extinto, raramente podemos encontrá-la em seres 
humanos que possuem caráter afável, até mesmo naquelas pessoas mais oscilantes. A essência 
de Òshún representa o sentimento que impele as pessoas à afigura do que é belo, digno ou 
grandioso, com uma forte inclinação ao caráter atraente e encantador, assim manifestando 
afeição, grande amizade, pureza, gentileza, empatia, generosidade, capricho, acanhamento, 
pudor, ponderação, cautela, discrição, benevolência, caridade, preciosidade, tendência da alma 
para se apegar, chamego, doação, comprometimento, fidelidade, lealdade, compostura, muita 
decência, limpidez em todas as coisas e extremo bom caráter. 
A correlação da água doce é intrínseca com a vida, na existência de tudo que é vivo. Portanto, 
Òshún é sem sombra de duvidas a primeira Divindade naturalmente antagônica à morte, Ikù, e 
as manifestações da mesma. Assim podemos dizer que por trás do poder essencial representado 
na água, no ovo, no bronze etc., existem muito mais a se descobrir o que é, e quem é na 
realidade Ìyá’nlalàyé Ènínàré Òshún. Pois, só Ifá possibilita essa marcha rumo à essa 
profunda descoberta, nos revelando tudo o que há por trás de uma densa cortina de 
fundamentos sobre Òshún, que só aparentemente nos sugere uma aparente acessibilidade. O 
fato é que Òshún é um dos Òrìsà mais complexo e cheio de pormenores, seja em seuuniverso 
conceitual, cultural e ritualístico. 
9 
 
ÒSHÚN É ÁGUA, ÁGUA É ÒSHÚN! 
O BEM INDISPENSÁVEL À VIDA. 
 
 
Mitologicamente, todos os Òrìsà masculinos vieram do Òrún através do EWON (a corrente), 
mas Òshún foi a única Divindade feminina que usou o EWON para vir do Òrún para o Aiye. 
Portadora de extrema bondade, suavidade, tranqüilidade e cuidado, ao ser descoberta no Aiye, 
Òshún se tornou a mãe de todas as crianças, tão capacitada por possuir muitos poderes 
especiais, se fez respeitada e muito considerada em meio todos os Ebora e Òrìsà. 
O surgimento da água está extremamente ligado à formação do sistema solar. A terra, Ìyálalè, 
já em formação, passou por várias etapas de resfriamento e aquecimento, período de 
resfriamento no planeta, aonde houve uma condensação do vapor, Òbátàlà, a qual deu origem à 
formação de chuva torrencial, Òshún, com isso a grande massa de água foi depositada nas 
partes mais baixas do planeta, surgindo assim os primeiros oceanos primitivos (Òlòkún-su). 
Ocorrência comprovativa que Òshún é de fato a mais velha que Òlòkún-sù. Sendo assim, 
Òshún é a primordial divindade feminina entre todas as manifestações das Ìyágbá, a primeira 
manifestação do poder feminino divino. Portanto, Òshún é a água primitiva, também a primeira 
manifestação elementar do poder feminino, a qual mais tarde recebeu vários nomes peculiares e 
tipos diferenciados de Culto. 
 
http://www.brasilescola.com/geografia/origem-agua.htm
10 
 
Entretanto, durante a formação da crosta terrestre, Òbalúwàiyé, ocorreu o processo de 
desgaseificação, teoria que explica a liberação da água na forma de vapor. Nesse período os 
vulcões, Aganju, expeliram gases como hidrogênio e vapor de água, dando origem à atmosfera. 
 Já em terra firme, a água é encontrada na natureza em três estados: líquido (oceanos, rios, 
lagos e aqüíferos em formação ou grupo de formações geológicas que pode armazenar água 
subterrânea), estado sólido (geleiras) e estado gasoso (atmosfera). Todos esses elementos se 
integram formando o ciclo hidrológico, responsável pela manutenção da vida, chamado de 
Òshún (aquela que emana, aquela que procede, aquela que surge). Portanto, esse ciclo não pode 
ser alterado, pois pode provocar grandes alterações nas paisagens do globo terrestre. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
ÒSHÚN NOSSO RECURSO NATURAL 
 
A manutenção desse recurso natural, ÒSHÚN, acumulado na superfície e no interior do solo 
conhecido como um fenômeno que ocorre através do ciclo hidrológico. Com o calor irradiado 
pelo Sol, grande parte da massa de água se transforma em vapor e se resfria na medida em que 
vai subindo à atmosfera, aonde se condensa e forma nuvens, as quais voltam à terra, sob ação 
da gravidade, seja na forma de chuva torrencial, garoa, sereno, neblina ou neve. Assim através 
de Òshún, a chuva, se origina outros fenômenos naturais, de forma que os mesmos se 
manifestam na forma de vários outros Imolè: Òyà, Sàngó, Ògbà, Òsúmàré etc. Assim, mais 
uma vez temos que considerar a grandeza de Òshún no conceito de força geradora. 
Sabemos que toda a água do planeta está em contínuo movimento cíclico entre as três fases: 
líquida, sólida e gasosa. O ciclo representa a interdependência e o movimento contínuo da água 
nas suas diferentes fases. Os componentes do ciclo hidrológico são: 
 
Precipitação – água adicionada à superfície da Terra a partir da atmosfera. Pode ser líquida 
(chuva) ou sólida (neve ou gelo); 
Evaporação – Processo de transformação da água líquida para a fase gasosa (vapor d’água). A 
maior parte da evaporação se dá a partir dos oceanos, muito embora, ocorra evaporação nos 
lagos, rios e represas; 
(Vapor) Transpiração – Processo de perda de vapor d’água pelas plantas, o qual também entra 
na atmosfera; 
Infiltração – Processo pelo qual a água é absorvida pelo solo; 
12 
 
Percolação – Processo pelo qual a água entra no solo e nas formações rochosas até o lençol 
freático, onde encontramos um grande armazenamento de água potável; 
Drenagem – Movimento de deslocamento da água nas superfícies, durante a precipitação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
A IMPORTÂNCIA DE ÒSÙN E DOS MANANCIAIS 
 
 
 
O processo de desenvolvimento das cidades foi invadindo os mananciais, os quais outrora eram 
isolados e estavam distantes da ocupação urbana. A partir de então, temos a considerar que toda 
ação que ocorre numa bacia hidrográfica vai afetar a qualidade da água desse manancial. Não é 
simplesmente a ação em torno do espelho d'água que faz com que se degrade mais ou menos. 
Muito pelo contrário: pode ocorrer o surgimento mesmo de uma área distante do espelho d'água 
principal, mas de acordo com a grande capacidade de poluição que possibilitará a degradação 
total de um manancial. Portanto, se faz muito importante que a população esteja consciente de 
que é preciso disciplinar todo tipo de uso e ocupação do solo próximo das bacias hidrográficas, 
principalmente das bacias cujos cursos d'água formam os mananciais que abastecem uma 
população. Cuidar dos mananciais é cuidar e preservar a própria manifestação natural de 
Òshún. 
 
Em termos científicos, biológicos, Òshún é qualquer fonte, aonde se retira o abastecimento e o 
seu consumo para a continuidade da vida, que conseqüentemente vem sustentar a fertilidade 
nos seres e na terra, favorecendo muitas atividades econômicas como: agricultura, 
agropecuária, forja de metais etc. A importância de Òshún é tão grande, que Ifá a considera um 
precioso patrimônio espiritual, de primeira grandeza, Um manancial planetário com seu corpo 
denso de água, percorrendo toda a parte subterrânea e jorrando na superfície, dando origem aos 
rios, córregos e lagoas de água doce. 
14 
 
 
Não há possibilidade de haver desenvolvimento harmônico sem a manutenção característica da 
água, pois a disponibilidade de Òshún é um dos principais fatores limitantes do 
desenvolvimento da agricultura, indústria e comércio. Portanto, a palavra Òshún é definida 
como uma determinada fonte manancial de abastecimento físico e espiritual, resumida e 
materializada primordialmente na própria água potável, a água da vida. 
 
Atualmente, as mais importantes referências à Òshún encontram-se bastante deterioradas ao 
longo da diáspora. As conseqüências imediatas disso são percebidas no desrespeito a natureza 
humana, desvalorização dos seus conceitos primordiais, a confusão dos valores ritualísticos, 
como também a poluição das águas, o comprometimento da saúde, a má qualidade do meio 
ambiente e a própria extinção dos mananciais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
A RELAÇÃO DE ÒSHÚN COM O PODER E SENSUALIDADE DA MULHER 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Òshún é a Divindade proprietária de toda orbe feminina, concomitantemente está presente nos 
princípios masculinos. Assim, Òshún é considerada possuidora das forças de atração e 
semelhança, seja na composição ou no desenvolvimento entre as espécies ou grupos superiores, 
indica origem comum. Fato que faz Òshún ser compreendida, por excelência, como a principal 
Òrìsà relacionada ao casamento, união, identidade, analogia, similitude, equivalência, 
proporção, uniformidade, imutabilidade, regularidade, correspondência, parentesco, afinidade 
(Ibadana), condições estas ocorrentes entre o macho e a fêmea. 
Se Ìyémònjá é potencialmente a proprietária dos mistérios da maternidade pós-parto. Òshún é 
quem manipula o processo natural de atração entre as associações, isso não só como dádiva de 
Deus, mais também na finalidade criar todas as criaturas através do acasalamento. Em última 
análise, como o curso do rio sempre flui para o oceano, esse fenômeno é comparado com a 
mesma afinidade ocorrente entre as criaturas masculinas e femininas, os quais basicamente se 
relacionam aprincípio na finalidade de reprodução, e só depois é que o prazer sexual é levado 
em consideração. De forma que o atrito dos corpos, a excitação e a ânsia, estão relacionados à 
Èsù-Èlègbárà. 
 
16 
 
Sem sombra de duvidas, o ventre, aparelho reprodutivo, é muito sagrado para Òshún, por essa 
razão as mulheres que desejam filhos saudáveis, se empenham em cultuar Òshún, na finalidade 
de serem favorecidas e ajudadas a alcançar seus desejos reprodutivos. Mas a gravidez é apenas 
uma das atenções de Òshún. No entanto, ela é também responsável de curar todas as doenças 
abdominais e, hoje até nos riscos de cirurgias. 
Apesar de Òshún ser muito funcional no tocante à "reprodução", ela é tão ou mais ativa como 
força avassaladora e provocante dos prazeres, sendo ela capaz de desbloquear o potencial 
criativo do poder feminino e princípio masculino (fecundação). 
 
 
 
Por isso, Òshún é chamada: Oluwa-Awo-Ipilese-Didun-Inu (a Dona dos Mistérios do 
princípio do prazer e da satisfação internalizada). Um exemplo é as reações que acontecem no 
processo do namoro, manifestadas na forma do benquerer, apreciação, gostar, respeito, o 
saborear da afeição, afeto, o amor sem pressa, o romantismo delicado ao toque, a fim de 
conhecer o outro mais profundamente e proporcioná-lo o prazer de forma mais intensa. Assim, 
conseqüentemente, Òshún é considerada como o exclusivo Òrìsà do amor incondicional, 
receptividade, reciprocidade e diplomacia. Isso é tão profundo, que Òshún é associada e 
comparada com o puro mel, isso porque o mel tanto agrada aos sentidos como é possuidor de 
grande poder de cura física, espiritual e emocional, um alimento capaz de despertar o deleite 
por sua doçura e gostosura. 
 
 
 
17 
 
 
 
Já em termos humanos, o Imolè Òshún incorpora todos os aspectos da natureza sexual da 
mulher. Fato que Òshún é chamada de Iwa-Wundia (Virginal), o amadurecimento dos frutos 
na vida - aproximando a sua disponibilidade para saciar a fome e os sentidos de quem por sorte 
sabe saborear a sua doçura. 
 
Òshún é chamada de Iwa-Obinrin (Digna Mulher); personificada com todos os atributos do 
poder feminino, como um ser ciente de maturidade, e prevê que apenas os machos podem 
descrever suas realizações como homem, de tal forma, que ela é considerada o próprio 
"espelho", refletindo o macho em si mesmo. Mas, se o macho não a respeitar, cuidar, elevar, 
apoiar e proteger a mulher e os frutos do seu ventre, ele por si só diminuirá a si mesmo. Nesse 
sentido, Òshún é também chamada de Pa’nsaga-Obirin (a mulher sedutora) - que através de 
seus prazeres, a mulher pode perturbar um homem que possui um trono em riscos, inspirando 
um homem à tomar o trono de outros. Portanto, um dos símbolos de Òshún é o espelho, mas 
Òshún não o carrega, como fazem alguns ocidentais, porque o espelho só informaria 
erradamente que Òshún representa apenas a beleza externa da mulher. Já que no ponto mais 
alto da sua constituição, a característica de Òshún em uma mulher é emanar beleza, formosura 
do caráter, de tal forma que não é necessário vê-la para apreciá-la. "Òshún assim é." E esse é o 
verdadeiro conceito da sua excelência, tal como reflete o requinte, sabor e profunda delicadeza. 
 
 
 
 
 
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A RELAÇÃO DE ÒSHÚN COM IFÁ E TODA A ESFERA ENIGMÁTICA 
 
 
Conta a historia que o culto à Òshún nasceu às margens de um grande rio, ao qual empresta o 
seu nome, rio Òshún, em Yorubá "Odo-Òshún". Nos locais mais profundos deste rio, entre as 
localidades de Igedé, exatamente onde desemboca numa lagoa, neste local é aonde 
originalmente Òshún foi e ainda é cultuada, tendo o seu templo principal edificado nesta região, 
mais exatamente na aldeia de Òsógbò, palavra que significa: "Òshún-atingiu-a-perfeição-para-
os-feiticeiros-do-bosque". Nas afluências do rio encontram-se marcas que correspondem a toda 
trajetória do culto à Òshún, assim como em varias cidades banhadas pelo mesmo rio, Oshogbo. 
 
Ifá narra em vários Odù, sobre todas as inclinações de Òshún, a qual sob domínio de diferentes 
Odù pode atingir diferentes aspectos, adquirindo uma forma completamente diferenciada e 
quase sofrendo uma supressão total em sua aparência exposta, capaz de confundir qualquer um, 
como se fosse um Òrìsà aparentemente distinto. No entanto, todos os Odù, são sempre ligados à 
maneira de ser das mulheres, o comportamento feminino, caráter e atitudes, suas virtudes e 
defeitos. 
Apesar de Òshún ser um Òrìsà extremamente enigmático, o povo Yorubá se refere à 05 
diferentes formas de aparição de Òshún de acordo com os diferentes Odù-Ifá, cada um 
descrevendo de forma particular, sempre comparado a uma situação específica ou do 
procedimento feminino. A sua forma inicial e muito complexa e se expõe primitivamente como 
Òshún nos Odù: Òsétura, Òshèmeji, Eji-Ogbe, Ogbeyònu, Odibara etc. Em um Òshún 
representa o movimento das águas, em outro a sensualidade revelada na maneira das mulheres 
dançarem girando delicadamente, num constante vai e vem, forma de se movimentarem e de 
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procederem com tranqüilidade e perseverança. Ainda em outros Òshún é cultuada como 
divindade virginal, pura e nitidamente límpida, "o-espírito-límpido-da-água-doce-e-fresca", 
motivo incondicional que Òshún se traja completamente com tecidos brancos de puro algodão, 
cuja cor não se separa nunca. Expressando a sua relação com a pureza, inocência e frescor. 
Dessa forma Òshún está intrinsecamente ligada ao processo da gestação, de onde assiste e 
protege um feto durante todo o período da gravidez, sendo ela a dona do líquido amniótico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O CULTO DE ÒSÙN RELACIONADO COM OS ODÙ-IFÁ 
 
 
Òshún rege o culto à bondade, carisma, extrema feminilidade, sensualidade, consideração, 
passividade, suavidade, delicadeza, simplicidade e sutileza. Fato que faz Òshún ser 
completamente antagônica à agressão e a morte. Por este fato, as suas sacerdotisas se cobrem 
de pulseiras, brincos e colares manufaturados em bronze, os quais lhes pertencem por direito, 
na finalidade de expressar e fornecer as criancinhas uma longa vida, frescor e resistência às 
doenças. O habito de usarem vários ornamentos em IDÈ (bronze), tem ainda a finalidade de 
expressar uma aparente fragilidade feminina, como artifício usado para obter a proteção dos 
representantes do sexo masculino, e assim se tornando sedutoramente irresistível. Por outro 
lado, Òshún é o espírito que possibilita às mulheres gerarem filhos. Assistindo tudo na hora do 
parto, desempenhando assim a função de espírito parteira, a mestra, a mãe que zela e ensina 
seus filhos até os primeiros passos, as primeiras palavras, o seu primeiro contato de percepção 
com o mundo e com a própria vida fora do útero. Portanto, Òshún é freqüentemente louvada e 
exaltada com uma saudação em forma de Oriki: Kare oooo! 
 
Após Òrúnmìlà, a cada Imolè que veio do Òrún para o Àiyé, apareceu aqui sob a tutela de um 
Odù próprio, chamado de Odù Ìsalàyé. No aparecimento de Òshún, apesar do Odú Òyèkú-Meji 
ser o seu Odù no Òrún, mais tarde o seu Odù Ishalàyé foi “OgbèYònú”, que marcou seu 
aparecimento aqui no Àiyé. Dessa forma, é esse mesmo Odù que marca o seu primeiro Ojúbò 
(assentamento) baseado e constituído. Depois, Òsétùrà foi o Odù que marcou a aliança de 
Òshún com Òrúnmìlà. 
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Òshún é a força que especificamente protege e ajuda as mulheres no parto, no casamento e na 
sociedade. Além de Òshún ser a divindade imperante nas cerimônias de casamento, ela ainda 
atua intrinsecamente na aparição tanto dos bebes como nos processos iniciáticos, iniciação de 
Ìyáwo, na finalidade de favorecê-los a legitimação e a benção de forma geral, possibilitando 
facilidade e proteção dos novos frutos etc. Portanto, seja no nascimento de uma criança, 
nascimento de qualquer Òrìsà em iniciação, ou ainda na celebração de qualquer tipo de união 
conjugal, é necessárioevocar o total apoio de Òshún, para se atingir os seus objetivos com 
sucesso na vida. 
De acordo com o Odù Òsétùrà, Òshún é a esposa preferida de Òrúnmìlà e foi sob o Odù 
Òsétùrà que Òshún foi introduzida no culto de Ifá através de Òrúnmìlà. Após Òshún ter tido o 
seu primeiro filho (um Odù) de Òrúnmìlà, o qual foi chamado primeiro de Akinosho por 
Òshún,. Porém, logo depois seu filho foi iniciado em Ifá e foi chamado de Òsétuwa, o décimo 
sétimo Odù, o mais jovem e muito importante, para o alcance dos objetivos através de qualquer 
Èbó executado em Ifá. É por isso, se algum Bàbálàwo fizer um sacrifício sem antes chamar 
Òsètùrà, o sacrifício não será bem sucedido, seus objetivos não serão alcançados. 
Em outro Odù, Ifá narra que Òrúnmìlà ensinou Òshún a consultar Ifá com os búzios 
(Ifálokun/Meridilogun). Por isso, apenas as mulheres consultam com um oráculo rigorosamente 
constituído com 16 búzios. Nesse contexto, vemos também que Òshún está ligada a Èsù na 
consagração do oráculo Ifálokun/Eríndínlógún, pelo qual Ifá revela os caminhos e desejos para 
o equilíbrio do destino. Nesse contexto, é Èsù quem dinamiza o oráculo dos 16 Búzios, um 
ícone do Àsé de Òshún, trazendo as respostas através dos 16 Meji. O Odù Osetura, também 
mostra a relação de Òshún com Òrúnmìlà, como ela se destaca dentro do culto de Ifá. Através 
do mesmo Òmòdù, Òsétùrà, Òshún possui intrínseca ligação tanto com Ajé (a deusa da riqueza) 
como com Àjé (o poder gerador e caoticamente dinâmico), que através deste se obtém a 
eficácia em qualquer tipo de Èbò, Adimu, Oogun ou Awure, qualquer ritual 
Há ainda outros Odù que lidam com Òshún, os quais são: Èjí-Ogbè, Òwònrín-Mèjí, Ìká-Mèjí, 
Írèté-Mèjí, Òsé-Meji, Ogbèwòrì, Ogbèdíkáká, Ogbèrosùn, Ìrosùngbè, Ogbètùrà, 
Ìwórìtùrà, Òdíbàrà, Òbàràdí, Òtúrùpònyèkú, Òtùràkànràn,Òtùràsá, Òsátùrà, Ìrètébòsé, 
Òsérosùn, Òsébàrà. Mas é no Odù OgbèYònu que se inicia a constituição de um Igbà-Òshún 
(assentamento). Porque foi neste Odù que as águas da chuva se acumularam na terra, aonde na 
sua forma elementar, água, Òshún foi represada em forma de imensa abundância, assim 
possibilitando a formação dos oceanos e mares. Ogbè-Yònu significa: “ABRIR A BOCA 
INCOMENSURAVELMENTE”, coisa que se deve fazer somente com a mesma calma do 
crocodilo, que representa a glutonaria, grandeza, enchimento. 
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Geralmente, os sacerdotes e filhas de Òshún quando nascem com Orirere sob o Odù OGBE-
YONU: são pródigas, muito generosas, nobres, zelosas, justas, honradas e amáveis. Enquanto 
as filhas de Òrìbùrùrù, sob a regência de Ogbe-Yònú, são egocêntricas, extremamente 
ciumentas, rancorosas, amaldiçoadoras, maliciosas, melindrosas, feiticeiras, mentirosas, 
dramáticas, fofoqueiras, ardilosas, loucas psicopatas. Mas, é necessário considerar que essas 
características não se referem diretamente ao fato de ser filha ou filho de Òshún, quando na 
realidade o caráter só se torna marcante através do Odù pessoal, somado à uma condição do Òrì 
ser Òrìrere ou Òrìbùrùkú (bom Òrì ou mau Òrì), os quais emitirão as verdadeiras virtudes ou os 
piores defeitos nas filhas de Òshún, como no caso de qualquer outro Òrìsà. Mas se tratando de 
Òshún, suas filhas de Orirere (boa cabeça) devem se cuidar muito através de um culto constante 
à Òrì, Òshún, Ifá, Èshù e Èlèyè, na finalidade de conseguirem amenizar e/ou até eliminar 
qualquer eventual sofrimento gerados por inimigos invejosos e as vezes até por suas próprias 
boas ações impensadas, ou ainda para manutenção da sua própria felicidade, saúde, ganhos, 
consideração, honra etc. 
 
Ainda no Ogbè-Yònu, consta um rigoroso pacto/promessa de fidelidade de Òrúnmìlà para com 
Òshún, no qual foi estabelecido uma condição em que Òrúnmìlà jamais podia casar-se 
novamente, com outras mulheres. Mas Òrúnmìlà não conseguiu manter-se sob o seu pacto com 
Òshún. A partir de então cobe à Òshún receber rigorosamente o sacrifício de Òbukò-Odà 
(cabrito castrado) e a Òrúnmìlà receber somente Ewure (cabra). Por isso, vemos hoje 
rigorosamente os Bàbálàwo oferecerem Ewure à Òrúnmìlà e Òbukò-Odà à Òshún, na 
finalidade de Òrúnmìlà nunca se esquecer de ter quebrado um pacto de fidelidade com Òshún. 
Portanto, sacrificar Bode para Òrúnmìlà ou Cabra para Òshún, o sacerdote corre um terrível 
risco de gerar, dentro da sua própria casa, todo tipo de traição, infelicidade, má-sorte, tristezas, 
melancolias, maldições, dificuldades etc. 
 
No Odù Ogbèwòrí, é onde as filhas de Òshún, iniciadas, recebem a autoridade de Ifá para 
usarem o Opon, o Opele e o Ìyèrosùn (pó sagrado), e ainda mais, algumas raras mulheres, após 
a menopausa, chegam a bater os seus 16 Ikin-Ifá, porém devida a condição de ser mulher, seus 
Ikin não são consagrados no Igbodù, aonde nenhuma mulher jamais pode fitar Ìyá-Òdu, 
correndo o risco de ficar definitivamente cega, inapta para a vida e até morrer. Ainda no Odù 
Ogbèwòrì, é onde nasceu a glória no uso do Ileke, colar de Òrìsà. É neste Odù que os Ileke são 
consagrados com magias, usando algumas Ewe-Ifá, alguns Ìyè (pós) etc. 
 
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No Odù Ogbèdikáká, é onde todo ano são sacrificadas 02 Adiyè amarelas, dentro do rio, para 
Òshún, nesse processo o sacerdote deve estar com a sua cintura envolvida por um Iró-Mààrùn 
(pano amarelo) e por cima se envolve com outro Iró-Shèfún (pano branco). Na finalidade de 
evitar possíveis desmoralizações, desonras, desprezos e sofrimentos por maledicências. 
 
No Odù Ogbèrosùn, foi onde Òshún se casou com Òrúnmìlà e, passou ser chamada de 
Òshúnmilàyá e Òshúnmilèyò. Neste Odù, a mulher se torna Apetebi ou Ìyánifá (esposa direta 
de Ifá). 
 
No Odù Irosungbè, é onde Ifá diz que a mulher deve cultuar Òshún na finalidade dela ter boa-
sorte no amor, assim eliminando a sua condição de Anifé (infeliz no amor). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A MANIFESTAÇÃO DE ÒSHÚN 
 
Muralhas em bronze do altar de Oshun em Osogbo, Nigéria. 
 
Entre os Yorubanos, o culto à Òshún se destaca por características próprias e fixas, sempre ao 
longo de todo Rio Òshún, o qual tem sua origem em Osogbo e percorre banhando as margens 
de varias cidades que são: Ede, Iponda, Opara, Ilobu, Jakuepe, Makindè, Ijumu. Em todas as 
cidades, Òshún mesmo com diferentes títulos é cultuada de uma única forma, sempre 
homenageada com os mesmos rituais, sem qualquer alteração em seus fundamentos, onde seus 
epítetos são meros títulos de referencia à sua expressão de Deusa, Mãe e Mulher. Em qualquer 
cidade, Òshún é cultuada sob toques de tambores (Bèmbé, Òdúndún etc.), sempre com 
cadência do ritmo Ijesa lhe é bem peculiar, como se ouvisse um som submergido por águas, 
quando as mulheres dançam o tempo todo sobre abundante água de cheiro exalando um odor 
agradabilíssimo. Seja em qualquer cidade, Òshún ao tomar a cabeça das suas filhas, todas 
dançam de forma análoga, muito sensual e graciosa, envolvendo a todos com uma magia 
inebriante. Quando seus cânticos são entoados na finalidade de exaltar o lado mais puro e 
bondoso de Òlòdúnmàré, o qual é expresso exclusivamente através de Òshún como Deusa do 
amor incondicional, Mãe generosa e Mulher sensual. Um momento tão precioso que todas as 
mulheres com seus corpos molhados e enfeitados por grande quantidade jóias, entre corais e 
bronzes polidos, dançam harmoniosamente ao som irresistível dos Ilu (tambores), Sekere e 
Agogô. A magia é tão grande e penetrante, que podem se sentir como crianças embaladas no 
colo da Grande Deusa das águas doces. Esta é Òshún, a Vênus Negra, a Mãe Transcendental. 
Divindade que possui uma grande quantidade de Epítetos, mas de forma única saudamos 
respeitosamente: Ore Yeye ô! 
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OS TITULOS DE ÒSHÚN RELACIONADOS COM OS ODÙ-IFÁ 
 
Abaixo veremos alguns de seus títulos retratados por vários Odù-Ifá, cada um deles na sua 
forma peculiar citando uma profunda característica de Òshún, revelando-a como a magnífica 
Deusa do Amor incondicional.A mãe da maternidade e dos recém-nascidos. A senhora do 
metal nobre (bronze) e do mais puro mel. A mãe das mulheres serenas como as águas. Temos 
então: 
 
1 – ÒSHÚN ONÌBÚKÒLÈ 
Òshún recebe este titulo no Odù Ogbetura. Neste Odù, Òshún recebe muito como oferenda o 
Etu (galinha d’angola). As suas filhas deste Odù, são aquelas que cuidam muito bem de sua 
casa, recolhe o lixo produzido dentro dela e adoram tudo muito limpo, cuidam dos seus filhos e 
esposo. 
 
2 - ÒSHÚN AFINJU 
 
Òshún recebe este titulo no Odù Odibara. Neste Odù Òshún recebe muito o Adimu chamado 
de Obewe (folhas refogadas), preparado com vegetais (espinafre, saião, bredo, parietária, 
bertalha, alface, santa-luzia e vitoria regia). As suas filhas deste Odù adoram o sexo, sentem 
pavor da solidão, mas não admitem, e vivem mentindo pra si mesma até um dia despertar de 
suas fantasias e caprichos. Elas prezam muito pelo casamento e se empenham para verem todos 
felizes no matrimônio. São mulheres hipersensíveis, vivem em busca de consideração e 
reconhecimento, mas um dia percebe que essa sua busca é um capricho infantil, só então 
começam a se auto-valorizar e não se importar mais com o que as pessoas pensam ou falam 
dela. A partir dai começam a ser felizes de fato. 
 
 
 
 
 
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3 – IBULARO-IGANIDÈ 
 
Òshún recebe este titulo no Odù Owónrin-Meji. Neste Odù Òshún recebe muito o sacrifício de 
Aparo (codorna/perdiz). As suas filhas deste Odù, geralmente devem fazer sacrifício de Aparo 
e galinha cinza, rigorosamente, executado pela manhã na desembocadura do rio para o mar. 
Por isso, suas filhas deste Odù não podem comer codorna/perdiz. Geralmente as mulheres deste 
Odù, são geneticamente ou intelectualmente surdas, chegando ao ponto de não ouvirem 
conselhos de ninguém. São muito introspectivas, rebeldes e resolvem fazer tudo por sua própria 
conta e riscos, por isso, vivem se metendo em grandes apuros. 
 
4 – ÒSHÚN-ODÈ-DUDU: 
 
Òshún recebe este titulo no Odù Oturuponyeku. Neste Odù as suas filhas, deste Odù se trajam 
cotidianamente de Azul turquesa, branco, amarelo, verde e preto, precisam usar na cintura um 
couro de cobra, crocodilo ou leopardo negro, na finalidade de se livrar de perseguições e outros 
males. Suas filhas usam na cabeça um Ade feito com uma grande quantidade de penas 
vermelhas da cauda do papagaio chamado Ekodide e entre essas penas sagradas usam penas do 
avestruz, caindo para trás. Suas filhas nascidas sob a regência deste Odù, Oturuponyeku, são 
consideradas temíveis amazonas, são mulheres bem aguerridas, tipo caçadoras bem decididas e 
muito sérias. Nesse Odù, Òshún era chamada de ÒTYÍN, extraído da palavra: Yeye Òtyín-
Òshún-Ìyágbà-Òdè-Dùdú, por ser cultuada no Rio chamado Odo-Otin, o qual deu origem ao 
seu titulo. No Oturuponyeku, Òshún é cultuada também em lagoas de água doce, onde se toca 
tambor em sua homenagem nos momentos de oferendas deixadas na água. Suas filhas, deste 
Odù, são sensíveis, mas tem uma aparecia resistente e arrojada, são objetivas e odeiam fofocas, 
têm a vocação para o comércio e o chamado para Apetebi (esposa de Bàbálàwo). Aqui as 
mulheres são proibidas de usar roupa vermelhas, em respeito as Eleye. 
 
 
 
 
 
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5 - YEYE-ÒSHÚN IJUMU ou IJIMU. 
 
Òshún recebe este titulo no Odù Ika-Meji. As suas filhas deste Odù, geralmente sofrem com 
inchaço na barriga sem que haja gravidez, às vezes sofrem de gravidez psicológica ou barriga 
d’água. Precisam ser iniciadas, primeiro em Ifá e só depois em Òshún, na finalidade de pedir 
misericórdia e expulsar Àrùn de dentro da barriga. 
 
6 – OJUMILOBA ou ILOBA ou ainda OJUMÒMÒ. 
 
Òshún recebe este titulo no Odù Oyeku-meji, no qual narra que Òshún ficou inteiramente cega 
(vendada) vivendo definitivamente em companhia de Òrúnmìlà. Cultuada entre a madrugada e 
o amanhecer, chamada também de Ojumòmò, a mãe da aurora. 
 
7 - ELEDAN. 
 
Òshún recebe este titulo no Odù Osherosún. Conhecida como a dona dos Edon (estatuetas) e 
das cavidades uterina, fossas nasais e das cavidades encontradas nos rios, aonde recebe o Odà 
(cabrito pequeno castrado). 
 
8 - AJEDEREKUN. 
 
Òshún recebe este titulo no Odù Òtùràsá. Cultuada nas grandes pedras deformadas 
encontradas nos rios, como também cultuada na cavidade de um caracol marinho. As suas 
filhas deste Odù, não usam o ADE e esconde o rosto completamente embaixo de muitas penas 
do Ekodidè, porque sob este Odù, Òshún está ligada a deformação facial. Conta neste Odù, que 
Òshún vivia sobre o dinheiro (búzios), o caramujo Aje. Porém, neste Odù Òshún não fornece 
dinheiro à ninguém, e é por isso que não é aconselhável assentá-la neste Odù Òtùràsá. 
 
 
 
 
 
 
 
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9 - YEYE-ONIBÚ. 
 
Òshún recebe este titulo no Odù Ireteyero. Neste Odù, Òshún é a matriarca da sociedade dos 
Òrìsà, na qual é chamada de Ìyálódé. Por isso, é ligada ao Igbadu, mas de forma alguma é 
vetada ser cultuada dentro do mesmo. O título de Ìyálódé foi primordialmente de Òshún, depois 
como citam os cânticos de outros Òrìsà: Òyà, Iyewa, Oshalulu, mas é Òshún sempre que 
encabeça toda a sociedade de Òrìsà, com o titulo de Ìyálódé. A função de uma Ìyálódé é reunir 
as mulheres para discussões públicas que lhes interessam etc. A lider Ìyálódé representa todas 
mulheres da comunidade. Esse é o maior título honorífico que uma mulher pode receber e que a 
faz naturalmente a cabeça líder das mulheres e da representação feminina no àiyé, o poder 
ancestral feminino. Neste Odù, Òshún recebe o bode castrado (Obuko-Odà), cuja cabeça depois 
de seca é transformada em um pó preto, na finalidade de preparar um Àsé Òshún, que integrará 
em seu Igba (assentamento) e a mulher usará para vários fins. Conta uma lenda, sociocultural, 
que Òshún teve uma irmã chamada Omiwálekoseselebomu, a qual é cultuada junto de Òshún, 
mas apesar dela ser uma divindade, Omiwá, sua irmã, não toma a cabeça de ninguém. 
 
10 – ERÍNLÈ ou ÒSHÚN ILOBU 
 
Òshún recebe este titulo no Odù Ogbekanran, no qual narra que foi Òshún quem ajudou 
Òrúnmìlà a esquartejar o elefante, quando foi chamada de Erinlè, por ela ter exposto seu outro 
lado de característica incomum, agindo como um homem Forte, robusta e varonil. Assim 
sendo, Erinlè teria sido a primeira manifestação espiritual numa cabeça humana (incorporação). 
Ainda no Odù Ogbekanran, Òshún se tornou erveira e oleira, fabricante de itens em barro sob 
domínio de Erinlé, sendo a dona da terra úmida, fértil. Erinlé é a palavra Yoruba que significa 
“Aquela que inunda a terra” ou “Aquela que derruba o Elefante na terra e a mesma se enche 
de abundância”, uma alusão à grandeza e força de Òshún. Mas primordialmente vemos Erinlè 
sempre relacionada a terra e as margens férteis dos rios, devido a umidade e fertilidade da terra 
local, uma força presente nos acúmulos de água que dão origem aos alagamentos, inundações e 
nos locais onde a água é represada formando as crateras e poços profundos. Erinlè é muito 
cultuada na cidade de Ilobu, uma cidade ao sul da Nigéria Ocidental, Ogbomosho e Oshogbo, 
onde existem centros de comércio de produtos agrícolas como inhame, milho, mandioca, óleo 
de dendê, abóbora, feijão e quiabo. Antigamente era Erinlè era cultuada pelos pescadores e 
médico-botânico. Os sacerdotes de Erinlé (Òshún-Erínlè) usam um cajado bem similar ao 
cajado de Ifá. Na cidade de Ilobu, aonde Òshún é cultuada com o nome Erinlè, quando entre 
outras oferendas recebe oferecimentos de Pombos e Pombas brancas soltos ao ar sobre o 
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mesmo rio. Òshún sob esse título, Erinlè, expõe as suas virtudes mais ligadas às águas e ao 
bosque, concomitantemente ligada a terra fértil existentes nas margens do rio Ilobu, dessa 
mesma forma em qualquer outro rio do planeta, Òshún sempre é digna de ser louvada e 
cultuada. Sua principal oferenda é o Ekuru-Aro, ofertado embaixo da terra, depois a mesma é 
umedecida com bastante água fresca. Recebe ainda o Bodebranco, mas deve ser castrado no 
momento antes de sacrificá-lo em homenagem à Erínlè. 
Geralmente, as suas filhas nascidas sob o Odù Ogbekanran, se trajam de branco e Azul claro e 
Azul escuro. A cor branca simboliza a brisa e orvalho da manhã, o Azul claro simboliza a 
superfície das águas, enquanto o Azul escuro simboliza a profundidade do rio e principalmente 
a terra negra fértil. Seus Ileke são preparados com contas de Nácar (madrepérola), pedras 
preciosas de turquesa e muitos corais amarelos. Neste Odù, Erinlè-Òshún é muito misteriosa e 
gosta de receber oferendas juntamente com Obatalá, chegando, por vezes, a ser confundida 
com o mesmo, por utilizar muito a cor branca. Ainda neste Odù, Òshún expressa a fertilidade 
da terra pela água da chuva e água dos rios, por isso é muito ligada a agricultura, habitat de 
Òsharoko. Por causa deste Odù e por seus atributos de caçadora abatedora de Elefante, Òshún 
foi chamada somente de Erinlè e confundida com um homem caçador de Elefantes, esse 
equivoco chegou ao absurdo de Erinle ser cultuada de forma distinta de Òshún, como se fosse 
outro Òrìsà. Em alguns países da América Latina, Erinle foi equivocada e até cultuada como 
um Òrìsà masculino, caçador, o Brasil é um desses países que não deixou de se equivocar a 
respeito de Erinlè. 
Alguns Orin de Erínlè 
Oluèri Erilé, 
Emini a Ìyágba. 
Erinlè lode de o! 
Erinlè gbele de o! 
Òshún beeni Erinlè 
Erinlé ni Òshún. 
Ta ni Ibu Olodo? 
Ta ni onilé rinrin 
Erinlé ta ni Olodo! 
Erinlé ta ni Ìyálé rinrin 
Ajagba Odè nigbo 
Erinlè ajagba olomini. 
Gbogbo wa re o 
Gbogbo wa re o! 
Ìyámi Erinlé ajagba 
Gbogbo wa re o 
Erinlè a senhora que inunda o rio, 
Soberana cheia de umidade. 
Erinlè veio lá de fora. 
Erinlé chegou para proteger nossa casa! 
Òshún é a própria Erinlé. 
Erinlè é a própria Òshún 
Quem é a dona das profundezas do rio? 
Quem é a dona da terra fertil, umida? 
Erinlé é a dona do rio. 
Erinlé é a mãe da terra fertil. 
Guardiã caçadora do bosque 
Erinlè é a mãe guardiã senhora das águas que inundam 
Venham todos ver! 
Venham todos ver! 
Erinlè minha mãe guardiã 
Venham todos ver! 
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Gbogbo wa re o 
Ìyámi Erinlé ni igbòdè 
Gbogbo wa re o 
Gbogbo wa re o 
Ajagba Odè Erinlè 
Gbogbo wa re o 
Venham todos ver! 
Erinlè minha mãe caçadora do bosque! 
Venham todos ver! 
Venham todos ver! 
Erinlè soberana guerreira e caçadora! 
Venham todos ver! 
 
11 – ÒSHÚN-LOGÙN 
Òshún recebe o titulo Òshún Logùn nos Odù Ogberetè, Osèbara, Osebirete e Oditura. 
Apesar de Òshún ser a acompanhante preferida de Ògún, como conta de sua união com Ògún 
no Odù-Ogberete, mesmo assim Òshún não suporta usar qualquer tipo de arma mortal, pesada 
ou perfutante. Porém, quando Òshún vem no Odù Ogberete, ela se disfarça de amazona 
caçadora, se transmutando, sob a influência desses Odù-Ifá, quando aparece nessa sua 
transformação é chamada de Òshún Logùn: uma faceta mais aguerrida e se mostrando de 
forma irascível, mantendo ligações fundamentais principalmente com as Àjè, relacionadas aos 
mananciais de águas preservadas no interior dos bosques. Por esse motivo se torna mais 
aguerrida e aparentemente assustadora. Faz-se presente nos locais de encontro das águas do rio 
com o mar. Sob este título, Òshún está ligada ás oscilações do caráter feminino, que durante o 
dia representa a mulher madura, consciente de sua graça e elegância, revestida de respeito e 
classe. Por outro lado, durante a noite, expressa a mulher caçadora, guerreira, batalhadora e 
belicosa, aquela que porta uma coroa brilhante feita com malacachetas e cheia de penas que 
caem nas suas costas até a sua cintura, cobrindo-lhe ainda o corpo com uma quantidade 
abundante de penas sagradas, extraídas dos pássaros noturnos/predadores, na finalidade de se 
camuflar, amedrontar ou assaltar qualquer ameaça eminente. Portanto, nesse aspecto de Òshún-
Logùn, a mesma está intrinsecamente ligada ao culto das Èlèyè, personificando a grande 
capacidade de caçar como os pássaros noturnos predadores. Em termos humanos, as mulheres 
de Òshún-Logùn expressam um caráter dúbio, hora juvenil e hora anciã, porém são sempre 
muito vigorosas e cheias de manias e preconceitos, quando se tornam mau ou bem humoradas, 
sofrendo as oscilações devido a influencia impessoal das forças Àjè. Ritualmente sob este 
aspecto, Òshún-Logùn está profundamente ligada à terra, concomitantemente ao culto de 
Obaluwaiye, aonde ambos simultaneamente recebem o Pètèkì como Adimu principal. Esta 
relação de Òshún-Logùn com a terra é tão profunda que chega ao ponto de alguns Yorubanos 
afirmarem que Òshún-Logùn é muito ligada ao culto de Obaluwaiye. Isso ocorre devido ao fato 
da sua tamanha mudança de aspecto e comportamento, influenciada por tal Odù citado acima. 
Muito remotamente, na aldeia de Èdè situada na cidade de Edo, Òshún era chamada de Òshún-
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Logùn, Òshún-Èdè ou ainda de Òshún-Logùn-èdè, isso, por ela ser a responsável de proteger a 
concepção de crianças Ibeji (gêmeos), macho e fêmea. Porém, é sabido que em toda a Nigéria o 
título Logun-èdè não passa de um mero titulo de Òshún, aonde título não é priorizado entre os 
Yorubanos, ao passo que no ocidente, o título Logùn-èdè foi difundido sob um universo de 
equívocos referentes a união de Òshún com Ògún, o que gerou motivos improváveis para 
inventarem rituais próprios na forma de um Òrìsà independente, ao mesmo tempo delicado e 
caçador, outras horas até homossexual, tudo baseado em um único mito mau interpretado, o 
que provocou o estabelecimento de um culto precário em torno de Òshún e Odè, assim criando 
um Òrìsà imperfeito em volta da dualidade sexual, associado a confusão sexual. Tudo isso 
gerado devido a má interpretação do enigmático Itan-Ifá narrado no Odù Oditura, o único Odù 
que Ifá faz referência ao titulo “Logùn-èdè”, com a finalidade excepcional de explicar a forma 
misteriosa que Ifá adverte sobre a punição com Iku (morte) aos sacerdotes desobedientes, 
promíscuos e corruptos religiosos. Nesse mesmo Odù, Ifá relata ainda sobre a conseqüência e 
sentença a morte pelo mau uso da magia enganosa, da mentira. Por fim, narra o surgimento e 
real motivo do culto à IBEJI-ÒRÒ (Òrìsà da dualidade) aludindo à uma mera pessoa chamada 
Logùn-èdè, que foi iniciada sob a desobediência de um Bàbálàwo. Portanto, Ifá não lhe dá 
qualquer mérito seja na forma de Ebora, Imole ou Òrìsà. Deixando bem claro que qualquer 
aparência de duvida de se mostrar, a pessoa poderá ser salva de Iku através do culto à Ibeji-
Òrò,o qual é intrinsecamente ligado ao culto de Obaluwaiye e Omolulu. Juntos formam o Par 
de Divindades interligadas (terra e água, macho e fêmea), são cultuados simultânea e 
restritamente por pessoas que nascem Gêmeas, sejam elas Abiku ou não. Ou ainda por pessoas 
com a prática de travesti de homem ou mulher, escondendo o seu verdadeiro gênero. Maiores 
detalhes sobre o equivoco de Logùn-èdè, estudaremos mais abaixo, no tópico “Destronando o 
Mito de Logùn-èdè. 
 
 
 
 
 
 
 
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OS MITOS E EQUIVOCOS EM TORNO DE ÒSHÚN 
DESTRONANDO O MITO DA HOMOSSEXUALIDADE DE LOGÙN-ÈDÈ 
 Itan do Odù-Ifá Oditura 
Em Terras Ijesha vivia Òshún, a qual teve um caso amoroso com um homem comum que era 
um pescador chamado Tobi-Òdè (Ògún) da Cidade de Edo. A criança nascida da união de 
Òshún com o pescador recebeu o nome de Logùn-èdè. O menino ao nascer pegou de seu pai 
uma magia que lhe permitiu ser; por seis meses mulher e seis meses homem. Mas, ninguém 
conhecia o segredo dessa magia excepcional. Seus pais para evitarem constrangimentos sempre 
viajavam de um lugar para outro, assim quem conhecia a criança como homem não lhe 
conhecia como fêmea. Dessa forma, Logùn-èdè foi crescendo e, quando adulto já era conhecido 
em toda terra Yorubá, em alguns locais como homem e em outros locais como mulher. 
Um dia quem lhe conheceu como homem foi Ologbojodu, um Bàbálàwo e Rei da cidade, quepercebeu a grande inteligência do rapaz e lhe pediu permissão para indiciá-lo em Ifá, então 
foram perguntar a Òrúnmìlà e pedi-lo a permissão para tal cerimonial ocorrer. No momento da 
consulta, Ifá afirmou uma dualidade, falou de duvidas e também aconselhou o Bàbálàwo a não 
iniciar o rapaz. Ologbojodu deslumbrado teimou e iniciou o rapaz em Ifá. Tudo estava bem, 
mas ao passar os seis meses, Logùn-èdè disse ao seu Bàbálàwo, que precisava ficar fora, 
viajando por seis meses. “Mas a realidade era que ele se transformaria em mulher por seis 
meses”. Logùnede saiu em disparada, mas naqueles dias no mercado de IGADA, apareceu uma 
mulher de beleza ímpar, de tal beleza que todos os homens admirados se apaixonavam por ela. 
 Um dia Logùn-èdè percebeu Ologbojodu ser seduzido também por sua beleza feminina, que 
lhe correspondeu aos cortejos, aceitando ser levando para a casa de Ologbojodu. Ao perguntar 
o nome dela, ela disse que se chamava Omilobe. A partir de então, eles viveram em plena 
harmonia e ao termino de seis meses, na ultima noite, ela lhe disse lhe tinha que sair para visitar 
seus parentes. A bela mulher, que não era outra mulher senão o próprio rapaz “ Logùn-èdè” em 
fase de transfiguração. Ologbojodu apaixonado como estava, naquela noite resolveu possuí-la 
com luxúria e logo após o ocorrido a “mulher’ adormeceu. Então, ao passar da meia noite o 
estágio foi cumprido seis meses de mulher quando se transformou em um lindo homem. No 
momento que Ologbojodu despertou se surpreendeu ao ver que ao seu lado não dormia mais a 
bela mulher Omilobe, se não o seu próprio seguidor Logùn-èdè. 
A confusão reinou na mente do sacerdote Ologbojodu e aterrorizado foi ao pé de Òrúnmìlà, que 
após lhe saudar naquela manhã apareceu novamente o Odù ODI-OTURA em condição Ibi, 
marcando IKU (morte), devido a sua desobediência, corrupção e promiscuidade/sexomania. Ifá 
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alertou que Iku estava vindo buscá-lo e apenas Lafaun, um homem que vivia no coração de 
uma floresta, sabia o segredo de “Oditura” para salvá-lo de Lopaleri (morrer por perder a 
cabeça). Porém, não havia ninguém que soubesse o caminho para a casa de Lafaun, apenas 
Abanakè, outro nome de Elegbara, o qual aceitou conduzir o Bàbálàwo pecaminoso até a casa 
do Lafaun. Isso, após receber 1 Akuko, um pouquinho de Oyin, um Eyin e um Ekodidé. Depois 
de Ologbojodù oferecer tais iguarias à Eshu, Ifá orientou Ologbojodu à carregar Logùn-èdè 
consigo até a casa de Lafaun, e que junto com eles levassem; 02 Eiyele, 101 Ogedewewe 
(banana ouro), Ekodide pequenos, peças de marfim, 4 Eko, 04 Eko-Olarito (pudim de amido 
preparado com waji), Atare e 2 Etu-Funfun. Quando chegaram à casa de Lafaun, o qual já 
estava interado do assunto que lhes conduziram até ele. Então Lafaun após explicar ao 
Bàbálàwo, lhe deu um Gbori, envolvendo a cabeça de Ologbojodu com Ahikale (uma seiva 
vegetal), a fim de salvá-lo de Iku (morte). Em seguida Lafaun executou um Ebo para Logun-
èdè, sacrificando os 02 Etu-Funfun diretamente em dois Ere chamados de Ìbejì-Òrò, marcando 
a sua forma correta de assentamento, e foi nesse momento que Logùn-èdè perdeu 
definitivamente a sua capacidade de se transmutar em mulher, se perpetuando como um 
homem. Porém mais adiante, Logùn-èdè foi sentenciado à jamais exercer a função de Ifá 
(Bàbálàwo), a partir de então passou a usar os seus Ikin perdidos fixados em seu Ade (coroa). 
 
NOTA: Neste Itan narrado acima, Ifá revela, biologicamente, à verdadeira referencia de 
Logùn-èdè, como uma mera manifestação IBEJI, assim desvendando um enigma que envolve 
Òshún ao parir Gêmeos, macho e fêmea, (dois, em um só), como espíritos infantis cultuados 
simultaneamente, na finalidade da interação dos opostos, a duplicidade. Condição esta 
intrínseca e puramente representativa no culto de Obaluwaiye. Ifá ainda explica que se a 
pessoa nascida de um parto de gêmeos, se não possui IBEJI assentado, deve recebê-lo 
imediatamente na forma de duas estatuetas de madeira e tudo mais que é duplo. Mas, IBEJI 
somente pode ser recebido por uma pessoa que foi concebida na condição de gêmeos, nunca 
deve ser dado para quem não possui tal condição. Na finalidade de evitar constrangimentos, 
vergonha, não se faz Ifá em qualquer homem ou mulher de opção Adodi (homem ou mulher 
com o mal habito de se travestir no que não é de fato). 
A real moral desta historia narrada por Ifá no Odú Oditura, tanto esclarece um enigma como 
adverte ao consulente homem que ele está preste a perder sua cabeça e morrer, ao se casar 
enganado com uma pessoa que se mostra duma forma e de outra. Uma personalidade oscilante. 
Assim sendo, se o Bàbálàwo não correr desse tipo de situação imediatamente, acabará 
morrendo como conseqüência da duvida, frustração ou confusão mental. 
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DESTRONANDO O MITO DA RIVALIDADE ENTRE ÒSHÚN e OGBÀ 
 
Outra lenda, de conceito puramente sociocultural, ressalta a inteligência das filhas de Òshún, as 
quais se empenham para se impor diante de uma cultura machista. Um mito narra que Sàngó, o 
poderoso Òrìsà do trovão, possuía três acompanhantes, as quais se manifestavam através da 
tempestade; Oyá a ventania, Ogbá-Èlèkò o som dos trovões e Yeye-Òshún a água da chuva, 
sendo que a última era a sua favorita. (Significando que Òshún é a favorita de todos que sentem sede, como 
a favorita para o plantio e preserva a continuidade de todas as coisas). Pois bem, ansiosa por receber 
maiores atenções do marido, Ogbá-Èlèkò pediu à Òshún que lhe ensinasse uma magia (oogun) 
que havia feito para conquistar o coração de Sàngó. Ardilosa e maldosamente a bela Òshún 
orientou a concorrente Ogba-Èlèkò que cortasse uma de suas orelhas e que a servisse depois de 
cozida, como alimento ao marido. Ogbá-Èlèkò, acreditando na “sinceridade” de Òshún, não 
hesitou em decepar a sua própria orelha e com ela preparou um belo prato, de acordo com o 
gosto de Sangô, que ao deparar-se com o alimento, ficou indignado e expulsou Obá-Èlèkò do 
seu palácio real. Terminado assim, com qualquer possibilidade de um dia Ògbà vir a ser a sua 
favorita. A partir de então, Obá-Èlèkò e Òshún tornaram-se inimigas. 
 
NOTA: A real moral desse mito criado entre os Dahomè, foi na finalidade de desbancar todos 
os prestígios de Òshún ligados a bondade e sua eterna generosidade, como é cultuada entre o 
povo Yoruba. Contraditoriamente, esse mito nada tem haver com o Òrìsà Òshún na liturgia, 
mas sim com as mulheres de uma sociedade machista, onde elas sofriam depreciações, 
desrespeitos e desprezo, se sentindo inferiorizadas pela lei do mais forte, sendo sempre 
obrigadas a competir com outra igual. Tudo isso numa luta constante por um lugar merecido, 
um direito, um amor ou pela dignidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A RELAÇÃO DE ÒSHÚN E ÒYÀ 
 
Òyà ou Ìyánsàn é um òrìsà que se relaciona a elementos contraditórios, pois sua origem é na 
água e nessa união de água e vento, Òshún e Òyà, geram fogo na tempestade em forma de raios 
que cortam o céu no meio de uma chuva. Assim como Sàngó se manifesta no Edun-Àrà como 
gerador de luz brilhante nos raios e Ògbà nos trovões em meio os choques térmicos numa 
tempestade. 
Òyà tem a sua materialização no próprio vento, na forma de brisa ou tempestades fortes, os 
ventos extraordinários como furacões, ciclones e tufões. Por isso, entre os conhecedores, diz-se 
que Òyá não existe sem Òshún, ou vice versa. Juntas formam a interação desse ciclo constante, 
infinito. 
Assim sendo, Òyà personifica a rapidez dos ventos, a distinção, a cólera expressiva, a 
obstinação, determinação, poder de decisão e coragem, ao ponto de não temer nem mesmo a 
morte. A coragem, a vontade de agir e de vencer, e a rapidez de Òyà, são apreciáveis. 
Atribui-se aos filhos de Òyà, um temperamento forte e de capacidades múltiplas para lutar e 
conquistar tudo o que deseja. Não medem esforços para alcançar os seus objetivos, 
principalmente por ser intensamente amáveis,contagiantes, dominantes e alegres. Porém, ao 
serem contrariadas pode demonstrar com a mesma intensidade, sua raiva e cólera, sem mesmo 
se dar conta da proporção no alvo atingido. 
As filhas de Òyà apresentam atitudes e comportamentos muito semelhantes ao homem, que 
fogem ao domínio do lar, o que a diferencia de algumas Ìyábà (òrìsà feminino). Òyà não está 
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presente na sutileza dos pequenos afazeres e detalhes da vida doméstica, desprezando assim, o 
papel tradicional feminino, porém, é a mulher que acorda cedo, despede-se de seus filhos e sai 
em busca do sustento necessário para a sua sobrevivência e dos seus. Bem ao contrário das 
filhas de Òshún, que preferem cuidar do lar com extremo esmero e assim atrai todas as coisas 
boas para si e os seus. Mas tanto as filhas de Òyà como as filhas de Òshún possuem fortes 
tendências ao comércio de roupas, comércio de alimentação, corretagem de imóveis e terras, 
líder de culto. Portanto, ambas são muito ativas ao seu modo peculiar. 
A finalidade desse tópico é apontar a relação natural e intrínseca entre Òshún e Òyá. De tal 
forma, que toda filha iniciada em Òyá necessita assentar e cuidar de Òshún, como toda filha 
iniciada em Òshún necessita possuir e cuidar de Òyà. Isso, independente dos pormaiores e 
pormenores relacionados à Odú ou títulos, na qualidade de forças naturalmente 
complementares e fornecedoras do seu Àshè característico. Fato que é muito bem 
compreendido na forma tradicional que a força de Òyà e Òshún é assentada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ÒSHÚN E OS ESPÍRITOS EMERE 
 
 
Conta um Itan, que Yeye-Òshún era responsável por acionar o fole, o qual produzia um som 
ritmado e muito agradável. Atraído por este som, os Egúngún-Ere (espíritos infantis) puseram-
se a dançar diante da ferramentaria, atraindo um grande número de assistentes que por ali 
passavam. Encantados com o bailado dos Egúngún-Infantis, os passantes lhes fizeram muitas 
oferendas de dinheiro, o que os deixou felizes e vaidosos. Ao saber que os Egúngún-Ere 
(Emere) estavam ganhando dinheiro com suas apresentações, Yeye-Òshún exigiu que metade 
da renda obtida fosse dividida com ela, caso contrário, não acionaria mais o fole que produzia o 
ritmo e sem o mesmo não poderiam mais dançar. Sem alternativas, os Egúngún-Emere tiveram 
que aceitar a exigência de Yeye-Òshún, passando a partir de então, a dividir com ela tudo o 
que ganhavam em suas apresentações. Yeye-Òshún além de sua ligação perpetua com Ògún-
lagbèdè, o divino forjador do bronze, Ògún, ainda tem plena relação com a concepção de 
crianças Ibeji (os gêmeos), como já foi narrado no Itan do Odù Oditura. 
 
 
 
 
 
 
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MINUCIAS SOBRE O CULTO DE ÒSHÚN 
 
 
No culto à Òshún, a mesma personifica à mulher muito zelosa e que ama receber flores singelas 
e cheirosas, cuida muito bem do seu marido e filhos. 
O Igbá de Òshún tem que estar sempre cheio de água fresca e sempre acompanhado com 
vasilhames de mel de abelhas, o qual suas filhas devem consagrar e lamber todas as manhãs. 
Algumas usam o mel para massagear o seu próprio corpo, na finalidade de viverem alinhadas 
com as características de Òshún, que são: bondade, afeição, doçura, felicidade, consideração, 
respeito, prosperidades e dignidade. 
Como Ifá declara nitidamente, que jamais se deve verter o sangue de qualquer animal sobre os 
Okutá (pedra sagrada) de Òshún, mesmo com ela sob qualquer vertente manifestada e baseada 
nos Odù. Significando que Òshún será sempre a mesma Òshún, estando sob qualquer 
manifestação peculiar de qualquer Odù, ela jamais perderá a sua característica principal, a dona 
da água fresca e límpida, aquela que cura usando somente a água fresca, sem qualquer 
necessidade de sangue animal. Outro detalhe, é que Òshún tem verdadeira aversão à morte de 
qualquer ser vivo, principalmente sobre os seus Okuta. Não obstante, seus outros elementos são 
consagrados com o sangue animal, isso rigorosamente através de Odù-Ifá específico. Portando, 
isso significa que ousar assentar ou simplesmente cultuar Òshún de forma aleatória, ignorando 
a necessidade da sua realização sob a rigorosa tutela de Ifá, através de um Odù respectivo, 
geraria sérias complicações tanto para quem faz como quem a recebe. Outra possibilidade seria 
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neutralidade, não obtendo qualquer efeito e favorecimento 
Cultural e ritualisticamente, Òshún é a guardiã dos segredos inquestionáveis, revestida de uma 
enorme aura de mistérios e enigmas, esclarecidos somente através de um profundo 
conhecimento em IFÁ. Òshún é cultuada também em profundas lagoas de água doce, onde 
estabelece a sua residência. Conta a lenda que Yeye-Òshún costuma aprisionar em seu reino 
aqueles que se aventuram a mergulhar em suas águas profundas. Portanto, Yeye-Òshún 
originalmente é poderosa e possui a sua maneira peculiarmente calma para guerrear e sempre 
vencer. 
Como vimos, Yeye-Òshún representa a alta feminilidade em todos os seus diferentes aspectos. 
A sua relação com o encanto e inteligência proporcionaram-lhe a possibilidade de ter sido, por 
escolha própria, a esposa perpetua de Òrúnmìlà. E assim, como esposa de Orunmilá - Senhor 
Patrono do Oráculo Ifá – recebe o nome de Òshúnmilàyá, o mesmo lhe conferiu o título de 
primeira Apetebí, que até os dias de hoje é dado à toda esposa de Bàbálàwos. 
Òshún além de ser a principal esposa de Òrúnmìlà-Ifá, sempre manteve uma relação fraternal 
de amizade e cumplicidade com Esù. Essa grande amizade é relatada numa lenda, com um 
sentido muito sociocultural, onde diz que Òshún, com o auxílio de Èsù-Odara, recebeu o 
segredo dos 16 Odù-Meji, extraído do sistema inalterado de Ifá, na finalidade dela proporcionar 
condições para que as mulheres e seus sacerdotes, Òlòòshún, pudessem proceder à 
“divinhação”. Dentre as figuras do oráculo, destacamos o Odù Òsé-Meji, através do qual 
Òshún reivindica e se comunica com os seres humanos através de Ifá. 
 
Partes do corpo: todo o rosto, o baixo ventre, o baço, o coração da alma; 
Patrona do ventre, a terceira visão e a circulação sangüínea. 
Cor de suas roupas: Sempre brancas. 
Domínios: rios, cachoeiras, cascatas, amor fraternal, amizade, fecundidade, gestação e 
maternidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A RELAÇÃO DE ÒSHÚN COM OSORONGA E SEU PODER DE FERTILIDADE 
 
A importância dada ao ovo no culto às Ìyáàmi, depois especialmente no culto de Òshún, tem 
haver com a sua simbologia, ligada à fertilidade, criação, origem de vida, fecundidade, poder, 
mistério, enigma e revelação. Tanto os yoruba como os Egípcios, Fenícios, Babilônios, Gregos 
etc., têm em comum a idéia de que o Ovo é o retrato mítico do universo, o qual se subdividiu 
em dois, formando o Céu e a Terra. Portanto, mitologicamente o Ovo esteve sempre ligado à 
criação, possuindo o seu lugar, em varias histórias mitológicas em diferentes países. Mitos que 
deram ao Ovo a razão da criação do Mundo A sua gema fértil é como o globo terrestre, a clara 
é como o firmamento e a atmosfera e, da casca, a esfera celeste e os astros. E ainda 
destacarmos na história, a simbologia do ovo com um representante do sol e da água, com esses 
três dos principais elementos formuladores de lendas. De varias formas, o Ovo sempre 
simbolizou o embrião, o mundo e a vida, o sol, a vitória da luz sobre as sombras e, o poder da 
magia em seus vários aspectos, por sua vez, a água simboliza o meio primordial da fertilidade. 
Um mito conta que Olodumare possuía quatro ovos em um pote, e ao pegá-los, um deles caiu 
no chão e se quebrou, revelando um potencial em seu conteúdo, o seu poder e riqueza, 
nascendo então uma extraordinária força chamada Àjè (o poder extremo do bem e do mal), a 
primeira manifestação com todas as características e atributos femininos, a mesma que deu 
origem à toda existência. Nesse exato momento, Olodumare percebeu que tudo estaria 
intrinsecamenteligado à poderosa fertilidade do Ovo e conseqüentemente ao pássaro, ao poder 
de Èlèyè, a força sobrenatural que domina toda a estrutura física, terrestre e universal. 
Posteriormente, do momento que um óvulo é fecundado, é Òshún quem se faz presente, deste 
momento em diante. Ficando ela responsável pelo desenvolvimento do feto dentro do útero, 
assegurando a vida, passando pelo seu nascimento e crescimento, até que a criança nasça e 
comece a emitir seus primeiros sons de palavras. Portanto, a presença de Òshún marca dês do 
momento que o embrião se forma no útero, imediatamente o sangue é retido e dá inicio a 
formação da placenta, que estará temporariamente ligada ao feto através do cordão umbilical e 
manterá a sua vida, somente durante a gravidez. Esse acúmulo de sangue proporcionará a vida 
e estruturará o corpo físico do bebê. 
Em todos os conceitos, o sangue emanado por Òshún, é a existência da vida, pois a 
menstruação é para as mulheres é uma bênção das Ìyáàmi, através da mesma revela-se a 
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realidade de seu poder: a possibilidade de gerar, conceber, criar, cuidar e ensinar. Porém, é na 
placenta que se aloja o destino de cada ser vivo, a força do seu Odù pessoal, que o colocará em 
jogo da vida, ligado perpetuamente a criança com sua mãe. Portanto, quando uma criança nasce 
se a placenta não for retirada a mãe certamente morrerá. Portanto, é o sangue que jorra do 
interior da mãe sobre a criança no dia do nascimento, que a consagra à vida. O jorro da vida é 
comparado ao conteúdo do ovo que se relava ao cair no chão, mostrando mais uma vez o Àsé 
de Ìyáàmi. 
Comparando o ovo com todas as formas arredondadas, símbolos que remetem à idéia de 
fecundidade na terra, no útero da mulher, nas ovas dos peixes, nos ovos dos pássaros e aves. E 
por isso, no culto de Òshún os peixes e pássaros são sacratíssimos, os quais revelam o Àsé 
potencial através das escamas e penas, evocação ao povoamento de descendentes por toda 
extensão terrestre. Portanto, o ovo é o símbolo de maior importância entres os Àsé de Ìyáàmi, 
seu valor é tão representativo como eficaz quando utilizado para neutralizar ou eliminar o mal, 
acalmar, refrescar e nutrir. 
Na sociedade Òsóròngá, entre muitos e outros nomes como Ìyáàmi Èlèyè e Ìyáàmi Ako, aonde 
Òshún na forma de Òrìsà é tratada e chamada de Ìyáàmi Àkókó (Mãe ancestral Suprema). Com 
esse titulo, Òshún encabeça a sociedade das Ìyáàmi, aonde os espíritos das mães falecidas são 
chamados de Ìyámi-àgbà (as mães anciãs) e são cultuados sob o poderoso domínio de Eyi-kowe 
(a forma mais terrível de Ìyáàmi cultuada na parte externa e longe das comunidades). Nessa 
forma de culto coletivo, são reverenciados todos os atributos femininos interligados como uma 
teia de aranha, àqueles humanos e sobre-humanos. Nesse contexto, a relação de Òshún é tão 
intrínseca com Àjè, que as pessoas quando se vêem atacadas por Àjè se precipitam 
confundindo tudo e se empenham suplicando Òshún para apaziguar a força Àjè, o que não surte 
qualquer resultado. Quando na realidade, o carinho e dedicação é a principal forma de cultuar 
Òshún e as outras Ìyágbà. Enquanto à força e manifestação de Àjè, o carinho e qualquer tipo de 
dedicação, se tornam completamente ineficazes. Porque a força Àjè ignora qualquer forma de 
carinho, inocência e dedicação, respeitando e considerando somente aqueles que possuem o 
pleno conhecimento de como cultuá-las e apaziguá-la, uma forma eficaz. Apesar do 
conhecimento com domínio total ser a chave mais importante para acessar o núcleo das Ìyáàmi, 
o que não se deve ignorar, é que Òshún como toda a sua benevolência de Òrìsà, tem sua origem 
na extraordinária força Àjè. Podemos comprovar isso, em vários Itan do Odù-Òsá-Meji, Irete-
Meji, Odi-Meji, Odirete etc., um desses Itan-Ifá, narra que Òshún transformou o corrimento 
menstrual, em penas vermelhas de Ekódídé, colocando-as dentro de uma cabaça, onde se diz: 
"Yèyé-Shawo" (Mãe guardiã dos mistérios, ou mãe que conhece segredo). Neste mesmo Ìtòn, 
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Òòsààlà rende homenagem à Òshún fazendo Idòbálè, se deitando de bruço sobre na terra, se 
prostrando em homenagem ao poder da mulher. Nessa conjunção, a cor vermelha representa o 
poder de consagração, efetivação, o Àsé em todos os tipos de gestação: humana, animal, 
vegetal, mineral e até ritual. As penas vermelhas chamadas de Ekódídé representam o poder da 
fertilidade de Òshún-Olórí-Eléye (a chefe suprema possuidora-do-poder-do-pássaro). Entre 
todos os ícones da fertilidade de Òshún estão os Búzios, utilizado na finalidade de 
individualização, o elemento procriado. Esses são os poderosos Àsé da terra também e também 
simbolizados por suas águas que o veiculam em seu denso interior. 
No culto das Ìyáàmi, a gestação significa abundância e riqueza. Essas manifestações 
prestigiosas são bem representadas nas exclusivas cores existentes no culto de Òshún. A 
princípio, dentro dos seus rituais, a cor secreta de Òshún é o Pupa ou Ponjè (vermelho sangue), 
logo depois a cor que Òshún se perpetua como Òrìsà mostra suas performances benevolentes é 
através da cor branca, a qual representa a pureza, inocência e virgindade, atributos de Òshún. 
Se o vermelho significa a vida, o banho de sangue que o bebe é consagrado na concepção, a 
temperatura elevada que mantém a vida em todos os planos, o mistério do poder feminino, o 
movimento em pleno processo dinâmico, o poder no seu ápice de fonte geradora, o Àshé em 
plenitude. O branco significa a concepção, o nascimento de todas as coisas, a capacidade de 
procriar, o entendimento, compreensão, percepção, o ponto de vista, a revelação, o conceito da 
boa reputação, a pureza e inocência virginal, o inicio da vida, a suavidade, a atração, amizade, 
candura, encanto e alegria. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A IMPORTÂNCIA DO IDE PARA ÒSHÚN 
 
O cobre nativo, o primeiro metal usado pelo homem, conhecido por algumas das mais antigas 
civilizações. A fusão e refinamento do cobre ocorreram a partir de óxidos como a Malaquita e 
Azurita egípcios descobriram que a adição de pequenas quantidades de estanho facilitava a 
fusão do metal e aperfeiçoaram os métodos de obtenção do bronze; ao observarem a 
durabilidade do material representada pelo cobre como o Ankh, um símbolo da vida eterna, 
encontrado nas gravuras e hieróglifos a partir da 5ª Dinastia egípcia. Os primeiros indícios de 
utilização do ouro não foram vislumbrados na antiguidade. O período de transição entre o final 
da Idade da Pedra e a Idade do Bronze foi denominado período Calcolítico, limite que marcou a 
passagem da pré-história para a história. 
Tanto o cobre como o bronze, pertencem por excelência e primordialmente ao culto de Òshún, 
mas o ouro lhe foi dedicado só muito mais tarde, no ocidente, por seu valor capital. Os metais 
amarelados foram representados na cultura Yoruba, como o signo da durabilidade (vida eterna), 
característica esta atribuída à Òshún (a primeira Deusa negra), pois Osogbo foi erguida e 
consagrada à Ela, a deusa da beleza, suas superfícies em forma de muralhas com estatuas 
estilizadas e polidas, tinham a finalidade de refletir a luz, por isso eram fabricados com este 
metal em torno do seu altar. O símbolo, espelho de Òshún da mitologia Yoruba, originou 
através da luz emitida pelo brilho do bronze polido, foi posteriormente adotado para simbolizar 
o gênero feminino(♀). 
Na sociedade Ogboni, os membros se identificam pelo uso do Ebà-Idè (pulseira de Bronze, 
metal nobre), na qual a Grã sacerdotisa de Òshún é chamada Erelu-Agba. Ògbóni, é a mais 
antiga e complexa instituição religiosa e política que compreende representantes de todos os 
segmentos de diferentes sociedades, na finalidade de contrabalançar o poder. 
No Brasil o reflexo emitido pelo bronze polido, foi substituído pelo espelho comum, 
industrializado, onde ganhou mitos inventados como referências maldosas e vaidosas na sua 
utilização. Assim

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