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0 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO À AUDITORIA FISCAL....................................................... 2 1.1 Inteligência Fiscal ................................................................................. 4 1.2 Métodos e Técnicas de Auditoria Tributária ......................................... 5 1.3 Planejamento à Execução da Legislação Tributária Federal .............. 10 2 AUDITORIA TRIBUTÁRIA ........................................................................ 14 2.1 A Relevância das Auditorias de Tributos ............................................ 14 3 TÉCNICAS METODOLÓGICAS ADOTADAS NA AUDITORIA DE TRIBUTOS ................................................................................................................ 17 3.1 Prevenção Contra Fraudes e Sonegação Fiscal ................................ 20 4 AUDITORIA FISCAL E TRIBUTÁRIA NAS CONTAS DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ............................................................................ 22 4.1 Auditoria nas Contas de Resultado .................................................... 22 4.2 Contas do Grupo Disponibilidades ..................................................... 24 4.3 Contas a Receber e Provisão Para Devedores Duvidosos ................ 24 4.4 Estoques ............................................................................................ 25 4.5 Investimentos Relevantes .................................................................. 26 4.6 Ativo Permanente, Diferido e Imobilizado ........................................... 26 4.7 Passivo Circulante e Exigível a Longo Prazo ..................................... 26 4.8 Provisão para o Imposto de Renda .................................................... 27 4.9 Patrimônio Líquido ............................................................................. 27 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 28 5 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................... 30 2 1 INTRODUÇÃO À AUDITORIA FISCAL Fonte:www.controlservice.cnt.br “O objeto da auditoria é o conjunto de todos os elementos de controle do patrimônio administrado, os quais compreendem registros contábeis, papéis, documentos, fichas, arquivos e anotações que comprovem a veracidade dos registros e a legitimidade dos atos da administração, bem como sua sinceridade na defesa dos interesses patrimoniais. A auditoria pode ter por objeto, inclusive, fatos não registrados documentalmente, mas relatados por aqueles que exercem atividades relacionadas com o patrimônio administrado, cuja informação mereça confiança, desde que tais informações possam ser admitidas como seguras pela evidência ou por indícios convincentes.” (HILÁRIO FRANCO e ERNESTO MARRA) A Auditoria corresponde a uma função independente, que busca priorizar a qualidade dos processos e a otimização dos resultados operacionais. Representa um conjunto de processos metodológicos e técnicos de análises e levantamentos criteriosos de informações, constituindo-se em um estudo e uma forma de avaliação sistemática de procedimentos, rotinas e práticas internas de uma empresa e de suas demonstrações contábeis. Assim, podemos classificar a auditoria como externa (ou independente) e interna. Na auditoria externa os auditores, normalmente, apresentam maior 3 independência, contratados para realizar seus trabalhos não possuem vínculo trabalhista com a empresa. Na auditoria interna, o auditor, por ser funcionário da empresa, possui um menor grau de independência e seu trabalho, em consequência, é realizado de forma contínua, com maior volume de testes. Por sua vez, a Auditoria Contábil objetiva angariar elementos suficientes para saber se os registros contábeis foram efetuados em consonância com os princípios fundamentais de contabilidade, bem como se as demonstrações contábeis refletem de forma adequada a situação econômica e financeira da empresa no período examinado. Podemos dizer que a Auditoria Fiscal tem por objetivo realizar um exame da situação fiscal da empresa, tendo em vista as formas de controle de sua regularidade fiscal. Tal regularidade norteia-se pelos princípios definidos nas normas e doutrinas fiscais. Assim, a Auditoria Fiscal visa comprovar se a entidade realizou, adequadamente, as suas obrigações tributárias, se provisionou corretamente os riscos derivados e as possíveis contingências fiscais. Além disso, verifica se foram realizados os pagamentos efetivos dos tributos, em consonância aos prazos e aos formalismos legais, ou seja, analisa o cumprimento das obrigações tributárias pelos contribuintes de forma correta. Segundo o Artigo 142 do Código Tributário Nacional, é de competência privativa da autoridade administrativa a concessão de crédito tributário pelo lançamento. Desta forma, o procedimento administrativo tende a verificar a ocorrência do fato gerador e da obrigação correspondente, determinando matéria tributável o cálculo do montante do tributo devido e a identificação do sujeito passivo para, se for o caso, propor a aplicação de penalidade cabível. Assim, o servidor público responsável pela fiscalização constitui-se em autoridade administrativa incumbida de verificar o correto funcionamento do sistema tributário. Segundo Guimarães (2001), a auditoria fiscal pode ser realizada por meio das entidades fiscalizadoras do Estado, mas, também, por auditores internos e externos às empresas. Contudo, se essa auditoria for desempenhada por meio de um técnico da administração fiscal, estaremos falando de um processo de auditoria independente que visa essencialmente zelar pelo fiel cumprimento do pagamento dos impostos e/ou da legislação fiscal. Desta forma, a auditoria fiscal é, normalmente, utilizada a fim de definir ações de fiscalização tributária desenvolvidas pela administração fiscal. 4 Assim, a fiscalização tributária é desenvolvida pelos órgãos de fiscalização e procura, essencialmente, verificar se o contribuinte, pessoa física ou jurídica, está cumprindo fielmente suas obrigações fiscais e de forma correta. Desta forma, os órgãos fiscalizadores procuram diminuir diferenças, acaso existentes, entre o imposto definido por Lei e o imposto declarado por alguns contribuintes, com o objetivo de combater a evasão fiscal. Contudo, no quadro atual, em que os gestores buscam a reformulação de procedimentos e estratégias, a auditoria interna constitui-se em instrumento fundamental de apoio à Gestão, a fim de orientar e buscar melhores soluções para as empresas. 1.1 Inteligência Fiscal A Inteligência Fiscal corresponde ao acompanhamento da situação fiscal das empresas e busca obter e desenvolver o controle de informações sensíveis aos aspectos financeiros da organização. Desta forma, a inteligência fiscal, do ponto de vista da fiscalização, corresponde a um serviço de inteligência que se prepara com o intuito de desenvolver ações que permitam mitigar os riscos potenciais à arrecadação de impostos. Assim, podemos citar como exemplos de recursos e benefícios advindos da inteligência fiscal: • o cadastro integrado de contribuintes; • a avaliação integrada e sistemática de contribuintes que tiveram reduções muito significativas em seus recolhimentos; • a identificação rápida ou imediata de contribuintes que não declararam suas movimentações fiscais; • as verificações sobre os contribuintes que declararam faturamento inferior à estimativa de custo operacional da empresa; • as rápidas análises de consistência e de divergências de impostos declarados e devidos; o desenvolvimento de relatórios estatísticos e de ferramentas; • o cruzamento sistemático e integrado de informações dos impostos recolhidos e de outras bases de dados. 5 No âmbito da fiscalização, a inteligência fiscal correspondea uma metodologia de auditoria, que vem sendo aprimorada e está, sobretudo, orientada ao combate à sonegação. Os sistemas de inteligência fiscal procuram manter as informações das empresas responsáveis por uma significativa parcela da arrecadação. Essas informações compõem as bases de dados que tem como finalidade primordial o cruzamento das informações e a rápida análise. Desta forma, a inteligência fiscal tem como objetivo identificar possíveis desvios sobre os padrões de comportamento observado para um determinado segmento de contribuintes. Na realização dessa investigação, foi desenvolvida e vem sendo aprimorada uma metodologia de auditoria, que busca a utilização de ferramentas tecnológicas a fim de realizar as análises dos arquivos de dados provenientes das empresas. 1.2 Métodos e Técnicas de Auditoria Tributária “[Auditoria é] a técnica contábil que – através de procedimentos específicos que lhe são peculiares, aplicados no exame de registros e documentos, inspeções, e na obtenção de informações e confirmações, relacionados com o controle do patrimônio de uma entidade – objetiva obter elementos de convicção que permita julgar se os registros contábeis foram efetuados de acordo com os princípios fundamentais e as normas de contabilidade e se as demonstrações contábeis deles decorrentes refletem adequadamente a situação econômico-financeira do patrimônio, o resultado do período administrativo examinado e as demais situações nelas demonstradas.” (HILÁRIO FRANCO e ERNESTO MARRA) De uma forma básica, podemos dizer que a auditoria procura verificar a coerência de atos e de seus registros, sua mensuração, análise, avaliação e se os registros contábeis estão sendo escriturados de forma correta. E, assim, refazer o caminho de apuração ou verificá-lo para chegar ao cálculo dos valores dos tributos que foram recolhidos e se os mesmos estão corretos. Dentre os procedimentos utilizados na auditoria, podemos destacar os seguintes: • Circularização (confirmação externa); • Refazimento e conferência de somas e cálculos; 6 • Contagem e inspeção de itens físicos; • Exame e obtenção de comprovantes autênticos; • Análise dos registros auxiliares e fiscais; • Profunda revisão de todos ou da maioria dos critérios de avaliação utilizados; • Conformidade desses com os princípios contábeis; • Obtenção de dados de diferentes fontes e seu cruzamento a fim de apurar discrepâncias eventuais. Além disso, a auditoria tributária avalia a efetividade dos controles internos utilizados pela empresa e realiza estudo dos métodos operacionais utilizados. Desta forma, explicaremos a seguir os métodos e técnicas mais utilizadas. O exame dos registros auxiliares e fiscais, os quais representam a conta analítica do saldo evidenciado no Balanço, deve estar conciliado a outras verificações relativas a esses registros que poderiam ser cabíveis. Assim, o auditor procura examinar atentamente, sobretudo quanto a exatidão dos registros fiscais. Tal exame busca verificar a regularidade de alguns saldos, tais como o de compras efetuadas, o de vendas realizadas, o de impostos a recolher e os autos de infração lavrados contra a empresa objetos de contestação judicial ou administrativa observando-se o desfecho. O método da circularização (confirmação externa), por ser esta uma técnica bastante empregada para a confirmação de saldos em diversas contas, sobretudo nas de fornecedores e nas duplicatas a receber, também é utilizado em diversas situações. Uma das formas de se empregar essa técnica é o contato via e-mail, fax ou mesmo por meio de cartas, para os clientes e outras pessoas ou empresas com quem a empresa possui vínculos negociais. O auditor solicita a confirmação sobre a situação de determinados assuntos cuja verificação é fundamental para se averiguar alguma discrepância. A conferência dos cálculos realizados pela empresa é primordial. Assim, o auditor precisa muitas vezes “refazer o caminho”, realizando os cálculos pertinentes ou conferindo os já realizados, a fim de descobrir a existência de erros ou, mesmo, de atividades dolosas. A contagem dos itens físicos do estoque, acompanhada pelo auditor, é muito importante, uma vez que os estoques representam, normalmente, boa parte do ativo da empresa, dependendo de seu ramo de atuação. Salienta-se que o auditor precisa 7 realizar o chamado “corte” antes de iniciar inventário, evitando a entrada e a saída de produtos durante a contagem, fato que prejudicaria a realização correta da ação. Observamos, porém, que este método seria dificultado no caso de auditorias fiscais, devido aos exercícios anteriores. O auditor procede a sua fiscalização em períodos de até cinco anos e, assim, acaba encontrando o inventário já realizado ou rearrumado. Desta forma, muitas vezes, são realizados levantamentos quantitativos bastantes trabalhosos, sendo que seu resultado deveria apenas confirmar a regularidade da movimentação de mercadorias da empresa ou, ainda, buscar descobrir algum erro ocorrido no fechamento das contas. O exame ou a obtenção de comprovantes autênticos pode ser utilizado quando o auditor perceber, ao examinar os lançamentos contábeis, a necessidade de verificar também os documentos. Tal exame deve observar os seguintes aspectos: autenticidade dos documentos, preenchimento, legitimidade, confronto com o lançamento realizado, correspondência de operação aos objetivos da empresa, contrapartida adequada e demais aspectos específicos do documento. A revisão dos critérios de avaliação, em que é analisado o Balanço Patrimonial da empresa, considera seus aspectos qualitativos (composição física) e quantitativo (se traduz corretamente nos bens, direitos e obrigações da empresa). Nesse caso, o auditor também precisa avaliar se este está de acordo com os princípios contábeis fundamentais e os requisitos normativos e legais. O cruzamento de informações, ocorre a partir da aquisição de informações de várias fontes. Se necessário, de acordo com a evolução do trabalho, o auditor pode buscar a obtenção de informações externas variadas, a fim de conseguir validar alguns dados obtidos internamente, ou sobre problemas relevantes ou, mesmo, a fim de melhor balizá-lo. O estudo de métodos operacionais torna-se fundamental, a fim de que o auditor possa ter conhecimento da empresa auditada. Tal conhecimento é muito importante para a realização do trabalho que deve ir além do estudo dos registros contábeis e financeiros, dos controles, ou da estrutura da organização, buscando, sobretudo, aspectos operacionais relativos à atividade da empresa. A base da opinião do auditor precisa ser registrada em “papéis de trabalho”, constituindo prova da realização trabalho realizado. Nestes precisam constar os procedimentos efetuados pelo auditor, procurando abranger a auditoria realizada 8 como um todo, buscando a clareza de escrita e apresentando informações conclusivas e suficientes, externando a opinião do auditor sobre o que foi constatado. Desta forma, tais documentos servem como uma reconstituição da escrita, no caso de ocorrência de sinistro com os registros da empresa, e podem ser muito úteis em uma revisão final de auditoria. A chamada Revisão Final é realizada pelo auditor ainda na empresa, após o trabalho de campo, e tem como insumos, os papéis de trabalho, que substanciam todos os procedimentos executados, representando as verificações, os exames, as diligências e as verificações efetuadas. Precisa ser feita na empresa, uma vez que, caso ocorra alguma dúvida, ali estão os elementos de verificação ou comprovação. A revisão final encerra-se normalmente com uma reunião de apresentação à empresa que, por meio de eventual contestação, ainda poderá corrigir ou dirimir alguma falha ou dúvida. Serão debatidos os ajustes em que houver discordância e estes poderão ser objeto de ressalvano parecer. O Relatório de Auditoria finaliza o trabalho registrando sobre o escopo e o alcance do que foi verificado, a forma de realização, a divulgação de fatos relevantes, as conclusões do auditor e, o seu parecer. Desta forma, salienta-se que o relatório apresenta a opinião do auditor, a qual está alicerçada em fatos concretos comprovados mediante o exame e a análise dos fatos apresentados nos “papéis de trabalho”. Da mesma forma que o resultado apresentado no trabalho de um auditor fiscal deve vir acompanhado de provas de erros ou de ilícitos realizados, com clareza da procedência da cobrança, em qualquer processo de auditoria, o auditor deve clarificar sua opinião e circunstanciá-la muito bem. Quanto aos tipos de Relatórios de Auditoria, estes podem variar segundo a natureza do exame realizado, dos fins aos quais se destinam, da forma do alcance e, sobretudo, de acordo com as conclusões neles contidas. Salienta-se que esses relatórios são, normalmente, formais por estarem sujeitos a normas de auditoria. 9 Fonte: fm.cnbc.com Podemos mencionar os tipos de relatórios a seguir: relatório em forma curta (ou o chamado “Parecer do Auditor”); relatório em forma longa (analítico na descrição dos trabalhos – sem conter juízo de valor do auditor); relatório sobre controles internos (em que são sugeridas recomendações para melhoria dos controles; relatório sobre revisão limitada (descreve em detalhe os trabalhos realizados pelo auditor, sem expressar a sua opinião, observando desvios significativos na aplicação dos princípios de contabilidade na elaboração das demonstrações) e os relatórios especiais (decorrentes de trabalhos diversos ou de exames específicos para apuração de irregularidades). Quanto ao parecer do auditor, temos o “parecer sem ressalva”, que representa um parecer conciso, composto por um parágrafo definindo o escopo/alcance da auditoria, um parágrafo intermediário que descreve a condição de realização do trabalho e o um parágrafo conclusivo, no qual é declarado pelo auditor que tudo foi verificado e está correto. Já o “parecer com ressalva” retrata e clarifica ao máximo o porquê da ocorrência dessa ressalva no parágrafo conclusivo, podendo conter uma referência à nota explicativa. Se a ressalva for muito significativa, o auditor poderá negativar sua opinião ou fornecer uma opinião adversa, levando ao chamado “parecer adverso”, caracterizando a existência de uma irregularidade muito significativa. Outra possibilidade é o “parecer com abstenção de opinião”, no qual o auditor, no parágrafo intermediário, precisa consignar as razões que o levaram a negar a manifestação de 10 sua opinião sobre o objeto de suas análises. Considera-se esse parecer adequado na eventualidade de o auditor não poder realizar os exames da forma ou com alcance necessário para angariar os elementos à formação de sua opinião. 1.3 Planejamento à Execução da Legislação Tributária Federal Fonte:conube.com.br O planejamento não se interessa por sonhar vãs utopias, distanciadas da ação corrente; não chega às decisões de rotina, nem resoluções apressadas. O planejamento difere da lei, da política, da administração. Não obstante, ele deverá estar estreitamente associado aos três para o fim de desempenhar suas tarefas. (ALMEIDA, 1999, p.23) Após verificar a situação geral da empresa a ser auditada e dos seus controles internos, o auditor precisa iniciar a auditoria, inicialmente, formulando um plano de trabalho. Nesse plano é que são estabelecidas as verificações a serem realizadas. Assim, dependendo da eficiência dos controles internos da empresa, o auditor estabelecerá procedimentos menos ou mais aprofundados, a fim de ter uma maior segurança para formar sua opinião a respeito da empresa e do objeto de sua auditoria. Neste momento, o auditor tem a oportunidade de conhecer melhor a empresa e, a partir daí, definir um plano de trabalho que poderá sofrer alterações durante a execução, caso haja imprevistos à época do planejamento. 11 Portando, a auditoria, normalmente, inicia-se com a elaboração de um planejamento adequado à empresa cujas demonstrações estariam sob avaliação. Além disso, elabora-se um cronograma para selecionar os procedimentos a serem executados, estabelecendo sua oportunidade e amplitude. Esta fase inicial da auditoria serve de base para alicerçar todo o trabalho a ser realizado e, por isso, precisa ser elaborada de forma cuidadosa. Recomenda-se que seja realizada após ser conhecida e compreendida a estrutura de funcionamento da empresa. O planejamento constará dos “papéis de trabalho” denominado como “Planejamento da Auditoria”, o qual servirá de base durante a permanência do auditor na empresa e, também, no processo de revisão. Na auditoria, quando alguns fatos não puderem ser elencados, pode ser necessária uma alteração no planejamento. Nesse caso, devem ser contatados os envolvidos, informando eventuais atrasos e suas causas. Observa-se que o trabalho do auditor comporta um certo grau de risco, pois algumas irregularidades ou erros podem não ser detectados durante o procedimento de auditoria. Se não forem significativos, não invalidam as demonstrações. Mas, se forem relevantes podem comprometer as demonstrações ou requisitar um maior aprofundamento e até mesmo a realização de testes. Desta forma, podemos destacar as circunstâncias de ocorrência desse fato que são: os riscos de controle (em que o sistema de controle interno não realizou a descoberta de erros ou irregularidades), riscos de detecção (quando o erro não foi detectado pelo auditor) ou, ainda, o risco inerente ou implícito (em que os erros ou as irregularidades se encontram nas demonstrações ou, mesmo, nos registros). O planejamento constitui uma fase primordial na auditoria, por ser o momento em que se trava conhecimento com a empresa se define o plano de trabalho por meio de um cronograma de auditoria, projetando-se a extensão e o aprofundamento da ação, bem como a necessidade de realização de testes de avaliação ou validação dos controles internos. A auditoria fiscal é constituída de uma série de atividades sistemáticas, as quais são voltadas para o levantamento, o estudo e a avaliação das operações registradas ou não pelas empresas, com vistas a determinar a ocorrência do fato gerador dos impostos, sua base de cálculo, a aplicação correta das alíquotas aplicáveis, a adequada apropriação dos créditos fiscais devidos, a exata determinação do valor 12 devido e seu recolhimento nos prazos regulamentares, além da exatidão dos registros contábeis da empresa. O objetivo principal de uma auditoria fiscal reside no exame dos registros contábeis e fiscais que foram escriturados pela empresa, confirmando sua exatidão sob o aspecto fiscal, para apurar fraudes ou irregularidades que resultem em desvio de recursos financeiros do Estado. Fonte: empoweryourbusiness.files.wordpress.com Desta forma, podemos classificar a Auditoria Fiscal: • Quanto ao seu objetivo; –Preventiva destinada a transmitir orientações sobre a escrituração correta dos fatos administrativos e sobre a interpretação das leis fiscais. – Repressiva para apurar possíveis faltas cometidas na escrituração da empresa, capazes de refletir no recolhimento dos tributos sob sua responsabilidade. • Quanto aos meios de exame; – Livros Fiscais quando são examinados os Livros Fiscais e Comerciais, bem como os documentos ou bens; – Documentos, Mercadorias e Bens quando a auditoria é realizada a fim de validar a origem e a legalidade de documentos, mercadorias e bens da empresa. • Quanto às técnicas de execução; – Especial em virtude de fator não rotineiro, ou especial, a auditoria é focada no exame de determinados casos isolados. 13 – Extraordinária motivada por denúncias ou fatos relevantes e inesperados que requererem diligênciasautorizadas ou providências imediatas. – Setorial focadas em determinados atividades profissionais ou setores econômicos. A Auditoria Fiscal, segundo a sua abrangência e o seu tempo de duração, também pode ser assim classificada: • Volante focada em áreas geográficas predeterminadas, em período de tempo limitado. • Fixa exercida a partir de postos fiscais. • A prazo certo realizada em um limite de tempo predeterminado. • Permanentes acompanhando de forma constante o desenvolvimento de determinadas atividades, devido a importância das mesmas. • Intermitente realizada de forma periódica e alternada em estabelecimentos determinados. A qualidade do trabalho de auditoria é assegurada pela atribuição de níveis de responsabilidade aos membros da equipe, segundo a experiência profissional e o conhecimento adquirido. Desta forma, o processo está permeado desde o seu início, com o planejamento, até a confecção do parecer final de auditoria, de uma grande e sistemática atividade de revisão. O processo de revisão prevê que cada um dos procedimentos possa ser conferido exaustivamente e, se necessário, corrigido. Como vimos, anteriormente, até os possíveis imprevistos surgidos após o planejamento podem suscitar desvios no cronograma ou no planejamento da auditoria, a fim de suprir tais reveses. Desta forma, normalmente, os procedimentos a serem seguidos são padronizados e introduzidos em rotinas ou programas de auditoria ou, ainda, em roteiros escritos, sempre buscando a condução dos trabalhos de forma previsível, acrescendo-se apenas as alterações relevantes, julgadas como necessárias durante o processo. Contudo, salientamos que a existência de tais roteiros não tem o caráter de “engessar” a iniciativa ou a criatividade do auditor, tratando-se de uma sistematização de procedimentos já consagrados ou que vem sendo aprimorados pela trajetória da atividade. 14 2 AUDITORIA TRIBUTÁRIA Fonte: www.tickmark-software.com 2.1 A Relevância das Auditorias de Tributos Segundo Cunha; Silveira e Dorow (2008), as questões que envolvem relevância são, normalmente, tratadas de forma subjetiva e, a partir daí, dependem de critérios de avaliação particulares em todos os segmentos. Ainda conforme esses autores, o objetivo da contabilidade seria o de gerar informação confiável aos seus diversos usuários. Para tanto, lança mão de ferramentas de quantificação, apreensão, registro, classificação e eventuais sumarizações. Tais informações têm por obrigação passar confiança, para que todos possam tomar decisões baseadas na contabilidade. Porém, a confiabilidade está diretamente relacionada à veracidade, à pertinência e deve abranger todos os elementos relevantes. A Norma Contábil trata da relevância como dependente da representatividade qualitativa e quantitativa em si e adiciona a questão de julgamento profissional. A confiança na contabilidade será quebrada caso algo importante, ou como denominado pela norma, relevante, for omitido. Assim, observamos que a relevância é algo significativo e pode ser quantificada, possuindo uma inter-relação com a contabilidade, ainda que parece estar distante. 15 De igual modo, para Attie (1998), a relevância corresponde ao item que apresenta maior importância em um fato ou em um elemento, sobretudo em relação ao objetivo do exame, às demonstrações financeiras ou ao parecer do auditor. Desta forma, a questão da relevância é primordial ao trabalho de auditoria fiscal, pois a sua falta leva o contribuinte a perder a credibilidade na capacidade do Estado em fazer cumprir a lei, estimulando -o à sonegação. Portanto, é intuitiva a afirmação de que não basta auditar. Observa-se que é necessário que se audite bem e, a partir daí, podemos discorrer sobre causas prováveis em problemas apresentados por alguns autos de infração, os quais podem ter as mais diversas causas, tais como os erros de cálculo, alguma nulidade, uma formalização feita incorretamente ou outrem. Contudo, a aproximação ao problema, repetimos, não foi na direção de compreender as falhas de cada processo, posto que nada poderia trazer de radicalmente esclarecedor, para os objetivos propostos, valendo mais para isto a compreensão de como é feita e auditoria fiscal e a estrutura dentro da qual está se realiza. A auditoria corresponde a um processo de risco, mas esse risco precisa ser bem avaliado e suportável, pois se o risco atingir valores de difícil aceitação, o auditor independente verá seu trabalho cair em descrédito. Assim, podemos observar que, falando da atividade fiscalizadora, o auditor fiscal busca em diversos documentos os elementos necessários para fundamentar seu trabalho, recuperando o que for possível e detectando sonegação até mesmo por meio do arbitramento da base de cálculo, caso as irregularidades o justifiquem. O auditor fiscal, no mais das vezes, trabalha sem a preocupação com a consistência da escrita auditada, correndo riscos inaceitáveis para o auditor independente, que não ousa se aventurar em escritas montadas exclusivamente com a finalidade de evitar o pagamento de impostos. Temos uma marcante diferença de postura porque a auditoria fiscal é realizada por parte interessada, apesar de plenamente vinculada à lei, enquanto a auditoria independente não tem nenhum interesse direto que não seja o cumprimento das normas de auditoria contidas na Resolução no 820, de 17/12/1997, e a aplicação do elevado padrão de qualidade que lhe é exigida. Por sua vez, a organização da Secretaria de Fazenda com seu caráter multifuncional e sua complexa estrutura em comparação com empresas de auditoria 16 independente, com estruturas enxutas e voltadas a finalidades específicas, marca outra diferença fundamental, criando, por este prisma, dificuldades de comparação. Contudo, o importante, apesar das marcantes diferenças, é buscar na atuação da auditoria independente, cujo desempenho é o resultado de décadas de acumulação de conhecimentos e investimentos no desenvolvimento de técnicas de auditoria, um parâmetro de inspiração para aprimorar o exercício dessa importante atividade. Observamos que a auditoria vem se desenvolvendo e se aprimorando cada vez mais, sobretudo durante o século passado, como resultado de grandes investimentos nos processos de acumulação de conhecimentos. Desta forma, ao pensarmos em auditoria, devemos considerar todo esse “background” de conhecimentos e experiências sedimentadas, para não incorrermos no desperdício de recursos humanos e de materiais com técnicas que foram há muito tempo ultrapassadas. Tal caminho, trilhado pela auditoria independente, representa a excelência em auditoria, pelo seu compromisso com a qualidade, a moral, a eficiência, a responsabilidade e, principalmente, a técnica. A direção percorrida corresponde ao início de uma técnica muita utilizada pelas empresas que buscam a melhora de seus padrões de qualidade por meio da compreensão e da implementação, com as devidas adaptações, das práticas dos líderes de mercado. A auditoria independente cumpre seu papel mediante planejamento, execução, revisão final e conclusão consubstanciada no parecer que será publicado junto com as demonstrações contábeis. Embora, a auditoria fiscal apresente características particulares relativas à conclusão do trabalho, este deve apresentar provas que comportem o exercício do contraditório. O auditor independente, no curso de seu trabalho, busca elementos de convicção para formar juízo de valor sobre as demonstrações contábeis. O processo de auditoria, em ambos os casos, é essencialmente o mesmo: confirmação e evidenciação de fatos. Afinal, a auditoria cumpre diversos papéis: fiscal, interna ou independente. Estes dois últimos diferenciam-se pela posição relativa do auditor na empresa, ou seja, o grau de independência para a execução do trabalho, como também pelos objetivosdo auditor e da extensão dos procedimentos. 17 3 TÉCNICAS METODOLÓGICAS ADOTADAS NA AUDITORIA DE TRIBUTOS O fim principal da auditoria é a confirmação dos registros contábeis. Na consecução de seus objetivos ela contribui para confirmar os próprios fins da contabilidade, pois avalia a adequação dos registros, dando à administração, ao fisco e aos proprietários e financiadores do patrimônio a convicção de que as demonstrações contábeis refletem, ou não, a situação do patrimônio em determinada data e suas variações em certo período. Portanto, é a auditoria que dá credibilidade às demonstrações contábeis e às informações nelas contidas. (HILÁRIO FRANCO e ERNESTO MARRA, 1999) Podemos destacar que a auditoria de tributos se apresenta como uma útil, necessária e permanente atividade, em que há uma participação ativa no processo de obtenção de elevados índices de eficiência no adimplemento das obrigações tributárias (principais e acessórias), resultantes dos negócios realizados. Os objetivos básicos de uma auditoria de tributos são: evidenciar se os procedimentos tributários utilizados pela empresa estão corretamente formalizados em documentação idônea e de escrita fiscal regular; analisar os procedimentos tributários adotados para avaliar se atendem às determinações estatuídas na legislação de impostos, taxas e contribuições atinentes; avaliar se os procedimentos tributários em uso na organização consistem na alternativa legal que possibilita o menor ônus fiscal possível. Além desses, a auditoria de tributo visa examinar se a economia tributária obtida pelo estabelecimento resultou de ações ou omissões legítimas, se foram obtidas na vigência das respectivas hipóteses legais de incidências de encargos ou dos benefícios tributários; analisar se a redução, adiamento ou anulação do ônus tributário decorre de transações ou negócios feitos com o emprego de formas contábeis e de direito normais típicas e adequadas; investigar se a anulação, a redução e o adiamento do ônus fiscal, obtidos nos diversos estabelecimentos resultaram efetivamente em ações ou condutas formalizadas nos correspondentes documentos e registros fiscais e contábeis. Para realizar o trabalho de auditoria fiscal, se faz necessário que o auditor tenha acesso aos seguintes documentos, os quais proporcionam um suporte ao desenvolvimento do trabalho. 18 • Notas Fiscais de Fornecimento (entradas de fornecedores), como: – Aquisição de insumos; – Mercadorias para revenda, – Materiais intermediários de produção; – Materiais de uso ou de consumo (expediente), revenda, devoluções, faturas de energia elétrica, serviços de telecomunicações, consignações, demonstrações e outras entradas. • Notas Fiscais de entradas e de saídas, inclusive as de venda, transferência, remessas, devoluções, prestação de serviços e outras saídas, emitidas pela empresa. • Outros documentos fiscais. Os documentos fiscais, segundo SÁ e Sá (1990, p. 165), destinam-se a comprovar os lançamentos que podem ser suscetíveis de fiscalização. Para maior garantia, pode ser adotado pela empresa uma espécie de arquivo fiscal, destinado exclusivamente a reunir a documentação objeto de eventual fiscalização. Além desses, devem ser solicitados, conforme o caso, os Livros Fiscais (Registros de Entradas, de Saídas, de Apuração do ICMS, do IPI; o Livro de Registro de Inventário; o de Utilização de Documentos Fiscais e de Termos de Ocorrências e Livro de Registro Serviços Prestados. Conforme o objeto da auditoria fiscal, também são necessários os guias de ICMS, as Guias de Informação e Apuração do ICMS (GIA), as Guias de Informação das Operações e Prestações Interestaduais (GI), a Declaração Fisco-Contábil (DFC), as Guias de Recolhimento do ICMS (GR), as Guia Nacional de Informação e Apuração do ICMS substituição tributária e as Guias de Recolhimento do ISS. Salienta-se que o auditor deverá verifica-se estão sendo observadas, pela empresa, as normas e disposições legais inerentes as operações realizadas, sobretudo no que se refere à emissão da nota fiscal; se o ICMS vem sendo emitido na nota fiscal de faturamento; se há emissões de notas fiscais de Remessas de Mercadoria, citando a nota fiscal emitida originalmente; se há emissão de notas fiscais de remessa; regularidade de emissão correta de notas fiscais de faturamento, entre outros aspectos de relevância. A grande maioria das técnicas metodológicas adotadas pela auditoria de tributos envolvem a formulação das questões de auditoria, que envolvem os seguintes passos: descrição do problema (definir o escopo, o esforço de concepção e execução da auditoria); explorar as questões estabelecer hipóteses hierarquizadas (além de 19 questões e subquestões relacionadas a cada hipótese), o teste suas hipóteses, verificar questões viáveis a serem trabalhadas, avaliar o impacto financeiro das questões, elaborar proposta de trabalho detalhada). A estratégia metodológica a ser adotada deve ser analisada segundo os quatro elementos que consubstanciam as conclusões ou achados de auditoria: que são o critério, a condição, a causa e efeito e, segundo a metodologia, o auditor ao desenvolver um achado de auditoria precisa analisar os atributos de critério (descrição da situação com base nas normas e legislação aplicáveis), a condição (verificação da situação existente ou fato ocorrido), as possíveis causas da ocorrência, consequências. Após isso, o auditor procederá ao estudo do caso, que corresponde a procurar responder a questões normativas e descritivas, utilizando uma abordagem qualitativa de coleta e análise de dados e utilizando uma análise concomitante à coleta de dados por meio de pesquisas e simulações (refazimento dos procedimentos) a fim de se constatarem eventuais falhas. O exame da documentação original é muito utilizado e tida como fundamental ao processo e busca verificar a autenticidade, normalidade (operação normal e de acordo com os objetivos da empresa), o registro adequado e a aprovação (validados pela pessoa autorizada para tal). Procede-se a conferência de somas aritméticas e cálculos e ao exame dos lançamentos contábeis e sua correspondência com o que foi analisado. As dúvidas que advierem desse processo são realizadas entrevistas, o exame de livros e registros auxiliares comparadas as atividades observadas e torna-se a correlacionar as informações obtidas. Após as constatações é realizado o relatório de auditoria, o qual fornece uma visão adequada do que foi encontrado, devendo ser este relatório claro, simples, conteúdo adequado, circunstanciado, objetivo, coerente, objetivo, com assuntos logicamente apresentados; e apresentando uma conclusão. Tal relatório, caso encontrado pelo auditor, deverá apresentar as falhas, irregularidades ou ilegalidades constatadas e possíveis indicações quanto às providências a serem adotadas. Nos casos de irregularidades ou ilegalidades constatadas, as quais que resultem em prejuízo ao erário público, precisam indicar as medidas restritivas a serem realizadas, segundo as normas e leis vigentes. 20 3.1 Prevenção Contra Fraudes e Sonegação Fiscal A evasão e a elisão fiscal não se confundem com a fraude e a sonegação, porque, diversamente dessas últimas figuras, não implicam conduta lícita do contribuinte e configuram-se antes da ocorrência do fato gerador. A sonegação e a fraude verificam-se após a ocorrência do fato gerador e são sempre condutas ilícitas (ROSA JR, 1997, p. 648-649) A fraude fiscal pode ser definida como toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, de forma total ou parcial, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do tributo devido/ou a evitar/diferir o seu pagamento. Porém, a sonegação fiscal, corresponde a todaação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento, por parte da autoridade fazendária, da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; das condições pessoais do contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. A delimitação do conceito dá ênfase na ocorrência do fato gerador da obrigação tributária, encarecendo que o infrator haverá de proceder dolosamente, ou seja, intencionalmente impedindo que os agentes do fisco tomem conhecimento ou retardem a identificação de sua ocorrência. Segundo a Lei no 8.137/90, os crimes contra a ordem tributária se caracterizam pelos atos de suprimir ou reduzir tributos mediante: • Omissão da informação ou declaração falsa às autoridades fazendárias; • Fraude da fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos ou omitindo operação de qualquer natureza em documento ou livro exigido pela lei fiscal; • Falsificação ou alteração de nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; • Elaboração, fornecimento, distribuição, utilização ou emissão de documento que o contribuinte saiba que seja falso ou deva saber falso ou inexato; • Recusa ou não fornecimento, quando obrigatório, de nota fiscal, ou documento equivalente, relativo à venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecimento de nota em desacordo com a legislação. 21 Desta forma, ressaltamos que as ações dos auditores fiscais têm assegurado o nível de arrecadação que o país precisa para manter seu desenvolvimento. O aumento da eficiência da Receita Federal tem levado a um constante incremento na arrecadação, que não é proveniente do aumento das alíquotas dos tributos (alvo atual de desonerações), mas do aumento da percepção de risco por parte de cidadãos, antes não alcançados pela fiscalização ou que deixavam de pagar parte de suas obrigações tributárias. A sonegação se dá em um momento posterior à ocorrência do fato gerador, ao passo que a fraude ocorre em momentos anteriores a sua efetivação. Segundo o Ministro Jarbas Nobre, do TFR (Tribunal Federal de Recursos), em acórdão proferido em apelação cível, no estado de São Paulo, a fraude e a evasão possuem características distintas, devido a não se confundirem a evasão fiscal e a fraude fiscal. Fraude e Evasão Caracteres distintivos. Não se confundem a evasão fiscal e a fraude fiscal. Se os atos praticados pelo contribuinte, para evitar, retardar ou reduzir o pagamento de um tributo, foram praticados antes da ocorrência do respectivo fato gerador, trata-se de evasão; se praticados depois, ocorre fraude fiscal. E isto porque, se o contribuinte agiu antes de ocorrer o fato gerador, a obrigação tributária específica ainda não tinha surgido, e, por conseguinte, o fisco nada poderá objetar se um determinado contribuinte consegue, por meios lícitos, evitar a ocorrência de fato gerador. Ao contrário, se o contribuinte agiu depois da ocorrência do fato gerador, já tendo, portanto, surgido a obrigação tributária específica, qualquer atividade que desenvolva ainda que por meios lícitos só poderá visar à modificação ou ocultação de uma situação jurídica já concretizada a favor do fisco, que poderá então legitimamente objetar contra essa violação de seu direito adquirido, mesmo que a obrigação ainda não esteja individualizada contra o contribuinte pelo lançamento, de vez que este é meramente declaratório (TFR, Ac. dá 2a T., pub. Em 19-12-73, Ap. Ceva. 32.774-SP, Rel. design. Ministro Jarbas Nobre). 22 4 AUDITORIA FISCAL E TRIBUTÁRIA NAS CONTAS DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Fonte: tickmark-software.com “A renda é o acréscimo patrimonial, produto do capital ou do trabalho. Proventos são os acréscimos patrimoniais decorrentes de uma atividade que já cessou”. (PAULSEN et al., 2006. p.48) 4.1 Auditoria nas Contas de Resultado Para auditar as Contas de Resultado, os auditores precisam realizar exames minuciosos nessas contas, uma vez que podem ser descobertos indícios de fraudes, problemas ou, mesmo, outros ilícitos. Assim, tais exames são, por isso, estendidos de forma a não apenas buscar indícios de fraudes ou sonegações, mas, também, outros indícios, inclusive de outros crimes que possam estar ou terem sido perpetrados pela a empresa, algum de seus funcionários ou, mesmo, de seus representantes, tais como o crime de lavagem de dinheiro. Além das contas de resultado, são detidamente analisadas as contas que podem interferir na apuração desse resultado, tais como receitas, despesas, provisões, depreciações e despesas financeiras vencidas e não pagas. 23 No tocante aos controles internos da empresa, o auditor busca, por meio deles, verificar, também, as autorizações para despesas, o que tende a evitar a duplicidade, até que seja realizado o seu registro final. Desta forma, procura-se identificar a segregação correta das funções. Nesse grupamento de rubricas é que podemos encontrar um grande volume de lançamentos, por isso, exige-se, nessa análise, um maior tempo do auditor, a fim de que sua realização seja bem-feita. Essas análises podem ser efetuadas em um ou dois meses antes do encerramento do exercício, uma vez que, a maior parte das despesas já teria sido realizada, ficando os meses não auditados sujeitos a um exame realizado de forma complementar. Desta forma, realizam-se revisões analíticas, que comparam os valores com os de exercícios anteriores e ao longo do exercício, de forma a verificar sua coerência e, ainda, analisam-se suas variações. Caso ocorram grandes disparidades, procede-se a uma investigação mais profunda, buscando as causas do fato, até que se possa certificar sua correção. Quanto às contas referentes a operações com diretores, gerentes e pessoal interno, envolvendo descontos, juros ou abatimentos, deve-se proceder um exame com maior profundidade. Em contas, menos sensíveis, permite-se análises por amostragem sem, contudo, desprezar as diferenças relevantes. Outras contas de análise minuciosa são as relacionadas a impostos (como o IPI e ICMS) cujos exames englobam o Livro Razão, as guias de recolhimento, até chegar na conferência dos registros fiscais. As despesas que forem incomuns sempre precisarão ser verificadas, bem como os lançamentos de natureza inversa aos das contas (ou seja, crédito em contas tipicamente devedoras e vice-versa). As contas de estoque precisam ser analisadas não apenas em sua implicação sobre as contas de resultado, mas também em suas contrapartidas com a própria conta de Estoques e, para tanto, o auditor poderá recorrer a registros auxiliares (se os houver) e aos registros da escrita fiscal. Adicionalmente, lançamentos de baixas em títulos caracterizados como incobráveis deverão ser objeto de análise detalhada por parte do auditor, inclusive quanto à sua autorização. Como foi observado, caso necessário, o auditor poderá proceder a auditoria em outras contas da empresa, além das de resultado. 24 O objetivo do processo de auditoria é verificar as contas, patrimoniais ou de resultado, que não foram abrangidas pelos programas apresentados, como também, as que tenham sido encerradas durante o exercício, completando o quadro. As Demonstrações Contábeis refletem a situação patrimonial, financeira e de resultado, e são consequências da escrituração contábil até a data do balanço. Se, nesse meio tempo, devido a ocorrência de fatos posteriores e imprevistos, a situação tiver de ser alterada significativamente o auditor examina tais ocorrências e verifica se há fatos significativos, a ponto de influírem sobre as demonstrações, isto é, se fossem relevantes, deve revelá-los e se possível quantificá-los. A preocupação do auditor é sempre maior quanto aacontecimentos prejudiciais à empresa, devido ao princípio da prudência, mas, obriga-se, também, a avaliar a influência de fatos positivos sobre as demonstrações. 4.2 Contas do Grupo Disponibilidades Deve-se procurar testar os controles internos para decidir a profundidade necessária aos exames que possam permitir julgamentos seguros. Assim, as conciliações bancárias preparadas pela empresa devem ser revisadas, confirmadas diretamente junto aos bancos. O auditor pode atentar para as operações incomuns, uma vez que podem ser descobertos desfalques relacionados a estas contas. Outro aspecto sugerido, é o de efetuar a contagem surpresa da conta Caixa e de outros valores que possam ter liquidez imediata e, desta forma, assegurarem as exclusões ou inclusões, com o intento de permitir a compatibilização do saldo apresentado e a contagem realizada. Após analisar as operações, na busca de possíveis distorções na contagem desses valores, podem ser verificados os saldos contábeis e, utilizando-se o critério de amostragem, proceder ao exame de operações contabilizadas. 4.3 Contas a Receber e Provisão Para Devedores Duvidosos Quando são realizadas auditorias nessas áreas, o auditor busca a apuração da autenticidade das contas, ou seja, se estão representando vendas realizáveis e efetivadas, devoluções, abatimentos, descontos ou ônus sobre esses direitos, além de avaliar o saldo das contas a receber. 25 Além disso, ele pode associar a esse procedimento o exame dos adiantamentos a fornecedores, a funcionários e a duplicatas descontadas. Para tanto, é necessária a verificação dos controles internos, como ponto de partida. Pode ser encontrada, pelo auditor, a existência de duplicatas falsas, ou seja, que não representam uma operação mercantil. Utilizando o método da circularização dos clientes, a partir de uma listagem analítica de todos os títulos a receber, submetidos a testes de conformidade com os registros, o auditor pode encontrar condições suficientes para o seu posicionamento. Quanto à Provisão para Devedores Duvidosos, após a realização das análises consideradas apropriadas, o auditor deverá verificar qual seria o montante cabível para essa provisão, considerando o comportamento histórico da provisão, a antiguidade dos créditos, as informações do departamento de cobrança, incluindo advogados, e os resultados da circularização. 4.4 Estoques Na análise dos estoques, os objetivos da auditoria é assegurar a sua existência física e sua propriedade; examinar os critérios de avaliação em conformidade com os princípios de contabilidade; verificar a existência de ônus sobre os mesmos; julgar se são apropriados para a finalidade da empresa. Desta forma, a auditoria de estoques compreende a realização de inventário físico, acompanhado pessoalmente pelo auditor, verificando a existência dos itens contados e se estes foram inclusos no inventário, não esquecendo a necessidade do “corte” que é o momento em que os registros contábeis, os registros auxiliares e os documentos com eles relacionados, refletem o levantamento do inventário, porque um item pode ser incluído ou excluído a depender deste momento. Assim, diversas vezes, o inventário pode ser realizado antes da data do balanço e, neste caso, verifica-se a grande importância dos controles internos, uma vez que, depois, será realizada uma avaliação de que estão corretos os valores constantes no balanço. Uma vez realizada tal contagem, poder-se-á avaliar a efetividade desses controles. Concluído o trabalho do inventário, no caso de diferenças apuradas apresentarem relevância, deve ser proposto o ajuste no balanço. Finalmente, o auditor deve apurar a razoabilidade do inventário, considerando suas quantidades históricas, 26 procurando identificar variações relevantes, principalmente ao início e ao final do exercício, analisando o lucro bruto e realizando sua comparação com o de exercícios anteriores. 4.5 Investimentos Relevantes Conforme definido na chamada Lei das Sociedades por Ações, o exame dos investimentos relevantes representa os procedimentos a ser em realizados a fim de se verificar a segurança e a lucratividade do investimento, o qual, necessariamente, precisa ser em empresas controladas (onde há o predomínio nas decisões administrativas) ou coligadas (investimento relevante, porém não predominante). 4.6 Ativo Permanente, Diferido e Imobilizado Nesse caso, a auditoria, a respeito do imobilizado consiste em constatar a existência dos bens, sua posse e propriedade, bem como a existência de ônus sobre esses bens. Consiste, também, no exame de sua apropriação em custos via depreciações; sua classificação contábil, consideradas a natureza, vida útil e utilização dos mesmos e na avaliação dos controles internos para os bens do ativo imobilizado. Além do imobilizado, estão incluídas, no campo de exame, as contas de depreciação, retificadoras do ativo, cuja finalidade é adequar o valor dos ativos ao desgaste pelo tempo e uso. 4.7 Passivo Circulante e Exigível a Longo Prazo Corresponde à verificação, por parte do auditor, da correta contabilização das obrigações da empresa, principalmente em relação a Fornecedores e Contas a Pagar. Sendo primordial, novamente, é fundamental a análise antecipada do controle, pois por tratar de autorização para registro e pagamento devem estar adequadamente demonstradas no Balanço. Assim, tal análise compreende todo o passivo exigível da empresa, devendo- se em a avaliação dos controles internos atentar para pagamentos eventuais, sistemáticos ou em duplicidade e para omissões de passivos. Caso tais controles sejam ineficientes, os procedimentos deverão ser ampliados e aprofundados, do 27 contrário, tais exames podem ser realizados até cerca de dois meses antes do encerramento do exercício com base em balancete. Além disso, o auditor precisa examinar contas antigas que não foram baixadas, contas canceladas durante o exercício, devoluções não convincentes e contas com saldos devedores, circula rizando as contas que apresentem tais evidências. As conferências, as divergências, os ajustes propostos, enfim, todos os trabalhos efetuados serão anotados na listagem e devem integrar os papéis de trabalho, que servirão de base para formar a opinião do auditor. 4.8 Provisão para o Imposto de Renda Nesse caso, o auditor pode rever todo o cálculo do Imposto de Renda, constituindo-se em uma revisão dos procedimentos de contabilização de operações, sendo, portanto, fundamental reforço na auditoria procedida. Apesar de, representar importante teste final aos procedimentos realizados, traz como dificuldade as alterações na legislação relativa ao tributo. 4.9 Patrimônio Líquido O exame do Patrimônio Líquido não abrange apenas aos lançamentos contábeis, mas, também, os livros societários, os estatutos sociais e as alterações, as Atas de Assembleias Gerais e das reuniões de diretoria e/ou do Conselho de Administração. Em caso de integralização de capital por bens, a análise se estende ao laudo de avaliação dos bens, com a sua reavaliação espontânea. Nesses casos, a auditoria realiza a organização de Pasta Permanente, com todos os elementos necessários, a fim de demonstrar a evolução do Capital e o quadro demonstrativo da evolução, além da movimentação das contas do Patrimônio Líquido. Em tais contas, as movimentações são precedidas de deliberações da Assembleia Geral de Acionistas, do Conselho de Administração ou da Diretoria. 28 BIBLIOGRAFIA _________, Láudio Camargo. Contabilidade tributária. São Paulo: Atlas, 2003. _________. Simples Nacional. São Paulo: Atlas, 2008. BASTOS, Rui M. P. C. Auditoria tributária: uma abordagem conceitual. 2006. BORGES, Humberto Bonavides. Planejamento tributário: IPI, ICMS, ISS e IR. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2006. COSTA, Carlos Baptista. Auditoria Financeira: teoriae prática. 7. ed. Lisboa: Rei dos Livros, 2000. 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Site de pesquisa: http://www.receita.fazenda.gov.br 30 5 LEITURA COMPLEMENTAR A auditoria tributária como instrumento otimizador da receita própria municipal: a experiência do município de Vitória da Conquista Autor: Alexssandro Campanha RESUMO A grande maioria dos municípios brasileiros apresenta a seguinte realidade, a saber, são quase totalmente dependentes dos repasses e transferências feitos pelos seus respectivos estados e pelo governo federal. Estudos têm revelado que as receitas próprias de boa parte dos municípios representam apenas 10% (ou menos) do total de suas receitas. E esta dependência está relacionada muitas vezes com a ausência de uma estrutura adequada de auditoria e fiscalização tributária que possa otimizar a arrecadação própria de impostos e taxas. Perdura a visão equivocada de que a realização de gastos com a fiscalização constitui-se numa despesa e não investimento e qualquer valor despendido que venha a implicar um aprimoramento dos trabalhos e uma fiscalização mais eficiente pode repercutir em desgaste político. Vitória da Conquista, no sudoeste do estado, destaca-se como um importante município baiano que, desde o ano 2000, passou a realizar investimentos em auditoria e fiscalização tributária. Palavras-chave: Auditoria Tributária. Investimento Público. Incremento da Receita. Introdução Não há dúvidas de que o uso da auditoria nas organizações é um importante instrumento para se avaliar o desempenho da gestão em relação aos planos elaborados para um determinado período (ARAÚJO, 2008, p. 25; PEREZ JUNIOR, 1998, p. 15). Uma grande preocupação se concentra, entretanto, numa reduzida importância que se dá à auditoria, do ponto de vista prático e até mesmo teórico, quando a organização envolvida é uma entidade pública em sua típica missão de auditar as organizações empresariais para verificar o correto recolhimento dos impostos e contribuições (auditoria tributária ou fiscal) que financiarão os programas 31 governamentais destinados a atender às demandas da sociedade com educação, saúde, segurança pública, infraestrutura e assim por diante (CREPALDI, 2002, p. 24). Muitos, talvez, ao iniciar esta leitura podem achar estranho alguém se interessar por esta temática, principalmente, diante da elevada carga tributária que assola, historicamente, as empresas no brasil (CARLIN, 2008, p. 34-38). Entretanto, a grande questão que este artigo propõe não é justificar ou criticar a elevada carga tributária imposta para tentar, talvez, promover uma mudança, pois a solução para essa complexa realidade ultrapassa as fronteiras de uma simples discussão acadêmica. Mais importante e preocupante do que isso é perceber a existência de uma infinidade de empresas que utilizam de artifícios fraudulentos para não cumprirem as suas obrigações tributárias (que é dever de todos) e, tirando proveito da situação, atuam no mercado de forma desigual e desonesta, enquanto o Estado, principalmente na figura dos municípios, assiste impotente a tamanha injustiça. Nesse sentido, a importância de se discutir a realização de investimentos em auditoria e fiscalização tributária se justifica na medida em que o aprimoramento do Estado nessa área contribuirá, decisivamente, para a diminuição de um grande problema que assola o Brasil e que se chama sonegação fiscal. A sonegação é ruim para o Estado, que arrecada menos e consequentemente diminui o seu poder de ação na sociedade. É ruim também para aquelas empresas que pagam corretamente seus tributos, uma vez que não conseguem, muitas vezes, encontrar alternativas para tornar seus produtos e serviços cada vez mais competitivos e com menores preços, em função do grande impacto que a carga tributária exerce sobre os seus custos (CARLIN, 2008, p. 39). O investimento contínuo em auditoria tributária fará com que a fiscalização tenha as condições técnicas, operacionais e legais para descobrir as possíveis fraudes e sonegações e, quando necessário, impor as penalidades cabíveis para o correto ajustamento de conduta e promoção da igualdade (princípio constitucional) e da justiça fiscal. Sabe-se que a receita própria de qualquer ente público (federal, estadual ou municipal) constitui-se em importante fonte de recursos para o atendimento de necessidades da população (MACHADO, 1998, p. 26). Tal importância está diretamente relacionada à autonomia que o poder público terá para gastar esses recursos (receitas próprias), uma vez que boa parte dos recursos recebidos de outros entes, mediante transferências constitucionais ou voluntárias, cria vinculações quanto aos gastos e coloca em jogo, muitas vezes, a eficácia, a eficiência e a efetividade de 32 algumas políticas públicas que, elaboradas de acordo com a vontade unilateral de alguns grupos políticos, principalmente no âmbito federal ou estadual, não contemplam a legítima necessidade ou vontade da população diretamente interessada. Ao analisar o cenário brasileiro no que diz respeito às receitas públicas municipais constantes de seus orçamentos, uma preocupante realidade se apresenta: a quase que completa dependência dos municípios, especialmente os de pequeno porte, dos repasses e transferências feitas pelos estados e pelo governo federal. Estudos realizados pelo pesquisador em alguns municípios baianos têm revelado que as receitas próprias dessas localidades (IPTu, IssQN, ITbI e as diversas taxas municipais) representam, com algumas pequenas variações para mais ou para menos, 10% do total de suas receitas e quase 90% (ou mais) dos recursos utilizados derivam de repasses e transferências dos governos estadual e federal. Uma análise bastante superficial sobre tal situação aponta que é confortável para os municípios a manutenção dessa configuração orçamentária e financeira. No entanto, muitas vezes, os fatores que levam a essa dependência estão mais relacionados à situação econômica de cada município (pequena capacidade para produzir riqueza e consequentemente arrecadar tributos) do que a qualquer outro elemento. Por outro lado, nem sempre essa situação pode ser considerada como a única causa para a tão evidente e extraordinária dependência de outros entes públicos. Diversas visitas realizadas pelo pesquisadora algumas prefeituras do estado da Bahia, em virtude de assessorias prestadas na área tributária, revelaram que boa parte dessas prefeituras mantém quase que a totalidade de suas receitas na dependência exclusiva dos governos estadual e federal por não contarem com uma estrutura de auditoria e fiscalização tributária adequada que possa otimizar, de alguma forma, a arrecadação própria de impostos e taxas municipais. Os problemas vão desde falhas gravíssimas nas legislações tributárias dessas localidades até o despreparo do corpo funcional de agentes e auditores fiscais (quando existem); falta de uma adequada estrutura física para a execução das auditorias; situação fiscal e cadastral completamente desatualizada, o que implica dificuldades para a elaboração de um eficiente planejamento de fiscalização, além das constantes ingerências (do ponto de vista político) que tiram a autonomia do departamento de fiscalização. E mais: a ausência de conhecimentos em Direito Tributário e Contabilidade, em rotinas e procedimentos específicos de auditoria e fiscalização. 33 Para piorar ainda mais a situação apresentada, perdura a visão equivocada de que a realização de gastos com fiscalização representa uma despesa e não, necessariamente, um investimento. Qualquer valor despendido para o setor de auditoria e fiscalização tributária que implique um melhor aprimoramento dos trabalhos não é visto, pelo menos na prática, com bons olhos pelos gestores na medida em que uma presença mais forte da fiscalização nas empresas pode acarretar desgaste político. É necessário que os gestores públicos entendam que as suas secretarias de finanças e, mais especificamente, os setores responsáveis pela fiscalização tributária são departamentos estratégicos que carecem de investimentos permanentes em estrutura e capacitação, e darão, em certa medida, a garantia de um fluxo contínuo, e por que não dizer crescente, de uma parte significativa dos recursos necessários para a manutenção e efetivação de alguns programas governamentais, ao contrário de outras secretarias de governo cujo objetivo é apenas a utilização dos recursos. Diante disso, não resta dúvida de que a realização de investimentos em auditoria e fiscalização tributária se apresenta como uma importante alternativa para aqueles gestores comprometidos com a promoção da igualdade e justiça fiscal. Este artigo propõe, além de discutir teoricamente alguns aspectos importantes sobre auditoria e especificamente a auditoria tributária, verificar os resultados que investimentos realizados em auditoria e fiscalização tributária podem trazer para o incremento da receita pública de um determinado município baiano, localizado no sudoeste do estado. Auditoria tributária: conceitos e características especiais Discorrer sobre auditoria tributária exige, antecipadamente, algumas reflexões sobre o verdadeiro sentido e significado da palavra auditoria. Derivado do latim audire, que significa ouvir (SÁ, 2002, p. 23; ARAÚJO, 2008, p. 16), o termo representa com bastante propriedade o que vem a ser a auditoria em sua essência, na medida em que a atitude de ouvir exige do auditor (ouvinte ou ouvidor) a capacidade para perceber determinados detalhes que fogem, muitas vezes, à simples atitude de verificar ou examinar. É ir além dos documentos, dos dados, dos números, dos objetos e até mesmo das pessoas para perceber e, assim, entender ou explicar as relações de causa e efeito entre as diversas atividades desenvolvidas em uma organização (pública ou privada) e aquilo que fora estabelecido antecipadamente no âmbito de seu 34 planejamento estratégico ou operacional. Somente após isso, é que se pode avaliar a eficácia e eficiência das atividades realizadas (ANDRADE FILHO, 2007, p. 1). Apesar de não ser um termo de uso exclusivo da contabilidade, aplicado em outras diferentes atividades, auditoria é uma especialização contábil voltada para testar a eficiência e eficácia do controle patrimonial implantado, englobando, nessa missão, a verificação de documentos, livros e registros com características controladoras, a obtenção de evidências de informações de caráter interno e externo que se relacionam com o controle patrimonial, a exatidão dos registros e as demonstrações deles decorrentes (ATTIE, 1998, p. 27). É o levantamento, estudo e avaliação sistemática de transações, procedimentos, operações, rotinas e demonstrativos financeiros de uma entidade cujo objetivo é expor uma opinião sobre a propriedade de tais informações e assegurar que todas elas representam adequadamente a posição patrimonial e financeira de acordo com os princípios de contabilidade (CREPALDI, 2002, p. 23). A auditoria é, na visão de Araújo (2008, p. 15), a comparação imparcial entre o fato concreto e o desejado, com o intuito de expressar uma opinião ou de emitir comentários, materializados em relatórios de auditoria. É uma tecnologia, como diria Sá (2002, p. 21), que se utiliza da revisão e da pesquisa para fins de opinião e orientação sobre determinadas situações (patrimoniais) de empresas e instituições, por meio da utilização de procedimentos específicos (procedimentos de auditoria) para colher determinadas evidências sobre as informações constantes dos relatórios ou documentos auditados (ALMEIDA, 2003, p. 55) e, assim, oferecer segurança e a garantia necessárias de que administradores, proprietários, financiadores e até mesmo o fisco necessitam (CREPALDI, 2002, p. 24). Almeida (2003, p. 25) explica que a auditoria surgiu: [...] como parte da evolução do sistema capitalista. No início as empresas eram fechadas e pertenciam a familiares. Com a expansão do mercado e o acirramento da concorrência, houve a necessidade de a empresa ampliar suas instalações fabris e administrativas, investir no desenvolvimento tecnológico e aprimorar os controles e procedimentos internos em geral, principalmente visando à redução de custos e, portanto, tornando mais competitivos seus produtos no mercado. Entretanto, para processar todas essas mudanças seria necessário um volume de recursos impossível de ser obtido por meio das operações lucrativas da empresa ou do patrimônio de seus 35 proprietários. Por conseguinte, a empresa teve de captar esses recursos junto a terceiros, [...] abrindo seu capital social para novos acionistas. No entanto, esses futuros investidores precisavam conhecer a posição patrimonial e financeira, a capacidade de gerar lucros e como estava sendo efetuada a administração financeira dos recursos da empresa. [...] Como medida de segurança contra a possibilidade de manipulação de informações, os futuros investidores passaram a exigir que [...] demonstrações fossem examinadas por um profissional independente da empresa e de reconhecida capacidade técnica. Para Franco e Marra (2000, p. 29), embora a auditoria não tenha por objetivo principal a descoberta de fraudes, erros ou irregularidades praticadas por administradores ou funcionários, mas tão somente certificar a veracidade dos relatórios e demonstrativos patrimoniais e financeiros preparados por uma determinada empresa (CREPALDI, 2002, p. 23), ela frequentemente apura fatos como esses mencionados por Franco e Marra. E, em função dessas suas características, diversas são as aplicabilidades que se pode dar e inferir em relação à auditoria. Araújo (2008, p. 21-22), ao tratar sobre classificação da auditoria, muito apropriadamente a dividiu em três grupos principais: quanto ao campo de atuação (governamental e privada); quanto à forma de realização (interna e externa) e quanto aos objetivos dos trabalhos (contábil, operacional e integrada). Acontece que, com o grande desenvolvimento econômico e com o crescimento elevado do número de empresas e atividades nos ramos industrial, comercial e de prestação de serviços que marcariam as últimas décadas no Brasil, umacomplexa rede de legislações, especialmente tributárias, precisou ser criada para regulamentar e disciplinar essa nova (não recente) realidade, o que passou a colocar em risco a sobrevivência de boa parte das empresas se o acompanhamento contínuo do cumprimento das obrigações tributárias (principal e acessória) não fosse gerenciado. Muitas empresas, então, apesar do impacto negativo dos tributos no preço final de seus produtos e serviços (CARLIN, 2008, p. 39), resolveram assumir fielmente a tarefa de financiar o Estado, algumas, entretanto, recorrendo inteligentemente a instrumentos de planejamento tributário. De maneira diversa destas, muitas outras passariam a adotar um comportamento não exemplar: o de criar artifícios ilegais e fraudulentos para fugir da tributação imposta, seja como forma de garantir a sobrevivência, seja para tirar proveito da situação, concorrendo desonestamente no mercado. 36 Diante de uma iminente batalha em que o fisco passaria a visar à otimização da arrecadação a qualquer custo e o contribuinte à redução ao máximo da quantia a ser recolhida sob a forma de tributos, a auditoria passaria a experimentar um processo de evolução ou especialização que culminaria com a criação de procedimentos específicos de exame quanto a aspectos tributários (CARLIN, 2008, p. 19). E, assim, tanto o fisco quanto o contribuinte se beneficiariam com essa nova ferramenta que passaria a ser conhecida como auditoria tributária (GUIMARÃES, 2001 apud CARLIN, 2008, p. 26). Para o fisco, seria uma forma de verificar o correto recolhimento dos tributos de sua competência e para o contribuinte uma maneira de prevenir autuações fiscais ou indicar alternativas de redução da carga tributária, quando fosse o caso (ANDRADE FILHO, 2007, p. 2). Em função dos objetivos deste trabalho, merecerá destaque a auditoria tributária sob a ótica da fazenda Pública. Uma das principais normas legais brasileiras, que institui a responsabilidade da execução da auditoria tributária por parte do poder público, encontra-se no Código Tributário Nacional (Lei 5.172 de 25 de outubro de 1966), especialmente em seu art. 142 que, conjugado com os artigos 194 a 200 cujo tema é a Administração Tributária, estabelecem regras quanto a procedimentos de fiscalização a serem adotados pelas autoridades administrativas. O referido artigo 142 estabelece que compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, entendendo como lançamento o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo o caso, propor aplicação da penalidade cabível (MACHADO, 1998, p. 122). Veja que o Código Tributário Nacional usa de uma sutileza extraordinária quando determina que a constituição do crédito tributário seja feita pelo lançamento do tributo. Na tentativa de conceituar o que seria lançamento, o Código Tributário Nacional deixa evidente, também, alguns procedimentos de fiscalização que corresponderiam ao que se entende por auditoria tributária (ou fiscal), a saber, todo procedimento tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação, a matéria tributável, o montante do tributo devido, o sujeito passivo e a penalidade cabível quando for o caso. Dessa maneira, conceituar auditoria tributária sob a ótica da fazenda pública se torna uma tarefa menos complexa, pois tomando como base os princípios e fundamentos estabelecidos pelo CTN para o lançamento, o conceito de 37 auditoria tributária englobará todos os procedimentos realizados por servidores públicos investidos na função fiscal que tenham por finalidade verificar o correto cumprimento da legislação tributária pelos contribuintes e responsáveis. Perez Junior (1998, p. 15) ao abordar sobre os tipos de auditoria discorre que ela pode ser classificada conforme o quadro comparativo abaixo. Chamamos a atenção para as características que o autor aponta para a auditoria tributária ou fiscal, denominada por ele de Auditoria da Fazenda (federal, estadual e municipal): Fonte: Perez Junior (1998, p. 15) Complementando o Quadro 1, que versa sobre a classificação da auditoria e suas principais características, Reis (2004) ao discorrer especificamente sobre auditoria fiscal acrescenta que: A Auditoria ganhou foro de importância no âmbito da fiscalização das receitas tributárias desde que o governo federal, espelhando-se nas atividades de fiscalização tributária do governo norte-americano, resolveu mudar a sua forma de agir. Estabelece-se agora a Auditoria Fiscal, um ramo, pode-se dizer, especializado da 38 Auditoria Geral, cujo objetivo é buscar elementos evidentes de que as entidades empresariais cumprem com a normas tributárias vigentes no país. A novidade se espalha e, hoje, praticamente, todos os governos estaduais possuem as suas equipes de auditores fiscais, cuja finalidade é, em nome do respectivo governo estadual verificar junto àquelas entidades empresariais o cumprimento das normas tributárias de competência do Estado. Conquanto a sua função principal seja a de buscar elementos evidentes do cumprimento ou não das normas tributárias vigentes, a Auditoria fiscal não dispensa os demais elementos que possam ajudar na investigação e na possibilidade de constatar a existência de ações fraudulentas e até a sonegação de informações que justifiquem uma perícia fiscal. Com essa finalidade, caberá à administração pública, na figura de seus auditores fiscais, a realização de procedimentos específicos de auditoria que objetivem a verificação do cumprimento por parte de cada contribuinte das normas tributárias estabelecidas no âmbito de cada poder (municipal, estadual e federal). Carlin (2008, p. 27), ao tratar dos procedimentos de auditoria aplicáveis aos tributos, apresenta cinco procedimentos principais, a saber: Inspeção; Observação; Investigação e confirmação; Cálculo e Revisão analítica. No que diz respeito à inspeção, Carlin (2008, p. 27) discorre que tal procedimento está diretamente relacionado ao exame dos registros contábeis e documentos dos ativos e passivos tributários. Quanto à observação, o autor esclarece que essa etapa diz respeito ao acompanhamento dos processos e aplicabilidade técnica da legislação. Investigação e confirmação referem-se à obtenção de informações internas e externas perante terceiros, se estendendo a outras empresas ou instituições como forma de avaliar a veracidade das informações prestadas ao fisco (circularização). O cálculo corresponde à conferência da exatidão dos valores pagos e recolhidos aos cofres públicos e a revisão analítica à verificação do comportamento de valores significativos e sua relação com as bases de cálculos, atividade empresarial e determinações da legislação tributária correspondente. 39 Vale ressaltar, entretanto, que todos esses procedimentos de auditoria apontados não devem ser realizados pelo fisco apenas com o propósito único de encontrar situações que se configurem como descumprimento da legislação tributária para, a qualquer custo, tentar punir o contribuinte pela aplicação da lei (penalização) e seu consequente ajustamento de conduta. É obvio que, não havendo o cumprimento da obrigação tributária (seja ela principal ou acessória) em que se justifique a aplicação de multas e penalidades, caberá ao poder público fazer valer a legislação pela lavratura de autos de infração. Todavia, muito mais importante do que auditar para penalizar (auditoria tributária punitiva) é auditar para educar (auditoria tributária preventiva). Quando o fisco incorpora essa ideia e passa a desenvolver ações de orientação, monitoramento e acompanhamento contínuo da vida dos contribuintes, uma importante
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