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RESENHA Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina - Aníbal Quijano

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DISCIPLINA TEORIAS II- 2020-1
PROFESSOR DR. RAMON BLANCO
MESTRADO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS -PPGRI
 
NOME DA/DO ESTUDANTE: Marinalva de Lima	
QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires, Colección Sur Sur, 2005a, pp.107-130. 
Resenha 
O objetivo principal deste trabalho é o de apresentar o pensamento de Aníbal Quijano, intelectual peruano, sociólogo e pensador humanista, conhecido por ter desenvolvido o conceito de "colonialidade do poder". O artigo de análise será o clássico: “A colonialidade do Poder, Eurocentrismo e América Latina. O argumento central desse artigo acadêmico, produzido no auge do período neoliberal da década de 90 do século XX, é colocar algumas questões teoricamente necessárias sobre as implicações da colonialidade do poder com relação à história da América Latina.
O artigo foi estruturado em três partes. A primeira seção traz como tópico principal “A América e o novo padrão de poder mundial”, na segunda seção o tópico central é “Colonialidade do poder e eurocentrismo” e no terceiro ponto trata do “Eurocentrismo e experiência histórica na América Latina”.
Em um primeiro momento, o texto aponta que desde o século XVIII, com a construção do Eurocentrismo, a partir do seio da modernidade e da racionalidade, foi-se afirmando a mitológica ideia de que a Europa e os europeus eram o nível mais avançados no caminho linear, unidirecional e contínuo da espécie. Quijano coloca em sua pesquisa, a categoria Raça como básica para entender a codificação da relações entre europeus e não europeus e a torna central para compreender a formação das estruturas de poder, realiza uma associação entre essa categoria e à natureza dos papéis e lugares na nova estrutura global de controle do trabalho.  
Ainda, segundo o autor, a ideia de raça foi criada no século XV e XVI e a sua construção não advém de processos naturais e aleatórios, mas sim tem origem em interesses implícitos, pois na classificação racial da população e a velha associação das novas identidades raciais dos colonizados com as formas de controle não pago do trabalho, desenvolveu entre os europeus ou brancos a específica percepção de que o trabalho pago era privilégio dos brancos. Segundo ele, o etnocentrismo colonial e a classificação racial universal, ajudam a explicar por que os europeus foram levados a sentir-se não só superiores a todos os demais povos do mundo, mas, além disso, naturalmente superiores. (p.111)
Nesse sentido, a ideia de raça foi criada como um modo de se operar o processo de supremacia da raça branca, enriquecê-la e gerar lucros e permitir com que esses povos se mantivessem no poder. Assim justifica-se, segundo o autor a existência de escravidão.
Na América a escravidão foi deliberadamente estabelecida e organizada como mercadoria para produzir mercadorias para o mercado mundial e, desse modo, para servir aos propósitos e necessidades do capitalismo. Do mesmo modo, a servidão imposta aos índios, inclusive a redefinição das instituições da reciprocidade, para servir os mesmos fins, isto é, para produzir mercadorias para o mercado mundial. E enfim, a produção mercantil independente foi estabelecida e expandida para os mesmos propósitos. (p.126)
O autor assevera que quando se finaliza formalmente a política do colonialismo, a ideia de que somos livres torna-se uma narrativa que nos é colocada, mas na realidade consubstancia-se como uma farsa, pois passamos a viver sob outro processo de dominação que Aníbal Quijano chama de colonialidade, a partir disso nasce uma nova forma de se operar a ideia de raça.
Para o autor, para que esse modelo opressor e explorador continue operando na América Latina, espaço de onde ele escreve, torna-se necessário uma política de precarização e se estabeleça processos de dependências (politicamente, culturalmente, desenvolvimento e riquezas) com os países da Europa e dos Estados Unidos.
Nessa perspectiva, para que haja a manutenção dessas ideias deve haver exploração, dominação e conflito, elementos que atuam em cinco áreas de convivências sociais: controle do trabalho, de seus recursos e de seus produtos, controle do sexo, de seus recursos e produtos, no controle da autoridade, seus recursos e produtos, no controle da autoridade, seus recursos e produtos, no controle da intersubjetividade.
Ele aponta no texto quais são as instituições hegemônica de existência social: Estado-nação, a família burguesa, a empresa, a racionalidade eurocêntrica. Assim, no controle do trabalho, de seus recursos e de seus produtos, está a empresa capitalista; no controle do sexo, de seus recursos e produtos, a família burguesa; no controle da autoridade, seus recursos e produtos, o Estado-nação; no controle da intersubjetividade, o eurocentrismo. (p.113)
As implicações disso, segundo o autor, é toda estrutura de poder é sempre, parcial ou totalmente, a imposição de alguns, frequentemente certo grupo, sobre os demais. 
Consequentemente, todo Estado-nação possível é uma estrutura de poder, do mesmo modo que é produto do poder. Em outros termos, do modo como foram configuradas as disputas pelo controle do trabalho, seus recursos e produtos; do sexo, seus recursos e produtos; da autoridade e de sua violência específica; da intersubjetividade e do conhecimento. (p.119). 
Para que todo essa narrativa se desenvolva e se perpetue as mesmas estruturas hegemônicas de poder, Quijano propõe a influência do dinamismo de quatro processos: capitalismo, globalização, modernidade e eurocentrismo.
Concluída a contextualização geral de pontos importantes constantes no texto, destaco dois pontos que trazem elementos importantes para repensar como colonialidade do poder influencia a formação societária do nosso continente: em primeiro, a coesão da nacionalidade, típica dos Estados-nacionais europeus, não se realiza na América Latina em função do abismo social estruturante do racismo pós-colonial, estrutural e constitutivo no cotidiano das maiorias. 
Em segundo, quanto a um processo democrático efetivo, apesar de na era pós-Guerra Fria, segundo o autor Kayaoglu (2010) a governança democrática ser necessária para ser membro da sociedade internacional e essa participação também exige a adesão a um novo conjunto de padrões da civilização. A percepção de Quijano sobre isso, nos permite refletir sobre a impossibilidade de implantação desse processo efetivamente nos países latino-americanos, pois as suas ideias permitem o desmonte do mito da democracia racial sustentando que a criação de categorias raciais como indígena, negro e branco é uma exigência do sistema de poder colonial. Nesse mesmo sentido, Gonzalez (2011) assevera que o racismo latino-americano é suficientemente sofisticado para manter negros e indígenas na condição de segmentos subordinados no interior das classes mais exploradas, graças a sua forma ideológica mais eficaz: a ideologia do branqueamento. Transmitida pelos meios de comunicação de massa e pelos sistemas ideológicos tradicionais, ela reproduz e perpetua a crença de que as classificações e os valores da cultura ocidental branca são os únicos verdadeiros e universais (Gonzalez, 2011, p.15)
Partindo dessas premissas apresentadas no texto Clássico de Aníbal Quijano, observa-se que sua leitura  torna-se primordial para a compreensão da política global, pois nos oferece ferramentas importantes, partindo a de uma perspectiva latino-americana , para estabelecer bases para uma proposta epistemológica visando interpretar corretamente as nossas perspectivas e estruturas da nossa sociedade , e assim desviar das armadilhas impostas pelo eurocentrismo, que conforme Kayaoglu (2010) impede que estudiosos de relações internacionais visualizem a integração de sociedades não ocidentais de uma maneira que não envolva coerção, dominação e suposição de superioridade ocidental.  
Desta forma, segundo Teles (2017) por mais que seja possível pontuar o fim formal do colonialismo, oselementos de colonialidade ainda se fazem enraizados na estrutura de poder, sobre as quais os atores das Relações Internacionais pautam suas ações e, não obstante, a raça continua ser um elemento categorizador da sociedade.
Referências
GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afrolatinoamericano. Arcaz: Recursos Educacionais Abertos. 2017.Disponível em: http://arcaz.dainf.ct.utfpr.edu.br/rea/items/show/195. Acesso em: 22 de setembro de 2020.
Kayaoglu, Turan (2010) "Westphalian Eurocentrism in International Relations Theory" International Studies Review.12 (2), 193-217.
TELES, D. B. Raça, poder, colonialidade do ser: repensando a ideia de raça na política externa brasileira. Instituto de Relações Internacionais. PUCRJ. Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2017/relatorios_pdf/ccs/IRI/REL-Daisy%20Bispo%20Teles.pdf. Acesso em: 23 de setembro de 2020.

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