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O Princípio da Anterioridade Tributária

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O Princípio da Anterioridade Tributária
O tributo pode ser definido como obrigação pecuniária devida pelo contribuinte à administração pública e consubstancia-se num crédito tributário desta para com aquele. Ele surge inicialmente quando o fato imponível material subsume-se inteiramente ao fato descrito em lei, fenômeno denominado hipótese de incidência.
O fato material realizado pelo contribuinte deve adequar-se fielmente à hipótese de incidência legal, sob pena de não surgir a obrigação tributária. Esse é entendimento já consolidado e brilhantemente formulado pelo ilustre tributarista Albert Hensel que formulou literalmente: “Só deves pagar tributo se realizas em todos os seus aspectos a hipótese de incidência tributária”.
As hipóteses de incidência tributária devem ser previstas e tratadas em normas jurídicas que devem obrigatoriamente ser eivadas de princípios de estatura constitucional. Esses princípios dando-lhes legitimidade nas suas incidências e aplicabilidades, garantem, antes de tudo, o respeito e a observância aos direitos e às prerrogativas constitucionalmente atribuídas aos cidadãos contribuintes.
A Constituição Federal de 1988 constitucionalizou os principais princípios informadores da atividade tributária da administração pública. Foram-lhe atribuídas prerrogativas para a execução das suas políticas arrecadadoras e ao mesmo tempo impostas limitações, tendo em vista a garantia e defesa do cidadão.
Vários são os princípios constitucionais tributários previstos na vigente Constituição da República. Esses podem ser exemplificados pelos princípios da legalidade (art. 150, I e art. 5º, II), da capacidade contributiva (art. 145, § 1º), da igualdade (art. 150, II), da progressividade (art. 145, § 4º; 150, II; 153, § 4º; 182, § 4º, II), da vedação do tributo com caráter confiscatório (art. 150, IV), da irretroatividade (art. 150, III, “a”), da imunidade recíproca (art. 150, VI, “a”) e pelo princípio da anterioridade (art. 150, III, “b”), objeto deste estudo.
O art. 150, III, “b” da Constituição Federal dispõe que
Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - 
II - 
III – cobrar tributos:
a)
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido 
    publicada a lei que os instituiu ou aumentou.
Eis a literalização do princípio de estatura constitucional da anterioridade tributária. O princípio em estudo é eminentemente de exclusiva aplicação tributária, decorrendo daí uma incontestável obrigação de sua correta observância, visto ser inclusive mandamento que individualiza o Direito Tributário como ramo autônomo da ciência jurídica com seus próprios e exclusivos princípios.
Ao criar ou aumentar um tributo, a lei entra em vigor tendo, porém, suspensa sua eficácia até poder incidir no início do exercício financeiro seguinte. Assim, a lei deve entrar em vigor em um exercício financeiro para só se tornar eficaz no exercício seguinte. No Brasil, o ano fiscal (exercício financeiro) é coincidente com o ano civil, nos termos do art. 34 da Lei 4.320/64. Tem, portanto, seu início em 1º de janeiro e seu fim em 31 de dezembro.
Apesar de vozes contrárias, o princípio da anterioridade não se confunde com o antigo princípio da anualidade previsto no art. 141, § 34, 2ª parte da Constituição Federal de 1946 que, disciplinava a necessidade de prévia autorização orçamentária anual do Poder Legislativo para possibilitar a cobrança dos tributos.
O princípio da anterioridade engloba ainda o princípio da segurança jurídica. O contribuinte tem o direito constitucionalmente assegurado de planejar sua vida econômica e fiscal para cada ano. Para isso é necessária a garantia de que as regras tributárias não serão modificadas dentro de um exercício financeiro para o qual o contribuinte já havia traçado previamente seu planejamento.
Apesar de tais garantias, o contribuinte é freqüentemente surpreendido por abruptas mudanças na legislação tributária no apagar das luzes do exercício financeiro, quando o governo edita leis nos últimos dias do ano para que comecem a viger no ano fiscal seguinte que, começará daí a dois ou três dias. Destarte, esteja a norma obedecendo ao princípio da anterioridade previsto no art. 150, III, “b” da Constituição Federal não me parece razoável tal prática.
Entendo que a anterioridade prevista na Constituição Federal foi disciplinada pelo legislador constituinte originário com o cunho de proteção do contribuinte contra radicais mudanças nas leis tributárias que poderiam ser implementadas pela administração pública. Daí, comungo da idéia de que o prazo dessa anterioridade deve observar não somente a limitação de incidência no mesmo exercício financeiro da publicação da lei, mas também deve observar data limite anual para sua publicação. Essa limitação teria a finalidade de possibilitar o real atendimento ao espírito protetor do princípio da anterioridade.
Vejo que a mitigação constitucional desse princípio previsto no art. 195, § 6º (C.F. 1988) – define a anterioridade de 90 dias para as Contribuições Sociais para a Seguridade Social – deve servir de base para determinar a data anual limite de publicação da lei tributária. De fato, numa interpretação sistêmica da Constituição, uma anterioridade mitigada não pode ser superior à regra da anterioridade cheia do art. 150, III, “b”.
Assim, uma lei tributária deve ser publicada até 90 dias antes do término do exercício financeiro para assim, atender realmente ao espírito protetor do princípio da anterioridade. Dessa forma, a referida lei, além de entrar em vigor no exercício financeiro subseqüente, dará razoável prazo de 90 dias para o contribuinte se adequar ao novo dispositivo.
Vale lembrar que esse prazo de 90 dias é dado pela própria Constituição como um prazo mínimo necessário de vacatio, visto ter sido definido para a exigência das Contribuições Sociais para a Seguridade Social. Devido a seu caráter social relevante, essa contribuição teve a observância da anterioridade reduzida a 90 dias pelo legislador constituinte originário.
Por outro lado, ainda dentro da sistemática dos dispositivos constitucionais, vislumbra-se outro grande equívoco ao fazer uma análise do entendimento vigente atual de que basta a observância da incidência da lei em ano subseqüente ao de sua publicação, não importando a data desta.
A anterioridade nonagesimal (art. 195, § 6º) é mitigação do princípio da anterioridade do art. 150, III, “b”. Assim, o legislador constituinte originário, como já dito anteriormente, reduziu este vacatio legis tributário tendo em vista o relevante caráter social da norma tributária que trata de Contribuições Sociais para a Seguridade Social.
Dessa forma, dentro do entendimento vigente, ocorre o absurdo de uma norma que obedeça à anterioridade mitigada do art. 195, § 6º (noventa dias) tenha vacatio superior ao da norma que obedeça a anterioridade cheia do art. 150, III, “b”. Por esse entendimento, uma norma, por exemplo, que fosse publicada em 30 de dezembro de um ano, entraria em vigor em 1º de janeiro do ano seguinte, tendo obedecido a apenas dois dias de anterioridade. Não obstante, terá sido observado o princípio do art. 150, III, “b” dentro da absurda interpretação fria e assistêmica da norma constitucional.
Assim, ou estabelece-se data limite para a publicação de norma tributária obediente ao princípio da anterioridade do art. 150, III, “b” ou estabelece-se data limite anual para a publicação de norma obediente à noventena do art. 195, § 6º. Isso faria com que leis tributárias relativas a Contribuições Sociais para a Seguridade Social só poderiam ser publicadas até 91 dias antes do final do exercício financeiro para, assim, exercer seu espírito de anterioridade mitigada e eficácia ainda dentro do mesmo exercício financeiro, assumindo seu papel de supressão parcial do princípio do art. 150, III, “b” da Constituição Federal.
Não vejo lógica no entendimento vigente pois, sem dúvidas, não respeita o espírito dos princípios e sistemáticas constitucionais. Dandocontinuidade ao estudo deste princípio em tela, passo a ressaltar que a própria Constituição Federal previu exceções à aplicação desse princípio.
A Carta Magna de 1988 previu no § 1º do art. 150 que aos impostos previstos nos arts. 153, I, II, IV, e V, e 154, II não se aplica a vedação do art. 150, III, “b”. Assim, os impostos sobre importação, sobre exportação, o imposto sobre produtos industrializados (IPI), o imposto sobre operações financeiras (IOF) e os impostos extraordinários na iminência ou no caso de guerra externa não precisam observar o princípio da anterioridade, podendo ser cobrados ou majorados a partir da data da publicação da lei que os instituir ou majorar ou qualquer outra data futura prevista nessa mesma lei.
Ainda, o empréstimo compulsório para atender despesas extraordinárias decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência (art. 148, I) também está dispensado da observância ao princípio em estudo. A Constituição Federal só o exige no caso do empréstimo compulsório do art. 148, II.
Por fim, entendo que as citadas exceções ao princípio da anterioridade são taxativas e insuscetíveis de ampliação quanto às suas hipóteses de incidência, por tratar-se de matéria protetora do cidadão contribuinte, incluída pois dentro do vasto rol de direitos e garantias individuais e coletivas. Caso sejam esses direitos e garantias desrespeitados, além de afrontar o Estado de Direito, eivará o ato desrespeitador de indiscutível e insanável inconstitucionalidade.
Trata-se, sem dúvida, matéria exaurida pelo legislador constituinte originário, insuscetível de mudança, ampliação ou supressão, até mesmo por parte do poder constituinte derivado ou de 2º grau. Apesar disso, a Emenda Constitucional nº 33 criou nova exceção ao princípio da anterioridade em relação ao ICMS sobre importação de combustíveis (nova redação dada ao artigo 177, § 4º, I, “b”), o que é, indubitavelmente, inconstitucional, a meu ver, pelas razões acima expostas.
Os princípios constitucionais tributários são de fundamental importância para a proteção e segurança do cidadão contribuinte. Isso é incontestável. No entanto, não basta a mera previsão constitucional. São imprescindíveis suas corretas observâncias e aplicações, levando-se em conta os seus espíritos protetores e suas exatas interpretações dentro das sistemáticas principiológica e normativa constitucionais.
Anterioridade nonagesimal (noventena)
As contribuições destinadas ao financiamento da seguridade social só poderão ser exigidas
depois de decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou
modificado (CF, art. 195, § 6º). Trata-se, aqui, do princípio da anterioridade nonagesimal,
também conhecido como princípio da noventena ou da anterioridade mitigada.
As modificações que estão sujeitas à anterioridade nonagesimal são as que representem
uma efetiva onerosidade para o contribuinte. As modificações menos onerosas ao
contribuinte podem ser aplicadas desde a entrada em vigor da lei nova.
O princípio da anterioridade nonagesimal tem como objetivo proteger o contribuinte contra
o fator surpresa. A noventena é o tempo necessário para que o contribuinte ajuste seu
planejamento financeiro, visando o pagamento da contribuição.
Para os demais tributos, com algumas exceções, além da anterioridade nonagesimal, aplicase
também o princípio da anterioridade anual (ou anterioridade do exercício). De acordo
com o princípio da anterioridade anual, os tributos não podem ser cobrados no mesmo
exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou (CF, art.
150, III, “b”). Para as contribuições destinadas à seguridade social, o princípio da
anterioridade anual não se aplica. Para estas contribuições, aplica-se apenas a anterioridade
nonagesimal.
O STF entende que a lei que se limita simplesmente a mudar o prazo de recolhimento da
contribuição social (ou de qualquer outro tributo) não se submete ao princípio da
anterioridade nonagesimal (também não se submete à anterioridade anual). Para firmar este
entendimento, o STF editou a súmula nº 669: “norma legal que altera o prazo de
recolhimento da obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade”. Neste
mesmo sentido, confira-se o seguinte julgado da Suprema Corte:
“EMENTA: - DIREITO CONSTITUCIONAL, TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL
CIVIL. PIS. FINSOCIAL. PRAZO DE RECOLHIMENTO. ALTERAÇÃO PELA
LEI Nº 8.218, DE 29.08.91. ALEGADA CONTRARIEDADE AO ART. 195, § 6º,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. Examinando questão idêntica, decidiu a 1ª
Turma: "Improcedência da alegação de que, nos termos do art. 195, § 6º, da
Constituição, a lei em referência só teria aplicação sobre fatos geradores ocorridos
após o término do prazo estabelecido pela norma. A regra legislativa que se limita
simplesmente a mudar o prazo de recolhimento da obrigação tributária, sem
qualquer repercussão, não se submete ao princípio da anterioridade. Recurso
extraordinário conhecido e provido". 2. Precedentes de ambas as Turmas, nos quais
têm sido rejeitados os argumentos em contrário, ora renovados pela agravante. 3.
Agravo improvido” (STF, RE-AgR 274949/SC, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ
27/03/1998, p. 514).
1
 Autor do livro Manual de Direito Previdenciário, publicado pela Editora Ferreira.
www.editoraferreira.com.br - 1 - Hugo Goes 
Anterioridade nonagesimal (noventena)
Questão polêmica, a respeito da aplicação da anterioridade nonagesimal, é a data de início
da contagem dos 90 dias no caso de uma contribuição para a seguridade social ter sido
majorada por Medida Provisória. Poderíamos entender que a noventena só seria iniciada a
partir da data da publicação da lei de conversão. Mas o STF entende que “o prazo
nonagesimal (CF, art. 195, § 6º) é contado a partir da publicação da Medida Provisória que
houver instituído ou modificado a contribuição” (STF, RE-AgR 453490/SP, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, 1ª T, DJ 10/11/2006, p. 817).
Um forte abraço e sucesso nos estudos

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