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Direito Constitucional

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Direito Constitucional
Capítulo I
Definição, objeto e fontes do Direito Constitucional 
Noção e objetivo:
O direito constitucional é o conjunto de princípios e normas jurídicas que constituem uma determinada coletividade política, estabelecem os seus princípios básicos, enunciam os seus fins e atribuições, definem os direitos fundamentais das pessoas face ao poder público, regulam a organização política do estado, incluindo o elenco dos seus órgãos, o modo da sua eleição ou designação, as suas competências e o seu funcionamento. Podemos falar de direito constitucional desde que começaram a existir normas escritas ou consuetudinárias especialmente dedicadas à organização do poder político.
O direito constitucional encontra-se reunido numa lei especial, a Constituição, também conhecida como ‘’lei suprema’’, ‘’lei fundamental’’ ou ‘’lei básica’’. O direito constitucional é antes demais o direito consubstanciado na constituição de cada país. 
Fontes do direito constitucional: A principal fonte do direito constitucional é a própria constituição, ou seja, a lei básica do estado, dotada de uma unidade formal, ordenada e consistente. O direito constitucional pode, por isso, aparecer vertido num conjunto maior ou menor de leis constitucionais ou costumes constitucionais avulsos (“constituição dispersa”). 
Fonte autónoma de Direito Constitucional é ainda as normas extraconstitucionais “recebidas” pela constituição. Também o costume pode ser uma fonte do Direito Constitucional. No que diz respeito às “fontes auxiliares”, a jurisprudência constitucional pode assumir uma grande relevância, no entanto, a vocação dos tribunais não é a de criar normas, mas sim de as aplicar.
Divisões e ramos do Direito Constitucional:
Podemos distinguir quatro ramos fundamentais no Direito Constitucional, o Direito Político ou Direito do Estado, que tem por objeto a constituição política em sentido restrito, que respeita a organização e funcionamento dos órgãos do estado, a constituição dos direitos fundamentais, que dá expressão aos direitos e liberdades dos particulares perante o estado, a ordem económica e social, que tem por objeto as normas constitucionais relativas à esfera económica e social, a justiça e o processo constitucional, que se referem ao regime da fiscalização da constitucionalidade da atividade do estado e ao processo nos tribunais constitucionais ou com funções constitucionais. No caso português, estas divisões do Direito Constitucional correspondem respetivamente às partes I, II, III, e IV da CRP.
O Direito Constitucional como direito público: O Direito Constitucional visa regular a esfera pública e estão em causa os mais iminentes interesses públicos, pois trata-se de relações marcadas pelo poder e autoridade pública em relação aos particulares (relações de autoridade e de subordinação). As constituições modernas incluem princípios e normas sobre áreas do direito privado, como por exemplo, o direito laboral ou direito civil. Assim, o Direito Constitucional surge como ‘’nível superior’’ de toda a ordem jurídica. 
O Direito Constitucional e outros ramos do Direito: Nenhum ramo da ordem jurídica é alheio à constituição, e por isso, ao Direito Constitucional.
A constituição insere os princípios fundamentais das outras esferas do Direito, desde o Direito administrativo ao Direito civil, passando pelo Direito penal, pelo Direito do trabalho, e outros
Grande parte do Direito público da economia é direito constitucional da economia. 
O próprio Direito civil, é hoje incompreensível sem uma leitura constitucional. Para essa “constitucionalização do direito civil” contou não somente a garantia constitucional dos direitos pessoais como direitos fundamentais, mas também e sobretudo a consagração da eficácia dos direitos fundamentais nas relações entre privados, também conhecida como “eficácia horizontal dos direitos fundamentais” (artigo 18º, CRP). Direito civil constitucional. Onda há direito, há direito constitucional. 
A ciência do Direito Constitucional: A expressão “direito constitucional”, não designa somente o sistema normativo constitucional, também designa o saber que tem por objeto, a disciplina que o estuda, em suma, a ciência do direito constitucional.
1º sentido: sentido normativo, direito constitucional é aquilo que está nas constituições e demais fontes de direito constitucional.
2º sentido: disciplina ou ramo do saber: o direito constitucional é aquilo ‘’que os constitucionalistas fazem’’, designadamente o estudo dos princípios e normais constitucionais, a sua interpretação, integração, sistematização e explicação. A ciência do direito constitucional compreende também diversos ramos, o direito constitucional geral (estudo da constituição e da ordem constitucional), o direito constitucional comparado (estudo ‘’transversal’’ das instituições constitucionais dos diversos países ou ‘’famílias’’ constitucionais, confrontando as diferentes soluções em cada área) e o direito constitucional nacional (estudo da constituição de cada país). 
Importante:
Os atos legislativos estão presentes no artigo 112\1 e são:
· As leis da assembleia da república (art.164º e 165º) que são as leis materiais, as leis orgânicas (valor reforçado), as leis de bases (valor reforçado) e as leis de autorização (valor reforçado). 
· Os decretos-leis do Governo (art.198º) que são os decretos-leis exclusivos, os decretos-leis concorrentes, originários ou primários, os decretos-leis autorizados e os decretos-leis de desenvolvimento
· Os decretos legislativos regionais (art.227º e 228º) que são o decreto legislativo regional exclusivo, o decreto legislativo regional autorizado e o decreto legislativo regional de desenvolvimento. 
Leis orgânicas: Tal como nos refere o artigo 112º\3 as leis orgânicas têm valor reforçado, isto é, carece de aprovação por maioria de dois terços (art.168º\6), são aquelas que por força da constituição sejam pressupostos normativo necessário de outras leis (leis de bases, de autorização e estatutárias), devem ser respeitadas. Uma lei é reforçada relativamente a outra quando pode derrogar esta sem por ela ser suscetível de ser derrogada. 
Matérias da lei orgânica: Como nos evidencia o art.166º\2 revestem a forma de lei orgânica os atos previstos nas alíneas a) a f), h), j), primeira parte da alínea l), q), t) e do artigo 164º e no artigo 255º. 
Funções políticas: 
· Proteger o direito das minorias, no jogo eleitoral
· Consenso alargado para a disciplina do direito constitucional
· Impor uma maioria qualificada na definição e organização da defesa nacional e disciplina das forças armadas
· Proteger a constituição e os direitos fundamentais nos casos de estado de sítio e emergência
· Controlar o regime do sistema de informações da república e do segredo de estado
· Assegurar o estatuto constitucional dos partidos e associações políticas
· Dar transparência e reforçar a legalidade orçamental ao regime de finanças regionais e locais
· Garantir o apoio parlamentar qualificado á criação de regiões administrativas
Caraterísticas: 
· São leis ordinárias da Assembleia da República 
· São leis reforçadas (art112º\3)
· Vinculadas ao princípio da tipicidade- só são orgânicas as leis que a constituição considera como tais
· Princípio da exclusividade – o legislador orgânico (a AR) é competente em termos exclusivos (reserva total ou absoluta). 
Forma e procedimento específico: além dos requisitos procedimentais de qualquer lei da AR, as leis orgânicas:
São obrigatoriamente votadas na especialidade pelo plenário (art.168º\4) - reserva de plenário
· Aprovadas por maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções (art.168º\5)
· Exigem uma maioria de 2\3 dos deputados presentes desde que superior á maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções (art.136º\3) para superação do veto político do presidente da república
· Forma especial- forma de lei orgânica (art.166º\2) as leis orgânicas são identificadas como tal e têm uma numeração própria (por exemplo, lei orgânica nº1-A\2009 de 7 de julho)
Regime especialde fiscalização preventiva, sobretudo quanto ao pressuposto de legitimidade processual ativa, assim tem legitimidade o presidente da república, o primeiro-ministro, 1\5 dos deputados (46) á assembleia da república em efetividade de funções (art.278º\4). A promulgação é temporariamente proibida (art.278º\7)
Leis de Bases: Tal como nos refere o art.112º\3 as leis orgânicas têm valor reforçado, isto é, carece de aprovação por maioria de dois terços (art.168º\6), são aquelas que por força da constituição sejam pressupostos normativo necessário de outras leis (leis de bases, de autorização e estatutárias), devem ser respeitadas. Uma lei é reforçada relativamente a outra quando pode derrogar esta sem por ela ser suscetível de ser derrogada. 
As leis de bases são leis consagradoras de princípios, vetores ou bases gerais de um regime jurídico, deixando a cargo do executivo e das assembleias legislativas das regiões o desenvolvimento desses princípios ou bases (decretos de desenvolvimento). 
As leis de bases pretendem permitir ao governo e ás assembleias legislativas das regiões autónomas legislar sobre determinadas matérias, mesmo sem autorização legislativa, depois de fixadas as bases gerais por lei da AR (art.165º), até lhe permitem legislar no âmbito de reserva absoluta (art.164º). As leis de bases funcionam, assim, como:
· Diretivas- porque definem os parâmetros materiais a desenvolver
· Limites- o desenvolvimento das leis de bases deve manter-se dentro das normas fixadas nas bases da AR.
Âmbito da lei de bases: está presente no art.164º alínea d) e i); art.165º f) g) n) t) u) z), para além disto também existem leis de base para além das previstas pela constituição (matéria concorrente)
Aprovação: podem aprovar leis de bases:
· Assembleia da república no âmbito da reserva absoluta (art.164º al.d) e i) ; no âmbito de reserva relativa (art.165º f) g) n) t) u) z) e no âmbito de matéria concorrente
· Governo no âmbito de reserva relativa (art.165º f) g) n) t) u) z) e art.198\1 al.b) e no âmbito de matéria concorrente (art.198\1 al.a)
· Assembleias legislativas regionais no âmbito de reserva relativa (art.165º al. g), n), u), z) e art.227º\1 d) e no âmbito de matéria exclusiva (art.227º\1 al a) 
Desenvolvimento: art.112º\2; art.198\1 al.c); art.198\3; art.227º\1 al.c) ; art.227º\4
Relação entre o Governo e a AR: é uma matéria polémica que regista profundas divergências doutrinais: 
· Segundo Tiago Fidalgo de Freitas e Luís Coutinho a competência da AR para desenvolver as bases gerais em concorrência com o governo, o que permite o mais também permite o menos (art.161º\1 al.c) 
· Quanto ao desenvolvimento das bases gerais reservado ao governo, Otero defende a reserva total de desenvolvimento em matéria de reserva da AR (art.164º e 165º) e concorrencial; Blanco de Morais defende a reserva de desenvolvimento apenas em leis de bases reservadas á AR (art.164º e 165º); Jorge Miranda defende a reserva de desenvolvimento do governo apenas em matéria concorrente
Subordinação dos decretos de desenvolvimento: Leis de bases reservadas á Assembleia da República, subordinação dos decretos de desenvolvimento às respetivas leis de bases (art.112º\2):
· Ilegalidade- se o ato legislativo de desenvolvimento violar os princípios da lei de bases
· Inconstitucionalidade- se o governo ou as assembleias legislativas, por omissão da lei de bases, completarem os princípios
· Inconstitucionalidade- se não invocarem expressamente as bases desenvolvidas (art.198\3 e 227\4)
· Inconstitucionalidade- se o governo e as assembleias legislativas emitirem legislação de detalha sem a pré-existência da lei de bases
Leis de bases emitidas ao abrigo das competências concorrenciais:
· A lei de bases mantém o seu valor reforçado, tal como em matéria reservada
· A lei de bases perde o seu valor reforçado, sob pena de ofender a competência legislativa do governo (art.198º\1 al.a)
· Posição intermédia, defendida por Blanco de Morais, se o decreto-lei invocar a lei de bases (art.198º\3) será considerado decreto de desenvolvimento (art.198º\1 al.c) e deve subordinar-se aos seus princípios e diretrizes (art.112º\2); se o decreto-lei não invocar a lei de bases, será um decreto exclusivo e não existirá qualquer subordinação (art.198º\1 al.a). Em matéria concorrencial, a lei de bases é uma lei de valor reforçado enfraquecido, dependente da autolimitação do ato legislativo de desenvolvimento (a natureza reforçada decorre do critério “leis que por outras devam ser respeitadas” e não do “pressuposto normativo necessário de outras leis”)
Leis de bases e decretos legislativos regionais de desenvolvimento: O poder de desenvolvimento legislativo regional das leis de bases é um poder constitucionalmente garantido, justificado pela necessidade de adaptar as bases gerais ao interesse específico da região. (art.227º\1 al.c) 
Leis de Autorização: Tal como nos refere o art.112º\3 as leis orgânicas têm valor reforçado, isto é, carece de aprovação por maioria de dois terços (art.168º\6), são aquelas que por força da constituição seja pressuposto normativo necessário de outras leis (leis de bases, de autorização e estatutárias), devem ser respeitadas. Uma lei é reforçada relativamente a outra quando pode derrogar esta sem por ela ser suscetível de ser derrogada. 
Há quem entenda que estas leis são apenas leis de natureza meramente formal, por não conter verdadeiras normas jurídicas gerais e abstratas. 
Semelhanças entre a lei de autorização legislativa e lei de bases: 
· Nenhuma delas esgota a regulamentação legislativa da matéria, carecendo da legislação complementária
· Ambas delimitam e condicionam a área de intervenção legislativa do governo e das assembleias legislativas
· Ambas são o “pressuposto necessário de outras leis”
Diferenças entre a lei de autorização legislativa e lei de bases:
	Lei de autorização
	Lei de bases
	Não é de aplicação imediata
	É de aplicação imediata, ainda que a sua exequibilidade dependa de decreto de desenvolvimento
	Não incide sobre situações da vida, intervindo atenuadamente na ordem jurídica
	Pode incidir sobre situações de vida- altera a ordem jurídica
	Não revoga diplomas sobre matéria de autorização 
	Revoga lei anterior contrária, seja ou não outra lei de bases
	Se o sentido da autorização for modificado, só produzirá efeitos para o futuro
	Se a lei de bases for modificada e o decreto de desenvolvimento não, verificar-se-á ilegalidade superveniente
	Os decretos autorizados estão sujeitos a prazos 
	O decreto de desenvolvimento não está sujeito a prazos
	A autorização legislativa habilita o governo a legislar uma só vez
	Pode haver sucessivos desenvolvimentos da lei de bases
	A inconstitucionalidade da lei de autorização implica a inconstitucionalidade do decreto autorizado
	A inconstitucionalidade da lei de bases apenas determina a inconstitucionalidade do decreto de desenvolvimento quando verse matéria reservada á AR, não quando se trate de matéria concorrencial. 
	Só em matérias de reserva relativa (art.165º)
	Surgem em qualquer domínio legislativo. 
Objeto das leis de autorização:
· As leis de autorização versam sobre matéria de reserva relativa da AR (art.165º)
· Versam em matérias de interesse específico para as regiões que não estejam reservadas á competência própria dos órgãos de soberania (art.227º\1 al.b) 
Destinatários das leis de autorização: 
· O governo (art.198º\1 al.b)
· As assembleias legislativas das regiões autónomas (art.232º\1 conjugado com o art.227º\1 al.b)
· São constitucionalmente ilegítimas as subdelegações legislativas
Limites das autorizações: “A autorização legislativa não pode ser um cheque em branco ao governo” assim possui limites:
Limites materiais: objeto, sentido e extensão da autorização (art.165º\2)
· Só pode haver autorizações legislativas sobre matérias do art.165º
· A autorização legislativa tem de ser explícita e autónoma, salvo as autorizações legislativas orçamentais
· Objeto- enumeração das matérias a tratar pelos decretos-leis autorizados, reportando-se sempre às matériasenunciadas no 165º\1. A violação conduz á inconstitucionalidade
· Sentido- determinação dos princípios e diretrizes orientadoras a seguir. A violação do sentido conduz á ilegalidade
· Extensão- estabelece os limites até onde podem ser legisladas as matérias do objeto. A violação conduz á inconstitucionalidade
· Duração da autorização- prazo para o governo emitir o decreto-lei autorizado, a contagem faz-se a partir do momento da aprovação, isto é, momento de registo por parte do presidente da república, porque o decreto-lei já seria um diploma perfeito, apesar de ainda não ser condição suficiente da sua existência. A violação conduz á inconstitucionalidade.
Limites temporais ou duração (art.165º\2)
Cessação da autorização (art.165º\3-4)- a lei de autorização cessa por:
· Decurso do prazo de vigência (art.165º\2) 
· Princípio da irrepetibilidade- utilização pelo governo (art.165º\3) ou pelas assembleias legislativas (art.227º\2), o governo e as assembleias só podem utilizar a lei de autorização uma única vez
· Revogação (art.165º\4 e 227º\3) expressa (mediante um ato igual ao da autorização, ou seja, lei da AR) ou tácita (se a AR editar leis durante o período de autorização, regulando diretamente as matérias autorizadas)
· Caducidade (art.165º\4 e 227º\3) traduz uma relação de confiança entre a assembleia da república e o governo. 
Autorizações legislativas orçamentais (art.165º\5): trata-se de autorizações concedidas ao governo na lei do orçamento, nomeadamente, as autorizações fiscais. 
· Não são leis de autorização autónomas, antes são enxertadas na lei do orçamento
· Têm um regime temporal próprio, coincidente com o ano económico ou de vigência do orçamento
· A autorização pode ser utilizada mais do que uma vez, no mesmo ano económico
· Estas autorizações não podem ser modificadas, interpretadas, suspensas ou revogadas pela AR. 
Leis estatutárias:
Momento estatutário: a criação das regiões autónomas dos açores e da madeira foi uma decisão do poder constituinte de 1976.
Função estatutária: é aos estatutos que compete a definição da estrutura e exercício dos poderes regionais e respetivos órgãos. 
Elaboração e alteração dos estatutos:a elaboração pertence às assembleias legislativas regionais (art.226º\1). A aprovação pertence á AR (art.226º\1\2\3 e 161º\b). Em matérias que integram o respetivo poder legislativo a aprovação é por maioria de 2\3 (art.168º\6 al.f) 
Reserva de estatuto (art.227º e 228º): certas matérias devem, exclusivamente, ser disciplinas por lei estatutária, não podem deixar de estar reguladas no estatuto sob pena de défice de estatuto e consequentemente inconstitucionalidade por omissão. 
Limites de revisão constitucional (288º\o): as leis de revisão terão de respeitar a autonomia político-administrativa dos arquipélagos dos Açores e da Madeira. 
Leis estatutárias: são leis da AR que aprovam os estatutos político-administrativos das regiões autónomas (art.226º), a lei de aprovação dos estatutos não é uma lei meramente formal de aprovação, pois a AR pode rejeitar o projeto e introduzir-lhe emendas, exercendo assim uma atividade legislativa.
Hierarquia normativa: os estatutos ocupam uma posição hierárquica privilegiada na hierarquia das fontes, são leis reforçadas com valor paramétrico relativamente aos diplomas legislativos regionais.
Procedimento legislativo
Conceito: sucessão de atos ou fases necessárias para produzir atos legislativos (leis). Através dele exterioriza-se o poder legislativo. 
Categorias de procedimentos legislativos:
1. Processo legislativo parlamentar e Processo legislativo governamental – consoante o tipo de ato legislativo em causa, de origem no parlamento (lei) ou no governo (decreto-lei)
2. Processo legislativo nacional e Processo legislativo regional – conforme as entidades jurídico-políticas que protagonizam as competências legislativas – a AR e o Governo, por um lado, e as Assembleias legislativas das regiões autónomas, por outro.
3. Processo legislativo geral e Processo legislativo especial – de acordo com regras gerais (para fazer leis) ou regas particulares (para certas categorias de leis, como as leis orgânicas ou de autorização legislativa) que possam ser aplicadas.
4. Processo legislativo normal e Processo legislativo de urgência – conforme se trate de uma situação de normalidade ou de crise institucional.
Processo legislativo geral e urgente 
1. Geral 
 -fase da iniciativa = desencadeamento do processo 
 -fase da instrução = audições e discussão
 -fase da deliberação = decisão
 -fase da eficácia = aplicação na ordem jurídica 
2. Urgente (art. nº170)
a. Consiste na aceleração da tramitação desde a iniciativa procedimental.
b. Só é possível no âmbito parlamentar nacional
c. Abrange tanto iniciativa internas dos deputados e grupos parlamentares como iniciativas externas do governo e das assembleias legislativas das regiões autónomas. 
d. Decretação da urgência legislativa parlamentar – deliberação da AR que declara a urgência de uma proposta ou projeto.
-Se a entidade que faz o pedido é nacional (deputados, grupos parlamentares ou governo) – a urgência legislativa pode respeitara a qualquer iniciativa de lei ou de resolução, mesmo não lhe pertencendo essa iniciativa em concreto (art.170/1)
-Se a entidade que solicita essa urgência é regional (ALRA)- a urgência só pode ser declarada para as iniciativas legislativas que tenham sido por si apresentadas (art.170/2)
 
e. Determinação do procedimento legislativo acelerado:
Urgência proposta por parecer da comissão competente:
-Dispensa ou redução do prazo por parecer da comissão competente 
-Limitação das intervenções e do uso da palavra no plenário 
-Dispensa do envio à comissão para redação final
Fases do procedimento 
Iniciativa
Consiste quando a feitura de um ato legislativo começa a sua caminhada
Tipologias (art. 167/1)
a. Iniciativa interna – desencadeada dentro do próprio parlamento (pelos deputados, grupos parlamentares ou comissões especializadas – projeto de lei)
b. Iniciativa externa – desencadeada fora do parlamento (pelo governo – proposta de lei-, assembleias legislativas das RA – proposta de lei -, ou cidadãos –iniciativa legislativa popular – projeto de lei-)
c. Iniciativa geral – iniciativa a exercer sobre qualquer matéria 
d. Iniciativa especifica- iniciativa a exercer apenas em relação a determinados assuntos 
e. Iniciativa reservada – exclusividade de iniciativa a certa entidade (ex. a iniciativa de revisão constitucional – 285/1)
f. Iniciativa concorrente – possibilidade de vários órgãos poderem exercer o poder de iniciativa legislativa 
g. Iniciativa originária – o poder de iniciativa é exercido num momento inicial
h. Iniciativa superveniente – o poder de iniciativa é exercido num momento posterior, depois de outras entidades já terem exercido a sua iniciativa legislativa. Trata-se de uma proposta de alteração, com a configuração de emenda, substituição, adiamento e eliminação.
Iniciativas reservadas a certos órgãos:
-Aos deputados em matéria de revisão constitucional (285/1)
-Ao governo em matéria da lei do orçamento, da lei das grandes opções dos planos, leis que envolvam aumento das despesas ou diminuição das receitas (167/2), leis de autorização de empréstimos e outras operações de créditos e das leis de autorização legislativa.
-Às ALRA, as alterações aos estatutos político-administrativos e às leis eleitorais regionais (226/1)
Iniciativa legislativa popular (167/1)
Titularidade – pertence aos cidadãos eleitores recenseados (mínimo de 35 000 eleitores)
Objeto – matérias da competência legislativa da AR
Procedimento – na votação na especialidade dever ser sempre ouvida a comissão que representa os cidadãos, que deve ser notificada na votação final)
2.INSTRUÇÃO 
Traduz o momento de reflexão sobre o sentido da iniciativa legislativa.
Diligências na fase de instrução:
-Audição – é uma diligência principal
-Negociação- exprime a necessidade de a disciplina legal ser apreciada pelas partes envolvidas, antes de se tomar uma decisão legislativa final
-Discussão publica –necessidade de a disciplina legislativa ser discutida pela opinião publica em geral 
3.DELIBERAÇÃO
Integra o momento mais relevante de todo o procedimento legislativo:
-Aprovação pela AR
-Votação na generalidade – o plenário determina se a iniciativa legislativa deve continuar o seu percurso.
-Votação na especialidade – a comissão especializada que dirigiu a instrução vota em pormenor cada artigo ou cada alínea 
 -Votação final global – da competência do plenário e só possível com a aprovação na comissão especializada
 -Promulgação – aprovado e redigido o diploma é enviado ao PR (136)
Pedido de fiscalização preventiva (278; 279)
Promulgação do decreto no prazo de 20 dias 
Veto político do decreto (fundamentado), no prazo de 20 dias 
-Promulgação do PR
-Referenda ministerial do PM, em nome do Governo, que se opõe sobre o ato presidencial de promulgação
4.EFICÀCIA 
Corresponde à entrada em vigor do diploma – publicação.
-Publicação no DR (119/1), sob pena de ineficácia (119/2)
-A entrada em vigor ocorre passados 5 dias
Procedimentos especiais 
1. Procedimento de aprovação dos estatutos político-administrativos das RA
-Iniciativa – competência exclusiva das ALRA (226)
-Instrução – As ALRA podem pronunciar-se a título consultivo, das eventuais alterações ou rejeição pretendidas pela AR (226/2/3)
2. Procedimento da aprovação das autorizações legislativas governamentais:
-Iniciativa – é exclusiva do Governo
-Instrução – não há exame em comissão especializada 
Capítulo II
 Definição, sentido e vida da constituição
Constituição e constitucionalismo: 
O constitucionalismo foi uma criação da filosofia e da teoria política ao longo dos séculos XVII E XVIII, através de grandes pensadores como John Locke (liberalismo político), Montesquieu (separação de poderes) e Rosseau (“contrato social” e soberania popular).
Valores essenciais no constitucionalismo histórico orgânico: 
· A liberdade e autonomia individual face ao poder (garantia do direito de propriedade, à segurança pessoal, à liberdade económica e religiosa);
· Limitação da esfera de ação e do poder do estado;
· Declaração de direitos individuais (Bill of Rights), inserida na constituição ou à margem dela, como defesa da esfera da liberdade dos particulares contra o poder;
· Separação de poderes, ou seja, repartição das três funções do estado (legislar, governar e administrar/julgar), por três, por três poderes separados e autónomos (parlamento, governo e tribunais), como reação à concentração dos poderes no soberano, como no estado absolutista;
· Princípio da legalidade (rule of law), pelo qual o Governo só poderia atuar com base e no respeito as deis do Parlamento;
· O constitucionalismo histórico é um constitucionalismo liberal e o estado constitucional é o estado dotado de uma constituição com aquelas características;
· A noção de estado constitucional ainda hoje remete para esses valores (liberdade pessoal, limitação dos poderes do estado, direitos fundamentais dos particulares, estado de direito, separação de poderes e governo representativo);
· Passou a haver uma separação entre o conceito material originário e o conceito meramente formal de constituição e constitucionalismo;
Estatuto da coletividade política:
A constituição é um conjunto de normas jurídicas que definem, regulam e limitam o poder político e que eventualmente estabelecem os princípios fundamentais da ordem jurídica.
Etimologicamente, a noção de constituição tem a ver com constituir, conformar e configurar. Do que se trata é de criar ou recriar juridicamente a coletividade política e enquanto tal, conferir-lhe consistência orgânica, estatuir os seus fins, enunciar as competências dos órgãos políticos e regular o seu funcionamento, definir os direitos e deveres dos seus membros, estabelecer os mecanismos de resolução de conflitos e de sanção das infrações à ordem constitucional. A constituição dita o estado e regula e limita o poder político. A constituição está para a coletividade política como os estatutos estão para uma associação ou outra coletividade. A constituição é uma expressão de autodeterminação jurídica, de auto-organização e de autorregulação coletiva de uma coletividade, enfim de autoconstituição.
Constituição e “lei constitucional”: Lei constitucional pode ter três sentidos:
1. Pode designar as leis de revisão constitucional (artigo 119 CRP);
2. Pode designar as leis constitucionais transitórias entre o fim de uma constituição e a elaboração de uma nova constituição, tal como aconteceu entre nós, com as leis transitórias aprovadas entre a revolução de 1974 e a constituição de 1976;
3. Pode designar as constituições provisórias até à elaboração da constituição definitiva;
Os vários sentidos da constituição: Historicamente podemos identificar três noções de constituição:
1. Antes da ‘’era do constitucionalismo’’, inaugurada com as constituições escritas no final do século XVIII, a noção de constituição designava a chamadas ‘’leis fundamentais’’, ou seja, as regras em geral não escritas, de natureza essencialmente consuetudinária, que então regulavam o poder político. Neste primeiro sentido, a noção de constituição tem já a ver com a ideia de ordenamento básico do poder político, mas faltavam-lhe os traços essenciais do moderno conceito de constituição, ligado à existência de uma lei escrita mais ou menos extensa, reguladora das atribuições dos órgãos do poder político e do seu funcionamento, com o fim de o limitar, na base da separação dos poderes e dos direitos individuais. A era do constitucionalismo começa com as revoluções americana (1776) e francesa (1789).
2. Neste segundo sentido, a noção de constituição era uma noção de combate ao serviço da luta contra o absolutismo e à arbitrariedade do poder, em prol dos valores do estado liberal representativo e do estado de direito, como garantia da liberdade, da propriedade e da segurança individual. Estado constitucional passou a ser aquele dotado de constituição, e não necessariamente o estado constitucional liberal, baseado na separação de poderes e nos direitos e liberdades individuais. Passou a haver constituições liberais e constituições autoritárias, constituições democráticas e constituições autocráticas, etc.
3. Sentido politicamente neutro, como lei fundamental do estado, que hoje usamos em geral a noção de constituição.
Constituição formal e constituição material: A distinção entre constituição formal ou material tem a ver com o critério da ‘’constitucionalidade’’, ou seja, daquilo que deve ser considerado como dotado de valor constitucional.
Em sentido formal, é constituição todas as normas que integram a constituição escrita, ou seja, a lei ou as leis formalmente constitucionais.
Em sentido material, é constituição somente as normas que pela sua importância merecem ser consideradas fundamentais, independentemente de estarem ou não inseridas na constituição formal ou nas leis formalmente constitucionais.
Pode não haver coincidência entre constituição formal e constituição material. 
 Constituição formal só existe nos estados possuidores de uma constituição escrita, vertida numa lei ou conjunto de leis dotadas de especial força jurídica. 
 Já constituição material existe em qualquer estado, mesmo que não possua constituição formal. 
Pode ser que a constituição formal contenha algumas normas que não satisfazem os requisitos da materialidade constitucional, por não possuírem suficiente relevância (ex: a Suíça chegou a ter uma norma a proibir o absinto). Pode haver normas, ou leis inteiras, que devam ser consideradas como materialmente constitucionais, dada a sua importância e relevância para ordem fundamental da coletividade, apesar de não estarem inseridas na constituição formal (ex: Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, em França).
Nota: Carta Constitucional de 1826
A constituição visa ‘’dominar’’ e conformar a realidade constitucional, e não o contrário. A força normativa da constituição não pode ceder perante umasuposta ‘’força normativa dos factos’’. 
As características da constituição:
· Autolegitimidade;
· Supremacia jurídica
· Autogarantia 
Por Autolegitimidade, quer dizer-se que a constituição se valida a si mesma, pelo simples facto de ser o que é, não dependendo a sua legitimidade de nenhum parâmetro jurídico exterior ou superior a ela, ao contrário das normas do direito ordinário, infraconstitucional que justamente derivam a sua legitimidade da constituição. A ideia de legitimidade formal decorria de uma legitimidade orgânica e procedimental e de uma legitimidade material, em virtude de ea ser uma garantia da liberdade individual e da limitação do poder do estado.
A noção de constituição transporta consigo desde a origem a ideia da sua supremacia jurídica, como instância superior da ordem jurídica. Essa ideia e supremacia da constituição decorria da distinção entre o poder constituinte, que cria a constituição, e os poderes constituídos, ou seja, os órgãos do poder político, derivados da constituição e a ela submetidos. 
Por último, a autogarantia que é a constituição que contém ela mesma os mecanismos que garantem o seu cumprimento, que hoje incluem normalmente mecanismos de fiscalização judicial da constitucionalidade das leis e demais atos do poder. 
Constituição e democracia constitucional: 
A democracia também é constituída pela constituição, sendo por isso, uma democracia constitucional. É a constituição que define os direitos políticos fundamentais, as formas de expressão política democrática, as regras essências do regime eleitoral e do referendo, as normas de seleção e designação dos titulares de cargos políticos.
Se a democracia pluripartidária é caracterizada pela ‘’regra da maioria’’, a democracia constitucional implica, por natureza, importantes limitações à democracia maioritária. Nenhuma maioria pode prevalecer sobre os direitos fundamentais, a constituição pode estabelecer limites à sucessão de mandatos eletivos e exigir maiorias qualificadas para certas leis ou decisões, etc. Por maior que seja uma maioria, nada pode legitimar decisões ultra vires, ou seja, fora das atribuições e competências constitucionalmente definidas. 
A democracia constitucional supões poderes de veto e checks and balances, destinados a morigerar o poder das maiorias. A democracia constitucional é tudo menos uma ‘’ditadura da maioria’’. A democracia constitucional é uma democracia constitucionalmente regulada e constitucionalmente limitada. 
Objeto e âmbito da constituição 
Expansão da cobertura constitucional:
A constituição visava organizar e limitar juridicamente o poder político, através da separação de poderes, e garantir a propriedade e a liberdade dos particulares contra esse mesmo poder. Por isso, as constituições eram em geral curtas e o seu âmbito limitava-se à organização do poder político e ao bill of rights.
Hoje, uma constituição moderna inclui em geral as seguintes áreas:
· A constituição política, evidentemente: modo de expressão política (eleições e referendos), organização territorial do estado (coletividades territoriais infraestaduais), organização, competências e funcionamento dos poderes do estado (poder legislativo, governo e tribunais);
· Direitos fundamentais, incluindo direitos sociais;
· Princípios da ordem económica (‘’constituição económica’’);
· Sistema normativo (supremacia da constituição, estatuto das normas internacionais, leis e regulamentos);
· Fiscalização da constitucionalidade e revisão da constituição (‘’constituição da constituição’’);
Reserva da constituição e essência constitucional:
As constituições modernas variam muito entre si. Só existem três temas comuns à generalidade das constituições: a definição da coletividade política nacional e do Estado, a organização do poder político e o catálogo dos direitos fundamentais. E, de facto, essas esferas devem ser consideradas não somente como a ‘’essência material da constituição’’ mas também como uma ‘’reserva da constituição’’, no sentido de que não podem deixar de estar na constituição, nem que seja por via da receção ou incorporação indireta de instrumentos materialmente constitucionais. 
Nota: Novo artigo 16 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão francesa, de 1789, sobre a indispensabilidade da separação dos poderes e dos direitos individuais como elementos da própria definição da constituição.
O poder constituinte goza de grande discricionariedade na definição do âmbito da constituição, o qual, todavia obedece em medida variável ao ambiente político e ideológico dominante em cada época e ao contexto específico da elaboração de cada constituição concreta.
Mesmo nas matérias que são constitucionais por excelência, como sucede com a organização do poder político e os direitos fundamentais, as constituições podem variar muito quanto à extensão e densidade normativa com que as regulam. Por exemplo, enquanto as três constituições monárquicas portuguesas (1822, 1826 e 1838) regulavam com algum pormenor o sistema eleitoral, já as constituições de 1911 e de 1933 eram omissivas, remetendo essa matéria crucial para a lei ordinária. E, enquanto a carta constitucional e a constituição de 1933 compactavam os direitos fundamentais num único preceito constitucional, já a constituição de 1976 “gasta” dezenas de artigos nesse capítulo constitucional.
Classificação das constituições: 
Quando à forma de legitimação e de expressão do poder político, podemos distinguir entre as constituições democráticas, onde o poder é baseado na vontade popular expressa em eleições (ou referendos), e as constituições autocráticas, em que o poder político não tem essa origem (por exemplo, oligarquias tradicionais, ditaduras militares, regimes de partido único, etc.).
Quanto à sua influência jurídica efetiva, podemos distinguir, seguindo Loewenstein, as constituições normativas, as constituições nominais e as constituições semânticas.
Normativas são aquelas cujas normas cumprem efetivamente o seu papel de regular o poder e o sue funcionamento;
Nominais são aquelas que, embora destinadas a ter força normativa, não conseguiram ou deixaram de conseguir regular efetivamente o processo político;
Semânticas são por assim dizer, constituições “fictícias”, desde o início destinadas a servir de “cenário” de uma realidade constitucional bem afastada do modelo constitucional.
Quanto à natureza e alcance jurídico dos seus princípios e normas podemos distinguir as constituições “normativas” ou garantísticas das constituições pragmáticas ou diretivas, conforme haja nelas as normas de garantia de direitos e situações estabelecidas ou, ao invés, os preceitos vocacionados para alcançar certos objetivos mais ou menos longínquos, ou promover transformações políticas, socias e económicas.
No que diz respeito à revisão, distinguem-se as constituições flexíveis das constituições rígidas, consoante elas sejam facilmente modificáveis ou dificilmente alteráveis. No geral, as constituições não podem ser tão facilmente. Modificadas como as leis ordinárias, no entanto, em muitos casos existem requisitos que dificultam bastante as alterações, como a exigência de confirmação das alterações por referendo popular, exigência de maiorias qualificadas ou o intervalo necessário entre cada revisão.
Face à natureza do sistema económico que elas edificam, as constituições podem ser divididas em constituições capitalistas ou de economia de mercado e constituições comunistas ou de ‘’economias de direção central’’.
A maior parte das constituições se priva de instituir um determinado regime económico, limitando-se a garantir as liberdades económicas individuais e a admitir a intervenção económica do estado, deixando o resto à liberdade de conformação do poder político.
O poder constituinte: A ideia de constituição está ligada à ideia de poder constituinte.
Sieyès fez a primeira grande teorização do poder constituinte enquanto poder originário, autoassumido pelo povo ou pelos representantes, que emite a constituição e que assim ‘’constitui’’ juridicamente o estado e os poderes públicos.É essencial a distinção entre poder constituinte e poderes constituídos, visto que aquele é um poder originário, pré-constitucional e em princípio ilimitado enquanto os segundos são poderes derivados, criados pela constituição e subordinados à constituição. O próprio poder de revisão constitucional é um poder derivado, e não uma renovação do poder constituinte, sendo previsto e regulado no próprio texto constitucional.
No começo do constitucionalismo moderno, as teses acerca do titular do poder constituinte originário eram basicamente duas:
· A tese monárquica, assente na teoria da soberania monárquica, o poder soberano pertence ao monarca. Sendo o poder constituinte uma manifestação ou expressão de poder soberano, então ele pertence ao monarca. É este último que faz a constituição e, num ato de liberalidade, a doa ou outorga ao seu povo. Esta foi a origem das cartas constitucionais, como a nossa de 1826.
· As teses democráticas apresentam duas vertentes:
1. A teoria da soberania popular (Rosseau): o poder constituinte, enquanto manifestação ou expressão direta do poder soberano, pertence ao povo, o qual, mediante referendo popular, deve aprovar a sua constituição;
2. A teoria da soberania nacional (Sieyès): o poder constituinte, enquanto manifestação ou expressão do poder soberano, pertence à Nação, sendo ela uma entidade abstrata, a constituição deve ser elaborada por uma assembleia de representantes da Nação. Eleita especialmente para aprovar a constituição;
O povo é titular do poder constituinte!!
O poder constituinte exerce-se em desfecho de uma cessação da ordem constitucional precedente, devido a uma revolução ou a um golpe de estado. A descontinuidade constitucional é um pressuposto do poder constituinte. Assim, sucedeu em relação a quase todas as constituições vigentes, nascidas da rotura ‘’inconstitucional’’ da ordem constitucional anterior. 
O nascimento de uma nova constituição é associado a momentos constitucionais excecionais que constituem roturas mais ou menos acentuadas no âmbito da história política do país:
· Revoluções, golpes de estado ou mudanças de regime (Portugal entre 1820 e 1822);
· Fundação ou nascimento de novos estados (Independência de antigas colónias);
· Cisão ou secessão de estados (Estados que formavam a antiga Jugoslávia ou a antiga URSS);
A relação entre a constituição e a revolução é por via de regra reciprocamente excludente. Se a revolução põe fim à constituição pré-existente e gera uma nova, também a constituição implica normalmente o fim da revolução que lhe deu origem.
Portugal:
· Constituição Política da Monarquia Portuguesa de1822;
· Carta Constitucional da Monarquia Portuguesa 1826;
· Constituição Política da Monarquia Portuguesa de 1838;
· Constituição Política da República Portuguesa de 1911;
· Constituição da República Portuguesa de 1933;
· Constituição da República Portuguesa de 1976;
Embora seja um poder originário e em princípio ilimitado, entende-se que existem limites ao poder constituinte democrático.
O poder constituinte está vinculado pelas normas “cogentes” (imperativas) do Direito internacional (ex: proibição de genocídio) e pelos princípios essenciais do constitucionalismo democrático e republicano, designadamente a dignidade humana, a liberdade pessoal e a igualdade de direitos e de obrigações.
O poder constituinte é o poder de criar uma constituição nova, mas a realidade é que o poder constituinte é ao mesmo tempo um poder desconstituinte e um poder reconstituinte. Este implica dois movimentos sucessivos ou simultâneos:
· Destruição de um ordem jurídico-política, com a consequente revogação total ou parcial da constituição em que ela assentava;
· Reconstrução de uma nova ordem jurídico-política, cujos principais alicerces vão ficar plasmados no texto da nova constituição;
As constituições não surgem só de revoluções, mas também de transições constitucionais pacíficas, sem rotura instantânea com a ordem constitucional precedente, mesmo quando as constituições surgem na sequência de uma revolução, não significa que estejamos perante um simples facto ou mesmo um ato antijurídico. De facto:
· Com a revolução pretende-se destruir um ordem jurídico-política, mas o propósito é criar uma nova ordem jurídico-política, pelo que a nova constituição obedece à ideia de direito que justificou a revolução;
· O próprio momento de rutura com a ordem constitucional precedente é muitas vezes válido juridicamente a posterior (ex: em Portugal, a lei constitucional transitória de 26 de Abril de 1974 “validou” a posteriori a revolução desencadeada no dia anterior);
· A criação da nova ordem constitucional tem de respeitar uma série de condicionalismo de natureza jurídica, visto que, como se viu, o poder constituinte não é ilimitado nem todo-poderoso;
Segundo Sieyès, o poder constituinte originário é um poder inicial, autónomo e omnipotente. A omnipotência do poder constituinte significa que se trata de um poder incondicionado, sem limites. Como já se referiu, a doutrina atual do constitucionalismo liberal-democrático rejeita uma tal compreensão. Vários são os limites ou condicionamentos que se impõem ao legislador constituinte.
· O poder constituinte está limitado pelo seu próprio objeto, pela sua própria motivação. Se o seu objetivo é a limitação do poder político, não se vê como pode ele próprio ser ilimitado, o que seria uma incongruência;
· Se o legislador constituinte pretende que o povo respeite a constituição é preciso que ele a aceite e, para isso, ele tem de se rever nela. Para isso, é necessário que o legislador tenha em consideração uma serie de dados éticos, culturais, espirituais, antropológicos, etc.
· Necessidade de observância de certos princípios de justiça;
· Na era da universalização e da globalização é impossível o legislador constituinte abstrair da ordem jurídica internacional, há uma série de princípios de direito internacional que devem ser respeitados;
Pode suceder que o exercício do poder constituinte esteja sujeito a outros limites específicos, como pactos políticos interpartidários ou imposições ou compromissos externos. 
O poder constituinte também é um poder vinculado, um poder sujeito a limites. 
A fase pré-constituinte:
As decisões pré-constituintes formais são as decisões relacionadas com o acionamento do procedimento constituinte: decisão de criar e aprovar uma nova constituição, decisão relativa à escolha do procedimento constituinte a utilizar, adoção de leis constituintes transitórias, a aprovação da lei eleitoral para a assembleia constituinte. Em Portugal são registar as seguintes decisões pré-constitucionais, desde o momento da rotura revolucionária (25 de abril de 1974) até à aprovação da Constituição (2 de abril de 1976): (página 36 sebenta vital)
· Decisão constituinte;
· Regime constitucional transitório;
· Lei eleitoral para a Assembleia Constituinte;
A fase constituinte:
A fase constituinte propriamente dita consiste na elaboração e aprovação da constituição. Existem dois tipos de poder constituinte, quanto ao procedimento:
O procedimento constituinte democrático passa pela elaboração da constituição por uma assembleia constituinte. Todas as constituições portuguesas foram aprovadas por assembleias constituintes (1822, 1838, 1911, 1976), sendo exceções a carta constitucional de 1826 e a Constituição de 1933. Por vezes, a constituição é submetida a referendo retificativo, depois da sua aprovação pela assembleia constituinte. Excecionalmente, a constituição pode ser aprovada diretamente em referendo deliberativo, sob proposta do poder político, sem passar por uma assembleia constituinte. 
No procedimento constituinte autocrático ou autoritário, as constituições são decretadas diretamente pelo poder político estabelecido, ou são aprovadas em plebiscitos autoritários, sem verdadeiro debate democrático. 
As constituições são uma emanação da soberania constitucional de cada comunidade organizada em Estado, sendo, portanto, “autoconstituições’’. Excecionalmente, pode haver heteroconstituições, ou seja, constituiçõesemitidas ou aprovadas por poderes alheios ou exteriores à coletividade política correspondente, incluindo por via de tratado internacional entre países terceiros.
O procedimento constituinte muda naturalmente consoante o tipo de poder constituinte.
· Procedimento constituinte monárquico/autoritário:
Modo autoritário de elaborar a constituição, texto constitucional procede de uma decisão unilateral do titular do poder.
O momento constituinte reduz-se ao ato de emissão da constituição pelo titular do poder, por vezes, o ato constitucional consiste no plebiscito aclamatório de um texto elaborado pelo titular do poder, outras vezes, o ato constituinte consiste no plebiscito aclamatório de um texto elaborado titular do poder.
· Procedimento representativo ou indireto 
A elaboração da constituição é levada a cabo por uma assembleia eleita pelo povo, que se designa assembleia constituinte. Neste procedimento a assembleia não tem apenas poderes para elaborar a constituição, que há-de depois ser submetidos a aprovação popular (referendo), tem também, poderes para aprová-la, sendo, portanto, uma assembleia constituinte soberana. O povo intervém na fase inicial, na eleição dos deputados para a assembleia constituinte. É o procedimento mais utilizado para o procedimento constituinte democrático em Portugal (1822, 1838, 1911, 1976).
Existem outros métodos do procedimento representativo ou indireto puro:
· Procedimento constituinte representativo ou indireto, desenvolvido por uma assembleia constituinte não soberana: neste procedimento conjuga-se uma assembleia constituinte eleita e uma posterior consulta popular para aprovação da constituição. Assim, à assembleia constituinte democraticamente eleita apenas compete elaborar e aprovar um projeto de constituição, cabendo depois ao povo, através de referendo, aprovar ou não esse projeto. Aqui, a assembleia constituinte tem um papel mais limitado, visto que, não tem poderes para aprovar definitivamente o texto constitucional. Ao abrigo deste modelo, o povo participa em duas fases, a de eleição e aprovação ou rejeição do projeto final.
· Procedimento constituinte representativo ou indireto desenvolvido por “convenções” federais: o projeto da Constituição federal norte-americana de 1787 foi obra da Convenção de Filadelfia (assembleia constituinte). Este projeto seria sujeito a ratificação. Mas em vez de ser submetido a consulta popular (ratificação popular direta), ele foi ratificado em outras convenções do povo reunidas para o efeito em casa um dos vários estados da então União Americana. Estas segundas assembleias, também elas eleitas, tinham uma função diferente da primeira. Já não elaboravam um projeto de constituição, mas sim aprovavam-no (ratificação popular indireta).
· Procedimento popular direto: não está prevista a intervenção de qualquer assembleia constituinte eleita pelo povo. Este procedimento caracteriza-se pela submissão ao povo, para efeitos de aprovação, de um projeto de constituição que lhes é apresentado por determinados órgãos políticos, por individualidades políticas ou por um número determinado de cidadãos. A validade jurídica do projeto depende da vontade popular expressa através de uma consulta popular, através de um voto sim ou não. A natureza democrática deste procedimento constituinte depende de dois fatores, o modo de elaboração do projeto de constituição e a liberdade do debate e do voto no referendo constitucional. Em Portugal, na constituição de 1933, verifica-se este procedimento. 
· Procedimento misto ou compósito: aqui, conjuga-se a elaboração da constituição por uma assembleia constituinte com a submissão a decisão popular, prévia ou a posteriori, de certos aspetos fulcrais da decisão constituinte. A Constituição Italiana de 1947, aprovada por assembleia constituinte, doi precedida por referendo sobre a forma do regime, de onde saiu vencedora a república.
Compromisso constituinte:
Uma constituição não é, normalmente, produto da decisão livre e incondicionada de uma “vontade constituinte” todo-poderosa. Em regra, a constituição resulta de compromissos entre forças e ideias divergentes. Normalmente, as constituições são geradas em assembleias constituintes pluripartidárias, e resultam do debate deliberativo entre diferentes forças políticas. Até as constituições outorgadas mais ou menos “outorgadas” por um poder autoritário podem muitas vezes obedecer a compromissos entre fações ou correntes do poder dominante, como sucedeu entre nós com a Constituição do Estado Novo (1933), a qual, na sua versão originária, apesar de redigida sob direta orientação de Salazar, resultou de um certo equilíbrio entre a fação republicano-conservadora e a fação mais reacionária da direita antirrepublicana e protofascista. 
As constituições de um país não rompem inteiramente com as constituições passadas, há sempre elementos de continuidade constitucional, tradições e peculiaridades constitucionais.
 As constituições são, por isso, em geral, produto também de compromissos históricos entre o presente e o passado.
Modificação das constituições: 
As constituições podem mudar de conteúdo de maneira mais ou menos profunda embora mantendo sempre a sua identidade, sem serem substituídas por outras. Também podem ser substituídas por outras sem nova manifestação formal do poder constituinte.
Revisão constitucional: Cabe ao poder constituinte definir os termos em que a constituição pode ser alterada. O poder de revisão constitucional, ou “poder constituinte derivado”, também é um poder constituído. 
A Constituição não pode ser livremente alterada a todo o tempo, como as leis ordinárias, exigindo por regra um procedimento de revisão especial, que pode incluir prazos de revisão. Nos casos das constituições monárquicas, as revisões constitucionais só se tornavam definitivas se fossem confirmadas por um novo parlamento eleito com mandato para o efeito.
Por norma, as revisões constitucionais requerem maioria qualificada (exemplo: 2/3) e podem requerer também a sua ratificação por referendo. Às vezes, são efetuadas diretamente por referendo. 
O poder constituinte também pode estabelecer limites materiais à reviso constitucional, interditando a eliminação ou modificação de certos traços da constituição. É natural que a revisão constitucional não possa servir para alterar os traços essenciais da constituição, fazendo outra constituição. Existem sempre limites materiais imanentes ou implícitos. Cada revisão constitucional deve respeitar os limites materiais de revisão e manter a identidade e a continuidade constitucional, pode acontecer que a acumulação de revisões ou a sua profundidade opere verdadeiras transformações e metamorfoses constitucionais parciais, que se traduzem numa alteração substantiva da identidade constitucional
Quando à extensão as revisões constitucionais podem ser pontuais, parciais ou globais. 
As pontuais são as que incidem só sobre um aspeto ou alguns aspetos do texto constitucional.
As parciais são as que alteram mais extensamente a Constituição em várias partes desta. 
As globais são as que caem sobre toda a constituição, substituindo integralmente o texto constitucional. 
Mutações constitucionais: Foram induzidas pela mudança de interpretação e de aplicação da constituição, pela falta ou défice de aplicação legislativa e jurisprudencial da constituição. São as chamadas mutações constitucionais, que em geral opera, de forma lenta e furtiva, por efeito de acumulação de sucessivos elementos. Quanto mais duradouras são as constituições, mais suscetíveis são de mutações constitucionais. As mutações constitucionais são instrumentos informais de adaptações das constituições à realidade constitucional.
 
Transações ou metamorfose constitucional: Há casos em que o poder de revisão constitucional é utilizado para transformar a constituição, mudando aspetos ou características essências.
Uma forma especial de transformação constitucional é a que ocorre por efeito da união de Estados ou de integração federal ou parafederal de Estados. Com a criaçãodos EUA e a aprovação da constituição federal, as constituições dos estados fundados sofreram uma substancial modificação constitucional, deixando de ser constituições de Estados soberanos e passando a estar subordinadas à Constituição federal. 
Outra forma de transformação consiste na mudança de natureza do regime político, por exemplo, de monarquia em república, de autocracia em democracia, e vice-versa. 
Rutura constitucional: Ocorre quando as constituições são alvo de transformação à margem do processo de revisão nelas previsto, como a revisão de Sidónio Pais na Constituição de 1911, pode decreto presidencial, mudando o sistema de governo parlamentar para um sistema de governo presidencialista. A essa transformação constitucional dá-se o nome de rutura constitucional. Normalmente a constituição é a mesma, mas dá-se uma descontinuidade da legitimidade constitucional através da sua modificação por um poder de revisão constitucional anómalo. 
Fim das constituições: As constituições não têm vocação de vigência eterna (existem algumas exceções). A consolidação democrática em muitos países diminui o grau de rotatividade constitucional, aumentando a longevidade média das constituições vigentes. 
Capítulo III
A constituição como norma 
A constituição como “lei fundamental” ou “lei básica”: A constituição não é um simples concentrado de princípios políticos. Não se questiona nem a juridicidade, nem a vinculatividade e atualidade das normas constitucionais nem a ideia de que estas não se limitam a criar obrigações aos titulares do poder político, também conferem direitos aos cidadãos, ou seja, aos membros da comunidade política. A constituição goza de força normativa, criando diretamente não somente faculdades e poderes de ação dos poderes públicos, mas também obrigações para o poder público e direitos para os particulares. Deve-se clarificar a tipologia das normas constitucionais e pontualizar a sua diferente função e eficácia no contexto global da constituição, pois é claro que nem todas as normas constitucionais têm a mesma natureza, estrutura e função, sendo variável a intensidade da sua força conformadora imediata, consoante se trate de normas propriamente ditas ou de princípios. Todas possuem uma eficácia normativa, seja como direito atual diretamente regulador de relações jurídicas, seja como elementos essenciais de interpretação e de integração de outras normas. 
Também está em crise a conceção clássica de constituição, que restringe a sua função à limitação do poder e à garantia das liberdades políticas. O texto constitucional não pode nem ser considerado como simples estatuto jurídico de repartição do poder do Estado e de garantia dos direitos e liberdades. A força normativa da constituição expande-se até aos terrenos da ordem económica e social. A constituição tanto é lei fundamental dos “direitos, liberdades e garantias”, como dos direitos económicos, sociais e culturais, tanto é imperativo jurídico no que respeita ao estatuto dos órgãos de soberania, como quando trata da organização económica ou das relações sociais em geral.
Preeminência normativa: A constituição é a lei fundamental do Estado, a lei superior do Estado, vincula todos os órgãos. Deve ser respeitada pelos poderes públicos, as leis e as medidas infraconstitucionais não a podem contrariam. O princípio da constitucionalidade é a primeira regra de um Estado de direito constitucional. Segundo este toda a ação do estado e demais poderes públicos se rege pela constituição e a validade dos seus atos depende da sua conformidade com a Constituição, artigo 3.
A Constituição contém duas partes distintas, na primeira parte, trata do estatuto organizatório dos poderes públicos, quanto as formas da sua instituição e organização, quanto aos seus poderes e responsabilidades, quanto ao funcionamento dos seus órgãos e quanto ao procedimento dos seus atos. Podemos chamar-lhes constituição organizatória e procedimental. Na segunda parte, trata dos princípios e normas que regem as atribuições do Estado e demais coletividades territoriais públicas, as relações com a sociedade e com os cidadãos, a organização económica, os recursos financeiros do Estado. Podemos chamar-lhe constituição material ou substantiva, pois, tem a ver com o fundamento das políticas públicas. Nas duas vertentes, a constituição constitui a norma suprema dos poderes públicos, que tem de observar na sua organização e funcionamento e que a têm de imprimir e implementar na sua ação, sob pena de ilegitimidade constitucional (inconstitucionalidade). A constituição é a norma fundamental da ordem jurídica, tanto na medida em que todas demais normas, nomeadamente as constantes das leis ordinárias, são normas infraconstitucionais, estando subordinadas à constituição, por outro lado, porque a constituição não se encontra, em princípio, subordinada a qualquer outra norma.
Nenhum direito infraconstitucional pode infringir a constituição, sob pena de inconstitucionalidade. A Constituição ocupa o topo da escala hierárquica no ordenamento jurídico nacional, não pode ser subordinada a outro parâmetro normativo anterior ou alegadamente superior, todas as normas infraconstitucionais hão de se conformar com ela. A principal manifestação da preeminência normativa da Constituição consiste em que toda a ordem jurídica dever ser lida à luz dela e passada pelo seu crivo, de modo a eliminar as normas que se não conformem com ela. São três as componentes principais desta preeminência normativa da constituição:
1. Todas as normas infraconstitucionais devem ser interpretadas no sentido mais concordante com a constituição (princípio da interpretação conforme a constituição);
2. As normas de direito ordinário desconformes com a constituição são inválidas, não podendo ser aplicadas pelos tribunais e devendo ser anuladas pelo Tribunal Constitucional;
3. Salvo quando não exequíveis por si mesmas, as normas constitucionais aplicam-se diretamente, mesmo sem lei intermediária, ou contra ela e no lugar dela (CRP, artigo 18);
Normas, princípios e diretrizes políticas: Os preceitos constitucionais não têm o mesmo alcance jurídico. É necessário distinguir as principais espécies:
· Normas e princípios:
Como todas as leis, também a constituição inclui normas em sentido estrito (regras) e princípios. As normas são regras de conduta, autorizando, impondo ou proibindo vertas ações (CRP, artigo 24, nº2). Os princípios, em geral, não são regras de conduta, mas antes linhas informadoras da ordem constitucional, dando-lhe sentido e consistência (CRP, artigo 266, nº2). As normas conferem direitos ou faculdades e impõem obrigações aos seus destinatários, o poder público ou os particulares. Os princípios têm por destinatário normalmente o próprio legislador ou outros titulares do poder público. Os princípios possuem menor densidade normativa, não criam diretamente direitos e obrigações. Deixam uma maior margem de liberdade de decisão ao legislador do que as normas, atribuem também maior margem de apreciação dos tribunais constitucionais na verificação da conformidade da ação do Estado com os princípios constitucionais. Os princípios têm uma forte presença no moderno direito constitucional.
-Princípio democrático;
-Princípio do Estado do direito;
-Princípio da descentralização;
-Princípio da proporcionalidade;
-Princípio da igualdade;
· Normas proibitivas e normas impositivas:
Tendo em conta que as constituições servem para limitar o poder político, muitas normas constitucionais são proibitivas, como as que impedem a violação dos direitos fundamentais. Também existem normas impositivas de ação do Estado, que podem ter três modalidades:
 - Normas que visam a realização dos direitos económicos, sociais e culturais, que implicam obrigações de prestação e de criação de instituições;
 - Normas que visa, a criação de novos institutos ou de novas instituições do poder público, como a criação do imposto único sobre rendimento (artigo 104, nº1 CRP) ou regiões administrativas (artigo 255 CRP);
 - Normas que definem simplesdiretrizes políticas, que definem orientações e objetivos das políticas públicas (política económica, social e cultural), a sua densidade pode variar entre orientações políticas transversais (ex: artigo 81 CRP) ou simples diretrizes de orientação de políticas setoriais (artigo 93). O problema essencial suscitado pelas normas positivas em geral e pelas normas “dirigentes” e diretrizes constitucionais em especial é o do seu enforcement, ou seja, saber se o seu cumprimento pode ser imposto pelos tribunais constitucionais. A figura da inconstitucionalidade por omissão (artigo 283 CRP) constitui o meio apropriado para fiscalizar o cumprimento das normas impositivas e das diretrizes políticas, ainda quase as segundas sejam mais “fracas” do que as primeiras. 
· Normas autoexequíveis e normas não exequíveis por si mesmas:
Mesmo no campo das normas constitucionais que conferem direitos ou impõem obrigações há que distinguir as normas exequíveis por si mesmas, sem necessidade de implementação legislativa e as normas que carecem de execução ou implementação legislativa, ficando, por isso, “inativas” no caso de omissão legislativa. As normas proibitivas e as normas que reconhecem e garantem as liberdades individuais são em geral autoexequíveis e podem ser feitas cumprir pelos tribunais, já as normas constitucionais “positivas”, que impõem obrigações de ação ou de prestação ao Estado, não são em geral exequíveis por sim mesmas nem podem ser feitas valer diretamente pelos tribunais. Pode haver um problema de inconstitucionalidade por omissão (artigo 283 CRP), mas enquanto a lei de execução faltar não pode ir-se a um tribunal pedir a execução desse direito constitucional. 
As normas positivas também podem ser exequíveis por si mesmas e podem ser feitas para executar diretamente pelos tribunais, se as tarefas nela exigidas forem suficientemente determináveis por via de interpretação. Como. Por exemplo, o direito de acesso ao tribunal mesmo que não tenha meios económicos para pagar (artigo 20, nº1) ou do direito ao rendimento mínimo (artigo 63). 
Consequências da supremacia da Constituição: A principal consequência da supra ordenação da constituição é a ilegitimidade jurídica das normas ou ações infraconstitucionais contrárias à Constituição. Invalidade das normas ou ações desconformes com a constituição. Existem normas imperfeitas, cuja infração não dá lugar a nenhuma sanção. Mesmo sendo juridicamente vinculativas, são desprovidas de mecanismos sancionatórios para o seu incumprimento. Nos EUA, o Supremo Tribunal federal. Decidiu que as normas legais contrárias à Constituição são inválidas, não podem ser aplicadas pelos tribunais nos casos sujeitos ao seu julgamento.
Diferente deste, é o “sistema austríaco”, inaugurado com a criação do Tribunal Constitucional austríaco em 1920. Segundo este, embora os tribunais ordinários não possam recusar a aplicação de uma norma por motivo da inconstitucionalidade, podem sim, suspender a causa principal e suscitar a questão de constitucionalidade junto do Tribunal Constitucional, a quem incumbe decidir a questão, com força obrigatória geral. A norma é expurgada do ordenamento jurídico, passando a não poder ser aplicada na causa em que a questão foi suscitada e pelos tribunais em geral daí em diante. 
Com isto, nasceram dois sistemas típicos de fiscalização da constitucionalidade, que nalguns países são conjugados em sistemas híbridos ou mistos, como é o caso da CRP de 1976. Na Constituição da República Portuguesa a fiscalização de constitucionalidade só abrange em princípio os atos normativos (artigo 277, CRP), pelo que fica de fora, a maior parte dos atos do Presidente da República, como a dissolução do parlamento, a nomeação ou demissão do Governo. 
Supremacia da Constituição, integração europeia e obrigações internacionais:
 A ordem constitucional europeia autodefine-se em termos de primazia sobre a ordem constitucional dos Estados -membros, que assim deixam de poder invocar as constituições nacionais para se furtarem ao cumprimento das obrigações resultantes do direito da União, podendo continuar a ser condenados pelo Tribunal da Justiça da União por incumprimento do direito da União. 
Na ordem constitucional interna, a Constituição é a lei suprema, na falta de uma exceção expressa, o direito da União não goza de nenhuma imunidade perante a Constituição. A integração europeia não impõe somente uma obrigação política de “sanear” a Constituição dos fatores que possam contrariar a vinculação de Portugal ao direito comunitário, a começar pelos tratados. Impede também as alterações constitucionais que possam pôr em causa as obrigações do país perante a comunidade. (Página 54, sebenta Vital.)
Constituição nacional e “direito constitucional internacional”: 
Após a II Guerra Mundial, desenvolveu-se um direito constitucional internacional, que se manifesta na consolidação de uma ordem internacional dos direitos humanos, expressa na Declaração Universal dos Direitos Humanos e em convenções de direitos humanos das Nações Unidas. 
Existem assim, duas vertentes, a ordem internacional vê-se “invalida” poe institutos do direito constitucional interno, como os direitos humanos, que antes eram considerados insuscetíveis de serem impostos pelo direito internacional aos estados soberanos, por serem considerados assuntos de natureza “doméstica”, estando protegidos pelo princípio do direito internacional de proibição de ingerência nos assuntos internos, por outro lado, há um crescente recurso a meios judiciais ou parajudiciais para resolver litígios internacionais, reduzindo assim o espaço de “autotutela”, que é o instrumento tradicional de fazer valer direitos no direito internacional.
Com a emergência do “direito constitucional internacional”, que é também uma expressão da internacionalização do direito constitucional, a fenómeno constitucional deixa de estar confinado ao espaço nacional, onde nasceu. Esta globalização constitucional, acabo por retroagir sobre o espaço constitucional interno, tanto mais quanto os Estados assumirem crescentes obrigações internacionais e forem chamados a respeitá-las, com indiferença em relação às suas obrigações constitucionais internas. 
“Normas constitucionais inconstitucionais”?: 
Deve rejeitar-se por definição a ideia de normas constitucionais inconstitucionais, por motivo de contradição de uma norma constitucional com princípios básicos da própria Constituição. Os preceitos constitucionais não podem afastados pela doutrina ou pelos tribunais por alegada incongruência interna da constituição. As exceções e derrogações são tao constitucionais e tão vinculantes como os princípios excecionados ou derrogados. Por exemplo, a adesão à EU e o princípio da primazia do direito da União na ordem interna constituem obviamente uma derrogação parcial do princípio da soberania nacional (artigo 1, CRP), mas nada na lógica jurídica impede a existência de exceções ou derrogações a normas ou princípios gerais, que assim devem ser lidos tendo em conta essas exceções ou derrogações, o mesmo se diz da proibição de organizações racistas ou fascistas (artigo 46, nº4, CRP), que constitui uma exceção ou derrogação do princípio do pluralismo político referido no artigo 2 da CRP. Diferente é o caso da incompatibilidade de normas constitucionais com normas e com os princípios gerais de direito internacional geral ou comum, que formam por assim dizer a “constituição internacional ou transnacional”, os quais, nos termos do artigo 8, nº 1 da CRP, “fazem parte integrante do Direito português”. Esta fórmula pode ser interpretada no sentido da incorporação interna de tais normas e princípios com a primazia que dispõem no próprio direito constitucional, não podendo sofrer derrogação na ordem interna, incluindo o direito constitucional. Isso vale em especial para as normas cogentes de direito internacional (ius cogens) como a proibição do genocídio, do apartheid racial e da tortura, as quais, por isso, constituem limites à liberdade constitucional interna. 
No caso CRP,não existem situações dessas, salvo se, a incriminação retroativa dos membros da antiga política da Ditadura do “Estado Novo”, artigo 292 CRP. Este preceito entre em crise se entre as normas de ius congens internacional se constar a proibição de incriminação retroativa, em violação do princípio “nenhum crime sem lei anterior”.
Quanto às demais normas e princípios de direito internacional geral (normas consuetudinárias e princípios gerais de direito internacional), o mínimo que se pode exigir é a interpretação da constituição em conformidade com os mesmos, de modo a reduzir a possibilidade de incongruências entre a ordem constitucional interna e a “ordem constitucional global”.
Constitucionalismo em vários níveis: 
O constitucionalismo federal
A constituição dos EUA é a mais antiga, é o resultado do ato de federação dos primitivos estados norte-americanos resultantes da independência das colónias britânicas da América do Norte, que já tinham a sua própria constituição aquando da Convenção de Filadélfia. 
Ao sobrepor a constituição federal às constituições estaduais, a Constituição dos Estados Unidos ciou um fenómeno de pluralismo constitucional vertical, ou seja, de dois níveis de constitucionalidade, o nível federal e o nível estadual, cada um deles com a sua própria constituição. Por outro lado, o constitucionalismo federal coloca também o problema de supraordenação de constituições, visto que as constituições das unidades federadas devem respeitar necessariamente a constituição federal.
As duas principais questões do constitucionalismo federal são, por um lado, a repartição de tarefas entre os dois níveis de governo e, por outro lado, o modo de intervenção dos estados federados na federação, que tem lugar desse logo através de uma câmara federal representativa das unidades federados (o Senado, no caso dos EUA). Embora os EUA continuem a ser modelo princeps de federalismo, outros modelos diferentes assumiram, entretanto, reconhecida influência, como o é caso da República federal da Alemanha, na base da Lei Fundamental de 1949.
O “constitucionalismo supranacional”: Um fenómeno novo do “constitucionalismo em vários níveis” com semelhanças com o constitucionalismo federal tem a ver com a leitura da integração europeia em termos federais e constitucionais, que coabita com a substância da identidade constitucional e da soberania dos estados-membros, visto que aí as constituições nacionais se manterão como expressão da respetiva soberania nacional, se bem que naturalmente subordinadas à “constituição” da EU, apesar de esta não absorver inteiramente a soberania dos Estados-membros. 
A EU apesar de não ter uma constituição propriamente dita, não pode deixar de ser interpretada em termos constitucionais, sobretudo depois do Tratado de Maastricht (1992), que ampliou substancialmente as atribuições da União e criou a cidadania europeia, da aprovação da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (Nice 2000), que antecipa a dotação da União de um bill of rights, de recorte verdadeiramente constitucional, e por último do Tratado de Lisboa, que ampliou as tarefas da União e tornou regra geral o procedimento legislativo de tipo federal. 
Nos estados-membros da EU, o direito constitucional está intimamente imbricado com o direito constitucional europeu, torna-se imprescindível estabelecer as necessárias conexões.
Constitucionalismo “multinível” e soberania nacional:

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