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Política e Epistemologia em Platão

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Instituto de Ciências Humanas e Filosofia (ICHF) | Departamento de Filosofia 
Professora: Fernanda Oliveira 
Aluno: Rafael Valladão Rocha
Turma: 2016.2
AVALIAÇÃO FINAL
Responda às questões abaixo (até 15 linhas cada uma).
1. Por que o prisioneiro sofre ao ser libertado? Comente. 
Porque precisa se adaptar a outra realidade a que está sendo introduzido, realidade radicalmente oposta a que vivia anteriormente. O prisioneiro passa gradualmente do mundo das sombras para o mundo vivo das ideias, passagem que expressa uma transição radical entre dois universos totalmente distintos. O homem vive em sua realidade e nela finca raízes expressas na forma de convicções e crenças. Quando obrigado a afastar-se do mundo em que se habituou a viver, esse homem se apavora ao atravessar os portões de outro mundo, inteiramente diferente do anterior e inóspito para ele e suas convicções e crenças habituais. Por essa razão, a transição é dolorosa e causa sofrimento ao prisioneiro: porque resulta na aniquilação de suas convicções cultivadas durante toda a vida, porque o remove violentamente pelas raízes. Passar da ignorância ao conhecimento, portanto, significa renascer, e todo renascimento pressupõe uma morte, que não deixa de ser cruciante.
2. Por que, de acordo com o personagem Sócrates, aqueles que receberam a educação proposta na República devem governar?
Segundo o livro VII da República, os homens a ser escolhidos como governantes recebem educação especial, diferenciada das pessoas comuns da cidade, em função de sua condição de líder e guia da cidade rumo ao conhecimento da verdade – cujo processo está resumido na ideia da ascensão platônica. O governante é preparado e ensinado a conhecer as ideias puras e verdadeiras para que, de posse do poder político, possa interessar-se unicamente pelo bem da cidade, guiando as pessoas comuns em meio às trevas do mundo das sombras. Sábio e virtuoso, o governante-filósofo será desinteressado pelo poder a tal ponto que não exercerá seu cargo movido a paixões ou ambições. Platão destaca que o governante deve saber descer às profundezas do mundo das sombras para orientar a cidade, segundo a verdade que, para ele, está clara desde sua formação intelectual. Assim, o governante-filósofo é educado desde cedo a conhecer a verdade com o fim de, conhecendo a verdade, voltar-se aos homens comuns e os conduzir sabiamente. Além disso, o governante-filósofo não é afeiçoado ao poder político e não permite que seu exercício seja mais importante que o seu fim: alcançar o bem.
3. Qual a relação entre ontologia, epistemologia, ética e política na alegoria da caverna? 
É uma relação sequencial que exprime os estágios percorridos pelo indivíduo que ascendeu ao conhecimento, ao campo das ideias puras e verdadeiras. Como a transição entre o mundo das sombras e o mundo das ideias é progressiva, também as transformações operadas no homem ocorrem progressivamente. Podemos acompanhar a progressão das transformações pelos graus de saber alcançados pelo indivíduo. Primeiro, ele descobre que há uma verdade desconhecida até então e inicia o desapego à verdade em que cria outrora (ontologia); segundo, o homem descobre como poderá discernir inteligivelmente essa verdade (epistemologia); terceiro, o conhecimento da verdade o leva a pensar em seus antigos colegas de prisão, no que se esforça por mostrar a eles a verdade que descobriu com o fim de retirá-los da escuridão (ética); finalmente, o homem se empenha em difundir a verdade pela cidade (pólis) e almeja o poder político para ampliar o alcance do mundo das ideias puras e verdadeiras sobre seus conterrâneos (política). O homem que deixou a ignorância percorre esses estágios na medida em que progride no conhecimento da verdade.
4. Na alegoria da caverna, Platão se refere a uma realidade à qual se chega apenas pela razão. Que realidade é essa? Explique e apresente suas características.
É a realidade do mundo das ideias, onde se podem vislumbrar as ideias puras e verdadeiras de justiça, virtude, amor, entre outras coisas que estão apenas sugeridas na realidade do mundo das sombras. O dualismo entre mundo de sombras/ideias pode ser exprimido também pela relação entre mundo sensível, onde são sentidos e observados os fenômenos da realidade por si só, grosseira e pobremente; e mundo inteligível, onde residem as ideias puras, essenciais e perfeitas que dão origem ao mundo de sombras falsas e imperfeitas. No mundo das ideias uma ideia, contudo, é a mais sublime e perfeita de todas: o Bem, que origina todas as demais. Na alegoria de Platão, o ingresso no mundo inteligível se dá pela ascese platônica, movimento pelo qual o homem abandona progressivamente as coisas impuras e imperfeitas do mundo sensível e se encaminha à compreensão das ideias puras e perfeitas do mundo inteligível, por meio da razão. Podemos entender a ascese platônica como movimento progressivo pelas ações do prisioneiro que se liberta dos grilhões na caverna e penetra lentamente no mundo inteligível, iluminado à luz do sol – o Bem. O mundo inteligível, portanto, é uma realidade que só pode ser alcançada por meio da razão, pelo movimento progressivo da ascese platônica.

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