Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CAPÍTULO 4 O PATRIMÔNIO FINANCEIRO A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Entender o signifi cado do setor do Balanço Patrimonial denominado Patrimônio Financeiro. Compreender o porquê da adoção do regime de competência nas operações que afetam o Patrimônio Financeiro. Saber os signifi cados da elaboração do Balanço Financeiro e da Demonstração do Fluxo de Caixa nos regimes misto e de Competência. Entender os signifi cados da prestação de contas e das funções dos Tribunais de Contas. Heraldo da Costa Reis 74 Administração Financeira e Matemática Financeira 75 O PATRIMÔNIO FINANCEIRO Capítulo 4 CONTEXTUALIZAÇÃO O Patrimônio Financeiro é uma das partes mais importantes do Balanço Patrimonial de uma entidade governamental. Nele são identifi cados vários elementos informativos, dentre os quais o Superávit Financeiro como fonte de recursos para abertura de créditos adicionais suplementares e especiais. É estudando e avaliando as informações sobre o Patrimônio Financeiro que se tem uma visão geral da situação fi nanceira do ente federado. FUNÇÕES DOS BALANÇOS PATRIMONIAL E FINANCEIRO, E DO FLUXO DE CAIXA POR ATIVIDADES Dentre as demonstrações contábeis e fi nanceiras que integram a prestação de contas elaborada para um ente federativo por ocasião do encerramento do exercício fi nanceiro, destacam-se o Balanço Patrimonial, o Balanço Financeiro e o Fluxo de Caixa por Atividades. O Balanço Patrimonial (ver quadro a seguir) demonstra, de um lado, as disponibilidades em moeda de movimentação livre e vinculada, os depósitos de diversas origens, direitos, os bens tangíveis e intangíveis, e do outro lado, as obrigações assumidas com terceiros por aquisições de bens e serviços a prazo e valores de terceiros, consignações, empréstimos a curto e longo prazos, bem como a dívida mobiliária. Esta demonstração classifi ca o seu conteúdo em grupos e subgrupos de contas a fi m de facilitar o entendimento da informação por quem a utilizar. Exemplos: • Grupos: Ativo, em que se classifi cam os bens e direitos, e Passivo, em que se classifi cam as obrigações a pagar. • Subgrupos: Ativo Circulante e Não Circulante e Passivo Circulante e Não Circulante. Nestes subgrupos se classifi cam as contas que refl etem o movimento fi nanceiro do período. Assim, no Ativo Circulante classifi cam-se as contas representativas de Caixa, de movimentação livre e vinculada, os Depósitos de Diversas Origens e os Direitos sobre valores recebíveis no exercício; e no Passivo Circulante, as obrigações a pagar vencíveis no exercício fi nanceiro demonstrado, os Valores de Terceiros (contrapartida dos Depósitos de Diversas Origens) e as Consignações. 76 Administração Financeira e Matemática Financeira Quadro 2 – Balanço Patrimonial BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO PASSIVO Circulante Circulante Não Circulante Não Circulante Passivo Real a Descoberto Ativo Real Líquido Fonte: O autor. Do encontro das contas componentes dos subgrupos Ativo Circulante e Passivo Circulante, quando aquele é maior que este, surge uma diferença positiva à qual se denomina Patrimônio Financeiro, que se equivale ao Capital Circulante ou de Giro próprio das empresas. O Patrimônio Líquido, ou Ativo Real Líquido, compreende a diferença entre os totais do Ativo e do Passivo, em que o total do Ativo é superior ao total do Passivo. O Balanço Financeiro (ver quadro a seguir) demonstra o movimento de caixa durante o exercício fi nanceiro a que se referir, podendo-se elaborá-lo com base no regime misto, conforme dispõe o art. 35 da Lei 4.320/64, e no regime de competência (ver Quadro 4), conforme os novos procedimentos contábeis que se vêm adotando ultimamente. Quadro 3 – Balanço Patrimonial – Regime Misto O Patrimônio Líquido, ou Ativo Real Líquido, compreende a diferença entre os totais do Ativo e do Passivo, em que o total do Ativo é superior ao total do Passivo. BALANÇO FINANCEIRO (Regime Misto – Art. 35, I e II-Lei 4.320/64) RECEITAS DESPESAS Orçamentárias (Arrecadadas) Orçamentárias (Empenhadas) Extraorçamentárias Extraorçamentárias Restos a Pagar (Pagamentos obgs. ants) Depósitos Diversos Depósitos Diversos Devol. Cx. Outros Poderes Liber. Recursos Outros Pod. Outras Outros Saldos Exercs. Ante- riores Saldos p/Exercs. Se- guintes Soma Total Soma Total Fonte: O autor. 77 O PATRIMÔNIO FINANCEIRO Capítulo 4 Quadro 4 – Balanço Patrimonial – Regime de Competência BALANÇO FINANCEIRO (Competência – Lei 4.320/64) RECEITAS DESPESAS Orçamentárias Orçamentárias Créditos a Receber (Processadas) Capital Extraorçamentárias Extraorçamentárias Restos a Pagar (Proces- sados) (Pagtos. Obgs. Ants.) Depósitos Diversos Depósitos Diversos Devol. Cx. Outros Pode- res Liber. Recursos Outros Pod. ------- Saldo de Créditos a Receber Outras Outros Saldos de Exercs. Ants. Saldos p/Exerc. Se- guinte Soma Total Soma Total Fonte: O autor. O Fluxo de Caixa por atividades é a mais nova demonstração do movimento de caixa exigida às organizações governamentais. A ideia veio da Contabilidade empresarial e tem por objetivo revelar o movimento de caixa por grupos de atividades denominadas de Operacionais, Investimentos e Financiamentos. Quadro 5 – Fluxo de Caixa por Atividade O Fluxo de Caixa por atividades é a mais nova demonstração do movimento de caixa exigida às organizações governamentais. FLUXO DE CAIXA POR ATIVIDADE 1 – ATIVIDADES OPERACIONAIS Despesas que não utilizam o Caixa Mais Resultado Financeiro Origens de Caixa Créditos a Receber Outras Receitas Soma Menos Aplicações de Caixa Pagamentos Saldo de Créditos a Receber Fluxo de Caixa – Atividades Operacionais 78 Administração Financeira e Matemática Financeira 2 – ATIVIDADES DE INVESTIMENTOS Origens de Caixa Aplicações de Caixa Fluxo de Caixa – Investimentos 3 – ATIVIDADES DE FINANCIAMENTOS Origens de Caixa Aplicações de Caixa Fluxo de Caixa - Financiamentos Fonte: Ao autor. Estes são os relatórios em que serão demonstradas operações que produziram efeitos no fl uxo de caixa. Obs.: As demonstrações Balanço Financeiro e Fluxo de Caixa por Atividades são diferentes dos modelos apresentados na Lei 4.320/64, posto que estes não se prestam para os objetivos deste trabalho. PRINCÍPIO DA COMPETÊNCIA NA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Conforme já afi rmado, a alegação de que a Administração Financeira opera apenas no regime de caixa, em que, de um lado, as receitas se fazem efetivas, e do outro os pagamentos ou saídas de caixa, não faz sentido. Com este procedimento, deixa de considerar a expectativa dos recebimentos das receitas que se sujeitam a lançamentos prévios, mediante o reconhecimento de direitos sobre valores recebíveis, como os créditos tributários dos quais surge a receita efetiva tributária e as que se originam de contratos, e do outro, os efeitos dos créditos pendentes de recebimentos no fl uxo de caixa no término do período a que se refere a demonstração. Com esta observação, o que se pretende é mostrar que os créditos a receber devem ser indicados nas demonstrações fi nanceiras Balanço Financeiro e Fluxo de Caixa por Atividades. Desta forma, preconiza-se a adoção do princípio de competência na Administração Financeira ou na gestão do fl uxo de caixa na Administração pública. De qualquer maneira, os procedimentos de Administração Financeira resultantes da aplicação deste princípio, sem dúvida alguma, serão analisados com muita atenção, em razão da série de consequências que refl etem decisões que poderão mudar os rumos da vida econômica e fi nanceira do ente federativo. 79 O PATRIMÔNIO FINANCEIRO Capítulo 4 Em realidade, o que nos impele a adotar o princípio da competência para as operações de caráter fi nanceiro que envolvem receitas e despesasgovernamentais são as determinações contidas nos arts. 39, 52, 53, 58 e 60, respectivos parágrafos e incisos, em conjunto com o art. 35, I e II, todos da Lei 4.320/64, combinados com as disposições contidas no Código Tributário Nacional, na Lei de Licitações e Contratos (Lei n° 8.666/93), no Código Civil e no Código Penal. O reconhecimento das receitas e das despesas governamentais com aplicação do princípio da competência se processa conforme se explicita a seguir: a) Receitas De tributos: a Administração Financeira deverá verifi car se admitem lançamentos diretos de ofício, por homologação ou por declaração (Conforme o Código Tributário Nacional). Os tributos de lançamento direto, por homologação ou por declaração, podem ter as suas respectivas receitas reconhecidas após o ato administrativo de constituição do crédito tributário, posto que o direito à percepção de ditas receitas já está concretizado pela lei que aprova o Código Tributário do ente federativo. De contratos: os lançamentos diretos deverão ser feitos a partir das datas estabelecidas para entregas de serviços e bens diversos contratados. De transferências constitucionais, a Administração Financeira as considerará a partir da publicação no Diário Ofi cial correspondente, identifi cando de um lado os créditos líquidos a receber, e do outro, a receita propriamente dita. As transferências conveniadas e as voluntárias, cujos valores antecipados ou adiantados somente serão reconhecidos quando a parceira ou a entidade receptora cumprir a sua parte estabelecida no convênio. A Dívida Ativa em cobrança judicial do exercício passa a ser registrada no Ativo Circulante. Receberá a carga dos devedores da Fazenda Pública, inscritos em créditos líquidos a receber para a cobrança administrativa, quando forem judicialmente inscritos para aquele tipo de cobrança. As demais receitas do ente federativo serão reconhecidas na arrecadação ou segundo a respectiva natureza. O que nos impele a adotar o princípio da competência para as operações de caráter fi nanceiro que envolvem receitas e despesas governamentais são as determinações contidas nos arts. 39, 52, 53, 58 e 60, respectivos parágrafos e incisos, em conjunto com o art. 35, I e II, todos da Lei 4.320/64, combinados com as disposições contidas no Código Tributário Nacional, na Lei de Licitações e Contratos (Lei n° 8.666/93), no Código Civil e no Código Penal. 80 Administração Financeira e Matemática Financeira O setor encarregado do lançamento administrativo direto, por homologação e/ou por declaração do tributo, informará à Contabilidade e à Administração Financeira sobre o valor lançado, cujo registro poderá ser feito em uma conta intitulada Créditos Líquidos a Receber/ Devedores Tributários/Impostos, Taxas ou Contribuição de Melhoria/ Fulano de Tal. Para o setor da Administração Financeira funcionar com efi ciência é necessário que se organize e integre as suas atividades às do setor de gestão e controle das Receitas e às da Contabilidade, a fi m de que as informações sobre o lançamento do tributo e do reconhecimento da receita, por via de consequência, não sejam prejudicadas na elaboração das demonstrações Balanço Financeiro e Fluxo de Caixa por Atividades. b) Despesa A Lei 4.320/64 proíbe a aquisição de Ativos (bens e serviços) sem o empenho prévio e, consequentemente, o reconhecimento da obrigação no período não se processa. A despesa, na sua verdadeira acepção técnica, independentemente de empenho, será reconhecida no período pelo seu fato gerador, ou seja, pelo consumo efetivo desses ativos (bens e serviços). No que respeita às subvenções sociais e econômicas, ou ainda às contribuições e aos auxílios, as despesas somente devem ser reconhecidas a partir da realização dos respectivos objetos identifi cada na prestação de contas obrigatória, a ser apresentada pela entidade benefi ciada e/ou receptora. Os adiantamentos ou suprimentos de fundos (caixa) feitos aos agentes administrativos ou políticos só devem ser reconhecidos como despesas efetivas após as respectivas comprovações de aplicações em prestação de contas na forma da legislação vigente. Assim, nos casos precedentes, a Contabilidade da entidade governamental deverá contabilizar os valores dos convênios e transferências voluntárias recebidos por antecipação como Passivo Circulante, e os adiantamentos como Ativo Circulante. Para o setor da Administração Financeira funcionar com efi ciência é necessário que se organize e integre as suas atividades às do setor de gestão e controle das Receitas e às da Contabilidade, a fi m de que as informações sobre o lançamento do tributo e do reconhecimento da receita, por via de consequência, não sejam prejudicadas na elaboração das demonstrações Balanço Financeiro e Fluxo de Caixa por Atividades. Os adiantamentos ou suprimentos de fundos (caixa) feitos aos agentes administrativos ou políticos só devem ser reconhecidos como despesas efetivas após as respectivas comprovações de aplicações em prestação de contas na forma da legislação vigente. 81 O PATRIMÔNIO FINANCEIRO Capítulo 4 O RESULTADO ORÇAMENTÁRIO O Orçamento se estrutura em dois grandes conjuntos: Receita e Despesa, ou seja, de um lado há uma expectativa de entradas de recursos, que possibilitarão a formação de lastro fi nanceiro, e do outro, empenhamentos que garantirão aquisições de bens e serviços a serem utilizados nos vários programas de trabalho planejados. O confronto entre esses dois conjuntos pode produzir uma diferença denominada Resultado Orçamentário previsto, cujo valor não produz qualquer efeito fi nanceiro, uma vez que o orçamento não está sendo executado. Na sua execução, entretanto, o confronto entre a Receita Lançada e a Despesa Empenhada produz uma diferença que se denomina Resultado Orçamentário Efetivo, que pode interferir no Resultado Financeiro e, portanto, no Patrimônio Financeiro, bem como nas informações que serão retratadas no Balanço Financeiro e na Demonstração do Fluxo de Caixa por Atividades. Tomem-se como exemplo os seguintes totais: Quadro 6 – Orçamento; Previsão x Realizado Previsão Receita 8.050.000 Despesa 8.050.000 Resultado Orçamentário Previsto 0 Resultado Orçamentário Realizado Receita Lançada 5.500.000 Despesa Empenhada 5.300.000 Resultado Orçamentário do Exercício 200.000 Fonte: O autor. O RESULTADO FINANCEIRO O Resultado Financeiro é consequência da confrontação entre os totais das receitas lançadas, das receitas efetivas e das despesas empenhadas processadas e não processadas, quando, então, pode surgir o superávit ou défi cit fi nanceiro. É apurado no subsistema de contabilidade fi nanceira organizado para gerar informações sobre operações que transitaram pelo Patrimônio Financeiro, resultantes ou não da execução do orçamento. Ele mede, pois, o impacto dessas operações no fl uxo de caixa e na estrutura daquele patrimônio. Vejamos os exemplos a seguir, tomando-se os totais: 82 Administração Financeira e Matemática Financeira Receita Lançada R$ 5.500.000 Despesa Empenhada Processada R$ 4.450.000 Resultado Financeiro Esperado R$ 1.050.000 Receita Arrecadada R$ 5.050.000 Despesa Processada R$ 4.450.000 Resultado Financeiro Efetivo R$ 600.000 Confrontando-se os Resultados Financeiros, Esperado e Efetivo, encontraremos a diferença de R$ 450.000 que corresponde aos Créditos Líquidos a Receber. Observe que ainda temos o valor de R$ 850.000 correspondente às Despesas em Processamento que, possivelmente, exigirá mais recursos fi nanceiros do Caixa, dependendo, evidentemente, do saldo desta conta com que o exercício fi nanceiro foi iniciado. Assim, confrontando-se o saldo de Créditos Líquidos a Receber (R$ 450.000) com o saldo de Despesas em Processamento (R$ 850.000), que passou para o período seguinte, fi ca demonstrada a necessidade de Caixa para cobrira diferença desses dois saldos, que demonstra existir um défi cit fi nanceiro de R$ 400.000, desde que, evidentemente, os créditos líquidos a receber sejam cobrados e recebidos. OPERAÇÕES QUE INFLUENCIAM O RESULTADO FINANCEIRO Adotado um ou outro regime e no sentido de preservar o patrimônio, o resultado e o equilíbrio fi nanceiro, algumas regras estabelecidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal serão observadas: a) Limitações de Empenhos O art. 9º da Lei Complementar nº 101/2000 (LRF) dispõe que, se verifi cado ao fi nal de um bimestre que a realização da receita poderá não comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou nominal estabelecido no anexo de metas fi scais, os Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos 30 dias subsequentes, limitação de empenho e movimentação fi nanceira, segundo os critérios fi xados pela Lei de Diretrizes Orçamentárias. O dispositivo trata de medidas que devem ser providenciadas por todos os Poderes constituídos das esferas governamentais, ou seja, a União, o Estado Adotado um ou outro regime e no sentido de preservar o patrimônio, o resultado e o equilíbrio fi nanceiro, algumas regras estabelecidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal serão observadas. 83 O PATRIMÔNIO FINANCEIRO Capítulo 4 membro da federação e o Município, no sentido de proteger as fi nanças da entidade, quando se verifi car que as metas fi scais estabelecidas nas Diretrizes Orçamentárias correm o risco de serem prejudicadas nas suas respectivas realizações. São as seguintes: • Combate à evasão e à sonegação de tributos e de outras fontes de receitas de competência do ente federativo; • Quantidade e valores de ações ajuizadas para a cobrança da dívida ativa; • Verifi cação da evolução do montante dos créditos tributários e não tributários (ver art. 39 da Lei 4.320/64), passíveis de cobrança administrativa. b) Renúncia de Receita De acordo com o art. 14 da Lei Complementar nº 101/2000, a concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário e fi nanceiro no exercício em que deva iniciar sua vigência, e, nos dois seguintes, atender ao disposto na Lei de Diretrizes Orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições: • Demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa da lei orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fi scais previstas no anexo próprio da Lei de Diretrizes Orçamentárias. • Estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquota, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. A renúncia compreende anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modifi cação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e outros benefícios que correspondam a tratamento diferenciado. c) Extinção do Crédito Tributário De acordo com o art. 156 da Lei Federal nº 5.172/1966, que dispõe sobre normas gerais de Direito Tributário, extinguem o crédito tributário: • O pagamento; • A compensação; • A transação; De acordo com o art. 14 da Lei Complementar nº 101/2000, a concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário e fi nanceiro no exercício em que deva iniciar sua vigência, e, nos dois seguintes, atender ao disposto na Lei de Diretrizes Orçamentárias. 84 Administração Financeira e Matemática Financeira • A remissão; • A prescrição e a decadência; • A conversão de depósito em renda; • O pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º; • A consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164; • A decisão administrativa irreformável, assim entendida a defi nitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória; • A decisão judicial passada em julgado; • A dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. INDICADORES FINANCEIROS Os indicadores fi nanceiros prestam-se às análises e avaliações das demonstrações contábeis, fi nanceiras e orçamentárias, cujas informações dizem respeito ao desempenho operacional de uma entidade ou dos gestores públicos, e são considerados básicos na avaliação da gestão por parte dos órgãos de controle público. a) Resultado Primário O Resultado Primário é parâmetro para medir a capacidade da entidade de pagar as suas obrigações de curto e longo prazos, assumidas com o fi m de fi nanciar as suas atividades. Este resultado é apurado no subsistema fi nanceiro. Ele é calculado tomando-se, primeiramente, as chamadas receitas oriundas das atividades próprias, as quais podemos denominar de Receitas Operacionais, tais como: Receita Tributária + Receitas de Serviços + Receitas Industriais + Receitas de Contribuições + Receita Patrimonial + Receitas de Transferências + Receitas Diversas. Entre as Receitas de Transferências incluem-se as Receitas de Transferências de Capital. Da Receita de Contribuições exclui-se a Receita de Previdência, e da Receita Patrimonial excluem-se as receitas oriundas de juros de aplicações fi nanceiras e de alienações de bens. Tem-se, então, Receita Operacional Total. Em seguida, tomam-se as Despesas Correntes, das quais excluem-se aquelas referentes aos juros pagos em que se encontram as Despesas Correntes Líquidas. O Resultado Primário é parâmetro para medir a capacidade da entidade de pagar as suas obrigações de curto e longo prazos, assumidas com o fi m de fi nanciar as suas atividades. Este resultado é apurado no subsistema fi nanceiro. 85 O PATRIMÔNIO FINANCEIRO Capítulo 4 Por fi m, o Resultado Primário é formado pela subtração do total da Receita Operacional Total o total das Despesas Correntes Líquidas, ou seja: Resultado Primário = Receita Operacional menos Total Despesas Correntes Líquidas (REIS, 2012, p. 47). 1 - Receitas Operacionais Líquidas Receita Tributária Receitas de Serviços Receitas Industriais Receitas de Contribuições Receita Patrimonial Receitas de Transferências Receitas Diversas Soma Menos 2 - Despesas Operacionais Líquidas Despesas Correntes - Despesas de Custeio - menos Juros - Transferências Correntes Soma Diferença (1 – 2) Esclareça-se que as despesas que se consideram no cálculo do Resultado Primário são as chamadas despesas processadas ou prontas para pagamento. b) Receita Corrente Líquida A Receita Corrente Líquida é apurada de acordo com o disposto no art. 2º, IV, da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC nº 101/2000). Toma-se o somatório das receitas classifi cáveis como Receitas Correntes, subtraindo-se deste total os valores estabelecidos em a, b e c, do inciso mencionado, observando-se, contudo, as disposições contidas nos parágrafos 1º, 2º e 3º do artigo acima mencionado. c) Resultado Nominal O Resultado Nominal é uma medida da capacidade de assumir novas obrigações a longo prazo, geralmente classifi cadas no Passivo Não Circulante, como Dívida Fundada, Dívida Consolidada ou Dívida Mobiliária. As despesas que se consideram no cálculo do Resultado Primário são as chamadas despesas processadas ou prontas para pagamento. O Resultado Nominal é uma medida da capacidade de assumir novas obrigações a longo prazo, geralmente classifi cadas no Passivo Não Circulante, como Dívida Fundada, Dívida Consolidada ou Dívida Mobiliária. 86 Administração Financeira e Matemática Financeira É calculado a partir da seguinte fórmula: • Ativo Circulante Caixa Geral+ (Caixas Vinculados - Caixa Depósito de Diversas Origens) = Caixa Líquido (Caixa Líquido + Receites de Privatizações) menos (Restos a Pagar + Serviços da Dívida a Pagar + ARO) = Ativo Circulante Líquido • Passivo Não Circulante Dívida Consolidada = Soma de todas as dívidas assumidas e inscritas no Passivo Não Circulante. • Resultado Nominal = Ativo Circulante Líquido menos Dívida Consolidada Se, porventura, a Dívida Consolidada é maior que o Ativo Circulante Líquido, evidentemente o Resultado Nominal é negativo e, neste caso, fi ca demonstrada a incapacidade da entidade de assumir novas dívidas a longo prazo. Esclareça-se que o Restos a Pagar é composto apenas das despesas efetivamente empenhadas e processadas. Este resultado é apurado no subsistema patrimonial, conjugado com o subsistema fi nanceiro (REIS, 2012, p. 48). ANÁLISES VERTICAL E HORIZONTAL DAS RECEITAS E DESPESAS GOVERNAMENTAIS Receitas e Despesas Governamentais podem ser analisadas nas formas vertical e horizontal, cujo sentido é de verifi car e interpretar o desempenho ou o comportamento da administração na gestão desses valores. a) Receitas No sentido vertical, a análise verifi ca e interpreta a relação de uma espécie da receita e da despesa em relação ao total ou ao conjunto de um ou mais períodos determinados. Receitas e Despesas Governamentais podem ser analisadas nas formas vertical e horizontal, cujo sentido é de verifi car e interpretar o desempenho ou o comportamento da administração na gestão desses valores. 87 O PATRIMÔNIO FINANCEIRO Capítulo 4 Quadro 7 – Análise Vertical Exercícios X0 X1 Receitas $ % $ % Receita Tributária 101.000 20,20 50.000 20,27 Receita de Contribuições 800 0,16 3.000 0,41 Receita de Agropecuária 1.200 2,24 15.000 2,03 Receita de Serviços 8.000 1,60 12.000 1,62 Receita Industrial 10.000 2,00 25.000 3,38 Receita Patrimonial 4.000 0,80 10.000 1,35 Receitas de Transferências 350.000 70,00 500.000 67,57 Receitas Diversas 15.000 3,00 25.000 3,38 Soma 500.000 100,00 740.000 100,00 Fonte: O autor. No sentido horizontal podemos ter vários períodos e, destes, escolher o primeiro e fi xá-lo para apurar as variações em torno deste período, a fi m de se avaliar a evolução desses valores no tempo. Existem outras modalidades de análises, mediante as quais procura-se interpretar os efeitos das decisões sob os enfoques econômico, fi nanceiro, social, patrimonial etc. Atividades de Estudos: 1) De acordo com os estudos feitos neste capítulo, expresse o seu entendimento sobre o Patrimônio Financeiro e sobre as demonstrações fi nanceiras Balanço Financeiro e Fluxo de Caixa por Atividades. ___________________________________________________ ___________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ ___________________________________________________ __________________________________________________ 88 Administração Financeira e Matemática Financeira 2) Como se processa a utilização do princípio da competência pela Administração Financeira? ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ b) Despesa A despesa também poderá ser analisada nos sentidos vertical e horizontal com os mesmos objetivos, tendo como base uma série histórica, tal qual se exemplifi cou com as receitas. c) Outras formas Uma forma de se avaliar a efi ciência da administração, e também quanto aos resultados, é agrupar as atividades da organização, tal como se indica: • Atividades geradoras de receitas sem vínculos com despesas, tais como os impostos e as transferências constitucionais. • Atividades que geram somente despesas, que se correlacionam com os respectivos produtos, tais como a segurança pública, cujas atividades são geradoras apenas de despesas, mas que se correlacionam com os produtos esperados. • Atividades que geram receitas, despesas e produtos, em que se espera um certo correlacionamento entre esses valores. Em realidade, as receitas são consideradas variáveis dependentes, as despesas e os produtos como variáveis independentes. Estas formas de avaliar a efi ciência do desempenho da organização são difíceis de desenvolver, pois há que se estudar de forma aprofundada as atividades da organização e identifi car as possíveis correlações da receita com a despesa. 89 O PATRIMÔNIO FINANCEIRO Capítulo 4 PRESTAÇÃO DE CONTAS A prestação de contas é um ato praticado por pessoa física, e por pessoa jurídica pública ou privada com ou sem fi ns lucrativos, que tenha sob a sua responsabilidade valores de qualquer espécie, representados por bens e/ou dinheiros, de propriedade de entidade governamental, os quais são empregados nas suas atividades, tendo em vista a concretização de um objetivo. A Constituição da República, no seu art. 70, assim dispõe (BRASIL, 1988): Art. 70 – A fi scalização contábil, fi nanceira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder. Parágrafo Único – Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária. Evidentemente, o simples fato de apresentar a sua prestação de contas não signifi ca que a pessoa estará isenta da fi scalização do ente governamental, cujo objetivo é o de verifi car e constatar o cumprimento daquilo que foi a razão da entrega e do recebimento do valor pelo qual se responsabilizou. Daí a necessidade de a pessoa, física ou jurídica, receptora de valores do ente federativo ou de entidade pública descentralizada para serem aplicados nas suas atividades para cumprir com objetivos previamente delineados, observar a regra do artigo 83 da Lei 4.320/64, bem como o artigo 74 e incisos da Constituição Federal. a) Fiscalização A submissão à fi scalização decorre de mandamento da própria Constituição Federal, conforme se constata no seu artigo 74, II, que dispõe que compete ao sistema de controle interno, mantido pelo Poder concedente, comprovar a legalidade e avaliar os resultados quanto à efi cácia e efi ciência da gestão A prestação de contas é um ato praticado por pessoa física, e por pessoa jurídica pública ou privada com ou sem fi ns lucrativos, que tenha sob a sua responsabilidade valores de qualquer espécie, representados por bens e/ou dinheiros, de propriedade de entidade governamental, os quais são empregados nas suas atividades, tendo em vista a concretização de um objetivo. O simples fato de apresentar a sua prestação de contas não signifi ca que a pessoa estará isenta da fi scalização do ente governamental, cujo objetivo é o de verifi car e constatar o cumprimento daquilo que foi a razão da entrega e do recebimento do valor pelo qual se responsabilizou. 90 Administração Financeira e Matemática Financeira orçamentária, fi nanceira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado (REIS, 2012). A fi scalização, de que trata o dispositivo constitucional, éde várias naturezas e signifi cados, quais sejam: • Contábil: de verifi car os registros das operações realizadas de acordo com as normas da legislação pertinente, o que inclui a observância aos princípios de contabilidade. • Financeira: de verifi car os efeitos das transações sobre o fl uxo de caixa da entidade receptora dos valores pertencentes ao ente federativo. • Orçamentária: de verifi car se a operação realizada tinha adequação orçamentária, e tenha observado as regras impostas pela legislação para a execução, tanto da receita, quanto da despesa. • Patrimonial: de verifi car os efeitos da operação realizada na estrutura econômico-fi nanceira do patrimônio da entidade governamental e das entidades receptoras dos valores que lhes foram entregues pelo ente federativo ou pela entidade pública descentralizada. • Operacional: de verifi car a concretização das metas e do objetivo previamente determinados, tendo em vista a execução das ações planejadas e programadas. É importante assinalar que a fi scalização, independentemente da sua natureza e signifi cado, levará em conta os aspectos da legalidade e da legitimidade, bem como os conceitos de caráter gerencial, tais como a economicidade, a efi ciência e a efi cácia. Em relação ao controle externo, cabe ao Poder Legislativo, com o auxílio do Tribunal de Contas, julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público, conforme explicitado no art. 71, II, da Constituição da República. b) Conceito de Prestação de Contas Preliminarmente se destaca o conceito de prestação de contas nestes fundamentos, tal como se descreve a seguir. É importante assinalar que a fi scalização, independentemente da sua natureza e signifi cado, levará em conta os aspectos da legalidade e da legitimidade, bem como os conceitos de caráter gerencial, tais como a economicidade, a efi ciência e a efi cácia. 91 O PATRIMÔNIO FINANCEIRO Capítulo 4 Prestação de Contas deve ser entendida como um ato voluntário do agente da administração, responsável por bens e valores pertencentes ou confi ados à Fazenda Pública. Segundo Piscitelli et al. (1995, p. 321): Entende-se como agente responsável toda pessoa física que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos da União e das entidades da administração indireta ou pelos quais estas respondam, ou que, em nome destas, assuma obrigação de natureza pecuniária e, ainda, o gestor de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, Distrito Federal, a Município, a entidades públicas ou organizações particulares. Não é outra a determinação da Constituição da República, que se verifi ca por intermédio do parágrafo único do seu art. 70, já exposto. Sobressai-se aqui, pois, o conceito de Contas de Gestão, que refl ete a responsabilidade individualizada do agente da administração pública, político ou administrativo. Para a geração de informações úteis e confi áveis sobre a gestão de recursos do Patrimônio da Entidade Governamental, qualquer que ela seja, e que estão sob a responsabilidade de agentes da Administração Pública, a administração organizará o seu sistema de contabilidade de tal forma que as responsabilidades dos gestores sejam evidenciadas, conforme determinado no art. 83, da Lei nº 4.320/64, a seguir transcrito: “Art. 83. A contabilidade evidenciará perante a Fazenda Pública a situação de todos quantos, de qualquer modo, arrecadem receitas, efetuem despesas, administrem ou guardem bens a ela pertencentes ou confi ados” (BRASIL, 1964). Mais adiante, a lei dispõe sobre outra forma de gestão de recursos fi nanceiros que são colocados à disposição de um agente público, que pode ser administrativo, para o fi m especial de efetuar pagamentos em nome da administração pública, tal como se verifi ca pelo art. 68, da já referida Lei nº 4.320/64, como se transcreve a seguir: “Art. 68. O regime de adiantamento é aplicável aos casos de despesas expressamente defi nidos em lei e consiste na entrega de numerário a servidor, sempre precedida de empenho na dotação própria, para o fi m de realizar despesas que não possam subordinar-se ao processo normal de aplicação” (BRASIL, 1964). Observe que são várias as formas de gestão administrativa e fi nanceira de recursos públicos utilizadas pela administração, as quais têm à frente o gestor designado por ato governamental para assumir a responsabilidade. Essa responsabilidade é assumida por delegação de competência, quando for Prestação de Contas deve ser entendida como um ato voluntário do agente da administração, responsável por bens e valores pertencentes ou confi ados à Fazenda Pública. 92 Administração Financeira e Matemática Financeira de interesse do gestor principal. Quer dizer, cada agente, político ou administrativo, pode assumir obrigações em nome da entidade governamental, desde que legalmente habilitado, conforme já mencionado. Podemos citar como exemplo os seguintes: • O almoxarife, que gerencia o setor denominado almoxarifado; • O tesoureiro, que tem sob a sua responsabilidade a gestão da tesouraria; • O agente administrativo designado para ser portador de um adiantamento ou suprimento de fundo; • O agente designado para ser o gestor de um fundo especial. Cada um desses agentes deverá apresentar a sua prestação de contas acompanhada do respectivo relatório de gestão. Entretanto, esclareça-se que essa descentralização não é obrigatória. Ela ocorre naturalmente, ou seja, à medida que as necessidades da administração se apresentem em decorrência do aumento das demandas, é feita aquela delegação de competência, habilitando legalmente cada um dos auxiliares designados para assumir, no âmbito da organização, obrigações com terceiros, a partir do momento em que inicia a execução dos programas de trabalho do órgão. Este é o sentido do art. 58, da Lei nº 4.320/64, que assim dispõe: “Art. 58. Empenho de despesa é o ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou não do implemento de condição” (BRASIL, 1964). Assim, autoridade competente é o agente investido legalmente da competência para assumir em nome da Entidade governamental direitos ou obrigações. Ora, só pode ser autoridade competente, inicialmente, por exemplo, no âmbito da administração municipal, o prefeito que, por investidura, mediante eleição, detém o poder de decidir e, posteriormente, aquele a quem ele delega competência. O mesmo acontece com o Presidente do Poder Legislativo Municipal ou do Poder Legislativo de outra esfera governamental. A esse respeito, uma das regras estabelecidas pela Lei nº 4.320/64 para o reconhecimento das obrigações no exercício assim dispõe: “Art. 35. Pertencem ao exercício fi nanceiro: I - as receitas nele arrecadadas; e II - as despesas nele legalmente empenhadas”. Observe que o dispositivo impõe uma restrição para o reconhecimento da obrigação no período: que ela seja legalmente empenhada. E o que esta expressão quer dizer? Dentre outras coisas, que toda e qualquer obrigação só pode ser reconhecida como tal se assumida por agente legalmente habilitado. E já sabemos o que signifi ca agente legalmente habilitado. Cada agente, político ou administrativo, pode assumir obrigações em nome da entidade governamental, desde que legalmente habilitado, conforme já mencionado. 93 O PATRIMÔNIO FINANCEIRO Capítulo 4 A Lei nº 4.320/64, já mencionada, não obriga a descentralização administrativa ou fi nanceira pelo simples fato de determinar a elaboração do orçamento e aprogramação da despesa pelos órgãos que constituem a estrutura administrativa da entidade. Ela o faz apenas no sentido de informar o volume de recursos que o órgão possui e utilizará na execução dos programas de trabalho a seu cargo, e, desta maneira, permitir a apuração dos custos respectivos. Por outro lado, a Constituição da República inovou, principalmente no que respeita à função controle, conforme se verifi ca no seu art. 74, incisos e parágrafos respectivos. Neste dispositivo, a função Controle Interno, que antes estava sob a responsabilidade exclusiva do Poder Executivo, como determinado no art. 76, da Lei nº 4.320/64, foi repartida pelos Poderes que constituem os governos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, quando então nasce o conceito de Contas de Governo. A Constituição da República deu, pois, ênfase ao controle interno nas entidades governamentais, determinando-lhes a sua organização, no âmbito de cada Poder, a fi m de preservar a integridade das respectivas parcelas patrimoniais sob a responsabilidade desse mesmo Poder. Por aquele dispositivo constitucional, cada Poder fi ca obrigado a organizar e manter o seu próprio sistema de controle interno, em razão de responsabilidade mantida na gestão da parcela patrimonial que lhe cabe. Desta forma, cada Poder (no âmbito do Município, Poder Executivo e Poder Legislativo) deverá elaborar as suas próprias demonstrações contábeis e fi nanceiras e relatório de gestão, a fi m de revelar como foi gerida a parcela patrimonial que lhe cabe (REIS, 1992). Muitas dúvidas têm surgido com relação à linguagem adotada no art. 74 mencionado, principalmente no que se refere à expressão "[...] de forma integrada, sistema de controle interno [...]" (REIS, 1992, p. 20), posto que, em realidade, a maioria das entidades governamentais não tem cumprido a determinação constitucional. A obrigatoriedade de se manter um sistema de controle interno não é mais somente do Poder Executivo. A Constituição de 1988 a estende também aos Poderes Legislativo e Judiciário, conforme o disposto no artigo 74. Além do seu próprio sistema de controle interno, os Poderes manterão de forma integrada um outro sistema de controle interno, o que resultará na existência de três níveis de controle: o externo executado pelo Poder Legislativo com o auxílio do Tribunal de Contas; o interno no âmbito de cada Poder, e o interno A Constituição da República inovou, principalmente no que respeita à função controle, conforme se verifi ca no seu art. 74, incisos e parágrafos respectivos. Neste dispositivo, a função Controle Interno, que antes estava sob a responsabilidade exclusiva do Poder Executivo, como determinado no art. 76, da Lei nº 4.320/64, foi repartida pelos Poderes que constituem os governos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, quando então nasce o conceito de Contas de Governo. 94 Administração Financeira e Matemática Financeira integrado, mantido em conjunto pelos Poderes. Como se vê, o sistema de informação contábil (orçamentária, fi nanceira, patrimonial e gerencial) deverá ser estruturado de tal maneira que possibilite a visualização das contas de cada Poder, melhor dizendo, cada Poder terá o seu próprio sistema de informação contábil, mediante o qual serão elaborados demonstrações contábeis e relatórios específi cos, que possibilitarão a visualização da gestão daquelas parcelas patrimoniais, e, consequentemente, nas respectivas prestações de contas. Cabe aqui, entretanto, o alerta de que, antes da elaboração das demonstrações contábeis fi nais de cada Poder, é necessário o preparo das demonstrações contábeis das gestões individualizadas e as respectivas combinações com o restante da Contabilidade do Poder, para o levantamento do balanço e relatório fi nais. A prestação de contas não é responsabilidade exclusiva dos agentes gestores responsáveis pela custódia de bens e valores pertencentes ou confi ados à Fazenda Pública e às unidades políticas integrantes das esferas de governo, tais como os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, mas se estende às unidades da Federação, ou seja, a União, os Estados, os Municípios, o Distrito Federal e aos respectivos órgãos da administração descentralizada, as autarquias, as fundações, as empresas públicas e as sociedades de economia mista. A administração da entidade central, desde que as necessidades coletivas exijam a sua presença mais próxima à população, descentraliza certos programas de trabalho, no sentido de agilizar a execução respectiva, entregando-os à responsabilidade de órgãos tais como autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas públicas, denominadas de órgãos da administração descentralizada. Observe que cada uma destas entidades possui personalidade jurídica e autonomia administrativa e fi nanceira. Cada uma dessas entidades, a central e as descentralizadas, está obrigada pela lei a levantar os seus balanços respectivos, acompanhados dos relatórios de gestão. Assim, pode-se afi rmar que as contas da entidade classifi cam-se em: • Contas da entidade central; • Contas das entidades descentralizadas; Além do seu próprio sistema de controle interno, os Poderes manterão de forma integrada um outro sistema de controle interno, o que resultará na existência de três níveis de controle: o externo executado pelo Poder Legislativo com o auxílio do Tribunal de Contas; o interno no âmbito de cada Poder, e o interno integrado, mantido em conjunto pelos Poderes. A prestação de contas não é responsabilidade exclusiva dos agentes gestores responsáveis pela custódia de bens e valores pertencentes ou confi ados à Fazenda Pública e às unidades políticas integrantes das esferas de governo, tais como os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, mas se estende às unidades da Federação, ou seja, a União, os Estados, os Municípios, o Distrito Federal e aos respectivos órgãos da administração descentralizada, as autarquias, as fundações, as empresas públicas e as sociedades de economia mista. 95 O PATRIMÔNIO FINANCEIRO Capítulo 4 • Contas de entidade econômica, que se identifi cam através do balanço geral consolidado. Aqui chega-se a dois conceitos, o das contas da entidade (da entidade central e de cada entidade descentralizada), ou seja, da entidade jurídica, conforme preceituam os arts. 1º, 83 a 106, 109 e 110, incisos e parágrafos respectivos, todos da Lei nº 4.320/64, e o das contas da entidade econômica. Assim, contas da entidade são as que, observando as regras que lhes pertinem e os princípios de contabilidade, dentre os quais o da entidade, refl etem, individualmente, a totalidade do seu patrimônio, ativos e passivos assumidos, indicando ou revelando como o mesmo foi gerido no período a que se refere o resultado apurado. Enquanto as contas da entidade econômica se refl etem pela consolidação dos balanços da entidade central com os das entidades descentralizadas, e assim elabora-se o balanço geral consolidado. Este balanço consolidado decorre das disposições contidas no parágrafo único do art. 110 e no art. 111, todos da Lei nº 4.320/64. Para chegar-se às contas defi nitivas da entidade há que se transpor algumas fases, tais como: • No âmbito de cada Poder, a unifi cação das contas de gestão dos Fundos Especiais com os restantes das contas que evidenciam a gestão pela Unidade de Tesouraria; • Integração das contas dos Poderes, para levantar-se o balanço geral da entidade central. Neste ponto chegamos ao conceito de controle interno integrado, conforme disposto no já mencionado art. 74, parágrafos e incisos da Constituição da República. c) Periodicidade da prestação de contas Como já exposto, a prestação de contas é feita e apresentada pelos agentes da Administração, conforme determinado no parágrafo único do art. 70 da Constituiçãoda República. Conforme a sua periodicidade, a prestação de contas é elaborada: • Por encerramento de gestão, que pode ser em qualquer momento do exercício, em razão de substituições; a prestação de contas é adstrita à movimentação de valores ou à realização de ações pertinentes ao setor gerido. Por exemplo, o Almoxarifado. Contas da entidade são as que, observando as regras que lhes pertinem e os princípios de contabilidade, dentre os quais o da entidade, refl etem, individualmente, a totalidade do seu patrimônio, ativos e passivos assumidos, indicando ou revelando como o mesmo foi gerido no período a que se refere o resultado apurado. A prestação de contas é feita e apresentada pelos agentes da Administração, conforme determinado no parágrafo único do art. 70 da Constituição da República. 96 Administração Financeira e Matemática Financeira • Por encerramento do exercício - como decorrência da aplicação da regra contida no art. 34 da Lei 4.320, de 17 de março de 1964, a prestação de contas é feita apenas para dar uma satisfação sobre os resultados obtidos no exercício, que coincide com o ano civil, que vai de 1º de janeiro a 31 de dezembro. Geralmente é feito pelo gestor principal da Administração da entidade, no caso o Município, ou seja, pelo Chefe do Poder Executivo, o Prefeito, e pelo Chefe do Poder Legislativo. De uma forma global, a prestação de contas é elaborada pela entidade governamental tal como o Município, a autarquia, a Fundação, a Empresa Pública e a Sociedade de Economia Mista. • Por encerramento de mandato - a prestação de contas tem o signifi cado de apresentar ao sucessor a real situação econômica, fi nanceira, social, administrativa e jurídica da entidade, a fi m de que este possa iniciar a sua gestão a partir de medidas que devem ser providenciadas para solucionar questões demandadas pela população e por aqueles com os quais a entidade tem relações de caráter jurídico, econômico e fi nanceiro. Dentre as questões que poderão estar presentes na prestação de contas de encerramento de mandato, destaca-se a que se relaciona à compatibilização do volume de obrigações assumidas e transferidas para o sucessor com as disponibilidades de caixa do Município, conforme se verifi ca da interpretação do art. 42 e seu parágrafo único da Lei Complementar nº 101/2000 – LRF, para a qual buscará medidas de solução adequadas à situação encontrada. d) A composição da prestação de contas • Relatório de gestão A prestação de contas, independentemente do motivo, pode ser assim composta: I - Relatório de gestão, cujo signifi cado é o de apresentar de forma descritiva as ações desenvolvidas e os resultados obtidos, bem como as medidas que se fi zeram necessárias para solucionar problemas que se apresentaram durante o período de gestão. Quando por fi m de mandato, o relatório de gestão é elaborado por área de atuação do Governo. Exemplos: • Educação, descrever as ações desenvolvidas para a obtenção dos resultados nesta área, em relação às metas e ao objetivo pretendido. • Saúde, descrever as ações desenvolvidas para a obtenção dos resultados nesta área, em relação às metas e ao objetivo pretendido. E, assim, 97 O PATRIMÔNIO FINANCEIRO Capítulo 4 sucessivamente. II – Relatórios contábeis e fi nanceiros É o conjunto de demonstrações contábeis exigidas pela legislação pertinente, as quais devem ser preparadas pelo setor da contabilidade, quais sejam: • Balanço Patrimonial. • Demonstração das Variações Patrimoniais. • Balanço Financeiro. • Demonstração dos Fluxos de Caixa. • Balanço Orçamentário. • Relatório Resumido da Execução Orçamentária. • Relatório de Gestão Fiscal. III – Demonstrações Contábeis e Financeiras das entidades descentralizadas • Autarquias. • Fundações. • Empresas Públicas. • Sociedades de Economia Mista. IV – Demonstração de Balanço Consolidado • Demonstrações da entidade central com as das autarquias e fundações. • Demonstrações de empresas públicas. • Demonstrações de sociedades de economia mista. A prestação de contas é encaminhada ao Tribunal de Contas do Estado ou do Município para verifi cações e emissão do parecer que será submetido ao Poder Legislativo, de acordo com determinações contidas na Constituição Federal. e) O papel do Tribunal de Contas De acordo com as normas constitucionais, o controle externo é função do Poder Legislativo, que o exerce com o auxílio do Tribunal de Contas tanto da União, quanto os dos Estados, cujas atividades são delineadas na Constituição da República e nas Constituições dos Estados, respectivamente. O Poder Legislativo municipal, por exemplo, é auxiliado pelo De acordo com as normas constitucionais, o controle externo é função do Poder Legislativo, que o exerce com o auxílio do Tribunal de Contas tanto da União, quanto os dos Estados, cujas atividades são delineadas na Constituição da República e nas Constituições dos Estados, respectivamente. 98 Administração Financeira e Matemática Financeira Tribunal de Contas do Estado em que se localiza o Município. Esse Tribunal de Contas organiza o setor que se destina a examinar as contas municipais e as do Estado. Neste caso, são exceções os Municípios de São Paulo e do Rio de Janeiro, que, em razão das respectivas populações, possuem o seu próprio Tribunal de Contas. Aos Tribunais de Contas cabem, dentre outras, as seguintes atribuições: • Julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos das unidades dos Poderes públicos constituídos, e bem assim, das entidades da administração indireta, incluídas as fundações e empresas, instituídas, organizadas e mantidas pelos respectivos Poderes, os fundos e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte dano ao erário. • Exercer a fi scalização contábil, fi nanceira, orçamentária, operacional e patrimonial das unidades dos Poderes do ente federado, e das demais entidades referidas anteriormente. • Apreciar as contas anuais do Chefe do Executivo e exarar o respectivo Parecer para ser apresentado e discutido no âmbito do Poder Legislativo. Atividades de Estudos: 1) Atendendo à legislação vigente, de que forma deve ser feita a prestação de contas de uma entidade jurídica de direito público interno? ___________________________________________________ ___________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ ___________________________________________________ __________________________________________________ 99 O PATRIMÔNIO FINANCEIRO Capítulo 4 2) Informe a importância da avaliação da despesa governamental por atividades. ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Como vimos, o Patrimônio Financeiro é a parte do Balanço Patrimonial que nos oferece uma visão da situação fi nanceira de curto prazo de qualquer ente federado, pois dele obtemos informações sobre o movimento de caixa, constantes do Balanço Financeiro e também da Demonstração do Fluxo de Caixa por atividades, além de oferecer informações sobre a existência de superávit fi nanceiro para a abertura de créditos adicionais, conforme as disposições do art. 43, §§ da Lei nº 4.320/64. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei Federal nº 5.172/66. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais dedireito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5172.htm>. Acesso em: 12 abr. 2017. ______. Lei Federal nº 8.666/93. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L8666cons.htm>. Acesso em: 12 abr. 2017. ______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefi a para Assuntos Jurídicos. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil 03/leis/ 2002/L10406.htm>. Acesso em: 12 abr. 2017. 100 Administração Financeira e Matemática Financeira ______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefi a para Assuntos Jurídicos. Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/decreto-lei/ Del2848compilado.htm>. Acesso em: 12 abr. 2017. ______. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (atualizada até a EC n° 95, de 15/12/2016 - DOU 16/12/2016). Disponível em: <http://www.trtsp.jus.br/legislacao/constituicao-federal-emendas>. Acesso em: 12 abr. 2017. ______. Lei complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de fi nanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fi scal e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/ Lcp101.htm>. Acesso em: 12 abr. 2017. ______. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4320.htm>. Acesso em: 12 abr. 2017. PISCITELLI, Roberto Bocaccio et al. Contabilidade pública. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1995. p. 321. REIS, Heraldo da Costa. Áreas e centros de responsabilidade no controle interno das entidades governamentais. In: Revista de Administração Municipal, Rio de Janeiro: IBAM, v. 39, n. 205, p. 19-35, out./dez. 1992. REIS, Heraldo da Costa. Planejamento governamental e controle. Indaial: Uniasselvi, 2012. p. 47.
Compartilhar