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CANCER DE UTERO Por Ingrid Tavares Cardoso, professora de Graduação em Medicina e Enfermagem Unifeso. Introdução: o A maioria dos fatores de risco para o surgimento de carcinoma do endométrio está relacionada com a estimulação estrogênica prolongada e sem oposição da progesterona; o Na avaliação de uma mulher com sangramento uterino anormal ou suspeita de doença endometrial, a biópsia por aspiração do endométrio realizada no consultório é a primeira etapa da propedêutica aceita; o Os carcinomas de endométrio serosos e de células claras representam menos de 10% dos casos de câncer de endométrio, mas são responsáveis por mais de metade das mortes por esse tipo de câncer; o A maioria das mulheres com câncer de endométrio deve ser submetida a estadiamento cirúrgico, que inclui histerectomia, sapingo-ooforectomia bilateral, linfadenectomia pélvica e para aórtica e citologia peritoneal. A linfadenectomia pode ser dispensada em pacientes com risco mínimo de disseminação linfática; o As variáveis de prognóstico adverso mais importantes no câncer de endométrio são idade avançada, tipo não endometrioide ou de grau 3, invasão profunda do miométrio, invasão do espaço vascular linfático, grande tamanho do tumor, extensão cervical, metástase para linfonodos e disseminação peritoneal; o A radioterapia adjuvante pós-operatória em pacientes selecionadas com câncer de endométrio diminui o risco de recorrência local vaginal/pélvica e aumenta a sobrevida sem doença. A taxa de sobrevida global em 5 anos no câncer de endométrio é de aproximadamente 75%; o Em geral, os sarcomas uterinos formam o grupo mais agressivo de tumores uterinos e diferem do câncer de endométrio com relação a fatores de risco, diagnóstico, comportamento clínico, padrão de disseminação e tratamento. Epidemiologia e Fatores de Risco: Parece haver dois tipos diferentes de câncer de endométrio, o tipo I, representa cerca de 85% dos casos, ocorre em mulheres mais jovens, na perimenopausa, com história de exposição ao estrogênio, endógeno ou exógeno, sem oposição. Nestes casos os tumores surgem como uma hiperplasia de endométrio e evoluem para um carcinoma. Esses tumores estrogênio-dependentes tendem a ser mais bem diferenciados e a ter um prognóstico mais favorável que os tumores não associados ao hiperestrogenismo. O carcinoma de endométrio tipo II ocorre em mulheres sem estimulação estrogênica do endométrio, não há relação com a hiperplasia de endométrio podendo surgir em um endométrio atrófico. São menos diferenciados e seu prognóstico é mais sombrio. A maior parte dos fatores de risco está relacionado a estimulação estrogênica prolongada e sem oposição da progesterona no endométrio. O risco é 2 a 3 vezes maior em nulíparas. Infertilidade e irregularidade menstrual decorrente de ciclos anovulatórios aumentam o risco. A menopausa natural após os 52 anos aumenta o risco em relação as mulheres com menopausa antes dos 49 anos. O excesso de peso também tem sido um fator de risco, pela aromatização periférica do tecido adiposo. A Síndrome do Ovário Policísitico e os tumores ovarianos ativos também estão associados ao aumento do risco para o câncer de endométrio. A terapia de reposição de estrogênio sem a progesterona na menopausa também é um fator de risco. O uso de tamoxifeno para tratamento de câncer de mama está associado ao aumento do risco para o câncer de endométrio. O diabetes também aumenta o risco para este tipo de câncer. Mulheres portadoras da Síndrome de Lynch II também têm risco aumentado para este câncer. Características Risco Relativo Nuliparidade 2 a 3 Menopausa Tardia 2,4 Obesidade 9,5 a 22,5 Kg acima do peso 3 Mais de 22,5 Kg acima do peso 10 Diabetes Melito 2,8 Terapia com estrogênio sem oposição 4 a 8 Terapia do Tamoxifeno 2 a 3 Hiperplasia atípica do endométrio 8 a 29 Síndrome de Lynch II 20 Hiperplasia de Endométrio: A hiperplasia do endométrio caracteriza-se por diversas alterações morfológicas e biológicas das glândulas endometriais e do estroma, que variam de um estão fisiológico exagerado ao carcinoma in situ. Em geral, as hiperplasias com repercussão clínica se desenvolvem sobre um endométrio proliferativo produzido por estimulação estrogênica prolongada na ausência de influência da progesterona. As hiperplasias são importantes porque podem provocar sangramento anormal, estar associadas a tumores ovarianos produtores de estrogênio, ser causadas por terapia hormonal e preceder o câncer endometrial ou correr simultaneamente a ele. Do ponto de vista da arquitetura, as hiperplasias podem ser simples ou complexas. A hiperplasia simples é caracterizada por glândulas dilatadas ou císticas, de formato redondo ou ligeiramente irregular, aumento da relação glândula-estroma sem aglomeração glandular nem atipia citológica. A hiperplasia complexa tem glândulas de arquitetura complexa (brotamento e invaginação), aglomeradas, com menos estroma interposto e sem atipia. A hiperplasia atípica é a que apresenta atipia citológica e pode ser classificada como simples ou complexa, conforme a arquitetura gandular correspondente. Os critérios de atipia citológica incluem núcleos grandes de formato variável com perda da polaridade, aumento da relação núcleo-citoplasma, nucléolos proeminentes e condensação irregular da cromatina com eliminação da paracromatina. O risco de transformação da hiperplasia do endométrio em carcinoma está relacionado com a existência e com a intensidade da atipia citológica. Tratamento da Hiperplasia e do Câncer de Endométrio com Preservação da Fertilidade: Pacientes mais jovens com câncer de endométrio tendem a apresentar distúrbios como síndrome do ovário policístico, anovulação crônica e infertilidade, indicativos de exposição a excesso de estrogênio intrínseco. Nessa faixa etária as lesões são bem diferenciadas e do subtipo endometrioide, e há possibilidade de regressão com terapia progestacional. Embora, o tratamento clássico de todo câncer de endométrio seja a histerectomia com estadiamento, o tratamento não cirúrgico com terapia hormonal pode ser uma opção em mulheres adequadamente selecionadas que desejam preservar a fertilidade. Técnicas alternativas de estadiamento, como RM, podem ser empregadas para avaliar a profundidade da invasão miometrial ou identificar doença extrauterina. A RM tem sensibilidade limitada para avaliar esses fatores, com possibilidade de subdiagnóstico. A terapia progestacional pode tratar a doença com êxito e, ao mesmo tempo, preservar a fertilidade de pacientes com hiperplasia atípica e câncer de endométrio em estágio I presumidamente bem diferenciado. Os critérios apropriados para a seleção e exclusão de pacientes ainda são indefinidos. As pacientes devem ser advertidas de que a não detecção de recorrência ou extensão da doença durante o tratamento progestacional pode atrasar a cirurgia definitiva e, assim, comprometer o prognóstico. É provável que o tratamento contínuo com progestágeno, usando acetato de megestrol (40 a 160 mg/dia) seja o método mais confiável para reverter a hiperplasia complexa ou atípica. É necessário manter o tratamento durante pelo menos 2 a 3 meses e fazer biópsia do endométrio 3 a 4 semanas depois, para avaliar a resposta. É aconselhável a realização periódica de biópsia do endométrio ou ultrassonografia transvaginal em pacientes acompanhadas após o tratamento de hiperplasia atípica com progestágeno, tendo em vista a existência de câncer não diagnosticado em 25% dos casos, a taxa de transformação em câncer de 29% e a alta taxa de recorrência após o tratamento. Assim, o uso de progesterona é uma medida temporária e não de longa duração. Caso a mulher não deseja mais engravidar é recomendado a histerectomia. Rastreamento do Câncer de Endométrio na População em Geral: O rastreamentodo câncer de endométrio não deve ser realizado, porque não existe um exame apropriado, custo-efetivo e aceitável que reduzam a mortalidade. O exame de Papanicolau de rotina é inadequado e a citologia endometrial é insensível e inespecífica demais para ser útil no rastreamento do câncer endometrial, mesmo em uma população de alto risco. Uma prova de estimulação com progesterona mostra se o endométrio foi estimulado por estrogênio, mas não identifica patologia do endométrio. O custo da USGTV e da biópsia do endométrio é alto demais para que sejam usadas como exames de rastreamento. Embora tenham sido identificados muitos fatores de risco para câncer de endométrio, o rastreamento de mulheres de alto risco com as tecnologias atuais poderia, na melhor das hipóteses, detectar apenas metade dos casos. O rastreamento do câncer de endométrio ou de seus percussores pode ser justificado em algumas mulheres de alto risco, como aquelas em uso de terapia de reposição de estrogênio sem progesterona após a menopausa e as que têm parentes com câncer colorretal hereditário sem polipose. As pacientes em uso de tamoxifeno não são beneficiadas pela rotina de rastreamento com USGTV ou biópsia do endométrio. A maioria das pacientes com câncer de endométrio tem sangramento uterino anormal na pré ou pós-menopausa no início do desenvolvimento da doença, quando a neoplasia ainda está limitada ao útero. Em geral, um exame apropriado nessa ocasião possibilita um diagnóstico precoce, tratamento oportuno e alta taxa de cura. É importante reconhecer que a avaliação do sangramento uterino anormal deve incluir biópsia de endométrio mesmo antes da menopausa, pois 5% dos casos ocorrem em mulheres com menos de 40 anos. CÂNCER DE ENDOMÉTRIO: Sintomas: Cerca de 90% das mulheres com carcinoma de endométrio apresentam sangramento ou corrimento vaginal como único sintoma inicial. Algumas mulheres queixam-se de pressão ou desconforto pélvico, indicativo de aumento do útero ou de disseminação extrauterina da doença. Às vezes, não há sangramento devido à estenose cervical, sobretudo em pacientes idosas, o que pode estar associado à hematometra ou piometra, que causa corrimento vaginal purulento. Esse achado costuma estar associado a um prognóstico sombrio. Menos de 5 das mulheres com diagnóstico de câncer de endométrio é assintomática. Na ausência de sintomas o câncer de endométrio costuma ser investigado a partir de resultados anormais do exame de Papanicolau, diagnóstico de câncer em útero removido por outra razão ou avaliação de um achado clínico anormal à USG pélvica ou TC obtida por ouro motivo. As mulheres com células malignas endometriais ao exame de Papanicolau são mais propensas a exibir um estágio mais avançado da doença. O sangramento anormal na perimenopausa e na pós-menopausa sempre deve ser considerado relevante e investigado de maneira apropriada, mesmo que seja mínimo ou que não persista. As causas podem ser genitais, extragenitais, uterinas ou extrauterinas. O acometimento extragenital deve ser avaliado com base na anamnese e no exame físico, inclusiva com a pesquisa de sangue nas fezes e na urina. Em geral, os tumores invasores de colo, da vagina e da vulva são evidentes ao exame, sendo necessário a biópsia em qualquer tumor detectado. O sangramento traumático na atrofia vaginal pode ser responsável por até 15% das causas de sangramento vaginal pós-menopáusico. Esse diagnostico pode ser cogitado se a inspeção mostrar uma parede vaginal fina e friável; no entanto, primeiramente, deve ser descartada a possibilidade de origem uterina do sangramento. As possíveis causas de sangramento na pré e na pós-menopausa são atrofia do endométrio, pólipos endometriais, terapia com estrogênio, hiperplasia e câncer endometrial ou sarcoma. Os leiomiomas nunca devem ser aceitos como causa de sangramento pós-menopausa. A atrofia de endométrio é a causa mais comum, sendo responsável por 60 a 80% dos casos. Em geral, mulheres com atrofia de endométrio tiveram a menopausa há cerca de 10 anos. Muitas vezes a biópsia do endométrio obtém tecido insuficiente ou apenas sangue e muco, e o sangramento costuma cessar após a biópsia. Os pólipos endometriais representam 2 a 12% dos casos de sangramento uterino pós-menopausa. Frequentemente é difícil identifica- los por biópsia de endométrio ou curetagem em consultório. A histeroscopia e a USGTV, ou ambas, podem ajudar nesta identificação. Os pólipos não detectados e não tratados podem ser causa de sangramento contínuo ou recorrente, que acaba por levar à histerectomia desnecessária. A terapia com estrogênio é um fator de risco conhecido para a hiperplasia e câncer de endométrio. O risco desse câncer é de 4 a 8 vezes maior em mulheres na pós-menopausa tratadas com estrogênio sem oposição de progesterona, o risco é proporcional ao tempo e às doses de estrogênio. Usando o estrogênio combinado com a progesterona esse risco é reduzido. A biópsia endometrial deve ser feita quando necessário (para avaliar sangramento inesperado) ou anualmente, em mulheres não tratadas com progestágeno. A hiperplasia do endométrio ocorre em 5 a 10% das pacientes com sangramento uterino após a menopausa. É necessário avaliar a origem do excesso de estrogênio, incluindo obesidade, uso de estrogênio exógeno ou um tumor ovariano secretor de estrogênio. Apenas cerca de 10% das pacientes com sangramento após a menopausa têm câncer de endométrio. As mulheres com câncer de endométrio antes da menopausa sempre apresentam sangramento uterino anormal, muitas vezes caracterizado como menometrorragia ou oligomenorreia, ou sangramento cíclico que persiste após a idade habitual da menopausa. Em mulheres na pré-menopausa, se houver sangramento anormal persistente ou recorrente, ou em caso de obesidade ou anovulação crônica, deve-se suspeitar de câncer de endométrio. Causa do Sangramento Porcentagem Atrofia do endométrio 60 a 80 Terapia de reposição com estrogênio 15 a 25 Pólipos endometriais 2 a 12 Hiperplasia do endométrio 5 a 10 Câncer do endométrio 10 Sinais: Raras vezes o exame físico mostra indício de carcinoma do endométrio, embora a obesidade e a hipertensão sejam fatores constitucionais frequentemente associados. É necessária atenção especial aos locais de metástase; os linfonodos periféricos e as mamas devem ser avaliados com cuidado. Geralmente o exame abdominal não apresenta alterações, exceto em casos avançados em que pode haver ascite ou metástases hepáticas ou palpáveis no omento. Ao exame ginecológico deve-se inspecionar e palpar com cuidado o introito vaginal e a área suburetral, bem como toda a vagina e o colo. O exame retovaginal bimanual deve ser realizado para avaliar o tamanho e a mobilidade do útero, além disso, é necessário pesquisar massas anexiais, áreas endurecidas no paramétrio e nodularidade no fundo de saco. Diagnóstico: A biópsia por aspiração do endométrio realizada no consultório é a primeira etapa aceita na avaliação de um paciente com sangramento uterino anormal ou suspeita de doença do endométrio. A precisão deste procedimento é de 90 a 98% em comparação com achados subsequentes na dilatação e curetagem (D&C) ou na histerectomia. As cânulas plásticas finas têm custo relativamente baixo, muitas vezes podem ser usadas sem pinça, causam menos cólica uterina, aumentando a aceitação da paciente, obtendo amostras adequadas de tecido em cerca de 95% dos casos. Caso haja estenose cervical pode-se fazer um bloqueio paracervical e dilatação do colo; a administração de um antiprostaglandina pode reduzir as cólicas uterinas. A histeroscopia e a D&C devem ser reservadas para situações em que a estenose cervical ou a intolerância da paciente não possibilitam avaliação adequada por biópsia por aspiração. Na identificação de pólipos e miomas submucosos, a histeroscopia émais acurada que a biopsia endometrial ou a D&C isolada. A USGTV pode auxiliar a biópsia endometrial na avaliação do sangramento uterino anormal e na seleção de pacientes para realizar outro exame. A USGTV com ou sem líquido (histerossonografia), pode ajudar a distinguir entre pacientes com tecido endometrial escasso, cujo sangramento está relacionado com a anovulação perimenopáusica ou atrofia pós-menopausa, e pacientes com quantidades significativas de tecido endometrial ou pólipos, que necessitam de avaliação complementar. A constatação de espessura do endométrio acima de 4mm, tumor endometrial polipoide ou acúmulo de líquido intrauterino requer avaliação complementar. Embora, o endométrio com espessura máxima de 5mm após a menopausa seja compatível com atrofia, são necessários mais dados antes de considerar os achados da USG suficientes para dispensar a biópsia do endométrio em pacientes sintomáticas. Adenocarcinoma Endometrioide: Classificação dos carcinomas endometriais Adenocarcinoma endometrioide o Variantes o Viloglandular ou Papilar o Secretor o Com diferenciação Escamosa Carcinoma mucinoso Carcinoma seroso papilar Carcinoma de células claras Carcinoma escamoso Carcinoma Indefeenciado Carcinoma misto O tipo endometrioide do adenocarcinoma é responsável por cerca de 80% dos carcinomas endometriais. Têm células cilíndricas com núcleos em posição basal, pouca ou nenhuma mucina intracitoplasmática e superfície intraluminal lisa. À medida que se tornam menos diferenciados, os tumores contêm mais áreas sólidas, menor formação glandular e maior atipia citológica, pode ser difícil distinguir as lesões bem diferenciadas da hiperplasia atípica. Os critérios indicativos de invasão e usados para diagnosticar carcinoma são estroma desmoplásico, glândulas em fileira dupla sem estroma interposto, padrão papilar extenso e diferenciação epitelial escamosa. Essas alterações (com exceção do padrão infiltrativo com reação desmoplástica) exigem uma área de acometimento igual ou maior que metade de um campo microscópico de pequeno aumento. A diferenciação de um carcinoma, expressa em graus, é determinada pelo padrão de crescimento arquitetônico e pelas características nucleares. No sistema de classificação FIGO os tumores são classificados em três graus: grau 1, padrão sólido de crescimento em 5% do tumor ou menos; grau 2 padrão sólido de crescimento em 6 a 50% do tumor; grau 3 padrão sólido de crescimento em mais de 50% do tumor. A observação de atipia nuclear impropria para o padrão (grau) arquitetônico faz aumentar em um grau o tumor. Os adenocarcinamas com diferenciação escamosa são classificados de acordo com o grau nuclear do componente glandular. Esse sistema da FIGO é aplicável a todos os carcinomas endometrioides, inclusive a suas variantes, e aos carcinomas mucinosos. Nos carcinomas serosos e de células claras, a classificação nuclear tem maior importância, no entanto, a maioria dos pesquisadores acredita que esses dois carcinomas sempre devem ser considerados lesões de alto grau, dispensando a classificação. Definição da FIGO para classificação do carcinoma endometrial Grau histopatológico de diferenciação: G1 -5% do padrão de crescimento não escamoso ou não morular G2 6 a 50% do padrão de crescimento não escamoso ou não morular G3 + 50% do padrão de crescimento não escamoso ou não morular Notas sobre a classificação patológica: Atipia nuclear observada, imprópria para o grau da arquitetura, eleva em um grau o tumor de grau 1 (G1) ou 2 (G2) No adenocarcinoma seroso, adenocarcionoma de células claras e carcinoma de células escamosas, as alterações nucleares têm maior importância Os adenocarinomas com diferenciação escamosa são classificados de acordo com o grau nuclear do componente glandular. Em torno de 15 a 25% dos carcinomas endometrioides têm áreas de diferenciação escamosa. O termo carcinoma endometrial com diferenciação escamosa é utilizado atualmente, pois o grau de diferenciação do componente escamoso acompanha o do componente glandular e o comportamento do tumor depende principalmente do grau do componente glandular. Aproximadamente 2% dos carcinomas endometriais têm uma configuração viloglandular. Nesses tumores, as células estão dispostas ao longo de pedículos fibrovasculares, o que produz um aspecto papilar, mas mantém as características das células endometrioides. As variantes vioglandulares dos carcinomas endometrioides são sempre lesões bem diferenciadas que se comportam com os carcinomas endometrioides regulares, e devem ser distinguidas dos carcinomas serosos. O carcionoma secretor que ocorrer principalmente nos primeiros anos após a menopausa é uma variante rara do carcinoma endometrioide, responsável por aproximadamente 1% dos casos. Os tumores são constituídos de glândulas bem diferenciadas com vácuolos intracitoplasmáticos, semelhantes ao endométrio secretor inicial, comportam-se como carcionomas endometrioides bem diferenciados regulares e têm excelente prognóstico. O carcinoma secretor pode ser um endometrioide que exibe alterações progestacionais, mas raramente há história de terapia progestacional. É preciso fazer a distinção entre o carcinoma secretor e o de células claras, porque ambos têm predomínio de células claras. Esses dois tumores podem ser distinguidos pela estrutura: os carcinomas secretores têm arquitetura glandular e citologia uniforme e baixo grau nuclear, enquanto os carcinomas de células claras têm mais de um padrão arquitetônico e alto grau nuclear. Carcinoma Mucinoso: Cerca de 5% dos carcinomas endometriais têm predomínio do padrão mucinoso, no qual mais da metade do tumor é constituída de células com mucina intracitoplasmática. A maioria deste tumor tem arquitetura glandular bastante diferenciada. O comportamento é semelhante ao dos carcinomas endometrioides comuns e o prognóstico é bom. É importante reconhecer o carcinoma mucinoso do endométrio e diferenciá-lo do adenocarcinoma do adenocarcinoma endocervical. As características indicativas de carcinoma endometrial primário são: fusão do tumor a áreas de tecido endometrial normal, células espumosas no estroma endometrial, metaplasia escamosa ou áreas de carcinoma endometrioide típico. A coloração imuno-histoquímica perinuclear positiva com vimentina sugere origem endometrial. Carcinoma Seroso: Dentre os carcinomas endometriais, aproximadamente 3 a 4% assemelham-se ao carcinoma seroso do ovário e da tuba uterina. Na maioria das vezes, esses tumores são constituídos de pedículos fibrovasculares revestidos por células bastante atípicas com estratificação em tufos. É frequente a existência de corpos psamomatosos. Os carcinomas serosos, também denominados carcinomas serosos papilares uterinos, são considerados lesões agressivas. Em geral, os carcinomas serosos estão associados à invasão do espaço vascular linfático e à invasão intraperitoneal nem sempre estão relacionados com a invasão miometrial. Mesmo quando parecem limitados ao endométrio ou pólipos endometriais sem carcinomas endometrioides, e são propensos à disseminação intra-abdominal, simulando o comportamento do carcinoma ovariano. Carcinoma de Células Claras: O carcinoma de células claras representa menos de 5% de todos os carcinomas endometriais. Em geral, o padrão histológico é misto incluindo os tipos papilar, tubulocístico, glandular e sólido. As células têm núcleos muito atípicos e abundante citoplasma claro e eosinófilico. Com frequência têm formato de raquete de tênis e são organizadas em papilas com pedículos hialinizados. É característico de mulheres idosas e, assim como o carcinoma seroso é de mau prognóstico. O estadiamento cirúrgico completo é importante porque 52% das pacientes com este carcinoma em estágio I têm doença metastática. As pacientes submetidasà citorredução completa parecem ter sobrevida sem progressão da doença e sobrevida global maior que as mulheres com doença residual após cirurgia. O tratamento pós-operatório de pacientes com doença avançada emprega compostos de platina. Carcinoma Escamoso: O carcinoma escamoso do endométrio é raro. Alguns tumores são puros, porém a maioria contém algumas glândulas. Para confirmar a origem primária do endométrio, não deve haver conexão com o epitélio escamoso cervical. Muitas vezes, está associado à estenose cervical, inflamação crônica e piometra por ocasião do diagnóstico. Tem um prognóstico sombrio com taxa de sobrevida estimada de 36% em pacientes com doença em estágio I. Tumores Simultâneos do Endométrio e do Ovário: Os cânceres endometrial e ovariano sincrônicos são as neoplasias genitais simultâneas mais frequentes, com uma incidência descrita de cerca de 1,4 a 3,8%. Na maioria dos casos, tanto o tumor ovariano quanto o endometrial são adenocarcinomas endometrioides bem diferenciados de baixo graus com excelente prognóstico. Com frequência as mulheres estão na pré-menopausa e apresentam sangramento uterino anormal. Em geral, o câncer de ovário é um achado incidental, diagnosticado em estágio precoce em virtude do tumor endometrial sintomático, com desfecho mais favorável. O prognóstico é menos favorável se houver subtipos histológicos não endometrioides menos diferenciados ou se os tumores uterinos e ovarianos forem histológicamente diferentes. Avaliação Pré-Tratamento: A anamnese e o exame físico completos são importantíssimos. Em geral, as pacientes com carcinoma endometrial são idosas, obesas e apresentam vários problemas clínicos, como diabetes melito e hipertensão, que complicam o tratamento cirúrgico. Qualquer sintoma anormal, como queixas vesicais ou intestinais, deve ser avaliado. Ao exame físico, a atenção deve ser voltada para linfonodos aumentados ou aspecto suspeito, incluindo região inguinal, massas abdominais e possíveis áreas de disseminação do câncer na pelve. Sinais de metástase a distância ou doença local avançada na pelve, como acometimento cervical macroscópico ou disseminação parametrial, podem modificar o tratamento. É necessário fazer uma radiografia de tórax para excluir metástase pulmonar e avaliar a condição cardiorrespiratória da paciente. Outros exames pré- operatórios de rotina são ECG, hemograma e contagem de plaquetas, bioquímica sérica (incluindo provas de função renal e hepática), tipagem sanguínea e fator Rh. Exames como cistoscopia, colonoscopia, pielografia intravenosa e enema baritado não são recomendados, exceto se for indicado pelos sintomas da paciente, achados físicos ou outros exames laboratoriais. Em pacientes com c6ancer de útero tipo II, a TC do abdome e da pelve pode ser considerada a fim de verificar se a cirurgia minimamente invasiva é apropriada. Geralmente, a doença em estágio IV é clinicamente evidente por causa dos sintomas da paciente e do exame clínico. O CA 125 sérico, um marcador tumoral que se encontra elevado em 80% dos casos de câncer ovariano epitelial avançado, está aumentado na maioria das pacientes com câncer endometrial avançado ou metastásico. Estadiamento Cirúrgico: o Estágio I: tumor limitado ao corpo do útero; o IA: tumor limitado ao endométrio ou invasão menor que a metade da espessura do miométrio; o IB: invasão igual ou maior que a metade da espessura do miométrio; o Estágio II: o tumor invade o estroma cervical, mas ainda está limitado ao útero; o Estágio III: disseminação local e/ou regional do tumor; o IIIA: o tumor invade a serosa do corpo do útero e/ou os anexos; o IIIB: acometimento da vagina e/ou do paramétrio; o IIIC: metástase para linfonodos pélvicos e/ou para-aórticos; o IIIC1: linfonodos pélvicos positivos; o IIIC2: Linfonodos para-aórticos positivos com ou sem linfonodos pélvicos positivos; o Estágio IV: invasão tumoral da mucosa vesical e/ou intestinal e/ou metástase a distância; o IVA: invasão tumoral da mucosa vesical e/ou intestinal; o IVB: metástase a distância, incluindo linfonodos intra-abdominais e/ou inguinais. Variáveis de Prognóstico no Carcinoma de Endométrio: Em geral, o prognóstico do câncer de endométrio é melhor nas mulheres jovens. O aumento do risco de recorrência em pacientes idosas também foi relacionado com maior incidência de tumores de grau 3 ou de subtipos histológicos desfavoráveis, no entanto, a idade parece ser uma variável de prognóstico que age com autonomia. Os subtipos histológicos não endometrioides representam cerca de 10% dos cânceres de endométrio e apresentam maior risco de recorrência e disseminação a distância. O grau histológico do tumor endometrial está diretamente associado ao prognóstico, a recorrência de tumores no grau 3 é cinco vezes maior do que no grau 1. Quanto mais intensa a anaplasia tumoral, maior a associação com a invasão profunda do miométrio, extensão cervical, metástase para linfonodos e recorrência local e metástase a distância. O tamanho do tumor também é um fator importante da metástase para linfonodos e sobrevida em pacientes com câncer endometrial. Os níveis de receptores de estrogênio e progesterona são indicadores prognósticos de câncer de endométrio, de qualquer grau. Pacientes cujos tumores são positivos para um ou ambos os receptores têm maior de sobrevida em comparação com os casos cujos carcinomas não têm os receptores correspondentes. Cerca de 2/3 dos adenocarcinomas endometriais têm conteúdo de DNA diploide, determinado por citometria de fluxo. A proporção de tumores não diploides aumenta com o estágio, a ausência de diferenciação e a profundidade da invasão miometrial. Como o acesso ao sistema linfático passa a ficar maior à medida que o câncer invade a metade externa do miométrio, o aumento da profundidade de invasão foi associado à probabilidade crescente de disseminação extrauterina e recorrência. A invasão do espaço vascular linfático parece ser um fator de risco independente para recorrência e morte por todos tipos de câncer de endométrio. É importante a localização do tumor no útero. O acometimento do istmo uterino, do colo ou de ambos está associado a aumento do risco de doença extrauterina, metástase para linfonodos e recorrência. A citologia peritoneal positiva parece ter somente efeito adverso na sobrevida se o câncer de endométrio tiver se disseminado para os anexos, o peritônio ou os linfonodos, mas não se a doença estiver limitada ao útero. É possível chegar às seguintes conclusões a respeito das implicações prognósticas da citologia peritoneal positiva: 1) Está associada a outros fatores conhecidos de prognóstico sombrio; 2) Na ausência de outros sinais de doença extrauterina ou de fatores de prognóstico sombrio, não tem efeito considerável sobre a recorrência e a sobrevida; 3) Quando associada a outros fatores de prognóstico sombrio ou à doença extrauterina, aumenta a probabilidade de recorrência a distância e intra-abdominal, e tem efeito adverso importante na sobrevida; A maioria das pacientes com doença em estágio IIA tem outros fatores de prognóstico sombrio que determinam alto risco de recorrência. A metástase para linfonodos é o fator de prognóstico mais importante no câncer de endométrio em estágio clínico inicial. A taxa de sobrevida sem doença em 5 anos nas pacientes com metástases para linfonodos foi de 54% e de 90% nas pacientes sem metástases para linfonodos. Tratamento: Histerectomia Vaginal: é adequada principalmente em pacientes com baixo risco de disseminação extrauterina da doença (aquelas com tumores bem diferenciados, em estágio clínico I). Tratamento laparoscópico: diversos estudos que documentaram a variabilidade da histerectomia vaginal assistida por laparoscopia com salpingooforectomia bilateral e linfadenectomialaparoscópica para estadiamento e tratamento de pacientes com câncer de endométrio. Histerectomia radical: a histerectomia radical com ressecção do paramétrio e da parte superior da vagina e linfadenectomia pélvica bilateral não aumenta a sobrevida de pacientes com doença em estágio clínico I, em comparação com a histerectomia extrafascial e a salpingo-ooferectomia bilateral isolada. Radioterapia como tratamento primário: a cirurgia primária, seguida de radioterapia individualizada é o tratamento mais aceito nos cânceres de endométrio em estágio inicial. Porém, alguns estudos mostram a eficácia da radioterapia em pacientes com cânceres de endométrio inoperável. Padrões de disseminação metastática: o Extensão contígua: grau histológico 3 e invasão do espaço vascular linfático são previsores comprovados de recorrência vaginal no câncer endometrial em estágio I; o Hematogênica: a invasão profunda do miométrio é o mais importante previsor de recorrência hematogênica (menos de 50% em todos os estágios e menos de 66% no estágio I); o Linfática: a recorrência por disseminação linfática é mais provável quando há acometimento do estroma cervical ou linfonodos positivos; o Peritoneal: os previsores de recorrência peritoneal são (i) doença em estágio IV ou (ii) doença em estágio II ou III com dois ou mais dos seguintes fatores de risco: invasão cervical, citologia peritoneal positiva, linfonodos positivos e achado histológico de tumores não endometrioides. Modalidades de tratamento pós-operatório: Pacientes com lesões de grau 1 e 2 sem invasão do miométrio e nenhum dos fatores de risco apresentam excelente prognóstico e não necessitam de tratamento pós-operatório. A braquiterapia vaginal é uma opção atraente à radioterapia externa (RTE). A braquiterapia com alta taxa de dose (HDR) é bem tolerada com pequenas taxas de complicações graves ou crônicas. O grau histológico 3 e a invasão do espaço linfático vascular são previsores comprovados de recorrência vaginal no câncer endometrial estágio I. As pacientes com esses fatores de risco são o grupo que mais tende a se beneficiar da braquiterapia do fórnix da vagina. Outras modalidades de tratamento são: a radioterapia pélvica externa, a radioterapia de campo estendido e a radioterapia abdominal total. Também pode ser usado progestágenos e quimioterapia. Para os carcinoma estágio clíncio II a conduta mais indicada é a histerectomia radical, sapinho-ooforectomia bilateral e linfadenectomia pélvica e para-aórtica; radioterapia e cirurgia combinadas (radioterapia pélvica externa e rádio ou césio intracavitário, seguidas em 6 semanas por histerectomia total abdominal e sapinho-ooforectomeia bilateral). A conduta tradicional, mais comum é o uso de radioterapia externa e intracavitária seguida por histerectomias extrafascial. Outro método que tem conquistado bastante aceitação é uma cirurgia inicial seguida por radioterapia. No estágio clínico III é necessário que o tratamento seja individualizado, mas é preciso considerar a avaliação e o tratamento cirúrgico inicial em virtude do alto risco de metástase oculta em linfonodos e de disseminação intraperitoneal. O objetivo é a erradicação cirúrgica de toda a doença macroscópica porque tem grande importância prognóstica no tratamento de pacientes com doença em estágio clínico III. O tratamento da doença em estágio IV dependente da paciente, mas costuma incluir uma combinação de cirurgia, radioterapia e terapia hormonal sistêmica ou quimioterapia. Acompanhamento após o tratamento: A anamnese e o exame físico ainda são os métodos mais eficazes de acompanhamento de pacientes com câncer de endométrio tratadas. As pacientes devem ser examinadas a cada 3 a 4 meses durante os 2 primeiros anos e a cada 6 meses depois. Cerca de metade das pacientes com diagnóstico de câncer recorrente é sintomática, e 75 a 80% das recorrências são detectadas inicialmente ao exame físico. É necessária atenção especial aos linfonodos periféricos, ao abdome e à pélvica. Quase metade das recorrências assintomáticas são detectadas por radiografia de tórax. Referências Bibliográficas: 13. ed. Montenegro, Carlos Antonio Barbosa Rezende obstetrícia / Carlos Antonio Barbosa Montenegro, Jorge de Rezende Filho. - 13. ed. - Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2017. il. ISBN 978-85-277-3071-6 1. Obstetrícia. 2. Gravidez. 3. Medicina. I. Rezende-Filho, Jorge de. II. Título. Primo Walquíria Quida Salles Pereira, Corrêa Frederico José Silva e Brasileiro Jean Pierre Barguil . Manual de Ginecologia da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de Brasília . Brasília: Editora Luan Comunicação , 2017. Berek, Jonanthan S. Bereck e Novak: tratado de ginecologia/ Jonanthan S. Berek; tradução Claudia Lúcia caetano de Araújo, Tatiane da Costa Duarte. 15. Edição; rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. Ginecologia de Williams [recurso eletrônico] / Hoffman ... [et al.] ; tradução: Ademar Valadares Fonseca ... [et al.] ; [coordenação técnica: Suzana Arenhart Pessini ; revisão técnica: Ana Paula Moura Moreira ... et al.]. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2014.
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