Buscar

Modulo 3

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

MÓDULO 3
 
MÓDULO 03: DIREITOS HUMANOS 
Caro cursista, 
Na Unidade anterior tivemos a oportunidades de distinguir e caracterizar os 
conceitos de universalidade, igualdade e equidade. Encerramos essa unidade 
tendo em vista uma nova agenda para as Políticas Públicas. 
Agora vamos trazer para o debate as situações vivenciadas no contexto do 
sistema penal. Vamos analisar o cumprimento de pena e a ausência de 
atendimento e serviços que res- peitem as particularidades e múltiplas 
demandas dos indivíduos, em suas dimensões objetivas e subjetivas. 
 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
Na tentativa de organizar a discussão, esta Unidade contemplará aspectos 
relativos às diferentes situações que tornam o indivíduo e grupos sociais 
vulneráveis no âmbito do sistema prisional. 
OBJETIVO 
Esperamos que você, ao final do estudo desta Unidade, seja capaz de: 
 
 Compreender os marcos legais que fundamentam o 
atendimento adequado aos grupos populacionais 
atingidos pelo sistema penitenciário; 
 Considerar a ampla diversidade humana na formulação de 
políticas penitenciárias e estruturação de serviços 
penitenciários; 
 Reconhecer medidas que promovem os direitos dos 
diferentes grupos em cumprimento de pena e seus 
familiares. 
 
 
Para o desenvolvimento desse curso faremos uso do Ambiente Virtual de 
Aprendizagem Moodle e suas ferramentas de interação, que nos permitem 
compartilhar nossas dúvidas, saberes e expectativas referentes à questão dos 
aspectos conceituais e da trajetória dos direitos humanos centrado na promoção 
da dignidade humana. 
 
 
 
 
 
1. VULNERABILIDADE FRENTE AO SISTEMA PENITENCIÁRIO 
 
As pessoas privadas de liberdade sob custódia do Estado brasileiro 
podem vivenciar situ- ações que as coloquem em risco ou maior vulnerabilidade, 
notadamente os grupos populacionais específicos. 
 
 Como vimos nos capítulos anteriores, vivemos em 
sociedade que produzem e reproduzem valores 
baseados no preconceito e que acabam por refletir 
em práticas discriminatórias e até mesmo violações 
de direitos em razão do gênero, idade, orientação 
sexual, religião, origem, opinião ou deficiência. 
No ambiente de cumprimento de pena também são 
observados os reflexos do preconceito e estereótipos 
compartilhados na sociedade como um todo, 
atingindo negativamente a população assistida. 
Dessa maneira, as autoridades penitenciárias e o 
corpo funcional têm o compromisso de criar 
mecanismos e procedi- mentos a fim de evitar a 
discriminação inclusive institucional, e a 
 
que 
tratam dos direitos das pessoas presas 
ou em cumprimento de penas 
alternativas à prisão trazem aspectos 
relativos à diversidade e às medidas 
positivas a serem adotadas para 
de 
grupos específicos. 
são 
feitas em documentos como: 
Detenção ou Prisão 
Regras Mínimas para o Tratamento 
de Pessoas Presas 
Princípios e Boas Práticas sobre a 
Proteção de Pessoas Privadas de 
Liberdade nas Américas, da 
 
 
 
responsabilização dos seus agentes quando 
identificados, sejam eles servidores públicos, 
indivíduos ou a própria população carcerária (COYLE, 
2009). 
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos da 
Organização dos Estados Americanos é enfática ao 
estabelecer como princípio de proteção das pessoas 
privadas de liberdade a não discriminação em razão 
de origem, nacionalidade, cor, sexo, idade, idioma, 
religião, opiniões políticas, origem nacional ou social, 
posição econômica, deficiência, gênero, orientação 
sexual ou qualquer outra. 
De maneira afirmativa, recomenda a aplicação de medidas dirigidas a 
grupos ou temas específicos como: direitos das mulheres, notadamente das 
gestantes e nutrizes, das crianças, dos idosos, das pessoas com patologias 
infecciosas, como HIV/AIDS, e das pessoas com deficiências. Nesse caso, 
justificam estas práticas na legislação internacional de direitos humanos 
considerando a realidade local. 
No Brasil, o Artigo 5º da Constituição Federal, que elenca direitos e 
garantias fundamentais, buscou resguardar de abusos e arbitrariedades aquele 
que é processado penalmente e o que cumpre pena. Tanto um como o outro se 
encontram em posição de fragilidade social e jurídica, pois tem, contra si, uma 
pressão e pretensão exercida pelo Estado, parte inegavelmente mais forte nesta 
relação. Incluem-se neste grupo os presidiários, os submetidos à medida de 
segurança (Código Penal, art. 26) e, ainda, os penalmente processados. 
Infelizmente, predomina ainda em nossa sociedade a 
desconsideração do preso como cidadão e como pessoa humana, que deve ter 
todos os seus direitos resguardados e a sua dignidade preservada, bem jurídico 
absoluto, inalienável e intangível que é. A violência constante a que muitas vezes 
é submetido o preso nos superlotados estabelecimentos prisionais brasileiros, 
sem qualquer condição de reintegrá-los à vida social, acaba promovendo a 
reificação do preso, isto é, este não é mais tratado como ser humano, mas como 
 
objeto, coisa – o que causa a marginalização e exclusão, exatamente o problema 
que se quer evitar. Consequentemente, além de perder a liberdade, degrada-se 
a dignidade do preso, perpetuando um ciclo vicioso 
 PARA REFLETIR 
Portanto, diante da ameaça à liberdade e dos prejuízos que o próprio 
processo penal pode gerar, garante-se, constitucionalmente, o direito ao 
devido processo legal, ao contraditório, à ampla defesa, ao juiz natural e 
a consequente vedação de juízos de exceção. Também, a todo aquele 
que é processado é garantida a presunção de inocência, devendo o 
Estado produzir a prova da materialidade (existência) do delito e da 
autoria. 
 
 
 
 
Todo aquele que é preso tem direito de permanecer em silêncio, sem 
que isso importe em qualquer tipo de prejuízo, e de ser assistido pela sua 
família e por advogado. Deve também ser informado dos responsáveis pela 
sua prisão. Proíbe-se, igual- mente, o uso de provas ilícitas, o que coloca 
limites, sobretudo ao modo de exercer a investigação policial, dentre outros. 
À pessoa condenada, assegura-se o direito a penas humanizadas, 
pois são vedadas as cruéis – assim entendidas as de banimento, de trabalho 
forçado, de caráter perpétuo e de morte, salvo no caso de guerra declarada. 
Garante-se, constitucionalmente, o direito ao respeito e à integridade física e 
moral, observando-se que a pena deve ser cumprida em estabelecimento 
distinto, de acordo com natureza do delito, da idade e do sexo. 
A Lei Federal nº 7.210, de 11 de julho de 1984, a Lei de Execução 
Penal 
– LEP –, também trouxe uma série de direitos, que devem ser 
observados. Inicialmente, cabe ressaltar que um dos objetivos principais da 
 
LEP é proporcionar condições para a harmônica reintegração social. A lei 
confere ao preso e ao egresso do sistema prisional o direito à assistência, em 
suas modalidades material, jurídica, educacional, social e religiosa (Art. 11), 
nos termos da lei. 
Não se duvida que um dos mais importantes fatores de coesão 
social, de elevação da autoestima, capaz de proporcionar o desenvolvimento 
da solidariedade e da disciplina, entre outros valores, é o trabalho. Este não 
serve apenas para se sustentar. Possui um escopo maior, que abrange a 
própria possibilidade de se autodeterminar. 
Por essa razão, a LEP tratou especificamente do trabalho do 
presidiário, com finalidade educativa e produtiva (Art. 28), devendo este ser 
remunerado em valor não inferior a ¾ do salário mínimo. É certo que este 
dinheiro possui, em parte, vinculação (como a reparação do dano causado, 
assistência à família e ressarcimento ao Estado com as despesas de 
manutenção do condenado), res- saltando-se o seu caráter social. O trabalho 
divide-se em interno e externo, de modo que o condenado a regime fechado só 
terá direito ao primeiro, exceto no caso de obras públicas realizadas pela 
administração pública ou a seu cargo. 
No caso de condenados que cumprem pena em regime fechado,poderão obter permissão para sair do estabelecimento prisional no caso de 
falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, 
descendente ou irmão, ou para tratamento médico, sempre mediante escolta. 
No caso de regime semiaberto, as hipóteses se ampliam para a visita à família, 
frequência a cursos supletivos e profissionalizantes, e à participação em 
atividades que concorram para o retorno ao convívio social. Para tanto, exige-
se do preso bom comportamento, cumprimento mínimo de 1/6 da pena, se 
primário, ou ¼, se reincidente, além da compatibilidade do benefício com os 
objetivos da pena – por até sete dias, não podendo ser renovada mais que 
quatro vezes ao ano. 
Destaca-se, ainda, a possibilidade de remição, ou seja, da 
diminuição do tempo de pena a cumprir devido ao trabalho ou estudo feito pelo 
preso, nos termos da lei, bem como a possibilidade de livramento condicional, 
 
quer dizer, a colocação do preso em liberdade, depois de cumprida parte da 
pena e determinados pressupostos. É um período de teste. Na hipótese de 
descumprimento das condições impostas, volta ele a ser recolhido, para o 
cumprimento do restante da pena. Caso contrário, ficará livre, cumprindo o 
restante da pena em liberdade. 
Para adequado atendimento das pessoas sob custódia do Estado, 
assegurando cumpri- mento dos dispositivos legais nacionais e os pactos 
internacionais, é preciso identificar quais situações discriminatórias vivenciadas 
no cotidiano dos estabelecimentos e, de forma concreta, buscar corrigi-las. 
No Brasil, em 2011, foi adotado o Plano Nacional de Política Criminal 
e Penitenciária, que estabeleceu em sua Medida nº 05 a necessidade de ações 
objetivando o reconhecimento e respeito à diversidade no âmbito do sistema 
penitenciário brasileiro. 
O documento aponta a necessidade de se promover iniciativas para 
assegurar direitos de mulheres, idosos, populações de lésbicas, gays, 
bissexuais e transgêneros, e estrangeiros presos. Trata, ainda, do direito à livre 
manifestação religiosa. O texto apresenta recomendações e objetivos a serem 
alcançados em todas as unidades prisionais, bem como nas diferentes 
instâncias envolvidas no cumprimento de pena. 
Destacamos, a seguir, os pontos para
 serem alcançados pela administração dos serviços penitenciários: 
 Assegurar as visitas íntimas para a população carcerária LGBTTT 
(lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros). 
 Garantir a assistência pré-natal e a existência de espaços e 
serviços específicos para gestantes durante a gestação e também no período 
de permanência dos filhos das mulheres presas no ambiente carcerário 
(conforme Resolução deste Conselho). 
 Elaborar políticas de respeito às mulheres transexuais e travestis 
nos presídios estaduais. 
 Estudar a possibilidade de unidades específicas para população 
LGBTT (acompanhar a experiência em andamento em Minas Gerais). 
 
 Garantir a acessibilidade nas unidades prisionais, conforme a 
orientação da NBR 9050. 
 Garantir as condições de manifestação e de profecia de todas as 
religiões e credos. 
 Criar sistema de acompanhamento de estrangeiros presos no 
Brasil e implantar políticas de atendimento adequadas e unidades específicas 
para estrangeiros (quando necessário), garantindo o cumprimento das leis e 
dos tratados e acordos internacionais de que o Brasil é signatário. 
 Aplicar a separação de pessoas presas por facção criminosa para 
aquelas que realmente estejam ligadas a grupos organizados do crime e que 
precisem de controle ou proteção, eliminando as separações por origem, isto 
é, por locais de moradia, que supostamente são comandados por determinados 
grupos, evitando assim a criação de unidades específicas por facções 
criminosas. 
 Elaborar e implantar metodologia específica para cada público 
(CNPCP, 2011). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Você já pensou em discutir com sua equipe de trabalho a situação vivenciada pelos diferentes grupos 
populacionais presos ou em cumprimento de prestação de serviço à comunidade? 
Nesse momento do curso é muito oportuno que você possa reunir 
e 
demandas de mulheres, idosos, 
transgêneros, entre outros. 
Uma dica útil: leiam, juntos, o Penitenciária, disponível no sítio 
eletrônico do Ministério da Justiça. 
recomendações apresentadas. 
 
 
 
 
 
 
No dia a dia da organização penitenciária podemos presenciar 
práticas ou atitudes discriminatórias por parte do corpo funcional ou autoridades 
penitenciárias e mesmo da população carcerária que podem impactar na 
realização de direitos ou acesso a serviços públicos. Por exemplo, verifica-se 
que em determinada locais homossexuais ou travestis não podem trabalhar na 
cozinha ou no setor de lavanderia. Relatos informam que estes grupos são 
muitas vezes obrigados a portar ilícitos de outros presos. 
Sabe-se também que determinados cultos ou rituais religiosos são 
proibidos em razão do preconceito. Ou ainda, que é vedada a manutenção de 
alguns hábitos religiosos como vestuário, indumentárias ou preparação de 
alimentos culturalmente referenciados. 
Outra situação discriminatória aponta para a aplicação de sanções 
disciplinares de alcance e intensidade diferentes em razão das características 
de cada grupo populacional específico. E mesmo ausência de locais adequados 
e serviços que respondam às demandas de cada indivíduo. 
A criança e o adolescente gozam de proteção especial, conferida 
infraconstitucionalmente pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. O correto 
atendimento das crianças e adolescente atingidos pelo sistema prisional requer 
da família, da sociedade e da administração pública um olhar atento. Nesse 
sentido, como exposto até aqui, a dimensão dos direitos humanos é a mais 
favorável para análise das diferentes dinâmicas sociais e os vínculos construídos 
entre filhos e pais, mesmo que estes últimos estejam privados temporariamente 
de sua liberdade. 
A Lei nº 12.962, de 18 de abril de 2014, alterou o Estatuto da Criança 
e Adolescente, inovando no atendimento a esta parcela de pequenos cidadãos 
 
brasileiros e mostrando que a exclusão dos descendentes do apenado não pode 
fazer parte da punição imposta pelo Estado. 
O texto sancionado reafirma o direito de convivência entre pais e filhos 
que agora podem ser feitos de forma periódica sem autorização prévia do poder 
judiciário, pelo responsável ou, em caso de acolhimento, pela instituição 
responsável. Isso requer um forte diálogo do estabelecimento penitenciário com 
o serviço público de assistência social em nível local, e outros setores públicos 
para efetivação da norma. Esta medida deve coibir casos em que as crianças 
eram apartadas de seus genitores na mais tenra idade, e suas famílias perdiam 
o contato, tendo dificuldade de localização mesmo depois de cumprimento da 
pena. 
A permanência da criança na família de origem enseja agora a 
obrigatoriedade de inclusão do menor em programas oficiais de auxílio. O 
cumprimento deste dispositivo pode produzir as mais potentes transformações 
sociais, na medida em que é possível, de forma criativa, contribuir para a 
emancipação e autonomia do indivíduo, favorecendo o fortalecimento do tecido 
familiar e social. 
Há, ainda, uma importante inovação do diploma no que se refere à 
perda do pátrio poder. Lembramos a letra da lei: a condenação criminal do pai 
ou da mãe não implicará a destituição do poder familiar, excetuando os casos 
em que o crime doloso foi praticado contra os próprios filhos. 
Na próxima seção, passamos a analisar a situação de cada grupo 
populacional em cumprimento de pena ou impactado pelo sistema penitenciário 
como familiares da pessoa presa ou prestação de serviço à comunidade, 
buscando articular aspectos conceituais, dimensões das conquistas sociais 
históricas e marcos legais existentes. 
2. POLÍTICAS PARA AS MULHERES E IDENTIDADES DE GÊNERO 
As mudanças sociaise principalmente a atuação dos movimentos 
organizados em níveis nacionais e internacionais, vem impactando na 
elaboração e implantação de políticas públicas considerando uma perspectiva 
de gênero, ou seja, o entendimento sobre as diferenças entre homens e 
 
mulheres para além dos conceitos biológicos, que leva em consideração também 
os aspectos culturais, econômicos e políticos que produzem a desigualdade. 
Segundo o International Centre for Prision Studies o aprisionamento 
feminino cresce em todos os continentes. Em aproximadamente 80% dos 
países, as mulheres representam de 02% a 09% do total da população 
carcerária. 
Hoje, o retrato da população prisional brasileira tem mostrado o 
aumento do encarcera- mento feminino. Relatório disponibilizado no portal do 
Ministério da Justiça brasileiro, com dados referentes a 2012, aponta que o país 
possui uma população carcerária de mulheres de pouco mais de trinta e cinco 
mil, o que representa aproximadamente 06% do total de presidiários. Ao 
contrário da população masculina que está em sua maioria presa por crimes 
contra o patrimônio, sessenta por cento das mulheres presas cometeram crimes 
relacionados ao tráfico de drogas; o segundo tipo de crime mais cometido são 
crimes contra o patrimônio, com 23%. Quarenta e noves por cento possuem 29 
anos ou menos e 61% são negras ou pardas 
A legislação e o sistema penitenciário têm avançado no 
reconhecimento das questões de gênero, apesar de que, ainda, muito se tem a 
fazer. Importante passo considerando as recomendações da I e II Conferências 
Nacionais de Políticas para as Mulheres, foi a criação, em 2007, de um grupo de 
trabalho interministerial para reorganização e reformulação do sistema prisional 
feminino, coordenado pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da 
Presidência da República e o Ministério da Justiça, por meio do Departamento 
Penitenciário Nacional, para analisar a situação da mulher encarcerada em todo 
o país, notadamente nas cadeias públicas. O grupo reuniu representantes de 
diferentes ministérios e órgãos públicos, bem como organizações da sociedade 
civil e especialistas no tema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os resultados do trabalho foram apresentados em eventos públicos e 
na publicação do Relatório Final, que representou um marco na construção de 
diretrizes para atenção às mulheres presas. 
Mais adiante, no âmbito do Ministério da Justiça, é criada a Comissão 
Especial do Projeto Efetivação dos Direitos das Mulheres Presas. O Projeto 
Mulheres merece destaque, uma vez que faz o acompanhamento das ações nos 
presídios femininos nos Estados, incentiva estudos e estatísticas sobre a mulher 
no sistema penal, busca ampliar as políticas de acesso aos direitos das 
presidiárias, entre outros. As propostas elaboradas neste projeto retratam ações 
que precisam ser enfrentadas na conjuntura atual da política penitenciária e das 
políticas sociais, como forma de garantir os direitos das mulheres em situação 
de privação de liberdade, egressas e seus familiares, rechaçando, assim, 
práticas institucionais violadoras dos direitos humanos. 
Após ampla consulta aos entes federados e representantes da 
sociedade civil, e discussão com demais órgãos que integram sistema de justiça, 
foi elaborado o II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres Presas, aprovado 
em 2007. Entre os principais desafios está a construção de planos operacionais 
locais e a constituição de comitês em cada ente federado para acompanhamento 
e monitoramento das ações previstas e pactuadas no plano. 
VOCÊ SABIA 
Veja a seguir alguns documentos da ONU que abordam o tema, consagrando 
a necessidade e urgência para promoção de tratamento digno às mulheres em 
conflito com a lei: 
 
 
Regras de Tóquio: contempla as especificidades de gênero das mulheres que 
entraram em contato com o sistema de justiça criminal, recomendando a 
necessidade de aplicar prioritariamente medidas não privativas de 
liberdade. 
Resolução 61/143, de 19 de dezembro de 2006: reconhece a urgência dos 
Estado assumirem medidas para enfrentar causas estruturais de violência 
contra mulheres, bem como práticas e normas sociais discriminatórias, 
incluindo aquelas voltadas às mulheres que necessitem de atenção especial, tais 
como mulheres reclusas em instituições ou encarceradas. 
Resolução 63/241, de 24 de dezembro de 2008: chama atenção sobre impacto 
da detenção e o encarceramento de crianças e sugere adoção de boas prá- ticas 
em relação às necessidades e ao desenvolvimento físico, emocional, social e 
psicológico de bebês e crianças afetadas pela detenção ou encarcera- mento 
de pais. 
Declaração de Viena sobre Crime e Justiça: os Estados-membros reconhecem 
a importância de implantação de ações políticas baseadas nas necessidades 
especiais da mulher, na condição de presa. 
Em janeiro de 2014, foi instituída a Política Nacional de Atenção às 
Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema 
Prisional – PNAMPE –, por meio de uma porta- ria interministerial. O propósito 
do Ministério da Justiça e da Secretaria de Políticas para as Mulheres da 
Presidência da República é reformular as práticas do sistema prisional brasileiro, 
visando a garantia dos direitos das mulheres, nacionais e estrangeiras, presas 
em estabelecimentos penitenciários e delegacias em todo o Brasil. 
Voltada também para os funcionários que atuam nos 
estabelecimentos penitenciários, a Política também prevê alterações e 
orientações para as rotinas carcerárias, com atenção às diversidades e 
especificações das mulheres, no que diz respeito à idade, escolaridade, etnia, 
maternidade e outros aspectos, além de condições adequadas de cumprimento 
de pena, garantindo o direito à saúde, educação, proteção à maternidade e à 
infância, atendimento psicossocial e demais direitos humanos. 
 
Em 2011, a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas 
aprovou resolução para os Estados-membros contendo regras de atenção às 
mulheres presas e em cumprimento de medidas alternativas, conhecidas como 
Regras de Bangkok. O texto reitera as dimensões aprovadas nas Regras 
Mínimas de Tratamento de Presos, considerando agora as especificidades da 
condição do gênero feminino. 
. 
 
 
SAIBA MAIS 
LEI nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 
 
– cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra 
a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da 
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, 
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos 
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o 
Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; 
e dá outras providências. 
O leitor poderá conhecer e compreender mais sobre esta lei e toda sua 
sistemática por meio do endereço eletrônico: 
 
No Brasil, a Lei de Execução Penal – LEP –, desde 1984, garantiu 
determinados direitos à presidiária, a saber: que seja recolhida, separadamente,
 em estabelecimento próprio adequado a esta condição e que sejam 
disponibilizadas exclusivamente funcionárias mulheres. Igualmente, garantiu o 
acompanhamento médico à mulher, especialmente no pré-natal e no pós-parto, 
extensivo ao recém-nascido. 
 
O estabelecimento deve, também, ser um ambiente preparado para 
abrigar a mulher presa, nas suas peculiaridades como o caso da maternidade, 
com berçários e espaços para amamentação de seus filhos. Como forma de 
proteção aos filhos das mulheres presas, a condenada ao regime aberto que 
esteja grávida ou amamentando poderá permanecer em residência particular. 
Chama atenção, nesse sentido, a Resolução CNPCP nº 3, de 15 de 
julho de 2009, que versa sobre a estada, permanência e posterior 
encaminhamento das (os) filhas (os) das mulheres encarceradas. A publicação 
estabeleceque deva ser garantida a permanência de crianças no mínimo até um 
ano e seis meses para as (os) filhas (os) de mulheres encarceradas junto às 
suas mães. 
Após este período, há necessidade de se construir processo gradual 
de separação a partir da fixação de etapas conforme quadro psicossocial da 
família, que podem durar até 06 (seis) meses. A normativa possibilita que 
crianças até 07 (sete) anos possam permanecer junto às suas mães nas 
unidades prisionais, mas desde que o estabelecimento reúna as condições para 
atender melhor o interesse do menor nesta fase de desenvolvimento. 
Deve-se destacar, ainda, a relevante atuação da Defensoria Pública, 
que tem constituído núcleos de assistência à mulher, possuem o direito de 
vistoriar os presídios para verificar o cumprimento da lei. Espera-se que uma 
atuação conjunta do poder público propicie condições adequadas para a 
reintegração social da presa, como preconizado na lei de execução penal, o que 
dependerá da articulação e integração de políticas públicas e do apoio da 
comunidade. 
 
Filmes: 
O cárcere e a rua (BRA, 2004, 80 min) diretora: Liliana Sulzbach. 
Sinopse: Cláudia é a presidiária mais antiga e respeitada da 
Penitenciária Madre Pelletier. A que dá ordens e protege. Protege, por exemplo, 
a jovem Daniela, que corre risco de vida por ser acusada de ter matado o próprio 
filho. Mas Cláudia, assim como Betânia, deve deixar a penitenciária em breve. 
 
Daniela terá que se defender sozinha. Cláudia sai em busca do filho. Betânia 
sente a tentação de deixar de lado as regras do regime semiaberto para viver a 
liberdade em companhia de um novo amor. 
Leite e ferro (BRA, 2009, 70 min) diretora: Cláudia Priscilla 
Sinopse: O documentário mostra histórias, dramas e emoções de 
prisioneiras que pariram e amamentam seus bebês no Centro de Atendimento 
Hospitalar à Mulher Presa (CAHMP), uma instituição em São Paulo que abrigava 
mulheres em fase de aleitamento. 
3. A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL E O SISTEMA PRISIONAL 
3.3.1. Populações indígenas 
A população indígena brasileira, segundo resultados preliminares do 
Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2010, é de 817.963, representando 
305 diferentes etnias dos quais 502.783 vivem na zona rural e 315.180 habitam 
as zonas urbanas brasileiras. 
Este censo revelou que em todos os Estados da Federação, inclusive 
no Distrito Federal, existem populações indígenas, sendo que a região Norte é 
aquela que concentra o maior número de indivíduos, 305.873 mil. A Fundação 
Nacional do Índio (FUNAI), órgão vinculado, ao Ministério da Justiça também 
registra 69 referências de índios ainda não contata- dos, além de existirem 
grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua condição indígena junto 
ao órgão federal indigenista. 
O povo Tikuna, residente no Amazonas, em números absolutos foi o 
que apresentou o maior número de falantes e, consequentemente, a maior 
população. Em segundo lugar, em número de indígenas, ficou o povo Guarani 
Kaiowá do Mato Grosso do Sul e, em terceiro lugar, os Kaingang da região sul 
do Brasil. O citado Censo registrou, também, 274 línguas faladas, sendo que 
17,5% da população indígena não fala a língua portuguesa. 
Esta população, em sua grande maioria, vem enfrentando uma 
acelerada e complexa transformação social, necessitando buscar novas 
respostas para a sua sobrevivência física e cultural e garantir às próximas 
gerações melhor qualidade de vida. As comunidades indígenas vêm enfrentando 
 
problemas concretos, tais como invasões e degradações territoriais e 
ambientais, exploração sexual, aliciamento e uso de drogas, exploração de 
trabalho, inclusive infantil, mendicância, êxodo desordenado causando grande 
concentração de indígenas nas cidades. 
A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos 
Indígenas (2007) traz no Artigo 2º que “os povos e pessoas indígenas são livres 
e iguais a todos os demais povos e indivíduos e têm o direito de não serem 
submetidos a nenhuma forma de discriminação no exercício de seus direitos, 
que esteja fundada, em particular, em sua origem ou identidade indígena”. 
A Constituição Federal, por sua vez, assevera que a realização de 
direitos dos povos indígenas passa pela garantia de sua autodeterminação, o 
respeito à sua cultura, práticas sociais e políticas. Os povos indígenas detêm o 
direito originário e o usufruto exclusivo sobre as terras que tradicionalmente 
ocupam. 
Nesse sentido, é central a discussão sobre as terras indígenas. Nos 
termos da legislação vigente (CF/88, Lei 6001/73 – Estatuto do Índio– Decreto 
n.º1775/96), as terras podem ser classificadas nas seguintes modalidades: 
Terras Indígenas Tradicionalmente Ocupadas: são as terras 
indígenas de que trata o art. 231 da Constituição Federal de 1988, direito 
originário dos povos indígenas, cujo processo de demarcação é disciplinado pelo 
Decreto nº 1775/96. 
Reservas Indígenas: são terras doadas por terceiros, adquiridas ou 
desapropriadas pela União, que se destinam à posse permanente dos povos 
indígenas. São terras que também pertencem ao patrimônio da União, mas não 
se confundem com as terras de ocupação tradicional. Existem terras indígenas, 
no entanto, que foram reservadas pelos Estados- membros, principalmente 
durante a primeira metade do século XX, que são reconhecidas como de 
ocupação tradicional. 
Terras Dominiais: são as terras de propriedade das comunidades 
indígenas, havidas por qualquer das formas de aquisição do domínio, nos termos 
da legislação civil. 
 
Interditadas: são áreas interditadas pela Funai para proteção dos 
povos e grupos indígenas isolados, com o estabelecimento de restrição de 
ingresso e trânsito de terceiros na área. A interdição da área pode ser realizada 
concomitantemente ou não com o processo de demarcação, disciplinado pelo 
Decreto nº 1775/96. 
 
As fases do procedimento demarcatório das terras tradicionalmente ocupadas, abaixo 
descritas, são definidas por Decreto da Presidência da República e atualmente consistem 
em: 
Em estudo: realização dos estudos antropológicos, históricos, fundiários, cartográficos e 
ambientais, que fundamentam a identificação e a delimitação da terra indígena. 
Delimitadas: terras que tiveram os estudos aprovados pela Presidência da Funai, com a sua 
conclusão publicada no Diário Oficial da União e do Estado, e que se encontram na fase 
do contraditório administrativo ou em análise pelo Ministério da Justiça, para decisão acerca 
da expedição de Portaria Declaratória da posse tradicional indígena. 
Declaradas: terras que obtiveram a expedição da Portaria Declaratória pelo Ministro da Justiça 
e estão autorizadas para serem de marcadas fisicamente, com a materialização dos 
marcos e georreferenciamento. 
Homologadas: terras que possuem os seus limites materializados e georreferenciados, 
cuja demarcação administrativa foi homologada por Decreto Presidencial. 
Regularizadas: terras que, após o decreto de homologação, foram registradas em Cartório em 
nome da União e na Secretaria do Patrimônio da União. 
 Interditadas: áreas interditadas, com restrições de uso e ingresso de terceiros, 
para a proteção de povos indígenas isolados. 
A União também poderá estabelecer Reservas Indígenas em qualquer parte do 
território nacional, áreas destinadas à posse e ocupação pelos povos indígenas, onde 
possam viver e obter meios de subsistência, com direito ao usufruto e utilização das 
riquezas naturais, garantindo-se as condições de sua reprodução física e cultural. 
Seguindo os procedimentos próprios definidos na legislação em vigor. 
 
 
 
É necessário destacar que a legislação vigente reconhece o respeito 
às formas de organização própria dos povos indígenas, além de suas crenças, 
costumes, usos e tradições, bem como os direitos originários dos povos 
indígenas sobre suas terras. Dessa forma, o Decreto nº 5051/04 (Convenção 
169 da Organização Internacional do Trabalho– OIT) reafirma o 
reconhecimento desses direitos constitucionais e ressalta o direito de autonomia 
dos povos indígenas, no sentido de garantir o respeito às formas diferenciadas 
de vida e organização de cada povo indígena, seus anseios e planos de vida, de 
gestão e de desenvolvimento de seus territórios, afastando- se antigos ideários 
de assimilação, superioridade ou dominação frente a povos indígenas. 
O cidadão indígena goza do direito inalienável de participação na vida 
política nacional com direito a voto, acesso a documentação, não-discriminação 
e direitos de cidadania; e reconhece-se que os povos indígenas também se 
apresentam como coletividades singulares frente à sociedade nacional. Isso 
significa dizer que os povos indígenas se organizam por meio de usos, costumes, 
tradições dentro de sociedades indígenas – inclusive com regras internas 
próprias – e que, como coletividades distintas, também participam das decisões 
políticas de Estado. 
O desafio do Estado brasileiro hoje é implementar uma política 
indigenista não assimilacionista, que supere relações de dominação ou de 
dependência impostas pelo modo de vida não-indígena. Esta política deve 
observar as singularidades dos diferentes povos indígenas e respeitar as 
manifestações de vontades autônomas destes povos no que diz respeito às suas 
opções de vida. 
Assim, a administração pública deve atuar em resposta às demandas 
das comunidades indígenas no que se refere ao fortalecimento interno e respeito 
externo das dinâmicas sociais singulares dos diferentes povos indígenas sobre 
diferentes temas, como, por exemplo, assuntos de gênero e geracionais, formas 
de resolução internas de conflitos, gestão territorial e ambiental. Para isso, os 
agentes públicos precisam conhecer as regras de organização dos povos 
indígenas, pontos de vistas, valores, anseios e o tipo de relação que eles querem 
estabelecer com a sociedade nacional, para uma relação respeitosa e, 
 
consequentemente, para a elaboração de leis e implementação de políticas que 
atendam à construção de um Estado verdadeiramente pluriétnico. 
Em algumas situações, em razão de sua autodeterminação, muitos 
povos optam por fazer prevalecer dinâmicas coletivas próprias. Este é o caso de 
diversos povos de recente contato e dos povos indígenas isolados, que em razão 
de sua especial condição de vulnerabilidade exigem uma atuação ainda mais 
diferenciada dos diferentes órgãos, notadamente aqueles voltados a políticas 
indigenistas. 
A seguir, seguem relacionados os princípios que orientam a atuação 
voltada a atender as demandas das populações indígenas: 
Garantia de um diálogo intercultural respeitoso. 
Respeito e fortalecimento da autonomia e formas de organização 
próprias dos povos indígenas com reconhecimento de suas decisões. 
Acompanhamento diferenciado para povos indígenas de recente 
contato e/ou em terras com presença de índios isolados. 
Garantia de informação adequada aos povos indígenas e de acordo 
com a legislação em vigor. 
Fundamentação das decisões de governo que afetam povos 
indígenas, considerando suas formas próprias de organização e os direitos de 
participação e de consulta livre prévia e informada. 
Há 100 anos, o Estado brasileiro criou o Serviço de Proteção ao Índio 
e Localização de Trabalhadores Nacionais – SPILTN –, a primeira estrutura 
organizacional responsável por uma política indigenista oficial. A Fundação 
Nacional do Índio – Funai –, hoje vinculada ao Ministério da Justiça, tem suas 
origens relacionadas com a criação do extinto SPILTN, mais tarde denominado 
apenas Serviço de Proteção aos Índios – SPI. 
Criado pelo Decreto-Lei nº 8.072, de 20 de junho de 1910, o SPI teve 
como objetivo ser o órgão do Governo Federal encarregado de executar a 
política indigenista. Sua principal finalidade era proteger os índios e, ao mesmo 
tempo, assegurar a implementação de uma estratégia de ocupação territorial do 
 
país. A criação do SPI modificou profunda- mente a abordagem da questão 
indígena no Brasil. 
A primeira Constituição, de 1824, ignorou completamente a existência 
das sociedades indígenas, prevalecendo uma concepção da sociedade 
brasileira como sendo homogênea. Consequentemente, não reconheceu 
adversidade étnica e cultural do país e estabeleceu como sendo de competência 
das Assembléias das Províncias a tarefa de promover a catequese e de agrupar 
os índios em estabelecimentos coloniais, o que acarretou impactos significativos 
sobre as terras ocupadas. 
Mais de meio século depois, a Funai foi criada por meio da Lei nº 
5.371, de 5 de dezembro de 1967, em substituição ao SPI. Esta decisão 
governamental foi tomada num momento histórico em que predominavam, ainda, 
as ideias evolucionistas sobre a humanidade e o seu desenvolvimento através 
de estágios. Esta ideologia de caráter etnocêntrico influenciou a visão 
governamental, sendo que a Constituição vigente naquela época estabelecia a 
figura jurídica da tutela e considerava os índios como “relativamente incapazes”. 
Mesmo reconhecendo a diversidade cultural entre as muitas 
sociedades indígenas, a Funai tinha o papel de integrá-las, de maneira 
harmoniosa, na sociedade nacional. Considerava-se que essas sociedades 
precisavam “evoluir” rapidamente, até ser integradas, o que é considerado na 
prática como uma negação da riqueza da diversidade cultural. 
Posteriormente, com a edição da Lei nº 6.001 de 19 de dezembro de 
1973, conhecida como Estatuto do Índio, se formalizaram os procedimentos a 
serem adotados pela Funai para proteger e assistir as populações indígenas, 
inclusive no que diz respeito à definição de suas terras e ao processo de 
regularização fundiária. O Estatuto do Índio representou um avanço em relação 
à política indigenista praticada, estabelecendo novos referenciais no que diz 
respeito à definição das terras ocupadas tradicionalmente pelos índios. 
Entretanto, a nova política indigenista continuou ambígua no que se refere ao 
reconhecimento da especificidade cultural dos índios, pois se propunha a 
proteger as diferentes culturas indígenas ao mesmo tempo em que objetivava 
sua integração na sociedade brasileira. Mesmo com os avanços alcançados na 
 
abordagem da questão indígena, a função de tutela continuou sendo exercida 
pelo Estado, reforçando a relação paterna- lista e intervencionista deste para 
com as sociedades indígenas, mantendo-as submissas e dependentes.’ 
O processo de democratização do Estado brasileiro, durante a década 
de 1980, permitiu e incentivou a ampla discussão da chamada “questão 
indígena” pela sociedade civil e pelos próprios índios, que começaram a se 
conscientizar e a se organizar politicamente, num processo de participação 
crescente nos assuntos de seu interesse. Nas discussões e atividades políticas 
que envolveram o período de elaboração da Constituição, promulgada em 1988, 
foi intensa a atuação de entidades civis dedicadas à causa indígena, bem como 
de entidades constituídas pelos próprios índios. 
 
 
A Constituição de 1988 instaurou um novo marco conceitual, 
substituindo o modelo político pautado nas noções de tutela e de 
assistencialismo por um modelo que afirma a pluralidade étnica como direito e 
estabelece relações protetoras e promotoras de direitos entre o Estado e 
comunidades indígenas brasileiras. Além disso, estabeleceu o prazo de cinco 
anos para que todas as terras indígenas do país fossem demarcadas. Assim, 
estas mudanças de visão, de abordagem e dos princípios que devem orientar a 
ação do Estado exigiram uma reformulação dos seus mecanismos de ação 
relativos às populações indígenas. 
 
Um dos maiores desafios da política indigenista brasileira é melhorar 
a integração e sinergia das ações do governo federal em parceria com estados, 
municípios e sociedade civil, com vistas a maior eficiência e eficácia das 
políticas. Passados mais de 20 anos da promulgação da Constituição, aindapersistem situações de conflito que tornam vulneráveis os povos indígenas e 
suas terras, invadidas por madeireiros, garimpeiros, atividades agropecuárias 
ilegais, entre outras, decorrentes do processo de expansão econômica do país 
nos últimos anos, sobretudo na Amazônia Legal. 
Para dar conta desses novos desafios, tem ocorrido uma 
reformulação da política indigenista com a reestruturação da Funai, a criação da 
Comissão Nacional de Política Indigenista – CNPI – e dos Comitês Regionais 
paritários, espaços políticos estratégicos do protagonismo dos indígenas junto 
ao governo. Nacionalmente, a CNPI constitui-se como um dos mais relevantes 
espaços de articulação e pactuação de políticas públicas voltadas aos povos 
indígenas, envolvendo vários órgãos do governo federal e representantes 
indígenas de todas as regiões do país. 
Mais recentemente foi criada a Secretaria Especial de Saúde 
Indígena no âmbito do Ministério da Saúde, de modo a conferir maior eficácia 
ao Subsistema de Saúde Indígena do SUS. Na área educacional, o tema passou 
a ser de competência do Ministério da Educação, que por meio de articulação 
com os Estados e Municípios é o responsável pelas ações destinadas à 
educação escolar indígena. A coordenação das políticas e ações é realizada pela 
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. 
Na perspectiva de ampliar a proteção e a promoção dos direitos dos 
povos indígenas centrada na superação de paradigmas conceituais de tutela e 
assistencialismo, que historicamente referenciaram as ações governamentais 
com os povos indígenas no Brasil, um conjunto de políticas e ações de longo 
prazo foi desenvolvido, com destaque para o Programa Proteção e Promoção 
dos Direitos dos Povos Indígenas, componente do Plano Plurianual do governo 
federal, coordenado pela Funai desde 2008, com uma perspectiva de articulação 
e transversalidade das políticas públicas e para Política Nacional de Gestão e 
Territorial e Ambiental de Terras Indígenas – PNGATI –, instituída pelo 
Decreto nº 7747, de 05 de junho de 2012. 
 
Aplicam-se aos cidadãos indígenas todas as leis do país, nos mesmos 
termos que se aplicam aos demais cidadãos brasileiros. Entretanto, como 
amplamente informado acima, o Estatuto do Índio e a Constituição Federal de 
1988 previram que o respeito aos sistemas culturais e normativos dos povos 
indígenas, como garantia de sua sobrevivência e integridade, devendo ser 
reconhecido seus costumes, línguas, filosofias, concepções lógicas e 
ordenamentos jurídicos. 
Nesse sentido, destaca-se que o Estado tem o dever de respeitar e 
admitir coexistência de outros sistemas organizacionais ou ordens jurídicas 
fundadas em normas, usos, costumes e tradições que regulem a vida social de 
um povo indígena (pluralismo jurídico). Este respeito é imprescindível para a 
garantia de um tratamento justo a ser dispensado aos indígenas, seus familiares 
e suas comunidades, diante de um processo criminal. 
O princípio da igualdade com respeito à diferença fez com que o 
Estatuto do Índio, ao mesmo tempo em que antevisse a possibilidade de 
condenação dos indígenas, determinasse a obrigatoriedade da utilização de 
medidas diferenciadas em relação à penalidade a ser determinada e ao modo 
de seu cumprimento. 
Destarte, em caso de condenação, a lei indigenista brasileira prevê, 
em nome do princípio do respeito à diferença, a necessária atenuação da pena 
e o cumprimento em regime especial de semiliberdade no local de 
funcionamento do órgão indigenista, mais próximo da habitação do condenado, 
conforme o Artigo 56, único, Lei nº 6.001/73. 
Contudo, Lacerda (2010) chama atenção ao ideário criado pelo senso 
comum de que os índios são inimputáveis ou semi-inimputáveis. Corrige esta 
distorção apontando que o Código Penal, em razão do princípio da isonomia, 
estabelece igualmente as sanções aos indígenas assim como aos demais 
cidadãos brasileiros. 
O relatório preparado pelo Conselho Indigenista Missionário – CIMI– 
(2010), citando dados do Departamento Penitenciário Nacional – DEPEN –, 
revela que em dezembro de 2010 havia um total de 748 indígenas internos no 
sistema penitenciário, sendo destes 56 mulheres e 692 homens. Tais dados 
 
demonstram que os indígenas são um grupo social cada vez mais presente na 
população carcerária do país. Em dezembro de 2012, estes dados oscilaram, 
passando a 979 indígenas presos, sendo 924 homens e 55 mulheres. A tabela 
ajuda a mostrar a evolução dos números no período. 
 
Indígenas internos no Sistema Penitenciário Brasileiro Dezembro de 2005 
a dezembro de 2010 
 
Tabela: Rosane Lacerda. 
Fonte: InfoPen-Estatística, Tabelas diversas (Apud, 2010). 
 
É preciso lembrar, no entanto, que estes dados podem apresentar 
inconsistências, pois nem sempre os estabelecimentos prisionais preenchem 
adequadamente os sistemas de informações. Os dados não consideram as 
pessoas detidas em cadeias públicas aguar- dando julgamento. Entre os motivos 
destacam-se a posse de entorpecentes, furto, roubo, homicídios, latrocínios, 
estelionato, posse irregular de armas, receptação, crime contra os costumes, e 
outros. 
A realidade carcerária indígena continua imensamente desconhecida, 
não havendo dados relativos ao perfil dos indígenas submetidos ao sistema 
prisional em termos de faixa etária, grupo linguístico, tempo de contato com a 
sociedade envolvente não indígena, acesso à intérprete durante a instrução 
processual e a execução penal, condições de desenvolvi- mento de defesa, 
acesso à visita de familiares, entre outros. Assim, é muito importante que sejam 
produzidos estudos e informações que possam orientar a elaboração de políticas 
penitenciárias para este segmento populacional, bem como auxiliem a tomada 
de decisões de forma célere. 
 
Outro aspecto que requer atenção das autoridades penitenciárias com 
relação às populações indígenas presas diz respeito ao efeito que a privação de 
liberdade pode acarretar na saúde dos indígenas, mais vulneráveis às doenças 
infectocontagiosas e a mudança de hábitos alimentares, bem como à saúde 
mental, em razão da mudança de hábitos em um ambiente que impõe ausência 
de liberdade. Por esta razão, uma medida desejada é que os estabelecimentos 
penitenciários possam criar estratégias para implantação das diretrizes e 
medidas preconizada na Política de Saúde das Populações Indígenas, 
considerando as realidades e demandas locais e o incentivo à participação e o 
controle social. 
É oportuno ainda uma forte articulação com órgãos como a Funai para 
implantação de ações específicas, de modo assegurar a assistência prestada à 
população presa, em especial à orientação jurídica e acesso à justiça, garantindo 
também atendimento psicossocial aos familiares, minimizando os impactos 
negativos gerados pelo sistema prisional e as situações de vulnerabilidades. 
 
POPULAÇÕES NEGRAS 
Todas as formas de discriminação são prejudiciais para uma vida 
social plena e digna. Contudo, a discriminação em virtude da raça e cor é uma 
das mais difíceis de lidar em razão de um mito historicamente construído no 
Brasil, baseado em uma pretensa democracia racial, fundamentada na 
pluralidade da formação do povo brasileiro a partir do processo de aproximação 
entre as populações indígenas originárias, europeus e negros africanos trazidos 
em função da escravidão. 
O racismo está presente em nossa sociedade ainda hoje, 
lamentavelmente. Ele se caracteriza pela atitude depreciativa contra 
determinadas pessoas ou grupos em razão das suas características física ou 
culturais. Esta ação perpetrada busca delimitar uma distinção superior de certos 
grupos devido a sua raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica, a fim 
de manter ou fazer prevalecer seus interesses e impor relação hierarquia na 
sociedade. 
 
 
Os movimentos sociais e especialistas identificam diferentes formas 
de racismos. Chamamos atenção a umade suas modalidades: o racismo 
institucional, que consiste nas atitudes e medidas adotadas por instituições, 
Estados e governos em favor de algum grupo racial que lhe confere vantagens 
no acesso a programas, políticas e serviços. 
Essa visão racista, muitas vezes alicerçadas em preconceitos 
originados nas relações familiares, sociais e econômicas, acaba por 
fundamentar ações e comportamentos discriminatórios com a finalidade de 
obstaculizar outrem de usufruir de direitos e oportunidades no ambiente público 
ou privado. A discriminação racial está presente em nosso dia a dia e assume 
muitas formas, algumas bastante explícitas ou outras muito perversas, que são 
invisibilizadas e tornam-se naturalizadas na sociedade, e pode ser agravada 
quando associada a outras características como gênero, idade, orientação 
sexual, religião etc. 
Segundo dados do governo brasileiro, o país, possui instrumentos de 
monitoramento sobre detenção no sistema penitenciário, segundo o qual a 
população carcerária brasileira tem perfil preponderantemente jovem, masculino, 
negro e de baixa escolaridade. 
Em 2011, 53,6% da população no sistema penitenciário tinha entre 18 
e 29 anos de idade, 93,6% eram homens, 57,6% eram negros e pardos e 34,8% 
eram brancos. Além disso, 45,7% da população do sistema penitenciário possuía 
ensino fundamental incompleto, enquanto apenas 0,4% possuía ensino superior 
completo. 
Percebe-se, portanto, a maior parte dos detentos são jovens e negros 
ou pardos, dispondo de baixa escolaridade. A partir disso, pode-se concluir a 
ligação que existe entre a pobreza, a vulnerabilidade dos grupos e a presença 
destes no sistema prisional. Por essa razão, conclui o estudo que “este quadro 
orienta as iniciativas multissetoriais para enfrentar o racismo institucional, reduzir 
a pobreza e estimular a educação e a inclusão produtiva de jovens”. 
 
 
 
 
Apesar de inexistir um sistema protetivo específico aos negros presos, 
é preciso levar em consideração todo o escopo de proteção jurídica que vem 
sendo reafirmado no âmbito dos três poderes, e que, evidentemente, são válidos 
dentro do presídio. Como já afirmado, o preso não perde a qualidade de ser 
humano, de cidadão, e mantém o direito a ser plenamente respeitado como 
pessoa e indivíduo, sendo cabível punição a qualquer ato discriminatório, racista 
ou preconceituoso. É preciso lembrar sempre que a Constituição de 1988 
criminaliza quaisquer formas de discriminação em virtude da raça, de forma 
inafiançável e imprescritível. Esta é uma perspectiva importante. 
Mas tentemos agora pensar o atendimento das populações negras 
presas pela chave do cumprimento dos dispostos no Estatuto da Igualdade 
Racial – Lei nº 12. 288, de 20 de julho de 2010, por meio das seguintes ações 
do Estado: 
 Inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento econômico e 
social; 
 Adoção de medidas, programas e políticas de ação afirmativa; 
 Modificação das estruturas institucionais do Estado para o 
adequado enfrentamento e a superação das desigualdades étnicas decorrentes 
do preconceito e da discriminação étnica; 
 Promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o combate à 
discriminação étnica e às desigualdades étnicas em todas as suas 
manifestações individuais, institucionais e estruturais; 
 Eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e institucionais 
que impedem a representação da diversidade étnica nas esferas pública e 
privada; 
 Estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas da 
sociedade civil direcionadas à promoção da igualdade de oportunidades e ao 
combate às desigualdades étnicas, inclusive mediante a implementação de 
incentivos e critérios de condicionamento e prioridade no acesso aos recursos 
públicos; 
 
 Implementação de programas de ação afirmativa destinados ao 
enfrentamento das desigualdades étnicas no tocante à educação, cultura, 
esporte e lazer, saúde, segurança, trabalho, moradia, meios de comunicação de 
massa, financiamentos públicos, acesso à terra, à justiça, e outros. 
Com advento deste diploma legal, o Brasil reforça compromisso com 
termos da Convença Internacional sobre Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação Racial, da ONU, aprovada ainda na década de 1960. 
No julgamento da ADPF 186, sobre ações afirmativas, em sede 
cautelar, o Ministro Gilmar Mendes ressaltou o ponto da necessidade de se tratar 
o diferente de forma diferenciada, especificamente relacionando este argumento 
com a questão étnica: 
De toda forma, é preciso enfatizar que, enquanto em muitos países o 
preconceito sempre foi uma questão étnica, no Brasil o problema vem associado 
a outros vários fatores, dentre os quais sobressai a posição ou o status cultural, 
social e econômico do indivíduo. Como já escrevia nos idos da década de 40 do 
século passado, Caio Prado Júnior, célebre historiador brasileiro, a “classificação 
étnica do indivíduo se faz no Brasil muito mais pela sua posição social; e a raça, 
pelo menos nas classes superiores, é mais função daquela posição que dos 
caracteres somáticos” (PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil 
Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 2006, p. 109).” E continua: “Isso não 
quer dizer que não haja problemas raciais no Brasil. O preconceito está em toda 
parte”. Como dizia Bobbio, “não existe preconceito pior do que o acreditar não 
ter preconceitos” (BOBBIO, Norberto. Elogio da serenidade e outros escritos 
morais. São Paulo: Unesp, 2002, p. 122). 
O Ministro Levandowski, em seu voto, ressaltou o ciclo vicioso que o 
preconceito enseja: 
A histórica discriminação dos negros e pardos, em contrapartida, 
revela igualmente um componente multiplicador, mas às avessas, pois a sua 
convivência multissecular com a exclusão social gera a perpetuação de uma 
consciência de inferioridade e de conformidade com a falta de perspectiva, 
lançando milhares deles, sobretudo as gerações mais jovens, no trajeto sem 
volta da marginalidade social. Esse efeito, que resulta de uma avaliação 
 
eminentemente subjetiva da pretensa inferioridade dos integrantes desses 
grupos, repercute tanto sobre aqueles que são marginalizados como naqueles 
que, consciente ou inconscientemente, contribuem para a sua exclusão. 
Ao final, o ministro destacou o papel fundamental das ações 
afirmativas e, no caso, das universidades, para se quebrar esse ciclo. 
Agora é preciso indagar quais são os desafios para a implantação e o 
desenvolvimento destas políticas no âmbito do sistema penitenciário no sentido 
da reintegração social e promoção da cidadania. Um fator importante é a 
produção de dados e informações considerando os quesitos de raça e etnia. Eles 
são fundamentais para realização de diagnósticos o mais realista possível, assim 
como a elaboração, implantação e avaliação de políticas. 
O preenchimento dos campos relativos ao tema em muitas ocasiões 
não respeita a informação a ser declarada pelo indivíduo, falseando a dimensão 
e alcance do encarceramento da população negra e indígena, por exemplo. Da 
mesma forma, o constrangimento vivido neste ambiente policial ou de reclusão 
não oportuniza que o cidadão possa ser devidamente esclarecido sobre 
alternativas disponíveis para resposta, tornando-se este ato mera formalidade. 
Outro tema que merece atenção diz respeito à saúde das populações 
negras. Sabemos que a discriminação racial é um fator determinante para 
acesso e atendimento de qualidade. Os relatos registrados nos atendimentos da 
Defensoria Pública e dos serviços de saúde no sistema prisional, analisado em 
algumas pesquisas acadêmicas e organizações internacionais de saúde e de 
direitos humanos, apontam que as pessoas deixaram de receber atenção 
adequada ou foram dificultadas em seu acesso aos serviços de saúde em razão 
da sua raça ou etnia. 
Por outro lado, percebe-se a necessidade de ações em nível local, 
com adequado financiamento, considerando as doenças e agravos à saúdecom 
maior incidência e prevalência nas populações negras e indígenas. 
Há, ainda, um chamado para a convergência de esforços no sentido 
de promover atividades socioeducativas voltadas à população carcerária para 
 
estimular o convívio entre si, reconhecendo e valorizando os saberes e a 
diversidade cultural. 
Da mesma forma, é preciso propiciar a capacitação do corpo funcional 
e de agentes do sistema de justiça para assegurar o respeito baseado em 
metodologias apropriadas para adultos. Além disso, é necessário criar 
campanhas institucionais e demais estratégias para visibilização das situações 
de desigualdades raciais que possam ajudar a sensibilizar agentes público, 
provocando mudanças comportamentais. 
Por derradeiro, é valoroso registrar a promulgação da Lei nº 12.966, 
de 24 de abril de 2014, sancionada pela Presidenta Dilma Rousseff, que amplia 
aplicação da Ação Civil Pública, um instrumento processual em defesa de 
interesses difusos e coletivos, normatizado pela Lei nº 7.347/1995, passando a 
proteger também a honra e a dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos. 
Assim, a sociedade passa a contar com mais um mecanismo para garantir a 
realização de direitos, entendendo a dimensão integral dos indivíduos e suas 
relações comunitárias e culturais. 
 
4. POPULAÇÕES ESTRANGEIRAS PRESAS E EGRESSAS DO 
SISTEMA PRISIONAL 
O consumo abundante e o mercado vêm estabelecendo novas formas 
de produção e trocas em níveis mundiais e novas relações sociais com base na 
circulação do capital. Esta realidade traz impactos na organização do Estado de 
bem-estar social, que cada vez mais consegue assegurar a garantia e inclusão 
de parcelas excluídas. 
O fenômeno da globalização e a maior interação com países do 
Mercado Comum do Sul 
– Mercosul – têm intensificado a mobilidade das pessoas ao redor do 
planeta. O Brasil tornou-se destino de muitas pessoas em virtude de redes 
internacionais de crime, notadamente o de drogas. No país, noventa por cento 
dos crimes relacionados por pessoas estrangeiras estão ligados ao tráfico de 
drogas. Segundo dados do InfoPen, em dezembro de 2012 o número de pessoas 
 
de origem estrangeira presa nos estabelecimentos prisionais brasileiros era de 
3.392, sendo 2.563 homens e 829 mulheres, perfazendo aproximadamente 110 
nacionalidades; entre estas destacam-se em maior quantidade os países das 
Américas, com 1.616 pessoas, e da África com 982. Há também pessoas 
apátridas. 
A Constituição Federal primou pela isonomia entre brasileiros e 
estrangeiros no que toca aos direitos e garantias fundamentais, sobretudo 
àqueles elencados no Art. 5º. Dessa forma, é necessário ter em mente que, uma 
vez preso, o estrangeiro deve ser tratado sem qualquer forma de preconceito ou 
distinção em relação aos brasileiros. Todos os benefícios que estão elencados 
na LEP aplicam-se, igualmente, ao estrangeiro, inclusive assistência judiciária 
gratuita pela Defensoria Pública, caso não possua advogado particular ou 
fornecido pela missão diplomática. 
Nos termos da Convenção de Viena sobre Relações Consulares, de 
1963, as pessoas de outros países reclusas no Brasil devem receber apoio do 
poder público em nível local caso não possam se comunicar em português. Este 
auxílio pode, ainda, ser prestado pelo corpo consular do país de origem. 
A distância de sua família e de sua comunidade pode provocar um 
sentimento de solidão, pois acabam não recebendo visitas de forma periódica ou 
mesmo correspondências e encomendas em virtude do alto preço dos serviços 
postais. Assim, é preciso estar atento às dificuldades que possam passa, 
evitando assim maiores prejuízos aos atendimentos prestados na área 
psicossocial e de saúde. 
O Conselho Nacional de Justiça– CNJ –, para instrumentalizar a 
citada Convenção de Viena, editou a Resolução nº 162, de 2012, 
regulamentando a necessidade de notificação da prisão de estrangeiro à missão 
diplomática do país de origem do preso, ou, na sua falta, ao Ministério das 
Relações Exteriores e ao Ministério da Justiça, respectivamente, no prazo de 
cinco dias. Além disso, a autoridade judiciária deverá comunicar, no mesmo 
prazo, sempre que houver progressão ou regressão de regime, concessão de 
livramento condicional e extinção da punibilidade. 
 
Salutar foi o entendimento da Defensoria Pública do Mato Grosso do 
Sul, em conjunto com a Polícia Federal, que concedeu o direito do preso fazer 
ligações telefônicas, por meio da linha do presídio, para o exterior e, assim, 
conseguir comunicar-se com a sua família. No Estado de São Paulo, em medida 
recente, o governo estabeleceu termo de cooperação com o Reino Unido, 
assegurando aos presos ingleses a possibilidade de comunicação por meio do 
uso de aplicativo eletrônico (Skype). 
Uma particularidade do estrangeiro, que, em regra, não pode 
continuar morando no país, é a necessidade de aceleração de seu processo de 
expulsão, quando então poderá ser beneficiado com o livramento condicional, 
indulto e comutação pena A questão ainda é controversa: há diversos casos de 
progressão de regime antes da expulsão, ou seja, mesmo que o estrangeiro 
esteja irregular no país, como já decidiu o STJ (HC 123.329). Porém, isso pode 
levar, muitas vezes, a que o estrangeiro vá viver na rua, em situação precária, 
sem documentos ou condições de arrumar trabalho. 
Em decisão recente, o Conselho Nacional de Imigração publicou a 
Resolução Normativa nº 110, de 10 de abril de 2014, que autoriza a concessão 
de permanência de caráter provisório aos presos que estão em condições de 
progressão de regime, com fins ao estabelecimento de igualdade de condições 
para cumprimento de penas por estrangeiros no território nacional. Com base 
nesta Resolução, o Ministério da Justiça concederá, por determinação judicial, a 
permanência provisória para que o estrangeiro possa gozar do benefício da 
progressão de regime em situação de regularidade migratória. O estrangeiro ou 
seu representante legal deverá solicitar ao juiz que seja determinado ao 
Ministério da Justiça a concessão da permanência com base nessa resolução: 
Art. 1º - O Ministério da Justiça concederá, em virtude de decisão 
judicial, permanência de caráter provisório, a titulo especial, a estrangeiros em 
cumprimento de pena no Brasil. 
Parágrafo único - A permanência de que trata o caput deste artigo, 
será vinculada ao cumprimento da pena ou à efetivação de sua expulsão. 
O desafio, contudo, está na aplicação das assistências previstas na 
Lei de Execução Penal – LEP –, também precárias entre os brasileiros e as 
 
brasileiras. Podemos citar, por exemplo, a necessidade de garantir fluxograma 
de atendimento, cor responsabilizando diferentes agentes envolvidos, como o 
Judiciário, Ministério da Justiça, por meio da Polícia Federal e Departamento de 
Estrangeiros, estabelecimentos penitenciários, defensorias públicas da União e 
dos Estados, Centros de Referência Especializados de Assistência Social – 
CREAS –, entre outros. 
No esquema a seguir são apresentadas, de forma sistematizada, as 
ações desejáveis para adequado atendimento às pessoas presas e egressas de 
origem estrangeira: 
 
 
 
 
Item 
 
Ações Recomendadas 
 
Órgãos Envolvidos 
 
 
01 
 
Orientação sobre direitos e 
responsabilidades verbalmente 
e/ou por escrito, 
preferencialmente no idioma da 
pessoa presa. 
 
Unidade 
Prisional; 
Corpo 
Consular; 
Defensoria 
Pública. 
 
02 
Comunicação com familiares 
da pessoa estrangeira presa 
ou egressa após a sua 
anuência. 
 
Unidade 
Prisional; 
Corpo 
Consular. 
 
 
03 
 
 
Assistência Jurídica. 
 
Departamento de Estrangeiros 
do Ministério da Justiça; 
Defensoria Pública da União; 
Defensoria Pública do Estado. 
 
 
04 
Encaminhamento para 
atendimento psicossocial 
e de saúde. 
Unidade Prisional; 
Serviço de Saúde em nível 
local. 
 
05 
 
Inclusão em programasde 
geração de renda. 
Unidade 
Prisional; 
Governos 
locais. 
 
06 
Atenção à pessoa estrangeira 
egressa do sistema prisional 
(assistência em saúde, 
serviço social, alimentação e 
habitação). 
 
Centro de Referência em 
Assistência Social; Defensoria 
Pública Estadual. 
 
 
07 
 
 
Apoio para traslado ao país de 
origem. 
 
Corpo 
Consular; 
Polícia 
Federal; 
Departamento de Estrangeiros 
do Ministério da Justiça. 
 
Na expectativa de buscar esclarecimentos e estruturar os serviços de 
assistências para a população presa e egressa do sistema prisional, discussões 
e alguns eventos têm sido realizados. Julgamos pertinente citar, como exemplo, 
alguns encaminhamentos sugeridos a partir do debate promovido pelo Conselho 
Nacional de Justiça, nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, em 2012: 
 Necessidade de criação de um cadastro de tradutores/intérpretes para 
viabilizar a comunicação dos presos estrangeiros, bem como a tradução das 
principais peças processuais. Deve ser assegurado ao preso estrangeiro o 
direito constitucional de contatar com sua família, além de seu advogado ou 
defensor. 
 
 Criação de política pública para moradia ou casas de passagem para 
presos estrangeiros. 
O estatuto da expulsão é previsto na Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 
1980, que define a situação de estrangeiro no Brasil, sendo uma prerrogativa do 
Ministro de Estado da Justiça, conforme Decreto nº 3.447, de maio de 2000, 
definir a conveniência ou oportunidade, assim como a revogação da expulsão 
por meio de decreto. Compete ao Ministro da Justiça determinar a instauração 
de inquérito para a expulsão do estrangeiro. 
Citamos abaixo as condições em que não se aplica a referida 
medida: 
• se implicar extradição inadmitida pela lei brasileira; e quando o 
estrangeiro tiver: 
 cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separado, de 
fato ou de direito, e desde que o casamento tenha sido celebrado há mais de 
cinco anos; ou 
 filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e 
dele dependa economicamente. 
É necessário que os diferentes agentes públicos envolvidos no 
atendimento ao preso e egresso estrangeiro conheça muito bem como funciona 
o processo de expulsão para que o indivíduo possa receber as informações 
corretas e tenha condição de acompanhar a sua tramitação: 
 O Juiz, a Polícia Federal ou o Ministério Público deverão informar 
ao Ministério da Justiça a prisão ou a condenação de qualquer pessoa 
estrangeira que tenha cometido crime, para que providencie a autuação de 
processo administrativo. Por despacho do Diretor do Departamento de 
Estrangeiros, é determinada a instauração de inquérito administrativo para fins 
de expulsão. 
 Os trâmites para instauração do inquérito estão regulamentados 
pelo Artigo 103 e parágrafos do Decreto nº 86.175/81. Trata-se de procedimento 
administrativo de coleta de informações para serem encaminhadas pela Polícia 
 
Federal, em relatório conclusivo, ao Ministério da Justiça. Nesta oportunidade, 
será concedido o direito constitucional da ampla defesa ao estrangeiro. 
 Após o Ministério da Justiça receber o referido inquérito e for 
verificado que o mesmo se encontra devidamente instruído, será feita a análise 
de mérito, objetivando verificar se o expulsando não se encontra amparado pela 
legislação brasileira pelas causas excludentes de expulsabilidade, previstas no 
Artigo 75, I e II, “a” e “b” da Lei nº 6.815/80, alterada pela Lei nº 6.964/81. 
 Caso se verifique que o estrangeiro seja passível de expulsão, será 
encaminhado um parecer conclusivo ao Ministro da Justiça, que determinará 
sobre a expulsão por portaria, por delegação de competência do Presidente da 
República. 
 A Portaria expulsória é condicionada, via de regra, ao cumprimento 
total da pena ou à liberação do estrangeiro pelo Poder Judiciário. Para a 
expulsão ser efetivada, o estrangeiro deve cumprir a pena ou ser beneficiado 
com o livramento condicional da mesma e ser liberado pelo Juiz da Vara de 
Execuções Criminais 1 
 As despesas do traslado de regresso ao país de origem quando da 
expulsão são custeadas pelo Estado Brasileiro, o que não impede que o 
estrangeiro expulso se retire do país caso possua meios para pagamento de sua 
passagem. 
JUVENTUDES PRIVADAS DE LIBERDADE 
Para a Organização Mundial de Saúde – OMS – juventude é o período 
compreendido entre os 18 e 29 anos. O conceito juventude tem caráter 
sociológico. Contudo, considerando as diferentes características e práticas, 
pode-se dizer que existem, na prática, um conceito sobre juventudes. 
Segundo os dados do InfoPen, do Ministério da Justiça, a população 
jovem está em maior quantidade presa, segundo o sistema de informação: em 
dezembro de 2012 haviam 260 mil pessoas presas com até 29 anos, 
aproximadamente 47% da população prisional. Este fato nos impõe um desafio 
civilizatório quanto ao acesso dos jovens, notadamente das comunidades mais 
 
pobres, às políticas públicas, programas e serviços que dialoguem com as suas 
demandas e particularidades. 
Em 2013, foi promulgada Lei nº 12.852, de 05 de agosto, que dispõe 
sobre o Estatuto da Juventude e cria o Sistema Nacional de Juventude. Este 
diploma legal prevê os direitos que devem ser assegurados à população jovem 
por meio de implantação de políticas públicas. O estatuto tem como princípio a 
articulação das políticas, o diálogo institucional nos diferentes níveis de governo, 
e o protagonismo e participação da juventude na elaboração, implantação e 
avaliação das ações do poder público e da iniciativa privada. 
Dessa forma, estabelece a criação de órgãos específicos na 
administração pública como instância para desenvolvimento de programas e 
ações para a juventude. Apresenta como obrigatoriedade a existência de 
conselhos de juventudes para definir diretrizes para a formulação de políticas, 
fiscalizar e acompanhar a sua implantação. 
É importante verificar com gestores penitenciários e demais 
secretarias afetas ao tema, como educação, saúde, assistência social, emprego, 
entre outros, de que maneira é possível fomentar o protagonismo dos jovens 
presos e egressos do sistema prisional. Algumas metodologias favorecem a 
identificação de medidas que podem ser desenvolvidas para promover a 
cidadania e dignidade desta população, como rodas de conversas, oficinas 
socioeducativas, teatro etc. 
A experiência acumulada por setores da sociedade civil organizada e 
por entidades representativas da juventude podem auxiliar no diálogo para 
construção de projetos e iniciativas. 
ATENÇÃO ÀS PESSOAS IDOSAS PRESAS 
Também o idoso, como foi citado, tem garantida proteção especial 
pela LEP, devendo ser recolhido em estabelecimento separado. Há previsão, 
inclusive, para que tenha direito a um trabalho compatível com as suas 
capacidades (Art. 32, §2º). 
É muito importante que seja prestada a assistência jurídica ao idoso 
considerando, por exemplo, as disposições do Código Penal, que considera 
 
atenuante quando o agente que comete o crime é maior de 70 (setenta) anos. 
Na hipótese de condenação ao regime aberto, admite-se o recolhimento em 
residência particular do maior de 70 (setenta) anos (Art. 117 da LEP). Há, 
também, o recurso chamado sursis humanitário, que é a suspensão condicional 
da pena, que ao idoso se aplica quando a pena não é superior a quatro anos 
(para os demais é não superior a dois anos), podendo ser suspensa de quatro a 
seis anos (Art. 77, §2º, do Código Penal). Além disso, os prazos prescricionais 
correm pela metade ao maior de 70 (setenta) anos (Art. 115 do Código Penal). 
Torna-se oportuno apontar ainda outros aspectos no sentido de 
qualificar a atenção à pessoa idosa presa, aquela com idade igual ou superior a 
60 (sessenta) anos. A Organização Mundial de Saúde – OMS –, frente ao 
processo de transição demográfica vivido em todo o globo, formulou o conceito 
de envelhecimentoativo, amparado no tripé saúde, proteção social e 
participação social. 
Nessa perspectiva, é urgente que os estabelecimentos prisionais 
possam desenvolver ações coordenadas a fim de atender as necessidades 
destes indivíduos, assegurando, por exemplo: 
 local de moradia e atendimento adequados; 
 adaptação dos espaços de circulação para as pessoas de baixa 
mobilidade; 
 fornecimento de alimentação com base em dieta específica quando 
prescrita pela equipe de saúde. 
Não se pode perder de vista a necessidade de envolvimento das 
pessoas idosas em atividades que estimulem o diálogo intergeracional como 
esforço para criação das condições favoráveis ao convívio social quando em 
liberdade. Para isso, as equipes técnicas nas unidades prisionais precisam 
propiciar sempre que possível a aproximação dos idosos aos demais 
sentenciados, evitando a segregação e exclusão das atividades de trabalho, 
educação, cultura e lazer ou dos afazeres comuns dos presos no 
estabelecimento prisional. 
 
O Estatuto do Idoso, instituído pela Lei nº 10.741 de 1º de outubro de 
2003, estabelece que a pessoa idosa tenha prioridade na formulação e 
implantação das políticas públicas e requer atendimento preferencial. 
Dessa maneira, o idoso preso pode solicitar, inclusive de próprio 
punho, para o juiz celeridade no processo. Havendo manifestação favorável 
deverá ser realizada marcação nos autos para o cumprimento da medida. 
Outrossim, é prevista a gratuidade de transporte rodoviário 
interestadual, tendo as companhias a obrigatoriedade de disponibilizar duas 
vagas em cada veículo. Isto pode auxiliar muito o idoso egresso do sistema 
prisional que queira retornar à sua cidade de origem em outro Estado onde pode 
contar com apoio familiar, ou mesmo o idoso que tenha um ente preso em outro 
estado que queira realizar uma visita social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
por 
um crime que não cometeu em 1946 na prisão mais temida 
dos EUA. Lá ele vai ter que conviver com agente penitenciário 
corrupto e com presos que organizam e 
Figura 9 – Ilustração do material informativo 
Secretaria da Administração Penitenciária do 
Estado de São Paulo. 
 
Darabont. 
 
no 
sistema prisional. Disponível em: 
http://www.reintegracaosocial.sp.gov.br. Clicar no botão 
Ações de reintegração social e, em seguida, documentos 
para baixar. 
http://www.reintegracaosocial.sp.gov.br/
 
O documento coíbe, proíbe e pune todas e quaisquer formas de 
violência e maus-tratos contra o idoso. A administração pública e, por 
conseguinte, o agente público tem a obrigatoriedade de criar mecanismos para 
proteção dos direitos dos idosos. 
 
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA OU MOBILIDADE REDUZIDA 
 
Em nível internacional, após ampla mobilização, consagrou-se a 
terminologia pessoas com deficiência. As diferentes conquistas dos movimentos 
de pessoas com deficiência e seus familiares sinalizam para a necessidade de 
implantação de direitos e políticas focalizadas. Com isso, o tema ganhou 
centralidade na agenda pública, deixando de ser tratado apenas no ambiente 
privado como responsabilidade exclusiva das famílias. 
No Brasil, a Lei Federal nº 7.853/89 trata de direitos básicos das 
pessoas com deficiência, eive dos direitos à educação, saúde, trabalho, lazer, 
previdência social, amparo à infância e à maternidade e outros que, decorrentes 
da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico 
(Art. 2º). Toda a lei deve ser interpretada considerando-se “os valores básicos 
da igualdade de tratamento e oportunidade, da justiça social, do respeito à 
dignidade da pessoa humana, do bem-estar, e outros, indicados na Constituição 
ou justificados pelos princípios gerais de direito” (Art. 1º, §1º). Cabe lembrar que 
o deficiente mental não cumpre pena em estabelecimento prisional, mas está 
sujeito a estabelecimento próprio, onde se submete a medidas de segurança. 
As pessoas presas com deficiência podem ter iniciado sua 
condenação nesta condição ou adquirido a deficiência em razão de tentativa de 
evasão, violência institucional, conflitos internos ou mesmo negligência quanto 
aos tratamentos de saúde de forma preventiva. 
Nesse sentido, cabe lembrar o disposto no Art. 13, 2, da Convenção 
de Nova York sobre o direito das pessoas com deficiência, de hierarquia 
constitucional. A norma citada dispõe que “a fim de assegurar às pessoas com 
deficiência o efetivo acesso à justiça, os Estados-partes promoverão a 
 
capacitação apropriada daqueles que trabalham na área de administração da 
justiça, inclusive a polícia e os funcionários do sistema penitenciário”. 
Um ponto central que não vem sendo observado pelo Estado é a 
adequação dos meios de mobilidade nos presídios, através da eliminação de 
barreiras e da adaptação arquitetônica para que o deficiente possa ter sua 
autonomia preservada. É preciso que se ofereça aos deficientes, conforme a 
deficiência, condições para que, sendo possível, possam, sozinhos e 
autonomamente, tomar banho, se deslocar, se exercitar, enfim praticar as ações 
que todos os demais praticam. 
A Lei nº 10.098/2000 dispõe claramente, em seu Art. 24, que incumbe 
ao poder público destinar, anualmente, dotação orçamentária para as 
adaptações, eliminações e supressões de barreiras arquitetônicas existentes 
nos edifícios de uso público de sua propriedade e naqueles que estejam sob sua 
administração ou uso. Assim, o STF já reconheceu a repercussão geral do tema, 
passo para que seja examinada a constitucionalidade da pretensão de que o 
poder judiciário determine que sejam feitas obras para adaptação nos presídios. 
As deficiências podem ser agrupadas segundo a sua natureza em: 
 física ou motora 
 mental ou intelectual 
 sensorial (visual ou auditiva) 
As equipes das unidades prisionais e as autoridades penitenciárias 
devem progressivamente incorporar em sua prática profissional o atendimento 
especializado considerando cada uma das deficiências. Quanto às pessoas 
surdas é fundamental a compreensão da cultura surda e do comportamento da 
sua comunidade, estratégias de comunicação e direito à intérprete em situações 
oficiais, e outras como a apuração de faltas, orientações em direitos e 
atendimentos psicossociais, adotando como referência a Língua Brasileira de 
Sinais – LIBRAS. Não havendo quem possa atender em LIBRAS é importante 
buscar falar de forma bem articulada e com tranquilidade, ou também tentar se 
comunicar por escrito. Da mesma forma, as pessoas com deficiência visual total 
 
e parcial devem obter auxílio para garantia de acessibilidade na locomoção e ter 
acesso ao uso de material em Braille. 
A LEP garante às pessoas com deficiência o trabalho adequado às 
suas condições, lembrando que o trabalho é elemento fundamental para garantir 
a reintegração social do preso e sua dignidade. Além disso, o Art. 117 da LEP 
admite o regime aberto em residência particular na hipótese da presa possuir 
filho com deficiência física ou mental, como forma de proteção a ele. 
Apesar de não haver decisão nesse sentido nos tribunais superiores, 
é possível considerar que, na hipótese da pessoa com deficiência, ainda que 
presa, tenha sua dignidade ferida por falta de adequação técnica do presídio aos 
requisitos previstos por lei para a sua autonomia, seja indenizada por danos 
morais. Em caso análogo, por não adequação de agência de banco – que, diga-
se de passagem, é apenas visitada pelo deficiente e, ainda que com frequência, 
não é o local onde ele passa o seu dia a dia –, o Superior Tribunal de Justiça 
considerou adequada a indenização por danos morais. Consequentemente, em 
local que o deficiente preso é obrigado a ficar é de se imaginar que o dano moral 
pelo descumpri- mento da lei por parte do Estado seja ainda maior. 
É salutar relembrar que as pessoas com deficiências têm prioridade 
no atendimento em órgãos da administração pública, empresas públicas

Outros materiais