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INSTITUTOO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE PERNAMBUCO IFPE CURSO DE ELETROTÉCNICA APOSTILA DE MÁQUINAS ELÉTRICAS 3 Prof Heldemarcio Ferreira Outubro 2010 MÁQUINAS ELÉTRICAS 3 2 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 1. Introdução às Máquinas Elétricas 2. Alternador – Princípio de construção e de funcionamento 3. Circuito Equivalente do Alternador 4. Funcionamento do Alternador em vazio e em carga 5. Regulação de Alternador 6. Paralelismo de Alternadores 7. Motor Síncrono 8. Ensaios em Máquinas Síncronas 9. Rendimento da Máquina Síncrona 10. Gerador de corrente contínua 11. Motor de corrente contínua OBJETIVO O presente trabalho tem por objetivo permitir ao aluno do curso de eletrotécnica o acesso aos conhecimentos básicos necessários à construção das competências estabelecidas para a disciplina Máquinas Elétricas 3, conforme o conteúdo programático que compõe a ementa da referida disciplina. Não obstante, cabe ressaltar a necessidade de complementação das informações contidas nesse documento, mediante consulta à bibliografia largamente difundida sobre a matéria. Prof. Heldemarcio Ferreira Figura da capa: Um dos primeiros geradores polifásicos produzidos comercialmente pela empresa norte-americana General Electric. 3 MÁQUINAS ELÉTRICAS 3 1.Introdução às Máquinas Elétricas São máquinas cujo funcionamento se baseia em fenômenos do eletromagnetismo. Um destes fenômenos é a indução eletromagnética e o outro a força eletromagnética. Estas máquinas podem classificar-se de várias formas, conforme as características que se pretendam realçar. Uma das classificações é quanto ao movimento: há um tipo de máquina que é estática, por não ter peças em movimento. Trata-se do transformador. As máquinas restantes são, normalmente, rotativas, pelo fato de terem peças em movimento rotativo. A parte da máquina que é fixa chama-se estator e a parte da máquina que é móvel chama-se rotor. Esta é a classificação habitual, por se referir às máquinas mais comuns, mas convém lembrar que há máquinas com peças móveis e que não são rotativas, devido ao seu movimento ser linear. É o caso do motor linear. Outra forma de classificar estas máquinas é quanto ao tipo de alimentação. O transformador e algumas das outras máquinas rotativas funcionam em corrente alternada. As restantes funcionam em corrente contínua. Outra classificação tem a ver com a função da máquina. Todas as máquinas funcionam produzindo transformações de energia. Das máquinas elétricas referidas, o transformador é um caso particular. Transforma energia elétrica em energia elétrica. O interesse da transformação é que permite converter uma tensão alta numa baixa (transformador redutor) ou uma tensão baixa numa alta (transformador elevador) ou manter a tensão, mas separando galvanicamente circuitos (transformador de isolamento). As aplicações dos transformadores são enormes, desde os transformadores de grande potência que existem nas subestações à saída das centrais elétricas onde se produz a energia elétrica, às subestações que existem ao longo do transporte e da distribuição da energia, até todo o tipo de aparelhagem industrial e doméstica (como televisores, gravadores, carregadores de baterias para automóveis e telefones móveis). O transformador está em quase toda parte. E é responsável pelo peso dos aparelhos, pois é provavelmente o componente mais pesado, devido a ter um núcleo de ferro. Nas restantes máquinas elétricas há transformação de uma forma de energia noutra. 4 Há máquinas que transformam energia mecânica em elétrica e outras que fazem o inverso. Algumas podem até funcionar de uma ou da outra forma (como acontece com a máquina de corrente contínua). As que transformam energia mecânica em elétrica chamam-se geradores. As que transformam energia elétrica em mecânica chamam-se motores. Os geradores de corrente contínua também se denominam dínamos e os de corrente alternada, alternadores. Existem vários tipos de dínamos, dos quais os mais usuais são os seguintes: Dínamos de excitação independente, de excitação em derivação (ou shunt), de excitação em série e de excitação composta (ou compound), havendo ainda vários tipos destes últimos. Cada um tem características e aplicações diferentes dos restantes. Por exemplo, o dínamo shunt pode ser usado para alimentar redes de corrente contínua por manter a tensão relativamente constante para variações de carga, enquanto o dínamo série não é adequado para este efeito, mas pode ser usado para alimentar aparelhos de solda. Os alternadores têm inúmeras aplicações, pois são eles que produzem a maior parte da energia que se consome no mundo. São eles que produzem a energia na maioria das centrais elétricas dos mais variados tipos (com exceção das fotovoltaicas), inclusive nas centrais nucleares. Em potências menores, usam-se, por exemplo, em estaleiros de obras em que não exista rede pública disponível. Existem vários tipos de motores, dos quais os mais usuais são os seguintes. Corrente contínua: motores de excitação independente, de excitação em derivação (ou shunt), de excitação em série e de excitação composta (ou compound), havendo ainda vários tipos destes últimos. Cada um tem características e aplicações diferentes dos restantes. Por exemplo, o motor shunt é adequado para máquinas-ferramenta, por ter uma velocidade relativamente estável com a carga (não sendo, no entanto o melhor para este efeito), o motor série não é adequado para esta aplicação, mas é adequado para tração elétrica, pois tem um bom binário de arranque. Em geral, os motores compound têm algumas características de cada um dos outros, mas melhoram certas características destes, sendo, no entanto mais caros. Uma característica própria dos motores de corrente contínua é a facilidade de controle da sua velocidade, o que não acontece nos de corrente alternada. Corrente alternada: motores assíncronos (muito usados em variadas aplicações, por serem robustos e baratos) e motores síncronos (mantêm a velocidade constante, além de terem outras características que os destinam a aplicações especiais). Dos motores assíncronos há dois grupos principais diferentes: os de rotor em gaiola de esquilo (os mais simples e mais usados) e os de rotor bobinado. Para facilitar a análise anteriormente efetuada, vejamos o seguinte diagrama: 5 Estáticas: Transformador excitação independente Dínamos shunt série composto de corrente contínua excitação independente Motores shunt Rotativas série composto rotor de gaiola Máquinas assíncronas rotor bobinado de corrente alternada Máquinas síncronas alternador motor síncrono Além dessas máquinas elétricas, existem muitas outras com características particulares que são estudadas caso a caso, consoante às necessidades e cuja referência está fora dos propósitos desta exposição. 6 2. Alternador – Princípio de Construção e Funcionamento 2.1 Construção do Alternador De uma forma geral, a grande maioria dos alternadores apresenta o modelo construtivo no qual o enrolamento de campo está situado no rotor e a armadura, no estator da máquina. A máquina assim construída é denominada de máquina síncrona de campo móvel. Nesta máquina o campo é alimentado por uma fonte CC através de dois anéis coletores e a armadura é ligada diretamente à fonte polifásica CA (no caso do motor síncrono) ou à carga (no caso do gerador síncrono ou alternador). Quando o rotor dessa máquina é posto a girar na velocidade síncrona, através de uma máquina primária, a máquina funciona como um alternador e as conexões terminais de saída da armadura são feitas de modo a suprir uma carga que pode ser monofásica ou polifásica.Fig.1 – construção do alternador O induzido ou enrolamento de armadura da máquina síncrona, normalmente no estator, é idêntico ao da máquina assíncrona, e, portanto constituído por um enrolamento distribuído, normalmente trifásico e com um ou mais pares de pólos. O indutor, normalmente no rotor, é constituído por um enrolamento monofásico alimentado por corrente contínua, também designado enrolamento de campo ou de excitação, embora se assista a um progressivo uso de ímãs permanentes em substituição desse enrolamento, nas unidades de menor potência. Normalmente este componente apresenta-se sob duas formas possíveis, originando duas famílias de máquinas: 7 � Máquinas de rotor cilíndrico, ditas turbo-alternadores ou turbo- motores. Neste caso, o enrolamento rotórico é distribuído. � Máquinas de pólos salientes, em que o enrolamento é constituído por bobinas concentradas em torno das cabeças polares. Máquinas de rotor cilíndrico Constroem-se deste modo máquinas que rodam a velocidades elevadas uma vez que não se ultrapassa com este tipo de enrolamento os 2 ou 4 pólos. São compostas de peças com grande resistência mecânica, normalmente rotores maciços em aço. As restrições mecânicas impõem o limite de 1250mm para o diâmetro a 3000rpm, o que provoca a forma alongada para este tipo de máquinas. As unidades de potência superior a 125MVA rodam em hidrogênio para reduzir perdas por ventilação e aumentar a potência específica. As potências máximas ultrapassam os 1200MVA a 3000rpm e os 1650MVA a 1500rpm (valores de 1982). Máquinas de pólos salientes Este tipo de construção é possível para todas as velocidades de rotação síncrona e toda a gama de potências. O número de pólos mínimo é, no entanto fixado em 4. Este tipo de máquina é usado, por exemplo, em centrais hidroelétricas, acoplado a turbinas Francis ou Kaplan, devido à velocidade ser reduzida, segundo a natureza da queda. Por esse motivo, são máquinas com muitos pólos o que as leva a serem maiores em diâmetro do que em profundidade. É a forma mais comum para motores, sobretudo para os que rodam a velocidades inferiores a 1500 rpm (50 Hz). Enrolamento amortecedor Na maior parte das máquinas síncronas existe ainda um terceiro enrolamento colocado no rotor, do tipo gaiola, semelhante ao das máquinas assíncronas. Este enrolamento destina-se a amortecer oscilações de binário mecânico que provoquem quebras de sincronismo, e que poderiam causar a saída de serviço da máquina uma vez que fora do sincronismo esta deixa de produzir binário útil (motor ou gerador). Fora do sincronismo circularão correntes neste enrolamento, à freqüência de escorregamento, que pela lei de Lenz criam binário com sentido oposto à variação, que tende a repor a situação de sincronismo. Este enrolamento amortecedor possibilita ainda o arranque assíncrono de uma máquina síncrona, que de outra maneira não possui binário de arranque. 8 Entre as principais vantagens da construção de armadura estacionária e campo girante podem ser destacados os seguintes aspectos: 1. Aumento da resistência mecânica dos dentes da armadura 2. Redução da reatância de armadura 3. Melhoria do isolamento 4. Facilidade construtiva 5. Redução no número de anéis coletores 6. Redução do peso e inércia da máquina 7. Melhor ventilação Para um maior aprofundamento dos aspectos apresentados, sugere-se uma consulta ao livro Máquinas Elétricas e Transformadores de Irving L. Kosow (capítulo 6). 2.2 O princípio de funcionamento A partir do momento em que o indutor cria um campo constante φf, se se fizer rodar um dos enrolamentos a uma velocidade constante Ω (rad/s), vai aparecer uma tensão e aos terminais de cada fase do induzido dada pela equação 1, em que ωωωω = pΩΩΩΩ representa a velocidade do campo magnético em rad elétricos por segundo, p é o número de pares de pólos e Ni é o número de espiras por fase. e = ωωωωNi φφφφf cos(ωωωωt) (1) O valor eficaz da tensão induzida será então E= ω Ni φf /√2 = Kφf ω, sendo K um valor constante (k= Ni /√2). A freqüência da tensão induzida é dada por f = ω/2π ou f = np/60 se n for a velocidade do motor em rpm. O valor da tensão é, por isso, proporcional ao fluxo criado pelo indutor, mas a relação com a corrente de excitação não é igual, devido à existência da saturação. Esta relação torna-se ainda menos linear a partir do momento em que circule corrente nos enrolamentos estatóricos, pois pela lei de Lenz serão responsáveis pela criação de um campo normalmente oposto ao do indutor, efeito conhecido por reação do induzido. A tensão gerada em cada fase (Egf) de uma máquina síncrona é dada pela expressão (1a) abaixo: dpfgf kfkNE φ444,= (1a) onde φ = fluxo por pólo Nf = número de espiras por fase f = a freqüência do alternador 9 Kp = fator de passo Kd = fator de distribuição Como foi visto, a freqüência de um alternador síncrono também está relacionada à sua construção, uma vez que esta varia com o número de pólos, sendo expressa pela equação (2) abaixo: 120 PN f = (2) onde P = número de pólos do alternador N = velocidade de rotação em rpm Reação do induzido (de armadura) As máquinas síncronas trifásicas têm enrolamentos CA no estator que produzem o campo girante à velocidade síncrona. Sob condições normais de funcionamento em regime permanente, nenhuma tensão é induzida no rotor pelo campo do estator porque o enrolamento do rotor está girando na mesma velocidade desse campo, de modo que não há variação de enlaces de fluxo do rotor. Somente a corrente contínua está presente no enrolamento do rotor, e a resistência Rf é a única oposição a ela. A impedância por fase do enrolamento de armadura é chamada de impedância síncrona zs, composta da resistência efetiva ra do enrolamento e de sua reatância síncrona xs (inclui a reatância de dispersão xa). De modo que: Ω+= sas jxrz (3) Para máquinas de grande porte, ra é geralmente desprezível comparada a xs e pode ser ignorada, exceto quando se calculam as perdas. Tendo em vista que o ferro da máquina está sujeito a variações de saturação devido a mudanças de condições de operação, xs não é realmente constante. Para propósitos aproximados, pode-se usar um valor ajustado para um grau típico de saturação. A relação entre a tensão nos terminais e a gerada no alternador pode ser representada pela equação fasorial (4) abaixo: raaaaagff EjxIrIEV ±−−= )( (4) onde Vf = tensão nos terminais p/fase Egf = tensão gerada p/fase Iara = queda de tensão na resistência efetiva do enrolamento de armadura p/fase Ia(jxa) = queda de tensão na reatância indutiva do enrolamento de armadura,. . devida ao fluxo disperso, p/fase 10 Era = efeito da reação da armadura A queda de tensão na reatância síncrona xs inclui a reação de armadura. raaasa Exjixji ±= (4.a) Logo: )( saaagff jxIrIEV −−= (4.b) A corrente If que circula no enrolamento indutor (normalmente o rotor), cria um fluxo φf no entreferro. Por seu lado a corrente ii que circula nas fases do induzido, cria um fluxo oposto φi. Uma parte desse fluxo corresponde ao fluxo de fugas φσi que está acoplado somente ao próprio enrolamento. A maior parte, no entanto, atravessa o entreferro, e é conhecido por fluxo de “reação do induzido”, φri e também está acoplado ao enrolamento de excitação. O fluxo no entreferro resultante é então:φri+φf Cada componente do fluxo induz uma componente da tensão no estator, respectivamente eri e e, sendo que, tal como os fluxos possuem sinais opostos, a tensão resultante pode ser representada pela soma dos fasores Eri (Era) e E. O primeiro estando relacionado com a corrente no induzido dá origem a um fluxo de indução λri = Niφri, e por isso pode ser representado por uma indutância Lri = λri / ii. Sendo Eri (Era) uma tensão induzida, pode ser representada como o simétrico da quedade tensão na reatância Xri = ωLri, ou: Eri = -jXri Ii O induzido pode assim ser representado por uma fonte de tensão E dependente apenas da velocidade, que em cada análise se considerará constante, pois só assim se garante a freqüência e o valor das reatâncias, e do fluxo criado pelo indutor; por uma resistência que representa a resistência do próprio enrolamento em funcionamento, a reatância de fugas do enrolamento Xσi e a reatância de reação do induzido Xri. Estas últimas representam-se normalmente associadas numa reatância síncrona Xs. A resistência Rs é a resistência efetiva do enrolamento e é cerca de 1,6 vezes a resistência DC medida aos seus terminais, devido ao efeito da temperatura e ao efeito pelicular. É, no entanto freqüentemente desprezada na análise, principalmente em máquinas grandes. Como só existe queda de tensão na impedância síncrona, sem circular corrente no estator, em circuito aberto, a tensão aos terminais iguala a tensão interna E. Para mais detalhes sobre o fenômeno da reação de armadura, sugere-se consulta ao livro Máquinas Elétricas e Transformadores de Irving L. Kosow (capítulo 5). 11 3. Circuito Equivalente do Alternador Se o circuito do induzido for fechado sobre uma carga, vai circular por ele uma corrente que será responsável pelas perdas por efeito Joule na resistência do próprio enrolamento, e também pela existência de fugas magnéticas em torno dos condutores. Estes efeitos, semelhantes aos que se verificavam para outros tipos de máquinas, levam-nos ao modelo de circuito equivalente. Este modelo é usado para analisar o funcionamento em regime permanente tanto em motor como em gerador. Como se trata de regime permanente, são desprezados os transitórios ocorridos tanto no circuito de excitação como no enrolamento amortecedor. Trata-se, como noutros casos, de um modelo fase-neutro. Portanto, o circuito equivalente do alternador pode ser representado pela figura abaixo: Rf Era Ia ra+ jxa CC Vf Fig. 2 – Circuito Equivalente do Alternador O circuito equivalente mostrado emprega excitação CC em separado para o enrolamento de campo rotativo do alternador; conseqüentemente, variações na tensão terminal, como resultado da carga, não afetam a excitação da fem devida ao campo. 4. Funcionamento do Alternador em vazio e em carga Um simples gerador síncrono, ao fornecer potência ativa a uma impedância de carga, atua como uma fonte de tensão com freqüência determinada pela velocidade da máquina primária. A corrente e o fator de potência são então determinados pela excitação, e pela impedância do gerador e da carga. 4.1 Alternador em vazio A tensão gerada na armadura do alternador é chamada de tensão de excitação e pode ser relacionada à corrente de campo por intermédio da curva de magnetização que representa o comportamento da tensão terminal da máquina com circuito aberto para uma série de valores de corrente de campo, com a velocidade mantida constante e igual à velocidade síncrona. Circuito de campo Circuito de armadura Egf 12 Pela análise da equação e do circuito equivalente do alternador, verifica-se que na condição de vazio (circuito aberto) a tensão terminal e a tensão gerada no alternador são idênticas, uma vez que não há corrente circulando pelo enrolamento de armadura (Ia=0) e, por conseguinte, são nulos os efeitos de reação da armadura e das quedas de tensão nesse enrolamento. 4.2 Alternador em carga Para a análise do funcionamento do alternador em carga deve-se considerar três situações distintas, com relação ao fator de potência da carga: cargas com fator de potência unitário, com fator de potência em atraso e com fator de potência em avanço. 4.2.1 Cargas com fator de potência unitário (resistivas) Para um fator de potência unitário, a corrente de fase da armadura Ia está em fase com a tensão de fase nos terminais, Vf, por definição. A queda de tensão na resistência efetiva da armadura, Iara, também está em fase com a corrente de armadura e a queda de tensão indutiva devida à reatância síncrona de armadura, Iaxs, encontra-se adiantada de 90º em relação à corrente que circula por ela (reatância indutiva pura). A um fator de potência unitário, a queda de tensão devida à reação de armadura, Era, que sempre estará em fase com a queda de tensão na reatância indutiva, também se adianta de 90º em relação à corrente de armadura. A equação básica do alternador para funcionamento em carga com fator de potência unitário pode ser reapresentada da seguinte forma: )()( raaaaafgf ExIjrIVE +++= (5.a) saaafgf xjIrIVE ++= )( (5.b) Egf Era Iazs Iaxs Iaxa . θ = 0º Vf Iara Fig. 3 - funcionamento do alternador com carga de fator de potência unitário A partir do diagrama da figura 3, pode-se ver que, a um fator de potência unitário, a tensão nos terminais do alternador, por fase, Vf, é sempre menor que a tensão gerada por fase, Egf, de um valor que corresponde a queda total na impedância Ia (ra + jxs), onde jIaxs é a queda de tensão na reatância síncrona em quadratura, ou seja a queda de tensão combinada devida à reatância da armadura e a reação de armadura. 13 4.2.2 Cargas com fator de potência em atraso (indutivas) Se a corrente de armadura, Ia, está atrasada em relação à tensão nos terminais do alternador por fase, Vf, de um ângulo θ, como resultado de uma carga externa indutiva ligada aos terminais do alternador, as tensões podem ser representadas pelo diagrama fasorial da figura a seguir: Egf Era Iara θ Vf Iaxa Iaxs Ia Fig.4 - funcionamento do alternador com carga de fator de potência em atraso )()cos( safaafgf xIθsenVjrIθVE +++= (6) Do diagrama fasorial da figura 4 e da equação (6) nota-se que, para uma carga com fator de potência em atraso a queda de tensão é ainda maior que no caso do fator de potencia unitário, para um mesmo valor de corrente de armadura. Ou seja, para uma carga indutiva necessita-se gerar uma tensão de maior valor para manter a mesma tensão terminal. 4.2.3 Cargas com fator de potência em avanço (capacitivas) Se a corrente de fase da armadura, Ia, está adiantada em relação à tensão nos terminais do alternador por fase, Vf, de um ângulo θ, como resultado de uma carga externa capacitiva ligada aos terminais do alternador, as tensões podem ser representadas pelo diagrama fasorial da figura a seguir: Iaxs Efg Era Iaxa Ia Iara Vf Fig.5 - funcionamento do alternador com carga de fator de potência em avanço )()cos( safaafgf xIθsenVjrIθVE −++= (7) Do diagrama fasorial da figura 5 e da equação (7), nota-se que, para a mesma tensão nominal dos terminais, por fase, se requer uma tensão gerada que é menor para um fator de potência em adianto do que para um fator de potência em atraso. θ 14 5. Regulação de Alternador Conforme foi apresentado no item anterior, o efeito da carga sobre a tensão gerada pelo alternador e, por conseguinte, sobre a regulação de tensão é evidente, de tal forma que: 1. Quanto mais baixo o fator de potência da carga em avanço, maior será o acréscimo da tensão terminal desde vazio (Egf) até plena carga (Vf); 2. Quanto mais baixo for o fator de potência da carga em atraso, maior será o decréscimo da tensão terminal desde vazio (Egf) até plena carga (Vf). Para cargas em avanço, o efeito da reação de armadura é magnetizante e tende a produzir uma tensão gerada adicional quando a carga é aplicada, resultando numa regulação negativa. Esta tensão gerada elevadaé mais que suficiente para compensar a queda de tensão interna resistiva na armadura. Para cargas em atraso, a reação da armadura é desmagnetizante e o seu efeito na redução da tensão gerada, além das quedas de tensão internas na resistência e reatância da armadura, resulta no rápido decréscimo na tensão dos terminais, ao aplicar a carga. O gráfico abaixo mostra o comportamento da regulação em função do fator de potência da carga 1 1- FP 0,75 indutivo 2 2- FP unitário 3- FP 0,75 capacitivo 3 4- FP 0,4 capacitivo 4 Fig. 6 – Regulação de tensão de um alternador para vários fatores de potência A regulação de tensão de um alternador é usualmente calculada por fase, embora possam ser utilizados os valores de linha: 100 )( )%( 0 x V VV mpercentageemregulaçãoR n n−= (8) T en sã o ge ra da p or fa se Corrente de armadura por fase Nota: A um fator de potência específico em avanço, a magnetização adicional, produzida pela reação de armadura, é suficiente para equilibrar as quedas internas, e a regulação de tensão é zero. 15 6. Paralelismo de Alternadores Os geradores síncronos são comumente ligados em paralelo e, de fato, as redes elétricas dos países industrializados compõem-se de centenas de alternadores funcionando interligados por centenas de quilômetros de linhas de transmissão fornecendo energia a cargas situadas a grande distância. Estes sistemas monstruosos, apesar de muito difíceis de gerir, possibilitam a continuidade do serviço elétrico, em face de falhas, necessidades de manutenção, e questões econômicas. Quando um gerador síncrono está ligado a uma rede de grande dimensão, contendo muitos geradores síncronos (diz-se uma rede infinita ou de inércia infinita), as tensões aos seus terminais e a freqüência das correntes geradas são fixadas pelo sistema. Na realidade, dado que as correntes que circulam na armadura possuem a freqüência da rede, estas vão criar um campo girante que roda à velocidade de sincronismo. Para que haja um binário estável, como é sabido, o rotor tem de girar à mesma velocidade. Como um gerador individual é uma pequena fração de um grande sistema, não poderá afetar significativamente a tensão ou a freqüência; dai o pressuposto, normalmente usado para análise, de representar o sistema como uma fonte de tensão e freqüência fixas denominada barramento infinito. A operação em paralelo de geradores síncronos apresenta diversas vantagens em relação a uma única unidade de potência maior, tais como: 1. Maior confiabilidade para o sistema; 2. Maior flexibilidade operativa do sistema 3. Maior economia para acompanhar evolução da carga 4. Maior racionalidade de custos de escala 6.1 Relações de Tensão e corrente para n alternadores operando em paralelo Quando se ligam em paralelo vários geradores, a mesma tensão VL é estabelecida no barramento comum para suprir a carga ZL. nngngggLLL ZIEZIEZIEZIEZIV −==−=−=−== ...333222111 (9) IL .. Z1 I1 Z2 I2 Z3 I3 VL ZL Barramentos . Eg1 Eg2 Eg3 IL Fig. 7 – Relações de corrente e tensão para vários alternadores operando em paralelo 16 onde Egi = tensão gerada pela fonte i VL = tensão terminal no barramento IL = corrente total I1, I2, I3 = correntes entregues pelos alternadores IL = I1 + I2 + I3 (soma fasorial) ZL = impedância equivalente da carga Z1, Z2, Z3 = impedâncias internas dos alternadores Da equação (9), observa-se que as fontes, cuja fem gerada Egf excede a tensão de barramento VL, entregam corrente ao barramento. Quando a fonte produz uma tensão Egf que seja exatamente igual à tensão do barramento, VL, diz-se que a fonte está flutuando na linha, i.e. não entrega nem solicita corrente ao barramento. Quando a fonte de fem produz uma tensão Egf que seja menor que a do barramento, esta irá solicitar corrente ao barramento, ou seja, às outras fontes em paralelo. Neste caso, a equação que relaciona as tensões e correntes do sistema é expressa como segue: ggLgfgggfL ZIVEouZIEV −=+= (10) onde Ig é a corrente e Zg é a impedância interna da fonte geradora. Quando a fem gerada pela máquina girante excede a tensão nos terminais do barramento, a operação da máquina é chamada de ação-geradora e esta funciona como gerador. Quando a fem gerada pela máquina girante é menor que a tensão aplicada à armadura, e a máquina recebe corrente do barramento, a operação da máquina é chamada de ação-motora e a máquina funciona como motor. Conseqüentemente, qualquer gerador (em paralelo com um barramento), cuja excitação seja reduzida de modo que a tensão gerada seja menor que a do barramento, passa a operar como motor; diz-se então que tal gerador está motorizado. Assim, temos que uma máquina síncrona trifásica pode funcionar em três estados diferentes: � como gerador síncrono - absorve energia mecânica da máquina primária e a fornece convertida, sob a forma de energia elétrica, ao circuito elétrico onde está inserida. � como motor síncrono - absorve energia elétrica do circuito elétrico onde está inserida e a fornece convertida, sob a forma de energia mecânica, ao sistema mecânico onde está inserida. � como compensador síncrono - limita-se a receber ou a fornecer energia reativa ao circuito elétrico onde está inserida, absorvendo apenas a energia ativa necessária para compensar as perdas. 17 6.1 Condições para paralelismo Se o seccionador que interliga um gerador a uma rede fosse fechado num qualquer momento arbitrário, a segurança de equipamentos e operadores poderia ser posta em causa. É necessário assegurar que a tensão instantânea entre os pólos do seccionador seja realmente nula, caso contrário, a reduzida impedância poderia levar à circulação de correntes muito elevadas. Para que a tensão aos terminais do seccionador seja nula é necessário que: 1. Os valores eficazes das tensões do gerador e da rede sejam exatamente iguais; 2. A seqüência de fases seja a mesma. Se tal não suceder, é necessário trocar duas das ligações ao gerador. 3. A freqüência seja praticamente igual, sendo normal usar uma freqüência ligeiramente superior na máquina que entra na rede. A razão para que a freqüência não seja exatamente igual, mas seja ligeiramente superior é de que muitos geradores reais possuem uma proteção para inversão de potência, i.e., para evitar que possam consumir em vez de fornecer potência num dado instante. Ao ligar o gerador numa situação de perfeita igualdade de freqüências este poderia passar por uma momentânea quebra de velocidade e logo de freqüência, e essa situação poderia ocorrer. Figura 8: Sistema prático para verificação do paralelismo (composto por três lâmpadas ligadas em paralelo com o seccionador) A verificação do paralelo faz-se usando um sistema de monitorização das condições acima descritas que no passado tipicamente era constituído por três lâmpadas colocadas em paralelo com o seccionador, i.e., ligadas entre 18 cada fase do gerador e da rede. As ligações podem ser feitas dos seguintes modos: 1. Entre fases homólogas - circuito OFF 2. Entre fases não homólogas - circuito ON 3. Uma lâmpada entre fases homólogas, e as outras duas entre fases não homólogas. No primeiro dos casos, quando as condições de sincronismo se derem, as três lâmpadas estarão apagadas. O problema poderá ser determinar quando é que as lâmpadas estão realmente apagadas, uma vez que uma pequena tensão pode levar a que praticamente não tenham brilho. No segundo caso, a verificação é ainda mais difícil, pois trata-se de determinar quando é que as três estão acesas em simultâneo, e quando é que isso corresponde aomáximo brilho. O terceiro circuito é o mais garantido uma vez que se trata de determinar o instante em que uma esteja apagada e as outras duas acesas, e isso só é possível no exato instante em que as condições de paralelismo se verificam. Em qualquer dos casos, se as lâmpadas acenderem uma de cada vez trata- se de uma inversão na seqüência de fases que tem de ser corrigida invertendo duas das ligações ao gerador ou à rede. O ajuste das condições de paralelismo é feito acertando a velocidade de rotação e a corrente de excitação. Atualmente, a monitorização é feita diretamente sobre as grandezas tensão e freqüência, usando voltímetros e freqüencímetros duplos, e à diferença de fase entre duas fases homólogas, usando um sincronoscópio (figura 9). Figura 9 - sincronoscópio 19 Nesse caso, quando as tensões e freqüências forem iguais e o ponteiro do sincronoscópio passar pela posição de zero horas, deve efetuar-se o paralelismo, e tal pode ser efetuado por um autômato. O ponteiro do sincronoscópio deve estar a rodar devagar no sentido horário indicando assim uma ligeira diferença entre as freqüências, tal como descrito acima. De notar que o sincronoscópio dá indicação apenas sobre uma fase não alertando para uma possível seqüência errada. Geradores independentes Um gerador síncrono pode ser usado isoladamente para alimentar cargas pequenas ou de emergência, através de motores a gasolina ou Diesel. Interessa, sobretudo, nestes casos, garantir a freqüência e a tensão aos terminais do gerador, uma vez que principalmente a tensão varia facilmente com a carga (ver circuito equivalente). Na realidade, a variação da tensão com a carga depende do fator de potência desta. Uma carga com fator de potência unitário teria uma ligeira queda de tensão, mas com fator de potência reduzido a tensão tende a cair significativamente em caso de carga indutiva, ou a subir no caso de carga capacitiva. A variação de tensão permite determinar a regulação percentual de tensão de um gerador que, na situação de carga nominal, é determinada por: Sendo que a tensão interna E corresponde à tensão aos terminais na situação de vazio. Figura 10 – Diagrama fasorial de um gerador com carga indutiva O controle da tensão para diversas situações de carga depende assim de um ajuste automático da corrente de excitação, através de um sistema de controle realimentado. 20 Características de potência e binário Uma máquina síncrona está normalmente ligada a um barramento de tensão fixa, e roda a uma velocidade constante. Existe então um limite para a potência que um gerador consegue entregar à rede, sem perda de sincronismo. Pelo circuito equivalente, vem que: A potência ativa varia senoidalmente com o ângulo δ, designado por ângulo de carga e atinge o seu máximo para δ=π/2 rad. A figura 11 é uma representação física do ângulo de carga. Os pólos rotóricos ficam defasados relativamente aos pólos estatóricos e esse defasamento depende da carga. Laboratorialmente pode verificar-se este efeito através de uma marca no veio e de uma luz estroboscópica, alimentada com a mesma freqüência do estator. Figura 11 – Representação física do ângulo de carga Relação Freqüência-potência e Tensão-Potência reativa 21 Todos os geradores são acionados por uma máquina primária qualquer que é a fonte de potência mecânica. Pode ser uma turbina hidráulica, uma turbina termodinâmica, um motor alternativo ou ainda uma turbina eólica. Independentemente da fonte original de potência, todas as máquinas primárias se comportam de forma semelhante, diminuindo ligeiramente a velocidade à medida que a potência que entregam aumenta. Esta quebra de velocidade é geralmente não linear, mas normalmente algum tipo de mecanismo regulador encarrega-se de torná-la linear. Assim sendo, a potência entregue, conseqüentemente, por um gerador possui a mesma relação linear com a freqüência, dada a relação que esta tem com a velocidade de rotação. Uma relação semelhante pode ser encontrada entre a tensão e a potência reativa Q. Tal como já foi dito, quando se acrescenta uma carga indutiva a um gerador, a tensão aos terminais deste diminui, e se por contrário acrescentarmos uma carga capacitiva, a tensão aumenta. Mais uma vez, a relação não é linear, mas os reguladores automáticos de tensão tornam-na linear. O que é importante reter aqui, é que numa situação de funcionamento isolado, as potências ativa e reativa geradas têm de igualar as potências pedidas pela carga, não sendo, portanto, controláveis pelo gerador. Os reguladores automáticos têm assim de controlar a freqüência e tensão necessárias para obter aqueles valores de potência. Numa situação de paralelo com a rede (barramento infinito) é o inverso que se passa, i.e., a freqüência e a tensão já não são controláveis diretamente, e são estas que determinam as potências ativa e reativa a entregar. Raciocinando sobre o diagrama fasorial do gerador em paralelo, verifica-se que se a freqüência e a tensão aos terminais são fixas, o aumento de potência ativa a fornecer, correspondente a um aumento da potência entregue pela máquina primária, reflete-se no ângulo de carga δ. Quanto à potência reativa, esta depende essencialmente do módulo de E, logo vai ser controlada pela excitação da máquina síncrona. A partir de uma situação de referência, a sobre-excitação ou aumento da corrente de excitação aumenta o fornecimento de energia reativa indutiva (partindo do pressuposto que o barramento infinito a absorve), e diminuindo a excitação, reduz-se esse fornecimento, podendo mesmo absorver energia reativa. A idéia pode ser mais bem entendida se considerarmos que, tendo o gerador síncrono a sua própria excitação, não necessita de consumir qualquer energia reativa externa como acontece no caso do gerador assíncrono. Um excesso de excitação tem assim que ser entregue à rede sob a forma de energia reativa, e um déficit de excitação leva à necessidade de consumir um pouco dessa energia. A capacidade de controlar a potência reativa a entregar é uma das características mais importantes das máquinas síncronas, e contribui 22 decisivamente para a sua escolha como gerador, dada a grande importância que o controle das trocas de energia reativa numa rede tem para uma companhia elétrica. 7. Motor Síncrono Os motores síncronos possuem como características essenciais: a garantia da velocidade, dada a freqüência de alimentação, e o controle sobre o fator de potência. A primeira resulta óbvia das considerações já feitas e torna-se importante em muitas situações práticas, tais como a alimentação de caldeiras de centrais termoelétricas, ou mesmo em drives de computadores. A segunda é explicada pela análise já feita da máquina enquanto gerador, e torna-se extremamente útil ao permitir usar este tipo de motores até para compensar a energia reativa consumida por outros motores numa mesma instalação. Aliás, as companhias elétricas possuem algumas máquinas desse tipo “penduradas” em alguns nós da rede, normalmente a funcionar em vazio para que toda a sua potência aparente esteja disponível para “fornecer” ou “consumir” energia reativa indutiva. Estas máquinas assumem a designação de compensadores síncronos. Os motores síncronos são habitualmente mais caros do que os de indução, principalmente na gama baixa, mas são principalmente competitivos quando se destinam a velocidades muito baixas (muitos pólos), e/ou para potências elevadas. Os de ímã permanente são praticamente tão robustos como os de indução, assim como os sem escovas. Por fim, note-se que, como um motor síncrono não tem binário, se não à velocidade de sincronismo, e deve ser arrancado por um processo auxiliar, como um motor de arranque que leve o conjunto motor+carga até à velocidade correta e depois seja desligado. Uma alternativa consiste no arranque assíncrono, possível quando o motor possui um enrolamentoamortecedor, e possa arrancar sem carga. Desse modo, não alimentando o enrolamento de excitação, obtém-se um modo de funcionamento assíncrono, que possibilita atingir uma velocidade muito próxima da de sincronismo quando em vazio, sendo então possível que ao alimentar o enrolamento de excitação o binário oscilante leve o motor à velocidade de sincronismo. Circuito equivalente O circuito equivalente do motor síncrono é idêntico ao já determinado para o gerador, invertendo o sentido da potência e obviamente da corrente. As equações resultam então em: 23 Figura 12 – Diagrama fasorial do motor síncrono Por análise do diagrama e das equações, podemos encontrar agora explicações para questões já referidas anteriormente. A equação de potência é análoga à do alternador, sendo que agora o ângulo de carga δ representa a carga mecânica, e pode ser visualizado dado o atraso que o eixo polar rotórico tem relativamente ao eixo polar estatórico. Laboratorialmente pode verificar-se que esse ângulo aumenta com a carga, e o seu máximo é novamente π/2. O binário decorre então da expressão da potência e vem: onde Ωs é a velocidade de sincronismo em rad/s, p é o número de pares de pólos, e f a freqüência. Pode então demonstrar-se que variações no binário de carga, dado que tanto Vt , f , como E são constantes, sendo as primeiras fixados pela rede, e E fixada pela excitação, só pode então refletir-se sob a forma de variações no ângulo δ. Já a variação da excitação para uma mesma carga vai proporcionar diferentes ângulos de fase entre a corrente e a tensão, demonstrando o efeito de controle sob o fator de potência já referido. O módulo da corrente Ii também é afetado por esta variação, sendo que o gráfico desta, face à corrente de excitação If mostra uma característica em forma de V. Na figura 13, A linha tracejada indica as situações de f.p. unitário. 24 Figura 13 - Corrente no induzido vs corrente de excitação para vários valores de carga. Arranque Tal como já foi afirmado, um motor síncrono não possui binário de arranque. Um de três métodos tem assim de ser usado para o levar à velocidade de sincronismo: 1. Reduzir a velocidade de sincronismo para valores suficientemente baixos para que o binário oscilante consiga arrancar o motor. Isto pode ser feito com um conversor de freqüência; 2. Através de um motor de arranque externo, e procedendo tal como se de um gerador se tratasse, com todas as cautelas necessárias ao paralelo. Após estar interligado, pode desligar o motor de arranque passando a máquina síncrona a consumir potência elétrica para manter a velocidade. 3. Usando o arranque assíncrono já explicado. Neste caso, não se deve alimentar o indutor até que a velocidade alcançada seja máxima, devendo para isso estar sem carga. Ao alimentar então o indutor, o binário oscilante criado provocará o salto para o sincronismo (atracar), podendo a partir dai acrescentar-se carga ao eixo. 25 8. Ensaios em Máquinas Síncronas 8.1 Determinação da reatância síncrona A reatância síncrona é um parâmetro importante a conhecer. Para determiná-la é necessário realizar dois ensaios, o ensaio em circuito aberto e o de curto circuito. 8.2 Ensaio de circuito aberto A máquina síncrona é levada à velocidade de sincronismo através de uma máquina primária, estando os terminais do estator em circuito aberto. Mede- se então a tensão aos terminais para diversos valores da corrente de excitação. A curva obtida é denominada característica de circuito aberto: OCC. Como os terminais do estator estão em aberto, não circula corrente e, portanto esta curva representa E em função de If . Note-se que, a partir de um dado valor de If, a curva mostra os efeitos da saturação magnética. A linha tangente à parte linear da OCC é chamada de linha do entreferro. A tensão interna E varia ao longo desta linha na ausência de saturação. A figura 13 representa curvas de circuito-aberto e curto- circuito e representação da reatância síncrona. Note-se que esta só é constante para valores reduzidos da corrente de excitação, em que se designa por reatância não saturada. IA representa Ii no texto. 8.3 Ensaio de curto-circuito Neste ensaio cada uma das fases do estator é curto-circuitada através de um amperímetro. A máquina é conduzida à velocidade de sincronismo pela máquina primária. Medem-se então as correntes no estator para diversos valores da corrente de excitação If e determina-se o valor médio das três fases, com o qual se representa a curva característica de curto-circuito (SCC). A curva SCC é uma linha reta. Isto se deve ao fato de em curto-circuito não se atingir a saturação, porque o fluxo magnético se mantém em valores reduzidos. A explicação para este fato vem de: 1. Como Rs << Xs, a corrente Ii está em atraso praticamente 90º. A fmm de reação opõe-se então à fmm do indutor e a resultante é muito pequena. O circuito magnético mantém-se assim não saturado mesmo para valores elevados de Ii e If . 2. Na ausência de saturação a tensão interna E vai variar linearmente ao longo da linha de entreferro e, portanto a corrente de induzido vai variar linearmente com a corrente de excitação. 26 Reatância síncrona não-saturada Pode ser obtida a partir da linha de entreferro (tensão) e da corrente de curto-circuito (SCC) para um valor particular da corrente de campo: Figura 14 - Curvas de circuito-aberto, curto-circuito e representação da reatância síncrona Reatância síncrona saturada Antes de ligar um gerador síncrono a um barramento infinito, ele opera a um dado nível de saturação. Ao estabelecer o paralelo, a sua tensão nos terminais do induzido é mantida constante no valor da do barramento. Se se variar agora a corrente de excitação, a tensão de excitação E vai variar agora ao longo de uma linha conhecida como linha de entreferro modificada, e que é a linha que une a origem ao ponto da característica correspondente ao valor original da corrente de excitação. A explicação para este fato vem de desprezarmos a queda de tensão aos terminais de Rs e Xσi. Então, como Vt é constante, E será constante, independentemente da corrente de excitação. Isto implica que o nível de saturação será mantido aproximadamente constante e, portanto, E vai variar proporcionalmente a If . A reatância síncrona saturada será determinada através da linha de entreferro modificada e da SCC, podendo desprezar-se a resistência Rs. 27 9. Rendimento da Máquina Síncrona O rendimento de uma máquina síncrona é fornecido pela relação: η = Pf/Pa ou η%= (Pf/Pa).100 Em que Pf é a potência fornecida pela máquina, enquanto que é a potência absorvida pela mesma. Para um alternador trifásico, a potência fornecida á rede é dada pela seguinte expressão: φIVPf cos...3= Onde V e I representam a tensão e a corrente em cada fase da armadura e cosϕ, o fator de potência da carga suprida. A potência absorvida por um alternador é igual à soma da potência fornecida e as potências perdidas. Ou seja: 2.3 IRWWWPP exfemfa ++++= Onde Wm, Wfe, Wex representam as perdas a vazio ou perdas constantes; sendo Wm perdas mecânicas proporcionais ao número de rotações; Wfe perdas no ferro, proporcionais à indução, e Wex perdas no circuito de excitação. As perdas por excitação devem ser consideradas somente no caso de excitação co-axial. Chamando de: Wo = Wm+Wfe+ Wex Então: Pa= Pf + Wo + 3.RI2 Onde 3.RI2 representa a perda por efeito Joule nas três fases do induzido, sendo R a resistência de por fase e I a corrente de fase. O rendimento resulta, portanto: 0 2.3cos...3 cos...3 WIRφIV φIV P P η a f ++ == O qual pode ser escrito também na forma: φIV W φV IR η cos...3cos. . 1 1 0++ = 28 Máquinas de Corrente Contínua 10. Geradores de CC O enrolamento de armadura de um gerador CC está localizado sobre o rotor, sendo a correnteretirada deste por meio de escovas de carvão. O enrolamento de campo situa-se sobre o estator. A máquina possui a construção geral esquematizada na figura 1. Figura 1 – Diagrama esquemático da máquina de CC Como no alternador, o enrolamento de campo de um gerador CC carrega uma corrente contínua estacionária e deve, portanto, ser ligado a uma fonte CC. Existem duas possibilidades gerais: o enrolamento de campo pode ser conectado a uma fonte CC eletricamente independente da máquina, resultando em um gerador com excitação separada, ou pode ser usada a tensão da armadura como uma fonte CC capaz de fornecer potência elétrica não só para a carga, mas também para o seu próprio campo, resultando em um gerador auto-excitado. No último caso, deve estar presente um magnetismo residual no ferro da máquina para ser possível o início do processo de auto-excitação. O diagrama simbólico de conexão de um gerador com excitação separada é dado na figura 2. A corrente de campo requerida é uma fração muito pequena da corrente de armadura – da ordem de 1 a 3% no gerador médio. Uma pequena quantidade de potência no circuito de campo de um gerador com excitação separada pode controlar uma 29 quantidade relativamente grande de potência no circuito da armadura. A maneira mais simples de se obter este controle é através de um reostato no circuito de campo. O reostato controla a corrente de campo e, portanto, a altura da onda de densidade de fluxo; obtém-se, desta forma, o controle da tensão gerada. Os geradores com excitação separada são comumente usados quando é importante o controle da tensão da armadura e da saída de potência. Figura 2 - Gerador CC com excitação separada Os enrolamentos de campo dos geradores auto-excitados podem ser alimentados de três formas diferentes. O campo pode ser conectado em série com a armadura resultando em um gerador em série. O campo pode ser conectado em derivação com a armadura, resultando em um gerador em derivação. Ou o campo pode ser constituído de duas seções, uma das quais é conectada em série e a outra em derivação com a armadura, resultando em um gerador composto. A corrente de campo de um gerador em série é a mesma corrente da carga, de modo que o fluxo do entreferro e, portanto, a tensão gerada variam diretamente com a carga. Em conseqüência, não é freqüente o uso de geradores em série. A tensão dos geradores em derivação cai um pouco com a carga, mas não de modo a torná-los impróprios para a maioria dos propósitos. Os geradores compostos são normalmente conectados de forma que a fmm do enrolamento em série ajude a do enrolamento em derivação. A vantagem é que, pela ação do enrolamento em série, o fluxo por pólo pode crescer com a carga, resultando em uma tensão de saída quase constante ou que possa até crescer um pouco com o aumento de carga. O enrolamento em derivação usualmente contém muitas espiras de fio relativamente fino. O enrolamento em série, enrolado externamente, contém poucas espiras de fio relativamente grosso porque deve conduzir a corrente da armadura da máquina. A tensão dos geradores em derivação e 30 compostos pode ser controlada, dentro de limites razoáveis, por meio de reostatos inseridos no circuito de campo em derivação. 10.1. Ação do comutador em Máquinas CC. Na figura 3 é representado um gerador CC de dois pólos muito elementar. O enrolamento da armadura, que consiste em uma única bobina de N espiras, é indicado pelos dois lados de bobina a e –a colocados em pontos diametralmente opostos no rotor com os condutores paralelos ao eixo da máquina. Figura 3 – Comutador em gerador CC elementar O rotor normalmente gira a uma velocidade constante acionado por uma fonte de energia mecânica a ele acoplada eixo a eixo. A distribuição do fluxo no entreferro normalmente se aproxima de uma onda achatada como a da figura 4. Apesar de o propósito final ser a geração de uma tensão contínua, a tensão gerada em uma bobina individual de armadura é de natureza alternada que, para uma velocidade constante da máquina, possui a mesma forma de onda no tempo que a distribuição de fluxo mostrada na figura 4, no espaço. A tensão deve ser, então, retificada; isto é, a tensão alternada deve ser convertida em uma tensão contínua. A retificação é, às vezes, realizada externamente, por meio de retificadores semicondutores. Em uma máquina CC convencional, a retificação é obtida mecanicamente por meio de um comutador, que é um cilindro formado de segmentos de cobre chamados lâminas, isolados entre si por mica e montados sobre o rotor, e isolados dele. Escovas de carvão estacionárias são mantidas pressionadas contra o comutador e conectam os enrolamentos aos terminais da armadura da máquina. 31 Figura 4- Distribuição de fluxo no entreferro de uma máquina CC A ação de chaveamento do comutador torna a tensão e a corrente unidirecionais no circuito externo, apesar de variarem em sentido nas bobinas. Do mesmo modo, com o auxílio dos interpolos, o eixo magnético da armadura permanece fixo, usualmente defasado de 90° do eixo do campo do estator. O efeito da reação da armadura sobre a comutação As escovas do comutador devem ser localizadas na região de neutro magnético para que haja a máxima tensão nos terminais da máquina. Quando a máquina assume carga, a armadura passa a conduzir corrente, cujo sentido depende da localização das escovas. A direção das correntes é a mesma das tensões induzidas. De qualquer forma, os condutores da armadura percorridos por correntes produzem seus próprios campos magnéticos, e o campo no entreferro é agora a resultante entre os campos nos enrolamentos de excitação e de armadura. Este campo resultante no entreferro tem a forma distorcida. A interação dos campos devidos aos enrolamentos de campo e de armadura é conhecida como reação da armadura. Como conseqüência da reação da armadura, o campo no entreferro é distorcido. Assim, um efeito indesejável da reação da armadura é que as escovas devem ser deslocadas constantemente, já que a carga é presumivelmente variável. O efeito da reação da armadura pode ser analisado em termos da magnetização transversal e da desmagnetização. O efeito da magnetização transversal pode ser neutralizado por meio dos enrolamentos de compensação que são alojados nas faces polares 32 e conectados em série com os enrolamentos de armadura, sendo percorridos por correntes que têm direção oposta às correntes nos condutores da armadura que estão na frente daquela face polar. Por estarem em série com os enrolamentos de armadura, a variação da carga fica efetivamente compensada. O efeito da desmagnetização pode ser compensado pelo aumento da fmm dos campos dos pólos principais. O efeito da tensão de reatância sobre a comutação Outro efeito a ser compensado é o da tensão de reatância que ocorre pelo fato de que a corrente da armadura, devida ao efeito indutivo desse enrolamento, não inverte completamente de sentido, durante o tempo em que a escova do comutador se move de um segmento para outro. A parcela de corrente não invertida, devido ao atraso introduzido pela reatância indutiva do induzido, irá produzir um centelhamento e o conseqüente desgaste do comutador. A tensão de reatância retarda a inversão de corrente, requerendo a compensação que é feita mediante a introdução de bobinados como pólos auxiliares ou pólos de comutação ou ainda interpolos. O interpolo é um pólo estreito na metade do caminho entre os pólos principais. Sua finalidade é produzir uma pequena quantidade de fluxo para ser cortada pelos condutores em comutação, de modo a ajudar a inversão da corrente sem faíscamento nas escovas. O enrolamento do interpolo também é ligado em série com a armadura para acompanhar as variações da carga. Para maiores detalhes sobre esse assunto, sugere-se a consulta ao capítulo 5 do livro Máquinas Elétricas e transformadores de Irving Kosow. 11. Motoresde CC A parte essencial dos motores elétricos, assim como dos geradores, inclui dois enrolamentos dispostos nas ranhuras dos núcleos de ferro do rotor e do estator, os quais devem ser enrolados com o mesmo número de pólos para produzir um conjugado motor. Quando é fornecida corrente contínua a ambos enrolamentos de rotor e estator; isto é, para armadura e campo, tem-se um motor de CC, cuja aparência básica é mostrada na figura 5 a seguir. 33 Figura 5 – Corte longitudinal de um motor de CC No motor CC as seguintes condições são estabelecidas: 1. O torque eletromagnético desenvolvido produz (mantém) a rotação da máquina; 2. A tensão gerada nos condutores (fcem) se opõe à corrente da armadura, podendo ser expressa pela equação E = Va - IaRa e é menor que a tensão aplicada que causa a circulação de corrente na armadura. Qualquer dos métodos de excitação usados para geradores pode também ser usado para motores. Portanto, os diagramas de conexão podem representar os motores com excitação separada, em série, em derivação e composta, desde que as palavras para a carga sejam substituídas por para a fonte. Em um motor, a corrente de armadura tem sentido oposto àquela de um gerador, e o conjugado eletromagnético está orientado para manter a rotação da armadura (rotor). A fem gerada na armadura é menor que a tensão imposta aos terminais do motor pela fonte de alimentação externa. Em ambos os casos, a diferença entre a fem gerada e a tensão terminal corresponde à queda de tensão resistiva na armadura. As vantagens do motor CC estão ligadas à variedade de características de comportamento oferecida pela possibilidade de excitação em série, em derivação e composta e no relativamente alto grau de adaptação ao controle, seja manual ou automático. Para mencionar somente um aspecto: enquanto a carga é adicionada ao eixo do motor, o motor em série opera com velocidades que decrescem rapidamente, o motor em derivação opera com velocidades quase constantes e o motor composto opera com qualquer grau de queda entre estes extremos, dependendo dos tamanhos relativos dos campos em série e em derivação. 34 • Equações Básicas Equação da fem Considere um condutor girando a n rpm, num campo de p pólos, tendo um fluxo φ por pólos. O fluxo total cortado pelo condutor em n revoluções é pφn; conseqüentemente, o corte de fluxo por segundo, dando a tensão induzida é: e = pφn (v) 60 Se há um total de z condutores na armadura, conectados em a caminhos paralelos, então o número efetivo de condutores em série é z/a, os quais produzem a tensão total E no enrolamento da armadura. Conseqüentemente, para o enrolamento inteiro, resulta a equação de tensão: E = pφn (z/a) = zp φωm (v) 60 2πa Onde ωm =2πn/60 (rad/s). Ou ainda: E = kaφωm Onde ka= zp/2πa (uma constante adimensional). Se o circuito magnético é linear (isto é, se não há saturação), então: φ=kfif Onde if é a corrente de campo e kf uma constante de proporcionalidade; Assim: E = kifωm Onde k = kakf, é uma constante. Para um circuito não linear, E versus If é uma curva não-linear para cada velocidade, denominada de característica em vazio, curva de magnetização ou curva de saturação do ferro para uma máquina CC como mostrado na figura 6 a seguir. Esta curva pode ser obtida experimentalmente girando-se a máquina na rotação desejada como um gerador em vazio e registrando-se os valores de tensão de armadura correspondentes aos valores de corrente de campo. 35 Figura 6 – curvas de magnetização do ferro para a máquina CC Equação do Conjugado A potência desenvolvida pela armadura é Teωm, onde Te é o conjugado eletromagnético e ωm é a velocidade angular da armadura. Se este conjugado for desenvolvido enquanto a corrente da armadura for ia,, para uma tensão (induzida) na armadura E, então a potência da armadura será Eia. Assim, ignorando as perdas na armadura: Teωm= Eia Te = kaφia A expressão acima é conhecida como equação do conjugado. Para um circuito linear, seria: Te = kifia Em que k é chamada de constante eletromecânica de conversão de energia. Equação da Velocidade A armadura de um motor de CC pode ser representada conforme a figura 7. Sob regime permanente tem-se: V – E = IaRa Que resulta: ωm = V - IaRa kaφ 36 Figura 7 – circuito de armadura da máquina CC • Perdas e Rendimento A conversão eletromecânica de energia é necessariamente acompanhada de uma certa quantidade de transformação irreversível de energia em calor no dispositivo de conversão (máquina). Essas perdas de energia surgem devido às resistências do circuito (perdas no cobre), devido à existência de campos magnéticos alternados ou flutuantes (perdas no ferro) e devido a fatores mecânicos (atrito e ventilação). Apesar dessas perdas não constituírem uma parte importante no processo de conversão de energia, são fatores importantes na aplicação prática das máquinas. O tratamento das perdas na máquina é importante por duas razões: as perdas determinam o rendimento e, portanto, influem apreciavelmente no custo operacional da máquina, e as perdas determinam o aquecimento da máquina e, assim, fixam a potência de saída nominal que pode ser obtida sem deterioração do isolamento por superaquecimento. A consideração das partes da máquina as quais tais perdas podem ocorrer pode ser descrita conforme a seguir: 1. As perdas I2R nos enrolamentos do rotor e estator, as resistências podem, por convenção, ser tomadas a uma temperatura de 750C. Em motores de CC em derivação (exceto quando a variação de velocidade é obtida por controle da corrente de campo em derivação), a perda no cobre do campo é constante porque tais motores são normalmente operados com corrente de campo constante. 2. As perdas no ferro consistem nas perdas por histerese e por correntes parasitas. Em máquinas CC estão essencialmente confinadas ao enrolamento de armadura no rotor, enquanto uma pequena perda no ferro estará presente no estator devido a pequenas flutuações de fluxo causadas pelas ranhuras. O ferro no elemento prejudicado é laminado para reduzir as perdas por correntes parasitas. Em todas as máquinas, exceto nos motores 37 em série, nos motores em derivação com velocidade variável e, em menor grau nos motores compostos, o fluxo do entreferro e, portanto, as perdas no ferro são constantes, independentes da carga. 3. As perdas por atrito e ventilação, que são constantes a menos que a velocidade varie de modo apreciável. A soma das perdas por atrito e ventilação com as perdas no ferro é chamada de perdas rotacionais. 4. As perdas suplementares designam as perdas adicionais por histerese e correntes parasitas que surgem de qualquer distorção na distribuição do fluxo causada por corrente de carga. Estas perdas são difíceis de medir e envolvem usualmente 1% da potência de saída da máquina. Ao analisar o circuito da armadura, observamos as seguintes relações: No dínamo ⇒ E = V + RaIa No motor ⇒ V = E + RaIa Onde E é a fem desenvolvida no induzido do dínamo ou a fcem no induzido do motor por um mecanismo análogo ao da fem, mas que tem a particularidade de ter sentido contrário ao do da corrente que atravessa o circuito; V é a tensão nos terminais da máquina; Ra é o valor da resistência no circuito do induzido e Ia é o valor da corrente que atravessa o circuito do induzido da máquina. Se multiplicarmos por Ia ambos os membros destas equações obteremos: No dínamo ⇒ EIa = VIa + RaIa2 No motor ⇒ VIa = E Ia+ RaIa2 As quais traduzem o princípio da conservação da energia e onde: VIa ⇒ a potência elétrica fornecida pelo gerador ou absorvida pelo motor RaIa 2 ⇒ a potência consumida em perdas Joule no circuito do induzido EIa ⇒ a potência transformada de mecânica em elétrica (no gerador) e vice-versa (no motor) A esta última componente desenvolvida naarmadura chamamos de potência de transformação e representamos por [Ptr]. Admitindo que a máquina gira a uma velocidade angular ω, essas potências de transformação, quando consideradas do ponto de vista 38 mecânico, estão associadas a um binário (conjugado) que será de natureza resistente (contrário ao movimento) se se tratar da produção de uma fem (gerador) ou de natureza motora se se tratar do desenvolvimento de uma fcem (motor). A tal binário dá-se o nome de conjugado eletromagnético e representa-se por Te. O rendimento da máquina, tal como qualquer dispositivo de transformação de energia, é dado pela expressão a seguir: Rendimento = Potência de saída . Potência de entrada Que também pode ser escrito: Rendimento = Potência de entrada – perdas Potência de entrada Rendimento = Potência de saída . Potência de saída + perdas O rendimento pode, portanto, ser determinado ou por testes de carga ou pela determinação das perdas. As várias perdas discutidas anteriormente podem ser classificadas como: 1. Elétricas: São as perdas no cobre dos vários enrolamentos, tais como o enrolamento de armadura e os diferentes enrolamentos de campo e perdas devido à resistência de contato da escova (com o comutador). [Pele] 2. Magnéticas: São as perdas no ferro e incluem as perdas por histerese e correntes de Foucault nos vários circuitos magnéticos, principalmente no núcleo da armadura e nas faces polares. [Pmag] 3. Mecânicas: Incluem as perdas por atrito nos mancais, atrito e ventilação nas escovas. [Pmec] 4. Suplementares: Estas são as outras perdas não consideradas acima e admite-se que correspondam a 1% da potência de saída (como regra prática). [Psup] A distribuição de potência num gerador e num motor de CC é representada na figura 8. 39 Gerador de CC Motor de CC Figura 8 – Fluxo de Potência em uma máquina de CC Onde: Ts é o conjugado no eixo e Te o conjugado eletromagnético; ωm é a velocidade angular da armadura no rotor V é a tensão terminal, Vf é a tensão do campo e, E a fem do gerador ou fcem do motor; Ia é a corrente de armadura e If a corrente do campo; • O campo indutor – Excitação A auto-excitação No caso particular dos dínamos, a própria máquina constitui uma fonte de corrente contínua e, daí, a idéia de retirar dela própria a energia necessária para a excitação, isto é, de se fazer uma auto-excitação. A dificuldade que se pode apresentar reside no desencadeamento do processo. Na verdade, pareceria que enquanto não houvesse excitação, não haveria força eletromotriz e, sem esta, não existiria uma fonte capaz de a provocar. Assim é, com efeito, na primeira vez que uma máquina é posta em funcionamento. Entrada Vf If + Tsωm Pmec Vf If + Teωm Psup EIa Pele VIa Saída Potência desenvolvida na armadura [Ptr ] Pmag Saída Tsωm Pmec Teωm Psup EIa Pele VIa+ Vf If Entrada Potência desenvolvida na armadura [Ptr] Pmag 40 Se, no entanto, a máquina for colocada pela primeira vez em funcionamento com excitação separada, o seu circuito magnético guardará uma certa remanência que será suficiente para provocar o aparecimento de uma força eletromotriz quando for posta em movimento, a qual provocará, por sua vez, o surgimento de uma pequena corrente de excitação e, se esta reforçar o campo magnético, o fenômeno progredirá e a máquina excitará. A esse processo dá-se o nome de Escorvamento. É, portanto, necessário que se verifiquem umas tantas condições que permitem o progresso do processo, condições essas chamadas de condições de excitabilidade da máquina. Efeito da saturação no escorvamento de um gerador em derivação auto-excitado A saturação desempenha um importante papel no comportamento das máquinas de CC. Para observar uma de suas conseqüências, considere o gerador auto-excitado sob regime permanente: V = RfIf e E = V + IaRa = RfIf + IaRa Estas equações são representadas pelas duas retas mais inclinadas da figura abaixo. Note que as tensões V e E mantêm o crescimento e nenhum ponto de equilíbrio pode ser conseguido. Por outro lado, se for incluído o efeito da saturação, como na outra figura ao lado, então o ponto P, onde a linha de resistência do campo intercepta a curva de saturação, define um estado de equilíbrio. Figura 9 – Características de tensão de um gerador em derivação auto excitado 41 A figura 9 mostra um magnetismo residual, como indicado pela pequena tensão V0. Também está indicada a resistência crítica que é correspondente àquela de valor limite, para a resistência de campo, acima do qual (para uma certa velocidade) não permitirá ao gerador a criação de uma tensão apreciável. Finalmente, nós verificamos que a polaridade do enrolamento de campo deve ser tal que uma corrente, passando por ele, produza um fluxo que adicione ao fluxo residual. Para resumir, as condições de excitabilidade para a criação de uma tensão no gerador auto-excitado são: a presença de um fluxo residual (para criar a tensão inicial), uma resistência do circuito de campo menor do que a resistência crítica e uma polaridade apropriada do enrolamento de campo. Para a alimentação do circuito indutor de uma máquina de corrente contínua necessita-se de uma fonte de corrente deste tipo que, em princípio, pode ser independente e construir, assim, o que se costuma designar por uma excitação separada a qual apareceu pela primeira vez na máquina de Wilde (1862). A figura 10.a ilustra essa configuração. Figura 10a – Esquema de excitação independente Dado que a própria máquina, se funcionar como gerador, é uma fonte de corrente contínua ou, se funcionar como motor, é alimentada por uma fonte desse tipo de corrente, torna-se desnecessário prover uma fonte exclusivamente para alimentar a excitação e, daí, a idéia de se fazer uma excitação ligada (E. W. von Siemens – 1864). Conforme a ligação se faz em paralelo, em série ou com dois circuitos, um em série e outro em paralelo, assim a excitação se diz do tipo derivação (shunt), do tipo série ou do tipo composta (compound). Podem ainda existir dois circuitos independentes de excitação, sendo um separado e outro ligado, obtendo-se assim uma excitação mixta. 42 Esses diferentes tipos de excitação conferem às máquinas comportamentos muito diferentes e característicos de cada um desses tipos. Daí o hábito de designar as máquinas pelo tipo de excitação para que estão preparadas: máquina em derivação, máquina em série, máquina composta ou máquina mista. A figura 10 (b-g) apresenta a representação das interconexões existentes entre os enrolamentos de campo e de armadura para os diferentes tipos de excitação. Figura 10b-g – tipos de interconexões 43 Máquina em derivação (shunt) Diz-se que uma máquina tem excitação derivada quando o circuito indutor encontra-se derivado nos terminais do induzido (armadura), como se mostra na figura 10b, e fica, portanto, sujeito à tensão existente entre estes, tensão que, em funcionamento, será a tensão nominal da máquina ou terá, pelo menos, um valor dessa ordem de grandeza. Para que a potência consumida na excitação seja pequena, o respectivo circuito deverá ter resistência apreciável e a corrente de excitação de pequena intensidade. Isto implica a necessidade de as respectivas bobinas possuírem um elevado número de espiras, ao mesmo tempo em que o condutor que as constitui apresenta uma seção bastante reduzida. Dado que estas bobinas abraçam circuitos magnéticos com ferro e têm elevado número de espiras, serão caracterizadas por um elevado coeficiente de auto-indução.Em série com o circuito indutor, costuma-se montar um reostato de excitação destinado ao ajuste da corrente de campo e, conseqüentemente, do valor do campo indutor, isto é, permitir ajustar a excitação da máquina. Máquina em série O enrolamento indutor está ligado em série com o induzido (armadura) e é, em princípio, percorrido pela corrente total que atravessa a armadura. Para que a potência de excitação se mantenha dentro de limites aceitáveis é necessário que agora a resistência do circuito indutor seja pequena, isto é, ele deverá ter uma seção relativamente grande e, como é percorrida por uma corrente elevada, bastar-lhe-á um pequeno número de espiras. A figura 10c mostra o respectivo esquema. Também neste caso é empregado um reostato de excitação ligado em paralelo com o circuito indutor, de forma a desviar deste uma maior ou menor fração da corrente que atravessa o induzido. Desse modo, o circuito indutor do tipo série é constituído por um pequeno número de espiras de grande seção, com uma pequena resistência e um pequeno coeficiente de auto-indução. O motor com excitação série que funciona tanto com corrente contínua como com corrente alternada é chamado motor universal. Este tipo de motor é utilizado em quase todos os aparelhos eletrodomésticos. 44 Máquina composta (compound) É uma máquina que apresenta uma combinação dos dois tipos anteriores, havendo, portanto um indutor derivado e outro série, cada um com as características próprias anteriormente descritas. Note-se que os efeitos magnéticos das correntes que percorrem os dois circuitos indutores podem somar-se ou subtrair-se de acordo com os sentidos das fmm desenvolvidas por cada um, originando as montagens aditiva ou cumulativa e diferencial. Adiante se verá qual o interesse de cada uma delas. Além disso, o circuito derivado pode se restringir aos terminais do induzido (derivação curta) ou abranger o conjunto induzido e indutor série (derivação longa). Numa mesma máquina há, por conseguinte, quatro possibilidades de montagem: curta derivação aditiva, curta derivação diferencial, longa derivação aditiva e longa derivação diferencial, tal como se mostra no conjunto de esquemas da figura 10 d-g. Em qualquer desses casos, o reostato de excitação é sempre ligado em série com o circuito indutor em derivação, por ser esta a forma mais simples de se obter o ajuste da excitação. Características de motores e geradores As características de carga de motores e geradores são de grande interesse para a utilização dessas máquinas. Em alguns casos, as características a vazio são também importantes. A características típicas de carga de geradores CC são mostradas na figura 11a, enquanto a figura 11b mostra as características de conjugado-velocidade de motores CC. Figura 11a-b – características de carga de geradores cc e conjugado-velocidade de motores cc 45 Para maiores detalhes sobre esse assunto, recomenda-se a consulta ao capítulo 4 do livro Máquinas Elétricas e Transformadores de Irving Lionel Kosov.
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