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UMA ANALISE DA RELACAO TEORIA E PRATICA NA ATUACAO PROFISSIONAL DAS ASSISTENTES SOCIAIS DO HOSPITAL DISTRITAL

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ 
FACULDADE CEARENSE - FAC 
CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
CRISTIANE FERNANDES DA SILVA BORGES 
 
 
 
SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA SAÚDE: 
UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA ATUAÇÃO 
PROFISSIONAL DAS ASSISTENTES SOCIAIS DO HOSPITAL DISTRITAL DRº 
EVANDRO AYRES DE MOURA 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA – CE 
2012 
CRISTIANE FERNANDES DA SILVA BORGES 
 
 
 
 
SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA SAÚDE: 
UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA ATUAÇÃO 
PROFISSIONAL DAS ASSISTENTES SOCIAIS DO HOSPITAL DISTRITAL DRº 
EVANDRO AYRES DE MOURA 
 
 
 
Monografia submetida à coordenação do 
Curso de Serviço Social da Faculdade 
Cearense – FAC, como requisito para 
obtenção do Título de Bacharel em Serviço 
Social. Sob a orientação da Professora Drª 
Maria Barbosa Dias. 
 
 
 
 
 
FORTALEZA – CE 
2012 
 
CRISTIANE FERNANDES DA SILVA BORGES 
 
SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA SAÚDE: 
UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA ATUAÇÃO 
PROFISSIONAL DAS ASSISTENTES SOCIAIS DO HOSPITAL DISTRITAL DRº 
EVANDRO AYRES DE MOURA 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Graduação em Serviço Social da Faculdade 
Cearense, como requisito parcial para a 
obtenção do grau de graduada em Serviço 
Social. 
Aprovada em: ________/______/_________ 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
_______________________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Maria Barbosa Dias (Orientadora) 
Faculdade Cearense – FAC 
 
_______________________________________________________________ 
Prof.ª Ms. Rúbia Cristina Martins Gonçalves 
Faculdade Cearense – FAC 
 
_______________________________________________________________ 
Prof.ª Ms. Valney Rocha Maciel 
Faculdade Cearense – FAC 
 
 
 
 
 
FORTALEZA – CE 
2012
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho acima de tudo a Deus, 
nosso Pai celeste: aos meus pais pelo amor 
constante; a minha irmã, todos os meus 
amigos e parentes que sempre me 
apoiaram; aos meus sogros que sempre 
torceram por mim. E ao meu grande e 
verdadeiro Amor, meu esposo Marcones 
Borges, pela dedicação, compreensão e 
paciência. 
AGRADECIMENTOS 
Primeiramente agradeço a Deus. Senhor, obrigada pela força espiritual 
para a realização desse trabalho. 
Aos meus pais Ana Cristina e Antônio Lúcio por me ensinarem desde 
cedo a enxergar além do que vejo, pelo cuidado especial que sempre tiveram 
comigo e pela ajuda financeira. A minha irmã Claudiane Fernandes pelo carinho e 
compreensão durante todo o curso. 
Ao meu esposo Marcones Borges, cúmplice e fiel aliado, por compreender 
meus momentos de tensão e mau humor e respeitar os meus surtos de inspiração. 
Aos meus sogros Maria da Penha e José Arimatéia pelo incentivo e pela ajuda 
financeira. 
A minha família que mesmo a distância sempre torceram por mim, em 
especial minha prima Luciana Alencar e minha Vozinha Tereza que compartilharam 
alguns momentos de aflições comigo durante essa jornada. 
Aos meus colegas de trabalho, inclusive o Mairton Santos pelo auxílio nas 
primeiras formatações desta pesquisa. Com destaque para minha amiga Andreia 
Braga, pelo incentivo de me fazer ingressar na faculdade e me ajudar na escolha do 
curso e aos meus amigos Danis Brito e Carlos Eduardo por estarem sempre me 
incentivando a estudar e colocar em prática minha capacidade intelectual. 
Aos amigos da faculdade de maneira geral, e a minha equipe que sempre 
foi a mesma desde o começo, Carla, Amanda, Regina, Natália, Kézia, Monique, 
Geanne e Leyla, que trilharam esse caminho junto comigo, sofremos, choramos e 
também tivemos muitas alegrias, com cada trabalho entregue, com cada prova 
realizada... A vocês, meninas, muito obrigada! 
 Aos muitos amigos de infância, adolescência, de festas, meus vizinhos, 
já que são impossíveis de serem aqui enumerados, agradeço por me ajudarem a 
apreender que tudo estar sempre em transformação e por me inspirarem nas 
conversas, vivências e histórias, mesmo que inconscientemente. 
Agradeço também, a toda equipe do Serviço Social do Frotinha de 
Antonio Bezerra, que durante minha fase de estágio e pesquisa para monografia me 
receberam de braços abertos, em especial a minha supervisora de campo Hildênia 
Damasceno, por seu conselhos e sua capacidade de saber ouvir. 
Não posso deixar de agradecer a todos os professores que dedicaram 
seu tempo e sua sabedoria para que minha formação fosse um aprendizado de vida, 
e que de alguma maneira contribuíram para meu aprimoramento intelectual. 
Destaco aqui a professora Eliane Carvalho por me ajudar na escolha do 
tema e escutar minha angustias, tristeza e alegrias no decorrer da elaboração desse 
trabalho, e a minha orientadora professora Drª Maria Esther pela sua dedicação e 
perspicácia no acompanhamento do meu trabalho. 
Ambas merecem meus agradecimentos pela paciência, compreensão e 
ajuda incondicional para a conclusão dessa etapa tão importante da minha vida. 
Ficam aqui registrados meus agradecimentos às professoras Rubia Gonçalves e 
Valney Rocha por se disporem a participar da minha banca examinadora, saibam 
que vocês são portadoras da minha eterna admiração e sincero orgulho. 
Agradeço a todo o corpo de funcionários da Faculdade Cearense, em 
especial a Coordenadora do curso Flaurbênia Girão, por nos dá subsídios durante 
toda essa jornada. 
Agradeço também a todos que não mencionei aqui, mas que passaram 
por meu caminho e me trouxeram algum aprendizado e contribuíram no meu 
crescimento pessoal, intelectual e profissional. Enfim, agradeço a todos por 
acreditarem no meu potencial, na minha profissão, nas minhas ideias, principalmente 
quando nem eu mais acreditava. 
Muito Obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O papel do trabalhador social que optou 
pela mudança não pode ser outro senão o 
de atuar e refletir com os indivíduos com 
quem trabalha para conscientizar-se junto 
com eles, isto implica a necessidade 
constante do trabalhador social de ampliar 
cada vez mais seus conhecimentos, não só 
do ponto de vista de seus métodos e 
técnicas de ação, mas também dos limites 
objetivos com os quais se enfrenta no seu 
quefazer”. 
 
 
(Paulo Freire)
 
RESUMO 
Este trabalho é uma proposta de análise da relação teoria e prática na atuação 
profissional das assistentes sociais do Frotinha de Antônio Bezerra. Nele buscou-se 
vislumbrar a política de saúde pública no Brasil através de um breve histórico, 
passando por momentos marcantes dessa política como a 8ª Conferência Nacional 
de Saúde (CNS) e o Sistema Único de Saúde (SUS), para através da abordagem 
qualitativa chegar à inserção do assistente social nessa política. Debateu-se também 
acerca da inserção do Serviço Social na saúde ao longo dos anos tendo como 
objetivo principal a relevância da articulação entre teoria e prática, em cada época, 
não podendo o Serviço Social restringir-se apenas ao acúmulo de informações, mas 
sim associar informação e prática, para assim obter respostas profissionais 
eficientes. Apresenta também as legislações que norteiam essas práticas e relaciona 
essas discussões com as categorias Trabalho, Cotidiano e Instrumentalidade. 
Fundamentado nos depoimentos das assistentes sociais entrevistadas, utilizando a 
técnica da convergência e divergência dos discursos, discute-se sobre os resultados 
da pesquisa, onde se buscou perceber a visão das entrevistadas a respeito das suas 
atividades cotidianas, da articulação dessas atividades com a teoria e qual a 
importância da formação continuada para essas profissionais. E por último, as 
considerações finais, mostrando as percepções e compreensões acerca dessa 
temática. 
Palavras-chave: Serviço Social. Saúde. Formação Continuada. Trabalho. Cotidiano 
e Instrumentalidade. 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This work is a proposal for analyzing the relationship between theory and practice in 
the performance of professional social workers Frotinha Antonio Bezerra. Init sought 
to glimpse the public health policy in Brazil through a brief history, passing moments 
of this policy as the 8th National Health Conference (CNS) and the Unified Health 
System (SUS), for through the qualitative approach reach insertion of this social 
policy. It is also discussed about the insertion of Social Work in Health over the years 
having as main objective the relevance of the relationship between theory and 
practice, in every age, the Social Service may not restrict only to the accumulation of 
information, but associate information and practice, to obtain responses so efficient 
professionals. It also presents the laws that govern these practices and relates these 
categories discussions with Labour, Everyday Life and Instrumentality. Based on the 
testimony of social workers interviewed, using the technique of convergence and 
divergence of discourses, we discuss the survey results, where we seek to realize 
the vision of the interviewees about their daily activities, such joint activities with the 
theory and what is the importance of continuing education for these professionals. 
And lastly, the final considerations, showing the perceptions and understandings 
concerning this subject. 
 
 
Keywords: Social Service. Health Continuing Education. Work. Everyday and 
Instrumentality. 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Quadro 1 - Conferências Nacionais de Saúde .......................................................... 24 
Quadro 2 - Competências e habilidades gerais e especificas das diretrizes 
curriculares ................................................................................................................ 41 
Figura 1 - Frente do Hospital HDEAM ....................................................................... 47 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. 
Art – Artigo 
CAPs – Caixas de Aposentadorias e Pensões 
CASH – Centro de Atenção à Saúde do Homem 
CE – Ceará 
CF – Constituição Federal 
CFESS – Conselho Federal de Serviço Social 
CNS – Conferência Nacional de Saúde 
CRESS – Conselho Regional de Serviço Social 
Dr – Doutor 
HDEAM – Hospital Distrital Drº Evandro Ayres de Moura 
IAPs – Instituto de Aposentadorias e Pensões 
IJF – Instituto DrºJosé Frota 
INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social 
INPS – Instituto Nacional de Previdência Social 
LOS – Lei Orgânica da Saúde 
NUHEP – Núcleo Hospital de Epidemiologia 
OMS – Organização Mundial da Saúde 
PNH – Política Nacional de Humanização 
SUS – Sistema Único de Saúde 
UTI – Unidade de Terapia Intensiva 
UTU – Unidade de Tratamento de Urgência 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12 
I - PANORAMA DA POLÍTICA DE SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL: UMA 
CONQUISTA A PASSOS LENTOS .......................................................................... 19 
1.1 Esboço histórico .................................................................................................. 19 
1.2 A VIII Conferência Nacional de Saúde (CNS): em meio a lutas e conquistas. .... 23 
1.3 O Sistema Único de Saúde (SUS): entre o real e o ideal. ................................... 26 
II - A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA SAÚDE: UM CAMINHO DE 
RECORDAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES. ............................................................. 33 
2.1 A relação teoria e prática do assistente social na saúde ao longo dos anos: uma 
História cheia de recordações, análises e transformações. ...................................... 33 
2.2 Legislações que norteiam o trabalho do assistente social na saúde ................... 39 
2.3 Relação com as Categorias Trabalho, Cotidiano e Instrumentalidade. ............... 43 
III. O SERVIÇO SOCIAL NO FROTINHA DE ANTÔNIO BEZERRA: CONHECENDO 
O CENÁRIO DA PESQUISA .................................................................................... 47 
3.1 O Frotinha de Antônio Bezerra ............................................................................ 47 
3.2 “Será que somos ‘apenas’ auxiliares administrativas?” O Cotidiano profissional 
das assistentes sociais do Frotinha de Antonio Bezerra. .......................................... 48 
3.2.1 Articulação teoria e prática ............................................................................... 51 
3.2.2 A importância da formação continuada ............................................................ 54 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 57 
APÊNDICES ............................................................................................................. 65 
Apêndice I – Roteiro para entrevista e questionário .................................................. 66 
Apêndice II – Perfil das Assistentes Sociais entrevistadas ....................................... 67 
ANEXOS ................................................................................................................... 68 
Anexo I - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................................... 69 
Anexo II – Ofício de solicitação de aprovação para pesquisa no hospital ................. 70 
 
 
12 
INTRODUÇÃO 
 
Primeiras Inquietações 
Tratamos nessa pesquisa sobre uma análise da relação teoria e prática 
na atuação do assistente social na saúde dentro do Hospital Distrital Drº Evandro 
Ayres de Moura. 
O envolvimento com essa questão deriva-se da prática de estágio 
supervisionado II e III, no referido hospital, conhecido popularmente como Frotinha 
de Antônio Bezerra, ocasião em que acompanhamos e compartilhamos com as 
assistentes sociais da instituição as inquietações a respeito da relação teoria e 
prática no que se refere às particularidades das ações do Serviço Social. 
Nessa perspectiva, entendemos que várias são as situações que causam 
inquietações, indignações e vários questionamentos, tanto para estudantes/ 
estagiários quanto para os próprios profissionais, assim, para a realização dessa 
pesquisa partimos da seguinte indagação: Como o assistente social pode aliar teoria 
e prática na sua atuação profissional dentro de um hospital de urgência e 
emergência como o Frotinha de Antônio Bezerra? 
A partir desse questionamento podemos citar outros pertinentes ao tema: 
O que é a política de saúde pública no Brasil? O que realmente faz um assistente 
social na saúde? Como realizar a articulação entre teoria e prática na cotidianidade 
hospitalar sem se tornar um profissional messiânico ou fatalista? Qual a importância 
da formação continuada para o assistente social da saúde e qual a importância do 
projeto ético-político e dos parâmetros para a atuação do profissional dessa área? 
Diante desse contexto, o arcabouço teórico presente desde a formação 
do assistente social tem que está sempre em sintonia com a sua atuação 
profissional, ou seja, haver sempre uma relação entre teoria e prática, para que o 
profissional não caia nas teias do senso comum, do conservadorismo e do 
tecnicismo que estão engendrados na profissão desde os primórdios. 
O assistente social deve ser detentor de um conhecimento teórico para 
que aliado com a prática se torne um profissional mais qualificado, criativo e 
13 
propositivo para assim poder viabilizar respostas qualificadas às necessidades 
apresentadas pelos usuários. 
Ao pesquisar sobre esse assunto observamos que o Serviço Social 
possui em sua trajetória histórica uma dificuldade de consolidar na prática a teoria e 
que muitos dos profissionais ainda atuam sob a ótica de dentro para dentro da 
profissão: 
É necessário romper com uma visão endógena, focalista. Uma visão ‘de 
dentro’ do serviço social prisioneira em seus muros internos. Alargar os 
horizontes, olhar para mais longe,para o movimento das classes sociais e 
do Estado em suas relações com a sociedade [...] é importante sair da 
redoma de vidro que aprisiona os assistentes sociais numa visão de dentro 
e para dentro do serviço social, como pré-condição para que se possa 
captar as novas mediações e requalificar o fazer profissional, identificando 
suas particularidades e descobrir alternativas de ação. (IAMAMOTO, 2010, 
p. 20). 
 
Todos esses questionamentos formam o combustível desse estudo, que 
tenta satisfazer alguns de nossos anseios pessoais, mas que busca acima de tudo, 
obter novos conhecimentos sobre o assunto, com a finalidade de discutir seus 
resultados tanto na esfera acadêmica quanto no mercado de trabalho, através da 
explicitação do tema em seminários, congressos, fóruns, reuniões, fazendo com que 
os efeitos desta pesquisa favoreçam, não apenas aos profissionais da área, mas 
também a estudantes, ao poder público, aos usuários, e outros, contribuindo assim 
para uma transformação nos serviços prestados pelo setor de Serviço Social do 
referido hospital. 
Contextualizando 
O presente trabalho teve como objetivo geral analisar a relação teoria e 
prática na atuação profissional das assistentes sociais no Frotinha de Antônio 
Bezerra, no sentido de conhecer como se dá esse processo. 
Como objetivos específicos, procuramos Identificar as legislações que 
embasam o trabalho do assistente social na saúde, traçar o perfil profissional das 
assistentes sociais, do referido hospital, apreender o significado da relação teoria e 
prática no fazer profissional delas e verificar qual a relevância da formação 
continuada para essas profissionais no que diz respeito à relação teoria e prática 
nas suas atividades cotidianas. 
14 
O tema é muito pertinente se levarmos em consideração a saúde não 
apenas como um processo curativo ou de doença, mas sim como uma necessidade 
para qualquer ser humano, e mais do que tudo como um direito social e universal, e 
é nessa concepção que entra um dos princípios que norteiam a profissão do 
assistente social instituída no código de ética profissional como a defesa 
intransigente dos direitos humanos. Para dar credibilidade a esta pesquisa foi 
necessário trabalharmos algumas categorias que nos deram subsídios para 
entrarmos em contato com nosso objeto de estudo. 
Portanto, mostramos os conceitos sobre Saúde a partir da Organização 
Mundial de Saúde (OMS), bem como o modelo de saúde pública existente no Brasil 
e sua relação com o Serviço Social, segundo as discussões da autora Maria Inês 
Sousa Bravo. Apresentamos também a categoria Trabalho através dos estudos de 
Marx e Lukács, relacionando essas teorias com a Instrumentalidade através do 
discurso de Yolanda Guerra, bem como trabalhamos a categoria Cotidiano tendo 
como base os estudos da autora Agnes Heller para assim compreendermos a 
relação teoria e prática no trabalho cotidiano de um assistente social na área da 
saúde. 
Começamos esse debate a partir do conceito de saúde expresso pela 
(OMS), que a define não apenas como a ausência de doença, mas como a situação 
de perfeito bem-estar físico, mental e social, porém levaram-se vários anos para se 
chegar a essa definição e para entendermos essa conjuntura faz-se mister 
contextualizar um pouco sobre os determinantes históricos desse processo, os quais 
abordaremos de forma mais abrangente no decorrer dessa pesquisa. 
De acordo com Bravo (200, p. 90) a saúde passou a ser percebida como 
“questão social”, no Brasil, a partir do século XX. Durante a década de 20 do mesmo 
século só quem trabalhava com carteira assinada tinha acesso a saúde. Na década 
de 30, o Estado passou a intervir, surgindo assim às primeiras políticas sociais 
voltadas para a saúde. As décadas de 30 a 45 foram marcadas pelo início da 
profissão de Serviço Social no Brasil. 
No pós Segunda Guerra Mundial, a saúde era fornecida por Institutos 
privados, de 1964 a 1979 o Estado passou a intervir mais veemente na saúde. Já na 
15 
década de 1980, houve um fato marcante para a discussão sobre saúde no Brasil, a 
8ª Conferência Nacional de Saúde, que propôs uma Reforma Sanitária e um 
Sistema Único de Saúde, essa conferência se concretizou no finalzinho da década 
de 1980 e começo da década de 1990 com a promulgação da Constituição Federal. 
Criava-se, assim, nosso modelo de saúde pública, o Sistema Único de Saúde (SUS). 
Durante a década de 1990 até os dias atuais foram e são caracterizadas 
por um governo neoliberal, onde percebemos uma grande decadência dos diretos 
sociais já conquistados pela sociedade civil, em que as políticas sociais se tornam 
cada vez mais focalizadas, bem como houve a retração por parte do Estado em 
garantir esses direitos à população. 
É nesse contexto que se insere o assistente social, percebido no começo 
como damas da caridade, e que ao longo do tempo foi evoluindo até chegar ao 
status de profissional. Atualmente o assistente social é o profissional formado em 
Serviço Social, é aquele que propõe, que cria, que sugere e que intervém na 
realidade. 
É nessa perspectiva que o assistente social por meio das suas 
competências e atribuições específicas e sem esquecer jamais de relacionar a teoria 
com a prática que passa a assumir a postura de trabalhar na defesa dos direitos 
civis, políticos e sociais da coletividade, para só assim poder viabilizar de forma 
universal os direitos conquistados pela sociedade civil através de muitas lutas. 
Metodologia 
Tivemos como campo de estudo da presente pesquisa o Hospital Distrital 
Drº Evandro Ayres de Moura – Frotinha de Antônio Bezerra, localizado no Bairro 
Antônio Bezerra, no município de Fortaleza/CE, como dito anteriormente, foi 
escolhido devido à prática de estágio desenvolvida no referido hospital. 
Por entender que a realidade não é transparente e se encontra em 
constante processo de movimento e transformação, optamos por fazer uma 
pesquisa norteada pela corrente marxista, utilizando o método dialético, pois, 
através dele, podemos pensar a realidade de forma dinâmica, ou seja, é o momento 
16 
em que o real é mostrado permitindo a superação de visões e análises parciais ou 
fragmentadas. 
Em busca de uma maior visibilidade e apreensão da realidade proposta 
como estudo, seguimos como trajetória metodológica a abordagem qualitativa, a 
partir da qual podemos trabalhar com um nível de realidade subjetiva que não pode 
ser quantificado. Conforme Minayo: 
A pesquisa qualitativa, trabalha com o universo de significados, motivações, 
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço 
mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não 
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis [...] não se 
preocupam em quantificar, mas, sim, em compreender e explicar a dinâmica 
das relações sociais que, por sua vez, são depositárias de crenças, valores, 
atitudes e hábitos. Trabalham com a vivência, com a experiência, com a 
cotidianidade e também com a compreensão das estruturas e instituições 
como resultados da ação humana objetivada. (MINAYO, 1994, p.21) 
Através da pesquisa qualitativa pudemos analisar a realidade que 
permeia o cotidiano profissional das assistentes sociais. Além de nos permitir um 
olhar mais abrangente sobre o tema. 
A coleta de dados foi realizada no período de julho de 2011 até novembro 
de 2012 nas dependências do Frotinha de Antonio Bezerra, e se deu através da 
aplicação de um breve questionário (cf. apêndice I) onde levantamos o perfil das 
entrevistadas (cf. apêndice II) e pesquisa de campo, a qual utilizamos 02 (duas) 
técnicas: a observação participante: 
A observação participante é momento que enfatiza as relações informais do 
pesquisador no campo. Essa informalidade aparente reveste-se porém de 
uma série de pressupostos, de cuidados teóricos e práticos que põem fazer 
avançar ou também prejudica o conhecimento da realidade proposta.” 
(MINAYO,2004, p. 106). 
Essa observação aconteceu enquanto estávamos na prática de estágio 
supervisionado no referido hospital durante 2 (dois) semestres, e todas as 
informações coletadas foram colocadas em um diário de campo que serviu também 
como base para essa pesquisa. 
17 
A segunda técnica utilizada foi à entrevista, onde elaboramos um roteiro 
(cf. apêndice I) que contemplou perguntas de forma tematizadas e semi-
estruturadas, que segundo Minayo (2004) esse tipo de entrevista combina perguntas 
fechadas (ou estruturadas) e abertas, onde o entrevistado tenha possibilidade de 
discorrer o tema proposto. Segundo Catunda: 
Essas técnicas possibilitam mais liberdade para os indivíduos se 
expressarem, permite a obtenção de dados de grande valor para a 
pesquisa, e deixam margem para o pesquisado expor seu lado emocional, 
assim como também, permite ao entrevistador uma maior flexibilidade, na 
medida em que pode se alterar a ordem das perguntas e se tem ampla 
liberdade para fazer intervenções, de acordo com andamento da entrevista. 
(CATUNDA, 2008, p. 17). 
Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas de forma integral, logo 
após realizamos a leitura cuidadosa de cada depoimento, procurando identificar os 
aspectos significativos sobre a temática de interesse. Levamos em consideração os 
discursos que convergem e divergem e fizemos uma comparação entre os 
pensamentos das profissionais sobre os temas propostos, e utilizamos alguns de 
seus depoimentos no decorrer da pesquisa. 
O universo da pesquisa é composto por um total de 11 (onze) assistentes 
sociais, das quais tiramos uma amostra de 05 (cinco), para a realização desse 
estudo, a priori iríamos entrevistar 07 (sete) porém algumas profissionais não se 
dispuseram em participar por motivos diversos. O parâmetro estabelecido para a 
escolha das entrevistadas foi que as mesmas tivessem há mais de 05 (cinco) anos 
prestando serviço para o hospital, pois assim deviam conhecer bem o campo de 
trabalho dentro da instituição. 
Todas as assistentes sociais que participaram da pesquisa foram 
convidadas a assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (cf. anexo I), 
impresso em duas vias, onde a primeira ficou com a entrevistada e a segunda com a 
entrevistadora. Nesse termo consta que seus nomes serão fictícios. Nesse estudo 
seus nomes foram substituídos por nomes de flores, para preservar-lhes a 
identidade e garantir seu anonimato. 
Durante o mês de agosto de 2012, através de ofício (cf. anexo II) 
encaminhado pela faculdade, o presente estudo foi submetido à direção do Hospital 
18 
Frotinha de Antonio Bezerra e assinado no mês de setembro de 2012, sendo 
aprovada a realização da pesquisa na instituição. 
Divisão dos Capítulos 
Diante o exposto, a monografia foi estruturada da seguinte forma: no 
primeiro capítulo abordamos o tema “Panorama da política de saúde pública no 
Brasil: uma conquista a passos lentos” onde traçamos um breve histórico da saúde 
brasileira, desde o início do século XX, passando pela VIII Conferência Nacional de 
Saúde, ressaltando aspectos da Constituição Federal de 1988 e fazendo um 
delineamento do Sistema Único de Saúde (SUS). 
No segundo capítulo trabalhamos “A inserção do Serviço Social na área 
da saúde: um caminho de recordações e transformações”, realizamos uma 
discussão a respeito da relação teoria e prática do assistente social na saúde ao 
longo dos anos, passamos pelos marcos legais que norteiam essa prática e fizemos 
uma relação do trabalho do assistente social na saúde com as categorias trabalho, 
cotidiano e instrumentalidade. 
O terceiro e ultimo capítulo, reservamos para os resultados coletados, sob 
o título “O Serviço Social no Frotinha de Antônio Bezerra: conhecendo o cenário da 
pesquisa” realizamos um breve histórico sobre a instituição, e apresentamos relatos 
das assistentes sociais acerca do seu cotidiano profissional na instituição, como elas 
conseguem aliar teoria e pratica nas suas ações e intervenções e apresentamos 
suas concepções sobre a importância da formação continuada. 
Nesta divisão, constam ainda, nossas considerações finais a respeito de 
todo o estudo elaborado e dos materiais coletados durante a pesquisa. 
A seguir veremos de forma mais detalhada todos esses capítulos, 
esperamos que esta leitura seja prazerosa e proveitosa, tanto para os profissionais 
quanto para estudante e estagiários. 
 
 
19 
I - PANORAMA DA POLÍTICA DE SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL: UMA 
CONQUISTA A PASSOS LENTOS 
 1.1 Esboço histórico 
Começaremos esse debate a partir do conceito atual de saúde expresso 
pela (OMS: 1949), que a define não apenas como a ausência de doença, mas como 
a situação de perfeito bem-estar físico, mental e social, entendemos que essa 
concepção veio para desbancar o que tínhamos como conceito de saúde 
antigamente: 
[...] No século XVIII a assistência médica era pautada na filantropia e na 
prática liberal. No século XIX, em decorrência das transformações 
econômicas e políticas, algumas iniciativas surgiram no campo da saúde 
pública, como a vigilância do exercício profissional e a realização de 
campanhas limitadas. Nos últimos anos do século, a questão saúde já 
aparece como reivindicação do movimento operário, no início do século XX, 
surge algumas iniciativas de organização do setor saúde, que serão 
aprofundadas a partir de 30. (BRAVO, 2000, p.89) 
 
Entende-se que existia apenas o modelo curativo bem como a ausência 
do poder público no setor saúde, porém para entendermos essa conjuntura faz-se 
mister compreender os determinantes históricos, político-sociais e econômicos da 
sociedade brasileira. 
De acordo com Bravo (2001, p. 90) a Saúde passou a ser percebida como 
“questão social” no Brasil a partir do século XX, devido à emergência do trabalho 
assalariado durante a economia cafeeira que se caracterizava como Capitalismo 
Agrário. Ainda neste mesmo século em meados da década de 20 foram criadas a 
Reforma Carlos Chagas na tentativa de ampliar o atendimento à saúde pública e as 
Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs), conhecidas também como Lei Elói 
Chaves que por sua vez eram financiadas pela União, empresas empregadoras e 
empregados, porém, esses benefícios eram proporcionais às contribuições. 
Com isso compreendemos que apenas as pessoas que trabalhavam com 
carteira assinada, tinham acesso ao atendimento a saúde, era um tipo de 
previdência que se preocupava mais com a acumulação de reservas financeiras do 
que com ampla prestação de serviços, e as pessoas que não tinham uma atividade 
laborativa comprovada, que no caso era a maioria da população, buscavam outras 
alternativas: 
20 
A grande maioria da população recorria ao auxílio de pessoas leigas ou 
buscavam a caridade das Santas Casas de Misericórdia. No caso de 
Fortaleza, a Santa Casa de Misericórdia e a Assistência Municipal, atual 
Instituto Drº José Frota, atendiam aos não segurados, popularmente 
conhecidos como indigentes. (CATUNDA, 2008, p.17). 
A autora explica que entre as décadas de 1930 e 1940, período 
conhecido também como Era Vargas, foi um momento decisivo para o Serviço Social 
no Brasil, haja vista ter acontecido a institucionalização do Serviço Social como 
profissão. Nesse período, o caráter populista e desenvolvimentista do governo 
getulista também teve papel determinante no processo de constituição dos direitos 
sociais. 
 Devido o processo de urbanização, industrialização e às reivindicações 
dos trabalhadores ocorridos nessa época, possibilitou a intervenção estatal e a 
criação de novos aparelhos que contemplassem quem não podia contribuir através 
do trabalho, surgiam assim às políticas sociais nacionais voltadas para a higiene, 
habitação e saúde. 
A política de saúde foi divida em dois campos de ação: o de saúde 
pública e o de medicina previdenciária, na qual a primeira tinha como objetivo criar 
condições sanitárias mínimas para a população e a segundasurgiu a partir da 
criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), como estratégia do 
poder público para antecipar as reivindicações, lutas e greves dos trabalhadores. 
Da metade da década de 1960 até meados de 80, vivíamos no Brasil um 
período de Ditadura Militar onde segundo o autor Silva, (2005, p.133) os problemas 
sociais foram aprofundados dramaticamente causando o declínio da saúde pública e 
o crescimento da previdenciária, principalmente depois da unificação dos IAPs em 
um único órgão o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). 
Essa junção gerou o modelo de privilegiamento do produtor privado, onde o 
Estado passou a interferir na previdência, desenvolvendo um padrão de 
organização da prática médica orientada para a lucratividade do setor 
saúde, propiciando a capitalização da medicina e privilegiando o produtor 
privado desses serviços. Bem como havia uma diferenciação do 
atendimento à clientela (OLIVEIRA e TEIXEIRA, 1986, p. 207) 
Ou seja, o INPS além de manter os serviços públicos ainda pagava 
preços altíssimos por serviços particulares com a finalidade de manter uma 
articulação do Estado com os interesses do capitalismo internacional. Porém, na 
década de 1970 de acordo com Catunda: 
21 
Esse sistema (INPS), com o tempo, foi se tornando cada vez mais 
complexo, tanto do ponto de vista administrativo-financeiro quanto 
estrutural, que acabou levando a criação de uma estrutura própria 
administrativa, o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência 
Social (INAMPS). (CATUNDA, 2008, p. 18) 
O INAMPS surgiu com a finalidade de uma maior efetividade no 
enfrentamento da questão social, isso se deu através de incentivos do Governo, 
onde foram construídos grandes hospitais e adquiridos sofisticados aparelhos e 
equipamentos de alto custo, ou seja, o Estado passou a ser o grande financiador e 
ficava a cargo das empresas privadas a responsabilidade pela prestação de 
assistência a saúde para os trabalhadores com carteira assinada, tudo isso para 
conter as pressões populares e as reivindicações. 
Durante as décadas de 1970 e 1980, houve uma crise no setor saúde, 
que se originou devido ao modelo de saúde vigente (modelo previdenciário), o qual 
não beneficiava a todos de forma integral, onde segundo Catunda (2008, p.18) “as 
ações de saúde pública como vacinação, campanhas, saneamento e controle de 
endemias eram ditas de forma universais, já a assistência era só para trabalhadores 
que possuíam carteira assinada”, causando assim, exclusão de uma grande parcela 
da população. 
Devido a essa crise geraram-se ainda mais desigualdades no 
atendimento em saúde à população, então alguns estudantes, pesquisadores, 
profissionais da saúde, instituições acadêmicas e sociedades científicas, se juntaram 
e passaram a questionar o Sistema de Proteção Social garantido pelo Estado, o qual 
beneficiava uma pequena parcela da população e reivindicar por uma reestruturação 
do sistema de serviços públicos de saúde no Brasil, que fosse de forma democrático 
e universal. 
Segundo Bravo (2001, p. 95) essa luta ficou conhecida como Movimento 
pela 1Reforma Sanitária ou Movimento Sanitário que se direcionou mediante três 
aspectos: a universalização da saúde; a ampliação de seu conceito e a reforma de 
seu sistema nacional. 
 
1
 A principal preocupação dessa reforma segundo Bravo, é assegurar que o Estado atue em 
função da sociedade, pautando-se na concepção de Estado democrático e de direito, responsável 
pelas políticas sociais e, por conseguinte, pela saúde. 
22 
Nessa perspectiva, ainda de acordo com a autora, “a saúde assumiu uma 
dimensão política, deixando de ser interesse apenas de técnicos, agora estava 
diretamente vinculada a democracia”, ou seja, com a participação da sociedade civil 
nas discussões sobre as condições de vida da população brasileira. As principais 
propostas debatidas por estes sujeitos foram: 
[...] a universalização do acesso a saúde; a concepção de saúde como 
direito social e dever do Estado; a reestruturação do setor através da 
estratégia do Sistema Unificado de Saúde, visando um profundo 
reordenamento setorial com um novo olhar sobre a saúde individual e 
coletiva; a descentralização do processo decisório para as esferas estadual 
e municipal, o financiamento efetivo e a democratização do poder local 
através de novos mecanismos de gestão – os Conselhos de Saúde. 
(BRAVO, 2001, p.96). 
Podemos dizer então que essas reivindicações serviram como 
pressupostos para várias instituições dedicarem seus estudos e pesquisas no 
campo da Saúde Pública, bem como subsidiaram a acontecer um fato marcante que 
acabou se tornando um marco histórico no que se refere à discussão sobre saúde 
no Brasil, a 8ª Conferência Nacional de Saúde, que ocorreu em maio de 1986 em 
Brasília e que ao final aprovou um relatório cujas bases constituíram o projeto de 
Reforma Sanitária e um Sistema Único, fatos que discutiremos mais a diante. 
Da década de 1990 até meados da primeira década dos anos 2000, 
percebemos uma grande decadência dos diretos sociais já conquistados pela 
sociedade civil através de muitas lutas, isso porque entramos no período da 
hegemonia do Sistema Neoliberal. 
Segundo Bravo (2001, p. 100) foi e é até os dias atuais o maior 
responsável pelas privações desses direitos à população, podemos citar como 
exemplo: a redução dos direitos sociais e trabalhistas, desemprego estrutural, 
precarização do trabalho, desmonte da previdência pública, sucateamento da saúde 
e educação. 
Seguindo ainda essa lógica do sistema neoliberal no Brasil, entendemos 
que houve uma retração por parte do Estado em garantir os direitos sociais 
conquistados pela população, o qual transfere suas responsabilidades para o setor 
privado e sociedade civil: 
23 
 O Estado deve deixar de ser o responsável direto pelo desenvolvimento 
econômico e social para se tornar o promotor e regulador, transferindo para 
o setor privado as atividades que antes eram suas. [...] A saúde fica 
vinculada ao mercado, enfatizando-se as parcerias com a sociedade civil, 
responsabilizando a mesma para assumir os custos. (BRAVO, 2001, p. 100 
apud BRESSER PEREIRA, 1995) 
Podemos perceber que através da “ausência” do Estado em garantir tais 
direitos, acabou gerando a refilantropização da questão social, bem como a 
mercantilização dos serviços sociais, trazendo graves conseqüências para a 
população como o sucateamento da maioria dos serviços de saúde, seguindo essa 
mesma perspectiva, Montaño cita o seguinte: 
A precária intervenção do Estado, a refilantropização da questão social e a 
remercantilização dos serviços sociais consolidam-se em três modalidades 
de serviços: O privado - mercantil de boa qualidade; o estatal - gratuito 
precário; e, o filantrópico - voluntário geralmente de qualidade duvidosa. A 
estas três modalidades de serviços correspondem respectivamente, três 
categorias de cidadãos: os integrados consumidores, os excluídos usuários 
e os excluídos assistidos. Sendo assim, as elites e a classe média passam 
a contar com serviços sociais privados de qualidade e os pobres com 
atendimento público de duvidosa qualidade. (MONTAÑO, 2003) 
Diante do breve histórico sobre a política de saúde pública no Brasil, 
entendemos que a mesma passou por um processo de evolução, influenciada pelas 
lutas, reivindicações e necessidades sociais da população. 
Nesse contexto vale destacar a contribuição teórica de Costa (2006, p. 
35) a qual afirma que a “trajetória de construção da política de saúde mostra que ao 
longo da história brasileira apresenta-se, de um lado, uma determinação econômica 
estrutural e de outro a concepção de saúde hegemônica vigente em dada época”. 
Nessa perspectiva, destacaremos a seguir acontecimentos e fatos de 
extrema relevância para a consolidação dessa política no Brasil, como a VIII 
Conferencia Nacional deSaúde e o Sistema Único de Saúde (SUS). 
1.2 A VIII Conferência Nacional de Saúde (CNS): em meio a lutas e conquistas. 
Começaremos a discutir essa temática, a partir do conceito de 
conferência no sentido mais amplo da palavra: “é uma reunião para tratar de 
assuntos que interessam aos que nela tomam parte” (Dicionário Aurélio). Já a que 
se refere à área da saúde especificamente, parte do seguinte preceito: “As 
Conferências são fóruns privilegiados que a sociedade civil possui para discutir e 
24 
apontar soluções para os problemas que envolvem a saúde da população brasileira”. 
(Portal da Saúde). 
 Partindo desse pressuposto, entendemos que as conferências de saúde 
são espaços de democratização, onde pessoas se reúnem para discutir, propor, e 
mudar determinadas situações, de acordo com Guirlanda (2003) “as conferências 
nacionais em saúde existem desde a década de 1940”. 
Porém, antes de acontecer às conferências nacionais ocorrem as 
estaduais e municipais, sempre se utilizando das mesmas temáticas para quando 
chegar na etapa nacional apresentarem ideias e serviços com a finalidade de 
discutirem e aprovarem propostas que contribuam com a política de saúde. Várias 
foram às conferências em saúde, atualmente estamos na 14ª conferência nacional, 
cada uma com um tema diferente, tais quais especificados a baixo: 
Quadro 1 - Conferências Nacionais de Saúde 
Nº de 
Conferências 
Ano Tema 
1ª CNS 1941 Situação sanitária e assistencial dos estados 
2ª CNS 1950 
Legislação referente à higiene e segurança do 
trabalho 
3ª CNS 1963 Descentralização na área de saúde 
4ª CNS 1967 Recursos humanos para as atividades em saúde 
5ª CNS 1975 
Constituição do Sistema Nacional de Saúde e a sua 
institucionalização 
6ª CNS 1977 
Controle das grandes endemias e interiorização dos 
serviços de saúde 
7ª CNS 1980 
Extensão das ações de saúde através dos serviços 
básicos 
8ª CNS 1986 
Saúde como direito; Reformulação do Sistema 
Nacional de Saúde e Financiamento Setorial 
9ª CNS 1992 Municipalização é o caminho 
10ª CNS 1996 Construção de modelo de atenção à saúde 
11ª CNS 2000 
Efetivando o SUS: acesso, qualidade e 
humanização na atenção à saúde com controle 
social 
12ª CNS 2003 
Saúde um direito de todos e um dever do Estado. A 
saúde que temos, o SUS que queremos 
13ª CNS 2008 Políticas de Estado e Desenvolvimento 
14ª CNS 2011 
Todos usam o SUS! SUS na Seguridade Social, 
Política Pública, patrimônio do povo brasileiro 
Fonte: Ministério da Saúde/ site Portal da Saúde – 2012 
 
25 
Dentre todas essas conferências, podemos citar como a mais importante 
a VIII Conferência Nacional de Saúde, pois foi quando a população participou 
democraticamente nas decisões voltadas para a política de saúde no Brasil, a VIII 
Conferência foi um encontro realizado entre os dias 17 a 21 de março do ano de 
1986, em Brasília, Distrito Federal e que contou com a participação efetiva do povo, 
essa conferência ficou conhecida também como “Pré-Constituinte da Saúde” 
(Guirlanda, 2003), haja vista ter servido de pressuposto para a criação do sistema 
único de saúde (SUS). 
Participaram dessa conferência, cerca de quatro mil e quinhentas 
pessoas, dentre as quais mil eram delegados, e o restante foi formado por entidades 
representativas da sociedade civil: moradores, sindicatos, partidos políticos, 
associações de profissionais de saúde e parlamentares, e foi “divida em três temas 
centrais: A saúde como direito inerente à personalidade e à cidadania; a 
reformulação do sistema nacional de saúde e o financiamento setorial”. (Relatório 
final da 8ª CNS, p.10 e 11). 
Esse evento foi um marco na história da saúde pública brasileira, pois 
além de ter um peso enorme no processo de construção do SUS, foi a primeira vez 
que houve a participação popular em conferências, eram pessoas impulsionadas 
pelo Movimento da Reforma Sanitária com objetivo de criar um sistema que se 
direcionasse para uma cobertura universal dos serviços de saúde independente de 
contribuição, nesse sentido destacamos a citação de Bravo: 
A 8ª CNS representou, inegavelmente, um marco, pois introduziu no cenário 
da discussão da saúde a sociedade. Os debates saíram dos seus fóruns 
específicos (Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, 
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, Medicina Preventiva, Saúde 
Pública) e assumiram outra dimensão com a participação da população [...] 
A questão da Saúde ultrapassou a análise setorial, referindo-se à sociedade 
como um todo, propondo-se não somente o SUS, mas a Reforma Sanitária. 
(BRAVO, 2001, p. 96) 
Os objetivos dessa conferência foram contemplados nos artigos 196 a 
200 da Constituição Federal, promulgada em 1988, nela afirmou-se a importância de 
promover a saúde como direito fundamental de cidadania, cabendo ao Estado à 
obrigação de garanti-la a todos os cidadãos. 
26 
Sob o preceito constitucional, “saúde direito de todos e dever do Estado”, 
defendeu-se a assistência médico-sanitária integral e de caráter universal, com 
acesso igualitário dos usuários aos serviços, sendo estes hierarquizados e a sua 
gestão descentralizada. Concretizava-se, assim, nosso modelo de saúde pública, o 
Sistema Único de Saúde (SUS), sobre o qual discutiremos mais adiante. 
Segundo Teixeira (1989), os principais aspectos aprovados na 
Constituição em relação á saúde foram: 
O direito universal à Saúde e o dever do Estado, acabando com 
discriminações existentes entre segurado/não segurado, rural/urbano; As 
ações e Serviços de Saúde passaram a ser considerados de relevância 
pública, cabendo ao poder público sua regulamentação, fiscalização e 
controle; Constituição do Sistema Único de Saúde integrando todos os 
serviços públicos em uma rede hierarquizada, regionalizada, 
descentralizada e de atendimento integral, com participação da 
comunidade; A participação do setor privado no sistema de saúde deverá 
ser complementar, preferencialmente com as entidades filantrópicas, sendo 
vedada a destinação de recursos públicos para subvenção às instituições 
com fins lucrativos. Os contratos com entidades privadas prestadoras de 
serviços far-se-ão mediante contrato de direito público, garantindo ao 
Estado o poder de intervir nas entidades que não estiverem seguindo os 
termos contratuais e proibição da comercialização de sangue e seus 
derivados. (Teixeira, 1989, p. 50 e 51) 
Diante o exposto percebemos que depois de muitas lutas algumas 
conquistas foram alcançadas no que diz respeito à saúde pública, primeiro o direito 
da população em ter vez e voz nas decisões, ou seja, participação democrática da 
sociedade civil, a promulgação da Constituição Federal que inaugurou um novo 
sistema de proteção social para a população, fazendo com que o Estado se tornasse 
o maior responsável pela garantia desses direitos, e a própria criação do SUS, 
veremos esta questão a partir do próximo item. 
 1.3 O Sistema Único de Saúde (SUS): entre o real e o ideal. 
Sabemos que o Sistema Único de Saúde (SUS) é fruto de muitas lutas e 
reivindicações sociais da população brasileira, e que começou a ser construído 
devido à participação dessas pessoas na VIII Conferência Nacional da Saúde, que 
tiveram vez e voz, para discutir sobre os serviços de saúde ainda na década de 
1980. Com o exposto, entendemos que o SUS é uma conquista do povo brasileiro, 
porém o SUS que temos não é o SUS que queremos, ou seja, o ideal está bem 
longe do real. 
27 
De acordo com a autora Piola (2001), o SUS é alicerçado pelos seguintes 
documentos: a Constituição Federal de 1988, que criou o SUS; a Lei 8.080 de 19 de 
setembro de 1990, conhecida como Lei Orgânica da Saúde que versa sobre sua 
forma de organização e de funcionamento e a Lei 8.142 de 28 de dezembro de 
1990, que dispõe sobre a participação popular e transferências de recurso. 
Não podemos deixar de salientar que o SUS foi criado para suprir as 
necessidades da população, ele é consolidado comoum direito da cidadania e 
apesar de estar dentro do contexto neoliberal, no qual há a retração do Estado em 
relação aos direitos sociais, cabe ao poder público à obrigação de garanti-lo. 
Segundo o Ministério da Saúde: 
O modelo de saúde adotado até então dividia os brasileiros em três 
categorias: os que podiam pagar por serviços de saúde privados; os que 
tinham direito à saúde pública por serem segurados pela previdência social 
(trabalhadores com carteira assinada); e os que não possuíam direito 
algum. Assim, o SUS foi criado para oferecer atendimento igualitário e 
cuidar e promover a saúde de toda a população. O Sistema constitui um 
projeto social único que se materializa por meio de ações de promoção, 
proteção e recuperação na assistência à saúde dos brasileiros. (SITE 
PORTAL DA SAÚDE/MS, 2012) 
Seguindo a mesma linha da citação acima, Paim (2009) define as ações 
de promoção, proteção e recuperação como: 
PROMOÇÃO da Saúde: tudo que estiver ligado ao bem-estar e a qualidade 
de vida do sujeito, como boas condições de vida, educação, atividade física, 
lazer, paz, alimentação, arte, cultura, diversão, entretenimento e ambiente 
saudável. PROTEÇÃO da Saúde: vacinação, combate a insetos 
transmissores de doenças, uso de cintos de segurança nos veículos, 
distribuição de camisinhas para a prevenção de doenças sexualmente 
transmissíveis, bem como o controle da qualidade da água, alimentos, 
medicamentos e tecnologias médicas. RECUPERAÇÃO da Saúde: requer 
diagnóstico precoce, tratamento oportuno e limitação do dano (doença ou 
agravo), evitando complicações ou sequelas. A atenção à saúde na 
comunidade e a assistência médica ambulatorial, hospitalar e domiciliar 
representa as principais medidas para a recuperação da saúde. (PAIM, 
2009, p. 44 e 45) 
 Conforme a cartilha SUS princípios e conquista, desenvolvida pelo 
Ministério da Saúde, o SUS é norteado por alguns princípios, quais sejam: 
28 
universalidade; integralidade; equidade; regionalização e hierarquização; 
participação e controle social e descentralização. 
De acordo com Paim (2009, p. 56 a 58), o princípio da equidade não 
consta em nenhum documento legal que constitui o SUS, segundo o mesmo o 
princípio utilizado é o da igualdade, então estes princípios podem ser definidos 
como: 
• Universalidade – o direito a saúde para todos, sem qualquer barreira de 
acessibilidade. 
• Integralidade – significa que todas as pessoas devem ter acesso a todas as 
ações e serviços exigidos para cada caso ou situação em todos os níveis de 
saúde. 
• Igualdade (princípio da equidade) – significa tratar todas as pessoas sem 
preconceitos ou privilégios de qualquer espécie ou tratar as pessoas 
conforme as suas necessidades 
• Regionalização e Hierarquização – significa a distribuição dos 
estabelecimentos de saúde em um dado território, onde os serviços sejam 
organizados em níveis de complexidade. O Acesso da população à rede deve 
se dar, preferencialmente através dos serviços de nível primário de atenção, 
se não for resolvido referenciar para um nível de maior complexidade. 
• Participação e Controle Social – é a participação da comunidade para 
democratizar os serviços e as decisões em relação à saúde, buscando 
assegurar o controle social sobre o SUS. 
• Descentralização – significa a diversidade regional onde as decisões do SUS 
seriam tomadas, não sendo apenas em um Brasília, e sim em cada município, 
estado e Distrito Federal. 
Com o exposto percebemos que através do SUS tivemos um grande 
avanço no que diz respeito aos modelos e concepções de saúde, pois até meados 
da década de 1970, a saúde era limitada apenas aos modelos médico curativista e 
previdenciário, onde o primeiro se preocupava apenas em curar a doença do 
29 
paciente e o segundo em atender o trabalhador que possuía carteira assinada, e o 
que não possuía esse requisito era tido como indigente. 
Com o SUS a saúde passou para um modelo de proteção social, 
percebida, primeiro como um direito, logo em seguida se estendendo para ações e 
serviços de saúde voltados para a prevenção de doenças, ao controle de riscos e a 
promoção da saúde. 
Neste ano (2012) comemoramos 24 anos da existência do SUS, que traz 
em sua bagagem grandes avanços, conforme (Catunda 2008, p. 29 apud Oliveira, 
2006, p. 234) “apesar dos golpes da política neoliberal, o SUS transformou-se numa 
das políticas públicas brasileiras de maior amplitude, porque em torno de 75% da 
população brasileira depende deste sistema para solucionar seus problemas de 
saúde”. 
Entendemos que o SUS é considerado como um direito social e embora 
sejam inegáveis seus avanços, temos que entender que o real está bem longe do 
ideal, não podemos deixar de reconhecer que esse sistema também padece de 
grandes problemas, que acabam causando insatisfação dos cidadãos, dos 
profissionais e demais trabalhadores inseridos nesse sistema. Vários são os maus 
tratos e desrespeito ao direito à saúde: 
Filas vergonhosas para a assistência médica desde a madrugada ou o dia 
anterior; descortesia nos guichês dos hospitais e unidades de saúde; 
desatenção de seguranças, recepcionistas, auxiliares e profissionais de 
saúde diante de pessoas fragilizadas; corredores superlotados de macas 
nos serviços de pronto- socorro; disputa por fichas para exames; longas 
esperas em bancos desconfortáveis; via crucis (grifo do autor) do paciente 
em ter diferentes unidades de saúde, médicos e especialistas, [...]. (PAIM 
2009, p. 89). 
Além de passarmos por todos esses e muitos outros constrangimentos, 
em busca de algo que é nosso por direito, ainda temos a questão da mercantilização 
dos serviços de saúde que acaba impossibilitando muitas vezes ao cidadão em ter 
seu direito garantido. As conseqüências para a população devido a esse processo 
de mercantilização não são poucas, conforme cita Paim: 
Pagamentos por consultas e exames em clínicas particulares [...] ‘por fora’ 
dos serviços do SUS; mercantilização da doença e do sofrimento por planos 
30 
(grifo do autor) de saúde e prestadores privados; discriminação dos 
usuários do SUS em clínicas e laboratórios contratados ou em hospitais 
universitários e filantrópicos por meio de ‘dupla entrada’ (a melhor para 
clientes particulares e usuários de planos de saúde (grifo do autor) e a mais 
estreita, escura e desconfortável para os usuários do SUS); e o 
confinamento ou internamento dos pacientes do SUS nas instalações de 
segunda categoria. [...] pesquisas indicam que os mais pobres esperam 
mais que o dobro do tempo para ser atendido do que os que dispõem de 
seguro saúde. (PAIM, 2009, p.88-89) 
Diante do exposto percebemos o quão ainda é fragilizado esse sistema, e 
o quanto está sujeito ao aprimoramento, para tentar amenizar ou transformar essa 
situação. No ano de 2003 o Ministério da Saúde instituiu a 2Política Nacional de 
Humanização (PNH) ou HumanizaSUS. De acordo com o Ministério da Saúde, essa 
política é norteada por alguns princípios: 
 
- Atenção e gestão no SUS, fortalecendo o compromisso com os direitos do cidadão, 
destacando-se o respeito às questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual e às 
populações específicas (índios, quilombolas, ribeirinhos, assentados, etc.); 
- Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional,fomentando a 
transversalidade e a grupalidade; 
- Apoio à construção de redes cooperativas, solidárias e comprometidas com a 
produção de saúde e com a produção de sujeitos; 
- Construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos implicados na 
rede do SUS; 
- Co-responsabilidade desses sujeitos nos processos de gestão e atenção; 
- Fortalecimento do controle social com caráter participativo em todas as instâncias 
gestoras do SUS; 
- Compromisso com a democratização das relações de trabalho e valorização dos 
profissionais de saúde, estimulando processos de educação permanente. 
 
Segundo Paim (2009) a partir desses princípios, a PNHprocura atingir 
quatro objetivos específicos: 
1.Reduzir as filas e o tempo de espera, ampliando o acesso, e um 
atendimento acolhedor e resolutivo, baseado em critérios de risco; 2. 
 
2
 Essa política pretende ter um caráter transversal, visando atingir a todos os níveis de atenção a 
saúde, garantindo além dos direitos dos usuários e profissionais, a melhoria de aspectos 
organizacionais do sistema e dos serviços. A PNH propõe transformações nas relações sociais, que 
envolvam trabalhadores e gestores e qualificação na atenção aos serviços prestados a população. 
(ver o site http://portal.saude.gov.br/portal/saude. Ministério da Saúde). 
31 
Informar a todos os usuários sobre quem são os profissionais que 
cuidam de sua saúde e quais são os serviços e saúde responsáveis por 
sua referência territorial (ou seja, quais os serviços que devem atender 
cada pessoa, preferencialmente no bairro em que reside); 3. Garantir 
aos usuários, através das unidades de saúde, informações gerais sobre 
saúde, entre elas os direitos do código dos usuários do SUS e 4. 
Garantir nas unidades de saúde, educação permanente aos 
trabalhadores e gestão participativa, incluindo trabalhadores e usuários. 
(PAIM, 2009, p. 91). 
 
Nessa perspectiva percebemos que todo esse discurso a respeito da 
humanização é muito novo para a sociedade brasileira, e que traz grandes desafios 
na sua implementação, haja vista vivermos em um contexto neoliberal, onde 
percebemos a realidade de forma complexa e contraditória, na qual uma grande 
parcela da sociedade passa a valorizar mais os aspectos econômicos em 
detrimentos das necessidades sociais da população em geral. 
 
Dessa forma, entendemos que o SUS mesmo diante de todos os desafios 
que tem para enfrentar é uma das conquistas mais importantes adquiridas pela 
sociedade brasileira ao longo do tempo. Conforme o relato de uma das assistentes 
sociais entrevistadas: 
O sistema único de saúde é o sistema mais perfeito do mundo, pois é 
universal, ele oferece coisas maravilhosas às vezes os usuários ficam 
indignados mais não é com o SUS é com a questão administrativa que não 
sabem gerenciar o SUS essa atual gestão do SUS na minha opinião esta 
precisando de aperfeiçoamento de formação, mas o SUS ele é uma política 
de saúde maravilhosa, por exemplo assim: transplantes de órgãos você não 
faz pelo plano de saúde, faz pelo SUS ou seja todos acabam sempre indo 
para o SUS, apesar de todos os desafios o SUS ainda é o melhor em 
atendimento publico e o melhor plano de saúde da população. (Girassol, 
2012) 
É nesse contexto, que compreendemos a relevância da inserção do 
assistente social na atual conjuntura da saúde, pois além de ser um dos campos que 
mais emprega este profissional, temos a questão das disparidades sociais causadas 
pelo sistema neoliberal, onde os assistentes sociais irão trabalhar norteados pelos 
princípios expostos no seu Código de Ética, dentre eles podemos citar “a defesa 
intransigente dos direitos humanos”, ou seja, ser um profissional capaz de lutar para 
viabilizar a saúde como direito de todos. 
Passaremos a discutir no próximo capítulo a respeito da inserção do 
Serviço Social na área da saúde, partindo do contexto histórico e práticas antigas 
32 
dos assistentes sociais, na sua relação no que diz respeito a teoria e a pratica 
profissional, passando pelas legislações que norteiam essas práticas, e finalizando 
com uma discussão a cerca do serviço social e as categorias trabalho, cotidiano 
profissional e instrumentalidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
II - A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA SAÚDE: UM CAMINHO DE 
RECORDAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES. 
2.1 A relação teoria e prática do assistente social na saúde ao longo dos anos: 
uma História cheia de recordações, análises e transformações. 
A partir de agora vamos refletir sobre um dos espaços sócio ocupacionais 
que mais emprega o assistente social, o campo da saúde, vamos percorrer esse 
caminho montando uma trajetória histórica do serviço social na saúde, levando em 
consideração a relação entre a teoria e a prática profissional, que por sua vez é 
cheia de recordações, análises e transformações, refletindo sobre as mudanças 
ocorridas desde a década de 1930 até a contemporaneidade. 
Segundo Bravo e Matos (2000, p. 196), as décadas de 1930 a 1945 foram 
marcadas pelo início da profissão de Serviço Social no Brasil. Durante todos esses 
anos, se manifestava um serviço social caridoso, tendo seu norte teórico inspirado 
na doutrina social da Igreja Católica e nas suas encíclicas, bem como numa forte 
influência europeia. Conforme Silva: 
[...] O objeto de estudo do serviço social na dec. 30, era o homem carente, e 
seus objetivos estavam mais direcionados para o atendimento da pobreza, 
através da assistência, prestação de serviços e orientação individual, sendo 
seus conhecimentos baseados no neotomismo, expressos pelo ensino das 
encíclicas e pela moral, pela filosofia e pela religião. Sendo sua prática 
operada basicamente pelas técnicas da entrevista e da visita domiciliar. A 
formação profissional, apresentava-se então um cunho doutrinário e 
religioso (SILVA, 1995, p. 10). 
 
Nessa época a área da saúde não era tão visada pelos assistentes 
sociais como um campo também social, pois suas práticas eram mais voltadas para 
a área trabalhista, - haja vista o país estar passando por um desenvolvimento 
capitalista industrial e expansão urbana, - e a maioria das suas práticas eram 
pautadas em atividades e obras de caráter social. 
No pós Segunda Guerra Mundial, o papel do assistente social na saúde 
era o de trabalhar através de práticas educativas com os operários, educando-os a 
terem hábitos de higiene e saúde, incentivando o controle de natalidade, de doenças 
infantis, de higiene bucal, “ajustando-os” na sociedade, colaborando para que os 
mesmos se “enquadrassem” ao meio. 
34 
Isso sofrendo influencias americanas e tendo como base teórica as 
teorias positivistas e funcionalistas de Augusto Comte, na qual dizia que o indivíduo 
tinha que se adequar ao ambiente que vive para que dessa forma colaborasse com 
o equilíbrio e a harmonia social, podendo viver em meio ao coletivo, ou seja, em 
sociedade. 
O período de 1964 a 1979 foi marcado pela reatualização do serviço 
social, no sentido de modernizar as práticas da profissão e também pelas novas 
propostas de saúde, haja vista na dec. de 70 ter acontecido o movimento pela 
reforma sanitária que reivindicava um sistema de saúde universal e igualitário, com 
um caráter mais preventivo ao invés de ser apenas curativo. 
 
Esse processo de revisão da profissão é uma exigência da realidade, uma 
vez que, para atender as demandas, torna-se indispensável a adoção de 
padrões e técnicas modernas que se contraponham àquilo que poderia 
oferecer o chamado ‘Serviço Social tradicional’. Essa modernização se 
caracterizará pela preocupação com o aperfeiçoamento do instrumental 
técnico, de metodologias de ação, da busca de padrões de eficiência, 
sofisticação dos modelos de análise e diagnóstico.(CARVALHO e 
IAMAMOTO, 2003, p. 364-365) 
 
 
Nesse sentido, segundo Bravo e Matos, (2006, p.199) o Estado passou a 
intervir mais veemente na saúde com a finalidade de suavizar as reivindicações e 
pressões populares causadas pela ditadura militar e posteriormente pelo movimento 
da reforma sanitária, com isso, os assistentes sociais da saúde tiveram como foco 
de atuação os hospitais e ambulatórios. 
 
Atuavam como um profissional mediador entre a instituição e a 
população, suas práticas eram de formas curativas, burocratizadas, além da 
psicologização das relações sociais e concessão de benefícios, utilizavam-se de 
ações como: plantão, triagem ou seleção, encaminhamento e orientação 
previdenciária, foi também nessa época que aconteceu uma tentativa de 
aproximação do serviço social com as teoriasmarxistas. 
Foi também nesse período que surgiu nos hospitais o famoso “livro preto”, 
segundo Sodré (2010, p. 456), “é um livro de ata, com capa preta, em que o 
assistente social relata o atendimento que chega até ele como registro de sua 
demanda, uma forma padronizada de dizer: resolva no próximo plantão”. Podemos 
35 
perceber que essa prática ainda estava voltada para a dimensão microssocial, pois 
só fazer anotações não destacava a complexidade das manifestações da questão 
social, trazida ao campo da saúde. 
De acordo com Sodré esse livro não era relevante para a prática do 
assistente social na saúde, haja vista seus registros serem superficiais e pontuais, 
onde as demandas eram tratadas de formas isoladas, o que acabava 
subalternizando o profissional, pois os mesmos não conseguiam se aproximar da 
teoria. Atualmente a assistente social entrevistada compreende este instrumental de 
outra forma: 
O livro preto é um instrumental privativo do assistente social é onde a gente 
anota as pendências sobre os pacientes apesar de ser um instrumental 
muito burocrático ele é necessário até para informações passadas, muitas 
vezes pode ate ser um documento legal quando há um caso grave, uma 
violência, uma violação de direitos, então isso serve como uma prova 
documental, ele é muito importante sim. (GIRASSSOL, 2012) 
. 
Diante o exposto percebemos que aconteceram algumas modificações no 
serviço social na área da saúde durante as décadas de 30 a 70. Primeiro as 
assistentes sociais tinham um norte teórico baseado na doutrina da igreja católica, 
com práticas de caráter social, em seguida uma prática voltada para uma priorização 
das ações curativas em detrimento das preventivas que visava o usuário de forma 
individual e não como um ser que faz parte de um coletivo, e por ultimo o começo de 
uma grande mudança na profissão, sua a aproximação com as teorias marxistas. 
Até aqui, tivemos recordações e algumas modificações. Agora vamos passar para a 
fase da transformação da profissão e do profissional. 
A década de 1980 foi de extrema relevância para o serviço social, pois, foi 
nessa época que a profissão caminhou para uma tentativa de ruptura com seu 
conservadorismo, através do movimento de reconceituação e na área da saúde 
ganhou um enfoque mais crítico, baseado numa linha marxista, a qual é responsável 
pela contribuição decisiva no processo de ruptura teórica e prática tradicional. 
O processo acima permitiu, que os profissionais rompessem com o 
caráter meramente executor e conquistassem novas competências e atribuições, 
como elaboração, avaliação, coordenação e execução das políticas sociais, dando 
ao Serviço Social um viés científico. Para Martinelli (1997, p. 148), foi neste 
36 
momento que o Serviço Social extrapolou os limites institucionais, impondo-se como 
produtor de conhecimento e da realização da pesquisa como auxílio para entender 
as novas exigências que são impostas para sua intervenção. 
 
Bravo (2004, p. 34) enfatiza ainda que no balanço geral do Serviço Social 
na área da saúde dos anos 80, mesmo com todas as lacunas no fazer profissional, 
observou-se uma mudança de posição com adoção de uma postura um pouco mais 
crítica dos profissionais com relação às atividades desenvolvidas nas unidades de 
saúde e tal reflexo puderam ser percebidos nos trabalhos apresentados em 
Congressos da categoria e nos Congressos Brasileiros de Saúde Coletiva de 1985 e 
1989. 
 
Do finalzinho dos anos 80, passando pela década de 90 até a primeira 
década dos anos 2.000, foram períodos de grandes transformações para o Serviço 
Social, tanto do ponto de vista da abertura de um amplo mercado de trabalho na 
área da saúde, quanto aos desafios e novas exigências impostos ao profissional, 
haja vista dentre esses períodos haver sido promulgada a Constituição Federal de 
1988, a concretização do SUS, a criação do Código de Ética do Assistente Social, e 
especificamente para a área da saúde, o documento chamado Parâmetros para a 
Atuação de Assistentes Sociais na Saúde, documentos estes que veremos mais 
adiante. 
A objetivação do trabalho do assistente social, na área da saúde pública, é 
composta por uma grande diversidade e volume de tarefas que evidenciam 
a capacidade desse profissional para lidar com uma gama heterogênea de 
demandas, derivadas da natureza e do modo de organização do trabalho 
em saúde, bem como das contradições internas e externas ao sistema de 
saúde. (COSTA, 2012, p. 38). 
A década de 90 e os anos 2000 foram caracterizados por um governo 
neoliberal o qual se confronta com a profissão e seu projeto ético político. A 
afirmação da hegemonia neoliberal no Brasil, tem sido responsável pela redução dos 
direitos sociais e trabalhistas, desemprego estrutural, precarização do trabalho, 
desmonte da previdência pública, sucateamento da saúde e educação, tornando as 
políticas cada vez mais seletivas e focalizadas, fazendo com que o assistente social 
tenha dificuldades em propiciar esses direitos aos usuários. 
37 
Esse cenário fez com que o Serviço Social assumisse algumas posturas 
diferenciadas dentro do cotidiano das unidades de saúde. Apesar das inúmeras 
publicações e discussões promovidas dentro dos espaços acadêmicos, a 
interlocução com o espaço prático de atuação profissional demonstrava pouca 
aproximação. 
O que favoreceu para que o desenvolvimento das atividades e ações 
profissionais, em muitas unidades de saúde, assumisse um caráter empírico, 
promovendo certa desqualificação da ação profissional e em muitos casos a 
dificuldade de identificação do papel profissional a ser desenvolvido pelo assistente 
social no espaço multidisciplinar da saúde. Conforme discurso da assistente social 
entrevistada: 
Aqui no frotinha a gente nota que não tem uma prática assim geral, onde 
todo mundo é norteado por algum projeto, é tipo assim, no caso desse aqui, 
como é que o serviço social atua? Você não sabe responder por que uma 
atua de um jeito outra atua de outro, e por aí vai cada uma tem seu jeito de 
se trabalhar e isso nunca vai ser uniforme mas eu acho que se por acaso 
houvesse reuniões que a gente sentasse e conversasse talvez ficasse uma 
coisa mais a cara do setor, tipo assim a postura do setor é essa, não é a 
opinião de uma ou outra assistente social não, é essa e pronto. (TULIPA, 
2012) 
Segundo o site Maxwell, o desafio atual para o Serviço Social passa pela 
construção de uma proposta crítica e criativa de trabalho que consiga conciliar o 
papel profissional dentro de uma equipe multidisciplinar, a conquista e ampliação do 
espaço profissional dentro das unidades de saúde sem perder de foco a busca 
constante pela consolidação da saúde como direito social de todo cidadão, tendo 
como norte o projeto ético político profissional e a base democrática de acesso 
universal igualitário, com equidade e justiça social proposto pela Reforma Sanitária. 
 
De acordo com Nozawa (2010, p. 8) a grande luta é para que o serviço 
social na saúde assuma seu papel, com direção no projeto ético político e que os 
assistentes sociais não sejam meros sanitaristas ou serviço social clínico, tendo 
claro seu objetivo profissional que é o da defesa intransigente de direitos. 
 
Nesta perspectiva o contemporâneo mercado de trabalho exige um novo 
perfil profissional ou uma nova roupagem, ou seja, o assistente social tem que está 
sempre em busca de qualificação para se adequar a essas novas exigências. 
38 
Daí a importância do processo de qualificação continuada para o 
assistente social manter-se nesse mercado, para que atue com mais eficiência nas 
suas atividades cotidianas, para que se torne um profissional qualificado e estar 
sempre preparado para questionar as demandas institucionais, acompanhar as 
mudanças e transformações da realidade social, promover mudanças no cotidiano 
dos usuários, e na sua própria prática profissional. Conforme Sousa: 
Assim, o processo de qualificaçãocontinuada é fundamental para a 
sobrevivência no mercado de trabalho. Estudar, pesquisar, debater temas, 
reler livros e textos não podem ser atividades desenvolvidas apenas no 
período da graduação ou nos “muros” da universidade e suas salas de aula. 
Se no cotidiano da prática profissional o Assistente Social não se atualiza, 
não questiona as demandas institucionais, não acompanha o movimento e 
as mudanças da realidade social, estará certamente fadado ao fracasso e a 
uma reprodução mecânica de atividades, tornando-se um burocrata, e, sem 
dúvidas, não promovendo mudanças significativas seja no cotidiano da 
população usuária ou na própria inserção do Serviço Social no mercado de 
trabalho. (SOUSA, 2008, p. 122). 
Neste sentido os assistentes sociais da área da saúde vêm assumindo 
novas práticas, como participar do processo de gestão da saúde, atuar nos 
conselhos de saúde, na formulação, planejamento, monitoramento e avaliação da 
política, bem como são requisitados a trabalharem na realização de atividades em 
que os profissionais, assessoram, organizam e realizam cursos, seminários, 
debates, treinamentos, palestras, oficinas de trabalho, reuniões, dentre outras. 
Dessa forma rompendo com as funções antigas que se dava de maneira 
rotineira e burocratizada, que implicava numa prática de cunho conservador. Porém 
essa nova roupagem causa vários questionamentos aos assistentes sociais, tanto 
para os que possuem formações mais antigas quanto aos novos profissionais, como: 
O que realmente faz um assistente social na saúde? Qual o objetivo do 
trabalho do assistente social? O que o serviço social estuda? Diante de tantas 
indagações, Vasconcelos (1999) cita: 
Que a busca de uma ruptura, teórico-prático com um fazer profissional 
tradicional, conservador, que contribui somente para reprodução social, não 
se efetivará sem uma articulação sistemática e de qualidade entre academia 
e profissional tradicional. Desse modo, tais questionamentos acontecem 
devido ao fato que teoria e prática nem sempre andam juntas, mais que 
uma depende da outra. (VASCONCELOS, 1999, p.16). 
De acordo com o CFESS, durante os últimos anos, tem-se aumentado a 
aparente indefinição do que é e o que faz o serviço social na saúde, e que isso se dá 
39 
devido à forma mediatizada de como seu exercício se realiza na dinâmica do 
cotidiano, de maneira heterogênea, plural e desarticulada com a teoria. 
Para finalizarmos essa discussão temos que compreender que não pode 
haver uma dicotomia da prática profissional com a teoria, para não atuarmos apenas 
reproduzindo práticas passadas, sem colocarmos em prática nossas dimensões, 
ético-política, técnico-operativa e principalmente teórica- metodológica, sempre na 
perspectiva de trabalharmos em defesa do direitos humanos. 
Passaremos a discutir no próximo tópico a respeito das legislações que 
norteiam a prática profissional do assistente social da área da saúde. 
2.2 Legislações que norteiam o trabalho do assistente social na saúde 
Sem dúvidas podemos afirmar que o campo de trabalho para os 
assistentes sociais na área da saúde está cada vez mais em ascensão, porém para 
um profissional se destacar ou ate mesmo conseguir se manter nesse mercado tão 
competitivo, é necessário que, o mesmo seja detentor de conhecimentos a respeito 
das legislações específicas que norteiam sua prática, bem como conhecer portarias, 
normas, estatutos, resoluções, entre outros. 
Segundo 3ABEPSS, o Serviço Social em seu processo de renovação, 
ampliação e consolidação do seu projeto ético político, tem como marcos regulatório 
o Código de Ética Profissional; A Lei que Regulamenta a Profissão e as Diretrizes 
Curriculares 
O Projeto Ético Político da profissão foi construído mediante luta da 
categoria que visava defender uma prática profissional comprometida com as lutas 
das classes dominadas, bem como na luta pelo reconhecimento da cientificidade da 
prática profissional. De acordo com o CFESS: 
Com o desenvolver do Projeto, a profissão ficou em evidência, pois se 
tornaram conhecidos seus objetivos e propósitos; sua prática estruturada 
num Projeto de Profissão, pois o Projeto ético-politico da profissão, 
construído nos últimos anos, pauta-se na perspectiva da totalidade social e 
tem na questão social a base de sua fundamentação. (CFESS/CRESS, 
2009, p. 22) 
 
3
 ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social profissão, construído nos 
últimos anos, pauta-se na perspectiva da totalidade social e tem na questão social a base de sua 
fundamentação. (CFESS/CRESS, 2009, p . 22). 
 
40 
Esse projeto é representado pelo Código de Ética Profissional e Lei de 
Regulamentação da Profissão, ambos do ano de 1993. Constam nesses 
documentos as atribuições e competências, direitos e deveres dos assistentes 
sociais, que devem ser respeitados tanto pelos profissionais da área como pelos 
seus empregadores. 
O 4Código de Ética Profissional é constituído por uma introdução, por 11 
(onze) princípios norteadores para a atuação profissional, 04 (quatro) títulos, quais 
sejam: título I – Disposições gerais; II – dos direitos e das responsabilidades gerais 
do assistente social; III – das relações profissionais e IV – da observância, 
penalidades, aplicação e cumprimento deste Código. 
È composto ainda por 6 (seis) capítulos: I – Das relações com os 
usuários; II – das relações com as instituições empregadoras e outras; III – das 
relações com assistentes sociais e outros profissionais; IV – das relações com 
entidades da categoria e demais organizações da sociedade civil; V – do sigilo 
profissional e VI – das relações do assistente social com a justiça. 
Como podemos perceber o Código de Ética Profissional é um valioso 
instrumento para nortear a atuação do assistente social em qualquer área ou campo 
sócio ocupacional, buscando sempre, conforme CFESS/CRESS, a legitimação 
social da profissão e a garantia da qualidade dos serviços prestados. Ele expressa a 
renovação e o amadurecimento teórico-político do Serviço Social e evidencia em 
seus princípios fundamentais o compromisso ético-político assumido pela categoria. 
A 5Lei de Regulamentação da Profissão, é a de nº 8.662, de 07 de junho 
de 1993, decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente Itamar 
Franco, dispõe sobre a profissão e dá outras providências. 
É constituída por 24 (vinte e quatro) artigos, dentre eles podemos citar: 
Art. 4º Constituem as competências do assistente social; Art. 5º Constituem 
atribuições privativas do assistente social, Art. 5º-A – a duração do trabalho do 
 
4
 Ver Código de Ética Profissional: http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_CFESS-SITE.pdf. 
 
5
 Ver site: http://www.cfess.org.br 
 
41 
assistente social é de 30 (trinta) horas semanais (Incluído pela Lei nº12.317, de 
2010) e Art. 14. Cabe às Unidades de Ensino credenciar e comunicar aos Conselhos 
Regionais de sua jurisdição os campos de estágio de seus alunos e designar os 
assistentes sociais responsáveis por sua supervisão. 
Outro documento importante para o serviço social são as Diretrizes 
Curriculares que foram aprovadas através da Resolução nº 15, de 13 de março de 
2002, antigamente chamadas de currículo mínimo, essas diretrizes orientam na 
formulação do projeto pedagógico do curso de Serviço Social, nas entidades de 
nível superior. 
Nesse projeto pedagógico deve constar: perfil dos formandos; as 
competências e habilidades gerais e específicas a serem desenvolvidas; a 
organização do curso; os conteúdos curriculares; o formato do estágio 
supervisionado e do Trabalho de Conclusão do Curso e as atividades 
complementares previstas. 
Quadro 2 - Competências e habilidades gerais e especificas das diretrizes curriculares 
GERAIS ESPECÍFICAS 
• A formação profissional deve 
viabilizar uma capacitação

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