Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
93 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER Unidade III 5 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM GINECOLOGIA Nesta unidade serão discutidas as doenças sexualmente transmissíveis, o câncer de colo de útero e de mama e a assistência de enfermagem a fim de prevenir, diagnosticar e tratar essas doenças. 5.1 Abordagem sindrômica e principais doenças sexualmente transmissíveis As DSTs são consideradas um dos problemas mais comuns de saúde pública no mundo. Sabe‑se que as estratégias de prevenção primária, como o uso do preservativo; e secundária, diagnóstico e tratamento, podem permitir o controle das DSTs e das suas consequências. O enfermeiro está inserido nesse cenário a fim de promover ações de prevenção primária e secundária nas Unidades Básicas de Saúde e possui autonomia para avaliar pacientes com queixas relacionas às DSTs, diagnosticá‑las, tratá‑las e prevenir a ocorrência dessas doenças na população brasileira. Portanto, o enfermeiro deve utilizar protocolos propostos pelo Ministério da Saúde e colocar em prática o seu conhecimento e suas habilidades técnicas em ginecologia. Apesar dos avanços na Atenção Básica, as DSTs ainda não são consideradas uma emergência e, por isso, muitas vezes, quando a população procura o serviço com alguma queixa relacionada às DSTs, uma consulta é agendada. O ideal seria atender de imediato, pois os sintomas podem desaparecer e o paciente pode não retornar. Também é necessário o aconselhamento, em grupo ou individual, a fim de criar um vínculo com o paciente. À medida que as necessidades, dúvidas, preocupações e angústias do paciente relacionadas ao seu problema de saúde são identificadas e acolhidas, tornam‑se possíveis o desenvolvimento de uma relação de confiança e a promoção de apoio emocional, facilitando: • a troca de informações sobre DSTs e Aids, suas formas de transmissão, sua prevenção e seu tratamento; • a avaliação de riscos, permitindo a compreensão e a consciência a respeito dos riscos pessoais de infecção para a DST atual e para a Aids; • a identificação dos limites e as possibilidades existentes para a adoção de medidas preventivas, estimulando o cuidado de si e dos parceiros; • a adesão ao tratamento; • a comunicação e o tratamento ao(s) parceiro(s) sexual(is). 94 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III O ideal é que os parceiros sejam trazidos para aconselhamento, diagnóstico e tratamento pelos próprios pacientes. No caso do não comparecimento dos parceiros convidados, outras atividades poderão ser desenvolvidas, de acordo com as possibilidades de cada serviço. Serão considerados parceiros, para fins de comunicação ou convocação, os indivíduos com quem o paciente se relacionou sexualmente entre 30 e 90 dias, segundo o quadro a seguir, excluindo‑se os parceiros de mulheres com corrimento por vaginose bacteriana e candidíase (BRASIL, 2005). Quadro 5 – Tempo de contato sexual para comunicação dos parceiros Úlceras Corrimento uretral ou infecção cervical Doença inflamatória pélvica Sífilis Tricomoníase Tempo de contato sexual 90 dias 60 dias 60 dias Secundária = 6 meses Latente = 1 ano Parceiro atual Adaptado de: Brasil (2005). Ao chegar no serviço de saúde, o parceiro deve ser considerado um portador da mesma síndrome ou doença que acometeu o paciente, mesmo que não apresente nenhum sintoma ou sinal, e receber o mesmo tratamento recomendado para a sua condição clínica. Quadro 6 Síndrome Sinais e sintomas mais comuns DST Agente Tipo Transmissão sexual Curável Secreção Úlceras Presença da úlcera genital Sífilis Treponemapallidum Bactéria Sim Sim Não Cancro mole Haemophilus ducreyi Bactéria Sim Sim Não Herpes Herpes simplex Vírus Sim Não Não Donovanose Klebsiellagranulomatis Bactéria Sim Sim Não Linfogranuloma Chlamydiatrachomatis Bactéria Sim Sim Não Corrimentos Corrimento vaginal ou cervical, prurido, dor na micção, dor durante a relação sexual ou dispareunia, odor fétido, pode ocorrer edema e hiperemia de vulva Vaginose bacteriana Múltiplos Bactéria Não Sim Corrimento vaginal branco‑acinzentado, pode ser bolhoso, odor vaginal tipo peixe Candidíase Candida albicans Fungo Não Sim Corrimento branco‑amarelado tipo coalhada Gonorreia Neisseria gonorrhoeae Bactéria Sim Sim Corrimento endocervical geralmente amarelo, purulento Clamídia Chlamydia trachomatis Bactéria Sim Sim Corrimento endocervical geralmente amarelo‑esverdeado, purulento Tricomoníase Trichomonas vaginalis Protozoário Sim Sim Corrimento vaginal amarelado‑esverdeado, bolhoso, fétido, purulento, abundante e às vezes com prurido Verrugas Presença da verruga Condiloma Papilomavírus humano Vírus Sim Não Não Adaptado de: Brasil (2005). 95 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER Nesse contexto, a abordagem proposta pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2005) visa apresentar as síndromes, o agente etiológico, o fluxograma e as condutas que o profissional deverá tomar se diagnosticada determinada DST. Úlceras A abordagem sindrômica para as úlceras genitais ocorrem da seguinte maneira por meio do fluxograma: Paciente com queixa de úlcera genital Realizar anamnese e exame físico História ou evidência de lesões vesiculosas Lesões com mais de 4 semanas Tratar herpes Tratar sífilis e cancro mole Tratar sífilis e cancro mole. Fazer biópsia e tratamento para donovanose Não Não Sim Sim Figura 28 – Fluxograma da abordagem sindrômica para as úlceras genitais Sífilis É uma doença infectocontagiosa, endêmica, causada pelo Treponema pallidum. O principal sintoma da doença é o cancro duro, a lesão inicial da sífilis. Essa fase é chamada de sífilis primária. É geralmente uma lesão única, ulcerada indolor, com bordos endurecidos, fundo liso, brilhante e secreção serosa escassa. A lesão aparece entre 10 e 90 dias (média de 21) após o contato sexual infectante. É acompanhada de adenopatia regional não supurativa, móvel, indolor e múltipla. Na sífilis secundária, as manifestações clínicas iniciam‑se dois meses após o contágio. Além de lesões cutâneas, ocorrem lesões mucosas, micropoliadenopatia, febre, mal‑estar geral, dores articulares, cefaleia, rouquidão e perda de peso. Na sífilis terciária, as lesões tornam‑se mais localizadas e circunscritas, porém são mais destrutivas, sendo o exemplo típico a goma, caracterizada por nódulo que amolece e úlcera, podendo drenar material necrótico. Para o diagnóstico, as reações sorológicas utilizadas são o Veneral Disease Research Laboratory (VDRL) e teste de absorção de anticorpos treponêmico fluorescente (FTA‑ABS), que são testes com base em antígenos lipídicos e treponêmicos, sendo a combinação dos dois resultados o melhor método para detecção da sífilis e de suas fases. 96 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III O VDRL deve ser solicitado para todo portador de DST e para gestantes, como rotina, no período pré‑natal. Os testes tendem a tornarem‑se reativos a partir da segunda semana após o aparecimento do cancro (sífilis primária) e ficam mais elevados na fase secundária da doença. Para o tratamento, podem ser utilizados os seguintes medicamentos: • Penicilna G benzatina, 2,4 milhões UI, via intramuscular (IM), em dose única (1,2 milhão UI em cada nádega). • Doxiciclina 100 mg, via oral (VO), de 12/12 horas, por 14 dias ou até a cura clínica (contraindicado para gestantes e nutrizes). Cancro mole É uma doença causada pelo Haemophilus ducreyi, mais frequente nas regiões tropicais, e de transmissão sexual. As manifestações clínicas são múltiplas lesões dolorosas, a borda é irregular, apresentando contornos eritemato‑edematosos e fundo irregular recoberto por exsudato necrótico, amarelado, com odor fétido,que, quando removido, revela tecido de granulação com sangramento fácil. No homem, as localizações mais frequentes são no frênulo e sulco balanoprepucial; na mulher, na fúrcula e face interna dos pequenos e grandes lábios. É mais comum nos homens. O tratamento do cancro mole é realizado da seguinte maneira: • Azitromicina 1 g, VO, em dose única, ou ciprofloxacina 500 mg, VO, de 12/12 horas, por 3 dias (contraindicado para gestantes, nutrizes e menores de 18 anos) ou eritromicina (estearato) 500 mg, VO, de 6/6 horas, por 7 dias (indicado para gestantes). • Ceftriaxona 250 mg, via IM, em dose única (indicado para gestante). Herpes genital É causada pelo vírus herpes simples, que é transmitido por contato direto com lesões ou objetos contaminados. Geralmente, pode apresentar pódromos como aumento de sensibilidade, formigamento, mialgias, ardência ou prurido antecedendo o aparecimento das lesões. As lesões são do tipo vesículas. No homem, localizam‑se mais frequentemente na glande e prepúcio; na mulher, nos pequenos lábios, clitóris, grandes lábios, fúrcula e colo do útero. Nas gestantes portadoras de herpes simples, deve ser considerado o risco de complicações obstétricas. A infecção primária materna, no final da gestação, oferece maior risco de infecção neonatal do que o herpes genital recorrente. O maior risco de infecção ocorre durante a passagem do feto pelo canal de parto. 97 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER O tratamento para herpes genital deve ocorrer da seguinte maneira: • Para o primeiro episódio: aciclovir 200 mg, de 4/4 horas, 5x/dia, por 7 dias ou 400 mg, VO, 8/8 horas, por 7 dias. • Para episódio recorrente: aciclovir 400 mg, de 12/12 horas, por até 6 anos. Em gestantes, deve‑se evitar tratar recidivas e tratar o primeiro episódio em qualquer trimestre da gestação. A dor pode ser aliviada com analgésicos e anti‑inflamatórios. O tratamento local consiste em: solução fisiológica ou água boricada a 3%, para limpeza das lesões. Donovanose É uma doença causada pela bactéria Klebsiella granulomatis, de transmissão sexual. Pode ocorrer uma lesão isolada ou múltiplas lesões, incialmente, observa‑se uma lesão nodular localizada no subcutâneo que evolui para úlcera do tipo granulomatosa, de aspecto vermelho, com borda plana e hipertrófica, bem delimitada. O diagnóstico é feito por meio de exames laboratoriais através da observação de corpúsculos de Donovan em esfregaço de amostra de lesões suspeitas ou de cortes tissulares corados. O tratamento da donovanose deve ser realizado da seguinte maneira: • Doxiciclina 100 mg, VO, 12/12 horas por, no mínimo, 3 semanas ou até cura clínica. • Eritromicina (estearato) 500 mg, VO, de 6/6 horas por, no mínimo, 3 semanas ou até a cura clínica. • Sulfametoxazol/Trimetoprim (800 mg e 160 mg), VO, de 12/12 horas por, no mínimo, 3 semanas, ou até a cura clínica. • Tetraciclina 500 mg, de 6/6 horas, durante 3 semanas ou até cura clínica; ou azitromicina 1 g, VO, em dose única, seguido por 500 mg/dia, VO, por 3 semanas ou até cicatrizar as lesões. Linfogranuloma venéreo É uma doença sexualmente transmissível causada pela Chlamydia trachomatis. Muitas vezes as lesões não são percebidas. Os principais sinais e sintomas da doença são úlceras que geralmente desaparecem após 3 a 5 dias, e posteriormente voltam a aparecer com aspecto inflamado e com presença de sangue e pus, acompanhadas de febre, mal‑estar, vômitos, dor na cabeça, costas e articulações, emagrecimento, suor noturno, inflamação no reto e linfonodos na região inguinal que, se não tratados, evoluem para rompimento espontâneo e com saída de pus. 98 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III A obstrução linfática crônica leva à elefantíase genital, que na mulher é denominada estiomene. Podem ocorrer fístulas retais, vaginais, vesicais e estenose retal. Na maioria dos casos, o diagnóstico é feito em bases clínicas, não sendo rotineira a comprovação laboratorial. O teste laboratorial identifica anticorpos contra todas as infecções por clamídia, e se torna positivo após 4 semanas da infecção. O tratamento é realizado de forma semelhante ao da donovanose. Além disso, é necessário que o profissional realize as seguintes ações complementares essenciais, que valem também para as outras síndromes, como: • Aconselhar e oferecer sorologias anti‑HIV, VDRL, hepatite B e C se disponíveis. • Vacinar contra hepatite B, se a idade for inferior a 30 anos (restrito por disponibilidade da vacina). • Enfatizar a adesão ao tratamento. • Orientar para que a pessoa conclua o tratamento mesmo se os sintomas ou sinais tiverem desaparecido. • Interromper as relações sexuais até a conclusão do tratamento e o desaparecimento dos sintomas. • Oferecer preservativos, orientando sobre as técnicas de uso. • Encorajar o paciente a comunicar a todos os seus parceiros(as) sexuais do último mês, para que possam ser atendidos e tratados. Fornecer ao paciente cartões de convocação para parceiros(as) devidamente preenchidos. • Notificar o caso no formulário apropriado. • Marcar o retorno para conhecimento dos resultados dos exames solicitados e para o controle de cura em 7 dias. • Recomendar o retorno ao serviço de saúde se voltar a ter problemas genitais. • Após a cura, usar preservativo em todas as relações sexuais, caso não exista o desejo de engravidar, ou adotar outras formas de sexo mais seguro. Corrimentos vaginais e cervicites O fluxograma dos corrimentos vaginais e cervicites deve ser utilizado quando não estiver disponível a microscopia. 99 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER Paciente com queixa de corrimento vaginal Anamnese e avaliação de risco + exames ginecológicos Critérios de risco positivo e/ou sinais de cervicite com muco pus/teste do cotonete/friabilidade/sangramento do colo Realizar teste do pH vaginal: Teste de KOH a 10% Aconselhar, oferecer anti‑HIV, VDRL, hepatites B e C se disponível, vacinar contra hepatite B, enfatizar a adesão ao tratamento, notificar, convocar e tratar parceiros e agendar retorno Tratar gonorreia e clamídia Avaliação de Risco (OMS) •Paciente com múltiplos parceiros sem proteção • Parceiro com sintomas • Paciente pensa ter sido exposta a uma DST • Paciente proveniente de região de alta prevalência de gonococo e clamídia Não pH > 4,5 e/ou KOH (+) Tratar vaginose bacteriana e tricomoníase Sim pH < 4,5 e KOH (‑) Aspecto do corrimento: grumoso ou eritema vulvar Não Causa fisiológica Sim Tratar candidíase Figura 29 – Fluxograma da abordagem sindrômica para as úlceras genitais A vagina é habitualmente úmida, devido à contínua secreção da região vulvar, das glândulas de Skene, de Bartholin, da descamação celular, do muco cervical, bem como de outros líquidos de origem tubária e endometrial. A flora vaginal possui bacilos de Dordelein e outras bactérias, além de pequena quantidade de polimorfonucleares. Lembrete Os bacilos de Doderlein são bacilos da flora vaginal, protetores, que se nutrem de glicogênio e são produzidos por células contidas na vulva. As vulvovaginites são processos inflamatórios e/ou infecciosos que acometem o trato genital feminino inferior e que se manifestam em graus variáveis de desconforto vaginal, como prurido vulvar, dispareunia, ardor vulvar e vaginal, hiperemia e edema. 100 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III Evidencia‑se por um aumento do conteúdo vaginal de diferentes aspectos. O enfermeiro deve saber diferenciar o conteúdo vaginal fisiológico do patológico. As vulvovaginites podem ser causadas por agentes infecciosos endógenos (vaginose bacteriana e candidíase), por agentes sexualmente transmitidos (tricomoníase),ou por fatores físicos (traumas), químicos (uso de lubrificantes e de absorventes internos e externos), hormonais (hiper e hipoestrogenismo), anatômicos e orgânicos (imunodepressão secundária à doença sistêmica ou outras imunodepressões). A prática de coito vaginal imediatamente após o coito anal e o uso de DIU podem favorecer as vulvovaginites, alterando a flora vaginal. A endocervicite é uma inflamação da mucosa endocervical (epitélio colunar do colo uterino), causada, na maioria das vezes, por Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis. A vaginose bacteriana pode ser causada por diversas bactérias, dentre elas, a mais comum é a Gardnerella vaginalis, e por outros microrganismos anaeróbicos, o principal tratamento medicamentoso é o metronidazol 400‑500 mg de 12/12 horas VO por 7 dias. A leucorreia que essa inflamação provoca é homogênea, acinzentada, não alcança grande volume, eleva o pH até 5,5 ou mais, possui odor desagradável, semelhante a peixe podre, provocado por enzimas produzidas pelas bactérias anaeróbicas. Na maioria das pacientes, é assintomática. A Candida albicans é um fungo dimórfico, gram‑positivo, que se reproduz em pH ácido de 4 e 5 e apresenta‑se na vagina de 25% das mulheres de forma comensal. Alterações na flora vaginal tornam‑no patógeno. Geralmente, o fluxo vaginal aumenta, torna‑se espesso, caseoso, branco‑amarelado, muitas vezes, descrito pela mulher, como semelhante à coalhada ou à nata do leite. Para o tratamento, geralmente, são utilizados cremes vaginais à base de nistatina e educação sobre higiene genital, atividade sexual, higiene de roupas íntimas e, no caso de desconforto ou dor na região vulvovaginal, são indicados banhos de assento. A atividade sexual pode ser desencorajada durante o tratamento. Um dos principais medicamentos prescritos é o miconazol, creme a 2%, via vaginal, uma aplicação à noite ao deitar‑se, por 7 dias. A gonorreia é causada pela bactéria gram‑negativa Neisseria gonorrhoeae. Geralmente infecta a uretra, poupando a vagina e o útero. Nas mulheres, são assintomáticas na maioria das vezes. No homem, ocorre disúria, febre baixa e aparece um corrimento amarelo purulento saindo da uretra. A infecção gonocócica na gestante poderá estar associada a um maior risco de prematuridade, ruptura prematura de membrana, perdas fetais, retardo de crescimento intrauterino e febre puerperal. No recém‑nascido, a principal manifestação clínica é a conjuntivite, podendo haver septicemia, artrite, abcessos de couro cabeludo, pneumonia, meningite, endocardite e estomatite. 101 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER A oftalmia gonocócica precisa ser tratada imediatamente, para prevenir dano ocular. A terapia recomendada é a seguinte: ceftriaxona 25 a 50 mg/kg/dia, via IM, no máximo 125 mg em dose única. A profilaxia, no período pós‑neonatal, deve ser realizada rotineiramente com nitrato de prata a 1% (Método de Crede), aplicação única, uma hora após o nascimento. O tratamento da gonorreia é com ceftriaxona 25 a 50 mg/kg/dia, via IM, no máximo 125 mg em dose única. A clamídia é causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, pode ser transmitida para o recém‑nascido na passagem pelo canal de parto. Nos homens, pode causar epididimite e orquite, e, nas mulheres, pode ultrapassar as trompas e causar doença inflamatória pélvica (DIP). A doença ainda pode ocasionar infertilidade tanto no homem quanto na mulher. O recém‑nascido também pode apresentar conjuntivite. As manifestações clínicas são disúria, poliúria e presença de uma secreção fluida amarelo‑esverdeada e purulenta. Nas mulheres, podem aparecer sangramento intermenstrual e dor pélvica. O tratamento é realizado da seguinte maneira: Azitromicina 1 g, VO, em dose única, ou doxicilina 100 mg, VO, de 12/12 horas, durante 7 dias. Em gestantes ou menores de 18 anos: contraindicar ofloxacina. Indicar azitromicina, eritromicina ou amoxacilina (500 mg, VO, de 8/8 horas, por 7 dias). A tricomoníase é causada pelo Trichomonas vaginalis, um protozoário unicelular, flagelado que ocasiona corrimento geralmente copioso, que banha os tecidos vulvares e perineais, tipicamente bolhoso, amarelo‑esverdeado, de consistência variada, com pH entre 5 e 7, de odor fétido. Produz vulvite irritativa que pode se estender à face interna das coxas com prurido e ardência. Pode levar à dispareunia. A vagina pode ter um aspecto de framboesa, disúria e polaciúria são os sintomas urinários mais comuns. O tratamento é realizado com metronidazol 2 g, VO, em dose única ou metronidazol 400‑500 mg de 12/12 horas, VO, por 7 dias. Observação Enfermeiros só podem prescrever tratamento se houver protocolo na instituição. A antibioticoterapia só é prescrita pelo médico. 102 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III Saiba mais Para mais informações sobre as DSTs, consulte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Manual de controle das doenças sexualmente transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_controle_das_ dst.pdf>. Acesso em: 4 jul. 2017. 5.2 Anamnese, semiologia ginecológica e coleta da colpocitologia oncótica A consulta de enfermagem em ginecologia compreende ações e procedimentos voltados para a identificação, diagnóstico e tratamento precoce de doenças do aparelho reprodutivo com foco na prevenção de DST, câncer (de mama e de útero) e orientação sobre planejamento familiar. No atendimento motivado por DST, prevenção do câncer de colo de útero e mama, os profissionais de saúde devem conhecer a anatomia e a fisiologia do trato genital feminino. Nesses casos são recomendados exame clínico e exame genital minuciosos. Anamnese Na anamnese, os seguintes dados devem ser coletados pelo enfermeiro: • Identificação: — Nome. — Idade. — Situação conjugal. — Profissão. — Ocupação atual. — Data de nascimento. — Número do prontuário. — Naturalidade. — Escolaridade. 103 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER • Motivo da consulta. • Conhecimento sobre questões de saúde: — Exame colpocitológico ou Papanicolaou ou cérvico‑uterino. — Autoexame das mamas. • Hábitos de vida: — Etilismo e tabagismo. • Antecedentes pessoais: — Gerais: – problemas urinários e intestinais; – histórico de transfusão sanguínea; – histórico de doenças anteriores (tuberculose, diabetes, hipertensão etc.), cirurgias e internações). — Ginecológicos: – idade na menarca; – data da última menstruação; – características do ciclo menstrual; – presença de leucorreia e características; – história de cauterização; – problemas mamários; – uso de métodos anticonceptivos. — Obstétricos: – número de gestações anteriores (G); – paridade (P); 104 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III – resolução dos partos: normal (N), cesárea (C) ou fórceps (F); – história de abortos (A); – neomortos e natimortos; – uso de método anticoncepcional (MAC). Após a coleta de dados, é necessário que a mulher esvazie a bexiga e seja orientada a tirar as roupas e colocar o avental com a abertura para frente. O enfermeiro deve realizar o exame físico geral e o especial (ginecológico). • Exame físico geral: — Verificar sinais vitais, peso e altura. — Realizar o exame no sentido cefalopodal ou por sistemas. — Realizar a avaliação neurológica e avaliações da pele e mucosas, dos sistemas pulmonar e cardíaco, do sistema gastrointestinal, do sistema geniturinário e do sistema locomotor. • Exame físico especial (ginecológico): — Está relacionado com a avaliação das mamas, do abdômen e da genitália feminina. Mamas A inspeção das mamas deve ser realizadapelo enfermeiro, considerando os seguintes aspectos: • Inspeção estática das mamas: — Observar o número de mamas, a consistência (firme ou flácida), o volume (hipertrofia) e a forma (cônica, pêndulo e esféricas). — Observar o tipo de mamilo (protuso, semiprotuso, invertido ou pseudoinvertido). — Verificar a simetria. — Verificar a forma das mamas das papilas e das aréolas. — Verificar alterações da superfície (depressões, abaulamentos e retrações). 105 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER • Inspeção dinâmica das mamas: — Realizar o levantamento dos braços e, depois, colocar as mãos no quadril. — Observar contração dos músculos peitorais. — Avaliar abaulamentos, retrações e tumores. • Palpação das mamas: — Realizar a palpação com mãos espalmadas e pontas dos dedos, as mamas devem ser palpadas de forma circular, de fora para dentro e no fim sendo realizada a expressão do mamilo a fim de identificar a presença de secreção. — Realizar a palpação de linfonodos axilares, supra e infraclaviculares e cervicais. — Identificar possíveis alterações, como: pele com aspecto de casca de laranja (câncer), sinais flogísticos, massas, secreções, áreas de condensação e nódulos. Na identificação de um nódulo, devem ser observados: • Localização (quadrantes). • Tamanho. • Formato (oval, redondo, lobulado ou indiferenciado). • Consistência (friável ou duro). • Mobilidade. • Diferenciação (presença de outros nódulos). • Mamilo. • Pele sobre o nódulo. • Sensibilidade. • Linfonodos palpáveis. • Expressão dos mamilos: — Deve ser realizada com os dedos indicador e polegar. 106 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III — A presença de secreção indica processo inflamatório, lesão benigna ou maligna. Cabe ao enfermeiro, no momento do exame das mamas, realizar a ação educativa sobre a realização do autoexame das mamas. Essa ação educativa será abordada posteriormente. Abdômen O exame físico do abdômen deve ser realizado por meio da inspeção, ausculta, percussão e palpação. Pode ser realizado considerando a divisão dos quatro quadrantes ou das nove regiões e em sentindo horário. • Inspeção: — Pele: cicatrizes, estrias, veias dilatadas, lesões e erupções. — Contorno (tipo) de abdômen: plano, globoso, escavado. — Pulsações: a pulsação da artéria aorta na região epigástrica é visível. — Simetria: a fim de identificar massas ou visceromegalia. • Ausculta: — A ausculta deve ser realizada com o estetoscópio por pelo menos 2 minutos. Os sons normais da ausculta abdominal são denominados de ruídos hidroaéreos. Quando ocorrem em maior quantidade, devido ao aumento do peristaltismo, é possível auscultar sons hiperativos, como ocorre em diarreias. Quando ocorrem em menor quantidade, são denominados de sons hipoativos, em caso de peritonite e íleo paralítico. • Percussão: — A percussão deve ser realizada em todo o abdômen a fim de identificar os sons como: – timpanismo: ocorre na maior parte do abdômen devido à presença de gases no sistema gastrointestinal e às vísceras serem ocas; – som maciço ou submaciço: relacionado à presença de líquidos ou fezes no sistema gastroinstestinal ou à presença de víscera que não é oca, por exemplo, o fígado. — A manobra especial, como piparote, também pode ser realizada, se necessário. • Palpação: — A palpação deve ser realizada em todo o abdômen a fim de identificar massas, regiões dolorosas e a presença de órgãos. 107 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER — Pode ser feita a palpação superficial, profunda e a realização de manobras especiais, como o sinal de Bloomberg, que verifica a presença de dor abdominal à descompressão rápida e pode indicar peritonite. Posteriormente, o exame ginecológico é executado. Exame dos órgãos genitais externos O exame ginecológico deve ser realizado com a mulher em posição ginecológica ou de litotomia. Deve‑se observar: • Higiene. • Lacerações e ulcerações na região vulvar. • Aumento das glândulas de Bartholin e de Skene. • Presença de secreção: anotar as características da secreção e avaliar se é fisiológica ou se tem relação com alguma DST. • Períneo: — Avaliar integridade. — Caracterizar lacerações ou roturas em relação ao grau: – 1º grau: apenas mucosa; – 2º grau: mucosa e musculatura, sem lesão do esfíncter anal; – 3º grau: com lesão do esfíncter anal. O útero é mantido na posição graças ao aparelho de fixação do assoalho pélvico. Devido às funções do aparelho genital, como a reprodução, pode ocorrer o prolapso. Entre os prolapsos genitais, pode ocorrer a colpocele, projeção da coluna rugosa do terço inferior da vagina. A colpocele pode ser anterior, ou seja, colpocistocele e, geralmente, é associada à cistocele, que é o prolapso de bexiga. Nesse caso, ocorre desconforto pélvico, incontinência urinária de esforço, polaciúria, retenção urinária e possível infecção. Pode ocorrer a colpocele posterior ou colporretocele, que é acompanhada de retocele ou exteriorização do reto. Nesse caso ocorre a eliminação involuntária de gases e fezes líquidas. 108 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III Exame dos órgãos genitais internos Realiza‑se por meio do toque vaginal e do exame especular. • Toque vaginal: — O toque vaginal pode ser simples (unidigital ou bidigital) ou combinado (toque feito com uma mão na vagina e outra no abdômen): – o toque vaginal simples possibilita avaliar o assoalho perineal e sua tonicidade, modificações da vagina e do colo do útero; – o toque vaginal combinado possibilita avaliar as características da vagina e do colo uterino, assim como do trato genital superior (útero e anexos). Figura 30 – Toque vaginal combinado Exame especular O exame especular tem a finalidade de visualizar as partes acessíveis do aparelho genital feminino (colo uterino e vagina). Também possibilita a coleta de material para colpocitologia oncótica, conhecido por preventivo ou Papanicolau. Esse exame é o método mais difundido mundialmente para o rastreamento de células cancerosas e pré‑cancerosas. Também é utilizado na detecção de outras alterações, por exemplo, vulvovaginites. • Técnica para colocação do espéculo. — Separar o material: espéculo de Collins e luva de procedimento. — Colocar a mulher em posição ginecológica ou litotômica. 109 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER — Lavar as mãos e calçar as luvas de procedimento. — Expor o introito vaginal, afastando os lábios com os dedos da mão esquerda. — Introduzir o espéculo com a mão direita, de forma oblíqua. Existem vários tamanhos de espéculos, que são classificados em pequeno, médio e grande ou 1, 2 e 3, e o espéculo para mulher que ainda não teve relação sexual. Pode ser de aço ou de material descartável. Seguem as orientações para a escolha do espéculo: • O tamanho pequeno (1) deve ser utilizado em pacientes que não tiveram parto vaginal, muito jovens, muito magras ou menopausadas. • O espéculo grande (3) deve ser usado para multíparas e obesas. • O espéculo médio (2) deve ser usado para todas as outras situações. Não se deve utilizar vaselina para lubrificar o espéculo, pois pode alterar o resultado do exame. Se necessário, apenas lubrificar com solução fisiológica ou água destilada, antes de sua introdução. Avalia‑se, no exame especular, o canal vaginal em relação ao comprimento (7 a 8 cm), distensibilidade (propriedade elástica) e superfície (na mulher jovem tem aspecto rugoso e a partir do climatério, aspecto liso). Também avalia‑se o colo uterino em relação à forma (cônica, cilíndrica ou cilíndrico‑cônica), à superfície (lisa, regular, convexa, brilhosae de cor rósea brilhante), o orifício externo (circular em nuligestas e em fenda transversa nas multíparas). Coleta de material para colpocitologia oncótica Faz parte da consulta de enfermagem coletar material cérvico‑vaginal para exame citológico, a fim de reduzir a morbimortalidade por câncer de colo uterino. Para a realização do exame, a mulher deve ser orientada da seguinte maneira: • Não estar menstruada no dia do exame. • Não fazer uso de duchas e cremes vaginais, pelo menos, 48 horas antes do exame. • Não manter relações sexuais, pelo menos, nas 48 horas que antecedem o dia do exame. Os materiais necessários para a coleta são: • Mesa ginecológica. 110 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III • Foco de luz. • Um par de luvas de procedimento. • Espéculo. • Pinça de Cheron. • Espátula de Ayres (para coleta de material da ectocérvice). • Escovinha (para coleta de material da endocérvice). • Gazes. • Cuba redonda (para acondicionar solução de lugol, se for realizar teste de Schiller). • Ácido acético a 3%. • Fixador que poderá ser álcool a 95% ou outro. • Lâmina com borda fosca. • Tubete com arestas. • Lápis preto (para identificação da lâmina). • Lixeira. • Balde com solução desinfetante (para depósito do espéculo não descartável). A técnica para coleta de material cérvico‑vaginal para colpocitologia oncótica deve ser realizada da seguinte maneira: • Preparar todo o material necessário. • Identificar a lâmina com o lápis preto com o número do prontuário e as iniciais do nome da paciente. • Identificar o tubete onde a(s) lâmina(s) será(ão) colocada(s). • Escolher o tamanho do espéculo levando em consideração a história obstétrica e ginecológica da paciente. • Colocar as luvas. 111 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER • Introduzir o espéculo na vagina. • Retirar o excesso de muco ou corrimento vaginal se estiver presente com auxílio da pinça Cheron e de uma gaze. • Visualizar o colo uterino. • Coletar secreção da ectocérvice, com a extremidade da espátula de Ayres em chanfradura, apoiando a parte mais protuberante da chanfradura no orifício externo do colo e realizando uma volta de 360º, depois, colocar a secreção na lâmina e desprezar a espátula no lixo. • Aplicar o fixador e colocar a lâmina no tubete. • Coletar secreção da endocérvice com a escovinha. Introduzir no orifício externo toda a extremidade com cerdas da escovinha e realizar um movimento de 360º, após colocar a secreção na lâmina, realizando movimentos rotatórios. Desprezar a escovinha no lixo. • Aplicar o fixador na lâmina. • Colocar a lâmina no tubete. A B Figura 31 – Coleta de material para colpocitologia oncótica O Ministério da Saúde (BRASIL, 2006a) recomenda a realização da coleta do material apenas da ectocérvice e da endocérvice para todas as mulheres. A amostra de fundo de saco vaginal não é recomendada, pois o material coletado é de baixa qualidade para o diagnóstico oncótico. Na gravidez, deve‑se coletar apenas da ectocérvice, a fim de evitar abortos e trabalhos de partos prematuros. Teste de Schiller O teste de Schiller consiste na aplicação da solução de lugol no colo uterino com a finalidade de identificar alterações celulares, mediante a fixação do iodo nas áreas ricas em glicogênio. O teste será considerado negativo se houver a fixação do iodo tingindo o colo marrom. Na ausência de glicogênio, o tecido permanecerá da mesma cor, pois o iodo não será fixado e o teste será Schiller positivo. Isso ocorre na presença de alterações celulares (células displásicas ou carcinomatosas). 112 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III É importante descrever no relatório do exame físico e na ficha que será enviada ao laboratório a área do colo em que o teste de Schiller foi positivo (não corou). 5.3 Ações educativas As ações educativas na consulta de enfermagem em ginecologia são realizadas a fim de orientar sobre o autoexame das mamas, para prevenir o câncer de mama, sobre a realização do exame de citologia oncótica no período recomendado pelo Ministério da Saúde, para prevenir o câncer de colo uterino e sobre orientações de planejamento familiar. Autoexame das mamas O autoexame das mamas deve ser realizado de forma periódica pela mulher, conforme apresentado a seguir: • Mensal: de 7 a 10 dias após a menstruação. • Nas mulheres a partir da menopausa: um dia fixo do mês, por exemplo, o dia do aniversário ou dia do pagamento. • Nas mulheres que amamentam: mensalmente, após o bebê esvaziar a mama. Etapas do autoexame das mamas: • Inspeção estática e dinâmica: a mulher deve realizá‑la em frente ao espelho. • Palpação das mamas: deve ser realizada em pé durante o banho ou em frente ao espelho. Com a mão direita, deve‑se palpar a mama esquerda e vice‑versa, fazendo um movimento circular de fora para dentro, a fim de identificar alterações, como a presença de nódulos. Deve‑se realizar, também, a palpação dos linfonodos nas regiões axilares, supraclaviculares, infraclaviculares e cervical. • Expressão dos mamilos: deve ser realizada com o polegar e o dedo indicador. Orientação para coleta de material para colpocitologia oncótica ou Papanicolau O Ministério da Saúde (BRASIL, 2006a) preconiza que o exame pelo método de Papanicolau seja realizado a cada três anos, após a obtenção de dois exames com resultados negativos, com intervalo de um ano entre eles. Dessa forma, o enfermeiro deve orientar que o exame seja realizado anualmente, até a mulher obter dois exames com resultados negativos. Também deve encorajar a procura do serviço para a coleta do Papanicolau e em caso de ocorrência de alguma DST. 113 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER Orientação de planejamento familiar em ginecologia Para prevenir gestações indesejadas e DSTs, o enfermeiro deve aproveitar a consulta de enfermagem em ginecologia para orientar sobre os métodos contraceptivos que são disponibilizados de forma gratuita pelo governo e encorajar o seu uso. Deve, também, focar o uso do preservativo, pois além de evitar a gravidez, também previne a ocorrência de DST. Lembrete O planejamento familiar envolve a orientação que o enfermeiro presta à mulher e ao seu parceiro sobre os principais métodos contraceptivos como o preservativo masculino ou feminino, a pílula, os medicamentos injetáveis, o DIU, entre outros, a fim de prevenir uma gestação indesejada. 6 PRINCIPAIS DOENÇAS CRÔNICAS: CÂNCER DE COLO DE ÚTERO E MAMAS 6.1 Câncer de colo de útero O câncer de colo de útero é o segundo tipo de câncer mais comum que ocorre em mulheres. Sabe‑se que devido a sua alta incidência e mortalidade, a atenção volta‑se para prevenção e detecção precoce desse evento nas mulheres. Nesse cenário, sendo o enfermeiro um membro da equipe multidisciplinar na Atenção Básica, cabe a ele atuar de forma preventiva, garantido a detecção precoce e o tratamento oportuno. A ocorrência do câncer de colo do útero envolve alterações celulares que têm uma progressão gradativa, lenta e silenciosa e é por isso que é uma doença curável quando descoberta no início. Os principais fatores de risco para a ocorrência do câncer de colo uterino são (BRASIL, 2014): • Infecção pelo papilomavírus (HPV) – sendo esse o principal fator de risco. • Início precoce da atividade sexual. • Multiplicidade de parceiros sexuais. • Tabagismo, diretamente relacionados à quantidade de cigarros fumados. • Baixa condição socioeconômica. • Imunossupressão. 114 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III • Uso prolongado de contraceptivos orais. • Higiene íntima inadequada. Sendo o HPV o principal fator de risco, é necessárioque o enfermeiro conheça os principais aspectos dessa doença. Ela é causada pelo papilomavírus, vírus capazes de infectar a pele e mucosas. Existem mais de 150 tipos de HPV, dos quais 40 podem infectar o trato genital e 12 podem provocar câncer (tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58 e 59) (BRASIL, 2014). O HPV de tipos 16 e 18 causam a maioria dos casos de câncer do colo de útero em todo o mundo (cerca de 70%). Eles também são responsáveis por até 90% dos casos de câncer de ânus, até 60% dos cânceres de vagina e até 50% dos casos de câncer vulvar (BRASIL, 2014). O vírus HPV é altamente contagioso, sendo possível contaminar‑se com uma única exposição, e a sua transmissão acontece por contato direto com a pele ou mucosa infectada. A principal forma é pela via sexual, que inclui contato oral‑genital, genital‑genital ou mesmo manual‑genital (BRASIL, 2014). Em um pequeno número de casos, o vírus pode se multiplicar e então provocar o aparecimento de lesões, como as verrugas genitais ou lesões que só são visíveis através de aparelhos com lente de aumento (microscópio), chamadas de lesão subclínica (BRASIL, 2014). Na maioria dos casos, o HPV não apresenta sintomas e é eliminado pelo organismo espontaneamente. Existe uma fase pré‑clínica, sem sintomas, com transformações intraepiteliais progressivas importantes, em que a detecção de possíveis lesões precursoras são realizadas por meio da realização periódica do exame preventivo do colo do útero (BRASIL, 2014). A lesão progride lentamente, por anos, antes de atingir o estágio invasor da doença, quando a cura se torna mais difícil, senão impossível. Nessa fase os principais sintomas são sangramento vaginal, corrimento e dor. O diagnóstico das verrugas anogenitais pode ser feito em homens e em mulheres por meio do exame clínico. As lesões subclínicas podem ser diagnosticadas por meio de exames laboratoriais (citopatológico, histopatológico e de biologia molecular) ou do uso de instrumentos com poder de magnificação (lentes de aumento), após a aplicação de reagentes químicos para contraste (colposcopia, peniscopia, anuscopia). E, para distinguir a lesão benigna da maligna, são realizadas biópsias e confirmação histopatológica (BRASIL, 2014). Os tratamentos existentes têm o objetivo de reduzir, remover ou destruir as lesões proporcionadas pelo HPV. São eles: químicos, cirúrgicos e estimuladores da imunidade. 115 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER As medidas de prevenção mais importantes são: • Uso do preservativo (camisinha) nas relações sexuais. • Evitar ter muitos parceiros ou parceiras sexuais. • Realizar a higiene pessoal. • Vacinar‑se contra o HPV. A vacina aplicada no Brasil é a quadrivalente, protegendo o indivíduo dos tipos 6, 11, 16 e 18 da doença. Meninas com idade entre 9 a 14 anos e meninos com idade de 12 e 13 anos são vacinados. Os meninos e as meninas nessa faixa etária devem tomar duas doses da vacina, sendo que a segunda dose deverá ser administrada seis meses após a primeira dose. O exame Papanicolau detecta as alterações que o HPV pode causar nas células e um possível câncer, mas não é capaz de diagnosticar a presença do vírus, no entanto, é considerado o melhor método para detectar o câncer do colo de útero e suas lesões precursoras. Com relação ao resultado da amostra de colpocitologia oncótica (Papanicolau) que foi colhida e encaminhada ao laboratório, será classificada em: • amostra insatisfatória; • amostra satisfatória, mas limitada; • amostra satisfatória. Uma amostra será considerada insatisfatória quando houver: • ausência de identificação na lâmina ou na requisição; • lâmina quebrada ou com material mal fixado; • células escamosas bem preservadas cobrindo menos de 10% de superfície da lâmina; • obscurecimento por sangue, inflamação, áreas espessas, má fixação, dessecamento etc., que impeçam a interpretação de mais de 75% das células epiteliais. Nesses casos não é possível dar algum diagnóstico e, por isso, o exame deve ser repetido. Uma amostra será considerada satisfatória, mas limitada quando houver: • falta de informações clínicas pertinentes; 116 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III • ausência ou escassez de células endocervicais ou metaplásicas representativas da junção escamo‑colunar (JEC) ou da zona de transformação; • esfregaço purulento, obscurecido por sangue, áreas espessas, dessecamento etc., que impeçam a interpretação de aproximadamente 50 a 70% das células epiteliais. Também o resultado pode indicar se há uma lesão precursora, ou seja, neoplasia intraepitelial cervical (NIC), que dependendo de sua gravidade, poderá ou não evoluir para câncer. NIC I é a alteração celular que acomete as camadas mais basais do epitélio estratificado do colo do útero (displasia leve). Cerca de 80% das mulheres com esse tipo de lesão apresentarão regressão espontânea. NIC II é a existência de desarranjo celular em até três quartos da espessura do epitélio, preservando as camadas mais superficiais (displasia moderada). NIC III é a observação do desarranjo em todas as camadas do epitélio (displasia acentuada e carcinoma in situ), sem invasão do tecido conjuntivo subjacente. As lesões precursoras de alto grau (NIC II e III) são encontradas com maior frequência na faixa etária de 35 a 49 anos, especialmente entre as mulheres que nunca realizaram o exame citopatológico (Papanicolau). No resultado compatível com NIC I, recomenda‑se a repetição do exame de colpocitologia oncótica após 6 meses. Nos resultados compatíveis com NIC II ou NIC III, recomenda‑se o encaminhamento imediato para a colposcopia, para confirmação histopatológica de que não houve invasão do tecido conjuntivo. Os termos Ascus e Agus podem aparecer e correspondem às atipias de significado indeterminado em células escamosas (Ascus) e em células glandulares (Agus). Sob esses diagnósticos estão incluídos os casos com ausência de alterações celulares que possam ser classificadas como neoplasia intraepitelial cervical, porém com alterações citopatológicas que merecem melhor investigação e acompanhamento. Recomenda‑se a repetição do exame de colpocitologia oncótica após seis meses. Após 6 meses, espera‑se a regressão espontânea das lesões (Ascus, Agus, NIC I e efeito citopático compatível com HPV), isso ocorre em cerca de 80% dos casos. Caso o resultado continue alterado, a mulher deve ser encaminhada para a colposcopia. Carcinoma escamoso invasivo e adenocarcinoma invasivo ocorrem quando as alterações celulares se tornam mais intensas e o grau de desarranjo é tal que as células invadem o tecido conjuntivo do colo do útero abaixo do epitélio. O exame histopatológico irá determinar o grau da invasão, o que é necessário para o correto tratamento. Recomenda‑se que as mulheres com esse diagnóstico sejam encaminhadas imediatamente para a colposcopia. A colposcopia consiste na visibilização do colo através do colposcópio (um aparelho que possui iluminação e lentes de aumento), após a aplicação de soluções de ácido acético, entre 3% e 5% e lugol. É 117 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER um exame usado para avaliar os epitélios do trato genital inferior e, quando necessário, orientar biópsia e cirurgia de alta frequência (CAF). A CAF é um procedimento que utiliza um bisturi elétrico de alta frequência para a retirada de uma lesão. Esse aparelho simultaneamente corta e faz a hemostasia do leito cirúrgico sem causar danos ao tecido removido. O objetivo desse tratamento cirúrgico é retirar totalmente a lesão intraepitelial, promovendo o controle local da doença e a mutilação mínima, por esse motivo tem que ser feito sob observação colposcópica. É realizado no ambulatório e tem como grande vantagema possibilidade de utilização do fragmento para estudo histopatológico e afastar a possibilidade de invasão do estroma. O diagnóstico de doenças que causam processos inflamatórios na vagina e no colo do útero pode ser identificado no exame de colpocitologia oncótica, como tricomoníase, candidíase e vaginoses bacterianas. 6.2 Câncer de mama O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo e o primeiro entre as mulheres. É, provavelmente, o mais temido pelas mulheres, devido à sua alta frequência e, sobretudo, pelos seus efeitos psicológicos, que afetam a percepção da sexualidade e a própria imagem pessoal. O câncer de mama tem origem em uma lesão no DNA herdada ou adquirida, a qual produz alterações no padrão de multiplicação celular. As células tumorais tendem a invadir a camada que dá sustentação ao tecido dos ductos mamários, chamada membrana basal. Quando isso ocorre, o câncer é considerado invasivo. Se não houver infiltração da membrana basal, o tumor é considerado in situ (BRASIL, 2006a). É relevante apresentar que desde o início da formação do câncer até a fase em que ele pode ser descoberto pelo exame físico, ou seja, quando tem em torno de 1 cm de diâmetro, passam‑se, em média, 10 anos (BRASIL, 2006a). No início da fase subclínica (nódulo impalpável), tem‑se a impressão de crescimento lento, porque as dimensões das células são mínimas. Porém, depois que o tumor se torna palpável, a duplicação é facilmente perceptível. Se não for tratado, o tumor desenvolve metástases (focos de tumor em outros órgãos), mais comumente para os ossos, pulmões e fígado. Em 3 a 4 anos do descobrimento do tumor pela palpação, ocorre o óbito (BRASIL, 2013a). Os fatores de risco para o câncer de mama são (BRASIL, 2013a): • História familiar é um importante fator de risco para o câncer de mama, especialmente se um ou mais parentes de primeiro grau (mãe ou irmã) foram acometidas antes dos 50 anos de idade; entretanto, o câncer de mama de caráter familiar corresponde a aproximadamente 10% do total de casos de cânceres de mama. • A idade constitui outro importante fator de risco, havendo um aumento rápido da incidência com o aumento da idade. 118 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III • A menarca precoce (idade da primeira menstruação). • A menopausa tardia (instalada após os 50 anos de idade). • A ocorrência da primeira gravidez após os 30 anos. • A nuliparidade. São definidos como grupos populacionais com risco elevado para o desenvolvimento do câncer de mama: • Mulheres com história familiar de, pelo menos, um parente de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) com diagnóstico de câncer de mama, abaixo dos 50 anos de idade. • Mulheres com história familiar de pelo menos um parente de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) com diagnóstico de câncer de mama bilateral ou câncer de ovário, em qualquer faixa etária. • Mulheres com história familiar de câncer de mama masculino. • Mulheres com diagnóstico histopatológico de lesão mamária proliferativa com atipia ou neoplasia lobular in situ. Os sintomas do câncer de mama palpável são o nódulo ou tumor no seio, acompanhado ou não de dor mamária. Podem surgir alterações na pele que recobre a mama, como abaulamentos ou retrações ou um aspecto semelhante à casca de uma laranja. Podem também surgir nódulos palpáveis na axila. Observação Quanto mais cedo for feito o diagnóstico de câncer, maior a probabilidade de cura. Rastreamento significa detectar a doença em sua fase pré‑clínica, enquanto diagnóstico precoce significa identificar câncer da mama em sua fase clínica precoce (BRASIL, 2013a). A prevenção do câncer de mama está embasada em três componentes: • Autoexame: deve ser realizado por mulheres de qualquer faixa etária, mensalmente, após a menstruação. Toda a equipe de saúde deve estar atenta para as oportunidades de orientação quanto à realização periódica do autoexame pelas usuárias. • Exame clínico das mamas: deve ser realizado pelo menos uma vez por ano pelo profissional de saúde (ginecologista, generalista ou enfermeiro), principalmente em mulheres com mais de 35 anos de idade, quando em consulta ou em outras oportunidades (por exemplo, na coleta de citologia oncótica) independente da queixa. 119 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER • Mamografia: para rastreamento ou para diagnóstico de lesões suspeitas. As recomendações para o rastreamento de mulheres assintomáticas, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2006a) são: • Exame clínico das mamas: para todas as mulheres a partir dos 40 anos de idade, com periodicidade anual. Esse procedimento é ainda compreendido como parte do atendimento integral à saúde da mulher, devendo ser realizado em todas as consultas clínicas, independente da faixa etária. • Mamografia: para mulheres com idade entre 50 a 69 anos de idade, com intervalo máximo de 2 anos entre os exames. • Exame clínico das mamas e mamografia anual: para mulheres a partir de 35 anos de idade, pertencentes a grupos populacionais com risco elevado de desenvolver câncer de mama. É garantido o acesso ao diagnóstico, tratamento e seguimento para todas as mulheres com alterações nos exames realizados no Sistema Único de Saúde. Exame clínico das mamas O exame deve ser realizado pelo enfermeiro a fim de identificar alterações clínicas nas mamas. A inspeção pretende identificar sinais de câncer de mama. Seus sinais precoces são: achatamentos dos contornos, abaulamentos ou espessamentos da pele das mamas. É importante o examinador comparar as mamas para identificar grandes assimetrias e diferenças na cor da pele, textura, temperatura e padrão de circulação venosa. O acrônimo Breast (em inglês) significa B – massa na mama (breast mass), R – retração (retraction), E – edema (edema), A – linfonodos axilares (axillary nodes), S – ferida no mamilo (scaly nipple) e T – sensibilidade na mama (tender breast) podem ajudar na memorização das etapas na inspeção. Na palpação o enfermeiro deve examinar cada área do tecido mamário e aplicar três níveis de pressão em sequência: leve, média e profunda, correspondendo ao tecido subcutâneo, ao nível intermediário e mais profundamente à parede torácica. Devem‑se realizar movimentos circulares com as polpas digitais do 2º, 3º e 4º dedos da mão como se tivesse contornando as extremidades de uma moeda. A região da aréola e da papila (mamilo) deve ser palpada e não comprimida. De forma geral, os resultados do exame clínico das mamas (ECM) podem ser interpretados de duas formas: normal ou negativo, caso nenhuma anormalidade seja identificada pela inspeção visual e palpação, e anormal, caso achados assimétricos necessitem de avaliação posterior e possível encaminhamento para especialista (referência). 120 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III Mamografia A mamografia é a radiografia da mama que permite a detecção precoce do câncer, por ser capaz de mostrar lesões em fase inicial, muito pequenas (de milímetros) (BRASIL, 2006a). Os laudos mamográficos, denominados de Breast Imaging Reporting and Data System (BI‑RADS), são apresentados levando em consideração a evolução diagnóstica e a recomendação da conduta, não se deve esquecer da história clínica e do exame físico da mulher. No Congresso Americano de Radiologia, em dezembro de 2003, em Chicago, foi divulgada a 4ª edição do BI‑RADS. O BI‑RADS é um trabalho elaborado por membros de vários departamentos do Instituto Nacional do Câncer, de Centros de Controle e Prevenção da Patologia Mamária, da Administração de Alimentos e Drogas, da Associação Médica Americana, do Colégio Americano de Radiologia, do Colégio Americano de Cirurgiões e do Colégio Americano de Patologistas (BRASIL, 2006a). Tratamento do câncer de mama Os tratamentos para o câncer de mamapodem ser: cirúrgico, quimioterápico, radioterápico ou hormonioterápico. Cirurgia A cirurgia poderá ser conservadora ou radical. Será conservadora quando retira apenas uma parte da mama (quadrantectomia) e radical quando retira toda a mama, ou seja, mastectomia (a cirurgia deverá ser complementada pela radioterapia). Quadro 7 – Categoria BI‑RADS, interpretação, risco de câncer de mama e recomendação Categoria BI‑RADS Interpretação Risco de câncer Recomendação 0 Inconclusivo Necessita avaliação adicional. Encaminhar para a unidade de referência. 1 Benigno: as mamas são simétricas e não há massas, distorção arquitetural ou microcalcificações suspeitas presentes. 0,05% Exame de rotina. 2 Benigno: não há evidência mamográfica de malignidade. É uma avaliação normal, mas, é descrito o achado benigno no laudo mamográfico: fibroadenomas; múltiplas calcificações secretórias, lesões que contenham gordura (cistos oleosos, lipomas, galactoceles e densidade mista, hamartoma). 0,05% Exame de rotina (unidade de referência/serviço de ginecologia). 3 Provavelmente benigno Até 2% Seguimento precoce (unidade de referência) 4 Provavelmente suspeito >20% Encaminhar para unidade de referência 121 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER 5 Provavelmente maligno >75% Encaminhar para unidade de referência de alta complexidade 6 Lesão já biopsiada e diagnosticada como maligna, mas não retirada ou tratada. 100% Encaminhar para unidade de referência de alta complexidade. Adaptado de: Brasil (2006a). Quimioterapia É o uso de medicamentos extremamente potentes no tratamento do câncer. Também é usada para completar a cirurgia, podendo começar antes ou após a operação. Ao contrário da cirurgia e da radioterapia, que têm efeito local; a quimioterapia age em todo o corpo, visando evitar a volta do tumor e o aparecimento em outros órgãos. Tem o objetivo de diminuir o tumor. Radioterapia É um tratamento à base de aplicação de radiação direcionada ao tumor ou ao local deste e tem por objetivo, se realizada antes da operação, reduzir o tamanho do tumor, e, se depois da operação, evitar o retorno da doença. A radiação bloqueia o crescimento das células e deve ser utilizada apenas na área afetada. As aplicações duram cerca de 15 minutos e devem ser feitas diariamente, variando de 25 a 30 aplicações. Hormonioterapia (bloqueio da ação estrogênica) Ao examinar o nódulo retirado durante a cirurgia, uma pequena e fina fatia dele é retirada para que nela seja feito um importante exame: o imunohistoquímico ou receptor hormonal. Por meio desse exame, detecta‑se a causa do tumor que pode ser estimulado pelo estrogênio ou pela progesterona. Se a causa do carcinoma for o estrogênio, deve‑se optar pelo tratamento que visa bloquear a ação estrogênica. Papel do enfermeiro na prevenção do câncer de mama Cabe ao enfermeiro que atua na Atenção Básica, realizar as seguintes atividades: • Realizar o exame clínico das mamas e orientar a realização do autoexame pelas próprias mulheres. • Receber resultados e encaminhar aquelas cujo resultado mamográfico ou cujo exame clínico indiquem necessidade de maior investigação para consulta com o médico ginecologista da unidade. • Realizar reuniões educativas sobre câncer, visando à mobilização e conscientização para o cuidado com a própria saúde; à importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama; 122 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III à quebra dos preconceitos; à diminuição do medo da doença e à importância de todas as etapas do processo de detecção precoce. É preciso enfatizar o retorno para a verificação do resultado e dos tratamentos necessários. • Realizar a busca ativa na população‑alvo das mulheres que nunca realizaram o ECM. • Realizar a busca ativa na população‑alvo, para a realização de mamografia. • Realizar a busca ativa das mulheres que apresentaram laudo mamográfico suspeito para malignidade e não retornaram para buscar o resultado. Saiba mais A respeito dos temas tratados, consulte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Controle dos cânceres do colo do útero e da mama. Brasília: Ministério da Saúde, 2006a. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ controle_canceres_colo_utero_mama.pdf>. Acesso em: 4 jul. 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Controle dos cânceres do colo do útero e da mama. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2013a. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/ publicacoes/cab13.pdf>. Acesso em: 4 jul. 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia prático sobre o HPV: Guia de perguntas e respostas para profissional de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: <http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2014/marco/07/ guia‑perguntas‑repostas‑MS‑HPV‑profissionais‑saude2.pdf> Acesso em: 4 jul. 2017. Resumo Nessa unidade foram discutidas as doenças sexualmente transmissíveis, o câncer de colo de útero e de mama e a assistência de enfermagem a fim de prevenir, diagnosticar e tratar essas doenças. As DSTs são consideradas um dos problemas mais comuns de saúde pública no mundo. As síndromes estudadas foram as úlceras, ou seja, sífilis, cancro mole, herpes, donovanose e linfogranuloma venéreo. Com 123 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER relação aos corrimentos vaginais e cervicites, foram estudadas as vaginoses bacterianas, a candidíase, a gonorreia, a clamídia e a tricomoníase. Dentre as verrugas, foi estudado o condiloma causado pelo HPV, que é o principal fator de risco para o câncer de colo de útero. A consulta de enfermagem em ginecologia compreende ações e procedimentos voltados para identificação, diagnóstico e tratamento precoce de doenças do aparelho reprodutivo com foco na prevenção de DST, câncer (de mama e de útero) e orientação sobre planejamento familiar. No atendimento motivado por DST, prevenção do câncer de colo de útero e mama, os profissionais de saúde devem conhecer a anatomia e a fisiologia do trato genital feminino. Nesses casos são recomendados exame clínico e exame genital minuciosos Nesse contexto, o exame especular tem a finalidade de visualizar as partes acessíveis do aparelho genital feminino (colo uterino e vagina). Também possibilita a coleta de material para a colpocitologia oncótica, conhecida também por exame preventivo ou Papanicolau. É o método mais difundido mundialmente para rastreamento de células cancerosas e pré‑cancerosas. Também, é utilizado na detecção de outras alterações, por exemplo, vulvovaginites. Com relação ao câncer de mama, a prevenção está embasada em três componentes: o autoexame, o exame clínico das mamas e a mamografia. E o tratamento pode ser realizado por meio de cirurgia, quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia. Exercícios Questão 1. (FGV 2014, adaptada) Em relação ao exame preventivo do câncer do colo do útero, analise as afirmativas a seguir. I – O exame não deve ser feito no período menstrual, pois a presença de sangue pode prejudicar o diagnóstico citológico. II – A coleta na endocérvice é feita utilizando‑se uma espátula de madeira (tipo espátula de Ayre) do lado que apresenta reentrância, raspando a mucosa em movimento rotativo de 360º em torno de todo o orifício cervical. III – A amostra de fundo de saco vaginal não é recomendada, pois o material coletado é de baixa qualidade para o diagnóstico oncótico. 124 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 Unidade III Assinale a alternativa que contém a(s) afirmativa(s) correta(s): A) I, apenas. B) II, apenas. C) III, apenas. D I e II, apenas. E) I e III, apenas. Respostacorreta: alternativa E. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: o exame deve aguardar o 5º dia após o término da menstruação para não prejudicar o diagnóstico citológico. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: a coleta na endocérvice é feita utilizando uma escova endocervical. III – Afirmativa correta. Justificativa: a amostra de fundo de saco vaginal é recomendada apenas em situações especiais, para mulheres submetidas à histerectomia total. Questão 2. (INSTITUTO AOCP 2014) Sobre o câncer de colo de útero, assinale a alternativa correta. A) Cistos de Naboth são afecções ginecológicas, muitas vezes, relacionados à metaplasia decorrente da injúria cervical causada pelo HPV. B) A parte externa do colo do útero, chamada de ectocérvice, é revestida por um tecido de várias camadas de células cilíndricas produtoras de muco: o epitélio colunar simples. C) As lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau representam as lesões verdadeiramente precursoras do câncer do colo do útero. D) A prevenção primária do câncer do colo do útero está relacionada à realização do exame de citopatologia oncótica. 125 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 9/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA MULHER E) Para fins de rastreamento, o exame citopatológico deve ser iniciado aos 25 anos de idade para as mulheres que já tiveram atividade sexual. Resolução desta questão na plataforma.
Compartilhar