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BIOLOGIA CELULAR: MITOCÔNDRIAS E RESPIRAÇÃO CELULAR 1 Mitocôndrias As mitocôndrias produzem a energia utilizada pela célula, provinda através da quebra das ligações químicas dos alimentos e formação de ATP (molécula que guarda energia), processo chamado de respiração celular. São organelas arredondadas ou alongadas, podendo formar redes; a sua quantidade na é variável (dependem do tipo celular). Localização Presentes no citoplasma com localização intracelular variável (movimentação pela rede de microtúbulos), presente em quase todas as células eucariontes. Morfologia A mitocôndria apresenta duas membranas, uma interna e outra externa; são bicamadas lipídicas com proteínas agregadas. • Membrana externa: é lisa, rica em colesterol, tem a mesma proporção de lipídios e proteínas na sua composição, apresenta as proteínas porinas, que formam poros de passagem de moléculas de até 5 KDaltons • Membrana interna: tem muito mais proteína (80%) que lipídios (20%), forma cristas (reentrâncias que aumentam a área superficial), rica em cardiolipina, que faz a membrana interna ser impermeável à íons. Nessa membrana é onde ocorre o sítio de transporte de elétrons e apresenta o complexo proteico da ATP-sintase. Além disso, ela delimita a matriz mitocondrial, a qual, contém um conteúdo especializado em enzimas para a respiração celular. Entre as duas membranas, há o espaço intermembrana, que é parecido com o citosol, devido à passagem de moléculas do citoplasma pelas porinas. OBS! A quantidade de cristas mitocôndrias são proporcionais à quantidade de respiração aeróbica feita pela mitocôndria. Genoma mitocondrial O genoma mitocondrial apresenta DNA circular e todos os tipos de RNA, que fazem a síntese de algumas proteínas mitocondriais, as quais atuam na fosforilação oxidativa da respiração. O DNA mitocondrial só sintetiza algumas proteínas, pois, quando foi conjugado à célula eucarionte, ela transferiu parte do seu DNA para o núcleo dessa célula, o qual passou a produzir determinadas proteínas para a mitocôndria no citosol celular. As proteínas formadas no citosol que são utilizadas nas mitocôndrias são importadas para dentro dessas organelas por meio de complexos proteicos de translocação de proteínas encontrados nas membranas da mitocôndria, o TIM e o TOM (translocases). As proteínas que precisam ser internalizadas na mitocôndria, após serem sintetizadas, apresentam uma sequência de nucleotídeo, denominado de sinal de endereçamento, bem como têm chaperonas HSP70 associadas, que impedem a enovelação da proteína para facilitar a passagem pelo poro. Assim, a translocase da membrana externa (TOM) identifica o sinal de endereçamento e se alinha com a translocase da membrana interna (TIM), que proporciona o espaço para proteína entrar na matriz mitocondrial. Nesse processo, as chaperonas HSP70 se dissociam da proteína. Ao entrar na matriz, a sequência nucleotídica se associa a chaperonas HSP60, os quais auxiliam na enrolação da proteína. Por fim, proteases retiram o sinal de endereçamento e a proteína está pronta. Biogênese A biogênese (criação de novas mitocôndrias) é feita por meio do crescimento e divisão das organelas preexistentes, por meio do processo de fissão das organelas. Outrossim, as mitocôndrias podem se fundir umas com as outras formando redes para aprimorar a quantidade de produção de energia. Origem das mitocôndrias (Teoria da endossimbiose) A teoria mais aceita para explicar a origem das mitocôndrias é a teoria da endossimbiose. Nela, explicita- BIOLOGIA CELULAR: MITOCÔNDRIAS E RESPIRAÇÃO CELULAR 2 se que existia uma célula eucariótica ancestral que realizava respiração anaeróbica. Essa célula fagocitou uma célula procarionte, que, por algum motivo, escapou dos mecanismos de destruição da célula e, assim, passou a viver harmonicamente dentro da célula ancestral, fazendo a respiração aeróbica. Essa teoria explica a origem das 2 membranas mitocondriais, na qual, a membrana externa da deve ser proveniente do fagossomo criado na hora da fagocitose e a membrana interna é proveniente da própria membrana do procarionte ancestral. Então, a bactéria ganhou proteção e nutrientes, enquanto a célula ganhou o mecanismo um de respiração aeróbica. Fatos que reforçam tal teoria: • Autorreprodução por fissão; • DNA dupla hélice circular, sem íntrons (igual bactérias); • Ribossomos 55S (similar das bactérias); • Inibição de síntese proteica por cloranfenicol, fármaco que faz essa mesma ação nas bactérias que invadem o organismo; • Membrana interna similar a das bactérias (complexos proteicos iguais); • Membrana externa mais sensível a detergentes e ultrassom (similar ao fagossomo de eucariontes). Respiração Celular Processo de ruptura gradual de ligações covalentes de moléculas de compostos orgânicos ricos em energia (glicose e ácidos graxos), em moléculas atuantes como reserva de energia (ATP). Há como produto, também, produção de água e CO2. Se o processo de ruptura dos compostos orgânicos fosse de uma vez, haveria a perda de muita energia em forma de calor, que não seria aproveitado pela célula. A respiração é feita em duas etapas: 1. Glicólise anaeróbica -> citosol 2. Fosforilação oxidativa -> mitocôndrias Glicose anaeróbica C6H12O6 → 2 piruvatos + 2 ATP + 2 NADH Essa etapa é feita com o objetivo de criar o piruvato para fazer a fosforilação oxidativa, pois esse processo não é muito energeticamente favorável. Fosforilação oxidativa Envolve o consumo de O2 e síntese de ATP pela adição de um grupo fosfato ao ADP. Feita em 3 etapas: 1. Produção de acetilcoenzima A 2. Ciclo do ácido cítrico/Ciclo de Krebs/Ciclo dos ácidos tricarboxílicos 3. Sistema Transportador de Elétrons Produção de Acetilcoenzima-A O piruvato, ao entrar na mitocôndria, associa-se a coenzima-a, formando a acetilcoenzima-A. Outra forma de produção de Acetil-CoA é por meio da beta-oxidação de ácidos graxos de cadeia curta ou média. Após isso, a Acetil-CoA entra no ciclo do ácido cítrico. Ciclo do Ácido Cítrico (ou Ciclo de Krebs) Nesse processo há diversas enzimas atuantes presentes na matriz mitocondrial, como as descarboxilases (retiram o C para a formação de CO2), as desidrogenases (fazem a produção de H2 e elétrons). Como produto, temos NADH, FADH2, que são carreadores de elétrons, CO2 e H+. O ciclo de Krebs tem baixo rendimento energético, o seu principal objetivo é a formação dos carreadores de elétrons (e-) que são levados à próxima etapa da respiração. Sistema Transportador de Elétrons Os elétrons são carregados pelos carreadores até a membrana interna mitocondrial, onde tem complexos proteicos, que fazem o transporte de elétrons e o bombeamento de prótons. São 3 complexos proteicos: 1. Complexo NADH-desidrogenase: recebe o elétron trazido do ciclo de Krebs até a Ubiquinona 2. Complexo citocromo c-redutase: recebe o e- da ubiquinona e o leva até o Citocromo c 3. Complexo citocromo c-oxidase: retira o e- do citocromo c e o leva até o O2, que, se juntado com prótons, forma H2O BIOLOGIA CELULAR: MITOCÔNDRIAS E RESPIRAÇÃO CELULAR 3 A medida que o elétron vai sendo transportado entre a cadeia respiratória, há o bombeamento dos prótons da matriz para o espaço intermembrana, onde vão se acumulando. Durante o processo da cadeia respiratória, são formadas Espécies Reativas de Oxigênio (EROS), como o O- e o H2O2, que podem danificar diversos componentes celulares, como o DNA. Quanto mais velha a mitocôndria, mais ocorre a produção de EROS. Os prótons não são dissipados para o citosol pelas porinas da membrana externa devido à 2 fatores, o potencial de membrana (𝛥V) e o gradiente de pH (𝛥pH), que criam uma Força próton-motriz, fazendo com que os prótons fiquem perto da membrana querendo voltar à matriz. O 𝛥pH é a diminuição do pH intermembrana com esses H+ acumulados, o que os faz quererematravessar a membrana para a matriz e regular o pH mais alcalino. Já o 𝛥V é a diferença de potencial de membrana criado (na parte intermembrana fica + e na matriz fica -). OBS! Lembrar que a membrana interna da mitocôndria é impermeável à íons, causado pela cardiolipina, ou seja, os H+ não conseguem atravessar a membrana interna. Portanto, um complexo proteico na membrana interna, chamado de ATP-sintase (ou Corpúsculo Elementar), leva os prótons do espaço intermembrana para a matriz, só que ele utiliza essa energia da Força Próton- Motriz, de maneira geral, para criar ATP. A cada 3 H+ há a síntese de um ATP. O fluxo de prótons pelo carreador (parte da ATP-sintase), faz uma rotação da haste central (energia mecânica), o que leva a uma modificação conformacional de subunidades na cabeça e, assim, faz a formação de ATP. Todo o processo do transporte de e-, bombeamento de prótons e síntese de ATP é denominado Acoplamento Quimiosmótico. Existem determinadas células que suas mitocôndrias também produzem calor; elas fazem isso por meio de grandes quantidades de Termogenina encontradas na membrana interna da mitocôndria. Essa proteína é um canal que permite a passagem dos prótons do espaço intermembrana para a matriz sem a formação de ATP, mas, sim, com a liberação de calor como forma de energia. OBS! Existem compostos que fazem o desacoplamento quimiosmótico, o qual não faz o transporte de e- ocorrer corretamente, levando o organismo à morte. Ex desses compostos: Cianeto e Dinitrofenol Outras funções da mitocôndria • Síntese de hormônio esteróide, produção de pregnenolona na mitocôndria • Desencadeamento de apoptose • Produção de calor em recém-nascidos (termogenina em tecido adiposo multilocular ou marrom) • Ciclo da uréia Defeitos mitocondriais Existem + de 150 doenças humanas associadas à defeitos mitocondriais. Essas doenças são relacionadas à defeitos na cadeia transportadora de elétrons, acometendo, geralmente, tecidos e órgãos que necessitam de muita energia, ex: músculo do coração, sistema nervoso, fígado e rins. Além disso, o consumo de cigarros durante a gestação faz com que ocorra uma diminuição das BIOLOGIA CELULAR: MITOCÔNDRIAS E RESPIRAÇÃO CELULAR 4 atividades das mitocôndrias placentárias, no qual, causa diminuição metabólica da placenta e, logo, pouca nutrição do feto. Mitocôndrias e resposta ao estresse Em situações de estresse do organismo, causado por hormônios, citocinas, HSPs, toxinas e entre outros, essas organelas reagem tentando proteger a célula. Em estresses agudos a mitocôndria faz: • ↑ da biogênese mitocondrial (aumento da fissão) • ↑ da replicação e transcrição do seu DNA • ↑ da produção de ATP • produção controlada de EROS Já em situações de estresse crônico, a mitocôndria faz: • ↓ biogênese/proliferação anormal • ↓ replicação e transcrição do DNA mtc. • ↓ produção de ATP • ↑produção de EROS • Ocorrem mutações, peroxidação lipídica, apoptose ou morte celular. Mitocôndrias e depressão Pessoas com depressão apresentam suas mitocôndrias do SN mais danificadas, bem como maior permeabilidade da sua membrana interna, menor número de cristas mitocondriais, maior produção de EROS e mutações no DNA mitocondrial. Mitocôndrias e obesidade Mulheres com a alimentação muito rica em gordura, apresentam nos ovócitos anormalidades na morfologia mitocondrial, poucas cristas mitocondriais, maior produção de EROS, metabolismo anormal e fibras dos fusos mitóticos anormais. Mitocôndrias e doenças neurodegenerativas Pessoas com Doença de Huntington ou Doença de Parkinson, apresentam mitocôndrias neuronais com maior quantidade de mutações no DNA, alterações na cadeia respiratória e na permeabilidade da membrana mitocondrial.
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