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ROCHA, E.A e MONTEIRO, E.C.B. MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO RECIFE | 2017 ÍNDICE 01 Manifestações Patológicas das Construções em Concreto ...................................... 3 1.2 Fissuração ............................................................................................................ 5 1.3 Ataques Químicos ............................................................................................. 11 1.4 Ataques Físicos ................................................................................................. 17 1.5 Ataques Biológicos ou Biodeterioração ............................................................ 18 01 Manifestações Patológicas das Construções em Concreto Em decorrência do que vem sendo discutido sobre patologia das construções, o meio no qual a construção está inserida, é um definidor do comportamento desta estrutura em relação a sua probabilidade de apresentar defeitos. Uma vez que os fenômenos patológicos estão interligados à ação degradante do ambiente, torna-se necessário uma prática construtiva cada vez mais precisa, onde em todas as fases, desde a concepção e planejamentos até a utilização da estrutura sejam tomadas as devidas precauções. Assim, de acordo com Azevedo (2011), pode-se afirmar que as manifestações patológicas têm suas origens motivadas por falhas ocasionadas durante uma ou mais fases dos processos que permeiam a construção civil, sejam eles provenientes da fase de projeto, execução ou utilização de determinada construção. Tais falhas, por sua vez, são agravadas pela ação de agentes agressivos, cuja atuação dificilmente se dá de forma isolada, mas sim como um conjunto de agentes ligados a uma série de causas. Outro importante aspecto que deve ser considerado e que está atrelado ao desenvolvimento dos fenômenos patológicos em uma construção é a existência ou não de um programa de manutenção predial regular. De maneira mais abrangente, os problemas patológicos exibem sintomas que se apresentam numa escala evolutiva, em que, durante um eventual acompanhamento do sintoma, percebe-se o desenvolvimento do problema de forma a permitir distinção das diferentes causas. Neste caso, quanto mais cedo for a identificação de determinada falha, mas fácil será o tratamento do problema e consequentemente menos oneroso. Em Monteiro (2005) é apresentado a lei de evolução dos custos, conhecida também como Lei de Sitter ou Lei dos Cinco (Figura 1) em que os custos de correção de um problema em uma estrutura de concreto armado crescem segundo uma progressão geométrica de razão cinco, ou seja, quanto mais cedo começa a se recuperar a estrutura, maior será a vida útil da mesma e mais econômico será o processo de recuperação. Diversos estudos, realizados em vários países do mundo, buscaram relacionar a fase da construção civil que mais origina problemas patológicos em estruturas de concreto. Em sua grande maioria as manifestações patológicas de estruturas de concreto surgem na fase de concepção e projeto seguido por aspectos relacionados à execução das estruturas e aos materiais construtivos empregados. Figura 1 - Lei da evolução de custos de Sitter. Fonte: Sitter (1986). Vale salientar que a adoção de determinados materiais de construção sem o devido cuidado, em alguns casos, é condição suficiente para o aparecimento de manifestações patológicas. O concreto, assim como o tijolo e a pedra, são materiais porosos com uma microestrutura caracterizada pela presença de um sistema de poros de várias dimensões através dos quais podem penetrar as substâncias presentes no ambiente. Para Bertoloni (2010), o transporte de substâncias gasosas ou líquidas está frequentemente na base dos fenômenos de degradação desses materiais. Entretanto outros mecanismos também podem atuar de maneira a favorecer o aparecimento dos fenômenos patológicos. A presença de umidade em uma edificação, uma movimentação eventual no terreno, uma sobrecarga adicional na estrutura ou uma nova utilização da edificação (não prevista em projeto) e, principalmente, a execução de reformas nas construções sem a supervisão técnica estão entre alguns dos principais fatores que desencadeiam problemas patológicos nas construções. Vários autores, entre eles Bertolini (2010), Azevedo (2011), Metha e Monteiro (2014), classificam em cinco os principais mecanismos de deterioração que podem ocorrer durante a vida útil de uma estrutura, elencados a seguir: • Fissuração; • Ataques químicos; • Ataques físicos; • Corrosão de armaduras; • Defeitos devido à construção, concepção de projeto e detalhamento. 1.2 Fissuração Em Veloso (2014), a fissuração é o segundo processo patológico mais frequente nas edificações, ficando atrás somente dos problemas de presença de umidade nas estruturas. Segundo a autora supracitada, isto ocorre pela diversidade de causas existentes, que podem provocar as fissuras numa edificação. Thomaz (1989) alerta para três aspectos relevantes que necessitam ser considerados mediante a fissuração dos edifícios. São eles, (i) o comprometimento do desempenho da obra em serviço (estanqueidade à água, durabilidade, isolação acústica, etc.), (ii) o constrangimento psicológico que a fissuração do edifício exerce sobre seus usuários e (iii) o aviso de um eventual estado perigoso para a estrutura. Não necessariamente, a presença de fissuras em estruturas de concreto armado é uma indicação de deficiência de resistência ou funcionamento e não deve ser, em geral, causa para alarme, considerando a possibilidade de fissuração (CASTRO,1994). No entanto é importante salientar que a fissuração das estruturas facilita a entrada de agentes agressivos e, muitas vezes, um problema simples se torna uma anomalia muito mais danosa. De forma simplificada, as fissuras em estruturas de concreto podem ser ocasionadas por tensões oriundas de atuação de sobrecargas ou de movimentações de materiais, dos componentes ou da obra como um todo. Assim, nas edificações as fissuras são provocadas, principalmente por: • Movimentações provocadas por variações térmicas e de umidade; • Atuação de sobrecargas ou concentração de tensões; • Deformabilidade excessiva das estruturas; • Recalques diferenciados das fundações; • Retração de produtos à base de ligantes hidráulicos; • Alterações químicas de materiais de construção. 1.2.1 Fissuras Causadas por Movimentações Térmicas Os elementos e componentes de uma estrutura estão sujeitos a variações de temperatura, sazonais e diárias. Essas variações repercutem em uma variação dimensional dos materiais de construção (dilatação ou contração); os movimentos de dilatação e contração são restringidos pelos diversos vínculos que envolvem os elementos e componentes, desenvolvendo nos materiais tensões que poderão provocar o aparecimento de fissuras. As trincas de origem térmica podem também surgir por movimentações diferenciadas entre componentes de um elemento, entre elementos de um sistema e entre regiões distintas de um mesmo material. O CIBW80/RILEM 71-PSL (1983) explicita que as principais movimentações diferenciadas ocorrem em função de: • Junção de materiais com diferentes coeficientes de dilatação térmica, sujeitos às mesmas variações de temperatura; • Exposição de elementos a diferentes solicitações térmicas naturais; • Gradiente de temperaturas ao longo de um mesmo componente. 1.2.2 Fissuras Causadas por Movimentações Higroscópicas Para Thomaz (1989), as mudanças higroscópicas provocam variações dimensionais nos materiais porosos que integram os elementos e componentes da edificação. Bertolini (2010, p.32) descreve que “em quase todos os fenômenos de degradação físico-química dos materiais, é necessáriaa presença de água”. Freitas, Torres e Guimarães (2008), por sua vez, reafirmam que a umidade constitui uma das principais causas de degradação dos edifícios. Tal afirmação se justifica porque o aumento do teor de umidade provoca uma expansão do material enquanto que a diminuição desse teor provoca uma contração. Os vínculos impedem ou restringem essas movimentações, ocasionando as fissuras nos elementos e componentes do sistema construtivo. A umidade tem acesso aos materiais de construção através de diversas vias, como por exemplo: • Umidade resultante da produção dos componentes; • Umidade proveniente da execução da obra; • Umidade do ar ou proveniente de fenômenos meteorológicos; • Umidade ascensional proveniente dos mecanismos de migração por capilaridade da água no interior dos poros dos materiais de construção. 1.2.3 Fissuras Causadas pela Atuação de Cargas Diretas e Sobrecargas Conforme comentado por Filho e Carmona (2013), os esforços mais comuns e que levam à fissuração devido à esforços externos aplicados são aqueles que produzem tensões de tração, tais como flexão, cisalhamento, punção, torção entre outros. Segundo Thomaz (1989), a ocorrência de fissuras em um determinado elemento estrutural produz uma redistribuição de tensões ao longo do componente fissurado e mesmo nos componentes vizinhos, de maneira que a solicitação externa geralmente acaba sendo absorvida de forma globalizada pela estrutura ou parte dela. O controle de fissuras em projeto é bastante complexo e implicações estruturais sérias não devem ser esperadas de fissuras excedendo marginalmente os limites de norma se a armadura é suficiente e adequadamente colocada, e o cobrimento é compatível com o ambiente onde a estrutura está situada. As principais configurações de fissuras sob efeito de cargas são apresentadas na Figura 2, transcrita do Bulletin d` Information (CEB nº 182, 1989). Quanto às sobrecargas, previstas ou não em projeto, as mesmas podem produzir o fissuramento de componentes de concreto armado sem que isto signifique, necessariamente, a ruptura do componente ou instabilidade da estrutura. No entanto, é sempre bom considerar a incidência de fissuras em uma estrutura de forma a evitar a penetração de agentes. Figura 2 - Fissuras devido a carga imposta. Fonte CEB, (1989) – adaptada. 1.2.4 Fissuras Causadas por Deformabilidade Excessiva de Estruturas de Concreto Armado Vigas e lajes deformam-se naturalmente sob ação do peso próprio, das demais cargas permanentes e acidentais e mesmo sob efeito da retração e da deformação lenta do concreto. Os componentes estruturais admitem flechas que podem não comprometer em nada sua própria estética, a estabilidade e a resistência da construção; tais flechas, entretanto, podem ser incompatíveis com a capacidade de deformação de paredes ou outros componentes que integram os edifícios (THOMAZ, 1989). A NBR 6118 (ABNT, 2014) estipula as máximas flechas permissíveis para vigas e lajes (alínea c, item 4.2.3.1): As flechas medidas a partir do plano que contém os apoios, quando atuarem todas as ações, não ultrapassarão 1/300 do vão teórico, exceto no caso de balanços para os quais não ultrapassarão 1/150 do seu comprimento teórico. O deslocamento causado pelas cargas acidentais não será superior a 1/500 do vão teórico e 1/250 do comprimento teórico dos balanços. Salienta-se a necessidade de maior atenção e cuidado especial ao se verificar a possibilidade de ser atingido o estado de deformação excessiva, evitando as deformações que possam ser prejudiciais à estrutura ou a outras partes da construção. É comum alguns calculistas não darem a devida atenção a este item da Norma, presenciando-se frequentes casos de fissuras em alvenarias provocadas pelas flechas dos componentes estruturais. 1.2.5 Fissuras Causadas pela Retração de Produção à Base de Cimento O fenômeno da retração está associado a deformações em pastas de cimento, argamassas e concretos, sem que haja qualquer tipo de carregamento. De uma forma geral, a principal causa da retração é a perda de água da pasta de cimento (FILHO; CARMONA, 2013). Nesta compreensão o principal mecanismo de retração é a perda de água por evaporação em estado fresco ou endurecido. Thomaz (1989) considera que em função da trabalhabilidade necessária, os concretos e argamassas normalmente são preparados com água em excesso, o que vem acentuar a retração. Na realidade é importante distinguir as três formas mais comuns de retrações que ocorrem em um produto preparado com cimento: • Retração química: a reação química entre o cimento e a água se dá com redução de volume; devido a grandes forças interiores de coesão, a água combinada quimicamente (22 a 32%) sofre uma contração de cerca de 25% de seu volume original; • Retração por secagem: a quantidade excedente de água, empregada na preparação do concreto ou argamassa, permanece livre no interior da massa, evaporando-se posteriormente; tal evaporação gera forças capilares equivalentes a uma compressão isotrópica da massa, produzindo a redução do seu volume; • Retração por carbonatação: a cal hidratada liberada nas reações de hidratação do cimento reage com o gás carbônico presente no ar, formando carbonato de cálcio. Esta reação é acompanhada de uma redução de volume. Os três tipos acima descritos, acontecem com o concreto em seu estado endurecido, ou em seu processo de endurecimento em períodos de tempo relativamente longos. Ainda há um quarto tipo de retração que ocorre quando o concreto está em seu estado fresco. Este se chama retração plástica. Andrade e Silva (2005) afirmam que a perda de água do concreto ainda não endurecido ocorre devido à exposição de sua superfície às intempéries como vento, baixa umidade relativa e aumento da temperatura ambiente que podem levar o concreto à fissuração. Desse modo, a retração plástica é consequência da evaporação da água da superfície exposta do concreto. Este tipo de retração está ligado ao fenômeno da exsudação, ou seja, se a evaporação da água da superfície for mais rápida do que a exsudação, podem ocorrer fissuras superficiais, de pequena profundidade e normalmente espaçadas de 0,30 a 1,0mm. As fissuras provenientes de retração térmica se interceptam segundo ângulos aproximadamente retos, podendo dar origem a uma rede reticular formada por um grande número de fissuras com profundidade elevada que abrem caminho para a percolação da água e consequentemente deterioração do concreto (SANTOS; BITTENCOURT; GRAÇA, 2011). 1.2.6 Fissuras Causadas por Alterações Químicas dos Materiais de Construção Os materiais de construção são susceptíveis de deterioração pela ação de substâncias químicas, principalmente as soluções ácidas e alguns tipos de álcool. A seguir serão enfocados três tipos de alterações químicas que se manifestam com frequência relativa: • Retração retardada de cales: Segundo Santos, Bittencourt e Graça (2011), no caso de fabricação de componentes ou elementos com cales mal hidratadas, se por qualquer motivo ocorrer uma umidificação do componente ao longo de sua vida útil, haverá a tendência de que os óxidos livres venham a hidratar-se, apresentando, em consequência, um aumento do volume de aproximadamente 100%. Em função da intensidade dessa expansão poderão surgir fissuras que ocorrerão preferencialmente nas proximidades do topo da parede, onde são menores os esforços de compressão oriundos do seu peso próprio; • Ataque por sulfatos: O aluminato tricálcico, um constituinte normal dos cimentos, pode reagir com sulfatos em solução formando um composto denominado sulfoaluminato tricálcico ou etringita, sendo que esta reação é acompanhada de grande expansão (METHA; MONTEIRO, 2014). Para que esta reação ocorra é necessária a presença de cimento, de águae de sulfatos solúveis. Os sulfatos poderão provir de diversas fontes, como o solo, águas contaminadas ou mesmo componentes cerâmicos constituídos por argila com altos teores de sais solúveis; • Corrosão de armaduras: Quando há corrosão das armaduras no interior do concreto, os óxidos que se formam são expansivos, gerando grandes tensões. Isto provoca o rompimento do concreto, com o aparecimento de fissuras e lascamento do concreto ao longo da armadura. 1.3 Ataques Químicos A degradação do concreto por ataque químico é, comumente, um resultado de ataque sobre a matriz do cimento mais que sobre os agregados. A permeabilidade do concreto, caracterizada pela existência de poros, e a presença de fluídos agressivos são fatores determinantes nos efeitos dos ataques químicos. Estes podem ocorrer em duas formas: dissolução, que é a lavagem de componentes solúveis, e expansão, devido à formação/cristalização dos componentes (CASTRO, 1994). Segundo Almeida e Sales (2014), os ataques químicos mais comuns são: • Eflorescência: São manchas ocasionadas geralmente pela precipitação de carbonato de cálcio (CaCO3) na superfície do concreto, devido à evaporação da água que contém o hidróxido de cálcio; • Ataque por sulfatos: É uma reação que consiste na formação de etringita (trisulfoaluminato de cálcio hidratado) a partir da reação de íons sulfatos com aluminatos de cálcio hidratado de cimento e /ou a alumina reativa dos agregados. Este composto é muito expansivo e produz desagregação de toda a massa, com perdas de resistência notáveis; • Ataque por ácidos: A penetração dos ácidos causa a decomposição de produtos de hidratação do cimento formando outros elementos que, se forem solúveis, podem ser lixiviados e, se insolúveis, podem expandir no próprio local onde se formam. O resultado deste ataque é a redução da capacidade aglomerante da pasta de cimento provocando a desagregação do concreto; • Ataque por água do mar – Contém os sais, cloretos e nitratos; com cátions (Al, Fe, Mg) formam bases insolúveis e de baixa alcalinidade. Não interferem no aumento da porosidade da pasta, mas reduzem o seu pH, sendo prejudiciais à estabilidade dos silicatos de cálcio hidratados e à corrosão das armaduras. 1.3.1 Íons Cloretos De acordo com Figueiredo (2011), nas edificações a maior preocupação quanto ao ataque químico nas estruturas é através da névoa salina com alto teor de íons cloretos que se infiltram nas estruturas provocando corrosão das armaduras ou outras anomalias. A ação desta névoa salina é intensificada pela proximidade com mares e oceanos. Neste caso as edificações presentes próximas às zonas litorâneas podem apresentar uma quantidade elevada de íons cloreto em sua estrutura. 1.3.2 Eflorescências A eflorescência pode aparecer nas peças de concreto após dias, semanas ou mesmo meses. São depósitos salinos que se formam na superfície, resultantes da migração e posterior evaporação de soluções aquosas salinizadas, deixando assim formações salinas na superfície dos materiais (LANNES, 2011). Na maior parte dos casos as eflorescências não causam problemas maiores que o mau aspecto resultante, mas há circunstâncias em que o sal formado pode levar a lesões tais como o descolamento dos revestimentos ou pinturas, a desagregação das paredes e até a queda de elementos construtivos. Os sais solúveis que dão origem às eflorescências podem ter várias origens, dentre elas as matérias-primas, os materiais de construção, a água existente no subsolo, etc. Na maioria dos casos as eflorescências em materiais de construção são causadas por sais de cálcio, de sódio, de potássio, de magnésio ou de ferro, raramente por outros. E também na maioria dos casos esses sais já fazem parte integrante do material de construção que, ao ser atravessado pela umidade, os dissolve na água (VERÇOZA, 1991). A eflorescência é um processo natural em que a água, tendo entrado pelos poros capilares, dissolve o hidróxido de cálcio da pasta de cimento. O hidróxido de cálcio dissolvido pode, em seguida, reagir com o dióxido de carbono do ar para formar carbonato de cálcio insolúvel na superfície do concreto. Visto que um filme de água normalmente também está presente na superfície do concreto, na maioria dos casos toda a superfície ficará coberta por carbonato de cálcio, que são as manchas. O sal também pode se formar quando a água reúne dois ou mais compostos diferentes que reajam entre si. Para que ocorra a eflorescência há sempre uma constante necessidade de umidade, sendo por isso a sua correção implicar na eliminação da umidade. Na percepção de Verçoza (1991), “raramente o sal pode ser depositado pela atmosfera, devido à presença de indústrias químicas ou situações similares nas proximidades, que lancem produtos químicos no ar. Ou pode ser simplesmente poeira trazida pelo ar”. (p.28-9) Já em Lannes (2011), as eflorescências podem possuir manchas de cor castanhas, ou de ferrugem, que é o tipo de mancha mais comum do concreto armado. Ela aparece quando há pouco recobrimento da armadura, ou quando o concreto é muito poroso, ou quando o aço entra em contato com substâncias oxidantes, como os ácidos inorgânicos. Podem possuir também manchas brancas, com aspecto de nuvem, pulverulentas, geralmente causadas por sulfatos (de sódio, de potássio, cálcio ou magnésio), e que não desagregam dos materiais. A maior lesão é o mau aspecto, a depreciação e descolamento de pinturas, mas nem sempre acontece por que às vezes, a umidade com o sal, atravessa também a pintura. Quando o sal é depositado por atmosferas industriais, ou vem do solo junto com a água de capilaridade, nesse caso a deposição será permanente. Podem ocorrer também manchas de cor branca escorrida, que não são solúveis em água e são muito aderentes, são manchas de carbonato de cálcio, comumente formado pela reação do hidróxido de cálcio (nata de cal) com o gás carbônico do ar. Essas manchas não corroem o material, porém dão um péssimo aspecto e podem causar o descolamento dos revestimentos ou pinturas, porque o sal é mais grosso que os sulfatos. Em decorrência da diversidade de compostos que podem originar o fenômeno da eflorescência, Bauer (2011), sintetiza no Quadro 1 a natureza química das eflorescências relacionando-as com a sua respectiva fonte de origem e solubilidade em água. Quadro 1 – Natureza química das eflorescências. COMPOSIÇÃO QUÍMICA FONTE PROVÁVEL SOLUBILIDADE EM ÁGUA Carbonato de Cálcio Carbonatação da cal lixiviada da argamassa ou concreto e de argamassa de cal não carbonatada. Pouco solúvel Carbonato de Magnésio Carbonatação da cal lixiviada de argamassa de cal não carbonatada. Pouco solúvel Carbonato de Potássio Carbonatação dos hidróxidos alcalinos de cimentos com elevado teor de álcalis Muito solúvel Carbonato de Sódio Carbonatação dos hidróxidos alcalinos de cimentos com elevado teor de álcalis Muito solúvel Hidróxido de Cálcio Cal liberada na hidratação do cimento Solúvel Sulfato de Cálcio Desidratado Hidratação do sulfato de cálcio do tijolo Parcialmente solúvel Sulfato de Magnésio Tijolo, água de amassamento Solúvel Sulfato de Cálcio Tijolo, água de amassamento Parcialmente solúvel Sulfato de Potássio Reação tijolo-cimento, agregados, água de amassamento Muito solúvel Sulfato de Sódio Reação tijolo-cimento, agregados, água de amassamento Muito solúvel Cloreto de Cálcio Água de amassamento Muito solúvel Cloreto de Magnésio Água de amassamento Muito solúvel Nitrato de Potássio Solo adubado ou contaminado Muito solúvel Nitrato de Sódio Solo adubado ou contaminado Muito solúvel Nitrato de Amônia Solo adubado ou contaminado Muito solúvel Cloreto de Alumínio Limpeza com ácido muriático Solúvel Cloreto de Ferro Limpeza com ácido muriático Solúvel Fonte: Bauer (2011). 1.3.3 Corrosão das Armaduras Quando o concretose combina com o cimento, a água, o agregado, e se necessário com aditivos, seus diversos componentes se hidratam formando um conglomerado sólido. O concreto resulta, portanto, em um sólido compacto e denso, porém poroso. A rede de poros permite que o concreto apresente certa permeabilidade aos líquidos e gases. Mesmo que o cobrimento das armaduras seja uma barreira física, esta é permeável, em certa medida, e permite o acesso de elementos agressivos. Helene (2014) considera que a mais generalizada das manifestações patológicas do concreto é a corrosão das armaduras, principalmente em peças de concreto aparente. A corrosão do aço é a sua transformação em Fe (OH)n, onde pode ser o Fe (OH)2 que é o hidróxido ferroso ou hidróxido de ferro II e também pode ser o Fe (OH)3 que é o hidróxido férrico ou hidróxido de ferro III. Este hidróxido é a ferrugem, material fraco e, pulverulento ou escamado, que não tem aderência ou coesão, e aumenta de volume à medida que se forma até alcançar de oito a dez vezes o volume do aço que lhe deu origem. Para este mesmo autor, o fenômeno da corrosão pode ser entendido como a interação destrutiva de um material (no caso o aço do concreto armado) com o meio ambiente, como resultado de ações deletérias de natureza química e eletroquímica, associadas ou não a ações físicas ou mecânicas de deterioração. Basicamente, são dois os processos principais de corrosão que podem sofrer as armaduras de aço para concreto armado: a oxidação e a corrosão propriamente dita. Contudo, Verçoza (1991) afirma que a corrosão química, em geral, é a menos importante no concreto armado, é a corrosão provocada por reações químicas normais. Todos os ácidos inorgânicos (sulfídrico, clorídrico, nítrico, fluorídrico, entre outros) são agentes violentos de corrosão; sendo os mesmos gotejados em aços, os perfuram rapidamente. Havendo a presença de cloretos com a água, formam-se eletrólito com cloro livre que reage com o ferro, formando então a ferrugem. O cloro e cloretos são perigosíssimos para a armadura e também para o concreto, porque a reação é contínua. Estes elementos são muito encontrados em aditivos, já que são aceleradores de pega muito eficientes e rápidos. O cloro também é encontrado na água do mar, em atmosferas e esgotos industriais, em muitos detergentes, etc. Reações semelhantes às do cloro e cloretos sucedem com o enxofre e sulfato, com amônia e nitrato. Ainda de acordo com Helene (2014), a corrosão química pode ocorrer eventualmente sem a penetração de substâncias corrosivas. O aço, ao ar livre, em presença de oxigênio, pode ou não se transformar em ferrugem. Quando bem polido e nas temperaturas ambientes é difícil a corrosão química, a não ser que haja outras substâncias na atmosfera. De acordo com Sousa (2014), não existe uma fronteira fixa entre a corrosão química e a eletroquímica, sendo que, a corrosão eletroquímica localiza-se em pontos que atuam como ânodo, embora logo se generalize. Esse tipo de corrosão apresenta-se principalmente, quando existe heterogeneidade no aço, sejam elas devidas à sua própria natureza, às tensões a que se acha submetido, ao meio em que está, entre outros. A corrosão eletroquímica é a principal causa de deterioração nas armaduras do concreto armado e protendido. No concreto nas primeiras idades e nas demais idades, a armadura está em meio alcalino ideal e, portanto, o aço está em forma passiva. Entretanto, por diversas causas, esta passividade pode desaparecer em pontos localizados (corrosão localizada ou sob tensão); ou desaparecer completamente (corrosão generalizada). Para que haja perda da passividade e se inicie a corrosão do aço é preciso que apareçam causas que possibilitem a criação de correntes elétricas de suficiente diferença de potencial para gerar uma pilha que desencadeie o processo corrosivo. Ainda segundo Sousa (2014), os fatores desencadeadores da corrosão localizada que dão origem a ânodos nos quais se produzem a corrosão, podem ser muito variados. Alguns, às vezes, não originam suficiente diferença de potencial para produzir uma corrosão e esse é o caso da heterogeneidade estrutural criada pelo dobramento de armaduras, ninhos de pedra em contato com barras, diferenças de concentração de pasta ao seu redor, etc.; outros pelo contrário, podem produzir diferenças de potencial suficientemente alta para pôr em perigo a passividade e entre elas pode-se distinguir os cloretos, sulfatos e sulfetos na massa do concreto, entre outros. Quando há corrosão acentuada, o primeiro efeito é o aparecimento de manchas avermelhadas na superfície do concreto. O segundo, e bem mais grave, é consequência da expansão, que pressionando o concreto e, com o tempo, o faz romper ocasionando o descolamento da armadura. 1.4 Ataques Físicos Na compreensão de Sousa, Almeida e Araújo (2014), as causas intrínsecas ao processo de ataques físicos à estrutura são as resultantes da ação da variação da temperatura externa, da insolação, do vento e da água, esta última sob a forma de chuva, gelo e umidade, podendo-se ainda incluir as eventuais solicitações mecânicas ou acidentes ocorridos durante a fase de execução de uma estrutura. Para Almeida e Sales (2014) as principais causas físicas que podem produzir danos importantes no concreto são: • Ações dos ciclos de congelamento/descongelamento: a água ao congelar-se sofre um aumento no seu volume da ordem de 9%. Se ela penetrar nos poros abertos do concreto e os saturar, existirá o perigo de que o incremento de volume de água congelada crie pressões internas no concreto que podem provocar fissuras e escamações. Esse fenômeno dificilmente ocorre no Brasil; • Ação do fogo: a ação do fogo em estruturas de concreto pode provocar diversas transformações que o danificam, podendo ocasionar fissuração e decréscimo da resistência à compressão. No caso do concreto armado, a ação do fogo pode ainda comprometer a resistência à tração das armaduras; • Cristalização de sais nos poros: também conhecido por descamamento por sal, desagregação por sal ou ataque por hidratação de sal; este ataque puramente físico ocorre a partir da penetração de uma solução de sais hidratáveis na estrutura. Os danos típicos causados por esta ação podem ser constatados em monumentos históricos de pedra ou rocha; • Erosão por abrasão: a erosão por abrasão, em geral, ocorre por forte contato e atrito de corpos ou partículas rígidas com a superfície do concreto. A abrasão pode ser motivada pela passagem de veículos, deslocamento de material solto sobre canalizações, etc. também pode ser motivada por ações de partículas pesadas suspensas na água e circulando com grande velocidade, como ocorre em canalizações e estruturas marinhas, etc. 1.5 Ataques Biológicos ou Biodeterioração As principais anomalias oriundas da biodeterioração são o bolor, o mofo e o limo que representam manifestações patológicas decorrentes da colonização por diversas populações de bactérias, fungos filamentosos e micro vegetais que se alimentam de materiais orgânicos formando manchas sobre a superfície atacada. Verçoza (1991) salienta que o bolor e o mofo são manifestações ocasionadas por um tipo de microvegetais, os fungos. Entretanto, há também outros microorganismos, como as bactérias e algas microscópicas que provocam o mesmo efeito que os fungos, contudo a diferenciação deve ser feita por meio de investigações em laboratórios biológicos. Já o limo, é uma película esverdeada formada por colônias de algas ou microalgas que se depositam sobre a superfície do material. Estes agentes não atacam diretamente o substrato, no entanto, causam um mau aspecto diminuindo a estética da edificação. Quando presentes em grandes quantidades na estrutura podem causar o desagregamento lento das argamassas pela pressão de suas raízes. Conforme descrito por Guerra, Cunha e Silva(2012), o aparecimento destas anomalias é muito comum em edificações que apresentam pouca iluminação natural, ausência de ventilação e ou ventilação ineficaz nos cômodos e umidade elevada (pontos sem água corrente) produzindo o ambiente perfeito para o desenvolvimento e proliferação dos mofos. Outro aspecto relacionado à biodeterioração dos materiais e igualmente relevante, refere-se a ação de excrementos de animais, especialmente aves. Urina e fezes destes animais são bastante ácidas e podem promover a degradação generalizada de argamassas e rochas. Além do mais, tais dejetos em demasia, oferecem riscos biológicos para os seres humanos. Bencke (2007) alerta para o perigo biológico que os pombos domésticos representam para as edificações e, principalmente, para a sociedade. Segundo sua análise, os pombos transmitem doenças mortais aos homens e podem ser provocadas tanto por fungos existentes em suas fezes secas, como por bactérias presentes em seus organismos. Em virtude desta preocupação, foram criados diversos mecanismos que dificultam a presença dessas aves nas estruturas das edificações. A Figura a seguir apresenta alguns destes mecanismos de proteção. Figura 3 – Medidas que inibem a presença de pombos nas fachadas das edificações. (a) Redução da área de pouso pelo uso de arames ou fios de nylon. (b) Hastes pontiagudas tipo “porco espinho” colocadas em locais altos. (c) Uso de telas uniformes. Fonte: (a) e (b) Bencke (2007) e (c) Beck (2003). REFERÊNCIAS ALMEIDA, F. C. R.; SALES, A. 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