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Victoria Karoline Libório Cardoso Sarampo, Kawasaki e Varicela Sarampo Introdução É uma doença infecciosa, contagiosa, causada por vírus e rara nos primeiros anos de vida. Está relacionada a uma alta morbimortalidade, principalmente se a criança for desnutrida, menor de 1 ano e com baixa condição socioeconômica. Locais de infecção do vírus: vias aéreas, tecido pulmonar e linfócitos T e B. Ag. etiológico: vírus de RNA Morbillivirus. Obs: o sarampo é uma doença de notificação compulsória. No caso de suspeita: ● Notificar a secretaria municipal de saúde em 24h. ● Investigar em até 48h. ● Coleta de sangue para sorologia e de material para isolamento e identificação viral no 1° contato com o paciente. ● Vacina de bloqueio: vacinar os contatos suscetíveis em até 72h. Transmissão Ocorre por: contato direto com gotículas infecciosas ou por via aérea (respiração, tosse e espirros). Período de transmissibilidade: desde 5 dias antes até 5 dias depois que a erupção cutânea desaparece. Período de maior transmissibilidade: desde 48h antes até 48h depois do início do exantema. Período de incubação: 11 dias. Quadro clínico Características: febre, tosse, coriza e conjuntivite seguidas de: ● Ainda no período prodrômico: (1-2 dias antes do exantema) manchas de Koplik. ● Após 3-5 dias: exantema eritematoso maculopapular de progressão crânio-caudal, começando atrás das orelhas e na linha do cabelo; em seguida, se espalha para o resto do corpo, braços e pernas; possui distribuição centrípeta, que não poupa a região palmo-plantar. ● Após 3-4 dias do exantema: diminuição da temperatura, caso não haja infecção bacteriana secundária. ● 5-6 dias do aparecimento do exantema: a erupção desaparece, seguida por descoloração transitória da pele e descamação Victoria Karoline Libório Cardoso fina - descamação fufurácea. Fase de convalescença: melhora dos sintomas e presença de descamação furfúrcia do exantema. ● A tosse é o último sintoma que desaparece. Complicações: ● Grupo de risco: crianças < 5 anos, adultos > 20 anos, gestantes e pacientes imunodeprimidos, como por exemplo, portadores de leucemia e pacientes que vivem com HIV/AIDS. ○ Otite média aguda, broncopneumon., laringotraqueobr onquite e diarreia. ● 7-10 anos após a infecção pelo vírus: Panencefalite Esclerosante Subaguda (PESA) - doença degenerativa do sistema nervoso central, caracterizada por deterioração comportamental, cognitiva e intelectual e crises convulsivas. ● Febre 4 dias após o exantema: sinal de alerta. Diagnóstico e tratamento Caso suspeito: todo indivíduo que, independente da idade e situação vacinal, apresentar febre e exantema maculopapular, acompanhados de tosse e/ou coriza e/ou conjuntivite. No caso de suspeita, internar o paciente: isolamento respiratório até o 5° dia do início do exantema. Diagnóstico: clínico, sorologia para sarampo (com IgM elevado), isolamento do vírus do sarampo, ou a detecção de RNAv por PCR em amostras de urina, sangue e secreção de oro/nasofaringe. ● Os anticorpos IgM costumam permanecer detectáveis por pelo menos 1 mês após o aparecimento do exantema. ● Existe a possibilidade de resultados falso - negativos nos primeiros dias após o aparecimento do exantema e em pacientes que previamente receberam a vacina de sarampo. Tratamento: apenas sintomático, reposição de vitamina A e não existe antiviral. Assistência terapêutica: oferta abundante de líquidos; antitérmicos contra a febre; soro fisiológico para limpeza ocular; antimicrobianos nos casos de infecções secundárias (exemplo: otite média, pneumonias e conjuntivites). Profilaxia Imunização: ● Tríplice Viral (sarampo, caxumba e rubéola) aos 12 meses. ● Tetra Viral (Tríplice + varicela) aos 15 meses. Bloqueio vacinal seletivo: vizinhos e familiares nas primeiras 72 horas após o contágio. Pacientes com as duas doses comprovadas não precisam de vacinação. Gestantes e imunodeprimidos: verifica-se o cartão vacinal de ambos; ● Gestante sem as 2 vacinas: dar a imunoglobulina. ○ A gestante não é vacinada de forma alguma. ● Imunodeprimidos sem as duas vacinas: mandar para o CRIE para avaliação da necessidade de imunoglobulina. ● Imunoglobulina humana: apenas até 6 dias após o contágio. Bebês < 6 meses em contato com o sarampo: encaminhar para o CRIE. Victoria Karoline Libório Cardoso Bebê > 6 meses em contato com o sarampo: faz-se a vacina de bloqueio, o que não impede que ele tome a tríplice e a tetra viral depois com 12 e 15 meses, respectivamente. Kawasaki Introdução Trata-se de uma vasculite sistêmica, aguda e autolimitada, que acomete vasos de médio calibre. Características principais: febre alta prolongada e risco de anormalidades coronarianas. ● É a principal cardiopatia adquirida na infância. Ag. etiológico: desconhecido. Incidência: vasculite primária comum na infância (85% em < 5 ano, com pico entre 9 e 12 meses e discreto predomínio no sexo masculino). Obs: pouco frequente em crianças menores de 6 meses e maiores de 8 anos. Quando isso ocorre, há maior chance de formação de aneurismas coronarianos. Fisiopatologia Ocorre a partir de uma resposta imune patológica a agentes ambientais ou infecciosos. Lesão coronariana: ocorre em 25% dos casos não tratados. Quadro clínico Principais sinais e sintomas: febre e adenite cervical sem respostas a antibióticos. 3 fases clínicas: aguda, subaguda e de convalescência. Obs: manifestações sugestivas de infecção de vias aéreas superiores (como tosse) ou gastrointestinais (como dor abdominal e diarreia), não exclui Kawasaki. Fase aguda Duração: 1-2 semanas, mas sem tratamento se estende de 3-4 semanas. Obrigatoriamente: febre alta (39-40°C), persistente e com duração > 5 dias. Há também elevação da atividade inflamatória. Provas inflamatórias: velocidade de hemossedimentação eritrocitária (VHS), proteína C reativa (PCR), leucocitose e neutrofilia. O 1° dia de febre é o 1° dia da doença, mas alguns pacientes relatam algumas manifestações antes da febre. ● Não cessa com antibióticos, mas melhora parcialmente com antipiréticos. Sintomas seguintes: ● Alterações da cavidade oral (90% dos casos): ressecamento, fissuras, hiperemias labiais e/ou da orofaringe e papilas linguais (língua em morango). Não ocorrem: aftas, úlceras ou exsudato. ● Hiperemia conjuntival bilateral: (85% dos casos) predominantemente bulbar, poupa o limbo (área ao redor da íris), pode durar 1 mês. ● Linfonodomegalia: cervical e unilateral. ● Alteração de extremidades: (70% dos casos) intensa hiperemia palmar e/ou plantar e edema de dorso de mãos/pés. Victoria Karoline Libório Cardoso ● Exantema polimorfo: (80-90% dos casos) sem vesículas, surge nos primeiros 5 dias de febre. ○ Predomínio: tronco e períneo. ● Poliartrite de pequenas articulações. ● Possíveis alterações de aparelho urinário: uretrite, proteinúria e piúria estéril. ● Possíveis alterações do trato gastrintestinal: insuficiência hepática, colestase, pancreatite e hidropsia de vesícula biliar. ● Possíveis alterações cardiovasculares: miocardite, derrame pericárdico, arritmias, acometimento valvar mitral e/ou aórtico e insuficiência cardíaca. ● Possíveis acometimento do sistema nervoso: meningite asséptica, irritabilidade, convulsão, ataxia, acometimento de pares cranianos (paralisia facial e periférica), hipoacusia neurossensorial e secreção inapropriada de ADH. Fase subaguda Início: 7 a 10 dias do início dadoença, quando a febre, o rash e a linfadenopatia são resolvidos. Duração: + 4 semanas. Sintomas: ● Descamação perineal e periungueal, ectasias ou aneurismas coronarianas e trombocitose. ● Poliartrite: oligoartrite de grandes articulações. ● Formação das linhas de Beau nas unhas afetadas (1-2 meses após o início da doença). ● Maior risco de morte súbita no que nas outras fases. Fase de convalescência Início: 6-8 semanas após o início da doença/ quadro febril. Ocorre a normalização da VHS, do PCR, da contagem de plaquetas e regressão da maioria dos aneurismas Complicações Principal: comprometimento coronariano, com aparecimento de aneurismas. ● Com o tratamento adequado (até 10 dias do aparecimento dos sintomas) o risco de compromet. coronariano diminui 80%. Síndrome hemofagocítica: febre persistente, citopenia, hepatoesplenomeg. e disfunção hepática. Diagnóstico Diagnóstico clínico, seguindo um critério mandatório de pelo menos 5 dias, associado a 4 dos seguintes itens: ● Alteração de lábios e cavidade oral: eritema, fissuras labiais, hiperemia difusa de mucosa orofaríngea e/ou “língua em framboesa / morango”. Victoria Karoline Libório Cardoso ● Hiperemia conjuntival: bilateral, bulbar e sem exsudato. ● Alteração de extremidades: edema de dorso de mãos/pés, eritema palmar ou plantar na fase aguda e/ou descamação periungueal da área perineal na fase subaguda. ● Exantema polimorfo. ● Linfadenopatia cervical > 1,5 cm, geralmente unilateral. Kawasaki atípico/incompleto: quando não há preenchimento de todos os critérios. Leva-se essa hipótese em consideração quando o paciente apresenta febre inexplicada por mais de 5 dias, associada a 2 ou 3 dos outros achados clínicos - principalmente crianças < 6 meses. Suspeita de Kawasaki: febre prolongada + ● 4 critérios da classificação. ● Elevação de VHS ou PCR. ● Lactentes com irritabilidade inexplicada ou meningite asséptica. ● Exantema e provas de atividade inflamatória elevada. ● Ecocardiograma com sinais de coronariopatia. ● Adenite cervical não responsiva à antibioticoterapia. ● Choque inexplicado ou com culturas negativas. Obs: desconfia-se de Kawasaki mesmo na presença de infecção documentada, se houver critérios clínicos típicos. Diagnósticos diferenciais Todas as doenças febris agudas com exantema, linfadenite e alterações de mucosas como: ● Infecções bacterianas: escarlatina, meningite, endocardite, adenite bacteriana, síndrome do choque tóxico estreptocócico ou estafilocócico). ● Infecções virais: mononucleose, adenovirose, enterovirose, arboviroses e sarampo. ● Farmacodermia e outras vasculites de vasos de médio calibre (como a poliarterite nodosa). Exames laboratoriais Não são específicos, mas são achados laboratoriais que auxiliam no diagnóstico. ● VHS >40mm/ 1ª hora. ● PCR > 3mg/dL; ● Plaquetas > 450.000/mm3 (após 7 dias de doença); ● Anemia; leucocitose > 15.000/mm3; ● TGP > 50U/L; ● Albumina < 3g/dL; ● Piúria estéril; ● Hiponatremia; ● ECG - dimensões coronarianas por meio do Z-escore > 2,5 ao ecocardiograma. ● Radiografia de tórax pode revelar infiltrado pulmonar, congestão pulmonar, aumento de área cardíaca e serosite. Tratamento Fase aguda - início no momento do diagnóstico: ● Imunoglobulina humana intravenosa - até o 10° dia de febre ou enquanto houver febre e elevação de VHS ou PCR. ● Antiinflamatório: AAS - redução do risco de aneurismas. ● Clopidogrel - caso não possa usar o AAS. ● Metilprednisolona intravenosa até a resolução da febre eem Victoria Karoline Libório Cardoso seguida prednisolona oral. Casos persistentes: febre persistente ou recorrente - repete-se a dose de imunoglobulina. Obs: todas as vacinações com vírus vivos atenuados (sarampo, rubéola, caxumba e varicela) devem ser prorrogadas por, pelo menos, 11 meses. Prognóstico Depende principalmente das alterações coronarianas e seu calibre - quanto menor calibre do aneurisma, maior a chance de normalização. fatores de mau prognóstico: ● Sexo masculino. ● 6 meses > idade > 8 anos. ● Febre persistente, hipoalbuminemia, anemia. ● Leucocitose > 15.000/mm3. ● Neutrófilos > 80%. ● Trombocitopenia. ● Atividade inflamatória elevada por mais de um mês. ● PCR ≥ 10mg/dL. ● TGO > 80 a 100 U/L. ● Hiponatremia Varicela Introdução Infecção viral altamente contagiosa que causa uma irritação cutânea com bolhas. Ag. etiológico: vírus Varicella zoster. A varicela é a infecção primária, enquanto o herpes zóster é a reativação do vírus que havia permanecido latente em um gânglio sensorial. Doença benigna da infância, que se complica a partir da adolescência (aqui o tratamento já é com aciclovir). Período de incubação: varia de 10 a 21 dias, mas, na maioria dos casos, 0 intervalo fica entre 14 e 16 dias. ● Em pacientes que fizeram uso de imunização passiva, o período pode prolongar até 28 dias. Após a infecção, há imunidade por toda a vida - novos episódios após outra infecção são muito raros. Caracterização: exantema papulovesicular de distribuição centrípeta (cabeça-tronco) e com polimorfismo das lesões (mácula, pápula, vesícula e crosta). Quadro clínico Período prodrômico: de 1 a 2 dias, com sintomas inespecíficos: ● Febre. ● Mal-estar. Pode haver: parestesia e dor 4-5 dias antes do aparecimento das lesões cutâneas. Obs: esse período prodrômico pode não aparecer nas crianças, tendo a febre concomitante ao aparecimento do exantema. Sinais e sintomas: ● Febre baixa. ● Exantema polimorfo na pele, primeiro na face e couro cabeludo, disseminando para o tronco - na 1° semana da doença. ○ As lesões iniciais são máculo eritematosas que evoluem em 8-48h, progredindo para vesículas e crostas. ○ Há então, a presença de lesões em todos os estágios (mácula, pápula, vesícula, pústula e crosta). Victoria Karoline Libório Cardoso ○ Após 5-20 dias as crostas costumam desprender-se e caem, deixando uma cicatriz superficial. ○ Local das lesões: cabeça, tronco, membros, mucosa oral, conjuntiva, ducto auditivo e genitália. ● Prurido nas lesões. Sobre as lesões: são eritematosas isoladas, de coloração vermelho-vivo ou violácea, ligeiramente salientes, que evoluem para vesículas em cachos, distribuindo-se de forma alongada, em placas de limites irregulares, mas bem delimitados. Complicações: Ocorrem principalmente em pessoas de grupo de risco: indivíduos com neoplasias, imunocomprometidos, gestantes e recém-nascidos. Complicação mais frequente: pneumonites e infecções bacterianas secundárias das lesões, principalmente Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes. Crianças imunodeprimidas ou com doença cutânea prévia (eczemas, queimaduras): pode ocorrer fasciíte necrotizante (na região genital - síndrome de Fournier), varicela hemorrágica ou púrpura fulminante. Complicações no SNC: meningite asséptica, encefalite, mielite transversa, síndrome de Guillain-Barré, síndrome de Reye e neuropatia periférica. Infecções complicadas Infecção na gravidez: ● Infecção primária até o 2º trimestre: pode aumentar o risco de varicela congênita. ● Infecç. no 3º trimestre: pode causar pneumonia materna e que pode ser letal se não tratada adequadamente. Síndrome da varicela fetal/ congênita: pode causar anomalias congênitas em 12% dos fetos infectados. Varicela neonatal: a gravidade da doença no recém-nascido é maior quando a doença materna teve início 5 dias antes ou 48 horas após o parto, com letalidade de até35%. ● Pode cursar com hemorragias, comprometimento pulmonar e hepático no recém-nascido. Pacientes imunodeprimidos: quase sempre é muito grave, com principal evolução para a forma hemorrágica da doença. ● Complicações viscerais: pulmões, fígado, pâncreas e cérebro. Diagnóstico É essencialmente clínico e epidemiológico. Quadro clínico clássico: exantema papulovesiculoso, com polimorfismo regional, de evolução rápida, com distribuição centrípeta e acometimento de mucosa oral. Epidemio: contato prévio com outra pessoa com varicela. Obs: a viremia pode ser detectada 5 dias antes do rash e até 4 dias após. Exames complementares: Obs: deve-se realizar 2 coletas de sangue: a primeira logo após o aparecimento dos primeiros sintomas e a segunda na fase de convalescença (cerca de 10 a 14 dias depois). ● PCR: demonstra a presença do vírus em líquido vesicular, secreções respiratórias, Victoria Karoline Libório Cardoso esfregaço de orofaringe e LCR. ● Fase aguda: pode-se confirmar com IgM. ○ Teste sorológico para varicela. Tratamento Deve-se ter cuidados gerais para evitar infecções bacterianas secundárias e usar sintomáticos para alívio dos sintomas (agentes antipruriginosos, como loção de calamina e anti-histamínicos). Obs: o AAS é contraindicado por aumentar o risco de síndrome de Reye. Para todas as idades: uso de sintomáticos. Pacientes > 13 anos: aciclovir oral. ● Venoso para pacientes imunodeprimidos, varicela progressiva e recém-nascidos. Profilaxia Imunização: ● Tetra Viral: 15 meses. ● Vacina após contato: até 72 horas em gestantes e recém-nascidos que fizeram o uso de imunoglobulinas. Isolamento: até que todas as lesões estejam em formato de crosta. Contactantes: isolamento de grávidas, por poder causar a síndrome da varicela congênita (1° ou 2° trimestre da gestação - lesões cicatriciais na pele do bebê, hipoplasia, equinovarismo, ausência ou alteração dos dedos, manifestações neurológicas e oftalmológicas no bebê).
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