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TGP - Acesso à justiça - texto para fichamento

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Acesso à justiça: entraves e desafios 
 
 
Antônio Hilário Aquilera Urquiza
1 
 
 
 
RESUMO: O acesso à justiça é um direito garantido na Constituição da 
República Federativa do Brasil de 1988- CRFB/88. É regulamentado pela 
norma de Direito Processual. O presente trabalho tem por escopo estudar o 
conceito e evolução histórica do acesso à justiça, e os possíveis obstáculos 
para efetivar esse direito. Para a consecução dos objetivos propostos utilizou-
se a pesquisa exploratória e a revisão bibliográfica para elaboração do 
presente artigo. 
Palavras-chave:Acesso à justiça. Resolução de conflitos. 
ABSTRACT: Access to justice is a right guaranteed in the Constitution of the 
Federative Republic of Brazil of 1988 - CRFB / 88. is regulated by the norm of 
procedural law. This paper aims to study the concept and historical evolution of 
access to justice, and the possible obstacles to the realization of this right. In 
order to achieve the proposed objectives, it was used the exploratory research 
and bibliographic review to elaborate the present article. 
Keywords:Access to justice. Conflict resolution. 
INTRODUÇÃO 
Na esfera internacional, o acesso à justiça está previsto na Convenção 
Interamenricana de Direitos Humanos: “Toda pessoa tem direito de ser ouvida, 
com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou 
tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por 
lei, na apuração de qualquer acusação penal contra ela, ou para que se 
determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou 
de qualquer natureza” (Artigo 8º, 1 da Convenção Interamericana sobre 
Direitos Humanos - São José da Costa Rica). 
O acesso à justiça, no ordenamento jurídico brasileiro, está previsto no 
artigo 5º, XXXV da Constituição da República Federativa do Brasil 
(CRFB/1988) que diz: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário 
 
1
 Faculdade de Ciências Humanas (FACH), professor de Antropologia da Pós-graduação em 
Direito (área de concentração em Direitos HUmanos) e da Pós-graduação em Antropologia. 
Pesquisador PQ2 (CNPq). E-mail: hilarioaguilera@gmail.com 
lesão ou ameaça de direito.” Pode ser chamado também de princípio da 
inafastabilidade do controle jurisdicional ou princípio do direito de ação. 
Interpretando-se a letra da lei, isto significa que todos têm acesso à 
justiça para postular tutela jurisdicional preventiva ou reparatória relativa a um 
direito. Verifica-se que o princípio contempla não só direitos individuais, como 
também os difusos e coletivos, além de que a Constituição achou por bem 
tutelar não só a lesão a direito, como também a ameaça de lesão, englobando 
aí a tutela preventiva (NERY JÚNIOR, 1999). 
Pode-se confundir o princípio do acesso à justiça com o direito de 
petição consagrado no mesmo artigo, inciso XXIV, alínea “a” da Constituição. 
Mas o que diferencia um princípio do outro é que no princípio garantidor do 
acesso a justiça é onde há a necessidade de se vir a juízo pleitear a tutela 
jurisdicional, haja vista se tratar de direito pessoal, ou seja, é preciso que se 
tenha interesse processual, preenchendo assim a condição da ação. (BRASIL, 
1988). 
Por outro lado, para o direito de petição não é necessário que o 
peticionário tenha sofrido gravame pessoal ou lesão em seu direito, porque se 
caracteriza como direito de participação política, onde figura o interesse geral 
no cumprimento da ordem jurídica. 
Não se configuram ofensa ao princípio do acesso à justiça os casos de 
extinção do processo sem julgamento de mérito, caso não estejam presentes 
as condições da ação. 
Deste princípio decorre ainda outro consagrado no inciso LXXIV, do 
mesmo artigo da Constituição, que garante a assistência jurídica gratuita e 
integral aos necessitados. Observe-se que o termo assistência judiciária da 
Constituição anterior foi substituído pelo termo assistência jurídica, que é 
gênero daquela espécie por ser mais amplo e abranger a consultoria e 
atividade jurídica extrajudicial. (BRASIL, 1988) 
A garantia do acesso à justiça não significa dizer que o processo deva 
ser gratuito. 
Dentro de uma visão axiológica de justiça, o acesso a ela não fica 
reduzido o acesso ao judiciário e suas instituições, mas sim a uma ordem de 
valores e direitos fundamentais para o ser humano, não restritos ao sistema 
jurídico processual. 
Kazuo Watanabe aborda o tema com muita propriedade: “A 
problemática do acesso à Justiça não pode ser estudada nos acanhados 
limites dos órgãos judiciais já existentes. Não se trata apenas de possibilitar o 
acesso à Justiça enquanto instituição estatal, e sim de viabilizar o acesso à 
ordem jurídica justa” (WATANABE, 1988). 
Em sendo a garantia de acesso efetivo à máquina jurídica e judiciária 
talvez um dos maiores mecanismos de luta para a realização da ordem jurídica 
justa, e assim, efetivar o exercício da cidadania plena. 
De outra maneira, vendo de uma ótica mais ampla, o acesso à justiça 
deve também ser visto como movimento transformador, e uma nova forma de 
conceber o jurídico, enxergando-o a partir de uma perspectiva cidadã. Tendo a 
justiça social como premissa básica para o acesso à justiça. 
 
ACESSO À JUSTIÇA 
 
Os conceitos de Direito e Justiça se entrelaçam de tal forma, que são 
considerados como sendo uma só coisa pela consciência social. Isso ocorre 
devido à ideia de Justiça que envolve valores intrínsecos ao ser humano, como 
a igualdade, liberdade, fraternidade, equidade, honestidade, moralidade, 
dignidade e segurança, ou seja, tudo aquilo que tem sido intitulado de direito 
natural desde a antiguidade. Já o Direito é uma invenção humana, trata-se de 
um fenômeno histórico e cultural criado para ser utilizado como técnica de 
pacificação social e para a realização da justiça. Portanto, entende-se que a 
Justiça é um sistema aberto de valores, em frequente mutação. Enquanto o 
Direito é um agrupamento de princípios e regras destinadas a realizá-la 
(CAVALIERI FILHO, 2002). 
Pitágoras definiu justiça como igualdade, e afirmou que esta deveria 
ocorrer na troca. Posteriormente, Aristóteles introduziu uma distinção, 
sustentando que existe uma justiça que se aplica especialmente nas 
contratações, e necessita que haja uma equivalência entre as prestações dos 
contraentes; e que existe ainda uma outra justiça, que considera a dignidade, 
ou seja, o mérito das pessoas, e exige um tratamento diferenciado, em 
correspondência e na proporção do mérito delas (VECCHIO, 1966). 
Para Dalazen (1990), a Justiça ainda pode ser entendida sob o sentido 
subjetivo e objetivo. No sentido subjetivo a Justiça é encarada como um 
sentimento, “vista como hábito bom e, como tal indicativa de uma vontade ou 
virtude do Homem”. Essa concepção de Justiça como hábito do homem foi a 
que prevaleceu na antiguidade clássica e na Filosofia e na Teologia da Idade 
Média. Contudo, modernamente, utiliza-se a palavra Justiça em sentido 
objetivo, como sendo ideia ou norma. 
De acordo com Brasil (2014, p. 37), “não é hiperbólico dizer que a 
justiça é a primeira virtude das instituições, e também a mais buscada entre os 
homens”. Entretanto, apesar de ambos a desejarem, eles acabam se afastando 
do caminho que precisam seguir para obtê-la. As instituições, por meio de seus 
agentes, sobretudo dos juízes, submetem os homens às suas normas e leis, 
porém, estas nem sempre exprimem o bem, a igualdade ou a justiça que 
desejam difundir. 
As organizações Estatais primitivas, por sua vez, eram fracas e 
desenvolviam poucas atividades, restringindo-se aex estabelecer os direitos, 
mas sem oferecer formas para que os detentores destes pudessem 
experimentá-los através da atividade estatal (ARAÚJO, 2009). 
Após a comprovação da ineficácia da justiça privada e o fortalecimento 
do Estado, foi instituída a Justiça Pública, que passou a exercer, com 
monopólio,não apenas a definição do direito, mas também a aplicação deste 
aos que se recusassem a cumprir as leis de forma espontânea (ARAÚJO, 
2009). 
Para desempenho dessa função “estabeleceu-se a jurisdição, como o 
poder que toca ao Estado, entre as suas atividades soberanas, de formular e 
fazer atuar praticamente a regra jurídica concreta que, por força do direito 
vigente, disciplina determinada situação jurídica” (THEODORO JÚNIOR, 2014, 
p. 253/254). 
Mas nesse momento não houve a preocupação do Estado em propiciar 
formas que possibilitassem aos que recorressem à Justiça, o exercício pleno 
dos seus direitos para que pudessem defendê-los de forma eficaz, restringindo 
os procedimentos a regular o direito individual no aspecto formal, consistente 
no direito de propor ou contestar as ações (ARAÚJO, 2009, p. 2). 
Conforme Cappelletti e Garth (1998, p. 9): 
 
[...] a justiça, como outros bens, no sistema do laissez-faire, só podia 
ser obtida por aqueles que pudessem enfrentar seus custos; aqueles 
que não pudessem fazê-lo eram considerados os únicos 
responsáveis por sua sorte. O acesso formal, mas não efetivo à 
justiça, correspondia à igualdade, apenas formal, mas não efetiva. 
Essa atitude formalística, que tinha por característica a passividade do 
Estado e a visão individualista, refletiu nas declarações dos direitos do homem 
e do cidadão, e prevaleceu nos séculos XVIII e XIX. Entretanto, com o 
desenvolvimento da sociedade, com a modificação do conceito de direitos 
humanos e com a coletivização das ações e relacionamentos, iniciaram-se 
movimentos pelo reconhecimento dos direitos sociais (ARAÚJO, 2009). 
Segundo Cappelletti e Garth (1998), os novos direitos humanos, dos 
quais cita como exemplo o preâmbulo da Constituição Francesa de 1946, que 
previa direitos garantidos nas modernas constituições, como direito ao trabalho, 
à saúde, à segurança material e à educação, trouxeram a necessidade de 
ampliação do acesso à justiça, provocando ação positiva do Estado no sentido 
de assegurar o gozo dos direitos sociais básicos. 
Desde então, o direito efetivo ao acesso à justiça tem sido reconhecido 
com destaque entre os novos direitos, vez que a titularidade deles perde o 
sentido se não houver meios compatíveis para que ocorra a sua reivindicação 
(ARAÚJO, 2009). 
Nesse sentido, Capelletti e Garth (1998, p. 9) afirmam que: 
 
[...] a expressão “acesso à justiça” é reconhecidamente de difícil 
definição, mas serve para determinar duas finalidades básicas do 
sistema jurídico – o sistema pelo qual as pessoas podem reivindicar 
seus direitos e/ou resolver seus litígios sob os auspícios do Estado 
que, primeiro deve ser realmente acessível a todos; segundo ele deve 
produzir resultados que sejam individual e socialmente justos. 
 
O acesso à justiça, portanto, vai além da possibilidade de que tem o 
povo em usufruir os serviços do Poder Judiciário, “significa: sobretudo um 
compromisso de superar os obstáculos que impedem ou dificultam que grande 
parcela da população tenha acesso a uma ordem jurídica justa” 
(CAVALCANTE, 2011, p. 15). 
De acordo com Cavalcante (2011, p. 15) “o acesso a uma ordem 
jurídica justa está intrinsecamente atrelado à questão da cidadania, sobretudo 
porque o direito de acesso à justiça é um direito garantidor de outros direitos e 
uma maneira de assegurar efetividade aos direitos de cidadania”. 
Porém, não basta a mera declaração de um direito no texto legal, para 
que ele possa ser concretizado, o cidadão deve ter a certeza e a segurança de 
que poderá dele usufruir, e de que terá à sua disposição mecanismos capazes 
de compelir e submeter à ordem legal, todos que de forma injustificada 
tentarem impedi-lo de exercer seus direitos e garantias, tais mecanismos, por 
sua vez, se consubstanciam no acesso à justiça (CAVALCANTE, 2011). 
Nesse diapasão, “o acesso à justiça pode, portanto, ser encarado como 
requisito fundamental – o mais básico dos direitos humanos – de um sistema 
jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas proclamar os 
direitos de todos” (CAPPELLETTI; GARTH, 1998, p. 12). 
Logo, entende-se que devem ser disponibilizada à sociedade 
condições mínimas para que tenha seus direitos garantidos. Não basta que o 
Estado apenas crie alternativas para garantir o acesso à justiça, é necessário 
que esse direito tenha efetividade na prática. 
Assim sendo, o acesso à justiça é um direito que transcende o acesso 
aos tribunais e está atrelado a tutela jurisdicional efetiva e o acesso a uma 
ordem jurídica justa, cujas decisões possuam de fato aplicabilidade. 
 
EVOLUÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA NO BRASIL 
 
Conforme Sadek (2009, p. 175), o “acesso à justiça significa a 
possibilidade de lançar mão de canais encarregados de reconhecer direitos, de 
procurar instituições voltadas para a solução pacífica de ameaças ou de 
impedimentos a direitos”. 
Os direitos e garantias de acesso à justiça, positivados nas modernas 
Constituições e Tratados, foram se desenvolvendo à medida que os direitos e 
garantias fundamentais e o direito político à cidadania se impunham por meio 
dos movimentos políticos e sociais no ocidente (OLIVEIRA, 2016). 
A evolução do direito de acesso à justiça no Brasil, no entanto, ocorreu 
de forma paulatina. Entre a época do descobrimento até os séculos XVII e XVIII 
não acontecia nada de relevante relacionado ao direito de acesso à justiça no 
Brasil. Destarte, “enquanto os países europeus consolidavam o direito de 
acesso à justiça no sistema laissez-faire – mesmo considerando como mero 
direito civil, individual e formal – o Brasil não apresentava nenhuma evolução 
significativa desse direito” (BEDIN; SPENGLER, 2013, p. 137). 
No período do Império, o acesso à justiça, no formato atual, não existiu. 
Fortemente centralista, a Constituição de 1824 instituiu o poder moderador 
pertencente ao Imperador. Posteriormente, com a queda do Império, 
ocasionada, especialmente pela crise econômica e política vivida no País e 
com a Proclamação da República em 1889, tornou-se necessária a elaboração 
de uma nova Constituição, o que ocorreu em 1891 (ARAÚJO, 2009). 
Mais adiante, vê-se que a Constituição de 1934 traz inovações na 
esfera trabalhista, com a questão do salário mínimo e o sindicalismo, criando 
uma justiça própria do trabalho (ARAÚJO, 2009). 
Outras inovações importantes trazidas pela Constituição de 1934 foi a 
criação da ação popular e da assistência judiciária para os necessitados, com a 
isenção de custas, emolumentos, taxas e selos, prevendo, inclusive, a 
obrigação dos Estados e da União no tocante à criação de órgãos especiais 
para essa finalidade (ARAÚJO, 2009). 
A Constituição de 1937 instituiu o Estado Novo, e, ficou marcada por 
apresentar um grande retrocesso, onde o presidente tinha poderes quase 
absolutos. Conforme Araújo (2009, p. 3) “avaliava-se até mesmo se uma 
decisão do Poder Judiciário sobre a inconstitucionalidade de uma lei poderá ou 
não ser revista e tornada sem efeito pelo parlamento”. Houve também a 
extinção da Ação Popular e da Assistência Judiciária (ARAÚJO, 2009). 
A respeito desse período, lembra Silva (2005, p. 84): “Houve ditadura 
pura e simples, com todo o Poder Executivo e Legislativo concentrado nas 
mãos do Presidente da República, que legislava por via de decretos – leis que 
ele próprio aplicava, como órgão do Executivo”. 
Com a redemocratização do País, a Constituição de 1946 ampliou 
significativamente o campo dos direitos sociais. Entretanto, o sistema de 
divisão de poderes foi fortemente afetado pelos atos institucionais, com a 
instauração da ditadura militar (ARAÚJO, 2009). 
Em 1967, houve um fortalecimento do Poder Executivo que introduziu o 
intitulado Estado de Segurança. Em 1968, devido ao Ato Institucional n.º 5, a 
constituição praticamente paralisa seu funcionamento (ARAÚJO, 2009). 
Com exceção do período do Governo Médici, a partir de 1969 a 
ditadurafoi recuando, até ocorrer a revogação dos atos de exceção através da 
Emenda Constitucional n.º 11/78 (ARAÚJO, 2009). 
Em 1981, nasce a tutela no plano da defesa coletiva, com a edição da 
Lei n.º 6.938, que regulava a Política Nacional do Meio Ambiente. Já em 1984, 
com a Lei n.º 7.244, houve o surgimento do Juizado de Pequenas Causas, que 
indubitavelmente veio facilitar o acesso à justiça (ARAÚJO, 2009). 
Em 1985, surge a Ação Civil Pública, disciplinada pela Lei n.º 7.347, 
destinada, neste primeiro momento, em conferir proteção ao meio ambiente, o 
consumidor, e bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e 
paisagístico (ARAÚJO, 2009). 
Em 1988, surge a última Constituição brasileira, responsável por 
consagrar e alargar o âmbito dos direitos fundamentais, individuais e sociais, 
além de criar mecanismos adequados para garanti-los, especialmente no que 
se refere ao acesso à justiça. (ARAÚJO, 2009). 
A CRFB/1988 , em seu artigo 5°, inciso XXXV, garantiu ao cidadão o 
direito à tutela jurisdicional do Estado, ao dispor que “a lei não excluirá da 
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Este preceito da 
inafastabilidade da jurisdição, aliado ao princípio da igualdade, ao princípio da 
dignidade da pessoa humana e do direito ao devido processo legal esteiam o 
direito de acesso à justiça no ordenamento jurídico brasileiro (OLIVEIRA, 
2016). 
Ocorre que o reconhecimento formal de direitos não implica 
diretamente na sua efetivação, provocando, por conseguinte, um 
distanciamento entre a legalidade e a realidade. Como afirma Sadek (2009, 
p.175), “a não coincidência entre o mundo real e o legal adverte para a 
necessidade de se construir mecanismos que garantam a sua aproximação”. 
Concomitante à evolução do Estado Democrático de Direito, este tipo 
de perspectiva puramente declaratória do direito de acesso teve que evoluir 
para amparar as classes populares desprovidas de instrumentos capazes de 
concretizar os direitos individuais e sociais que o Estado pretendia tutelar 
(OLIVEIRA, 2016). 
Todavia, cabe destacar a importância da formalização de direitos, pois 
o fato “das relações concretas não espelharem a igualdade prevista em lei, não 
diminui o valor da legalidade. Ao contrário, indica a existência de um desafio 
assumido pelos grupos sociais quetiveram força política suficiente para conferir 
o estatuto legal para tais direitos” (SADEK, 2009, p. 175). 
Com efeito, a inobservância do dever prescrito nas normas jurídicas 
gera instabilidade social, exigindo a disponibilização de mecanismos aptos a 
resolver a controvérsia e garantir o cumprimento da norma de direito 
substancial (COUTO; TEIXEIRA, 2013). 
Os estudos apontam que o acesso à justiça no Brasil evoluiu 
lentamente, pois aos poucos foi adquirindo mecanismos para sua efetivação, e, 
atualmente sua importância é ímpar no ordenamento jurídico brasileiro, pois se 
apresenta como instrumento garantidor dos demais direitos fundamentais. 
PROBLEMAS QUE INTERFEREM NO ACESSO À JUSTIÇA 
Apesar de elevado a status constitucional a partir de 1988, o acesso à 
justiça ainda encontra barreiras ou obstáculos para sua efetivação. Estes 
obstáculos podem ser caracterizados como sendo de ordem econômica, 
funcional, psicológica e ética. 
Um dos fatores que obstam o efetivo acesso à justiça é o alto custo do 
processo. Esse problema atinge, sobretudo, as camadas de baixa renda, pois 
os valores dispendidos com os honorários periciais, honorários de advogado, 
pagamento de custas judiciais, produção de provas e estadia de testemunhas, 
interferem significativamente no resultado do processo. (OLIVEIRA, 2016). 
O custo do processo também é ainda mais agravado nos sistemas que 
obrigam ao vencido arcar com o ônus da sucumbência. “Nesse caso, a menos 
que o litigante em potencial esteja certo de vencer – o que é fato extremamente 
raro, dadas as normais incertezas do processo – ele deve enfrentar um risco 
ainda maior do que o verificado nos Estados Unidos” (CAPPELLETTI; GARTH, 
1988, p. 17). 
Outro fator relacionado aos problemas econômicos é o 
desaparelhamento do Poder Judiciário, pois a insuficiência material implica na 
perda da qualidade de trabalho de seus serventuários (OLIVEIRA, 2016). 
Quanto ao aspecto funcional, observa-se que no ordenamento jurídico 
brasileiro há certos momentos processuais, em que as partes deparam-se com 
a necessidade de praticar atos inúteis e meramente burocráticos ao processo, 
isso ocorre, segundo Oliveira (2016, p. 9), porque “a estrutura organizacional 
do Judiciário é burocrática e hermética para o povo em geral”. Esses referidos 
atos geram morosidade na conclusão do processo, e consequentemente 
produz descrença na justiça por parte da população. 
O liberalismo e o capitalismo trouxeram a ideia de que tempo é 
dinheiro, de forma que a produtividade de uma atividade seja na medida em 
que mais rápido se realize. Acontece que a tutela jurisdicional, organizada 
numa estrutura burocrática e formalista, não consegue dar uma resposta com a 
rapidez almejada pela sociedade (OLIVEIRA, 2016, p 10). 
O número excessivo de recursos, o excesso de feitos, a falta de 
adoção da tecnologia da informação, e a adoção do formalismo exagerado são 
alguns dos motivos que geram a demora na conclusão do processo 
(OLIVEIRA, 2016). 
Em relação aos aspectos psicológicos, no Brasil, grande parcela da 
população desconhece seus direitos e os meios oferecidos pelo Estado para 
tutelá-los. Somado a isso, “as pessoas de baixa renda sentem-se intimidadas 
diante de determinadas formas de manifestação de poder, temendo, de certa 
forma, os advogados e os membros do Ministério Público e da Magistratura” 
(ARAÚJO, 2009, p. 6). 
A suntuosidade dos espaços jurídicos e sua complexa organização 
interna, juntamente como o caráter intimidatório das salas de audiências e de 
seus respectivos juízes são fatores psicológicos que afastam as pessoas de 
obterem acesso ao Judiciário (OLIVEIRA, 2016). 
Além disso, “a exigência de certos tipos de vestuário para ingresso em 
fóruns e tribunais acaba por confirmar ao cidadão comum que aquele espaço 
onde mora a Justiça não será nunca o lugar em que ele vá reivindicar seus 
direitos com a desenvoltura necessária” (OLIVEIRA, 2016, p. 10). 
Por fim, sob o aspecto ético, segundo Oliveira (2016) devido a cultura 
da corrupção também ter se estendido ao Poder Judiciário, muitos cidadãos 
desacreditam que possa haver um resultado justo, particularmente se um dos 
litigantes pode arcar com propinas e até mesmo influenciar diretamente no 
resultado da decisão do próprio juiz. 
Desse modo, percebe-se que são muitos os obstáculos a serem 
superados para o acesso à justiça tornar-se efetivo, e, esses obstáculos 
envolvem a ausência de recursos financeiros, a burocratização do processo, a 
intimidação das pessoas e a descrença nas decisões judiciais. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Os ativistas do movimento de acesso à justiça que, apesar de não 
estarem ligados por nenhuma organização ou entidade comum, estão 
uniformizados, na busca de construir um sistema jurídico e procedimental mais 
humano, permanecem estudando, pesquisando e promovendo novos meios de 
acessibilidade da justiça, 
As conquistas contabilizadas pelo movimento de acesso à justiça, na 
construção de uma ordem social justa e cidadã, não podem ser, de forma 
alguma, menosprezadas. Entretanto, face à dinâmica do processo social, 
novos direitos surgem a todo instante, além do que muitos daqueles 
proclamados pela modernidade ainda estão sem efetivação. 
Somente a normatização de procedimentos, a criação de espaços 
‘alternativos’ para a resolução de conflitos, o incremento de escritórios de 
assessoria jurídica popular, entre tantas outras conquistas, não superam, 
apesar de minorá-las, as abissais limitações econômicas, culturais e 
psicológicas a que está subjugada a grande maioria da população.A peleja pelo efetivo acesso aos direitos Humanos ultrapassa, e muito, 
o âmbito do jurídico. Somente uma atuação conjunta e progressiva, pautada 
pela pluralidade e pela lógica, poderá enfrentar, e quem sabe vencer, os 
desafios cada vez maiores e mais difíceis que se colocam ao exercício da 
cidadania na ‘pós-modernidade’. 
 
REFERÊNCIAS 
 
ARAÚJO, Luiz Alberto David. COSTA FILHO, Waldir Macieira da.O Estatuto 
da Pessoa Com Deficiência - Epcd (Lei 13.146, De 06.07.2015): Algumas 
Novidades. Disponível em: 
http://www.mp.pa.gov.br/upload/noticia/O%20ESTATUTO%20DA%20PESSOA
%20COM%20DEFICIENCIA%20-%20EPCD.pdf. Acesso em 25 de agosto de 
2017. 
ARAÚJO, Thicianna da Costa Porto. Acesso à Justiça e Efetividade do 
Processo. Disponível em: 
http://revistatema.facisa.edu.br/index.php/revistatema/article/view/17. Acesso 
em: 26 de abril de 2017. 
BEDIN, Gabriel de Lima. SPENGLER, Fabiana Marion. O Direito de Acesso à 
Justiça e as Constituições Brasileiras: Aspectos Históricos. Disponível em: 
http://revistaeletronicardfd.unibrasil.com.br/index.php/rdfd/article/viewFile/512/3
73. Acesso em: 28 de abril de 2018. 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. 
Acesso em 20 de maio de 2018. 
CAPELLETTI, Mauro. GARTH, Bryant. Acesso à Justiça.1ª edição, Porto 
Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1998. 
CAVALCANTE, Tatiana Maria Náufel. Cidadania e Acesso à Justiça. 
Disponível em: 
http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/32195-38277-1-PB.pdf. 
Acesso em: 28 de abril de 2018. 
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Direito, Justiça, Sociedade. Disponível em: 
http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista18/revista18_58.p
df. Acesso em: 26 de abril de 2017. 
FALCÃO, Hellen. Saiba Mais - Processo Judicial Eletrônico. Vídeo disponível 
em: https://www.youtube.com/watch?v=jSeEIkO4Htw. Acesso em 19 de maio 
de 2018. 
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição 
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