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APOSTILA de ANTROPOLOGIA-2

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANTROPOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 ANTROPOLOGIA ....................................................................................................... 3 
1.1 Ideias Pioneiras .................................................................................................. 5 
1.2 Início e Fundadores ............................................................................................ 6 
1.3 Durkheim e Mauss .............................................................................................. 7 
1.4 Principais Representantes ................................................................................ 11 
1.5 Diferença entre Etnografia e Etnologia ............................................................. 16 
1.6 Conceitos gerais de Antropologia ..................................................................... 18 
1.7 A crise da Antropologia ..................................................................................... 30 
1.8 Divisões e campos da antropologia .................................................................. 30 
1.9 Interação da antropologia com outras ciências ................................................. 31 
1.10 Métodos científicos da antropologia ................................................................ 32 
2 CULTURA ................................................................................................................ 34 
2.1 Como se define cultura ..................................................................................... 35 
2.2 Desenvolvimento do conceito de cultura .......................................................... 37 
2.3 Metodologia antropológicas para o estudo da Cultura ...................................... 39 
2.4 Sistema adaptativo e teorias idealistas ............................................................. 40 
2.5 Teorias modernas sobre Cultura ....................................................................... 40 
2.6 Características e operacionalidade da cultura .................................................. 43 
2.7 A construção social do conceito antropológico de cultura ................................ 44 
3 CULTURA E IDENTIDADE ....................................................................................... 45 
3.1 Identidade cultural brasileira ............................................................................. 46 
3.2 Identidade cultural nos pós modernidade ......................................................... 46 
3.3 Identidade e diferenças no universo interconectado ......................................... 47 
3.4 Cultura e patrimônio cultural imaterial ............................................................... 48 
4 ANTROPOLOGIA CULTURAL ................................................................................. 49 
 
 
4.1 Campo da antropologia cultural ........................................................................ 57 
4.2 Antropologia cultural, arqueologia e história ..................................................... 58 
4.3 Conceitos sobre arqueologia ............................................................................ 59 
4.4 Conceito antropológico ..................................................................................... 60 
4.5 A etnologia estruturalista e as invariantes da cultura: o problema com a história
 61 
5 ANTROPOLOGIA E EDUCAÇÃO: OLHARES CRUZADOS E INTERDICIPLINARES
 62 
5.1 Antropologia e educação: um diálogo a ser mais bem explorado ..................... 63 
5.2 Antropologia, estudos culturais e educação ..................................................... 66 
5.3 Método etnográfico? Técnicas de pesquisa etnográfica? ................................. 68 
5.4 A observação direta .......................................................................................... 69 
5.5 As implicações de ser um etnógrafo: a vigilância epistemológica..................... 70 
6 ETNOCENTRISMO, RELATIVISMO E ALTERIDADE ............................................. 71 
6.1 Ideologias etnocentristas .................................................................................. 72 
6.2 Relativismo Cultural .......................................................................................... 73 
6.3 Consequências e repercussões do relativismo cultural .................................... 75 
6.4 Alteridade .......................................................................................................... 77 
7 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ........................................................................................... 79 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 ANTROPOLOGIA 
Antropologia é a ciência que estuda o homem e as implicações e características 
de sua evolução física (Antropologia biológica), social (Antropologia Social), ou 
cultural (Antropologia Cultural). 
 
 
Fonte: grupoescolar.com 
O Homem e suas diversas realidades. Leva em conta todos os aspectos da 
existência humana (geral), biológica e cultural, passado e presente, -atos e artefatos 
e ao mesmo tempo o que é propriamente particular dos grupos humanos. 
É uma disciplina científica, especializada, que estuda o homem como um todo 
(objeto formal), numa abordagem integrada, considerando a vida como uma corrente 
contínua. É interdisciplinar porque dialoga com outras ciências. 
A palavra Antropologia deriva das palavras gregas antropos (humano, ou 
homem) + logos (pensamento ou razão). 
Esta é uma ciência tardia que surgiu, ou se constituiu como disciplina científica, 
em meados do século XIX a partir das descobertas de Darwin e sua teoria 
evolucionista quando se concentrava na elaboração de teorias sobre a evolução do 
homem, sua sociedade e cultura. 
 
 
 
4 
 
O homem não era mais fruto da criação Divina, então os cientistas começaram 
a procurar pela sua origem: o chamado “elo perdido”, que ligaria o homem moderno a 
seus ancestrais hominídeos. Com o tempo o estudo sobre o homem ganhou forma, 
os cientistas começaram a se interessar pelos grupos humanos primitivos e seus 
costumes, cultura e características, passando a entender o homem não mais como 
uma criação de Deus, mas da natureza. 
A Antropologia Biológica, ou física, é tida como uma ciência natural e se ocupa 
da análise de material colhido em escavações ou sítios arqueológicos, estando por 
isso profundamente relacionada com a Arqueologia e a Anatomia. Este ramo da 
Antropologia se ocupa também da observação do comportamento dos macacos e 
símios e das diferenças aparentes entre os seres humanos (epidérmica, pele, cor dos 
olhos, estatura, etc.). 
Já a Antropologia Social é uma ciência social (tal qual a sociologia e a 
psicologia) que estuda as características culturais dos povos (“cultura” é tida aqui 
como a manifestação dos hábitos, rotinas ou costumes de um povo) e a evolução de 
seus costumes, crenças, religiões, relacionamento familiar, manifestações artísticas, 
etc. O que acaba englobando áreas como a linguística, a própria arqueologia e a 
etnologia. 
Os conhecimentos adquiridos por meio da Antropologia (Social, Cultural ou 
Biológica) podem ser aplicados por governos para facilitar o contato com povos 
específicos como os indígenas, quilombolas, através da chamada “Antropologia 
Aplicada”. 
Outros termos associados à Antropologia são: 
 Etnologia 
 Etnografia 
Segundo Claude Lévi-Strauss (1908) ambas não constituem disciplinas 
diferentes da antropologia, apenas concepções ou níveis diferentes do mesmo tipo de 
estudo e, por isso, não deveriam nunca estar dissociadas. Ainda segundo Lévi-
Strauss, a Etnografia seria o correspondente aos primeiros estágios da pesquisa, 
englobando o trabalho de campo e a observação; a Etnologia seria um nível acima, 
mais aprofundado, onde são feitas conclusões mais extensasque não seriam 
possíveis no primeiro momento (síntese), constituindo-se, pois, a Etnografia o passo 
 
5 
 
preliminar à Etnologia. E, por fim, a Antropologia, seria o segundo e último passo da 
síntese, onde são abrangidas as conclusões da Etnografia e Etnologia. 
A Antropologia é a ciência que estuda o homem por inteiro, como um todo, se 
preocupando com os vários aspectos da existência humana. 
1.1 Ideias Pioneiras 
Marcando o período da conquista colonial, no século XIX imigrantes europeus 
povoam a África, Austrália, Índia e Nova Zelândia, servindo como informantes sobre 
essas localidades, então o antropólogo passa a refletir sobre estes povos a partir dos 
dados recebidos dessa rede de informações, nascendo as primeiras obras. 
Com objetivos ambiciosos os estudiosos pioneiros acreditaram estar 
produzindo um “corpus etnográfico da humanidade”, mudando o centro das atenções 
dos indígenas, no século XVIII, para o “primitivo” considerado o ancestral do civilizado, 
propiciando a relação entre a antropologia e o estudo do primitivo o conhecimento 
sobre a origem da humanidade que teria passado das formas simples de organização 
social e de mentalidade para as formas mais complexas que seriam as da sociedade 
“civilizada”. 
Esta é a teoria do Evolucionismo: haveria uma espécie humana idêntica, porém 
com o desenvolvimento técnico, econômico, social e cultural em ritmos desiguais, 
passando pelas mesmas etapas para alcançar o nível final que é o da civilização. 
Um ícone dessa teoria é James Frazer, cuja obra o “Ramo de Ouro” relata 
pesquisas sobre crenças e superstições, retraçando o processo universal que conduz 
por etapas sucessivas da magia à religião, da religião à ciência. 
Estes estudiosos trabalhavam em cima do material recolhido pelos viajantes, 
mas ficavam no escritório, quando faltava documento para exemplificar o que queriam 
reconstituíam através da intuição. Demonstravam etnocentrismo em relação aos 
povos “atrasados”. 
Essa teoria caracterizou-se pela atividade intensa, tendo como mérito colocar 
a universalidade e diversidade das técnicas, instituições, comportamentos e crenças; 
buscou também a unidade da espécie humana e, sobretudo, serviu como teoria 
paradigma que pudesse ser refutada. 
 
6 
 
1.2 Início e Fundadores 
Como a ciência que conhecemos atualmente surgiu no começo do século XX, 
com Franz Boas nos EUA participando da 1ª grande expedição antropológica com 
finalidade científica, para quem Antropologia devia ser rigorosamente científica. 
Boas foi um homem de campo, com ele teórico e observador se reúnem, 
estudou tribos na Colúmbia Britânica, utilizando a pesquisa micro sociológica 
acreditava que tudo deve ser anotado e descrito minuciosamente e que só o 
antropólogo pode elaborar uma teoria científica de micro sociedade, detectando 
através dos diferentes materiais a expressão da unidade cultural; com ele cada 
sociedade adquiriu estatuto de totalidade autônoma; foi o 1º a criticar o evolucionismo 
e a mostrar que costume só tem significado se relacionado com contexto no qual se 
inscreve, por isso também foi o 1º a salientar a necessidade de acesso à língua da 
cultura na qual se trabalha. 
O outro fundador foi Bronislaw Malinowski, criador do método científico 
fundamental na Antropologia, a observação participante, vivendo 4 anos nas Ilhas 
Trobriand estudou aspectos da vida dos melanésios como as práticas econômicas e 
de trocas, relações familiares, religião, mito e poesia. Considerava que a sociedade 
deveria ser estudada enquanto totalidade, tal como funciona no momento no qual é 
observada. 
Sua abordagem era analisar intensiva e continuamente a micro sociedade sem 
se referir a sua história, pois acreditava que o que interessava não é saber como a 
sociedade chegou a ser o que é, mas saber o que é no presente momento através da 
interação dos aspectos constituintes (ou seja, uma sociedade deve ser estudada em 
si, independentemente de seu passado, tal como se apresenta no momento no qual é 
observada). 
Com Malinowski a Antropologia se torna a ciência da alteridade. As sociedades 
de costumes diferentes têm significados e coerência próprios, com sistemas lógicos 
perfeitamente elaborados. Preocupou-se em abrir fronteiras disciplinares, 
considerando que o homem deveria ser estudado articulando o social, biológico e 
psicológico. 
 
 
 
7 
 
Para a teoria do funcionalismo, elaborada por Malinowski, o indivíduo sente 
necessidades e cada cultura vai satisfazê-las criando instituições (econômicas, 
jurídicas, políticas, educativas) para dar resposta coletiva organizada, resultando em 
soluções para atender as necessidades. 
1.3 Durkheim e Mauss 
Boas e Malinowski, nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial, 
fundaram a etnografia. Mas o primeiro, recolhendo com a precisão de um naturalista 
os fatos no campo, não era um teórico. Quanto ao segundo, a parte teórica de suas 
pesquisas é provavelmente, como acabamos de ver, o que há de mais contestável em 
sua obra. A antropologia precisava ainda elaborar instrumentos operacionais que 
permitissem construir um verdadeiro objeto científico. 
É precisamente nisso que se empenharam os pesquisadores franceses dessa 
época, que pertenciam à chamada “escola francesa de sociologia”. Se existe uma 
autonomia do social, ela exige, para alcançar sua elaboração científica, a constituição 
de um quadro teórico, de conceitos e modelos que sejam próprios da investigação do 
social, isto é, independentes tanto da explicação histórica (evolucionismo) ou 
geográfica (difusionismo), quanto da explicação biológica (o funcionalismo de 
Malinowski) ou psicológica (a psicologia clássica e a psicanálise principiante). 
Ora, convém notar desde já – e isso terá consequências essenciais para o 
desenvolvimento contemporâneo de nossa disciplina – que não são de forma alguns 
etnólogos de campo, e sim filósofos e sociólogos – Durkheim e Mauss, de quem 
falaremos agora – que forneceram à antropologia o quadro teórico e os instrumentos 
que lhe faltavam ainda. 
Durkheim, nascido em 1858, o mesmo ano que Boas, mostrou em suas 
primeiras pesquisas preocupações muito distantes das da etnologia, e mais ainda da 
etnografia. Em As Regras do Método Sociológico (1894), ele opõe a “precisão” da 
história “confusão” da etnografia, e se dá como objeto de estudo “as sociedades cujas 
crenças, tradições, hábitos, direito, incorporaram-se em movimentos escritos e 
autênticos”. 
 
 
8 
 
Mas, em As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912), ele revisa seu 
julgamento, considerando que é não apenas importante, mas também necessário 
estender o campo de investigação da sociologia aos materiais recolhidos pelos 
etnólogos nas sociedades primitivas. 
Sua preocupação maior é mostrar que existe uma especificidade do social, e 
que convém consequentemente emancipar a sociologia, ciência dos fenômenos 
sociais, dos outros discursos sobre o homem, e, em especial, do da psicologia. Se 
não nega que a ciência possa progredir por seus confins, considera que na sua época 
é vantajoso para cada disciplina avançar separadamente e construir seu próprio 
objeto. “A causa determinante de um fato social deve ser buscada nos fatos sociais 
anteriores e não nos estados da consciência individual”. 
Durkheim não procura de forma alguma questionar a existência desta, nem a 
pertinência da psicologia. Mas opõe-se às explicações psicológicas do social (sempre 
“falsas”, segundo sua expressão). Assim, por exemplo, a questão da relação do 
homem com o sagrado não poderia ser abordada psicologicamente estudando os 
estados afetivos dos indivíduos, nem mesmo através de alguma psicologia “coletiva”. 
Da mesma forma, que a linguagem, também fenômeno coletivo, não poderia encontrar 
sua explicação na psicologia dos que a falam, sendo absolutamente independente da 
criança que a aprende, é-lhe exterior, a precede e continuará existindo muitotempo 
depois de sua morte. 
Essa irredutibilidade do social aos indivíduos (que é a pedra-de-toque de 
qualquer abordagem sociológica) tem para Durkheim a seguinte consequência: os 
fatos sociais são “coisas” que só podem ser explicados sendo relacionados a outros 
fatos sociais. Assim, a sociologia conquista pela primeira vez sua autonomia ao 
constituir um objeto que lhe é próximo, por assim dizer arrancado ao monopólio das 
explicações históricas, geográficas, psicológicas, biológicas da época. 
Esse pensamento durkheimiano – que, observamos, é tão funcionalista quanto 
o de Malinowski, mas não deve nada ao modelo biológico – vai através de suas novas 
exigências metodológicas, renovar profundamente a epistemologia das ciências 
humanas da primeira metade do século XX, ou, mais exatamente, das ciências sociais 
destinadas a se separar destas. 
 
9 
 
Vai exercer uma influência considerável sobre a pesquisa antropológica, 
particularmente na Inglaterra e evidentemente na França, o país de Durkheim, onde, 
ainda hoje nossa disciplina não se emancipou realmente da sociologia. 
Marcel Mauss (1872-1950) nasceu, como Durkheim, em Epinal, quatorze anos 
após este, de quem é sobrinho. Suas contribuições teóricas respectivas na 
constituição da antropologia moderna são ao mesmo tempo muito próximas e muito 
diferentes. Se Mauss faz, tanto quanto Durkheim, questão de fundar a autonomia do 
social, separa-se muito rapidamente do autor de As Regras do Método Sociológico a 
respeito de dois pontos essenciais: o estatuto que convém atribuir à antropologia, e 
uma exigência epistemológica que hoje qualificaríamos de pluridisciplinar. 
Durkheim considerava os dados recolhidos pelos etnólogos nas sociedades 
“primitivas” sob o ângulo exclusivo da sociologia, da qual a etnologia (ou antropologia) 
era destinada a se tornar um ramo. Mauss vai trabalhar incansavelmente, durante toda 
sua vida (com Paul Rivet), para que esta seja reconhecida como uma ciência 
verdadeira, e não como uma disciplina anexa. Em 1924, escreve que “o lugar da 
sociologia” está “na antropologia” e não o inverso. 
Um dos conceitos maiores forjados por Mareei Mauss e o do fenômeno social 
total, consistindo na integração dos diferentes aspectos (biológico, econômico, 
jurídico, histórico, religioso, estético) constitutivos de uma dada realidade social que 
convém apreender em sua integralidade. Após ter forçosamente dividido um pouco 
exageradamente”, escreve ele, “é preciso que os sociólogos se esforcem em 
recompor o todo”. Ora, prossegue Mauss, os fenômenos sociais são “antes sociais, 
mas também conjuntamente e ao mesmo tempo fisiológicos e psicológicos”. Ou ainda: 
“O simples estudo desse fragmento de nossa vida que é nossa vida em sociedade 
não basta”. Não se pode, ainda, afirmar que todo fenômeno social é também um 
fenômeno mental, da mesma forma que todo fenômeno mental é também um 
fenômeno social, devendo as condutas humanas ser apreendidas em todas as suas 
dimensões, e particularmente em suas dimensões sociológica, histórica e 
psicofisiológica. 
Assim, essa “totalidade folhada”, segundo a palavra de Lévi-Strauss, 
comentador de Mauss (1960), isto é, “formada de uma multitude de planos distintos”, 
só pode ser apreendida na experiência dos indivíduos. Devemos, escreve Mauss, 
“observar o comportamento de seres totais, e não divididos em faculdades”. E a única 
 
10 
 
garantia que podemos ter de que um fenômeno social corresponda à realidade da 
qual procuramos dar conta é que possa ser apreendido na experiência concreta de 
um ser humano, naquilo que tem de único: 
“O que é verdadeiro, não é a oração ou o direito, e sim o melanésio de tal ou 
tal ilha”. 
Não podemos, portanto, alcançar o sentido e a função de uma instituição se 
não formos capazes de reviver sua incidência através de uma consciência individual, 
consciência esta que é parte da instituição e, portanto, do social. Finalmente, para 
compreender um fenômeno social total, é preciso apreendê-lo totalmente, isto é, de 
fora como uma “coisa”, mas também de dentro como uma realidade vivida. 
É preciso compreendê-lo alternadamente tal como o percebe o observador 
estrangeiro (o etnólogo), mas também tal como os atores sociais o vivem. O 
fundamento desse movimento de desdobramento ininterrupto diz respeito à 
especificidade do objeto antropológico. É um objeto de mesma natureza que o sujeito, 
que é ao mesmo tempo – emprestando o vocabulário de Mauss e Durkheim – “coisa” 
e “representação”. Ora, o que caracteriza o modo de conhecimento próprio das 
ciências do homem, é que o observador-sujeito, para compreender seu objeto, 
esforça-se para viver nele mesmo a experiência deste, o que só é possível porque 
esse objeto é, tanto quanto ele, sujeito. 
Trabalhando inicialmente com uma abordagem semelhante à de Durkheim, a 
reflexão da Mauss desembocou, como vemos, em posições muito diferentes. Estamos 
longe do distanciamento sociológico que supõe a metodologia durkheimiana, e 
próximos da prática etnográfica de Malinowski. Este último ponto merece alguns 
comentários. 
Os Argonautas do Pacífico Ocidental, de Malinowski, e o Ensaio sobre o Dom, 
de Mauss, são publicados com um ano de intervalo (o primeiro em 1922, o segundo 
em 1923). As duas obras são muito próximas uma da outra. A segunda supõe o 
conhecimento dos materiais recolhidos pelo etnógrafo. A primeira exige uma teoria 
que será precisamente constituída pelo antropólogo. Os Argonautas são uma 
descrição meticulosa desses grandes circuitos marítimos transportando, nos 
arquipélagos melanésios, colares e pulseiras de conchas: a kula. 
O Ensaio sobre o Dom é uma tentativa de esclarecimento e elaboração da kula, 
através da qual Mauss não apenas visualiza um processo de troca simbólica 
 
11 
 
generalizado, mas também começa a extrair a existência de leis da reciprocidade (o 
dom e o contradom) e da comunicação, que são próprias da cultura em si, e não 
apenas da cultura trobriandesa. Enquanto Os Argonautas, a obra menos teórica de 
Malinowski, evidencia o que Leach chama de “inflexão biológica”, o Ensaio sobre o 
Dom já expressa preocupações estruturais. 
O fato de poder ser abordada de diferentes maneiras, de suscitar interpretações 
múltiplas, ou mesmo vocações diversas, é próprio de toda obra importante, e a obra 
de Mauss está incontestavelmente entre estas. Muitos mestres da antropologia do 
século XX (particularmente Marciel Griaule, fundador da etnografia francesa, Claude 
Lévi-Strauss, pai do estruturalismo, Georges Devereux, fundador da etnopsiquiatria) 
o consideram como seu próprio mestre. Mauss ocupa na França um lugar bastante 
comparável ao de Boas nos Estados Unidos, especialmente para todos os que, 
influenciados por ele, procuraram promover a especificidade e a unidade das ciências 
do homem. 
1.4 Principais Representantes 
Edward Burnett Tylor (1832-1917) - Marca o Evolucionismo. 
 
 
Fonte: pt.wikipedia.org 
 
12 
 
Antropólogo britânico, Sir Edward Burnett Tylor nasceu em 1832. Existem 
poucas referências sobre os primeiros anos de vida de Edward Burnett Tylor. Segundo 
os dados disponíveis, sabe-se que Tylor foi obrigado a deixar os estudos quando tinha 
16 anos para ir trabalhar para a empresa da família e que, por volta dos 23 anos, teve 
de interromper o trabalho devido alguns sintomas de tuberculose. Esta adversidade 
acabou por o levar a viajar pela América e a conhecer, numa dessas suas viagens a 
Cuba, o futuro arqueólogo e etnólogo Henry Christy. O que é fato é que este 
conhecimento teve um papel importante no percurso científico de Tylor, contribuindo 
para que este se interessasse pelos diversos assuntos que dizem respeito ao estudo 
do homem e se tornasse num dos nomes mais prestigiados da Antropologia britânica. 
Sir Edward Tylor tornou-se conservador do Museu Pitt-Rivers, leitor de antropologia 
e, mais tarde, professor de Antropologia na Universidade deOxford. 
A sua importância na Antropologia deve-se sobretudo à obra Primitive Culture, 
publicada em 1871. Nesta obra, Tylor utilizou pela primeira vez um conceito que ficou 
célebre - o conceito de "sobrevivências" bem como uma noção bastante abrangente 
de cultura que é hoje considerada clássica: «A cultura ou civilização, entendida no seu 
sentido etnográfico mais amplo, é o conjunto complexo que inclui o conhecimento, as 
crenças, a arte, a moral, o direito, o costume e toda a demais capacidade ou hábito 
adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade» (Tylor, Primitive 
Culture, 1871). Tylor, baseando-se nas teorias Darwianas da época, defendia a ideia 
de unidade psíquica da espécie humana em que a cultura se desenvolvia de um modo 
progressivo, linear e uniforme. Neste contexto, o desenvolvimento das culturas 
realizava-se por etapas, sendo a Europa a civilização mais avançada. 
Partindo deste pressuposto evolucionista, Tylor tentou demonstrar que o 
aparecimento e desenvolvimento da religião teria atravessado igualmente diversas 
fases, começando pelo animismo, passando por uma fase intermédia de politeísmo e 
terminando no monoteísmo. 
Apesar as teorias evolucionistas propostas por Tylor e outros antropólogos 
estarem hoje ultrapassadas, as suas ideias tiveram uma grande aceitação na época, 
existindo ainda alguns autores contemporâneos que insistem em comparar culturas 
com percursos totalmente distintos e defender hipóteses de teor evolucionista. 
Em 1912, Tylor recebeu o título de Cavaleiro da Coroa Britânica. Faleceu cinco anos 
mais tarde em Sommerset, Inglaterra. Para além de Primitive Culture: Researches 
 
13 
 
Into the Development of Mythology, Philosophy and Religion, Art and Custom (2 
vol.),1871, Sir Edward Burnett Tylor publicou diversas obras das quais se destacam: 
1861, Anahuac; or Mexico and the Mexicans Ancient and Modern 
1865, Researches into the Early History of Mankind and the Development os 
Civilization 1881, Anthropology, an Introduction to the Study of Man and Civilization. 
 
Franz Boas (1858-1942) 
Desenvolve a ideia de que cada cultura tem uma história particular e 
considerava que a difusão de traços culturais acontecia em toda parte. Nasce o 
relativismo cultural, e a antropologia estende a investigação ao trabalho de campo. 
Para Boas, cada cultura estaria associada à sua própria história. Para compreender a 
cultura é preciso reconstruir a sua própria história. Surgia o Culturalismo, também 
conhecido como Particularismo Histórico. Deste movimento surgiria posteriormente a 
escola antropológica da Cultura e Personalidade. 
 
 
Fonte:famousbirthdays.com 
 
 
 
 
14 
 
Bronislaw Malinowski (1884-1942) 
 
 
Fonte: pt.wikipedia.org 
Bronislaw Malinowski (1884-1942) A Antropologia Estrutural nasce na década 
de 40. Centraliza o debate na ideia de que existem regras estruturantes das culturas 
na mente humana, e assume que estas regras constroem pares de oposição para 
organizar o sentindo. 
Para a Antropologia Estrutural as culturas definem-se como sistemas de signos 
partilhados e estruturados por princípios que estabelecem o funcionamento do 
intelecto. E demonstra que as alianças são mais importantes para a estrutura social 
que os laços de sangue. 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
Clifford Geertz 
 
 
Fonte: pt.wikipedia.org 
Clifford Geertz (1926-2006) o antropólogo cujas ideias causaram maior impacto 
na segunda metade do século 20, não apenas no que se refere à própria teoria e à 
prática antropológica, mas também fora de sua área, em disciplinas como a psicologia, 
a história e a teoria literária. Fundador de uma das vertentes da antropologia 
contemporânea - a Antropologia Hermenêutica ou Interpretativa. 
Se desiludiu com a metodologia antropológica, o que o levou a elaborar um 
método novo de análise das informações obtidas entre as sociedades que estudava. 
Sua tese começa defendendo o estudo de "quem as pessoas de determinada 
formação cultural acham que são, o que elas fazem e por que razões elas creem que 
fazem o que fazem". 
Para Geertz, a Antropologia Interpretativa, é a leitura das sociedades enquanto 
textos ou como análogas a textos. A interpretação ocorre em todos os momentos do 
estudo, da leitura do "texto", pleno de significado, que é a sociedade na escrita do 
texto/ensaio do antropólogo, por sua vez interpretado por aqueles que não passaram 
pelas experiências do autor do texto escrito. Todos os elementos da cultura analisada 
devem, portanto, ser entendidos à luz desta textualidade, imanente à realidade 
cultura. 
 
16 
 
Outros movimentos significativos, na história do século XX, para a teoria 
Antropológica foram as escolas Cognitiva, Simbólica e Marxista. 
1.5 Diferença entre Etnografia e Etnologia 
A etnografia, a etnologia e a antropologia constituem os três momentos de uma 
mesma abordagem. A etnografia é a coleta direta, e o mais minucioso possível, dos 
fenômenos que observamos, por uma impregnação duradoura e contínua e um 
processo que se realiza por aproximações sucessivas. A etnologia consiste em um 
primeiro nível de abstração: analisando os materiais colhidos, fazer aparecer a lógica 
específica da sociedade que se estuda. A antropologia, finalmente, consiste em um 
segundo nível de inteligibilidade: construir modelos que permitam comparar as 
sociedades entre si. 
 
PERÍODO DE FORMAÇÃO (... -1835) 
Período que começa com a própria CULTURA da humanidade, isto é, com a 
produção do pensamento da humanidade voltada para a explicação e compreensão 
da existência do homem no universo. 
Nesse sentido, todas as manifestações culturais do homem através dos 
tempos, as mais longínquas que sejam, apresentam-se como contribuições à 
constituição da antropologia, tais como: gravuras, esculturas, desenhos, ferramentas, 
formas de organização social, formas de vida, mesmo quando surgidos na pré-
história. 
 Consideraremos a contribuição greco-romana como catalisadora das 
contribuições anteriores dos assírios, babilônios, egípcios, fenícios, hindus, sumérios, 
etc. 
PERÍODO DE CONVERGÊNCIA (1835 -1869) 
 As várias formulações sobre a sociedade e a cultura surgidas na Europa, 
nos séculos XVIII e XIX, convergem para três objetivos evolucionistas: 
origem, idade e mudança. 
 Dará à antropologia o seu primeiro impulso e ao período que se estende 
até quase o final do século conseguindo a sua unidade. 
 
17 
 
 Houve uma preocupação, de proteger os povos primitivos da sanha 
imperialista de que até então tinham sido vítimas. 
 Preocupação que não era tanto pelos direitos dos nativos, mas refletia o 
medo da extinção daqueles povos ameaçar a própria antropologia. 
Afinal, ali estava o homem como vivera nos estágios inferiores da sua 
evolução. 
 Charles Darwin, a “Origem das Espécies” (1859) 
 A antropologia sistematiza-se como ciência após Darwin ter trazido à luz 
a teoria evolucionista – impulso à antropologia física. 
 
PERÍODO DE CONSTRUÇÃO (1869 – 1900) 
Nesse período é que o evolucionismo alcança o seu apogeu como teoria. É aí 
onde nasce a moderna antropologia. Data que coincide com a publicação da obra de 
seu fundador. 
Seu fundador, o inglês Sir Edward Tylor (1832-1917). Publicou seu livro 
“Primitive Culture”, onde procurou, com a utilização do método comparativo, mostrar 
a evolução pela qual passou a religião através dos tempos e distinguir cultura de raça. 
Propõe o evolucionismo cultural. Tratou o fenômeno da cultura como fenômeno 
humano próprio da espécie humana. Relevância à natureza, ao equipamento 
biopsíquico do homem em oposição à ação histórica. 
 Apresentou a cultura como objeto da antropologia dando-lhe uma 
sistematização tanto no seu objeto como no seu método. Deu-se realce à arqueologia 
e a paleontologia. 
 
PERÍODO DE CRÍTICA (1900 ...) 
 Os cânones iniciais da antropologia foram criticados. 
 Novas abordagens foram propostas. 
 Houve um avançonas outras ciências e nos meios de comunicação. 
 Permitindo a divulgação das ideias e estudos antropológicos. 
 Antropologia passou a ser disciplina obrigatória nas universidades. 
 Reformulação de suas ideias já que seu objeto de estudo até então eram 
os povos primitivos. Perigo de extinção. 
 A realidade sociocultural é analisada pelas diversas ciências. 
 
18 
 
 Antropologia envolve-se com os movimentos nacionalistas da África, 
latino-américa e outros. 
 Descobre a ETNOGRAFIA como seu eixo impulsionador. Escola 
Americana ou Difusionismo. Método histórico-cultural. Franz Boas. 
 A pesquisa de campo (Malinowski) foi o coroamento da formação do 
antropólogo. 
 Escola Funcionalista de Malinowski. 
 Escola Estruturalista de Lévi-Strauss. 
 Novos estudos: culturas do terceiro mundo, aculturação, difusão e meios 
de comunicação sofisticados, estudos de antropologia urbana, folclore, 
etc. 
1.6 Conceitos gerais de Antropologia 
Por mais isoladas entre si que tenham vivido, as diferentes sociedades 
humanas sempre souberam, salvo raríssimas exceções, que além de suas fronteiras 
havia "outros homens": homens que viviam de forma diversa, cuja pele era talvez de 
outra cor, que não adoravam os mesmos deuses, que pensavam de outra maneira. A 
curiosidade de conhecer esses homens e povos "diferentes" motivou o nascimento da 
antropologia, que atualmente não estuda apenas "os outros", mas todos os seres 
humanos. 
 
Definição 
Entre as muitas ciências que têm por objeto o ser humano, a antropologia - 
"ciência do homem", segundo a etimologia - o estuda do ponto de vista das 
características biológicas e culturais dos diversos grupos em que se distribui o gênero 
humano, pesquisando com especial interesse exatamente as diferenças. 
O nascimento da antropologia como ciência ocorreu a partir dos grandes 
descobrimentos realizados por navegadores e viajantes europeus. A curiosidade de 
conhecer povos exóticos, de saber como viviam e pensavam homens de culturas tão 
distantes da europeia, de descobrir que aspecto físico e que costumes tinham, levou 
à classificação e ao estudo dos dados recolhidos in loco - isto é, no lugar de origem - 
por exploradores, comerciantes e missionários chegados àquelas terras longínquas. 
 
19 
 
Os primeiros antropólogos tinham como característica comum a distância do 
objeto de seu estudo, o qual consistia sempre em homens pertencentes a culturas 
distintas da europeia e dela geograficamente afastadas. A moderna antropologia, no 
entanto, estende sua pesquisa às sociedades industriais e até mesmo às grandes 
concentrações urbanas. Mas seus instrumentos de trabalho se foram aos poucos 
delineando justamente no estudo das sociedades "primitivas", mais simples e com um 
processo de mudança menos vertiginoso que o das sociedades modernas. 
Com frequência, os antropólogos do século XIX relacionavam as características 
biológicas dos povos com suas formas culturais. Mais tarde, estabeleceu-se que os 
traços biológicos e os culturais tinham menos ligação entre si do que se acreditara. 
Isso levou a uma primeira subdivisão das ciências antropológicas em antropologia 
física e antropologia cultural, esta última comumente assimilada ao conceito de 
etnologia. 
Desde a segunda metade do século XIX a antropologia cultural começou a ser 
considerada uma ciência humana, com as limitações e ambiguidades próprias dessa 
categoria científica, enquanto a antropologia física continuou desenvolvendo seus 
métodos de trabalho - medição e estabelecimento de correlações entre as medidas 
encontradas - como uma ciência natural. Hoje os dois campos estão totalmente 
diferenciados e poucos são os pesquisadores que trabalham ao mesmo tempo em 
ambos. 
 
Relações com outras ciências 
Duas disciplinas muito relacionadas com a antropologia são a arqueologia pré-
histórica e a linguística. A arqueologia, necessária para conhecer o passado das 
sociedades, pode esclarecer em grande escala seu presente. A terminologia 
arqueológica, anterior à da antropologia, proporcionou a esta última muitos vocábulos 
úteis. 
Por outro lado, a própria antropologia é útil à arqueologia, na medida em que 
estuda ao vivo sociedades muitas vezes semelhantes - por exemplo, no 
desconhecimento dos metais - a outras já desaparecidas, sobre as quais pode lançar 
abundante luz. 
Também a linguística é de grande importância para a antropologia, não só 
porque o conhecimento do idioma se faz necessário ao antropólogo nas pesquisas de 
 
20 
 
campo, isto é, feitas no local de origem, mas também porque muitos conceitos 
elaborados pelos linguistas são fundamentais para a análise de determinados 
aspectos das sociedades: por exemplo, a concepção da sociedade como uma rede 
de comunicação, a análise estrutural ou a forma em que se organiza a experiência 
vital do sujeito de uma comunidade em estudo. 
A sociologia, por sua vez, pode até certo ponto ser considerada uma "irmã 
gêmea" da antropologia. Em princípio, o que distingue as duas ciências é o objeto de 
seu interesse: enquanto o sociólogo se dedica ao estudo das sociedades modernas, 
o antropólogo comumente pesquisa as sociedades primitivas, embora o estudo das 
sociedades coloniais e de seu rápido processo de aculturação e modernização social 
tenha desenvolvido um campo intermediário no qual fica difícil estabelecer os limites 
entre o trabalho sociológico e o trabalho antropológico. Nesse terreno intermediário 
surgiu a chamada antropologia social. 
O desenvolvimento da psicologia permitiu à antropologia cultural utilizar novas 
bases para o estudo da relação entre o indivíduo e a sociedade em que vive, da 
formação da personalidade e de outros aspectos que interessam igualmente às duas 
ciências. A psicanálise, em particular, impulsionou o desenvolvimento do conceito de 
cultura a partir de novas bases. 
A história proporcionou aos antropólogos muitos dados impossíveis de obter 
pela observação direta, assim como a antropologia pôs à disposição dos historiadores 
novos métodos de trabalho, como os que se aplicam à análise da tradição oral. 
Quanto à geografia humana, coincide com a antropologia na importância que 
atribui aos diferentes usos do espaço por parte do homem, à transformação do habitat 
natural etc. Ambas as ciências estão, além disso, relacionadas com a ecologia 
humana. Não é de estranhar que muitos dos primeiros antropólogos tenham vindo do 
campo da geografia. 
 
Evolução histórica e escolas 
A antropologia começou a desenvolver-se especificamente como ciência na 
segunda metade do século XIX, num momento histórico em que as coleções 
etnológicas, antes meras curiosidades de particulares, passavam a constituir 
verdadeiros museus, e em que os conhecimentos da cultura europeia sobre outros 
povos começavam a ser sistematizados e submetidos a revisões metódicas. 
 
21 
 
O aparecimento do darwinismo, com o debate sobre a origem do homem, 
suscitou o início do estudo comparativo das diversas línguas; esse fator e o interesse 
em conhecer a história de outras culturas distanciadas da europeia fizeram convergir 
os esforços dos pesquisadores, até que se aglutinassem numa só ciência - a 
antropologia - as descobertas, os procedimentos, os métodos e os achados de muitas 
outras que, sob ângulos diversos, empreenderam o estudo das sociedades humanas. 
Ao longo de duas décadas, entre 1840 e 1860, apareceram sucessivamente as 
sociedades antropológicas de Londres, dos Estados Unidos e de Paris, as quais 
agrupavam peritos oriundos de variados campos - zoologia, fisiologia, geografia, 
geologia, linguística e outras ciências -, unidos no interesse comum pelo estudo do 
homem. 
 
Antropologia cultural - Evolucionismo cultural. 
Na época histórica de seu aparecimento como ciência, a antropologia sofreu a 
influência da ideia dominante no mundo científico: o evolucionismo, consagrado pela 
publicação de A origem das espécies, deCharles Darwin, em 1859. Por isso, na 
segunda metade do século XIX, a nascente ciência concebeu os diferentes grupos 
humanos como sujeitos em desenvolvimento. As distintas sociedades evoluiriam 
todas na mesma direção, passando por etapas e fases de desenvolvimento e 
diferenciação cultural inevitáveis e escalonadas, seguindo uma transformação que 
levaria do simples ao complexo, do homogêneo ao heterogêneo, do irracional ao 
racional. Para os antropólogos evolucionistas, todos os grupos humanos teriam que 
atravessar necessariamente as mesmas etapas de desenvolvimento, e as diferenças 
que podem ser observadas entre as sociedades contemporâneas seriam apenas 
defasagens temporais, consequência dos ritmos diversos de evolução. 
 
Embora hoje em dia estejam muito superadas as principais teses 
evolucionistas, é considerável a maneira pela qual continuam influenciando a 
linguagem vulgar e o próprio vocabulário especializado da antropologia. Assim, às 
vezes fica difícil ao especialista descrever fenômenos antropológicos sem ter que 
recorrer a vocábulos viciados pelo conteúdo evolucionista que os impregnou durante 
muitos anos. Nesse sentido, a utilização de conceitos como "sociedades primitivas", 
"civilizações evoluídas" etc. pressupõe uma aceitação implícita de seu fundo 
 
22 
 
ideológico evolucionista. Para evitar confusões, muitos antropólogos falam hoje de 
"sociedades de tecnologia simples", ou "sociedades de pequena escala", em oposição 
a "sociedade de tecnologia complexa" ou "sociedades industriais". 
Os mais influentes antropólogos evolucionistas foram o americano Lewis Henry 
Morgan e o inglês Edward B. Tylor. Morgan publicou em 1877 seu estudo Ancient 
Society (A sociedade primitiva), no qual distinguia três etapas por que passaram, ou 
passarão, todas as sociedades humanas: selvajaria, barbárie e civilização, numa 
sequência obrigatória de progresso. De igual forma, estabeleceu vários estágios 
sucessivos para a formação da família, os quais iriam desde a promiscuidade primitiva 
à família bilateral moderna de tipo europeu. 
Tylor, por sua vez, realizou estudos comparativos das manifestações religiosas 
das diferentes sociedades humanas, acreditando, depois disso, poder estabelecer três 
etapas na evolução da ideologia religiosa dos povos: animismo, politeísmo e 
monoteísmo. Embora as teses de Tylor tenham sido amplamente criticadas, suas 
concepções sobre a evolução das religiões continuam presentes na linguagem vulgar. 
O evolucionismo materialista de Morgan influenciou consideravelmente as 
primeiras abordagens marxistas da antropologia. Em particular, foi o caso de Friedrich 
Engels, que escreveu A origem da família, da propriedade privada e do estado 
baseando-se claramente na leitura de Ancient Society. 
A escola evolucionista mostrou-se consideravelmente carregada de 
preconceitos etnocêntricos, o que levou seus representantes a considerarem a 
sociedade europeia como a mais evoluída e a acreditarem que todas as outras 
tenderiam a alcançar a mesma perfeição. Se for levado em conta, além disso, que 
nem sempre se dispunham de conceitos suficientemente diferenciados sobre 
sociedade e raça, compreende-se que a intenção de encaixar as sociedades - e as 
raças - num quadro evolutivo gerasse conclusões precipitadas e errôneas. 
No entanto, em defesa da escola evolucionista é preciso lembrar que a 
antropologia era então uma ciência quase inexistente, cujo desenvolvimento muito se 
beneficiou dos estudos e esforços dos adeptos dessa escola. Quando tais teses 
começaram a ser abandonadas pela maioria dos antropólogos, os métodos e 
procedimentos da nova ciência já estavam encaminhados e ela começava a dar seus 
frutos. 
 
 
23 
 
Evolucionismo Social 
 O Evolucionismo Social, também conhecido como Darwinismo Social ou 
Racismo Científico, surgiu no fim do séc. XIX, introduzindo o conceito de raça inferior 
ou superior. De acordo com Bolsanello (1996), um dos maiores nomes no assunto foi 
o filósofo inglês Herbert Spencer(1820 – 1903), tendo criado a expressão “a 
sobrevivência dos mais aptos”. Pelo evolucionismo social, os seres humanos são tidos 
como desiguais, com aptidões inatas e que podem ser melhores ou piores que outras. 
 Spencer acreditava que o Estado interferia negativamente no processo natural 
de seleção biossociológica das elites ao adotar medidas sociais de apoio aos mais 
pobres. Além disso, apontava que a teoria científica da seleção natural justificaria a 
morte precoce e a presença de poucos descendentes dos mais inferiores ou menos 
aptos. 
 Reforçando a ideia de raças superiores e inferiores, outras ciências tiveram 
influência nesse pensamento. A sociologia aplicou os resultados de testes de animais 
aos homens, justificando a rejeição das minorias pelo “limiar de tolerância”. A 
neurologia e a psicologia usaram os testes de QI e aptidões para analisar indivíduos 
e grupos para classifica-los como inferiores e superiores. Etnologia e antropologia 
concluíram que as características físicas transmissíveis separavam a humanidade em 
raças. A genética hierarquizou e definiu as raças baseada em características 
aparentes como cor da pele, textura do cabelo e formato do crânio. 
 Portanto, o cunho ideológico do Darwinismo Social o aproximou de forma 
rápida de outras ideologias semelhantes, com características eugenistas e racistas, 
sendo uma clara apologia de uma sociedade capitalista. 
 
Difusionismo 
Nos últimos anos do século XIX e nas duas primeiras décadas do século XX, 
os estudos antropológicos foram influenciados por uma tendência oposta ao 
evolucionismo: o difusionismo cultural. Os autores difusionistas estabeleceram a 
premissa de que as diferenças observáveis entre sociedades distintas são irredutíveis 
a simples defasagens numa mesma trilha cultural, paralela e independente. A 
mudança e o progresso culturais se deviam, isto sim, ao fato de algumas sociedades 
se apropriarem de elementos de outras, aperfeiçoando-se dessa maneira. As 
semelhanças entre culturas diversas deviam ser explicadas não por terem 
 
24 
 
atravessado etapas semelhantes de desenvolvimento, como garantiam os 
evolucionistas, mas sim porque, na história das sociedades, estava presente um 
fenômeno de difusão de traços culturais de umas para outras. Esses traços culturais 
teriam nascido em lugares e momentos históricos distanciados entre si, mas teriam 
tido uma progressiva difusão, a partir do lugar de origem, até chegarem a seu estado 
atual. 
Em geral, o pensamento difusionista dá como certo que a novidade cultural é 
extremamente rara, sendo muito mais frequente a relíquia cultural. O enfoque 
histórico, portanto, persiste entre os difusionistas. 
 
Teorias Hiperdifusionistas 
Pouco antes da primeira guerra mundial, um grupo de antropólogos austríacos 
e alemães constituiu a escola de Viena, cujos representantes máximos foram Fritz 
Graebner e o padre Wilhelm Schmidt, autor de uma teoria dos ciclos culturais que 
obteve notoriedade em sua época. A escola de Viena considerava que todas as 
culturas existentes na atualidade descendem, por um processo de difusão, de alguns 
poucos centros nos quais se teriam realizado todas as invenções culturais. 
Mais extremistas que seus colegas germânicos, alguns antropólogos britânicos 
fixaram uma única fonte de todas as culturas: o Antigo Egito. Segundo eles, 
manifestações como as pirâmides das culturas pré-colombianas na América seriam 
uma transcrição das pirâmides egípcias. 
A escola hiperdifusionista, entretanto, perdeu rapidamente o prestígio em favor 
de outras concepções antropológicas mais próximas da realidade concreta. A época 
em que esteve em plena vigência, a concepção difusionista das sociedades foi fértil 
em pesquisas antropológicas de campo. A partir do início do século XX, começou-se 
a considerar que a primeira tarefa do pesquisador era estudar in loco e recolher em 
primeira mão os dados queiria usar para chegar a conclusões. O interesse do 
antropólogo começou a distanciar-se das tendências historicistas e se fixou cada vez 
mais nas sociedades contemporâneas. 
 
Funcionalismo 
O germano-americano Franz Boas, considerado um dos pais da antropologia 
americana do século XX, era um cientista de formação naturalista; por isso, encarou 
 
25 
 
com grande ceticismo tanto as teorias difusionistas como as evolucionistas. Boas 
preferiu a concepção funcionalista de uma cultura; para ele, uma cultura é um conjunto 
unitário que deve ser estudado em sua totalidade, e, composto, como uma máquina, 
de diferentes peças interdependentes. Em seus trabalhos sobre os esquimós, deixou 
bem fundamentada a metodologia do trabalho de campo, atividade a que seus 
discípulos iriam dar especial relevância. O enfoque de Boas, embora funcionalista, 
não deixa de estar matizado pelo historicismo, já que ele sempre se interessou pela 
forma como se haviam desenvolvido no tempo as instituições culturais. 
Depois da primeira guerra mundial, as abordagens históricas das sociedades 
foram perdendo adeptos e a escola funcionalista começou a ganhar relevância. 
Bronislaw Malinowski, seu mais eminente representante, sustentou que o objetivo da 
pesquisa antropológica deve ser a compreensão da totalidade de uma cultura, 
inseparável da percepção da conexão orgânica de todas as suas partes. A 
comparação entre culturas e a abordagem histórica não têm sentido para Malinowski; 
só faz parte de uma cultura aquilo que, no momento em que se estuda, tem nela uma 
função. A única maneira de perceber um elemento de uma cultura é analisar a função 
que tem esse elemento dentro dela. Não se pode compreender uma instituição social 
sem conhecer suas relações com as outras instituições da mesma sociedade. As 
atividades econômicas, o sistema de valores e a organização de uma sociedade 
constituem um complexo inter-relacionado cuja descrição é necessária para que se 
possa estudar adequadamente essa sociedade. 
Dentro da tendência funcionalista, a escola sociológica francesa, encabeçada 
por Emile Durkheim, teve notável influência sobre o pensamento antropológico. Em 
Règles de la méthode sociologique (1895; Regras do método sociológico), Durkheim 
deixou bem estabelecido que, no campo social, existe um aspecto da realidade que 
vai além dos simples comportamentos individuais. É preciso, portanto, estudar os 
fatos sociais como se fossem coisas em si, independentes da consciência dos 
indivíduos que formam a sociedade. 
O intelectualismo analítico e a concepção da sociedade como um todo 
orgânico, como um sistema -características da escola sociológica francesa -, ao lado 
da tradição empirista, que busca fatos - marca das escolas anglo-saxônicas e, em 
parte, da germânica - são talvez as duas bases fundamentais em que se assenta a 
moderna antropologia social. 
 
26 
 
Estruturalismo 
Marcel Mauss, fundador do Instituto de Etnologia da Universidade de Paris, foi 
mestre de toda uma geração de antropólogos europeus. Seu enfoque, em princípio 
funcionalista, conquanto mais centrado na sociedade como um todo indivisível do que 
como uma soma de inter-relações entre indivíduos, deu origem à escola estruturalista. 
Baseando-se em conceitos derivados da matemática formal e da linguística, os 
antropólogos estruturalistas buscaram compreender uma dada sociedade extraindo 
seu modelo estrutural. Os procedimentos estruturalistas demonstraram sua utilidade 
para o conhecimento dos sistemas de parentesco e dos sistemas de mitos. Mas a 
absoluta falta de visão histórica da escola estruturalista e sua análise meramente 
estática da realidade foram amplamente criticadas. 
Alguns dos principais representantes da escola estruturalista foram o britânico Arnold 
R. Radcliffe-Brown e o francês Claude Lévi-Strauss. 
 
Culturalismo 
No período entre as duas guerras mundiais desenvolveu-se, fundamentalmente 
nos Estados Unidos, uma corrente culturalista em antropologia, cuja premissa básica 
era a de que uma dada cultura impõe um determinado modo de pensamento aos 
homens nela inseridos. A cultura condiciona o comportamento psicológico do 
indivíduo, sua maneira de pensar, a forma como percebe seu entorno e como extrai, 
acumula e organiza a informação daí proveniente. Nesse sentido, foram significativos 
os trabalhos de Ruth Benedict, realizados na década de 1930, sobre os índios pueblo 
do sudoeste dos Estados Unidos - os quais, apesar de imersos num meio físico 
semelhante ao das etnias circunvizinhas, raciocinavam de forma muito diferente 
diante de problemas idênticos. 
Margaret Mead analisou principalmente a importância da educação na 
formação da personalidade adulta. Ralph Linton e Abram Kardiner, por sua vez, 
expuseram o conceito de personalidade de base, que consistiria num mínimo 
psicológico comum a todos os membros de uma sociedade. 
 
Outras escolas antropológicas 
Os antropólogos da União Soviética e de outros países socialistas mantiveram 
viva a tradição da antropologia marxista, de raiz evolucionista. Em alguns países 
 
27 
 
ocidentais, especialmente na França, a influência do pensamento marxista se refletiu 
sobretudo em alguns aspectos da chamada antropologia econômica. 
Por outro lado, alguns antropólogos americanos se mantêm fiéis a uma 
concepção evolucionista das culturas, embora matizando-a, referindo-se a ela como 
um evolucionismo multilinear. 
 
Métodos da antropologia cultural 
O antropólogo cultural atua basicamente mediante o trabalho de campo nas 
comunidades que deseja estudar, com frequência durante mais de um ano. Os 
métodos de trabalho são, fundamentalmente, variações em torno de dois 
procedimentos, a entrevista de informantes e a chamada observação participante. Se 
em certas comunidades a maioria de seus membros se dispõe a prestar abundantes 
informações sobre seu modo de vida, em outras o pesquisador tem de se esforçar 
para ganhar a confiança de umas poucas pessoas que concordarão em lhe prestar 
informações. É ainda da maior importância que procure aprender a língua local, para 
ganhar a simpatia dos entrevistados, compreender os comentários e conversas à sua 
volta e captar com precisão o significado social de determinados comportamentos, 
mal expresso quando traduzido. A seguir, o antropólogo tenta entrevistar informantes 
que ocupem distintas posições (profissionais, sociais, econômicas etc.) na 
comunidade e compara as informações fornecidas. 
No entanto, um nativo pode aceitar como "naturais" aspectos de sua cultura 
que são de acentuado interesse para o antropólogo. Por isso, existem muitos aspectos 
a que o pesquisador só pode ter acesso através da "observação participante", a 
participação do pesquisador nas atividades normais da vida comunitária: trabalho 
cotidiano, cerimônias religiosas, ritos de iniciação, atividades de lazer etc. 
Normalmente a observação participante é a maneira mais fácil de perceber a 
complexidade das interações sociais. Além disso, só por meio dela o antropólogo pode 
se dar conta do significado emocional de uma dada atividade humana: uma coisa é 
ouvir a pormenorizada descrição de uma penosa expedição de caça, outra é participar 
pessoalmente dela. 
 
 
 
 
28 
 
Antropologia física 
Como se viu, na segunda metade do século XIX ficou bem clara uma primeira 
diferenciação dos estudos antropológicos entre os que se referiam ao homem como 
ser social e os que o tomavam como objeto de estudo do ponto de vista de suas 
características biológicas. Desde então, a antropologia física se desenvolveu em torno 
de dois objetivos principais: de um lado, o desejo de encontrar o lugar que o homem 
ocupa dentro da classificação animal, e averiguar sua história natural; de outro, a 
intenção de oferecer uma definição inequívoca das diversas categorias em que se 
pode dividir o conjunto do gênero humano, de acordo com as diferenças biológicas 
que os homensapresentam entre si. 
O primeiro desses objetivos se traduziu na tentativa, por parte dos 
pesquisadores, de reconstruir a linha evolutiva que teria vindo dos primatas até o 
homem. Foi essa a tarefa que se popularizou, na segunda metade do século XIX, com 
o nome de "busca do elo perdido". No século XX, a matéria adquiriu um caráter mais 
científico e se vinculou estreitamente com a paleontologia ou estudo dos fósseis. 
Importantes descobertas de "homens-macacos", primeiro na África meridional e 
depois na África oriental, permitiram um conhecimento mais preciso da evolução dos 
hominídeos. Destacaram-se nesses trabalhos antropólogos como os da família 
queniana Le aky (Louis Seymour Blazett e Mary, assim como o filho do casal, Richard) 
e o americano D. C. Johanson. Curiosamente, essa disciplina adquiriu tal importância 
nos países anglo-saxões que, neles, o termo "antropologia" se aplica quase 
exclusivamente a ela, enquanto que, nos países da Europa continental, tais pesquisas 
não costumam ser consideradas propriamente antropológicas e são classificadas 
como uma forma de paleontologia, a qual é vista como um instrumento da outra. 
De qualquer modo, realizaram-se classificações raciais bastante complexas, 
mas que logo demonstrariam sua insuficiência, já que se guiavam basicamente pelo 
critério de dar importância maior aos traços mais visíveis do corpo humano - formato 
do rosto, cor da pele etc. -, que não são necessariamente os traços diferenciadores 
mais importantes. 
Por volta de 1900, desencavaram-se os velhos trabalhos de Gregor Mendel 
sobre a hereditariedade, publicados 35 anos antes, e rapidamente a ciência da 
genética ganhou enorme vigor. Por outro lado, a descoberta dos grupos sanguíneos, 
seguida de muitas outras relativas às características bioquímicas do corpo humano, 
 
29 
 
pôs a descoberto a superficialidade das classificações raciais baseadas nas 
características morfológicas externas. 
 
Antropologia na atualidade 
A principal dificuldade em que se debate a antropologia cultural consiste em 
sua carência de um corpo unificado de conceitos, problema ainda não resolvido. 
Embora lentamente pareça estar-se cristalizando um fundo comum de terminologia, 
de utilização universal e com significado unívoco, é esse o grande obstáculo para que 
a antropologia cultural seja considerada uma verdadeira ciência. 
Outro problema com que se defrontam os antropólogos culturais é o fato de 
estarem desaparecendo as culturas não europeias, ou tradicionais - seu objeto de 
trabalho habitual por mais de um século -, atropeladas pela cultura de caráter europeu, 
hoje convertida em universal. Nesse confronto as sociedades tradicionais ou estão 
morrendo ou sofrendo processos de aculturação e adaptação tão intensos que seria 
difícil reconhecer, nelas, sua realidade primeira. 
Por outro lado, pesquisadores de diversas nacionalidades, e não apenas 
europeus e americanos desenvolvem estudos antropológicos: latino-americanos, 
africanos, indianos, japoneses, entre outros, vieram acrescentar seus pontos de vista 
à discussão geral. 
Um campo de trabalho aberto aos antropólogos culturais nos anos que se 
seguiram à segunda guerra mundial foi o das investigações que conduzem à melhor 
compreensão dos povos do Terceiro Mundo, com o objetivo de facilitar as iniciativas 
governamentais voltadas para o estímulo às mudanças ou para a incorporação das 
sociedades tradicionais ao modo de vida da sociedade industrial. Assim, por exemplo, 
é comum que, ao prepararem uma campanha de alfabetização, os governos ou as 
entidades promotoras contratem os serviços de antropólogos para que realizem 
estudos prévios que possam orientar as atuações. 
No que se refere à antropologia física, são vários os campos de recente 
desenvolvimento que interessam de modo particular às suas pesquisas. Entre eles 
estão a ecologia humana, que estuda a relação do homem com seu meio e que 
também ocupa os antropólogos culturais, e a genética humana, que estuda o 
comportamento dos genes causadores dos traços herdados dos indivíduos e, 
portanto, trata da variabilidade humana. 
 
30 
 
1.7 A crise da Antropologia 
A antropologia havia descoberto o seu método de pesquisa, o trabalho de 
campo, e identificado seu objeto, o estudo das culturas tradicionais ou “primitivas”, 
como eram consideradas no Século XIX, momento em que se constitui a disciplina 
científica. 
Produto do processo de aculturação, ou seja, do contato com os impérios 
coloniais, com as sociedades nacionais que estavam em amplo processo de 
expansão, aqueles outros “exóticos”, diferentes, que a antropologia tomou como 
objeto, estavam ou se tornando Ocidentais ou se ocidentalizando ou morrendo 
fisicamente (genocídio). 
A antropologia não era alheia a esse processo de transformação do mundo; 
muito pelo contrário. Para que fosse possível a prática da antropologia era necessária 
que o processo de contato com as “sociedades primitivas” já tivesse sido iniciado pelo 
administrador colonial. Assim, paradoxalmente, os antropólogos na prossecução do 
seu trabalho cooperavam, indiretamente, para que seu objeto desaparecesse. Ou 
seja, eram parte desse processo que trazia até as “sociedades primitivas” uma outra 
cultura, que tinha mais força e mais dinamismo: a Cultura Ocidental. Como diz o 
antropólogo francês Lévi-Strauss: 
 
Ao se espalharem por toda a terra, as civilizações que – com ou sem razão – 
se julgavam superiores: a cristã, a islâmica e a budista, e em outro plano, esta 
civilização mecânica que com elas se parece, se impregnam de gêneros de 
vida, de modos de pensar e agir, que são justamente o objeto de estudo da 
antropologia e que, sem que tenhamos consciência clara disso as 
transformamos interiormente. É que os povos ditos “primitivos” ou “arcaicos” 
não desaparecem do nada. Antes se dissolvem incorporando-se, de maneira 
mais ou menos rápida, à civilização que os cerca. E ao mesmo tempo, esta 
adquire caráter mundial (LÉVI-STRAUSS, 1962, p. 20) 
 
1.8 Divisões e campos da antropologia 
A definição de Antropologia nos ajudou a perceber que ela tem um campo muito 
vasto, abrangendo espaços, situações e tempos amplos e bem diferentes. Por esse 
motivo ela possui âmbitos diversos e uma infinidade de campos de ação. De um modo 
geral os antropólogos costumam dividir a Antropologia em dois grandes campos de 
 
31 
 
estudo: a Antropologia Física ou Biológica e a Antropologia Cultural (MARCONI; 
PRESOTTO, p. 3-7). 
A Antropologia Física ou Biológica estuda o ser humano na sua natureza e na 
sua condição física. Procura compreendê-lo nas suas origens, no seu processo 
evolutivo, na sua estrutura anatômica, bem como nos seus processos fisiológicos e 
biológicos. Ela está estruturada em cinco campos: 1) a Paleontologia que estuda a 
origem e a evolução da espécie humana; 2) a Somatologia (do grego soma, corpo + 
logia, estudo) que estuda o corpo humano nas suas variedades existentes, nas 
diferenças físicas e na sua capacidade de adaptação; 3) A Raciologia que se interessa 
pela história racial do ser humano; 4) A Antropometria (do grego anthropos, homem + 
metria, medida) que trabalha com técnicas de medição do corpo humano, 
especialmente de esqueletos (crânio, ossos, etc.), usando instrumentos especiais de 
precisão, com o objetivo de fornecer informações detalhadas acerca de pessoas ou 
de achados arqueológicos, sendo muito usada no âmbito forense para tentar 
identificar corpos e esqueletos; 5) Antropometria do crescimento, voltada para o 
conhecimento e o estudo dos índices de crescimento dos indivíduos, relacionando-o 
com o tipo de alimentação, de atividades físicas e assim por diante. 
Por sua vez a Antropologia Cultural, o campo mais amplo dessa ciência, estuda 
o ser humano enquanto fazedor de cultura. O seu principal objetivo é compreender os 
relacionamentos humanos, os comportamentos tanto instintivos como aqueles 
adquiridos pela aprendizagem,sem deixar de analisar os aspectos biológicos que 
contribuem para o desenvolvimento das capacidades culturais dos seres humanos. 
Portanto, seu objetivo é conhecer o ser humano enquanto capaz de criar o seu meio 
ou ambiente cultural através de formas bem diferenciadas de comportamento. 
1.9 Interação da antropologia com outras ciências 
Através da interação entre Antropologia e Sociologia é possível conhecer 
melhor a condição humana e social dos indivíduos e dos grupos a que pertencem. A 
Antropologia vai trabalhar mais o enfoque cultural, enquanto a sociologia analisa tanto 
o conceito como a experiência de vida em sociedade. O cruzamento de dados e 
informações contribui significativamente para o conhecimento do ser humano na sua 
globalidade. 
 
32 
 
Já a interação entre Antropologia e Psicologia se dá pelo interesse acerca do 
comportamento humano. A Psicologia analisa mais o comportamento individual, 
enquanto a Antropologia aprofunda os comportamentos grupais, sociais e culturais. 
Desse modo a Psicologia ajuda a Antropologia a compreender a complexidade das 
culturas a partir da avaliação do comportamento dos seus indivíduos. Essa, por sua 
vez, auxilia a Psicologia a perceber cada indivíduo como ser inculturado que recebe 
influência do ambiente onde vive e do grupo cultural a que pertence. Os dados 
resultantes desse processo ajudam a desvendar melhor o mistério da existência 
humana. 
 
No que se refere à interação entre Antropologia e Ciências Econômicas e 
Políticas, pode-se afirmar que os estudos comuns estão relacionados à compreensão 
das organizações econômicas e das instituições que regulam o poder dentro dos 
grupos humanos. Trata-se, sem dúvida alguma, de uma realidade complexa e 
bastante diferenciada, mas que é determinante para a existência das sociedades e de 
suas culturas. 
Quanto à relação entre Antropologia e História podemos afirmar que o ponto 
de encontro é basicamente a tentativa de reconstrução de culturas que já 
desapareceram. A História permite a Antropologia conhecer as origens dos 
fenômenos culturais, bem como as formas de adaptação e de modificação 
introduzidas pelas pessoas no meio ambiente. 
1.10 Métodos científicos da antropologia 
Enquanto ciência social que estuda o ser humano, a Antropologia faz uso de 
diversos métodos, de acordo com os seus campos e com as situações (MARCONI; 
PRESOTTO, p. 11-14). Por método entende-se um conjunto de regras bem definidas 
que são utilizadas na investigação. Normalmente o método segue um procedimento 
anteriormente elaborado e que deve ser cuidadosa e escrupulosamente observado. 
O método tem como finalidade descobrir quais são as lógicas e as leis da natureza e 
da sociedade, visando respostas satisfatórias. 
Normalmente são utilizados sete métodos nas pesquisas de Antropologia. O 
primeiro é o método histórico utilizado para a investigação de culturas passadas. Por 
 
33 
 
meio dele o antropólogo, com a ajuda do historiador, tenta reconstruir as culturas, 
explicar fatos e observar fenômenos, como, por exemplo, as mudanças ocorridas e as 
adaptações. O segundo é o método estatístico empregado, sobretudo para analisar 
as variações culturais das populações ou sociedades. Os dados são obtidos por meio 
de tabelas, gráficos, quadros comparativos etc. O terceiro é o método etnográfico 
utilizado para descrever as sociedades humanas, de modo particular as consideradas 
primitivas ou ágrafas (sem escrita). O método consiste essencialmente em levantar 
todos os dados possíveis sobre uma determinada cultura ou etnia e, a partir desses 
levantamentos, tentar descrever o estilo de vida ou cultura desses grupos. 
O quarto método é chamado de comparativo ou etnológico. É usado de modo 
particular para a pesquisa sobre populações extintas. Por meio da comparação de 
materiais coletados, especialmente fósseis, se estudam os padrões, os costumes, os 
estilos de vida das culturas, vendo de modo particular as diferenças e semelhanças 
existentes entre elas. O objetivo é melhor compreender as culturas passadas e 
extintas. O quinto método é conhecido como monográfico. É também chamado de 
estudo de caso. Consiste em estudar com profundidade determinados grupos 
humanos, considerando todos os seus aspectos como, por exemplo, as instituições, 
os processos culturais e a religião. O estudo monográfico é muito importante para os 
casos de culturas que estão ameaçadas de extinção, uma vez que permite analisá-
las e descrevê-las de forma bem pormenorizada. 
Por fim, temos o método genealógico e o método funcionalista. No primeiro 
caso trata-se de um método usado para o estudo do parentesco e todos os outros 
aspectos sociais dele decorrentes. Visa à análise da estrutura familiar e exige a 
presença de um informante, ou seja, de alguém que possa revelar os nomes das 
pessoas que compõem a árvore genealógica. No segundo caso, a cultura é estudada 
e analisada a partir do âmbito da função ou das funções. 
Por meio dele busca-se perceber a funcionalidade de uma determinada unidade 
cultural no contexto da cultura geral ou global. 
 
 
34 
 
2 CULTURA 
Cultura é o conjunto de comportamentos, de valores e de crenças de uma 
sociedade. 
Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente 
transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus 
embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui 
tecnologias e modo de organização econômica, padrões de estabelecimento, 
de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas, 
e assim por diante (KEESING, 1974). 
 
Fonte: antropologiasararestrepo.wordpress.com 
Os importantes elementos de uma cultura são os valores, conhecimentos, 
crenças, artes, moral, alimentação, língua, leis, costumes e quaisquer hábitos e 
habilidades adquiridos pelo homem dentro de uma sociedade. 
O estudo da Antropologia delineia essa compreensão, de uma forma 
comparativa ao das “cascas” de determinados vegetais bulbosos que apresentam um 
corpo formado por várias camadas superpostas, como as cascas de uma cebola, por 
exemplo. Análoga ao exemplo, no que concerne sua estrutura, a Antropologia possui 
várias camadas ou a que chamamos níveis de entendimento. 
a) O comportamento: esta é a casca mais externa, superficial, e a mais fácil 
de ser notada, quando avaliamos uma cultura. É o conjunto das coisas que 
são feitas, daquilo que são facilmente notadas, ou seja, é o ato de fazer de 
um povo, e a maneira (própria) como eles fazem estas coisas. Esta 
 
35 
 
identificação pode ser vista no modo de agir, vestir, caminhar, comer, falar, 
etc. 
b) Os valores culturais: penetrando uma camada à dentro (ou segundo nível) 
veremos os valores culturais, e estes valores são firmados sobre a sua 
noção daquilo que é “bom”, do que é “benéfico”, e do que é “melhor”. Os 
valores culturais são para adequarem ou se conformarem ao padrão de vida 
de um povo. 
c) As crenças: a crença é a noção que se tem daquilo que é verdadeiro. 
Constitui-se basicamente daquilo que um povo vê e crê como sendo 
verdade fundamental. 
d) A cosmovisão: É a cultura como uma lente através do qual o homem vê o 
mundo. É a percepção daquilo que é real. É a maneira de ver esse mundo, 
é o sistema de crenças que reflete os comportamentos e valores desse 
povo. 
 
2.1 Como se define cultura 
Pois é, não se define. Em 1952 os antropólogos A.L. Kroeber e Clyde 
Kluckhohn analisaram 162 diferentes definições de cultura e concluíram que não seria 
possível uma definição de cultura que contentaria a maioria dos antropólogos. Com 
esse balde-de-água-fria, seguem algumas definições já “clássicas” de cultura na 
antropologia que devem ser consideradas criticamente. 
Um dos pioneiros da antropologia, Edward Tylor (1832-1917) fez uma das 
primeiras propostas científicas de que cultura seria “em seu amplo sentido etnográfico, 
este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte,moral, leis, costumes ou 
quaisquer outras capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de 
uma sociedade”. (1871). 
Note o adquirido e o membro de uma sociedade nessa definição. Apesar de 
não ficar tão claro a cultura material na proposta de Tylor, a cultura seria algo 
socialmente adquirido, não genético ou inato. 
Em uma definição menos estática, outros pioneiros propuseram que “cultura 
abrange todas as manifestações de hábitos sociais de uma comunidade, as reações 
 
36 
 
do indivíduo afetado pelos hábitos do grupo em que vive e o produto das atividades 
humanas, como determinado por esses hábitos. ” (Franz Boas) e que “a cultura é uma 
unidade bem organizada dividido em dois aspectos fundamentais – um corpo de 
artefatos e um sistema de costumes”. (Bronislaw Malinowski). 
Voltando a Clyde Kluckhohn, ele lista um rol de acepções sobre cultura, que 
seria: 
1. o modo de vida global de um povo; 
2. o legado social que o indivíduo adquire do seu grupo; 
3. a forma de pensar, sentir e acreditar; 
4. uma abstração do comportamento; 
5. uma teoria, elaborada pelo antropólogo, sobre a forma pela qual um grupo 
de pessoas se comporta realmente; 
6. um celeiro de aprendizagem em comum; 
7. um conjunto de orientações padronizadas para os problemas recorrentes; 
8. comportamento aprendido; 
9. um mecanismo para a regulamentação normativa do comportamento; 
10. um conjunto de técnicas para se ajustar tanto ao ambiente externo como 
em relação aos outros homens; 
11. um precipitado da história; 
 
Além das analogias da cultura como um mapa, uma peneira e uma matriz. 
Complementarmente, para Kroeber a cultura seria o superorgânico destacado 
do mundo biológico e material, com existência própria. Assim, a cultura geraria a 
própria cultura. 
Já sob aspecto organizacional, “a cultura é a programação coletiva da mente 
que distingue os membros de um grupo ou categoria de pessoas de outro”. (Geert 
Hofstede). 
Sob um aspecto ecológico, cultura é “uma parte dos meios distintos pelos quais 
a população local se mantém em um ecossistema e pelo qual essa população se 
mantém e coordena seus grupos e os distribui através da terra disponível”. (Roy 
Rappaport). 
 
37 
 
Semelhante à definição ecológica, Darcy Ribeiro via a cultura como “o conjunto 
e a integração dos modos de fazer, agir, pensar desenvolvidos ou adotados por uma 
sociedade como solução para as necessidades da vida humana associativas”. 
Tendo em mente o trabalho de Kroeber e Kluckhohn, Geertz propõe uma visão 
não-essencialista de cultura como “um padrão historicamente transmitido de 
significados incorporados em símbolos, um sistema de concepções herdadas 
expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam, 
perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e atitudes em relação à vida” e “ a 
cultura é a ‘totalidade acumulada’ de padrões simbólicos que aparecem em diferentes 
sociedades, (…) não é apenas um ornamento da existência humana, mas … uma 
condição essencial para isso”. (Clifford Geertz). 
Essas perspectivas refletem uma falsa dicotomia no debate sobre a cultura. De 
um lado, a cultura como um parâmetro de comportamento social (como em Rappaport, 
Hofsted) e de outro, a cultura como um sistema simbólico de valores e significados 
(como em Geertz). 
Finalizando com a sínteses de Kroeber e Kluckhohn, eles usaram o conceito 
operacional de cultura como “consistindo em padrões, explícitos e implícitos, de e para 
os comportamentos adquiridos e transmitidos por símbolos, constituindo as 
realizações distintivas de grupos humanos, incluindo a sua incorporação em artefatos; 
o núcleo essencial da cultura consiste em ideias tradicionais (isto é, historicamente 
derivadas e selecionadas) e, principalmente, seus valores anexos; sistemas de cultura 
podem, por um lado, ser considerado como produtos de ação, sobre os outros 
elementos, como condicionais de ações futuras”. 
2.2 Desenvolvimento do conceito de cultura 
O conceito de cultura é um dos mais debatidos na antropologia e a sua 
utilização está longe de um consenso. Por um lado, a sua utilização não é exclusiva 
da disciplina, por outro lado no seu seio assiste-se à proliferação de definições e de 
perspectivas. 
A noção de cultura na acepção antropológica tem um percurso que é 
estranhamente similar àquele que os mitos estudados por antropólogos em todo o 
mundo: a separação da cultura da natureza. Desta separação resulta o dilema exposto 
 
38 
 
por Laraia (1986): a conciliação da unidade biológica e a grande diversidade cultural 
da espécie humana. 
 
(…). Em suma, a nossa espécie tinha conseguido, no decorrer de sua 
evolução, estabelecer uma distinção de gênero e não apenas de grau em 
relação aos demais seres vivos. Os fundadores de nossa ciência, através 
dessa explicação, tinham repetido a temática quase universal dos mitos de 
origem, pois a maioria destes preocupa-se muito mais em explicar a 
separação da cultura da natureza do que com as especulações de ordem 
cosmogônica. (Laraia, 1986, 28-29) 
 
A ideia de cultura antecede o surgimento da antropologia como ciência. No 
entanto as ideias preexistentes não deixaram de marcar a concepção da perspectiva 
antropológica. Os antecedentes históricos da cultura são analisados por Laraia: 
 
No final do século XVIII e no princípio do seguinte, o termo germânico Kultur 
era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma 
comunidade, enquanto a palavra francesa Civilization referia-se 
principalmente às realizações materiais de um povo. Ambos os termos foram 
sintetizados por Edward Tylor (1832-1917) no vocábulo inglês Culture, que 
“tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui 
conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra 
capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma 
sociedade” 1. Com esta definição Tylor abrangia em uma só palavra todas as 
possibilidades de realização humana, além de marcar fortemente o caráter 
de aprendizado da cultura em oposição à ideia de aquisição inata, transmitida 
por mecanismos biológicos. (Laraia, 1986, 25) 
 
Com uma forte oposição à visão do racismo e etnocentrismo evolucionista, a 
ideia de cultura em Boas assenta em três temas essenciais: a cultura é uma alternativa 
explícita à noção de raça (características físicas) tanto na classificação como na 
explicação das diferenças humanas. A cultura tem origem em histórias contingentes 
resultantes de elementos originários de tempos e lugares diferentes. Apesar desta 
origem histórica contingente os elementos da cultura são reunidos de acordo com o 
“génio de um povo”. (Barnard e Spencer, 2004, 138). 
Mas após esta definição tyloriana, o conceito de cultura foi objeto de inúmeras 
enunciações sendo discutível se a sua profusão representa uma mais valia para a 
antropologia. Kroeber e Kluckhohn (1952) coligiram mais de uma centena de 
definições. Se Kroeber (1950) considera este movimento clarificador, Geertz (1973) 
tem uma visão diferente: 
 
 
39 
 
Mais de um século transcorrido desde a definição de Tylor, era de se esperar 
que existisse hoje um razoável acordo entre os antropólogos a respeito do 
conceito. Tal expectativa seria coerente com o otimismo de Kroeber que, em 
1950, escreveu que “a maior realização da Antropologia na primeira metade 
do século XX foi a ampliação e a clarificação do conceito de cultura” 
(“Anthropology”, in Scientific American, 183). Mas, na verdade, as centenas 
de definições formuladas após Tylor serviram mais para estabelecer uma 
confusão do que ampliar os limites do conceito. Tanto é que, em 1973, Geertz 
escreveu que o tema mais importante da moderna teoria antropológica era o 
de “diminuir a amplitude do conceito e transformá-lo num instrumento mais 
especializado e mais poderoso teoricamente”. Em outras palavras, o universo 
conceitual tinha atingido tal dimensão que somente com uma contração 
poderia

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