Buscar

Aula 01 - Antropologia e Cultura - Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação

Prévia do material em texto

Aspectos Antropológicos e
Sociológicos da Educação
Aula 1 - Antropologia e Cultura
INTRODUÇÃO
Frequentemente ouvimos falar em Cultura. Em geral, utilizamos os termos Culto e Inculto quando nos referirmos ao nível
de conhecimento formal das pessoas. Mas, o que é cultura? É correto comparar os indivíduos utilizando esse tipo de
critério?  Esse tema será abordado nesta aula.
Vamos iniciar com a explicitação do que é a Antropologia. Em seguida, veremos que nem os antropólogos conseguem
atingir um consenso quando se trata da de�nição de Cultura, pois há mais de 160 de�nições diferentes para esse termo.
Vamos estudar também as de�nições de Homem, Raça, Etnia e Evolução Humana, conceitos considerados básicos para
um bom entendimento da nossa disciplina. Por �m, analisaremos de que forma o mito, a religião e a ideologia podem se
con�gurar como ferramentas educativas.
Bons estudos!
OBJETIVOS
Analisar o campo da antropologia no âmbito das ciências sociais, seu objeto de estudo e seus métodos;
De�nir homem, cultura, raça, etnia, evolução humana, etnocentrismo e relativismo cultural;
Discutir o papel dos mitos, das religiões e da ideologia como sistemas culturais e suas funções como ferramentas
educativas.
Para explicar as diferenças entre as muitas sociedades e instituições, principalmente aquelas dos “povos exóticos”, a
Antropologia desenvolveu uma metodologia própria baseada, inicialmente, em relatos e, posteriormente, em observação
direta.
Para começar a pensar antropologicamente, é necessário que você conheça a de�nição de Homem.
Ao contrário dos outros animais, o ser humano elabora, compartilha e transmite cultura aos seus descendentes.
Se os outros animais agem orientados pelos instintos, o animal humano ofusca os instintos através do desenvolvimento
da cultura.
Outra de�nição importante é a de Cultura. Apesar de praticarem e transmitirem a cultura, nem sempre os seres humanos
se esforçaram por de�ni-la e analisá-la.
De acordo com Lakatos e Marconi (1999):
Podemos inferir que a classi�cação mencionada acima é aceita em termos de senso comum, não tendo respaldo em
nenhuma teoria cientí�ca que mereça credibilidade.
Fonte da Imagem: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/12/Edward_Burnett_Tylor.jpg
De acordo com Tomazi (2000), o primeiro a criar uma de�nição de cultura foi Edward Tylor (Inglaterra 1832 – 1917), ao
juntar na palavra inglesa culture os sentidos que, no �nal do século XVII e início do século XVIII, eram carregados pela
palavra alemã kultur (glossário) e pela palavra francesa civilization (glossário).
Para esse autor, em seu livro Primitive Culture de 1871, “Cultura ... tomada em seu sentido etnográ�co amplo é o todo
complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos
pelo homem como membro da sociedade”.
Fonte da Imagem: liravega / Shutterstock
De�nição de cultura, na concepção de Tylor, é aprendida e não transmitida geneticamente, esse aprendizado se dá por
meio da comunicação e da linguagem. Fica explícita também a oposição entre natureza e cultura, sendo a cultura
considerada superior à primeira.
A partir de então, Cultura tornou-se um conceito central na Antropologia e nas outras Ciências Sociais e, em decorrência
disso, houve uma proliferação de de�nições.
Num texto de 1952, intitulado Culture: a critical revew of concepts and de�nitions, A. L. Kroeber e C. Kluckhohn �zeram a
análise de 160 de�nições em inglês concebidas por antropólogos, sociólogos, psicólogos, psiquiatras e outros.
TEORIA DA EVOLUÇÃO
No século XIX, o pensamento social foi muito in�uenciado pela Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin. Vários
foram os pensadores que viam nas sociedades um movimento semelhante ao observado nos organismos. Para esses
estudiosos, a sociedade evoluiria, natural e necessariamente de um estágio primitivo (glossário), para um estágio
avançado (glossário).
O darwinismo social serviu, como justi�cativa para a intervenção europeia (colonialismo) em sociedades da África, Ásia,
América e Oceania.
ETNIA X RAÇA (DEFINIÇÃO E LIMITAÇÕES DO TERMO PARA TRATAR A
HUMANIDADE)
Caso queira ver a tradução para Libras, clique aqui.
Os conceitos de raça e etnia são importantes, segundo Dias (2006), porque con�guram agrupamentos humanos cuja
identidade ocorre por suas características exteriores, sejam estas culturais (glossário) ou ainda físicas ou hereditárias
(glossário).
Isto favorece a identi�cação entre os membros, que se reconhecem como pertencentes a determinado grupo, ao mesmo
tempo em que os diferencia de outros grupos.
DETERMINISMO
Existem doutrinas que a�rmam que objetos e acontecimentos são e ocorrem de determinada maneira por serem regidos
por leis ou forças que os fazem assim. Acredita-se que a possibilidade de escapar do determinismo é mínima ou nula.
Podemos citar duas formas de determinismo:
Para os antropólogos essas doutrinas nada têm de correto, pois pode-se observar que uma das características da espécie
humana (glossário) é a capacidade de romper as suas próprias limitações.
Caso queira ver a tradução para Libras, clique aqui.
Etnocentrismo
Etnocentrismo (glossário) é um fenômeno universal originado no fato de que o ser humano, ao enxergar o mundo através
das lentes de sua Cultura (glossário), passa a considerar o seu modo de vida como o mais correto e mais natural.
RELATIVISMO CULTURAL
Fonte da Imagem:
Existe uma tendência em abandonar os juízos de valor no que diz respeito às diferentes culturas. Não existe, em termos de
cultura, nem melhor nem pior, nem mais nem menos, nem superior nem inferior. Os padrões de beleza, de justiça, de
moralidade etc., são relativos à cultura na qual os indivíduos estão inseridos.
Existem diferenças no modo de pensar e de agir entre as diversas culturas que, segundo o relativismo cultural, devem ser
respeitadas. Porém, muitas vezes essa posição tem sido encarada como descaso, apatia, em relação ao outro.
,
O topless, tratado como caso de polícia em Ipanema é amplamente praticado nas areias de Ibiza, na Espanha.
Achamos no mínimo estranho o costume das mulheres da Birmânia de colocar anéis metálicos para alongar os seus pescoços, mas
consideramos normal aplicar próteses de silicone para aumentar certas partes do corpo.
Assista ao vídeo a seguir:
Com base no que acabamos de ver, cite exemplos de contextos e situações que mostram a relação entre educação e
cultura ocorrendo de maneira não sistemática e formal.
Resposta Correta
Vamos conhecer agora os mitos, a religião e a ideologia como sistemas culturais e suas funções como ferramentas
educativas desde as primeiras comunidades humanas.
MITOS
De acordo com Chauí (2004), o vocábulo tem sua origem na palavra grega mythos, derivada de dois verbos:
Caso queira ver a tradução para Libras, clique aqui.
O mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe de três formas:
O mito aparece em todas as culturas. A seguir você terá mais informações sobre este tema.
Chauí (2004) a�rma que o mito possui três funções:
1ª Função explicativa
Explica o presente por alguma ação passada cujos efeitos persistiram no tempo. Como
exemplo, a autora cita a crença de que uma constelação existe porque no passado crianças
fugitivas e famintas morreram na �oresta e foram levadas ao céu por uma deusa que as
transformou em estrelas.
2ª Função organizativa
Organiza as relações sociais (de parentesco, de alianças, de poder, de sexo, etc.), legitimando e
garantindo a permanência de um sistema complexo de proibições e permissões.
3ª Função compensatória
Narra uma situação passada que é a negação do presente e que pode servir para compensar
os homens de alguma perda ou para assegurar que um erro do passado foi corrigido no
presente, oferecendo uma visão estabilizada e regularizada da natureza e da vida comunitária.
Segundo a autora, o mito tem caráter educativo porque, na narrativa, encontramos mensagens ou normas que acabam
orientando os comportamentos necessários para a vida em grupo., De acordo com Meksenas (2000),há um mito muito difundido entre alguns índios do Brasil, no qual a origem da noite é atribuída à
atitude de um grupo que, não obedecendo às tradições do seu povo, quebrou um coco proibido. Dali fugiu a noite, escurecendo toda a
mata. Os deuses, sentindo piedade dos demais índios, devolveram-lhes a claridade do dia, mas com a condição de que agora seria
sempre intercalada com um período noturno, para que todos se lembrassem do ocorrido., , Não nos preocupando em saber se
realmente a existência da noite pode ser explicada por esse mito ou pela ideia cientí�ca do movimento do globo terrestre, o que
importa é saber que esse mito acaba sendo educativo porque ele �xa uma norma social: os perigos que podem aparecer a um grupo
quando não se respeitam certas tradições ou o cuidado que devemos ter com o desconhecido. (p. 21), , Apesar da nossa sociedade
valorizar o pensamento cientí�co, não podemos dizer que os mitos �caram no passado. De acordo com Chauí, o pensamento
conceitual e o pensamento mítico podem coexistir na mesma sociedade. Para ela, a predominância de uma ou outra forma do
pensamento depende, de um lado, das tendências pessoais e da história de vida dos indivíduos e, de outro, do modo como uma
sociedade ou uma cultura recorrem mais à uma do que à outra forma para interpretar a realidade, intervir no mundo e explicar-se a si
mesma. (2004, p. 164)
RELIGIÃO
Fonte da Imagem:
A religião é um vínculo entre o mundo profano (a natureza) e o mundo sagrado, isto é, a natureza habitada por divindades
ou um mundo separado da natureza (Chauí, p. 253).
É importante destacar que a religiosidade é um fenômeno encontrado em todas as sociedades conhecidas até hoje.
Muitas religiões já existiram e diversas continuam existindo.
O antropólogo se interessa pelo papel da religião na sociedade, mas não é papel da antropologia fazer julgamentos de
valor sobre o conteúdo das religiões.
Se a maioria das instituições sociais têm sua origem em necessidades materiais, a religião se dirige às indagações
sobrenaturais do ser humano.
Portanto, a religião tem função explicativa como o mito. Ela fornece explanações, por exemplo, de como surgiram o
mundo, a natureza, os animais e os homens.
Ela possibilita uma certa estabilidade social ao gerar paz de espírito e segurança aos indivíduos. Além disso, fornece
normas que garantem a sobrevivência social. Acreditar em seres dotados de poderes sobrenaturais inspira respeito, temor
e veneração, fazendo com que os indivíduos cumpram as regras.
IDEOLOGIA
Segundo o Dicionário de Ciências Sociais (pág. 570):
D. Tracy (glossário) foi o primeiro autor a fazer uso do termo no sentido de estudo das ideias, no �nal do século XVIII,
sendo empregado da mesma forma por vários autores franceses, posteriormente, no século XIX. Ainda no século XIX, a
palavra ideologia adquiriu conotação pejorativa, signi�cando ideias abstratas e enganadoras.
A ideologia tem estreita ligação com a educação, pois alguns autores de in�uência marxista percebem a escola como um
local onde se reproduzem as falsas consciências com o objetivo de manter o status quo.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Destutt_de_Tracy
Analise as a�rmativas abaixo:
I - A Antropologia, inicialmente baseava-se em relatos de viajantes, missionários, militares, administradores coloniais.
Depois passou a utilizar a observação direta, em trabalhos de campo empreendidos por pro�ssionais especializados. 
II - A palavra Cultura tem origem no vocábulo latino colere e possuía denotação de cultivo das plantas, de cuidado com os
animais e a terra, cuidado com as crianças e com sua educação, cuidado com os deuses, com os ancestrais e seus
monumentos. 
III - Os conceitos de raça e etnia con�guram agrupamentos humanos cuja identidade ocorre por suas características
interiores, sejam elas culturais, físicas ou hereditárias. 
IV - O mito tem caráter educativo pois encontramos mensagens ou normas que acabam orientando os comportamentos
necessários para a vida em grupo. 
Com base no que você estudou, marque a opção que apresenta todas as a�rmativas corretas:
I, II, IV
I, II, III
II, III, IV
I, III. IV
Justi�cativa
Glossário
KULTUR
Aspectos espirituais de uma comunidade.
CIVILIZATION
Realizações materiais de um povo.
ESTÁGIO PRIMITIVO
As sociedades ditas “simples”, como as indígenas do Brasil, as tribos africanas etc.
ESTÁGIO AVANÇADO
As sociedades ditas complexas, ou seja, a Europa industrializada.
CULTURAIS
Modos de vida, de falar, hábitos e costumes etc.
FÍSICAS OU HEREDITÁRIAS
Cor da pele, formato dos olhos, nariz, boca etc.
ESPÉCIE HUMANA
Segundo Laraia (2004), o homem é um animal frágil, provido de insigni�cante força física, dominou toda a natureza e se transformou
no mais temível dos predadores. Sem asas dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias conquistou os mares. Tudo isso
porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura (p. 24).
ETNOCENTRISMO
“A crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo, a sua única expressão” (Laraia, p. 75).
CULTURA
A cultura, segundo Ruth Benedict, citada por Roque Laraia, condiciona a visão de mundo do homem.

Continue navegando