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A Riqueza das Nações Adam Smith Bruno Rafael dos Santos Novo Hamburgo 2020 O presente texto é um resumo dos principais aspectos do pensamento econômico de Adam Smith (Kirkcaldy, 5 de junho de 1723 – Edimburgo, 17 de julho de 1790) presentes em sua obra Uma investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, publicada originalmente em 1776. A obra é considerada até os dias de hoje como o marco inicial do estudo da Economia como ciência independente e do liberalismo econômico, como resposta ao mercantilismo. Smith defendia que a riqueza de um país consiste na capacidade de produzir bens de consumo suficientes para atender a demanda da população, o que só seria possível através do desenvolvimento das forças produtivas, ao contrário do que pregava a doutrina mercantilista, cuja riqueza consistia no acúmulo de metais preciosos. Da mesma forma, Smith defendia o livre comércio em detrimento do protecionismo mercantilista, argumentando que este impedia o curso natural do desenvolvimento da economia. O resumo que se segue não tem a pretensão de ir além do que fora dito pelo próprio autor em sua principal obra, tendo, portanto, um caráter predominantemente expositivo, com o objetivo de tornar as suas ideias mais acessíveis àqueles que se aventurarem na leitura de A Riqueza das Nações e que porventura necessitarem de esclarecimento a respeito de alguns aspectos que podem se apresentar obscuros no decorrer da leitura, algo que julgo ser bastante frequente em se tratando de obras tão antigas. O resumo seguirá a ordem linear da exposição proposta pelo autor, isto é, estará dividido em cinco partes, do primeiro ao quinto livro de A Riqueza das Nações, sendo eles: – Livro Primeiro: as causas do aprimoramento das forças produtivas do trabalho e a ordem segundo a qual sua produção é naturalmente distribuída entre as diversas categorias do povo; – Livro Segundo: A natureza, o acúmulo e o emprego do capital; – Livro Terceiro: A diversidade do progresso da riqueza nas diferentes nações; – Livro Quarto: Sistemas de economia política; – Livro Quinto: A receita do Soberano e do Estado. LIVRO PRIMEIRO AS CAUSAS DO APRIMORAMENTO DAS FORÇAS PRODUTIVAS DO TRABALHO E A ORDEM SEGUNDO A QUAL SUA PRODUÇÃO É NATURALMENTE DISTRIBUÍDA ENTRE AS DIVERSAS CLASSES DO POVO CAPÍTULO I DIVISÃO DO TRABALHO Uma nação é mais ou menos rica de acordo com os bens necessários e os confortos materiais que é capaz de produzir. A proporção entre essa produção e o número de pessoas que deve consumi- la determina a riqueza das nações. Se em um país, a produção de alimentos não é suficiente para suprir a necessidade primária de alimentação de uma parcela qualquer de sua população, em hipótese alguma o mesmo poderá ser considerado um país rico. Do mesmo modo, um país que produz alimentos o suficiente para atender toda a sua população, mas que é incapaz de suprir a demanda por bens de vestuário e moradia a toda população, será menos rico do que aquele que consegue. Em sociedades desenvolvidas, a capacidade produtiva, isto é, a capacidade de fornecer bens de consumo em número suficiente para toda a população, parece ser efeito da divisão do trabalho. Tomemos como exemplo, uma pequena manufatura de alfinetes. Um único operário produziria, se efetuasse todas as atividades produtivas, um único número bastante reduzido de alfinetes em relação ao que é produzido com a divisão do trabalho. Os efeitos da divisão do trabalho são as mesmas em todas as artes e indústrias. A agricultura, entretanto, não é uma atividade capaz de ser subdividida tanto quanto as atividades manufatureiras. Portanto, a riqueza de uma nação deve ser melhor determinada pela sua capacidade industrial do que agrícola. As vantagens da divisão do trabalho devem-se a três circunstâncias: 1) Aumento da destreza dos trabalhadores; 2) Poupança de tempo, correspondente à passagem de uma atividade à outra; 3) Invenção e utilização de máquinas que facilitam e reduzem o trabalho. Assim, a multiplicação dos produtos do trabalho em sociedades desenvolvidas, como efeito da divisão do trabalho, proporciona, mesmo para as camadas mais pobres da população, um nível de vida superior do que aquele que pode ter qualquer membro de uma sociedade primitiva. CAPÍTULO II O PRINCÍPIO QUE DA ORIGEM A DIVISÃO DO TRABALHO A divisão do trabalho procede mais da natureza humana do que de convenções sociais. O homem primitivo não era capaz de satisfazer todas as suas necessidades sem imenso esforço e mesmo sem arriscar sua própria vida em suas atividades produtivas. Tampouco é o homem o animal mais forte e com melhor constituição para enfrentar os perigos do mundo natural. Levando em conta que é impossível a um único indivíduo suprir todas as suas necessidades através do produto direto de seu trabalho, não é difícil imaginar que mesmo nas sociedades mais primitivas já houvesse certa divisão do trabalho, de modo que um produtor de x, necessitando de um bem y, trocasse o excedente de sua produção pelo excedente de um produtor de y, o qual igualmente necessitasse de x. Evidencia-se, portanto, na natureza humana, uma propensão à troca, ao escambo, à permuta. Essa tendência à troca é o princípio que dá origem à divisão do trabalho. Numa sociedade desenvolvida, o homem necessita da cooperação de uma imensidade de pessoas para atender todas as suas necessidades, tendo maior probabilidade de obter aquilo que deseja, se conseguir fornecer às outras pessoas aquilo que elas desejam. Em outras palavras, é o egoísmo de cada produtor específico o motor da cooperação econômica entre os membros de uma sociedade. Não é da bondade do marceneiro, do cervejeiro ou do padeiro que podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse. O egoísmo leva a divisão do trabalho e a divisão do trabalho leva ao desenvolvimento das forças produtivas. A divisão do trabalho leva à especialização, isto é, ao desenvolvimento, nos indivíduos, de talentos para determinadas atividades. A diversidade de talentos tornam-se úteis para todos e, na medida em que as sociedades se desenvolvem, geram maior capacidade para satisfazer um número cada vez mais elevado de necessidades da população. CAPÍTULO III QUE A DIVISÃO DO TRABALHO É LIMITADA PELA EXTENSÃO DO MERCADO O mercado é onde ocorrem as trocas econômicas. Podemos aqui, para facilitar a exposição, pensar no mercado como um espaço geográfico delimitado, onde os produtos do trabalho são produzidos e trocados. A limitação da extensão do mercado limita também a extensão da divisão do trabalho. Quando o mercado é muito reduzido, ninguém é estimulado a dedicar-se inteiramente a uma única atividade, porque não poderá trocar todo o seu excedente pelos bens que necessita. Em uma pequena aldeia, por exemplo, cada agricultor deve ser também cortador, pedreiro, cervejeiro de sua própria família, pois muito dificilmente se encontrará indivíduos especializados para suprir essas necessidades dentro do pequeno mercado em que está inserido. Assim, as grandes cidades favorecem a divisão do trabalho. O transporte de mercadorias por vias aquáticas cobre um mercado muito mais vasto do que o transporte por terra. Portanto, não é de estranhar que o desenvolvimento econômico sempre comece em regiões da costa ou próximas de grandes rios. CAPÍTULO IV A ORIGEM E O USO DO DINHEIRO Existem inconvenientes em se permutar diretamente o produto de um trabalho por outro. O açougueiro possui em seu estoque mais carne do que pode consumir e está disposto a trocar seu excedente por outro produto. O padeiro possui mais pão do que o necessário para sua subsistência e pretende trocar seu excedente por carne. Entretanto, o açougueiro já possui pão o suficiente para sua subsistência. Nesse caso, a troca fica impossibilitada. Para evitar esse tipo de inconveniente, desde tempos remotos, os homens têm estipulado certas mercadorias que devem servir de objeto de troca equivalente a qualqueroutra, Para esse fim foram empregadas mercadorias diversas: gado, tabaco, sal etc. Entretanto, os metais tornaram-se as mercadorias favoritas para exercer esse tipo de função, devido a sua durabilidade e divisibilidade. A moeda cunhada surge da necessidade de garantir a autenticidade de um determinado metal como meio de troca dentro de um território, garantindo assim que a moeda se transformasse em meio de troca universal. Para determinar a proporção em que um bem x deve ser trocado por um bem y é preciso conhecer o valor desses bens. A partir de seus valores serão estipulados seus preços. Toda bem econômico possui valor de uso (utilidade) e valor de troca (poder de compra). É evidente que é o valor de troca que deve determinar o preço dos bens, não o valor de uso. A água é muito útil, já os diamantes não, porém os diamantes possuem um poder de compra muito superior à água. CAPÍTULO V DO PREÇO REAL E NOMINAL DOS BENS, OU DE SEU PREÇO EM TRABALHO E EM DINHEIRO Assim como a riqueza de uma nação é medida pela sua capacidade de produzir e distribuir bens a toda a população, um indivíduo é rico ou pobre de acordo com a quantidade de necessidades que consegue satisfazer através do produto de seu trabalho e através do produto do trabalho dos outros. O valor de uma mercadoria é determinado, portanto, para a pessoa que a produziu e que não pretende consumi-la, mas trocá-la pela mercadoria de outro, pela quantidade de trabalho alheio que ela lhe permite comprar ou dominar. Assim, o trabalho constitui a verdadeira medida de valor de troca de todos os bens. Geralmente, contudo, o valor não é calculado diretamente pelo trabalho, sendo este muito difícil de ser mensurado com precisão. Não basta levar em conta o tempo de trabalho, mas também o grau de complexidade e esforço exigido pela atividade. É mais frequente que uma mercadoria seja trocada por outra do que por trabalho; mais frequente ainda é que ela seja trocada por dinheiro. Contudo, sendo os metais que constituem o dinheiro também mercadorias, seus valores variam constantemente. O preço da prata caiu na Europa com a descoberta das minas na América, por exemplo. A quantidade de trabalho que uma quantidade específica de ouro e prata pode comprar ou comandar, ou seja, a quantidade de outros bens pela qual pode ser trocada, depende sempre da abundância ou escassez das minas que eventualmente se conhecem, por ocasião das trocas. O trabalho é a única medida de valor que nunca varia, sendo portanto, o preço real das mercadorias, enquanto o valor em dinheiro representa o preço nominal. No mesmo tempo e lugar, a moeda é suficiente para se ter a medida exata do valor de um bem. No longo prazo, os valores estimados em trigo são mais estáveis que aqueles avaliados em ouro ou prata, por funcionar como indicador do preço real do trabalho que deve remunerar a subsistência do trabalhador. CAPÍTULO VI DAS PARTES QUE COMPÕE O PREÇO DOS BENS Admite-se que no estado mais primitivo do desenvolvimento das forças produtivas, a totalidade do produto do trabalho pertence ao trabalhador. Com o acúmulo de capital, esse estado de coisas é alterado. Alguns indivíduos empregarão seu capital de modo que possam colocar outros indivíduos para realizarem o trabalho, criando assim, a relação entre patrões e empregados. O valor que os trabalhadores acrescentam às matérias-primas consistirá em duas partes: lucro para o patrão e salário para os trabalhadores. O patrão não teria interesse em empregá-los se não esperasse obter mais do que a reconstituição da riqueza inicial e não teria interesse em empregar um maior volume de bens se os lucros não forem proporcionais ao volume de capital empregado. Assim, a quantidade de trabalho necessário para a produção deixa de ser o único fator determinante do valor de troca. Logo que a terra torna-se propriedade privada, os seus donos cobrarão pela exploração de seus recursos naturais, então, outro fator entre na composição do preço: a renda da terra. Em uma sociedade desenvolvida, salários, lucros e renda da terra compõe os preços das mercadorias, embora seja possível que um ou dois deles estejam ausentes, é impossível que estejam os três ausentes ao mesmo tempo. Como, em um país desenvolvido, a renda e o lucro contribuem largamente para a produção anual, está será suficiente para comprar ou dominar uma quantidade de trabalho muito superior à que foi utilizada para criar, preparar e transportar essa produção, Se a sociedade empregasse, anualmente, todo o trabalho que pode adquirir, a produção de cada ano sempre superaria a do precedente. Mas os ociosos consomem, em toda parte, uma grande parcela dessa produção. A proporção em que a produção é consumida por produtores e por ociosos determina o aumento, a estagnação ou o declínio da produção. CAPÍTULO VII DO PREÇO NATURAL E DO PREÇO DE MERCADO DOS BENS A natureza das ocupações e o estado de desenvolvimento da sociedade determina uma taxa corrente ou média de lucro, salários e renda. Quando o preço equivale ao conjunto da renda, salários e lucro necessários para colocar a mercadoria no mercado, esse preço é o que podemos chamar de preço natural. Já o preço de mercado, pode ser superior, igual ou inferior ao preço natural. O preço de mercado é determinado principalmente pela quantidade de bens que entram no mercado em relação a procura desses bens pela população, ou seja, pela oferta e demanda. Quando a quantidade posta no mercado é superior a procura, uma parte da produção deverá ser vendida a um preço de mercado inferior ao preço natural. Quando a quantidade posta no mercado é inferior a procura, uma parte da produção pode ser vendida a um preço superior ao preço natural. O preço natural é o centro para o qual tendem os preços de todas as mercadorias, assim como a procura efetiva deve regular a quantidade de bens posta no mercado. Muitos fatores, no entanto, contribuem para deixar o preço de mercado suspenso acima ou abaixo do preço natural: 1) Na agricultura, os preços de mercado estão sujeitos as condições climáticas e naturais em geral; 2) Um luto público eleva o preço da roupa preta; 3) Monopólios podem manter o mercado sempre subabastecido, controlando o preço a seu favor; 4) Corporações e estatutos de aprendizagem reduzem a concorrência, produzindo uma espécie de monopólio; 5) Segredos industriais podem constituir vantagem àqueles que os detém; Segredos industriais, monopólios e demais situações extraordinárias podem manter o preço de mercado elevado durante muito tempo, ao passo que raramente o preço de mercado ficará muito abaixo do preço natural durante muito tempo. Qualquer que fosse o componente do preço pago abaixo da taxa natural, as pessoas cujos interesses saíssem prejudicados diretamente pela perda, retiraria sua contribuição e assim a quantidade colocada no mercado se reduziria ao estritamente suficiente para atender a demanda efetiva. Portanto, o preço dessa mercadoria logo subiria ao preço natural. CAPÍTULO VIII OS SALÁRIOS DO TRABALHO Os salários dependem de contratos celebrados entre trabalhadores e patrões. Nem de longe seus interesses coincidem: enquanto uns querem aumentar seus salários, os outros querem diminuí- los para que possam aumentar seus lucros. É evidente também que os patrões têm certa vantagem em relação aos trabalhadores: possuem melhor capacidade de organização e possuem capital suficiente para subsistir por mais tempo em caso de disputas. Embora os patrões desejem baixar os salários, não conveniente para eles mantê-los abaixo de determinada taxa, suficiente para manter a subsistência do trabalhador e de sua família. A mortalidade infantil é efeito dos salários que não são capazes de garantir, além da subsistência do trabalhador, a de seus filhos. Nesse caso, a procura por mão de obra tende a aumentar e com ela, consequentemente, aumentam também os salários. A demandapor trabalhadores aumenta também com o aumento da riqueza nacional: as receitas e o capital. Não se trata aqui, do volume de receitas e do capital, que permanecendo constantes, em nada alteram a procura por mão de obra, mas sim do contínuo progresso e aumento dessa riqueza. É natural que o aumento dos salários dos trabalhadores produzam efeitos positivos para toda a sociedade. Os salários altos são incentivos para a atividade. Uma subsistência farta aumenta a força e o ânimo, os trabalhadores serão mais ativos e diligentes. Além disso, a melhor remuneração propicia o descanso dos trabalhadores, algo igualmente positivo para a sociedade. O aumento dos salários aumenta também o preço dos bens, visto que aumenta a parte correspondente aos salários na composição dos preços. Todavia, a causa do aumento dos salários, isto é, o aumento do capital, leva a que se aumente a capacidade produtiva da sociedade, conseguindo-se uma maior quantidade de produtos com uma menor quantidade de trabalho. Haverá assim, maior divisão do trabalho, mais especialização e maior probabilidade de surgirem novas invenções. A produção de certos bens passará a exigir menos trabalho, sendo o aumento do preço do trabalho mais do que compensado pela redução de sua quantidade. CAPÍTULO IX OS LUCROS DO CAPITAL Tal como os salários, os lucros tendem a variar de acordo com o grau de prosperidade ou decadência da riqueza do país. O aumento do capital acumulado, que faz subir os salários, tende a baixar os lucros, devido à concorrência mútua entre os diversos capitalistas e devido a maior despesa que um capital maior acarreta. O lucro de uma nação varia muito e por diversas circunstâncias, sendo muito difícil de ser mensurado. Pode-se adotar a máxima de que, onde se pode ganhar muito com o uso do dinheiro, muito se poderá pagar por esse uso; e onde pouco se pode ganhar com esse uso, pouco se pagará. Assim, podemos tomar uma ideia do lucro médio do capital a partir da taxa de juro. Conforme, portanto, a taxa de juro variar em um determinado país, podemos deduzir que os lucros do capital variarão com ela: baixam quando eles baixam e sobem quando eles sobem. A mínima taxa de lucros deve ser o suficiente para compensar as perdas acidentais a que o emprego do capital está sujeito e mais um excesso. Somente esse excesso constitui o lucro limpo. O mesmo deve ocorrer com a taxa de juro. CAPÍTULO X OS SALÁRIOS E O LUCRO NOS DIVERSOS EMPREGOS DE MÃO DE OBRA E CAPITAL Onde há plena liberdade as vantagens e desvantagens dos diversos empregos de mão de obra e de capital tendem a igualdade. As diferenças efetivas entre ganhos e perdas se contrabalanceiam devido a circunstâncias inerentes aos próprios empregos e devido à intervenções políticas na economia. Parte primeira: desigualdades decorrentes da própria natureza das ocupações 1) Os salários variam de acordo com a natureza das ocupações: trabalhos limpos, fáceis e seguros tendem a pagar menos do que trabalhos sujos, difíceis e perigosos, tanto no tocante aos salários quanto aos lucros; 2) Os salários variam conforme o custo de aprendizagem da ocupação. Tal circunstância pouco afeta os lucros; 3) Os trabalhos variam conforme a estabilidade do emprego. Um pedreiro, por exemplo, não pode trabalhar sob determinadas condições climáticas, por isso deve ganhar mais; 4) Os salários variam conforme a confiança a ser depositada. Tal circunstância pouco afeta os lucros; 5) Os salários variam com a probabilidade do sucesso. Os lucros varam conforme a certeza do retorno. Como se vê, os lucros são menos variáveis que os salários. Parte segunda: Desigualdades oriundas da política da Europa A política da Europa gera desigualdades quando: 1) Limita a concorrência em alguns casos, sobretudo outorgando privilégios às corporações; 2) Aumenta a concorrência em outros casos, como ocorre no clero; 3) Dificulta a livre circulação de mão de obra e de capital; CAPÍTULO XI A RENDA DA TERRA A renda considerada como o preço pago pela utilização da terra, será o valor mais alto que o arrendatário puder pagar. Não advém de juros ou lucros do capital, portanto, a renda da terra assemelha-se a um preço de monopólio. Se determinada parcela da produção atinge ou não preço suficiente para gerar uma renda, isso depende da demanda. A renda da terra entra na composição do preço de uma forma diferente dos elementos salários e lucro. Enquanto estes são a causa do preço das mercadorias, a renda da terra é um efeito dos preços. Sendo a renda da terra o excedente que sobra após ser deduzido o custo de produzir e levar os produtos da terra até o mercado mais o lucro do arrendatário, poderão haver mercadorias cujo preço é o suficiente para serem levadas ao mercado, para cobrir o custo de produção e os lucros, mas que não gerarão renda ao proprietário da terra. Parte primeira: os produtos da terra que sempre proporcionam renda A terra sempre produz uma quantidade de alimentos mais que suficiente para manter toda a mão de obra necessária para colocá-la no mercado, o lucro do capital e a renda da terra. Na medida em que aumenta a população, aumenta na mesma proporção a demanda por alimentos, portanto, a oferta de alimentos é determinada pela demanda. A demanda por trigo, o alimento básico da população, encontra-se determinada pelo tamanho da população, sendo, portanto, a renda da produção de trigo a medida da renda de todos os outros produtos da terra. A renda varia de acordo com a fertilidade da terra e a localização. Assim, a renda é superior perto das cidades, devido ao baixo custo de transporte dos produtos do trabalho até os consumidores. Do mesmo modo, a renda das terras mais férteis regula a renda das menos férteis. A renda e o lucro do trigo devem naturalmente regular a renda e o lucro das pastagens, e a renda gerada pela terra que produz alimentos regula a renda proporcionada pela maioria das outras terras. Parte segunda: o produto da terra que às vezes gera renda e às vezes não Os únicos produtos da terra que sempre geram renda são os alimentos. Depois da alimentação vêm as necessidades de vestuário e moradia. Os produtos da terra que satisfazem esse tipo de necessidade são abundantes no período em que as forças produtivas da sociedade não estão plenamente desenvolvidas e a terra não está plenamente dedicada ao cultivo de alimentos, portanto não possuem muito valor, chegando até a não possuir nenhum. Quando a sociedade se desenvolve, produtos de vestuário e moradia adquirem imenso valor e sua demanda será regulada pela facilidade de conseguir alimentos. Em outras palavras, tendo alimentos suficiente para toda a população, esta poderá adquirir outras mercadorias provenientes da matéria-prima retirada da terra; com o aumento da demanda, o preço dessas matérias-primas tornam-se suficientes para gerar renda ao proprietário de terras. Mas nem sempre isso ocorre. Para uma mina de carvão gerar renda, por exemplo, vai depender muito da sua localização e fertilidade Parte terceira: as variações entre os respectivos preços daqueles tipos de produto que sempre geram renda e daqueles que as vezes geram renda A marcha geral do progresso da sociedade faz com que os produtos da terra, que não sejam alimentos, se tornem mais caros. Porém, existem exceções, como é o caso da prata, cujo valor diminui na medida em que novas e ricas minas são descobertas. Se a demanda por prata é superior a sua oferta, seu valor aumenta, fazendo com que se possa adquirir uma maior quantidade de trigo com uma quantidade menor de prata. Se ao contrário, a oferta supera a demanda, o valor da prata cai e se obterá menor quantidade de trigo com a maior quantidade de prata. Se, por fim, a oferta e a demanda por prata manter a proporção, o preço monetário do trigo manter-se-ia no mesmo nível em todo o período. Efeitos diferentes do avanço do desenvolvimento sobre três tipos diferentes de produtos naturais Os diversostipos de produtos brutos cujo preço aumenta com o progresso são classificados em três grupos: 1) Aqueles cujo trabalho humano dificilmente pode multiplicar: animais raros, por exemplo. Ao crescer a riqueza, a demanda por esse tipo de produto tende a crescer, por outro lado, o trabalho humano pouco pode fazer para aumentar a sua oferta. 2) Aqueles cujo trabalho humano pode multiplicar de acordo com a demanda: Produtos abundantes na natureza, mas que com o avanço do progresso são substituídos por outros mais lucrativos. Com o progresso, embora a quantidade desses bens diminua, a demanda por eles cresce e, consequentemente, o preço subirá em relação a demanda efetiva; 3) Aqueles cujo trabalho humano só pode multiplicar em caráter limitado e incerto: a quantidade de couro e lã disponíveis no mercado estará limitada a quantidade de gado e ovelhas criadas. Conclusão do capítulo O progresso da sociedade tende a aumentar a renda do proprietário de terras, consequentemente, seu poder de comandar trabalho alheio. Todo aumento na riqueza real da sociedade, todo aumento na quantidade de mão de obra útil nela empregada, indiretamente tende a aumentar a renda real da terra. Assim, o interesse do proprietário de terras está intimamente ligado com o interesse geral da sociedade. Do mesmo modo, o aumento da riqueza da sociedade favorece os trabalhadores assalariados, embora em menor intensidade do que aos proprietários de terra. Por outro lado, como os lucros do capital baixam na medida em que a sociedade progride, o interesse dos capitalistas não mantém, portanto, com o interesse geral da sociedade relação idêntica à verificada para as outras duas. LIVRO SEGUNDO DA NATUREZA, ACÚMULO E EMPREGO DO CAPITAL Dando continuidade ao resumo da obra A Riqueza das Nações de Adam Smith, trataremos agora do Livro Segundo – Da Natureza, Acúmulo e Emprego do Capital. CAPÍTULO I A DIVISÃO DO CAPITAL O acúmulo de capital é consequência do desenvolvimento da sociedade e gera a divisão do trabalho. Em sociedades primitivas, os indivíduos buscam pelos bens na medida em que são impelidos pela necessidade de consumi-los e as trocas quase não existem. Entretanto, na medida em que a sociedade progride, dificilmente um indivíduo conseguirá satisfazer todas as suas necessidades através do produto de seu próprio trabalho. A necessidade de obter o produto do trabalho de outro, através da troca do produto de seu próprio trabalho, obriga o produtor a manter em seu estoque uma quantia determinada de bens que seja suficiente para garantir sua subsistência enquanto realiza suas atividades produtivas. Como estoque destinado ao consumo imediato daquele que o possui temos a primeira forma do capital: o capital de subsistência, ou capital para o consumo imediato. Geralmente, um capital pequeno servirá para o consumo imediato daquele que o possui. Dificilmente dele se tentará auferir alguma renda. Quando, porém, a pessoa consegue, através de seu capital acumulado, garantir sua subsistência e ainda lhe resta uma boa porção desse capital, é natural que ela busque auferir uma renda dessa parte. Há duas maneiras de se empregar capital para que ele proporcione renda ou lucro àquele que o detém: 1) Como capital circulante: Usa-se o capital para obter, fabricar ou comprar bens que serão revendidos com lucro. Denomina-se capital circulante pois não dá lucro ao seu detentor enquanto não sair de suas mão. As mercadorias de um comerciante, por exemplo, somente proporcionarão renda quando forem trocadas por dinheiro e quando o dinheiro, por sua vez, for trocado por outros bens. 2) Como capital fixo: Máquinas, ferramentas, melhorias que, sem saírem das mãos de seu dono, geram renda ou lucro. A quantidade de capital fixo e circulante que deve ser empregado em cada ocupação varia de acordo com a natureza de cada trabalho. Por exemplo, o capital de um comerciante é constituído predominantemente de capital circulante; o capital de um manufator, por outro lado, é constituído predominantemente por ferramentas necessárias ao exercício de sua atividade, ou seja, capital fixo. O capital total de um país é a soma de todos os capitais de todos os habitantes do país e pode ser de três tipos: 1) Capital reservado para o consumo imediato: consiste em não gerar renda nem lucro. Consiste no capital em alimentos, roupas, mobílias domésticas etc. que foram comprados pelos seus consumidores mas ainda não estão totalmente consumidos. 2) Capital fixo: proporciona renda ou lucro sem circular de mãos. Consiste nos quatro itens seguintes: a) máquinas e instrumentos que abreviam o trabalho; b) construções que geram renda tanto para o proprietário quanto para o locatário; c) aprimoramento da terra; d) habilidades úteis dos indivíduos que compõe a sociedade. 3) Capital circulante: proporciona renda apenas quando passa de mãos em mãos. Também divide-se em quatro partes: a) Dinheiro: que possibilita a circulação e a distribuição dos bens; b) Estoque de provisões; c) Materiais em estado bruto ou ainda não acabados; d) Produto acabado. As três últimas partes do capital circulante da sociedade estão constantemente sendo desincorporados desse grupo, indo para o capital fixo ou destinado ao consumo imediato de alguém. Todo capital fixo deriva de um capital circulante e é mantido por ele, não podendo gerar renda ao seu proprietário sem um capital circulante: materiais a serem trabalhados e remuneração aos empregados. A única finalidade do capital fixo e do capital circulante é possibilitar o aumento do capital destinado ao consumo imediato da população. Sendo a riqueza de uma nação determinada pela capacidade das forças produtivas satisfazerem as necessidades da população, da capacidade destes capitais em fornecer os bens que satisfazem essas necessidades depende a riqueza ou a pobreza de uma sociedade. O capital circulante, por estar frequentemente sendo fragmentado e por ser necessário a manutenção do capital fixo, deve ser regularmente reabastecido. As fontes de abastecimento desse capital são três: a mineração, a produção da terra e a pesca, sendo que as três atividades também requerem capitais fixos e circulantes para serem exploradas. CAPÍTULO II O DINHEIRO CONSIDERADO COMO UM SETOR ESPECÍFICO DO CAPITAL NACIONAL, OU SEJA, A DESPESA DA MANUTENÇÃO DO CAPITAL A renda bruta de todos os habitantes de um país compreende a produção anual total de sua terra ou de seu trabalho. Já a renda líquida diz respeito ao que lhes resta livre após serem deduzidas todas as despesas de manutenção do capital, ou seja, tudo aquilo que, sem interferir em seu capital, pode ser incorporado ao seu capital reservado ao consumo imediato. A riqueza está em proporção à renda líquida, e não à renda bruta. O total de despesas necessárias para manter o capital fixo deve ser excluído da renda líquida da sociedade. O salário dos trabalhadores pode fazer parte da renda líquida, já que os trabalhadores podem empregar a totalidade de seus salários em seu capital de consumo imediato. O propósito do capital fixo é aumentar as forças produtivas do trabalho, portanto, qualquer redução nos custos de manutenção do capital fixo é vantajosa, desde que não afete negativamente a capacidade produtiva deste capital. O mesmo não ocorre em relação ao capital circulante. Dos quatro elementos que compõe esse capital – dinheiro, suprimentos, materiais e produto acabado – os três últimos são constantemente retirados do capital circulante e incorporados ou ao capital fixo ou ao capital reservado ao consumo imediato da sociedade. Toda porção desses bens, que não for empregada na manutenção do capital circulante, vai para o capital da sociedade, fazendo parte da renda líquida desta. Do mesmo modo, a manutenção desses três tipos de bens não retira da renda líquida da sociedade nenhuma porção da produção anual. Assim, o capital circulante da sociedade é diferente do capitalcirculante de um indivíduo. Em se tratando do capital circulante de um indivíduo, não há a possibilidade dele fazer parte da sua renda líquida, que deve consistir unicamente de seu lucro. Por outro lado, o capital circulante de um indivíduo, por estar sempre sendo incorporado ao capital de consumo imediato de outras pessoas, faz parte da renda líquida da sociedade. O dinheiro é o único elemento do capital circulante cuja manutenção pode acarretar diminuição da renda líquida da sociedade. O caráter peculiar do dinheiro, como elemento desse capital, deve ser analisado mais de perto. A manutenção da parcela do capital circulante composta por dinheiro afeta a renda da sociedade de uma maneira semelhante ao capital fixo, pois: 1) A circulação de dinheiro em certo país exigirá despesas que afetam a renda líquida do mesmo, devido à mão de obra e aos metais preciosos que, em vez de aumentarem o capital reservado para o consumo imediato, são empregados para manter a circulação; 2) Sendo a riqueza composta pelos bens capazes de satisfazer as necessidades da população e o dinheiro apenas a engrenagem que faz a roda da circulação funcionar, o dinheiro não faz parte nem da renda bruta nem da renda líquida da sociedade, assim como o capital fixo; 3) Assim como toda economia de despesas feita na manutenção do capital fixo é desejável, toda economia de despesas realizada a fim de manter a circulação de dinheiro em um determinado país é igualmente desejável. A substituição da moeda metálica por papel moeda é vantajosa por diminuir as despesas da manutenção do dinheiro como meio de circulação. Um banco emite notas bancárias, que devido à confiança e a credibilidade que possuem na sociedade, servem como dinheiro. Digamos que um banqueiro emita 100 mil libras esterlinas em notas promissórias que ficarão circulando por meses e até anos. Um montante de 20 mil libras em outro e prata em posse do mesmo banco pode ser o suficiente para suprir as demandas ocasionais. Assim, poupa-se a circulação de 80 mil libras em moeda metálica. Sendo 1 milhão de libras o necessário para fazer circular o total da produção anual de um país, diversos banqueiros emitem notas de até 1 milhão, deixando em seus cofres um total de 200 mil em ouro e prata para suprir eventuais demandas. Estariam em circulação, portanto, 1,8 milhão de libras. Sendo 1 milhão o suficiente para encher o canal de circulação, os outros 800 mil podem ser direcionados ao exterior para a compra de mercadorias estrangeiras. O total de papel-moeda de qualquer tipo, que pode facilmente circular em um país, jamais pode ultrapassar o valor do ouro e prata, com o qual supre a praça ou que circularia no país. Um banco que emite mais papel do que pode ser empregado na circulação do país deve aumentar a quantidade de ouro e prata que conserva sempre em seus cofres, não somente em proporção a este aumento excessivo na circulação das notas, mas, em proporção muito maior. CAPÍTULO III A ACUMULAÇÃO DE CAPITAL, OU DO TRABALHO PRODUTIVO E IMPRODUTIVO Há dois tipos de trabalho, a saber: trabalho produtivo e trabalho improdutivo. O trabalho produtivo acrescenta algo ao valor do objeto sobre o qual é aplicado, o trabalho improdutivo não tem esse efeito. O produto do primeiro tipo de trabalho dura um tempo considerável após esse trabalho se realizar, já o produto do segundo cessa imediatamente ao cessar o trabalho. Os trabalhadores da manufatura e da agricultura são produtivos; os empregados domésticos, artistas e advogados, por exemplo, são trabalhadores improdutivos. Disso não decorre, obviamente, que o trabalho improdutivo não seja útil e necessário à sociedade. A produção anual de um país mantém tanto trabalhadores produtivos quanto improdutivos. Quando se emprega maior quantidade dessa produção para manter trabalhadores improdutivos, sobre menos para os produtivos; quando se emprega maior quantidade para manter produtivos, sobra menos para os improdutivos. Na mesma medida, a produção do ano seguinte será menor ou maior. Parte da produção anual repõe o capital e parte constitui os lucros ou a renda da terra de alguém. A parte que repõe capital somente emprega mão de obra produtiva. O sustento de trabalhadores improdutivos, só pode provir dos lucros e da renda de alguém. Todo aumento ou diminuição de capital tende a aumentar ou a diminuir a quantidade real de trabalho, o contingente de cidadãos produtivos e, consequentemente, o valor de troca da produção anual da terra e do trabalho do país, a riqueza e renda reais de todos os seus habitantes. Onde quer que predomine o capital, prevalece o trabalho; e onde quer que predomine a renda, prevalece a ociosidade. Nos países ricos, os fundos destinados à manutenção de mão de obra produtiva são maiores. O tamanho desse fundo determina se a população e operosa ou indolente. O aumento do capital de um país aumenta a produção anual na medida em que os indivíduos economizam seus lucros e suas rendas, não os empregando de forma improdutiva. Portanto, é a parcimônia, e não o trabalho, que aumenta o capital total de um país. CAPÍTULO IV O DINHEIRO EMPRESTADO A JUROS Aquele que empresta dinheiro a juros emprega seu dinheiro como se ele fosse um capital, já o tomador do empréstimo pode utilizar o dinheiro como capital ou como dinheiro destinado ao seu consumo imediato. É muito mais vantajoso empregar o dinheiro emprestado em alguma atividade produtiva, assim o tomador de empréstimo deve ser mais capaz de repor o capital empregado e ainda pagar os juros. Quem toma empréstimos a juros apenas para gastar, mais frequentemente se arruína. Os empréstimos geralmente são feitos em dinheiro – em papel-moeda ou em ouro e prata. Entretanto, o que o tomador quer e o que o emprestador fornece não é o dinheiro em si, mas o valor do dinheiro, isto é, sua capacidade de comandar trabalho alheio. Assim, a quantidade de dinheiro, que pode ser emprestada a juros, em qualquer país, não é regulada pelo valor do dinheiro que serve como instrumento para os diversos empréstimos feitos no país, mas pelo valor daquela parcela da produção anual que, tão logo sai da terra ou das mãos dos trabalhadores produtivos, destina-se não somente a repor um capital, mas um capital que um proprietário não deseja ter o incômodo de ele mesmo aplicar. Uma vez que tais capitais costumam ser emprestados e restituídos em dinheiro, constituem o que se chama de juros do dinheiro. Quando aumenta o capital de um país, aumenta o juros do dinheiro, e na medida que a quantidade de dinheiro a ser emprestada a juros aumenta, os juros ou preço que deve ser pago pelo uso daquele dinheiro necessariamente diminui. CAPÍTULO V OS DIVERSOS EMPREGOS DE CAPITAIS A quantidade de mão de obra que um capital pode empregar, bem como o valor que esse capital acrescenta a produção anual de um país varia de acordo com diversidade de aplicações desse capital. Um capital pode ser empregado de quatro maneiras: primeiro, para se obter matéria-prima, isto é, os produtos brutos da terra; segundo, para a obtenção de produtos manufaturados; terceiro, no transporte de mercadorias, mais especificamente, trata-se do capital dos comerciantes atacadistas; e quarto, na fragmentar essas mercadorias em porções determinadas e que sejam suficientes para suprir a demanda de um lugar, mais especificamente, trata-se do capital dos comerciantes varejistas. Evidentemente, todos esses quatro empregos do capital são úteis para a sociedade e aqueles que os empregam são todas trabalhadores produtivos. O capital do varejista repõe o capital do atacadista do qual ele compra mercadorias. O capital do atacadista, por sua vez, repõe o capital dos agricultores e manufatores. Parte do capital do manufator é empregado como capital fixo; uma parte empregada como capital circulante repõe o capital dos trabalhadores responsáveis por explorar os produtos da terra, outra parte é destinada a manter seus trabalhadores assalariados. Assim, o capitaldo varejista emprega diretamente apenas a mão de obra do próprio comerciante varejista; o capital do varejista contribui indiretamente para sustentar a mão de obra dos manufatores e exploradores da terra e empregam diretamente os marinheiros e transportadores. Dessa forma, a operação do capital do atacadista é bastante superior ao do varejista. O capital da manufatura aciona uma quantidade muito maior de mão de obra e acrescenta a produção anual um valor muito maior que o do atacadista. Não há nenhum capital igual que movimente uma quantidade maior de mão de obra produtiva e que acrescente maior valor à produção anual do que o capital do agricultor, considerando que o gado e a natureza também podem ser considerados aqui como trabalhadores produtivos. Os capitais empregados na agricultura e no comércio varejista devem residir necessariamente no país onde operam; o capital do atacadista pode residir em qualquer lugar; o capital do manufator deve residir onde estiver localizada a manufatura, mas o local não está necessariamente determinado. Em se tratando do comércio atacadista, pouca diferença faz se é nacional ou estrangeiro o comerciante cujo capital exporta o excedente de uma sociedade. Já quanto ao capital do manufator, esse movimenta uma quantidade maior de mão de obra se estiver dentro do país. Determinados países, muitas vezes, não tem capital suficiente para agricultura, manufatura e transporte; em tais casos, quanto maior for o capital empregado na agricultura maior será a produção anual. O caminho mais natural para acumular capital e promover a riqueza do país é começar pela agricultura, por essa consistir na aplicação que mais movimenta mão de obra, sendo, portanto, a mais rentável. O contingente de mão de obra movimentado e o valor acrescentado a produção anual também variam de acordo com o tipo de comércio atacadista em que é aplicado o capital. Há três tipos de comércio: comércio interno, comércio exterior para consumo interno e comércio de transporte de mercadorias de um país a outro. O capital empregado no transporte de mercadorias de uma região do país a outra, repõe dois capitais nacionais. O capital empregado na importação repõe um capital nacional e um capital estrangeiro; seus retornos não são tão rápidos e só dão metade do estímulo à indústria nacional em relação ao capital empregado no comércio interno. O capital empregado no comércio de transporte de mercadorias estrangeiras repõe apenas capitais estrangeiros. Por isso, o capital aplicado no comércio interno sustenta mais mão de obra produtiva do que o capital empregado no comércio exterior, o qual, todavia, sustenta mais do que o capital no comércio de transporte. Evidentemente, é preferível estimular o comércio interno em detrimento dos demais, embora esses sejam vantajosos quando introduzidos naturalmente. Se o excedente de um país não encontra mais demanda entre a população, ele deve ser exportado; isso constitui mais um efeito do que uma causa da riqueza da nação. LIVRO TERCEIRO A DIVERSIDADE DO PROGRESSO DA RIQUEZA NAS DIFERENTES NAÇÕES CAPÍTULO I O PROGRESSO NATURAL DA RIQUEZA O comércio interno de todo país se dá através da troca de produtos brutos da terra por produtos manufaturados, isto é, da troca entre os habitantes do campo e da cidade. Essa relação de troca estabelece ganhos mútuos entre os dois. Assim como a subsistência, pela própria natureza das coisas, tem prioridade sobre o que são apenas comodidades e artigos de luxo, da mesma forma a atividade que garante a subsistência tem necessariamente prioridade sobre a que está a serviço das meras comodidades e do luxo. Consequentemente, o aprimoramento e o cultivo da terra, pelo fato de assegurar o necessário para a subsistência, deve forçosamente ter prioridade sobre o crescimento da cidade, que fornece apenas comodidades e artigos de luxo. As cidades não podem crescer desmensuradamente sem levar em conta sua dependência em relação ao campo, já que a subsistência da cidade depende do excedente do campo. Assim, é natural que a ordem do progresso da riqueza de um país comece pelo aprimoramento da terra, depois passe ao desenvolvimento da manufatura, para em último lugar desenvolver seu comércio exterior. Nos países modernos da Europa, entretanto parece que essa ordem foi invertida. Nesses países, foi o comércio externo de algumas de suas cidades que introduziu todas as suas manufaturas mais refinadas, isto é, aquelas que eram indicadas para vender seus produtos em locais distantes; e foram as manufaturas e o comércio exterior, juntos, que fizeram surgir os principais melhoramentos da agricultura. Isso se deu pelos hábitos e costumes dos seus primeiros governos. CAPÍTULO II O DESESTÍMULO À AGRICULTURA NO ANTIGO ESTÁGIO DA EUROPA, APÓS A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO A invasão do Império Romano pelos povos germânicos gerou desordens que perduraram por séculos. Primeiro o comércio entre campo e cidade foi abandonado; depois as cidades foram abandonadas e os campos deixados incultos. As terras foram usurpadas pelos líderes germânicos e, sendo cultivadas ou não, nunca deixaram de ser propriedade de alguém, A terra passou a ser um instrumento de poder. Essas terras usurpadas não eram divididas por sucessão ou alienação. Por ser um instrumento de poder, a terra passou a ser passada para o primogênito, indivisa. Naquela época todo senhor de terras era uma espécie de príncipe secundário, e seus arrendatários eram seus súditos. Todos ou quase todos eram escravos. Os escravos pertenciam mais diretamente à terra do que ao patrão. Podiam, portanto, ser vendidos com a terra, mas não independentemente dela. Podiam casar- se, desde que com o consentimento do patrão, o qual não podia, posteriormente, dissolver o casamento, vendendo marido e mulher a pessoas diferentes. Todavia, esses escravos rendeiros não tinham possibilidade de adquirir propriedade. O que quer que adquirissem pertencia ao patrão, o qual podia tirar-lhes à vontade o que haviam adquirido. Qualquer cultivo e melhoria que fossem feitos na terra com o trabalho de tais escravos contavam como feitos pelo patrão. A despesa era dele. Ora, se raramente se pode esperar grandes melhorias da terra por parte dos grandes proprietários, muito menos se pode esperar quando eles empregam escravos como trabalhadores. Por não existir a possibilidade de adquirir alguma propriedade ou liberdade, o escravo trabalhará somente o suficiente para sobreviver. Aos agricultores escravos sucederam gradativamente um novo tipo de agricultor conhecidos atualmente na França sob o nome de meeiros. A terra ocupada por essa casta de rendeiros é propriamente cultivada às expensas do proprietário, analogamente ao que acontece coma terra ocupada por escravos. Mas existe uma diferença essencial entre os dois. Tais rendeiros, pelo fato de serem livres, são capazes de adquirir propriedade, e por terem direito a uma parte da produção da terra têm um interesse evidente em que a produção total seja a máxima possível, para que grande seja também a parte que lhes cabe. Depois desse tipo de locatários vieram, embora muito gradualmente, os arrendatários propriamente ditos, que cultivavam a terra com seu próprio capital, pagando ao proprietário uma renda fixa. Todavia, mesmo a posse de tais arrendatários permaneceu por muito tempo extremamente precária, e continua a sê-lo, em muitas regiões da Europa. CAPÍTULO III A ASCENSÃO E O PROGRESSO DAS CIDADES APÓS A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO De início, os habitantes das cidades não parecem ter sido mais favorecidos que os do campo após a queda do império romano. Eram de condição servil, entretanto obtiveram a liberdade antes dos habitantes do campo, adquirindo a administração da cidade e alguns privilégios por parte dos reis. As cidades tornaram-se aliadasnaturais do soberano contra seus inimigos, os senhores de terras, Muitas vezes, as milícias das cidades eram capazes de sobrepujar os senhores feudais. Em decorrência dessa maior segurança nas cidades, o desenvolvimento da indústria, do comércio e o acúmulo de capital ocorreram antes nelas. CAPÍTULO IV DE QUE MANEIRA O COMÉRCIO DAS CIDADES CONTRIBUIU PARA O PROGRESSO NO CAMPO O comércio e a indústria das cidades favoreceu o desenvolvimento da agricultura de três maneiras: 1) Oferecendo um mercado grande e preparado para a produção bruta do campo, estimularam o seu cultivo e posterior progresso; 2) A riqueza dos habitantes da cidade os levava a adquirir terras. Quando comerciantes se tornam aristocratas rurais, geralmente são os que mais se empenham em melhorar as terras. 3) O comércio e a manufatura introduziram gradualmente a ordem e a boa administração e, com elas, a liberdade e a segurança dos indivíduos. Desse modo, parece que, contrariando a ordem natural do progresso, foram as cidades, através do comércio e da manufatura, que causaram o desenvolvimento da agricultura na Europa. Por essa evolução ter contrariado o curso natural das coisas, foi bastante lenta e incerta. LIVRO QUARTO SISTEMAS DE ECONOMIA POLÍTICA A economia política tem dois objetivos: prover renda ou manutenção farta à população e prover renda ao Estado ou à comunidade para os serviços públicos. Desse modo, ao longo da história e do progresso das nações, surgiram dois sistemas distintos de economia política: o sistema comercial e o sistema agrícola. CAPÍTULO I O PRINCÍPIO DO SISTEMA COMERCIAL OU MERCANTIL Há o senso comum de que a riqueza consiste em dinheiro, por ele ser instrumento de comércio e medida de valor. Segundo o filósofo John Locke, o dinheiro representa melhor a riqueza do que qualquer outro bem, devido ao seu caráter durável; mesmo circulando de mãos em mãos, desde que não o exportemos para fora do país, está pouco sujeito ao desgaste e ao consumo. Dessa forma, para o ilustre filósofo, a riqueza de uma nação consiste na quantidade de ouro e prata que é capaz de acumular. Outros afirmam que se uma nação pudesse ser separada do restante do mundo, pouco importaria a quantidade de dinheiro em circulação dentro de seu território, sendo a abundância ou escassez de bens de consumo que determinaria a riqueza ou a pobreza da nação. Porém, como em tempos de guerra, para manter esquadras e exércitos em lugares distantes é necessário enviar dinheiro ao exterior, em tempos de paz é preciso que o país tenha um estoque suficiente de metais preciosos para essa finalidade. Assim, as nações europeias têm se empenhado em acumular o máximo possível de ouro e prata em seus territórios, através, fundamentalmente, de restrições à exportação desses metais para fora do país. Entretanto, quando esses países tornaram-se países comerciais, muitos comerciantes passaram a considerar essas restrições bastante inconvenientes, pois era muito mais fácil comprar mercadorias estrangeiras das quais necessitavam com ouro e prata do que com qualquer outra mercadoria. Argumentavam, inclusive, que havia a possibilidade de a compra de tais mercadorias em ouro e prata, ao invés de diminuir a quantidade desses metais em circulação dentro do território nacional, poderia, pelo contrário, aumentar essa quantidade através da reexportação dessas mercadorias estrangeiras à outros países, com lucros que ultrapassariam o valor gasto inicialmente. Além disso, os comerciantes alegavam que essa proibição não conseguiria impedir a exportação de ouro e prata, os quais sairiam facilmente do país através do contrabando, em virtude de seu reduzido volume em comparação com seu alto valor. Sustentavam que tal exportação só poderia ser evitada quando atendendo-se devidamente ao que chamavam de balança comercial. A teoria da balança comercial consistia basicamente no seguinte: Quando um país exporta mais valor do que importa, os países estrangeiros ficavam em dívida com ele. Dívida esta que deveria ser paga com ouro e prata; por outro lado, ao importar mais valor do que exportar, o país fica devendo aos países estrangeiros. Nesse caso, alegavam eles, proibir a exportação desses metais não lograria efeito; o remédio seria fazer com que tal exportação ficasse mais cara, tornando-a mais dispendiosa. Tais argumentos, apesar de sólidos na medida em que demonstravam que a exportação de ouro e prata as vezes pode ser vantajosa e que a proibição não poderia impedir a exportação, eram sofismas na medida em que afirmavam que para aumentar a quantidade de ouro e prata era preciso que o governo interviesse nas relações comerciais e que o alto preço do câmbio aumenta a balança comercial desfavorável. A quantidade de uma mercadoria qualquer que o trabalho humano pode comprar ou produzir é sempre regulada pela demanda efetiva da população, ou de acordo com a demanda daqueles que estão prontos a pagar toda a renda da terra, a mão de obra e o lucro necessários para preparar e comercializar a respectiva mercadoria. Se em um país a quantidade de ouro e prata superar essa demanda efetiva, nem a mais sanguinária lei conseguirá impedir sua exportação para onde há demanda efetiva por esses metais, pois não há mercadorias mais fáceis de serem transportadas do que ouro e prata, devido ao seu volume reduzido e seu alto valor. Além disso, se não houvesse ouro e prata para atender à demanda efetiva, nem por isso, o Governo deveria se preocupar com isso. A falta de materiais paralisa a indústria, a falta de alimentos mata a população, mas a falta de metais preciosos pode ser resolvida, apesar dos inconvenientes, através do escambo, do crédito e de um sistema bem estruturado de emissão de papel-moeda. No entanto, não há queixa mais frequente entre os comerciantes do que a escassez de dinheiro. A causa disso geralmente é o excesso de comércio. As pessoas sóbrias cujos projetos se tornaram desproporcionais em relação aos capitais que possuem, estão sujeitas a não ter com que comprar dinheiro. Portanto, é evidente que a riqueza não consiste no dinheiro, mas naquilo que o dinheiro é capaz de comprar e no poder de compra que ele tem. Se é mais fácil comprar mercadorias com dinheiro do que com outros bens, não é porque o dinheiro consiste na riqueza, mas porque o dinheiro é o instrumento de comércio reconhecido e estabelecido como tal, sendo mais fácil obter bens através do dinheiro do que através de outros bens. Assim, a quantidade de dinheiro disponível em um país deve ser proporcional a produção que esse país é capaz de fazer circular. Qualquer quantidade de dinheiro em excesso tende a tornar-se ociosa e, consequentemente, sua exportação, em troca de mercadorias estrangeiras, torna-se inevitável. A descoberta das minas na América não enriqueceu a Europa devido à introdução de ouro e prata a preços mais baratos que antes. O baixo preço de ouro e prata pode tornar até mesmo inconveniente o uso de dinheiro como meio de circulação, pois será preciso carregar uma quantidade maior desses metais para comprar os bens. A descoberta da América beneficiou a Europa devido ter aberto um novo mercado para as mercadorias europeias, dando margem à novas divisões do trabalho e aperfeiçoamento profissional, melhorando as forças produtivas e a riqueza da população europeia. Por supor que a riqueza consiste em ouro e prata, a Economia Política procurou reduzir as importações e estimular as exportações. As restrições à importação têm sido de dois tipos: primeiro, restrições de todos os tipos em relação a países aos quais se supunha ser desfavorável a balança comercial; segundo, impondo taxas alfandegárias ou proibições absolutas. Os estímulos à exportação são feitos através dos drawbacks, subsídios, tratados comerciais e implantação de colônias. Cada um desses mecanismos será devidamente explorado nos capítulos seguintes.CAPÍTULO II RESTRIÇÕES À IMPORTAÇÃO DE MERCADORIAS ESTRANGEIRAS QUE PODEM SER PRODUZIDAS NO PRÓPRIO PAÍS Com taxas alfandegárias ou proibições absolutas, restringe-se a importação de mercadorias que podem ser produzidas pela indústria nacional. Desse modo, garante-se o monopólio do comércio interno para o próprio país, Tais restrições podem estimular a indústria, mas nada podem fazer para aumentar a atividade nacional geral, pois essa é determinada pela capacidade que o capital nacional tem de empregar mão de obra. O interesse de cada indivíduo leva-o a procurar o emprego mais vantajoso para o seu capital, aplicando-o o mais perto possível de sua residência, desde que produza o maior valor possível. Evidentemente, cada indivíduo tem melhor condição de avaliar em que atividade será empregar seu capital do que qualquer estadista. Ao induzir os indivíduos a produzir aquilo que podem comprar mais barato no exterior, o Estado, através de taxas e restrições, pode prejudicar o interesse nacional. Entretanto, há dois casos específicos em que pode ser vantajoso impor alguma restrição à atividade estrangeira no país: primeiro, quando uma atividade específica é necessária para a defesa do país, como é o caso da navegação para a Grã-Bretanha; segundo, quando existe taxa similar sobre o produto da manufatura nacional. CAPÍTULO III AS RESTRIÇÕES EXTRAORDINÁRIAS À IMPORTAÇÃO DE MERCADORIAS DE QUASE TODOS OS TIPOS. DOS PAÍSES COM OS QUAIS A BALANÇA COMERCIAL É SUPOSTAMENTE DESFAVORÁVEL PARTE PRIMEIRA A IRRACIONALIDADE DESSAS RESTRIÇÕES , MESMO COM BASE NOS PRINCÍPIOS DO SISTEMA COMERCIAL Tais restrições são irrazoáveis, mesmo com base no sistema comercial, pois mesmo comprando de países onde a balança comercial for desfavorável, se o preço das mercadorias for mais baixo, embora aumentasse muito o valor das importações, diminuiria o valor total das importações anuais, na proporção em que as mercadorias fossem mais baratas. Em segundo lugar, grande parte dessas mercadorias poderia ser reexportada a outros países, onde, sendo vendidas com lucro, poderiam trazer um retorno talvez igual ao custo primário de todas as mercadorias importadas. Por último, não existe nenhum critério seguro pelo qual podemos determinar para onde pende a balança comercial. Os registros de alfândega são poucos seguros, devido á inexatidão com que a maior parte das mercadorias são neles avaliados e nem sempre o estado normal de débito e crédito entre dois países é inteiramente determinado pelo curso normal de suas transações comerciais mútuas, senão que, muitas vezes, é influenciado pelo curso das relações comerciais com muitos outros países. PARTE SEGUNDA A IRRACIONALIDADE DESSAS RESTRIÇÕES COM BASE EM OUTROS PRINCÍPIOS A teoria da balança comercial é absurda e um comércio que é forçado por subsídios e monopólios costuma ser desvantajoso para o país que julga estar se favorecendo dele. A vantagem ou ganho não se baseia no acúmulo de ouro ou prata, mas no aumento do valor de troca da produção anual do país, ou seja, o aumento da renda de seus habitantes. Na verdade há uma outra balança, que já foi explicada, e que é muito diferente da balança comercial — essa sim, conforme for favorável ou desfavorável, necessariamente gera a prosperidade ou o declínio de uma nação. É a balança de produção e consumo anuais. Já observei que, se o valor de troca da produção anual superar o valor de trocado consumo anual, o capital da sociedade deve aumentar proporcionalmente a esse excedente. Nesse caso, a sociedade vive nos limites de sua renda, e o que anualmente se economiza dessa renda é naturalmente acrescentado a seu capital e empregado para aumentar a produção anual. Ao contrário, se o valor de troca da produção anual for inferior ao consumo anual, o capital da sociedade deve diminuir anualmente em proporção a essa diferença ou insuficiência. Neste caso, a despesa da sociedade supera sua renda, interferindo forçosamente em seu capital. Por isso, seu capital necessariamente diminui, junto a ele, o valor de troca da produção anual de sua atividade. É possível a uma nação importar um valor superior ao que exporta, e isso talvez durante meio século contínuo; é possível que o ouro e a prata que entram nesse país durante todo esse tempo sejam imediatamente enviados para fora; sua moeda circulante pode diminuir gradualmente sendo substituída por diversos tipos de papel-moeda; podem até aumentar gradualmente dívidas que o país contrai junto às principais nações com as quais comercializa não obstante isso, a riqueza real desse país, o valor de troca da produção anual de suas terras e de seu trabalho podem, durante esse mesmo período, ter aumentado em uma proporção muito maior. CAPÍTULO IV OS DRAWBACKS Os drawbacks são estímulos à exportação, que permitem ao comerciante recuperar, na exportação, o total do imposto de consumo ou taxa imposta aos produtos do país. Os comerciantes e manufatores não se contentam com o monopólio do comércio interno, entretanto, como não têm nenhuma legislação ou influência sobre outros países, solicitam auxílios e estímulos dos seus. Dentre todos os estímulos à exportação, os drawbacks parecem ser os mais razoáveis, pois preservam a distribuição natural do trabalho. O mesmo ocorre com os drawbacks de taxas pagas sobre mercadorias importadas. CAPÍTULO V OS SUBSÍDIOS Não podendo forçar os estrangeiros a consumir nossos produtos, às vezes pagamos aos estrangeiros para que os consumam. Admite-se que os subsídios só devam ser concedidos para setores comerciais que não conseguem operar sem eles, ou seja, produtos que não permitem ao comerciante repor seu capital somado aos lucros. O comércio efetuado entre duas nações com o auxílio de subsídios é o único capaz de serem realizados durante um longo período de tempo, de tal maneira que uma delas sempre e regularmente terá de vender suas mercadorias a um custo inferior ao que lhe custa realmente enviá-las ao mercado. O efeito dos subsídios é, portanto, dirigir forçosamente atividades para um canal menos vantajoso do que seria aquele para o qual o capital se dirigiria espontaneamente. O subsídio, na agricultura, em anos de abundância tendem a fixar o preço dos cereais a um preço superior ao que espontaneamente se fixaria. Assim, a ampliação do mercado externo é feita às expensas do mercado interno, impondo duas taxas à população: primeiro, a taxa que o povo é obrigado a contribuir para continuar pagando o subsídio; segundo, a taxa que provém do preço aumentado da mercadoria no mercado interno. CAPÍTULO VI OS TRATADOS COMERCIAIS Tratados comerciais estabelecidos entre duas nações tendem a favorecer um lado e desfavorecer outro. O país que obtém o privilégio de vender suas mercadorias em outro, sem concorrência, pode vendê-las a preços melhores. O país que favorece outro, outorga a ele o monopólio de seu comércio interno, desfavorecendo, assim, os produtores e comerciantes nacionais. CAPÍTULO VII AS COLÔNIAS Parte Primeira: Os motivos da fundação de novas colônias O estabelecimento de colônias europeias no continente americano não se deu pelos mesmos motivos que na antiguidade levaram a Grécia e a República Romana a estabelecer suas colônias. As colônias gregas se deveram ao crescimento da população da pátria mãe, sendo que colonos, ao se fixarem em novas terras, estabeleciam seus próprios governos. Em Roma, o estabelecimento de colônias serviu para proteger a República. No caso das colônias europeias na América, os motivos de sua fundação são menos evidentes. Os venezianos mantinham um comércio muito vantajoso com as Índias Orientais, o que causou a inveja dos portugueses e os levou a descobrir a passagem pelo cabo da Boa Esperança. Colombo, almejando alcançar o oriente pelo ocidente, descobriu as terras americanas, as quais ficariam conhecidas comoÍndias Ocidentais. Essa região não era rica em animais e vegetais, portanto, a atenção da Coroa e dos colonos foi atraída aos minerais (ouro e prata). Entretanto, nenhum projeto absorve mais capital e lucros do que a mineração, sendo que um legislador jamais deve dar prioridade a essa atividade em detrimento das demais, se estiver interessado em desenvolver a riqueza real de seu país. Parte Segunda: Causas da prosperidade das novas colônias Os colonizadores fazem a terra ocupada progredir em riquezas com uma rapidez bastante peculiar, levando consigo conhecimentos agrícolas, tecnologias e formas avançadas de organização política até então desconhecidas. As terras são abundantes e baratas, não há impostos e rendeiros e há todos os motivos para produzir o máximo que puder. Entretanto, como as terras são vastas, jamais consegue extrair dela todo o seu potencial, assim procura empregar bastante mão de obra e com salários altos, devido a baixa densidade populacional em relação a extensão das terras. Parte Terceira: as vantagens que a Europa auferiu da descoberta da América e de uma passagem para as Índias Orientais através do cabo da Boa Esperança As vantagens obtidas pela Europa a partir das novas colônias podem ser divididas em dois tipos: vantagens para o continente europeu como um todo; e vantagens relativas aos países específicos que obtiveram o domínio político de novas terras. As vantagens gerais para a Europa são: primeiro, o aumento da satisfação da população gerado pelo excedente dos produtos americanos que entram no velho continente. Segundo, um incremento da atividade, não somente nos países que mantém comércio direto com a América, mas também em outros países, que não exportam seus produtos para a América ou nem sequer recebem qualquer produto da América. A exclusividade de comércio dos países colonizadores tende a diminuir, ou, pelo menos, a manter abaixo do que de outra forma atingiriam tanto as satisfações como a atividade de todas essas nações, de um modo geral, e das colônias, em particular. O excedente de produção das colônias representa, no entanto, a fonte original do aumento da satisfação e da atividade que a Europa desfruta pela descoberta e colonização da América. As vantagens que cada país colonizador aufere das colônias são de dois gêneros: primeiro, vantagens comuns que todo império obtém das províncias sob seu domínio, ou seja, força militar e renda. Até o momento, as colônias mal têm condições de defenderem-se por conta própria, muito menos defender a metrópole e as únicas colônias que contribuem com renda às respectivas pátrias mães são as colônias de Portugal e Espanha; vantagens peculiares para suas respectivas pátrias mães decorrentes da exclusividade comercial parece ser a única vantagem específica gerada pelas colônias. Entretanto, a exclusividade comercial de um país constitui uma desvantagem para todos os outros países. CAPÍTULO VIII RESULTADOS DO SISTEMA COMERCIAL O sistema mercantil se propõe a aumentar a riqueza do país estimulando a exportação e desestimulando a importação. Entretanto, em relação a determinadas mercadorias faz justamente o oposto. Desestimula exportação dos materiais para a manufatura e dos instrumentos de trabalho, a fim de proporcionar aos seus próprios operários uma vantagem em relação aos outros países, bem como estimula a importação de materiais para manufatura. A importação de materiais para manufaturas às vezes foi estimulada por uma isenção das taxas alfandegárias, e, às vezes, por subsídios. Entretanto, tal estímulo favorece os grandes manufatores nacionais e desfavorece os pequenos produtores pobres, como os fiandeiros. Estimulando a importação de fio de linho estrangeiro e, com isso, fazendo-o concorrer com o fio feito pelos trabalhadores nacionais, procura-se comprar o trabalho das pobres fiandeiras o mais barato possível. A exportação de materiais para manufatura é desestimulada, ora por proibições absolutas, ora por taxas alfandegárias. A exportação de lã e de ovelhas vivas é proibida sob penas severas; antigamente, a mutilação da mão esquerda e a morte. A exportação de instrumentos de trabalho propriamente ditos é comumente restringida por proibições absolutas, bem como é proibido induzir um artífice a ir ao exterior exercer e ensinar sua profissão. O objetivo dessas medidas é ampliar nossa manufatura, não por meio de seu aperfeiçoamento, mas depreciando a manufatura de outros países. O consumo é o único objetivo e propósito de toda produção, ao passo que o interesse do produtor só pode ser atendido na medida em que promova o interesse do consumidor. No sistema mercantil, o interesse do consumidor é sacrificado ao do produtor. É totalmente em benefício deste último que o consumidor é obrigado a pagar o aumento de preço provocado por esse monopólio. Os planejadores de todo o sistema mercantil foram os produtores, sobretudo os comerciantes e manufatores. CAPÍTULO IX OS SISTEMAS AGRÍCOLAS Os sistemas agrícolas de economia política nunca foram adotados por nenhuma nação e é defendido apenas por alguns pensadores franceses. Nesse sistema, a atividade da cidade é subvalorizada e a atividade do campo supervalorizada, representando assim a antítese do sistema mercantil. Para o sistema agrícola há três classes de pessoas: os proprietários de terra, os cultivadores da terra e os trabalhadores da manufatura e comércio, chamados de trabalhadores estéreis e improdutivos pelos defensores do sistema agrícola. Os proprietários da terra contribuem para a produção anual com o aprimoramento da terra, fazendo com que os cultivadores possam produzir mais. A despesa com o aprimoramento da terra é chamado de despesa fundiária. Os cultivadores ou lavradores contribuem com as despesas originais ou anuais de cultivo (instrumentos, sementes, capitais, gado e subsistência da família pelo menos no primeiro ano da ocupação da terra). Essas duas despesas são capitais que devem ser repostos ao trabalhador da terra. No sistema agrícola essa classe de trabalhadores é denominada de pessoas produtivas e as suas despesas como despesas produtivas. Também a despesa fundiária é despesa produtiva. As demais despesas e categorias de pessoas são tidas por esse sistema como improdutivas, em particular os artífices e os manufatores. O capital do arrendatário lhe proporciona lucro assim como o capital do mestre manufator, e também proporciona renda ao proprietário da terra, o que não acontece com o capital do mestre manufator. Portanto, a despesa do manufator apenas mantém a continuidade do valor do seu trabalho, não aumentando em nada esse valor, por isso é uma despesa estéril e improdutiva. Os artífices, manufatores e comerciantes apenas podem aumentar a renda e a riqueza de seu país através da parcimônia, isto é, se privando de consumir uma parcela dos fundos destinados à sua subsistência. Ao contrário, os arrendatários e os trabalhadores do campo podem desfrutar inteiramente do total dos fundos destinados à sua subsistência e também aumentar, ao mesmo tempo, a riqueza do país. A classe improdutiva é mantida pelas outras duas classes. São elas que lhes fornecem os materiais brutos para seu trabalho e a sua subsistência. Entretanto, a classe improdutiva é altamente útil às outras duas classes, pois lhes fornece produtos que não podem produzir senão com muito trabalho e risco. Por meio da classe improdutiva, os trabalhadores do campo são liberados de muitas preocupações que de outra forma desviariam a atenção do cultivo da terra. Assim, não é do interesse das classes produtivas desestimular a atividade da classe improdutiva. Entretanto, o sistema agrícola erra ao apresentar os artífices, manufatores e comerciantes como improdutivos pois: 1) eles reproduzem pelo menos o seu consumo anual e dão continuidade ao capital que lhes dá emprego; 2) eles não se identificam com os empregados domésticos,como observado no Capítulo III do Livro Segundo; 3) seu trabalho gera aumento da renda real da sociedade; 4) para aumentar a produção anual a parcimônia é mais exigida dos arrendatários do que deles. O aumento da produção só ocorre de duas formas: primeiro, pelo aprimoramento das forças produtivas; segundo, pelo aumento da quantidade de trabalho. O aprimoramento das forças produtivas só pode ser obtido pela divisão do trabalho e a divisão do trabalho é mais limitada nas atividades agrícolas do que na manufatura. O aumento do trabalho só pode acontecer em proporção ao aumento do capital e o capital somente aumenta pela parcimônia; 5) O comércio e a manufatura também podem proporcionar aqueles meuis de subsistência que o sistema considera como a única renda, através da importação; Apesar dos erros, esse sistema parece ser o mais razoável já surgido, por afirmar que a riqueza consiste não no dinheiro, mas nos bens de consumo da terra. Entretanto, restrições à manufatura e ao comércio tendem a desestimular a agricultura e todas as atividades são necessárias para aumentar a riqueza de uma nação. Assim, todos os sistemas de estímulos e restrições retardam o progresso da sociedade. O sistema de liberdade natural deixa para o soberano apenas três deveres: 1) a defesa do país; 2) a administração judicial e; 3) a manutenção de certas obras públicas. LIVRO QUINTO A RECEITA DO ESTADO OU DO SOBERANO CAPÍTULO I OS GASTOS DO ESTADO E DO SOBERANO Parte Primeira – os gastos com a defesa É dever do soberano proteger a nação contra a violência estrangeira. Tal só pode ser cumprido pela força militar. Quanto mais desenvolvida for a nação mais gastos ela deve ter para defender-se. Uma sociedade de caçadores não tem gasto algum com defesa, pois cada indivíduo é um guerreiro. Também entre as nações de pastores, todo homem é igualmente um guerreiro. Em um estágio mais avançado, duas causas contribuem para tornar totalmente impossível manterem-se à própria custa os que vão à guerra: o desenvolvimento da manufatura e o aperfeiçoamento da arte bélica. Se um agricultor vai à guerra após a semeadura e retorna dela antes da colheita, pode-se dizer que a natureza e a sua família podem se incumbir de sua atividade, não provocando redução considerável de sua renda. Entretanto, se um artífice, ferreiro, carpinteiro ou tecelão abandona sua oficina de trabalho, seca totalmente sua renda. Com o aperfeiçoamento da arte bélica, é necessário que haja divisão do trabalho também nessa atividade. Em se tratando da arte bélica, a sabedoria do Estado é a única que tem condições de fazer a profissão de soldado uma atividade específica. Existem dois métodos mediante os quais o Estado de uma nação desenvolvida promover a defesa pública: criando milícias ou criando um exército permanente. Um exército permanente sempre será mais disciplinado e melhor capacitado para as atividades bélicas do que as milícias, portanto, se o Soberano for ajuizado, optará por manter um exército permanente para a defesa da nação. Entretanto, os gastos serão maiores. Assim, na guerra moderna, nações mais ricas têm vantagem sobre as mais pobres. Parte Segunda – Os gastos com a justiça Os gastos com a administração da justiça também variam de acordo com o grau de progresso da sociedade. Em sociedades de caçadores primitivos e de pastores ela não é necessária, na primeira pois não há nenhuma diferença significativa entre a propriedade dos seus membros, na segunda pois a grande propriedade do soberano, não podendo o seu excedente ser trocado por produtos manufaturados, deve servir de proteção aos que pouco possuem, esses lhe asseguram obediência em troca dessa proteção. É somente onde há grande propriedade e desenvolvimento que o poder judiciário é necessário. Portanto, o governo civil existe em função da defesa da propriedade e, consequentemente, em favor dos mais ricos contra os mais pobres. Parte Terceira – Os gastos com obras e instituições públicas O terceiro dever do Estado é a implantação de obras e instituições que são úteis à sociedade mas que dificilmente poderiam ser levadas adiante por indivíduos particulares, pois são incapazes de gerar lucros. São as obras necessárias para facilitar o comércio e obras destinadas à instrução do povo. As despesas para construir e manter estradas públicas aumentam na medida que aumenta a produção anual da terra e do trabalho do respectivo país. As despesas com essas obras podem ser pagas através de receitas geradas por elas mesmas, obtidas mediante pedágios e outros encargos específicos. Ao baratear os custos de transporte, as mercadorias tornam-se mais baratas e a cobrança de pedágio pode ser facilmente compensada. Os gastos com tais obras devem ser adequados àquilo que o comércio é capaz de pagar. Os canais de navegação serão administrados melhor em mãos particulares. Se ele não é mantido de maneira aceitável, a navegação torna-se inviável. Se fossem administrados por comissários, que não tivessem nenhum interesse imediato neles, poderiam ser menos cuidadosos com essas obras. As estradas, entretanto, mesmo que negligenciada, não se torna inteiramente intransitável, por isso, os responsáveis pelas taxas de pedágio de uma estrada poderiam negligenciar totalmente a manutenção da mesma, continuando, apesar disso, a cobrar quase os mesmos pedágios. O mais aconselhável é colocar os pedágios sob a administração do Estado – antes pela administração local, do que por comissários ou representantes do soberano. Certos setores comerciais, em que se transaciona com nações bárbaras e incivilizadas, exigem uma proteção extraordinária, como fortificações, por exemplo. O interesse do comércio muitas vezes têm criado a necessidade de manter ministros em países estrangeiros onde os objetivos da guerra ou da aliança não os exigiriam. É razoável impor uma taxa específica a setores comerciais cuja proteção requer despesas extraordinárias ou, o que é mais justo, mediante um tributo específico sobre as mercadorias que importam dos países com os quais se mantém comércio. O dever de proteger o comércio é do poder executivo, todavia, em muitos casos, tem sido entregue a companhias comerciais, aos quais tendem ao espírito do monopólio. A educação dos pobres exige atenção do Estado, mais do que a das pessoas de fortuna, pois a divisão do trabalho, entendida como consequência natural do desenvolvimento da sociedade, priva os indivíduos que realizam as tarefas mais simples de desenvolverem sua capacidade intelectual. CAPÍTULO II AS FONTES DA RECEITA GERAL OU PÚBLICA DA SOCIEDADE Toda receita provém de uma das duas fontes: 1) propriedades pertencentes ao soberano; 2) rendimentos do povo. Parte Primeira – Os fundos ou fontes de receita que podem pertencer particularmente ao soberano ou ao Estado Podem consistir em capital ou em terras. O soberano, como qualquer outro proprietário pode auferir de seu capital lucros ou juros. Somente no estágio mais primitivo e rudimentar de governo civil é que o lucro constitui maior parte da receita pública de um Estado. Já para países maiores, o lucro de um banco estatal tem sido uma fonte de receitas, assim como os serviços postais. Entretanto, no geral, governantes não são bons comerciantes, devido as mentalidades de um e de outro serem muito incompatíveis. Um Estado pode, por vezes, auferir alguma parte de sua receita pública dos juros de dinheiro, bem como dos lucros do capital. Se juntou um tesouro, pode emprestar parte dele a países estrangeiros ou a seus próprios súditos. A terra é um fundo de natureza mais estável e permanente; em consequência, a renda de terras do Estado tem sido a fonte principal da receita pública de muitas grandes nações que progrediram além do estágio pastoril. Entretanto, mesmo que todas as terras do país fossem administradas pelo soberano, dificilmente ultrapassaria os gastos normais.
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