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Reflexos da pandemia Covid - CAROLINE DE SOUZA - 7A

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CAROLINE DE SOUZA – 7 “A” 
Reflexos da pandemia Covid-19 no direito de família - 
divórcio, violência doméstica e prestação de 
alimentos 
 
Grandes são os desafios que enfrentamos no contexto corrente 
devido ao Covid – 19, conturbações no cenário político, administrativo, 
questões de saúde coletiva, ostentamos macros e micro problemas. 
Podemos considerar macros, os que afetam a sociedade como um todo, 
de maneira direta, já os micros, pequenas situações, como convivência 
no núcleo familiar. 
Recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o 
isolamento e distanciamento social para quem pudesse exercer, como 
medida de minimizar a contaminação pelo coronavírus. Logo, as famílias 
tiveram um contato “forçado” maior do que o comum, para alguns visto 
como maneira de aproximar se afetivamente de pessoas bem quistas, 
entretanto, de outro lado expostos a fragilidade do contato, dos 
relacionamentos e alguns sentimentos 
De acordo com a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos em 
dados divulgados no site da Câmara dos Deputados no dia 12 de maio 
de 2020, o número de casos no mês de abril, deste ano aumentou em 
28% em relação ao ano anterior. 
Uma situação difícil, a mulher agredida convive bem mais com seu 
agressor em tempos de isolamento, os números de denúncia eram 
maiores nos fins de semana, agora a qualquer período da semana estão 
sujeitas a sofrerem algum tipo de violência. Thiago Pierobom, promotor 
de Justiça no Distrito Federal, disse que verificou um movimento inverso 
nos registros criminais, com queda de quase 28% no DF, tendo em vista a 
dificuldade de denunciar e ter o agressor “preso em casa”. 
Historicamente a casa não é um refugio para a mulher, não um 
seguro. Nas palavras de Soraia da Rosa Mendes o porquê não ser de 
espantar que em um país como o Brasil, que ostenta o quinto lugar no 
ranking mundial em mortes de mulheres, a pandemia tenha vindo não só 
a aumentar os casos de violência doméstica e familiar, mas a escancarar 
a incapacidade que tivemos enquanto Estado (e sociedade) de tratar 
com a devida seriedade o combate à violência de gênero (sim, de 
gênero!) como prioridade. 
Como meio de efetuar denúncias o Ministério da Mulher, da Família 
e dos Direitos Humanos (MMFDH), tomou medidas de caráter 
emergenciais, por meio de um aplicativo e abertura de ouvidoria como 
meios de combate a violência doméstica. Um bom início, tendo em vista 
que o problema está bem mais enraizado do que possamos perceber. 
E faz se necessário que caia por terra aquele velho ditado que soa 
erroneamente na sociedade: “Em briga de marido e mulher, não se mete 
a colher!”. 
O estado do Pará, está atualmente como o quarto maior estado 
com recebimento de denúncias de violência de modo geral (figura 1), 
registradas em plena pandemia. Analisando a violência contra a mulher, 
o Pará nesse ranking sobe para terceiro lugar (figura 2), um tanto 
preocupante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte:https://mdh.metasix.solutions/portal/indicadores 
 
Com a novidade, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos 
(ONDH) amplia o alcance dos serviços do Disque 100 (disque direitos 
humanos) e do Ligue 180 (Central de atendimento à mulher) para o meio 
digital com o lançamento do aplicativo Direitos Humanos Brasil e de 
portal exclusivo. 
O Enunciado nº 9, aprovado no Fórum Nacional de Violência 
Doméstica e Familiar contra a Mulher (Fonavid) prevê a utilização do 
aplicativo de mensagens WhatsApp como meio eficaz de dar 
efetividade a atos processuais como notificações e intimações, tendo 
em vista as suas funcionalidades. Medida essa já adotada de acordo 
com recomendação do CNJ, por alguns Tribunais de Justiça (Rio Grande 
do Norte, por exemplo) a partir de respaldo nos princípios da 
instrumentalidade e da informalidade do processo. 
A preocupação com a violência doméstica extrapola este período 
que vivemos, em muitos outros países também tiveram aumento de tal 
tipo de violência, a mulher ainda é fragilizada e menosprezada por parte 
da sociedade, sendo vista como alvo fácil. Especialista em violência 
https://mdh.metasix.solutions/portal/indicadores
doméstica, a antropóloga Lia Zanotta, da UnB, acredita que o aumento 
no registro de feminicídios é o reflexo de uma construção histórica que 
colocou a mulher abaixo do homem. Para ela, a visibilidade de casos faz 
aumentar as denúncias e torna o processo judicial mais eficaz, mas ainda 
há um caminho longo a ser percorrido para desconstruir essa tradição. 
“A mulher é uma válvula de escape”. 
Para a professora Lourdes Bandeira, as motivações dos crimes 
costumam se dividir em três: mulheres querem se separar e o 
companheiro não aceita; suspeita de adultério ou dificuldade de aceitar 
que a ex-esposa possa seguir a vida de solteira. 
Tivemos um grande avanço com a Lei Maria da Penha, dar voz a 
mulheres que se sentiam oprimidas e sem medidas de escape para 
“solucionar” questões em que são vítimas. 
Por outro lado, e tratando ainda deste momento em que 
passamos, o stress entre casais devido a pandemia, situações financeiras 
complicadas. Sendo a esfera familiar a mais difícil enfrentada na 
pandemia. 
Aumentaram os divórcios no mundo. Relatos da China pós-
confinamento indicam recorde nos pedidos de divórcio, notadamente 
formulados por mulheres que, desde a Lei do Casamento de 1950, 
adquiriram esse direito de postulação. Em Nova York, o fenômeno se 
repete, enquanto na Rússia, onde 60% dos casamentos terminam em 
divórcio, diante das medidas de controle, casamentos e divórcios foram 
suspensos até 1º de junho. 
Os juristas que vêm concretizando o Regime Jurídico Emergencial 
e Transitório das Relações Jurídicas de Direito Privado (RJET) atinente ao 
período da pandemia da Covid-19, representado pelo PL n. 1.179/2020, 
não dispõe sobre questões como divórcio, mas de outras áreas como o 
a partilha, protelando prazo para partilha e sucessões caso iniciado antes 
de 1º de fevereiro de 2020, ficará suspenso a partir da vigência desta Lei 
até 30 de outubro de 2020. 
Levando em conta a pandemia, ainda é possível iniciar um 
processo de separação, mesmo que a distância, em caso de filhos 
menores, bens e tudo o mais, aos poucos a ação tomará a forma, caso 
não haja necessidade de propor ação, pode ser realizada por cartórios, 
respeitando os horários reduzidos que estão trabalhando e também as 
normas de saúde pública para tal momento. 
Um momento histórico em diversos aspectos, vivenciado no núcleo 
da família, onde pode agregar mais sentimentos como de união, 
fraternidade, um reexame da própria família e convívio, por outro lado 
temos realidade bem divergentes, onde o núcleo familiar torna se 
insustentável, dividir mesmo espaço em maior tempo do que o comum, 
um reaprendizado ético e jurídico. 
Assim ao ver do Ministro Humberto Martins, os Poderes estão sendo 
testados no limite durante esta inesperada pandemia da Covid-19. Com 
o Poder Judiciário, isso não é diferente: nossa experiência aponta que os 
momentos de crise trazem enorme aumento de judicialização de 
demandas, somados à necessidade de reconstrução ou de construção 
de bases jurídicas que amparem essas milhares ou milhões de demandas. 
Focando outra esfera prejudicada, devido a covid-19, a prestação 
de alimentar, surgiu a dúvida se seria uma obrigação ou não em meio ao 
cenário. 
 É absoluto o entendimento que o não pagamento da pensão 
alimentícia, na data de vencimento, abre caminho para que a 
execução forçada seja imediatamente ajuizada pelo credor. É imperioso 
que o advento da Covid-19 não trouxe consigo nenhuma regra cogente 
que suspende o pagamento das pensões ou que impede a tutela 
jurisdicional do alimentando. Até por conta da sua fundamentalidade, 
não se pode presumir a renúncia do direito aos alimentos ou uma 
aceitação tácita de redução do valor da pensão. 
Existe um binômio que rege esta prestação, sendo eles 
necessidadex possibilidade. Levando para o literal a necessidade de 
quem vai ser alimentado com a possibilidade de quem o deve fazer. 
Art. 22 (ECA). Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e 
educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no 
interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as 
determinações judiciais. 
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos 
iguais e deveres e responsabilidades compartilhados no 
cuidado e na educação da criança [...] 
Se nenhum dos genitores têm renda no momento, e o intuito é zelar 
pelo melhor interesse da criança, pode ocorrer a cobrança da pensão 
aos avós, mas é importante ressaltar que não existe obrigatoriedade do 
pagamento de pensão pelos avós paternos. A dívida alimentar pode e 
deve ser paga de acordo com as possibilidades, solidariamente de todos 
os avós, incluindo os avós maternos. 
O governo brasileiro, criou um programa de Auxilio Emergencial, 
que concede a quem preencher requisitos pré-estabelecidos, o valor de 
R$ 600,00 por mês, às pessoas que perderam sua renda em virtude da 
crise causada pelo coronavírus. 
Instituído pela Lei 13.982, de 2 de abril de 2020, e regulamentado 
pelo Decreto 10.316, de 7 de abril de 2020, o auxílio emergencial tem por 
objetivo fornecer proteção a dezenas de categorias no período de 
enfrentamento à crise causada pela pandemia do novo coronavírus 
(Covid-19), possui natureza de benefício temporário. 
Para o, Rodrigo da Cunha Pereira, especialista em Direito de 
Família e Sucessões a penhora de um percentual do auxílio tem a função 
de garantir a subsistência tanto de quem recebeu quanto de quem 
necessita sendo vulnerável e dependente. 
Nesse sentido, parte deste valor será destinado ao cumprimento 
das obrigações alimentares com a criança, na condição de vulnerável, 
e a outra parte permanecerá com o genitor, encontrando um equilíbrio 
que não afronte a legislação e nem a razoabilidade e 
proporcionalidade. 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91764/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
Mesmo que o auxílio tenha caráter de renda, em suma, não 
podendo ser penhorado, a não ser que seja para atender necessidades 
de alimentando. 
Vejamos: 
Art. 833. São impenhoráveis: 
(...) 
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as 
remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os 
pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por 
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e 
de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os 
honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º ; 
(...) 
X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o 
limite de 40 (quarenta) salários-mínimos; 
(...) 
§ 2º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à 
hipótese de penhora para pagamento de prestação 
alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às 
importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos 
mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528, § 
8º, e no art. 529. 
 
Com base nesse entendimento, 6ª Vara de Família de Fortaleza, 
nesta segunda-feira (25/5), determinou a penhora de R$ 50% do auxílio 
emergencial, de R$ 600 mensais, recebidos por um devedor de alimentos 
— um pai para com o filho. A Justiça também ordenou o bloqueio do 
valor de FGTS dele. 
Por fim, ressalta se que o valor máximo a ser concedido por família, 
será de no máximo R$ 1200,00 , conforme estimativa realizada em 
fevereiro, pelo Departamento Intersindical de Estatísticas 
Socioeconômicos – DIEESE- o salário mínimo necessário para sustento de 
uma família com quatro pessoas no Brasil, seria de R$ 4.366,51. 
 O que o programa “Auxílio Emergencial” tem como objetivo é 
apenas tapar parte do buraco realizado por esta pandemia, garantindo 
necessidades básicas de maneira insuficiente, consequentemente 
conforme decisão mencionada e em conformidade das normas legais, 
obrigando o alimentando garantir as mesmas condições ao seu 
alimentado. 
Por fim, observamos que o direito brasileiro e o povo, tem muitas 
questões a serem discutidas, elaboradas e reorganizadas. A pandemia 
fez emergir problemas que eram vistos em foco, bem isolados. 
Temos um grande problema financeiro, visto agora que é uma das 
grandes discussões do momento, a grande crise financeira. Infelizmente 
ela é para pouco e acontece na classe minoritária, que mais sofre. 
 Observamos ainda que a saúde pública ainda que não funcione 
plenamente em todos os locais, se faz presente e útil nos últimos 
momentos, por mais que a Lei do SUS, tenham uma eficiência maior, isso 
de maneira documental. 
A violência permeia os lares, tanto violência a mulher, vista como 
um sexo frágil pela sociedade patriarcal. 
Nos brasileiros, somos um povo criativo, temos leis que abrange 
quase todas as áreas, não faltam esforços para que os problemas 
citados neste trabalho tenham suas devidas soluções. 
Informar a população ajuda a reduzir maior parte dos problemas, 
dar consciência ativa às classes que são vítimas de violência, que têm 
seus direitos dirimidos ou que procuram meios de solução de seus conflitos 
internos no núcleo familiar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
STACCIARINI, Isa – Correios Braziliense. Pesquisa aponta motivos para 
agressores cometerem crimes contra mulheres. Disponível em: 
https://www.correiobraziliense.com.br. Acessado em 14 de junho de 
2020. 
 
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Ouvidoria 
Nacional de Direitos Humanos. Disponível em: 
https://mdh.metasix.solutions/portal. Acessado em 14 de junho de 2020. 
 
MARTINS, Humberto. DIREITO COMPARADO. A aprovação definitiva do PL 
1.179 e uma perspectiva do direito comparado. Disponível em: 
https://www.conjur.com.br/2020-mai-20. Acessado em 14 de Junho de 
2020. 
 
Câmara dos Deputados. Crescem denúncias de violência doméstica 
durante pandemia. Autoridades alertam para a interrupção de 
audiências judiciais durante o isolamento social e que prisões de 
agressores podem cair por falta desse instrumento. Disponivel em: 
https://www.camara.leg.br/. Acessado em 14 de junho de 2020. 
 
GEN Jurídico. Brasil soma quase 100 milhões de casos a serem julgados 
pelo Judiciário; como solucionar essa questão?. Disponivel em: 
http://genjuridico.com.br/2019. Acessado em 14 de Junho de 2020. 
 
José Del Chiaro, Mario André Machado Cabral e Irene Jacomini Bonetti. 
Migalhas: Os desafios gerados pela pandemia ocasionada pelo 
Coronavírus e questões jurídicas conexas. Disponível em: 
https://www.migalhas.com.br/. Acessado em 14 de Junho de 2020. 
 
https://www.correiobraziliense.com.br/
https://mdh.metasix.solutions/portal
https://www.conjur.com.br/2020-mai-20
https://www.camara.leg.br/
http://genjuridico.com.br/2019
https://www.migalhas.com.br/
Jomar Martins. Consulxtor Jurídico: Vara gaúcha dá liminar para reduzir 
alimentos por causa da Covid-19. Disponível em: www.conjur.com.br. 
Acessado em 14 de Junho de 2020. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.conjur.com.br/

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