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EAD - NÚCLEO COMUM ESTÉTICA Roberto Carlos de Oliveira http://unar.info/ead2 ESTÉTICA UNIDADE 1 - ORIGEM E DEFINIÇÃO. Roberto Carlos de Oliveira 1 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE O objetivo dessa unidade é apresentar o conceito de estética, analisando suas principais áreas de estudo. ESTUDANDO E REFLETINDO O uso comum da palavra estética envolve o uso de produtos cosméticos, estética corporal, estética facial etc. Essas expressões dizem respeito à beleza física e abrangem desde maquilagem a cuidados como ginástica, tratamentos com cremes, massagens, e até cirurgia plástica. Há ainda expressões como senso estético que fica na base do bom gosto. Em todas elas está presente a relação com a beleza, com o agradável; mas a palavra estética é empregada como adjetivo. Já no campo das artes, as expressões mais comuns são estética renascentista, estética realista, estética socialista etc. Nesses casos, a palavra estética é usada como substantivo, que se refere a um conjunto de características formais que a arte assume em determinado período e que poderia também ser chamado de estilo. Outro significado mais específico usado no campo da filosofia remete a um ramo da filosofia que estuda racionalmente o belo e o sentimento que suscita nos homens. Mesmo em filosofia, a estética aparece ligada à noção de beleza. E é exatamente por causa dessa ligação que a arte ocupa um lugar importante na reflexão estética, pois ela tem uma função fundamental de exprimir a beleza de modo sensível. A palavra estética vem do grego aisthesis, e significa "faculdade de sentir", "compreensão pelos sentidos", "percepção totalizante". A ligação da estética com a arte é estreita. O objeto artístico se oferece ao sentimento e à percepção. Por isso, a estética, enquanto disciplina filosófica importa-se com as teorias da criação e percepção artísticas. A Estética busca vincular o estudo do Belo a uma perspectiva definida, já vislumbrada pelos artistas dos séculos XVII e do século XVIII. Mas foi Kant que, em sua ESTÉTICA UNIDADE 1 - ORIGEM E DEFINIÇÃO. Roberto Carlos de Oliveira 2 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Crítica do juízo (1790), configurou a especificidade da Estética, determinando seu alcance e propriedades. O Belo não reside nas impressões visuais e auditivas, mas manifesta-se principalmente por intermédio delas, a uma espécie de visão interior. Essa visão está mais próxima do sentimento do que da razão, e constitui uma faculdade inata, específica, e que permite ao homem deleitar-se com o reconhecimento do Belo. Esse deleite, na verdade, é um prazer do espírito, em função do qual as coisas nos agradam ou desagradam. Ao julgarmos, segundo o agrado ou desagrado que sentimos, que uma coisa é bela ou feia, é o deleite experimentado que serve de base para nossos juízos de gosto. O juízo de gosto origina-se da qualidade das impressões recebidas, e acompanha determinadas formas, relações ou aspectos da matéria, captadas pelo ouvido e pela visão. Francis Hutcheson (1694-1746), um dos pioneiros da teorização Estética, afirma que a Beleza reina onde quer que a percepção apreenda relações agradáveis. O Belo é uma percepção espiritual, mas sua produção depende da sensibilidade humana. Não é pelo intelecto que o Belo é captado, nem a sua impressão corresponde à experiência rudimentar da satisfação de um desejo físico. Apreendendo-o, relacionamo- nos imediatamente com uma determinada ordem de impressões, de sentimentos, de emoções, cujo efeito geral, o deleite, é plenamente satisfatório, no sentido de que se basta a si mesmo. Assim, de tudo o que produz essa satisfação específica, podemos dizer que é Belo, que possui a dimensão da Beleza, dimensão aberta ao espírito através da sensibilidade. ESTÉTICA UNIDADE 1 - ORIGEM E DEFINIÇÃO. Roberto Carlos de Oliveira 3 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Definições do Belo Três acepções fundamentais do Belo prevaleceram entre os gregos: estética, moral e espiritual. No sentido estético, o Belo é a qualidade de certos elementos em estado de pureza, como sons e cores agradáveis, das figuras geométricas regulares, das formas abstratas, como a simetria e as proporções definidas, a qualidade, enfim, de toda espécie de relação harmoniosa. A Beleza dos elementos puros repousa na sua adequação aos sentidos, sobretudo à vista e ao ouvido, enquanto que a das coisas que se compõem de partes pode ser em geral, reduzida a dois princípios, o equilíbrio e a unidade na variedade, princípios clássicos, que a filosofia antiga legou-nos. Na acepção moral, principalmente na antiguidade, a Beleza é o patrimônio das almas equilibradas, que conseguem manter-se em perfeita harmonia consigo mesmas, as iguais distâncias da virtude e do vício, ocupando o meio termo da moderação, que constituiu, para Aristóteles, a medida do Bem. As duas ideias, a do Belo e a do Bem, foram unidas por Sócrates e Platão, união essencial, teórica e prática, que o pensamento filosófico transformou num ideal pedagógico. Sócrates ensinou aos seus discípulos que tudo o que se pode chamar de belo é útil, preenchendo uma função. Olhos que não enxergam não podem ser belos. Faltar- lhes-ia a perfeição do fim para o qual a Natureza os criou. Do mesmo modo, a mais bela ânfora é a que melhor serve, o mais belo cavalo é o que melhor corre. Sócrates, que não separou a Beleza do Bem, entende que nada é verdadeiramente bom sem que também seja útil. ESTÉTICA UNIDADE 1 - ORIGEM E DEFINIÇÃO. Roberto Carlos de Oliveira 4 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Para Sócrates, a beleza cumpre uma função de utilidade, portanto a beleza tem um papel moral nas vidas dos cidadãos da Pólis. (Rosto de Sócrates exposto no Museu do Louvre.) ·. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sócrates) Ao Belo estético, sujeito às duas outras espécies que lhe são superiores, é que as artes estão subordinadas. Se a música é pura, se a poesia visa a estimular as boas qualidades da alma, uma e outra conseguem produzir, nos ouvintes, o mesmo efeito moderador que seria obtido pela simples contemplação de formas geométricas regulares, da proporção e da simetria. Poesia e Música, as artes das Musas, que formaram, na cultura grega, um complexo artístico, deviam servir para acalmar as paixões e não para excitá-las, e, assim, acalmando as paixões, elas poderiam criar uma predisposição favorável à prática das virtudes. Vê-se, pois, que a Arte preenche uma finalidade moral, objeto da segunda espécie de beleza. Quanto à primeira, a estética, ela será tanto melhor quanto mais correlacionada estiver com a de índole moral. Uma e outra deveriam unir-se de tal ESTÉTICA UNIDADE 1 - ORIGEM E DEFINIÇÃO. Roberto Carlos de Oliveira 5 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” forma que não pudessem existir separadamente. Essa união efetivou-se no conceito de kalokagathia (ser belo e bom), ideal pedagógico da sociedade grega do século V a. C., em razão do qual Platão determinou aos jovens de sua república que praticassem exercícios ginásticos, para terem o corpo bem conformado (beleza estética), e cultivassem, em contato com as artes musicais ou das musas, a harmoniosa conformação do espírito, que é a beleza moral. O significado comum das três acepções analisadas, que se ligam entre si como as facetas de um prisma, é a excelência e o grau de perfeição desejáveis nas coisas exteriores, na conduta e no conhecimento. Por isso é que a Beleza, exteriorizando essa perfeição que o homem tende a alcançar, como ser racional que é, constitui fonte de prazer para os sentidos e para a inteligência, índiceda vida feliz e alvo de louvores. BUSCANDO O CONHECIMENTO O estudo da estética é uma das áreas da filosofia mais intrigantes que existem, pois a filosofia sempre lidou com assuntos racionais, deixando de lado temas que fogem da razão, tipo a sensibilidade humana. Por isso, a estética é um estudo complexo do campo de estudo filosófico. LINK: http://www.youtube.com/watch?v=dZXlFOh18t8 ESTÉTICA UNIDADE 2 - FILOSOFIA DA ARTE E JUÍZO DE GOSTO. Roberto Carlos de Oliveira 6 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE O objetivo dessa unidade é distinguir os campos de estudo da filosofia da arte e da estética, analisando também a questão do juízo de gosto. ESTUDANDO E REFLETINDO Filosofia da Arte Qual a diferença entre Estética e Filosofia da Arte? O domínio dos fenômenos estéticos não está circunscrito pela Arte, embora encontre nesta a sua manifestação mais adequada. O domínio do estético abrange o da Arte, por ser muito mais dilatado e porque é nele que devemos ir buscar os critérios gerais que permitem distinguir as autênticas manifestações artísticas e criar padrões de excelência estética. Mas, por outro lado, a Arte excede os limites das avaliações estéticas. A arte é um modo de ação produtiva do homem, ela é fenômeno social e parte da cultura. Está relacionada com a totalidade da existência humana, mantém íntimas conexões com o processo histórico e possui a sua própria história, dirigida por tendências que nascem, desenvolvem-se e morrem, e às quais correspondem estilos e formas definidos. A Filosofia da Arte se vale dos pressupostos estéticos e estabelece um diálogo com as produções artísticas esteticamente válidas. Ela tem na Arte o seu objeto de investigação, e levanta problemas gerais, requeridos pela reflexão filosófica. Isso quer dizer que a Filosofia da Arte é uma disciplina que considera, antes de tudo, a própria Arte. Trata-se de um caminho à reflexão filosófica, por onde esta renova o seu diálogo com o mundo, com a existência humana, etc. Esta filosofia conserva, nos problemas particulares de que trata, e que derivam do objeto específico em que se detém a profundidade dos legítimos problemas filosóficos. ESTÉTICA UNIDADE 2 - FILOSOFIA DA ARTE E JUÍZO DE GOSTO. Roberto Carlos de Oliveira 7 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Qual a relação entre Arte e Realidade? Qual a ligação entre a atividade artística e os valores morais e os religiosos? De que maneira essa atividade se relaciona com a atividade produtiva? Quais são as conexões da Arte com a sociedade, a história e a cultura? Esses são os mais relevantes problemas da Filosofia da Arte. Podemos encontrá-los todos na filosofia platônica. Entretanto, só modernamente, depois do nascimento da Estética, foi que a Filosofia da Arte, no século XIX, começou a desenvolver-se em bases novas. A Filosofia da Arte é atualmente uma reflexão que tem como um dos seus fins últimos justificar a existência e o valor da Arte, determinando, no conjunto das criações do espírito humano, a função que ela desempenha, ao lado da ciência, da religião, da moral e, também ao lado da própria filosofia, cujo atual interesse pela Arte não encontra paralelo em épocas passadas. A Questão do Gosto O conceito do Belo (to kalón) teve, na cultura e na filosofia gregas, implicações morais e intelectuais que condicionaram o alcance do seu sentido estético, o qual não foi o predominante, nem esteve diretamente relacionado com a Arte, na acepção estrita do termo. Ars, artis, palavra latina que corresponde ao grego tékne, que significa todo e qualquer meio apto à obtenção de determinado fim, e que é o que se contém na ideia genérica de arte. Quanto apóiesis, de significado semelhante a tékne, aplica-a Aristóteles, de modo especial, para designar a poesia e também a Arte, na acepção estrita do termo. O que é a beleza? Será possível defini-la objetivamente ou será uma noção subjetiva, isto é, que depende de cada um? De Platão ao Classicismo, os filósofos tentaram fundamentar a objetividade da arte e da beleza. Para Platão, a beleza é a única ideia que resplandece no mundo. Se, por um lado, ele reconhece o caráter sensível do belo, por outro continua a afirmar a sua ESTÉTICA UNIDADE 2 - FILOSOFIA DA ARTE E JUÍZO DE GOSTO. Roberto Carlos de Oliveira 8 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” essência ideal, objetiva. Somos, assim, obrigados a admitir a existência do "belo em si" independente das obras individuais que, na medida do possível, devem se aproximar desse ideal universal. O classicismo vai ainda mais longe, pois deduz regras para o fazer artístico a partir desse Belo ideal, fundando a estética normativa. É o objeto que passa a ter qualidades que o tornam mais ou menos agradável, independente do sujeito que as percebe. Do outro lado da polêmica, temos os filósofos empiristas, como David Hume, que relativizam a beleza ao gosto de cada um. Aquilo que depende do gosto e da opinião pessoal não pode ser discutido racionalmente, donde o ditado: "Gosto não se discute". O Belo, portanto, não está mais no objeto, mas nas condições de recepção do sujeito. Kant, numa tentativa de superação dessa dualidade objetividade-subjetividade, afirma que o Belo é "aquilo que agrada universalmente, ainda que não se possa justificá-lo intelectualmente". Para ele, o objeto belo é uma ocasião de prazer, cuja causa reside no sujeito. O princípio do juízo estético, portanto, é o sentimento do sujeito e não o conceito do objeto. No entanto, há a possibilidade de universalização desse juízo subjetivo porque as condições subjetivas da faculdade de julgar são as mesmas em todos os homens. Belo, portanto, é uma qualidade que atribuímos aos objetos para exprimir certo estado da nossa subjetividade. Sendo assim, não há uma ideia de Belo nem pode haver regras para produzi-lo. Há objetos belos, modelos exemplares e inimitáveis. Hoje em dia, de uma perspectiva fenomenológica, consideramos o Belo como uma qualidade de certos objetos singulares que nos são dados à percepção. Beleza é, também, a imanência total de um sentido ao sensível, O objeto é belo porque realiza o seu destino, é autêntico, é verdadeiramente segundo o seu modo de ser, isto é, é um objeto singular, sensível, que carrega um significado que só pode ser percebido na ESTÉTICA UNIDADE 2 - FILOSOFIA DA ARTE E JUÍZO DE GOSTO. Roberto Carlos de Oliveira 9 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” experiência estética. Não existe mais a ideia de um único valor estético a partir do qual julgamos todas as obras. Cada objeto singular estabelece seu próprio tipo de beleza. O problema do feio está implícito nas colocações que são feitas sobre o Belo. Por princípio, o feio não pode ser objeto da arte. No momento em que a arte rompe com a ideia de ser "cópia do real" para ser considerada criação autônoma que tem por função revelar as possibilidades do real, ela passa a ser avaliada de acordo com a autenticidade da sua proposta e com sua capacidade de falar ao sentimento. Só há obras feias na medida em que forem malfeitas, isto é, que não corresponderem plenamente à sua proposta. Em outras palavras, quando houver uma obra feia, não haverá uma obra de arte. O conceito de gosto não deve ser encarado como uma preferência arbitrária da nossa subjetividade. A subjetividade refere-se mais a si mesma do que ao mundo dentro do qual ela se forma, e esse tipo de julgamento estético decide o que nós preferimos em virtude a somos. Nós passamos a ser a medida absoluta de tudo, e essa atitude só pode levar ao dogmatismo e ao preconceito. A subjetividade em relação ao objeto estético precisa estar mais interessada em conhecer, entregando-se às particularidades de cada objeto,do que em preferir. Nesse sentido, ter gosto é ter capacidade de julgamento sem preconceitos. É a própria presença da obra de arte que forma o gosto: torna-nos disponíveis, reprime as particularidades da subjetividade, converte o particular em universal. A obra de arte “convida a subjetividade a se constituir como olhar puro, livre abertura para o objeto, e o conteúdo particular a se pôr a serviço da compreensão em lugar de ofuscá-la fazendo prevalecer as suas inclinações”. À medida que o sujeito exerce a aptidão de se abrir, desenvolve a aptidão de compreender, de penetrar no mundo aberto pela obra. Gosto é, finalmente, comunicação com a obra para além de todo saber e de toda técnica, O poder de fazer justiça ao objeto estético é a via da universalidade do julgamento do gosto. ESTÉTICA UNIDADE 2 - FILOSOFIA DA ARTE E JUÍZO DE GOSTO. Roberto Carlos de Oliveira 10 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” BUSCANDO O CONHECIMENTO A estética por muito tempo foi confundida com a filosofia da arte, sendo somente na modernidade a distinção entre essas duas áreas. Cabendo para a filosofia da arte o trabalho de avaliar os critérios de valor de uma obra de arte, e a estética se responsabiliza pela discussão sobre o belo e suas formas. O juízo de gosto também foi alvo das reflexões filosóficas, pois como vimos o gosto não é algo inato, isto é, não nascemos gostando de algo, mas sim aprendemos a gostar de algo, analisar esse artifício é o objetivo da filosofia. Disponibilizo dois links sobre o tema filosofia da arte, o primeiro link é sobre o livro do filósofo Jean Lacoste que analisa a filosofia da arte, e o segundo, é um vídeo sobre a arte e sua utilidade: LIVRO: http://revistasofosunirio.files.wordpress.com/2011/03/filosofia-da-arte- jean-lacoste.pdf VÍDEO: http://www.youtube.com/watch?v=pk-RkauIlUI ESTÉTICA UNIDADE 3 - A IMPORTÂNCIA DA ARTE Roberto Carlos de Oliveira 11 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Neste capítulo pretendemos salientar a importância da arte como uma forma de pensamento sobre a realidade que considera não só a sensibilidade, mas também faculdades como a imaginação e a intuição. ESTUDANDO E REFLETINDO Assim como o mito e a ciência são modos de organização da experiência humana - o primeiro baseado na emoção e o segundo na razão -, também a arte vai aparecer no mundo humano como forma de organização, como modo de transformar a experiência vivida em objeto de conhecimento, desta vez através do sentimento. O entendimento do mundo não se dá somente por meio de conceitos logicamente organizados que, pelo fato de serem abstrações genéricas, estão longe do dado sensorial, do momento vivido. Ele também pode se dar através da intuição, do conhecimento imediato da forma concreta e individual, que não fala à razão, mas ao sentimento e à imaginação. A arte é um caso privilegiado de entendimento intuitivo do mundo, tanto para o artista que cria obras concretas e singulares quanto para o apreciador que se entrega a elas para penetrar-lhes o sentido. O verdadeiro artista intui a forma organizadora dos objetos ou eventos sobre os quais focaliza sua atenção. Ele vê, ou ouve o que está por trás da aparência exterior do mundo. Por exemplo, no filme Amadeus, de Milos Forman, há uma cena que mostra didaticamente esse processo. A sogra de Mozart, emocionada e muito irritada, conta ao compositor por que a filha dela o abandonou. Mozart, que a princípio realmente procurava uma resposta para essa questão, lentamente deixa de prestar atenção às palavras para sintonizar com a melodia e ritmo do discurso. Ele ouve a musicalidade por trás do discurso inflamado e compõe uma ária para A flauta mágica. Assim, como todo artista, Mozart percebe, pelo poder seletivo e interpretativo dos seus sentidos, formas que não podem ser nomeadas, que não podem ser reduzidas ESTÉTICA UNIDADE 3 - A IMPORTÂNCIA DA ARTE Roberto Carlos de Oliveira 12 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” a um discurso verbal explicativo, pois elas precisam ser sentidas, e não explicadas. A partir dessa intuição, o artista não cria mais cópias da natureza, mas, sim, símbolos dessa mesma natureza e da vida humana. Esses símbolos, portanto, não são entidades abstratas, não são entes da razão. Ao contrário, são obras de arte, objetos sensíveis, concretos, individuais, que representam analogicamente, ou seja, por semelhança de forma, a experiência vital intuída pelo artista. Assim, quando apreciamos uma obra de arte, fazemo-lo através dos nossos sentidos: visão, audição, tato, cinestesia e se a obra for ambiental, até o olfato. É a partir dessa percepção sensível que podemos intuir a vivência que o artista expressou em sua obra, uma visão nova, uma interpretação nova da natureza e da vida. O artista atribui significados ao mundo por meio da sua obra. O espectador lê esses significados nela depositados. Essa "interpretação só é possível em termos de intuição e não de conceitos, em termos de forma sensível e não de signos abstratos". Podemos dizer, então, que na obra de arte o importante não é o tema em si, mas o tratamento que se dá ao tema, que o transforma em símbolo de valores de uma determinada época. Papel da Imaginação na Arte É exatamente a imaginação que vai servir de mediadora entre o vivido e o pensado, entre a presença bruta do objeto e a representação, entre a acolhida dada pelo corpo (os órgãos dos sentidos) e a ordenação do espírito (pensamento analógico). A imaginação, ao tomar o mundo presente em imagens, nos faz pensar. Saltamos dessas imagens para outras semelhantes, fazendo uma síntese criativa. O mundo imaginário assim criado não é irreal. É, antes, virtual, isto é, antecede o real porque aponta suas possibilidades em vez de fixá-lo numa forma cristalizada. Assim, a imaginação alarga o campo do real percebido, preenchendo-o de outros. ESTÉTICA UNIDADE 3 - A IMPORTÂNCIA DA ARTE Roberto Carlos de Oliveira 13 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Arte e Sentimento Na experiência estética, a imaginação manifesta, ainda, o acordo entre a natureza e o sujeito, numa espécie de comunhão cuja via de acesso é o sentimento. O sentimento acolhe o objeto, reunindo as potencialidades do eu numa imagem singular. É toda nossa personalidade que está em jogo, e o sentimento despertado não é o sentimento de uma obra, mas de um mundo que se descortina em toda sua profundidade, no momento em que extraímos o objeto do seu contexto natural e o ligamos a um horizonte interior. Este sentimento, portanto, “não é emoção, é conhecimento”. Estabeleçamos as diferenças entre sentimento e emoção. O termo emoção, etimologicamente, refere-se à agitação física ou psicológica e é reservado para os níveis profundos de agitação. Ela rompe a estabilidade afetiva. Assim, emoção designa um estado psicológico que envolve profunda agitação afetiva. O sentimento, por outro lado, é uma reação cognitiva, de reconhecimento de certas estruturas do mundo, cujos critérios não são explicitados. É percepção das tensões dirigidas, comunicadas e expressas pelos aspectos estáticos e dinâmicos da forma, tamanho, tonalidade ou altura. Essas tensões são tão perceptíveis quanto o espaço ou a quantidade. Podemos, então, dizer que o sentimento esclarece o que motiva a emoção, na medida em que são essas tensões percebidas que causam a agitação psicológica. A emoção é uma resposta, é uma maneira de lidarmos com o sentimento. A alegria expressa pelo riso, por exemplo, é o modo pelo qual lidamos com o sentimento do cômico; o medo é uma resposta ao sentimento de ameaça. Assim, o sentimento é conhecimento porque esclarece o que motiva a emoção; esse conhecimento é sentimento porqueé irrefletido e supõe certa disponibilidade para ESTÉTICA UNIDADE 3 - A IMPORTÂNCIA DA ARTE Roberto Carlos de Oliveira 14 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” acolher o afetivo, disponibilidade para a empatia, ou seja, sentir como se estivéssemos no lugar do outro. É preciso lembrar que sempre podemos nos negar a essa disponibilidade, pois ela pressupõe certo engajamento no mundo: o objetivo não é pensá-lo, nem agir sobre ele; é, tão somente, senti-lo na sua profundidade. O sentimento, na sua função de conhecimento, alcança, para além da aparência do objeto, a expressão. A expressão é o poder de emitir signos e de exteriorizar uma interioridade, isto é, de manifestar o que o objeto é para si. Mas essa expressão, em arte, ocorre sempre através de um meio específico. O artista não escolhe o seu meio (vídeo, pintura, dança etc.) como um meio material externo e indiferente. Para ele, as palavras, as cores, as linhas, as formas e desenhos, os sons (timbre) dos diversos instrumentos não são somente meios materiais de produção. São condições do pensar artístico, momentos do processo de criação e parte integrante e constituinte da sua expressão. O projeto do artista condiciona o meio e o material, que, por sua vez, condicionam as técnicas e o estilo. Tudo isso reunido forma a linguagem da obra, sua marca inconfundível, seu significado sensível. Em virtude dessa ligação indissolúvel entre significante e significado na obra de arte é que podemos dizer que "o objeto estético é, em primeiro lugar, a apoteose do sensível, e todo seu sentido é dado no sensível". Assim, a obra de arte não pode ser traduzida para outra linguagem. Quando contamos um filme a alguém, ele perde a maior parte de seu significado, pois sua forma sensível de imagem desapareceu. A obra de arte pode, quando muito, inspirar uma outra, e então teremos um filme a partir de um livro, uma música a partir de um quadro etc. São obras diferentes, no entanto. ESTÉTICA UNIDADE 3 - A IMPORTÂNCIA DA ARTE Roberto Carlos de Oliveira 15 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” BUSCANDO O CONHECIMENTO A arte tem um papel fundamental no desenvolvimento de nossa sensibilidade e intuição. O mundo não é somente entendido pela lógica e a razão, seu entendimento se dá também pela sensibilidade e a arte tem o papel de possibilitar esse entendimento. O artista intui seus sentimentos e visões de mundo na obra, e resta ao apreciador captar o máximo de dados possíveis daquela obra. Deixo o link da entrevista realizada com o colecionador de artes Bernardo Paz falando da importante da arte na vida das pessoas. VÍDEO: http://www.youtube.com/watch?v=-7t_bJs-ftc ESTÉTICA UNIDADE 4 - FUNÇÕES DA ARTE Roberto Carlos de Oliveira 16 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Neste capítulo analisaremos as funções da arte, isto é, modos pelos quais ela se apresenta e como o tipo de conhecimento que a arte produz pode ser utilizado para propiciar não só deleite estético, bem como uma formação técnica e humanística. ESTUDANDO E REFLETINDO A função da arte, numa sociedade em que a luta de classes se aguça, difere, em muitos aspectos, da função original da arte. No entanto, a despeito das situações sociais diferentes, há alguma coisa na arte que expressa uma verdade permanente. E é essa coisa que nos possibilita-nos vermo-nos com as pinturas pré-históricas das cavernas e com canções antigas. As obras de arte nem sempre tiveram a mesma função. Ora serviram para contar uma história, ora para rememorar um acontecimento importante, ora para despertar o sentimento religioso ou cívico. Foi só neste século que a obra de arte passou a ser considerado um objeto desvinculado desses interesses não artísticos, um objeto propiciador de uma experiência estética por seus valores intrínsecos. Assim, dependendo do propósito e do tipo de interesse com que alguém se aproxima de uma obra de arte, podemos distinguir três funções principais para a arte. Função Naturalista Refere-se aos interesses pelo conteúdo da obra, ou seja, pelo que a obra retrata, em detrimento da sua forma ou modo de apresentação. A obra é encarada como um espelho, que reflete a realidade e nos remete diretamente a ela. Em outras palavras, a obra tem função referencial de nos enviar para fora do mundo artístico, para o mundo dos objetos retratados. Assim, uma escultura de Sócrates, por exemplo, serviria, dentro ESTÉTICA UNIDADE 4 - FUNÇÕES DA ARTE Roberto Carlos de Oliveira 17 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” dessa perspectiva, para nos remeter ao 'homem e ao filósofo, ao que ele representou num determinado momento histórico brasileiro. Essa atitude perante a arte surge bastante cedo. Ela aparece na Grécia, no século V a.C., nas esculturas e pinturas que "imitam" ou "copiam" a realidade. Essa tendência caracterizou a arte ocidental até meados do século XIX, quando surgiu a fotografia. A partir de então, a função da arte, especialmente da pintura, teve de ser repensada e houve uma ruptura do naturalismo. Os critérios de avaliação de uma obra de arte do ponto de vista da função naturalista são: a correção da representação (deve ser representado corretamente para que possamos identificá-lo); a inteireza, ou seja, a qualidade de ser inteiro íntegro (o assunto deve ser representado por inteiro); e a vigor, que confere um poder de persuasão (especialmente se a situação representada for imaginária). Como exemplo, temos os filmes criados a partir de tecnologia digital, cujas imagens são representadas com tanto realismo que ficamos convencidos da possibilidade de sua existência. Função Formalista O interesse formalista preocupa-se com a forma de apresentação da obra. Contribui decisivamente para o significado da obra de arte. Este, portanto, é o único dos interesses que se ocupa da arte enquanto tal e por motivos que não são estranhos ao âmbito artístico. Desse ponto de vista vamos buscar, em cada obra, os princípios que regem sua organização interna: que elementos entraram em sua composição e que relações existem entre eles. Não importa o tipo de obra analisado: pictórico, escultórico, arquitetônico, musical, teatral, cinematográfico etc. Todos comportam uma estruturação interna de signos selecionados a partir de um código específico. Há nessa função, uma valorização da experiência estética como um momento em que, pela percepção e pela intuição, temos uma consciência intensificada do ESTÉTICA UNIDADE 4 - FUNÇÕES DA ARTE Roberto Carlos de Oliveira 18 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” mundo. Embora a experiência estética propicie o conhecimento do que nos rodeia, este conhecimento não pode ser formulado em termos teóricos porque ele é imediato, concreto e sensível. O critério através do qual uma obra de arte será avaliada, dentro da perspectiva formalista, é sua capacidade de sustentar a contemplação estética de um público cuja sensibilidade seja educada e madura, isto é, que conheça vários códigos e esteja disponível para encontrar na própria obra suas regras de organização. Função Pragmática ou Utilitária A arte serve ou é útil para se alcançar um fim não-artístico, isto é, ela não é valorizada por si mesma, mas só como meio de se alcançar uma outra finalidade. Esses fins não artísticos variam muito no curso da história. Na Idade Média, por exemplo, na medida em que a maior parte da população dos feudos era analfabeta, a arte serviu para ensinar os principais preceitos da religião católica e para relatar as histórias bíblicas. Esta é uma finalidade pedagógica da arte. Na época da Contrarreforma, a arte barroca foi muito utilizada para emocionar os fiéis, mostrando-lhesa grandeza e a riqueza do reino do céu, numa tentativa de segurar os fiéis dentro da religião católica, ameaçada pela Reforma protestante. Na medida em que os argumentos racionais não conseguiam se mantiver de pé diante das críticas dos protestantes, a via que restava para a igreja católica era a emocional. Esse é um exemplo da arte sendo usada para finalidades religiosas. ESTÉTICA UNIDADE 4 - FUNÇÕES DA ARTE Roberto Carlos de Oliveira 19 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” A obra “operários” representa a função pragmática da arte, onde realiza uma crítica a exploração do trabalho capitalista (fonte: http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/05/22/934979/conheca-operarios-tarsila- do-amaral.html ) No nosso século, o "realismo socialista" tem por finalidade retratar a melhoria das condições de vida do trabalhador e as principais figuras da revolução socialista como um meio para despertar o sentimento cívico e manter a lealdade da população. A própria arte engajada, que floresceu entre nós no final da década de 50 e início da década de 60, pretendia conscientizar a população sobre sua situação socioeconômica. Portanto, as finalidades a serviço das quais a arte pode estar podem ser pedagógicas, religiosas, políticas ou sociais. Nessa perspectiva, quais seriam os critérios para se avaliar uma obra de arte? Esses critérios também vão ser exteriores à obra: o critério moral do valor da finalidade a que serve (se a finalidade for boa, a obra é boa); e o critério de eficácia da obra em relação à finalidade (se o fim for atingido, a obra é boa). Como vemos, em nenhum momento, dentro desse tipo de interesse, a obra é encarada do ponto de vista estético. ESTÉTICA UNIDADE 4 - FUNÇÕES DA ARTE Roberto Carlos de Oliveira 20 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” BUSCANDO O CONHECIMENTO A função da arte modificou-se ao longo do tempo, começando como uma representação da natureza, a arte tinha uma função naturalista, sendo a obra mais bonita aquela que representasse de forma mais fiel o objeto desenhado. A próxima etapa do desenvolvimento da arte foi à função formalista, agora a arte não está mais preocupada em representar a natureza, mas sim em contemplar uma ideia universal, a totalidade passa a ser o foco principal dessa função. A última função mencionada nessa unidade é a função pragmática, onde a arte adquire uma função de ferramenta para atingir algum objetivo específico. Por exemplo, ela pode ser usada como ferramenta ideológica para uma campanha política. Segue um link de vídeo sobre as funções da arte: VÍDEO: http://www.youtube.com/watch?v=HGYUGnNmNR8 ESTÉTICA UNIDADE 5 - VANGUARDA ARTÍSTICA E NATURALISMO GREGO Roberto Carlos de Oliveira 21 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE O objetivo desta unidade é apresentar a importância dos movimentos artísticos de vanguarda no trabalho de inaugurar tendências e de quebrar preconceitos. Resgatar as noções do naturalismo grego que influenciará as gerações artísticas dos próximos dois milênios. ESTUDANDO E REFLETINDO Sabemos que em literatura uma mensagem ética, política, religiosa ou social só tem eficiência quando for reduzida à estrutura literária, à forma ordenadora. Tais mensagens são válidas como quaisquer outras, e não podem ser proscritas; mas a sua validade depende da forma que lhes dá existência como certo tipo de objeto. O homem está continuamente atribuindo significados ao mundo. A essa atividade damos o nome de leitura. Assim, não lemos apenas os textos escritos, mas lemos igualmente outros tipos de textos, não verbais, aos quais também atribuímos significados. Já vimos que a arte se constitui em um texto muito especial, pois a atribuição de significados está presa a sua forma sensível de apresentação e é inseparável dela. Assim, a divisão que vamos fazer em termos de forma e conteúdo é apenas didática e opera um corte na unidade da obra de arte. Ao fazer isso, estamos destruindo, em primeiro lugar, a experiência estética e, em segundo lugar, a apreensão do conjunto, do todo, dentro do qual as partes tomam sentido. As Vanguardas Artísticas A ênfase dada à forma da obra de arte e às transgressões do código nos leva a examinar o papel das vanguardas artísticas. O termo vanguarda, na área artística e ESTÉTICA UNIDADE 5 - VANGUARDA ARTÍSTICA E NATURALISMO GREGO Roberto Carlos de Oliveira 22 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” cultural, também designa os que ampliam o espaço da linguagem artística através de experimentações. É a vanguarda que rompe os estilos, que propõe novos usos do código. Atrás dela vêm os outros artistas, considerados seguidores e que formam as escolas. Neste momento, o que era novo, o que constituía uma transgressão do código, passa a ser, outra vez, o habitual, o código consagrado. Assim, a linguagem da vanguarda cultural e artística é sempre difícil de entender. É por isso que temos certa dificuldade em compreender as obras expostas nas bienais, os filmes de arte, o teatro experimental, a música dodecafônica e assim por diante. Todas essas obras instituem um novo repertório de signos e novas regras de combinação e de uso. Leva algum tempo, e muita convivência com o mundo artístico, para dominarmos, ou seja, compreendermos os novos códigos e as novas linguagens. A existência das vanguardas, no entanto, é imprescindível à manutenção da fermentação cultural. No campo das artes não podemos falar em progresso. O conceito de progresso envolve ideias de melhoria e ultrapassagem, absolutamente estranhas ao mundo artístico. A arte do século XX não é melhor nem pior que a arte grega ou renascentista. É apenas diferente, porque responde a questões colocadas pelo homem e pela cultura atuais. Os artistas de vanguarda são exatamente aqueles que levantam essas questões antes que a maior parte da sociedade as tenha percebido e respondem- nas trabalhando a linguagem e a forma sensível de suas obras. Naturalismo Grego O naturalismo constitui uma noção fundamental que marcou profundamente toda a arte ocidental desde a Grécia Antiga até o final do século XIX. O naturalismo pode ser definido como a ambição de colocar diante do observador uma semelhança convincente das aparências reais das coisas. A admiração pela obra de arte, dentro ESTÉTICA UNIDADE 5 - VANGUARDA ARTÍSTICA E NATURALISMO GREGO Roberto Carlos de Oliveira 23 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” dessa perspectiva, advém da habilidade do artista em fazer a obra parecer ser o que não é parecer ser a realidade e não a representação. Dentro da atitude naturalista, podemos distinguir algumas variações, dentre as quais as mais importantes são o realismo e o idealismo. O realismo mostra o mundo como ele é nem melhor nem pior. É característico, por exemplo, da arte renascentista do século XV. Já o idealismo retrata o mundo nas suas condições mais favoráveis. Na verdade, mostra o mundo como desejaríamos que fosse melhorando e aperfeiçoando o real. É o padrão da arte grega, que não retrata pessoas reais, mas pessoas idealizadas. Foram os gregos que elaboraram a teoria das proporções do corpo humano. A ruptura com a atitude naturalista ocorre na segunda metade do século XIX com os impressionistas, que passam a dar primazia às variações da luz e não aos objetos representados. Essa mudança de atitude se deve, ao aparecimento do daguerreótipo1, que fixa as imagens do mundo de forma mais rápida e mais econômica do que a tela pintada. Assim, os artistas, principalmente os pintores, tiveram de repensar a função da arte e o espaço específico da pintura. Na Grécia Antiga não havia a ideia de artista no sentidoque hoje empregamos, uma vez que a arte estava integrada à vida. As obras de arte dessa época eram utensílios ou instrumentos educacionais. Assim, o artífice que os produzia era considerado um trabalhador manual, do mesmo nível do agricultor ou do ferramenteiro. Ele era um artesão numa sociedade em que o trabalho manual era considerado indigno. Nesse período (séc. V e IV A.C.) foram desenvolvidas técnicas cuja principal motivação era produzir cópias da aparência visível das coisas. A função da arte era criar imagens de coisas reais, imagens que tivessem aparência de realidade. Na verdade, talvez essas pinturas só possam ser consideradas realistas em relação à estilização da pintura que a precedeu ou à pintura egípcia, por exemplo. Por 1 O primeiro processo fotográfico voltado para a comercialização. ESTÉTICA UNIDADE 5 - VANGUARDA ARTÍSTICA E NATURALISMO GREGO Roberto Carlos de Oliveira 24 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” outro lado, temos de admirar a fidelidade anatômica das esculturas gregas, tais como a Vitória de Samotracia e o Discóbulo. Essa atitude perante a arte está fundada sobre o conceito de mímesis. Embora mímesis seja normalmente traduzida por "imitação", para os gregos ela significava muito mais que isso. Para Platão (séc. V a.C.), no Crátilo, as palavras imitam a realidade. Neste caso, a tradução mais correta para mímesis talvez fosse "representar", e não "imitar". Para Arístóteles (séc. IV a.C.), a arte "imita" a natureza. Arte, para ele, no entanto, englobava todos os ofícios manuais, indo da agricultura ao que hoje chamamos de belas-artes. Assim, a arte, enquanto poiésis, ou seja, "construção", "criação a partir do nada", "passagem do não-ser ao ser", imita a natureza no ato de criar. Por outro lado, também aqui poderíamos entender mímesis com o sentido de "representar". Para Aristóteles, "todos os ofícios manuais e toda a educação completam o que a natureza não terminou"'. Ainda segundo Aristóteles, a apreciação da arte vem do prazer intelectual de reconhecer a coisa representada através da imagem. Assim, ele resolve o problema do feio. O prazer, no caso, não vem do reconhecimento da coisa feia, mas da habilidade que o artista demonstra ao representá-la. (Aristóteles, Política, VII, lI.) É no sentido de cópia ou reprodução exata e fiel que a palavra mímesis passa a ser adotada pela teoria naturalista. E as obras de arte, dentro dessa perspectiva, são avaliadas segundo o padrão de correção colocado por Platão: “Agora suponhamos que, neste caso, o homem também não soubesse o que eram os vários corpos representados. Ser-lhe-ia possível ajuizar da justeza da obra do artista? Poderia ele, por exemplo, dizer se ela mostra os membros do corpo em seu número verdadeiro e natural e em suas situações reais, dispostos de tal forma em relação aos outros que reproduzam o agrupamento natural - para não falarmos na cor e na forma - ou se tudo isso está confuso na representação? Poderia o homem, ao vosso parecer, decidir a ESTÉTICA UNIDADE 5 - VANGUARDA ARTÍSTICA E NATURALISMO GREGO Roberto Carlos de Oliveira 25 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” questão se simplesmente não soubesse o que era a criatura retratada?". (2 Platão, Leis, 668.) BUSCANDO O CONHECIMENTO As vanguardas artísticas representou um passo importante para a história da arte, o caráter arrojado de romper os pressupostos artísticos estabelecidos pela sociedade, de tentar uma nova forma de linguagem, trouxe significativas contribuições para o avanço das artes. Todavia, não podemos negar também as contribuições do naturalismo grego que definiu a arte desde o seu nascimento até o século XIX, o filósofo Aristóteles estudou profundamente a imitação da natureza realizada pela arte e o prazer intelectual ocasionado por essas imitações artísticas. ESTÉTICA UNIDADE 7 - A ESTÉTICA PLATÔNICA. Roberto Carlos de Oliveira 26 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender a crítica que Platão (428 – 348 a.C) faz as artes e a noção de beleza grega. ESTUDANDO E REFLETINDO Platão A problemática platônica da arte deve ser encarada em estreita conexão com a temática metafísica e dialética. Na verdade, ao determinar a essência, a função e o valor da arte, Platão se preocupa apenas em estabelecer o seu valor de verdade. E sua resposta, como se sabe, é profundamente negativa: a arte não revela, mas esconde o verdadeiro, porquanto não constitui uma forma de conhecimento nem melhora o homem, mas o corrompe, porque é mentirosa; não educa o homem, mas o deseduca, porque se volta para as faculdades irracionais da alma que constituem as partes inferiores de nos mesmos. Já em seus primeiros escritos Platão assume atitude negativa diante da poesia, considerando-a decididamente inferior à filosofia. O poeta não é poeta pela ciência e pelo conhecimento, mas por intuição irracional. Quando compõe, o poeta se encontra "fora de si”, o "invadido", Achando-se, portanto em situação de inconsciência: ignora a razão do que faz e não sabe ensinar a outros, o que faz. O poeta é poeta por "destino divino", não por virtude derivada do conhecimento. Mais precisas e determinadas são as concepções de arte expressas por Platão no livro décimo da República. Em todas as suas expressões (poesia, arte pictórica e plástica), a arte constitui, do ponto de vista ontológico, urna "mimese", uma "imitatio" de realidades sensíveis (homens, coisas, fatos e acontecimento diversos). Ora, sabemos que as coisas sensíveis representam, sob o aspecto ontológico, uma "imagem" do eterno "paradigma" da Ideia e, por isso, se afastam do verdadeiro à medida que a copia ESTÉTICA UNIDADE 7 - A ESTÉTICA PLATÔNICA. Roberto Carlos de Oliveira 27 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” dista do original. Se a arte, por sua vez, é imitatio das coisas sensíveis, consequentemente seria "imitatio de imitação”, cópia que reproduz cópia e, por conseguinte, permaneceria "três vezes distante da verdade". A arte figurativa, portanto, imita assim a experiência. Dessa forma, os poetas falam sem saber e sem conhecer aquilo de que falam. E o seu falar, do ponto de vista da verdade, é um jogo, uma brincadeira. Consequentemente, Platão está convicto de que a arte não se dirige à parte melhor, mas sim à parte menos nobre de nossa alma. Para Platão, a arte distorce a compreensão real das coisas, ela seria uma imitação da imitação que distancia o indivíduo das verdadeiras formas. (Escher, Autorretrato em esfera – 1935) (fonte: http://fcs.mg.gov.br/programacao/a-magia-de-escher/) Desse modo, a arte se mostra corruptora, devendo ser banida ou até mesmo eliminada do Estado perfeito, a menos que acabe por se submeter às leis do bem e do verdadeiro. Platão não negou a existência e o poder da arte. Negou apenas que a arte ESTÉTICA UNIDADE 7 - A ESTÉTICA PLATÔNICA. Roberto Carlos de Oliveira 28 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” seja dotada de valor em si mesma: a arte serve ao verdadeiro ou ao falso, e tertium non datur. Entregue a si mesma, a arte serve ao falso. Logo, se quiser se "salvar", a arte deve submeter-se à filosofia, que é a única capaz de alcançar o verdadeiro, e o poeta deve submeter-se às regras do filósofo. A doutrina platônica A doutrina de Platão, que condensou a experiência do Belo alcançada pela cultura antiga, deu a essa experiência uma interpretação filosófica das mais completas. Essa experiência, renovada por Plotino, tornou-se, com o tempo, uma atitude e um estado de espírito em relação à Beleza e à Arte, verdadeiros padrões do pensamento estéticoe artístico. Para que melhor possamos compreender o alcance desse pensamento, convém esquematizar a filosofia platônica, resumindo os seus principais pontos de vista nas teses expostas a seguir. Tese metafísica O verdadeiro ser das coisas é, para Platão, a essência que não muda, conservando-se idêntica nos indivíduos (tal como a espécie humana, que não morre quando os indivíduos se extinguem). Mas, como no mundo em que vivemos tudo está em permanente mudança, a essência imutável deve existir não nas coisas materiais e passageiras, porém numa outra dimensão, que o filósofo denomina “mundo inteligível”, oposto ao “mundo sensível” em que nos encontramos. Só as essências, também chamadas universais, existem verdadeiramente, sendo a imutabilidade o sinal distintivo da realidade completa, sem falhas. As coisas, perecíveis, arrastadas pela onda da eterna mudança (vir-a-ser) existem na medida em que participam das essências, paradigmas ou modelos (Ideias ou formas, na terminologia platônica), que elas refletem, e em razão das quais surgiram. ESTÉTICA UNIDADE 7 - A ESTÉTICA PLATÔNICA. Roberto Carlos de Oliveira 29 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Tese psicológica A alma tem afinidade com o mundo inteligível do qual se originou. Presa no corpo, como dentro de um cárcere, aspira retomar ao seu lugar de origem, e é essa aspiração, interpretada como desejo de imortalidade, que a conduz quando ela ama. Dividida entre uma parte superior, racional, que a leva para o alto, e uma inferior, dos instintos e paixões, que a puxa para baixo, onde a matéria domina, a alma deve superar as imperfeições do seu estado terreno, libertando-se gradualmente delas, para concentrar-se no conhecimento das essências ou ideias, que a Razão é capaz de apreender, quando consegue fugir ao império das impressões sensíveis, fugazes e ilusórias. Esse processo de libertação, pelo qual o verdadeiro conhecimento se efetiva, e que tem sentido intelectual e moral, é impulsionado pelo Amor (Éros) e ativado pelo Bem (Agathós), luz do mundo inteligível, a mais elevada de todas as ideias, que compartilha da natureza da Verdade, e cujo brilho, que atrai e seduz a alma, resplandece nas próprias coisas. Essa sedução é própria dos seres e objetos belos, em que o Amor se fixa e à custa dos quais impulsiona a escalada do espírito, do sensível ao inteligível, sede da verdadeira Beleza e do verdadeiro Bem. BUSCANDO O CONHECIMENTO Platão tinha uma visão negativa das artes cultivadas em Atenas no seu tempo, para ele, as artes afastavam o homem da verdade e da beleza. De acordo com a teoria do mundo das Ideias, o nosso mundo sensível seria a cópia do mundo real, isto é, do mundo das Ideias, das verdadeiras formas e as artes seria uma cópia da cópia, pois estariam imitando e representando a cópia sensível do nosso mundo. ESTÉTICA UNIDADE 7 - A ESTÉTICA PLATÔNICA. Roberto Carlos de Oliveira 30 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” O homem só vai conhecer a verdadeira beleza quando a alma tiver afinidade com o mundo inteligível, mundo que só é acessível através do pensamento, porque nossas almas estão presas em nossos corpos materiais. Deixo um link de um artigo escrito pela pesquisadora Jovelina Maria Ramos de Souza do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade do Estado do Pará, sobre a crítica de Platão as artes de seu tempo. LINK: http://200.17.141.110/periodicos/cadernos_ufs_filosofia/revistas/ARQ_cadernos_5/jovelina.pdf ESTÉTICA UNIDADE 7 - A CONCEPÇÃO IDEALISTA DA BELEZA Roberto Carlos de Oliveira 31 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender a concepção idealista de beleza proposta pelo filósofo Platão. ESTUDANDO E REFLETINDO A beleza universal O cerne do pensamento platônico a esse respeito é que o Belo, como valor atribuído às coisas, deriva da beleza universal, que agora já sabemos constituir uma ideia, uma essência, na acepção que estas palavras adquirem na filosofia de Platão. As coisas são belas, portanto, na medida em que participam da beleza transcendente, que não nasce nem morre, e que é aquele aspecto do Ser que, esplendendo na matéria, fala à inteligência por intermédio dos sentidos. A Beleza se comunica com o sensível, infunde-lhe qualidades que enriquecem a matéria, mas que verdadeiramente não pertencem a este mundo. É uma espécie de ardil com que o Bem capta a atenção da alma para arrebatá-la da servidão do corpo. As três espécies de Beleza; a estética, a moral e a espiritual, convertem-se, na filosofia platônica, em três momentos ou etapas do diálogo com o Ser. O Amor, a serviço do soberano Bem, acende na alma humana o desejo de imortalidade, fazendo-a passar do conhecimento dos belos corpos ao das belas ações, das belas almas aos belos conceitos, até que, no pináculo da contemplação, revela-se-lhe "o oceano da beleza universal", que confina com a realidade em si, e onde, finalmente, ela pode aplacar a sua infinita inquietação. ESTÉTICA UNIDADE 7 - A CONCEPÇÃO IDEALISTA DA BELEZA Roberto Carlos de Oliveira 32 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” O artífice e o poeta Do ponto de vista platônico, a Arte só excepcionalmente se relaciona com a verdadeira beleza, que a inteligência pura, capaz de intuir a natureza das coisas por meio do conhecimento teórico, pode contemplar. De todas as artes, a Poesia é a que maior afinidade tem com a inteligência e a que mais se aproxima do objeto da atividade teórica do espírito. Platão dá aos poetas uma posição privilegiada, separando-os dos artífices, tanto dos artesãos propriamente ditos quanto dos pintores e escultores, que trabalham com as mãos, usando a matéria. Esses últimos artífices imitam as aparências das coisas e, por isso, a sua arte, que não ultrapassa a escala da beleza sensível, deficiente e incompleta, é até inferior à daqueles que se limitam a fabricar objetos úteis para vários misteres. Seguindo inclinação peculiar ao pensamento filosófico grego, Platão desprezou o trabalho manual e desvalorizou as atividades artísticas que, como as do pintor e do escultor, são de caráter manual, chegando mesmo a separá-las da poesia, à qual atribuiu uma dignidade e uma função específica, que a situa no domínio das revelações místicas e filosóficas. A Poesia é veículo de conhecimentos extraordinários, inacessíveis à maioria dos homens; os poetas se assemelham aos áugures e adivinhos, que, possuídos pelas divindades, instrumentos de seus desígnios, falam sem saber o que dizem. A inteligência que Platão concede aos poetas não é nem a discursiva (dianoia), nem a intuitiva (noesis), mas o arrebatamento, o entusiasmo, que se apodera da alma e que não provém do que é humano. As boas poesias, no gênero épico ou lírico, são concebidas e escritas sob ação direta da divindade, origem do entusiasmo, que dispensa o engenho da arte e o substitui por um poder estranho, de ordem superior: a inspiração, no sentido platônico do termo, ressuscitado pelo romantismo. “Não é, ficai sabendo, por efeito da arte, mas pela ação de um Deus que neles reside e os possui que todos os bons poetas épicos compõem todos esses belos ESTÉTICA UNIDADE 7 - A CONCEPÇÃO IDEALISTA DA BELEZA Roberto Carlos de Oliveira 33 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” poemas, coisa que também se pode dizer dos bons autores de cantos líricos.” (Platão, "Ion", in Oeuvres complètes, trad. de Léon Robin, Pléiade, v. 1, p. 62.). Nessas condições, a inspiração, comparável ao delírio dos participantes das orgias dionisíacas, dá ao poeta uma capacidade superior de domínio dos ritmos e das harmonias, domínio que, em condições normais, apenas recorrendo ao auxílioda arte, ele jamais poderia ter. Eis a passagem do diálogo anteriormente citado, o Ion, que completa esse pensamento de Platão: “O poeta é, com efeito, coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num homem que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar e de vaticinar”. (Idem, ibidem, p. 63.) Pode-se concluir daí que a verdadeira poesia, para o filósofo, não pertence à categoria de póiesis, como operação produtiva, mas à categoria religiosa do delírio (mania), que compreende três manifestações diversas: a divinatória, como a profecia e as previsões feitas pelos voos dos pássaros ou pela inspeção das vísceras dos animais, oferecidas em holocausto; a das purificações do corpo e da alma e, finalmente, a inspiração das Musas, que nenhum conhecimento técnico supre e à qual se devem todas as perfeições da poesia, quer a sua capacidade para recriar os feitos que merecem memória, quer a indispensável influência que ela exerce na educação da humanidade. O delírio nem sempre é um mal. Quando ele vem dos deuses, é muito melhor do que o bom-senso, puramente humano. O delírio do poeta - maníaco a quem se atribuem, ao lado de adivinhos, áugures, profetas e curandeiros, a condição de vate, o que lhe confere um status religioso -, o delírio do poeta, transmitindo-se aos seus ouvintes, torna-os entusiastas, isto é, receptivos àquelas verdades que, celebradas e cantadas pela poesia épica e lírica, despertam a recordação da beleza universal e imperecível, já fruída pela alma no reino das essências, de onde, um dia, se apartou para fazer-se prisioneira do corpo. ESTÉTICA UNIDADE 7 - A CONCEPÇÃO IDEALISTA DA BELEZA Roberto Carlos de Oliveira 34 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” O efeito superior da Poesia é justamente o de instigar a lembrança da beleza eterna, que a contemplação dos belos corpos também pode despertar, e que, segundo a notável imagem de Platão, reacendendo o desejo infinito do Belo, que se chama Amor, reafirmando as asas da alma, a fim de prepará-la para o voo de retorno ao mundo inteligível, sua pátria de origem. A Poesia, arte máxima, exercida por quem é mais do que artífice ou artista, apenas imita a beleza superior, sem jamais conhecê-la verdadeiramente, pois que o seu conhecimento está reservado ao pensamento puro. As outras artes, contudo, não podendo escapar da servidão da matéria, limitam-se a imitar as aparências sensíveis. Falta-lhes a dignidade própria da Poesia, dignidade que ela perde quando se rebaixa a reproduzir aquilo que intranquiliza a alma e prejudica a sua elevação, por ser verdadeiro e favorável ao Bem moral. Assim, o artista e o poeta são dois tipos distintos que produzem coisas de valor diferente, por força de uma mesma atividade imitativa, mimética. O primeiro, ou fabrica objetos úteis, que imitam certas essências ou reproduz as coisas mutáveis do mundo sensível, cuja beleza é precária e inferior àquela que o poeta, arrebatado pelo entusiasmo, chega a vislumbrar. A imitação de menor alcance é, para Platão, a que os artistas que pintam e esculpem praticam, dando origem a obras que, simplesmente imitativas, são inferiores aos produtos artesanais puros que, pelo menos, possuem a beleza do que é útil e conveniente ao homem. BUSCANDO O CONHECIMENTO Para Platão, é muito grande a distância que vai da ideia de Arte, como póiesis, atividade formadora que tem por fim a realização de uma obra, à ideia do Belo, objeto de contemplação pura na filosofia platônica. Essa distância diminui na doutrina de Aristóteles, onde o caráter contemplativo do Belo tende a ajustar-se ao caráter prático da obra de arte. ESTÉTICA UNIDADE 7 - A CONCEPÇÃO IDEALISTA DA BELEZA Roberto Carlos de Oliveira 35 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Enquanto Platão vê na Arte um dos meios pelos quais o espírito humano se relaciona diretamente com a Beleza, os filósofos cristãos, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, principalmente, consideram separadamente essas duas ideias, que estarão unidas de maneira essencial no conceito de Belas-Artes. No link a seguir, é parte de uma palestra do Prof. Carlos Nougué sobre a relação entre conhecimento e arte na filosofia de Platão. LINK: http://www.youtube.com/watch?v=STNnct-V-cw ESTÉTICA UNIDADE 8 - A ESTÉTICA DE ARISTÓTELES Roberto Carlos de Oliveira 36 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender a visão estética desenvolvida por Aristóteles (384 – 322 A.C) e a visão positiva sobre a mimese. ESTUDANDO E REFLETINDO ARISTÓTELES Qual a natureza do fato e do discurso político, e a que visa? São dois os conceitos sobre os quais devemos concentrar a atenção para poder compreender a resposta dada por nosso filosofo a questão: 1) o conceito de "mimese" e 2) o conceito de "catarse". Platão havia censurado fortemente a arte, precisamente porque a mimese, isto é, imitatio de coisas fenomênicas, que, como sabemos, são por seu turno imitações dos eternos paradigmas das Ideias, de modo que a arte torna-se cópia de cópia, aparência de aparência, extenuando o verdadeiro a ponto de fazê-lo desaparecer. Aristóteles se opõe claramente a esse modo de conceber a arte, interpretando a "mimese artística segundo uma perspectiva oposta, a ponto de fazer dela uma atividade que, longe de reproduzir passivamente a aparência das coisas, quase recria as coisas segundo nova dimensão”. A dimensão segundo a qual a arte "imita a dimensão do "possível" e do "verossímil". E é precisamente essa dimensão que "universaliza" os conteúdos da arte, elevando-os a nível "universal" (evidentemente, não "universais" lógicos, mas simbólicos e fantásticos, como se diria mais tarde). Enquanto a natureza da arte consiste na imitação do real segundo a dimensão do possível, sua finalidade consiste na "purificação das paixões". E Aristóteles o diz ESTÉTICA UNIDADE 8 - A ESTÉTICA DE ARISTÓTELES Roberto Carlos de Oliveira 37 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” fazendo referência explicita à tragédia, "que, por meio da piedade e do terror, acaba por efetuar a purificação de tais paixões". Mas ele desenvolve um conceito análogo também em referência ao efeito da musica. O que significa, portanto, purificação das paixões? Alguns acharam que Aristóteles falasse de purificação "das" paixões em sentido moral, quase como que uma sublimação das paixões obtida por meio da eliminação daquilo que elas têm de inferior. Outros, porém, entenderam a "catarse" das paixões no sentido de remoção ou eliminação temporária das paixões, em sentido quase fisiológico, e, portanto no sentido de libertação "em relação às" paixões. Pelos poucos textos que chegaram até nós, temos claramente que a catarse não é certamente purificação de caráter moral (já que é expressamente distinta dela); parece que, embora com oscilações e incertezas, Aristóteles entrevia naquela agradável libertação operada pela arte algo de análogo àquilo que hoje chamamos "prazer estético”. Platão condenara a arte, entre outros motivos, também pelo fato de ela desencadear sentimentos e emoções, reduzindo o elemento racional que os domina. Aristóteles subverte exatamente a interpretação platônica: a arte não nos carrega de emotividade, e sim nos descarrega; além disso, o tipo de emoção que ela nos proporciona (que é de natureza inteiramente particular) não apenas não nos prejudica, mas até nos recupera. A Poética A arte, como póiesis que é, aproxima-se da Natureza e a ela se assemelha, quer quando forma simplesmente alguma coisa, quer quando forma imitando. A epopeia, a tragédia, a comédia, certas espéciesde música instrumental e de canto, a dança e a pintura, referidas por Aristóteles em sua Poética, têm por essência comum imitar a realidade natural e humana, valendo-se, para isso, de diversos meios, que são elementos (como as cores e figuras na pintura) e princípios estéticos gerais, como o ESTÉTICA UNIDADE 8 - A ESTÉTICA DE ARISTÓTELES Roberto Carlos de Oliveira 38 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” ritmo e a harmonia, aplicáveis aos sons vocais e instrumentais, às palavras na poesia propriamente dita, e aos movimentos do corpo na dança. Para Aristóteles, a diferença essencial entre tais espécies não provém dos meios que adotam, mas do que imitam e da maneira por que imitam. Sem perder de vista as outras artes, Aristóteles, que estudou particularmente a tragédia, a comédia e a epopeia, diz, na Poética, que as representações imitativas da poesia, cujo meio de expressão é a palavra, têm por objeto retratar homens em ação, ocupando-se a tragédia dos bons e nobres, e a comédia dos maus vis. Ambas imitam por intermédio de agentes (atores), enquanto que a epopeia utiliza outra maneira de imitar, que é a narrativa. A tragédia, imitação de uma ação completa, acabada, necessita de caracteres: representa o essencial do destino humano naquilo que tem de grande, nobre e exemplar. O seu efeito estético, a catarse (kátharsis), mostra-nos que essa representação exemplar estende a sua influência ao plano moral da vida. Efeito específico da tragédia, a catarse (depuração, purificação) consiste na neutralização dos sentimentos excessivos - a comiseração e o temor - que o espetáculo suscita na assistência, e que ele mesmo aplaca, estabelecendo entre aqueles dois estados psíquicos de caráter emocional um equilíbrio que redunda em novo sentimento, mediano, harmonioso, equilibrado, que é, na linguagem da Poética, "o termo médio em que os afetos adquirem estado de pureza". A catarse, que se identifica com o prazer de ordem intelectual e de significação moral que as representações trágicas devem produzir, é um misto de receio prudente (pelos tristes sucessos representados), e de simpatia (pelo herói, em virtude do desenlace infeliz). ESTÉTICA UNIDADE 8 - A ESTÉTICA DE ARISTÓTELES Roberto Carlos de Oliveira 39 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” O Feio As ações grandiosas e elevadas, de caracteres bons e nobres, possuem a beleza moral que é própria da alma e, por isso, constituem objetos dignos de imitação para a Arte. Essa beleza, no entanto, perde o seu primado com Aristóteles, que se ocupa da comédia, a qual representa o feio, como aquilo que, por ser moralmente disforme, provoca riso. A imitação, no sentido aristotélico, estende-se mesmo àquelas coisas desagradáveis à vista, repelentes porque ameaçadoras e feias, e porque são inertes e sem vida. Como se sofressem uma transfiguração em seu aspecto natural, adquirindo nova existência por efeito da Arte, tais coisas, quando imitadas, tornam-se atraentes, dando-nos prazer contemplar as suas representações. Não é que o Belo se torne feio. É que o Belo, na Arte, não coincide com a beleza exterior dos objetos representados, mas sim com a maneira de apresentar as coisas ou ações, a natureza ou o homem. Aristóteles tende, em sua Poética, a considerar a beleza como propriedade intrínseca da obra de arte. BUSCANDO O CONHECIMENTO Segundo Aristóteles, a beleza essencial da tragédia, só em parte relacionada com a grandeza moral dos caracteres, reside na estrutura da ação dramática. Esta, que importa no desenvolvimento de uma trama, com episódios e peripécias, até o desenlace, selando o destino do herói, deve ter uma forma adequada, de modo que a ordem entre os episódios e a sua duração conveniente se conjuguem para produzir o efeito geral, a catarse. A ordem (inter-relacionamento das partes) e a grandeza (a extensão de cada uma e do conjunto) respondem pela beleza propriamente estética inerente à obra, ESTÉTICA UNIDADE 8 - A ESTÉTICA DE ARISTÓTELES Roberto Carlos de Oliveira 40 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” determinando a unidade e a integridade que Aristóteles exige tanto para a tragédia como para a epopeia. A sua forma, espécie de enteléquia, que anima a ação, preside o seu desenvolvimento e garante a sua unidade, assemelha-se à forma orgânica de um ser vivo. Para uma melhor compreensão do assunto, deixo um link do artigo desenvolvido pelo pesquisador Carlos de Almeida Lemos, intitulado A Imitação em Aristóteles, onde o autor busca esclarecer a relação existente entre imitação e beleza. LINK: http://www.ifcs.ufrj.br/~afc/2009/LEMOS.pdf ESTÉTICA UNIDADE 9 - A ESTÉTICA MEDIEVAL Roberto Carlos de Oliveira 41 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender a visão estética cultivada no período medieval e suas formas de expressão artísticas. ESTUDANDO E REFLETINDO Estética Medieval Na Europa ocidental, durante a Idade Média, não houve grande interesse pelas artes que, como coisas terrenas ligadas à cultura pagã, poderiam prejudicar o fortalecimento da alma e do espírito. Entretanto, em virtude do analfabetismo mais ou menos generalizado das populações dos feudos, a Igreja utiliza-se da pintura e da escultura para fins didáticos, ou seja, para ensinar a religião e infundir o temor do julgamento final e das penas do inferno. As obras de arte assumem a condição de símbolos que manifestam a natureza divina e canalizam a devoção do homem para o deus supremo. Por isso, a postura naturalista é abandonada em prol da estilização, isto é, da simplificação dos traços, da esquematização das figuras e do abandono dos detalhes individualizadores. A estilização responde melhor à necessidade de universalização dos princípios da religião cristã. A arte bizantina do mesmo período mostra extraordinária homogeneidade a partir de sua codificação, no século VI, até a queda de Constantinopla em 1453. Preocupada com a expressão religiosa e com a tradução da teologia em forma de arte, a Igreja Ortodoxa bizantina padroniza a expressão artística, abolindo a representação tridimensional em pinturas e mosaicos, preferindo as figuras chapadas, cujas vestes eram representadas por linhas sinuosas. ESTÉTICA UNIDADE 9 - A ESTÉTICA MEDIEVAL Roberto Carlos de Oliveira 42 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Mantidas suas características próprias, tanto no Ocidente quanto no Império Bizantino, prevalece a ideia de que a beleza não é um valor independente dos outros, mas que é o refulgir da verdade no símbolo. A obra de arte, assim, permite-nos alcançar a visão direta da perfeição da natureza divina. Desse ponto de vista, a beleza é uma qualidade mais bem apreendida pela razão do que pelos sentidos, e corresponde ao pensamento religioso dessa época, marcado pelo desejo de ascender do mundo sensual das sombras, das aparências, (contemplação direta da perfeição divina). Santo Agostinho Santo Agostinho, ao tratar da ordem e da música, considera o número como medida de comparação que leva à ordenação das partes iguais dentro de um todo integrado e harmônico. O conceito de beleza, enquanto ordenação dos objetos ao que deve ser pressupõe um conceito anterior da ordem ideal, dado por iluminação divina. É esse mesmo conceito que fundamenta a objetividade do julgamento da beleza, donde se podem criar normas para a produção do belo. Santo Tomás de Aquino Cabe a Santo Tomás de Aquino (séc. XIII) retomar o pensamento de Aristóteles e recuperar o mundo sensível que havia sido considerado fonte de pecado durante quase toda a Idade Média. Se for criação de Deus, o mundo terá as marcas de sua origem e será a encarnação simbólicado logos divino. Pode, assim, ser objeto de nossa atenção e interpretação. Para Santo Tomás, a beleza é um dos aspectos do bem: "A beleza e a bondade de uma coisa são ESTÉTICA UNIDADE 9 - A ESTÉTICA MEDIEVAL Roberto Carlos de Oliveira 43 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” fundamentalmente idênticas". A beleza é o aspecto agradável da bondade, pois o belo é agradável à cognição. Santo Tomás estabelece três condições para a beleza: integridade ou perfeição, uma vez que os objetos incompletos ou parcialmente destruídos são feios; - devida proporção ou harmonia entre as partes e entre o objeto e o espectador; - claridade ou luminosidade, ou seja, o resplandecer da forma em todas as partes da matéria. Arte, meio de contemplação. Plotino, figura capital na renovação do platonismo, que exerceu profunda influência nos primeiros pensadores cristãos, inclusive em Santo Agostinho, adota a concepção da beleza suprassensível, imutável e eterna, razão de ser das coisas belas deste mundo. Para Plotino, a alma, que se rejubila ao contemplá-las, assemelha-se à Beleza, e' a Beleza, manifestando o inteligível naquilo que é material e sensível, constitui a própria alma das coisas, como forma interior, como unidade indivisível, que nelas existe, e que as propriedades estéticas, simetria e regularidade, aspectos puramente exteriores, não podem explicar. Forma interior num sentido análogo àquele que encontramos em Aristóteles, a Beleza está presente em toda a Natureza, onde quer que a ordem e a determinação subjuguem a tendência da matéria para o informe e o caos. Tudo que tem forma, diz Plotino, é belo e dotado da máxima realidade. O feio, para ele, identifica-se com a ausência de forma: é a negação do real, como ser perfeitamente determinado. Se as coisas belas se parecem com a alma, é na própria alma que a beleza melhor se revela. Será preciso então fechar os olhos do corpo para abrir a visão interior, que pode alcançar, afinal, a beleza inteligível, já pertencente às ideias, às formas puras e ESTÉTICA UNIDADE 9 - A ESTÉTICA MEDIEVAL Roberto Carlos de Oliveira 44 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” imateriais. Interiorizando a beleza, Plotino, filósofo e místico, fez da Arte um tipo de ação espiritual e contemplativa. O Bem, O Belo e a Verdade. É de Deus que provém a beleza inteira da criação, testemunho de sua grandeza e sabedoria infinitas, que deleita a alma, antecipando o gozo sobrenatural da vida eterna. Essa beleza, que em Deus se origina, e que é por Ele reabsorvida, é a única que realmente interessa aos pensadores cristãos. Ela liga o homem ao criador, e não é vã, como aquela outra que aos olhos se oferece, passageira e tentadora, e a cuja sedução um Santo Agostinho (354-430) teme entregar-se: Os olhos amam a beleza e a variedade das formas, o brilho e a amenidade das cores. Oxalá que tais atrativos não me acorrentem a alma”. (Santo Agostinho, Confissões, 3. ed., Porto, p. 313.) É muito significativo que Santo Tomás de Aquino, representante máximo da escolástica, síntese filosófica da Idade Média, tenha estudado o Belo na mesma parte de sua Suma teológica que trata da existência e da natureza de Deus. A Beleza é, para o Santo Doutor, uma propriedade transcendental do Ser, paralela à Verdade e ao Bem. Entretanto, esses três aspectos de uma mesma realidade absoluta são inconfundíveis. O Bem é o que o homem deseja possuir, e a Verdade o que ele busca apreender intelectualmente. O Belo, que se relaciona com o primeiro e com a segunda, não tem a desejabilidade do Bem, pois só se impõe à nossa contemplação, e difere da Verdade, porque consiste no deleite que a contemplação traz ao espírito, o qual não depende do verdadeiro conhecimento daquilo que nos deleita. ESTÉTICA UNIDADE 9 - A ESTÉTICA MEDIEVAL Roberto Carlos de Oliveira 45 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” BUSCANDO O CONHECIMENTO Pela doutrina de Santo Tomás de Aquino, o Belo está mais próximo da Verdade: a contemplação exercita o conhecimento, e o deleite, que dela é inseparável, decorrem, sobretudo, da atividade dos sentidos intelectuais, a vista e o ouvido. A integridade (perfeição, plenitude), a proporção (acordo ou conveniência entre as partes), e a claridade ou esplendor (adequação à inteligência), são as três condições do Belo, a última das quais, correspondendo ao esplendor do Bem e da Verdade na filosofia platônica, significa, analogicamente, para Santo Tomás de Aquino, a inteligência divina manifestada como Verbo. Deixo um link do artigo: “Tomás de Aquino e a questão de uma possível estética medieval.” Do pesquisado Andreas Speer que investiga a ideia estética do pensador escolástico. LINK: http://www.revistaviso.com.br/pdf/Viso_4_AndreasSpeer.pdf ESTÉTICA UNIDADE 10 - O NATURALISMO RENASCENTISTA Roberto Carlos de Oliveira 46 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender e caracterizar a estética renascentista. ESTUDANDO E REFLETINDO O Renascimento artístico, ocorrido entre os séculos XIV e XV na Europa, passa a dignificar o trabalho do artista ao elevá-lo à condição de trabalho intelectual. Consequentemente, a obra de arte assume outro lugar na cultura da época. Nesse contexto, as artes vão buscar um naturalismo crescente, mantendo estreita relação com a ciência empírica que desponta na época e fazendo uso de todas as suas descobertas e elaborações em busca do ilusionismo visual. Assim, a perspectiva científica, a teoria matemática das proporções, que possibilitam a criação da ilusão da terceira dimensão sobre uma superfície plana, as conquistas da astronomia, da botânica, da fisiologia e da anatomia são incorporadas às artes. Osborne distingue seis princípios fundamentais que dominaram o ponto de vista renascentista no terreno da estética: 1. A arte é um ramo do conhecimento e, portanto, criação da inteligência. 2. A arte imita a natureza com a ajuda das ciências. 3. As artes plásticas e a literatura têm propósito de melhoria social e moral, aspirando ao ideal. 4. A beleza é uma propriedade objetiva das coisas e consiste em: ordem, harmonia, proporção, adequação. A harmonia se expressa matematicamente. 5. As artes alcançaram a perfeição na Antiguidade clássica, que deve ser estudada. 6. As artes estão sujeitas a regras de perfeição racionalmente apreensíveis que podem ser formuladas e ensinadas com precisão. Aprendemo-las pelo estudo das obras da Antiguidade. ESTÉTICA UNIDADE 10 - O NATURALISMO RENASCENTISTA Roberto Carlos de Oliveira 47 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” O Humanismo pode ser apontado como o principal valor cultivado no Renascimento. Baseia-se em diversos conceitos associados: Neoplatonismo, Antropocentrismo, Hedonismo, Racionalismo, Otimismo e Individualismo. O Humanismo, antes que um corpo filosófico é um método de aprendizado que faz uso da razão individual e da evidência empírica para chegar às suas conclusões, paralelamente à consulta aos textos originais, ao contrário da escolástica medieval, que se limitava ao debate das diferenças entre os autores e comentaristas. O Humanismo afirma a dignidade do homem e o torna o investigador por excelência da natureza. Na perspectiva do Renascimento, isso envolveu a revalorização da cultura clássica antiga e sua filosofia, com uma compreensão fortemente antropocentrista e racionalista do mundo, tendo o homem e seu raciocínio lógico e sua ciência como árbitros da vida manifesta. Seu precursor foi Petrarca, e o conceito se consolidou no século XV principalmente através dos escritos de Marsilio Ficino, Erasmo de Roterdão, Pico della Mirandola e Thomas More. O brilhante florescimento cultural e científico
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