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Resenha – Dionivaldo Pires ÁVILA, Antonio. Para Conhecer a Psicologia da Religião. São Paulo: Loyola, 2007. Publicado pela editora Loyola, um livro sob o título “Para Conhecer a Psicologia da Religião”, de Antonio Ávila, com tradução do espanhol por Maria José Rosado Nunes e Thiago Gambi. Ávila é professor de Psicologia do Instituto de Pastoral e da Faculdade de Teologia São Dâmaso, em Madri. Já na apresentação o a. diz que após mais de cem anos de pesquisas, enfrentamentos e diálogos com outros campos afins, a psicologia da religião pode apresentar uma grande quantidade de contribuições úteis para a compreensão da religiosidade do ser humano, contribuições muitas vezes parciais, dispersas em múltiplas pesquisas, (…) Assim, este livro apresenta de forma sucinta e o mais ordenadamente possível os conhecimentos ainda parciais que possuímos desse campo, de maneira que se tornem úteis a todos aqueles que queiram ter um conhecimento global de suas contribuições. Após uma apresentação (primeiro capítulo) onde o autor debate o Estatuto da psicologia da religião (apontando aí, a atitude do psicólogo diante do fato religioso e questões de Método de pesquisa), o a. divide o livro em 4 partes. Primeiro capítulo No primeiro capítulo dividido em dois subtítulos, o autor tenta estabelecer o Estatuto da psicologia da religião, de que se trata e as dificuldades de delimitar o objeto focado, a postura do psicólogo da religião diante do fato religioso e, finalmente, o método da psicologia da religião e instrumentos utilizados. Segundo a lógica do a.,na definição do que seria, de fato, psicologia da religião se têm mais desacordos que acordos, justamente pela falta de um único paradigma na compreensão. Assim, se de um lado o horizonte é vasto e, portanto, rico, do outro, é recheado por discussões estéreis. Relativamente jovem, a Psicologia da Religião nasce na década de 1880 e caracteriza-se por ser a aplicação da psicologia ao estudo da religião. O autor prefere usar a dualidade - psicologia e religião - asseverando que não pretende estudar a religião a partir da psicologia, mas um diálogo mútuo, tendo como ponto de união: a busca de sentido do ser humano. A escolha se inspira nas novas orientações que surgiram nos meados dos anos 1960. O tema em questão já desfilou por muitos cenários: no pré e pós-Concílio, temos psicologia e teologia, no assim chamado método correlacional (P. Tillich), tendo como fruto: a psicologia pastoral; o diálogo entre psicologia e outras culturas além da judeu-cristã, nasceu a psicologia religiosa comparada. A psicologia, segundo algumas orientações, se apresentou como alternativa à religião não institucionalizada. O escopo do a. é manter-se fiel ao tronco inicial da psicologia e da religião, para perceber como o segundo se submete ao primeiro, qualificando-o. W. Wundt quem deu autonomia à psicologia ao dotá-la de um método científico; mas que tipo de ciência é a psicologia? Essa problemática o a. enfrentará no segundo capítulo. O que distingue ou o que é peculiar na religião? O que seria religião? A definição substantiva assevera que o sagrado(divindade, sobrenatural) é o que distingue a religião. A definição é precisa, embora possa dar margens a ilusões e mantém uma compreensão estática. A orientação funcional vê na religião uma função interpretativa, qual a utilidade da religião na vida do ser humano. Aqui a definição é muito aberta, podendo ser até confundido com filosofia, ideologia, esportes, enfim. Mesmo ciente das limitações, o a. prefere delimitar o objeto de estudo a partir da definição substantiva, sem perder, contudo, a definição funcional. Assim, a religião seria uma busca de sentido (funcional) em relação com o sagrado (substantiva). Feita a escolha não fica difícil entender que o objeto da Psicologia da Religião é o homem na qualidade de religioso: suas motivações, seus desejos, suas expectativas, suas atitudes, ou seja, todo homem, crente ou não. No segundo subtítulo do capítulo, o a., nas pegadas de Vergote, discorre sobre as três posturas do psicólogo da religião diante do fato religioso: neutralidade benevolente e crítica, ou seja, neutralidade, benevolência e juízo psicológico de verdade. Com relação a esse último, deve-se avalizar o comportamento humano compreendendo as vivências religiosas e discernir seu nível de maturidade e sanidade, a partir das causas que fazem que esse homem concreto seja religioso ou não e sobre as motivações que o movem e a coerência delas. O capítulo se encerra com uma pequena explanação do método da Psicologia da Religião utilizando a observação direta, de comportamentos religiosos e confissões e análises clínicas com o objetivo de descrever os fatos e formular hipóteses. : observação direta Segundo capítulo Aberta a porta da casa, o a. inicia a primeira parte do livro: A psicologia da religião no contexto da história da psicologia. Esta parte está subdividida em 5 capítulos. No primeiro, o a. aborda os precursores, no segundo, a Psicologia profunda, no terceiro, a Psicologia experimental, e no último capítulo, Ávila aborda Psicologia e Psicanálise humanista. O início da psicologia no século XIX surge Wilhelm Wundt (1832-1920) o qual é considerado também o primeiro psicólogo a desenvolver a psicologia como uma ciência autônoma. Wundt atuava no campo da psicologia experimental. Para Wundt, a psicologia era a ciência da experiência e os seus dados eram os fenômenos. Sua função consistia em decompor os elementos que formavam os processos conscientes e descobrir as leis que os ligavam entre si, porém, tais elementos não eram unidades estáticas, mas processos mentais dinâmicos. Wundt destacou a importância da lei da causalidade psíquica, que atua como um momento do paralelismo psicofísico e, outro aspecto também importante de sua psicologia, é a lei das relações psíquicas, segundo a qual todo conteúdo psíquico adquire significação a partir de suas relações. A religião tem sua origem em processos emocionais, principalmente o medo. Assim, grandes religiões são explicadas por Wundt seguindo um típico esquema evolutivo, em sua gênese, como representações fantásticas projetivas, ligadas a reações psicológicas diante do ambiente externo. A escola de psicopatologia francesa é a segunda no rol dos precursores. Nela se destaca P. Janet (1859- 1947), o qual analisa casos extraordinários e os compara com místicos como Teresa de Ávila, concluindo que nessa falsa consciência mística existia um caso de psicastenia. Também T. Ribot (1839-1916) e seu discípulo E. Murisier (1867-1903) seguiram essa mesma estrada: a experiência mística é, na verdade, uma patologia. Ainda que, em princípio, a hipótese patológica se aplicasse apenas a tipos extraordinários de religiosidade mística, alguns autores foram contra. Entre eles, destaca-se H. Delacroix (1873-1937) que asseverava que o místico possui uma aptidão peculiar que se fundamenta numa riqueza extraordinária da vida subconsciente. Assim, as sucessivas etapas da vida do místico representam uma nova e criativa forma de existência e não uma patologia. Em conjunto com Delacroix, também obtiveram aceitação no círculo católico os trabalhos de J. Maréchal, J. Pacheu e M. de Montmarand. No terceiro subtítulo do segundo capítulo da primeira parte, o a. envereda agora para o nascimento da psicologia da religião, sobretudo, destacando W. James (1842-1910). William James rejeitava o absoluto, tais como Deus, verdade ou idealismo, em favor da experiência pessoal e da descoberta do que funciona para o auto-aperfeiçoamento de uma pessoa. Um freqüente tema em suas obras é que a evolução pessoal é possível e que todos têm uma capacidade inerente de modificar ou mudar comportamentos e atitudes. Ele conclui que há um depósito de experiências latentes ou realizadas que subjaz ao impulso em direção ao crescimento. É esta a fundamentação das ideias práticas e sensíveis que James desenvolveu para serem usadas. A maiorexpressão deste núcleo subjacente é exemplificada, para James, nas experiências religiosas. Tais experiências não têm uma saída intelectual própria, mas pertencem a uma região mais profunda, mais vital e prática do que aquela ocupada pelo intelecto, por isso são também indestrutíveis a argumentos e críticas intelectuais. A experiência religiosa é antes de tudo uma experiência que começa pelo afeto e que, posteriormente, origina as crenças. Segundo ele, a religião não é a única coisa necessária. Mas é necessária junto com o resto. Interessante é a reflexão que o a. desenvolve sobre a personalidade e a maturidade religiosa. Nela se pergunta se toda experiência é necessariamente sã e madura ou não. Aponta dois tipos de fé: a combativa, com profunda vida interior e equilíbrio que se traduzem numa disponibilidade oblativa, que é sinal da santidade; a fé reconfortante, por outro lado, traz alívio diante das dificuldades, porém, esse mesmo conforto é, na verdade, uma fuga. O capítulo termina elencando outros autores discípulos de W. James. Entre eles, destacam-se G. S. Hall (1844- 1924) e J. H. Leuba (1868-1946). Para o primeiro a adolescência e o desenvolvimento da fé são processos evolutivos afins, que não sem razão acontecem na mesma fase da vida. Assim, a conversão é um fenômeno natural como a revolução sexual que se experimenta durante a adolescência. Já Leuba foi o primeiro psicólogo a sustentar energicamente que a experiência religiosa mística não justifica as crenças religiosas. Terceiro capítulo O terceiro capítulo aborda a psicologia profunda e religião, tendo como seus dois expoentes S. Freud (1856 a 1939) e C. G. Jung (1875 a 1961). A psicologia profunda tem como denominador comum defender a existência de uma dimensão inconsciente na personalidade, à qual se dá um papel primordial em sua dinâmica. Ela teve uma repercussão formidável no desenvolvimento da psicologia da religião ao longo de sua história. Além disso, nomenclatura psicologia da religião, no seu sentido mais amplo, para não se reduzir unicamente à psicanálise Freudiana. Com relação à psicologia profunda temos que ter dois critérios: de um lado, evitar os preconceitos para acolher suas contribuições e, do outro, ter uma postura crítica. Um dos grandes nomes dessa corrente é Freud que interpreta a experiência religiosa como um produto sobretudo negativo de conflitos ancestrais (algo equivalente a infância da humanidade, em comparação à do individuo). Um desses conflitos – o complexo de Édipo – radicaria na sublimação do originário pai assassinado para apagar as marcas do crime e espiá-lo, o ser humano criou leis de incesto e exogamia, sublimou a imagem do pai na figura do totem e na festa totêmica (repetição ritual e libertadora do assassinato do pai). A origem da religião não seria mais do que uma ilusão, similar ao sono, ao delírio, à neurose obsessiva, seria o reino do imaginário por excelência. Deus ocuparia o lugar de um imaginário “pai onipotente”. É o sentimento, portanto, deculpabilidade expressos nos rituais religiosos que nos mostram a origem da religião. Outra vertente é aquela expressa por Carl Gustav Jung (1875-1961), psicólogo suíço que se afastou em 1913 da linha freudiana. Sua perspectiva de estudo do fenômeno religioso é positiva. Um de seus pressupostos é o do “inconsciente coletivo”, mais arcaico do que o inconsciente individual; é uma espécie de memória ancestral, de sedimentação das vivências da primeira humanidade (a mesma preocupação pelo originário manifestada por Freud!) e que se formaliza em profundas marcas psíquicas: os arquétipos (animus/anima; o puer aeternus ou jovem/donzela, com sua contraparte, o herói; o sábio; o Si Mesmo e seu correlato, o divino). Os arquétipos do inconsciente seriam a fonte, tanto dos sonhos como dos mitos da religião (Jung sempre insistiu na associação entre uns e outros). De maneira que essa associação tem para ele um papel positivo: os mitos, como os sonhos, têm um papel estabilizador na constituição da personalidade (o Selbst ou “Si Mesmo”, diferente do “Eu”). Quarto Capítulo Nesse capítulo o a. aborda uma série de autores que trabalham a psicologia experimental. O primeiro que realiza um estudo experimental de Psicologia da Religião foi Karl Girgensohn (1875-1925) que ficou conhecido como a introspecção experimental, cujo escopo é explorar os elementos e as estruturas fundamentais da experiência religiosa. Essa corrente da psicologia quer uma objetividade (J. B. Watson, 1912) e assim considerava que o comportamento (eis o sentido de behaviorismo) é o único elemento quantificável e previsível do ser humano e, portanto, o único objeto da psicologia. Em breve, essa nova metodologia possibilitava, pela observação comportamental, prever e controlar os comportamentos. Os behavioristas não deram muita atenção à vivência religiosa. W. Sargant tentou compreender a conversão a partir do condicionamento clássico de Pavlov e B. F. Skinner (1904-1990), por exemplo, abordou o fato religioso em suas obras, mas somente tangencialmente tratando-o no contexto das instituições sociais que exercem um controle sobre os comportamentos sem, contudo, estudar os distintos comportamentos religiosos a partir do condicionamento operante que, aliás, é o conceito-chave de seu pensamento. No segundo subtítulo do capítulo Ávila afirma que o behaviorismo não deu grandes contribuições para compreensão do fato religioso, mas introduziu um método mais preciso no estudo da Psicologia da Religião, as estatísticas, cálculos (R. Stark e C. Y. Glock) e estudo experimentais. Os estudos experimentais contribuíram para a Psicologia da Religião com informação objetiva sobre o fenômeno religioso. No último subtítulo do capítulo Ávila elenca as contribuições da psicologia cognitiva representada, sobretudo, por J. Piaget (1896-1980) que, em alguns textos sobre atitudes religiosas, distinguia dois tipos, correspondentes a duas concepções de Deus aparentemente opostas: transcendência e imanência. Na primeira Deus é a causa de tudo que existe, na segunda Deus se torna um valor. Na expressão religiosa o indivíduo caminha para uma ou outra concepção segunda a relação que teve com os pais. Sua contribuição mais importante foi nos estudos sobre o desenvolvimento da inteligência que, segundo ele, o adolescente desenvolve os conceitos religiosos de acordo com os estágios da evolução da inteligência. Quinto Capítulo Nesse capítulo a temática é saúde humana, a melhoria da qualidade de vida, a maturidade humana; temática essa desenvolvida pela psicologia e psicanálise humanistas. As características gerais da psicologia humanista ou da saúde é justamente concentrar a atenção na pessoa sobre a qual se experimenta, destacando qualidades, criatividade, auto-realização e tendo em vista que os problemas estudados favoreçam ao desenvolvimento humano e social, interessando-se, sobretudo pela dignidade e valor do homem. Essa corrente é, na verdade, uma antropologia com óculos muito otimistas do homem. Entre os seus representantes o autor destaca: - A. H. Maslow (1908-1970) refletiu muito sobre as motivações humanas, salientando que há uma hierarquia de necessidade que passa do inferior ao superior (metas-motivações): fisiológicas, de segurança, de pertença, de estima, de auto-estima. Essa escala de motivações permite além da sobrevivência também o crescimento psicológico. Àquelas pessoas que chegaram a experiências grandes ele as chama de religiosas. Por outro lado, nem todo homem que se denomina religioso participa dessas experiências culminantes, mas vivem e se abastecem a partir de experiências de outros. - G. W. Allport (1897-1967). Segundo esse a. há o comportamento adaptativo e o expressivo. O seu interesse pela religião nasce para tentar responder o que diferencia os homens uns dos outros? O que os motiva? Após a pesquisa de que a religião tem papel subjetivo na estrutura da personalidade, aceita o dadoreligioso, mas distingue entre religião vivida de forma madura e religião por conivência. Assim, a experiência religiosa é um fenômeno variável de um indivíduo para o outro. Sua conclusão é de que a experiência madura da religião é um fator impulsor da personalidade. - E. Fromm (1900-1980). Foi o autor que se preocupou com a questão antropológica; é famoso o trocadilho dele: o homem ganhou liberdade de, mas precisa de liberdade para. Seria a necessidade de amar, de criatividade, de segurança, de identidade e de sentido. Fromm utiliza o termo religião num sentido amplo e ambíguo, antropologizando-a ou humanizando-a. Em breve, o homem não pode viver sem uma fé, pois essa o ajuda enfrentar as contradições de sua natureza e dar-lhe sentido. Mas existe uma fé racional e outra irracional que permanece sempre infantil. A religião humanista ajuda o ser humano a assumir sua liberdade, como são claros nos expoentes como Jesus, os profetas e Buda. - E. Erikson (1902-1994). O autor tornou-se famoso por dividir em oito estágios do desenvolvimento psicológico análogo ao desenvolvimento dos órgãos: assim como cada órgão tem um momento para seu desenvolvimento, assim também ocorre com as potencialidades psicológicas do ser humano. Assim como a atrofia de um órgão pode ameaçar o desenvolvimento, também pode haver perturbações na esferapsicológica. Para cada estágio tem uma tensão correspondente: confiança-desconfiança, autonomia-vergonha/dúvida, iniciativa-culpa, industriosidade-inferioridade, identidade-confusão, intimidade-isolamento, generatividade-estagnição, integridade-desespero. Nosso autor tem uma posição crítica diante do fato religioso, destacando que a fé religiosa dos indivíduos é vulnerável a distorções psicológicas e que as religiões aproveitam dos momentos frágeis das pessoas. Nesse sentido, ela não estuda o fato religioso como tal, mas a personalidade de grandes figuras religiosas, tais como: Lutero, Kierkegaard ou Gandhi que para ele se tornam melancólicos. Nesse sentido, sua influência foi grande em muitos autores atuais, no clero e, de modo particular, para Psicologia da Religião no estudo de personalidades religiosas famosas e de movimentos religiosos. Segunda parte Nos dois capítulos da segunda parte o autor aborda especificamente a religiosidade como tal e a experiência religiosa. Sexto Capítulo O a. aplica o termo religiosidade a toda crença que tenha um caráter religioso, independente de sua origem. Qual o seu papel na vida dos homens, porque diferentes religiosidades dos indivíduos é possível medi-la, enfim. Para alguns é possível uma observação direta, pela introspecção (W. James), outros já afirmaram que a religiosidade é proporcional aos temperamentos e pela diferença dos mesmos se explicariam as diferenças religiosas. Já a escola descritiva de psicologia religiosa de Dorpat vê na experiência religiosa um pensamento intuitivo, ou seja, a experiência tem um caráter afetivo, no sentido do verbo conhecer do grego bíblico. Em um segundo ponto o a. mostra uma tentativa de aplicar escalas que pudessem medir os aspectos da religiosidade, ou seja, o problema das mediações feitos por meio de estatísticas, enquetes. Contudo, mesmo sendo sofisticadas, elas medem apenas os aspectos concretos, deixando o foco da questão em aberto: pode-se medir a religiosidade? A ideia era buscar uma mediação universal, onde a religiosidade fosse unifatorial e multifatorial simultaneamente. Contudo, a discussão permanece aberta, justamente porque a religiosidade se relaciona a outras variáveis como o sexo, classe social, traços personalísticos, enfim. No sexto subtítulo deste longo capítulo é dedicado aos efeitos da religiosidade na pessoa. O primeiro item é uma pesquisa realizada com 160 mil pessoas em 14 países europeus teve como resultado que mais de oitenta e cinco por cento dos entrevistados que freqüentavam uma igreja uma vez por semana se sentiam mais satisfeitos. Também as pessoas que tinham alguma enfermidade, mas que tinham vida religiosa constante se sentiam mais paz de espírito e apoio do grupo. Também as pessoas que têm uma vida religiosa tendem a ter uma vida mental mais rica. Assim, a religiosidade tem impacto no bem-estar, na saúde e na saúde mental. No ponto do capítulo é salientado duas formas de religiosidade. A religião funcional, onde o fiel busca uma motivação, um interesse. A partir dessa prática religiosa se pode também perceber as características dessa experiência, a percepção da realidade, as atitudes fundamentais e o processo estruturador da personalidade. A segunda forma é a religião como experiência de encontro com o Totalmente Outro, com o Santo (R. Otto), com o fascinante e tremedum. Aqui também são elencadas as conseqüências fundamentais dessa forma de religiosidade. A religiosidade como encontro abriu a porta para o próximo capítulo que é a experiência religiosa como tal. Sétimo Capítulo Nesse grande capítulo Ávila assinala cinco pontos, junto ao termo experiência religiosa, utilizados na literatura psicológica: 1. As experiências procedentes de um conhecimento intuitivo, estável e habitualmente acessível; 2. As vivências, freqüentemente afetivas, que surpreendem o indivíduo, o interpelam e o transformam momentânea ou perenemente; 3. O conhecimento fruto de um contato pessoal e prolongado; 4. As iluminações místicas culminantes de um processo; 5. As visões e revelações privadas. O a. coloca ainda a dificuldade que foi para a psicologia compreender a religiosidade das pessoas, sendo de difícil precisão e observação, indicar onde termina propriamente a experiência religiosa, indicar quando ela é a vivência que motiva e sustenta os comportamentos e as atitudes religiosas, e quando não há mais atos vazios de experiência. Nesse sentido que a experiência religiosa é uma realidade complexa e multiforme. Além do mais, existe ainda, segundo o a. uma diferença entre religiões proféticas que destacam mais as questões éticas, sociais, onde divindade é vivida como fonte de força que permite enfrentar a ação construtora da comunidade e do mundo; por outro lado, as religiões místicas que se caracterizam por um desejo de comunhão com o divino, que os psicanalistas interpretam a partir do sentimento oceânico como uma volta ao seio materno ou uma volta ao interior. Uma noção materna e afetiva de Deus. Feito isso o a. elenca um grupo de estudos que querem mostrar e encontrar uma base neurológica da religiosidade normal. O mérito dessa teoria, totalmente especulativa, é representar um esforço criativo que tenta relacionar a experiência religiosa à neurofisiologia e à estrutura anatômica do cérebro humano; por outro lado carece de uma sólida base empírica e reduz as experiências religiosas a estruturas e funcionamentos neuroanatômicos. Em seguida é apresentado o tema das experiências místicas. Para tanto é elucidado que o termo mística tem o caráter de assinalar o ápice da experiência religiosa, mesmo sabendo que não é fácil separá-lo da experiência não-religiosa. A palavra mística é uma referência a coisas gerais e imprecisas, mas mesmo assim os estudiosos dão algumas características da experiência mística: - vivência de comunhão, de encontro; - inefabilidade, momentos de emoção, como surpresa, espanto, enfim; - valor, são vivenciadas como graça; - autoridade; - passividade; - universalidade. Além disso, existem dois tipos de experiências místicas: a extrovertida que é uma experiência de unidade na diversidade e a introvertida que é uma experiência de unidade desprovida de todo o conteúdo. O a. também, bem detalhadamente mostra algumas pesquisas por meio de entrevistas pessoais com perguntas abertas que, segundo ele, tem um como objetivo falsificar os dados. Mais importantes que elas são as escalas específicas de mediação criadas por R. W. Hood (mediação de Episódios de Experiência Religiosa - REEM) e a Escala de Misticismo (M). Para muitosautores existem condições favoráveis a uma vivência mística: (1) existência de uma experiência de aceitação e de felicidade já desde tenra idade e (2) capacidade intelectual suficiente e (3) um exercício de vontade, para que se estruture uma forma de ser que responda adequadamente à experiência inicial obtida. Além das condições, existem etapas de seu desenvolvimento como: etapa ativa ou de purificação; nessa etapa é citado como exemplo Inácio de Loyola pela série de exercícios para retirar o que impede a aproximação do Mistério ou para deixar que ele se aproxime. A segunda etapa é a passiva ou de iluminação. Com relação aos fenômenos extraordinários o a. destaca atenção ao êxtase, às visões e à glossolalia e assim encerra esse sétimo capítulo. Toda a terceira parte do livro é dedicada à psicologia evolutiva religiosa. O a. segue bem de perto o livro de J. Fowler, Estágios de fé. A psicologia do desenvolvimento humano e a busca de sentido. O a. concentra-se nas fases da infância, da adolescência e na idade adulta. Como todos os aspectos da personalidade, a experiência religiosa articula-se e se desenvolve ao longo da vida de cada homem. Assim, cada fase da personalidade corresponderia também à fase da vida religiosa comcaracterísticas particulares. Segamos, portanto, as pegados do a. Oitavo Capítulo O a. sustentando por C. G. Jung ou D. Elkind, diz que alguns aspectos da religiosidade poderiam ser hereditários. R. J. Bouxhard e seus colegas fizeram uma pesquisa e pelo resultado da mesma, tudo indicou que a religião é inata, podendo haver predisposição genética a uma busca religiosa. Em seguida o a. faz uma viagem pelo mundo da experiência religiosa da infância. Dos 0 aos 2 anos não há sinal de manifestação religiosa, mas é uma fase crucial para a futura religiosidade da criança, porque nela se constituem as estruturas básicas de sua personalidade. Já dos 2 aos 6 anos há aquisição da linguagem que é a fronteira que marca o limite entre uma etapa e outra. A criança entra no mundo dos símbolos e aqui nasce também os comportamentos religiosos como beijar uma imagem, repetir orações simples antes das refeições, antes de dormir, enfim. A ideia ainda é confusa: Deus é um velhinho barbudo, os conceitos de Deus são antropomórficos, recheadas de contos de fadas. Até mesmo nas crianças de 7-8 anos e mesmo nas mais velhas influem em sua concepção de Deus os dinamismos psicológicos assinalados na etapa anterior (antropomorfismo, animismo, artificialismo, magismo...). Nesse estágio Oser reconhece cinco formas qualitativamente diferentes de conceitos religioso, que formam uma sucessão de estágios nos quais cada um é definido por estruturas operacionais que diferem dos outros estágios não só em aspecto quantitativos, mas qualitativos. (1) Deus ex machina: como todo-poderoso; (2) dar para receber: o mérito e demérito; (3) deísmo; (4) autonomia mediada e o plano de salvação; (5) a religiosidade universal e incondicional. O a. acompanha freqüentemente suas reflexões teóricas com exemplos de conversas e diálogos, analisando a maneira como a fase desse processo está sendo vivida. Nono Capítulo O capítulo aborta a religiosidade na adolescência, estágio da busca da identidade, onde o indivíduo vivencia-se como um eu integrado e apaziguado, sobretudo, a partir dos 12 anos. O a. analisa a crença e a prática dos adolescentes espanhóis. Na primeira, há uma influência do contexto social que incide diretamente na forma de resolver sua identidade religiosa. Também há uma importância das variáveis pessoais. Quanto à segunda, há uma diminuição da prática na adolescência. O a. sempre oferece exemplos de pesquisas e entrevistas. Em seguida o a. analisa religiosidade como tal nos adolescentes em quatro momentos: nos dois primeiros (o pensamento religioso e o conceito de Deus), mais ligados à área cognitiva, descreve a evolução que se dá no adolescente no momento de articular seu pensamento religioso, agora já de uma forma nova e adulta, e seus conceitos religiosos (o antropomorfismo é suavizado; o crescimento intelectual permite uma evolução do conceito de Deus). Já no terceiro momento (auto-definição e atitudes religiosas: crença e dúvida), mais ligado à articulação da personalidade, é abordado o processo de auto-identificação religiosa que, num mundo plural como o atual, desempenha um papel importante no momento de construir arreligiosidade adulta, porque será religioso ou não em meio ao mundo e em relação com ele. É um momento marcado por dúvidas, crises e possibilidades, onde a tradição deve dar lugar à convicção. E no quarto momento (crise da identidade e personalização religiosa) são apresentados, por meio de análises e pesquisas, as conseqüências que se seguem do ganho ou não da identidade religiosa. Décimo Capítulo Psicologicamente, a idade adulta é vista como o tempo da estabilidade, em que cessam as modificações próprias da puberdade. Afirma-se a própria identidade, em que aas diversidades se firmam por causa das diferenças de classe social, de escolaridade, de condição cultural, de personalidade, de gênero, sem falar em fatores aleatórios diversificantes. Contudo, alguns estudiosos citados pelo a. afirmam que numa pesquisa com adultos (39-45 anos) mostrou um período de transição especialmente crítico como conseqüência da proximidade da meia-idade. Nessa lógica, existem etapas na religiosidade adulta. Para M. P. Riccards (1987) há oito etapas: a reavaliação (19 a 30 anos), a determinação (a partir 30), a resignação (a partir dos 60). Já J. W. Fowler (1982) propõe os estágios de fé: (1) fé intuitivo-projetivo, (2) fé mítico-liberal, (3) fé sintético- convencional, (4) fé individual-reflexiva, (5) fé paradoxo-consolativo ou conjuntiva e, finalmente, (6) fé universal. O primeiro e o segundo estágios da infância antecedem propriamente à fé como decisão pessoal, mas preparam-na. Por isso, merecem um mínimo de atenção. O terceiro estágio da pertença comunitária correspondente à idade da puberdade em que o adolescente marca a diferença de seu eu em relação aos pais e aproxima-se de uma fé sintética-convencional, em geral, num contexto grupal. No quarto estágio, ascende-se ao nível individual-reflexivo em que a marca do eu é ainda mais decisiva, sem já a ligação grupal da fase anterior. Os estágios seguintes da reapropriação e do universal explicitam a situação de uma fé madura e serena. Ao final do capítulo o a. envereda pela crise de conversão na vida adulta, tentando dar explicações às mesmas, elencando algumas razões: (1) predisposições de personalidade, (2) a busca de solução para um conflito pessoal (W. James, Freud), (3) a identidade e a busca de sentido e, por fim, (4) por razões sociais. Há, segundo a lógica seguida, dois paradigmas de pesquisa sobre a conversão: o clássico onde as conversões acontecem subidamente ou provindas de crises definidas e o paradigma atual que é o das conversões progressivas. Décimo Primeiro Capítulo O penúltimo capítulo o a. aborda o desenvolvimento e a coerência moral. Em um primeiro momento se reflete sobre a origem da moral: é inata ou se aprende? Alguns autores buscam a fundamentação biológica para explicar alguns aspectos concretos do comportamento moral. W. D. Hamilton apela para o princípio de aptidão inclusiva, ou, na linguagem de R. Dawkins, o gene egoísta. D. T. Campbell fala de um altruísmo. Também com base biológica se explicaria que a origem da moral estaria no principio da empatia que é a preocupação com os outros e seus sentimentos, é a motivação principal para a ajuda e a preocupação mútua. Alguns psicólogos acreditam que a capacidade para empatia é inata. Em um segundo momento é debatido a questão do juízo moral, situando o debate a partir de J. Piaget. Esse pensador assevera que o desenvolvimento do juízo moral na criança tem duas etapas: heterônoma onde a criança recebe o juízo moral do exterior (pais, dos adultos); a segundaé autônoma, quando a criança, a partir dos 10 anos começa ter seus próprios raciocínios morais, discernindo o que é bom e o que é mau. Será L. Kohlberg que estudará o processo de passagem do heterônomo para o autônomo. Para este autor, o desenvolvimento do juízo moral passa por três níveis: pré-convencional, convencional e pós-convencional, cada um deles, por sua vez, dotado de dois estágios. Com essa base é possível descrever o desenvolvimento moral. Até os 2 anos de idade não existem comportamentos morais, é uma etapa de preparação remota; segundo Piaget é a moral heterônoma. Junto com essa característica existe uma segunda chamada realismo moral. Dos 7-11 anos a criança começa a perceber na brincadeira um meio de competir e de ganhar dos colegas. Aqui está sendo preparada a passagem da moral heterônoma para autônoma. O importante aqui é a intencionalidade e não o dano em si mesmo. O castigo deixa de ser expiatório para ser rebributivo. Décimo Segundo Capítulo Aqui o a. navega pelo mundo obscuro da culpabilidade tentando distinguir culpa, culpabilidade e angústia. A primeira se refere a uma realidade objetiva, mensurável judicial, moral ou socialmente; já culpabilidade tem um caráter eminentemente subjetivo. Essa última pode provocar sentimentos de angústia. A angústia diferencia-se do medo pela ausência de um objeto consciência que a cause. Essa é a sua principal característica. Sua causa é real, mas desconhecida por quem dela padece. Feito isso, o a. elencará os vários tipos de culpabilidade: doentia, madura e imatura. A cada uma delas tem também reações diferentes, mostradas pelo a. por meio de quadros. O a. termina o capítulo e também o livro refletindo sobre as manifestações doentias da culpabilidade. Conclusão Bem assentado na grande narrativa ocidental da acumulação de conhecimentos, o a. condensa gigantesco universo de informação sobre o tema em questão. Fruto de longos anos de pesquisa. O esquema da obra é simples. Reflete a estrutura das introduções, carregando, porém, as tintas na parte dos princípios, processos e articulações. Questões menos importantes são também tratadas à guisa de complementação. Apesar de ser um livro bem estruturado que procede preferentemente de modo linear, contudo, tem algo de espiral. Temas importantes voltam várias vezes em ondas de maior profundidade. Destarte, marca mais forte a presença de elementos fundamentais. Por outro lado, pessoalmente, acho que a metodologia de apresentação não é muito atraente, deixando o leitor iniciante um pouco perdido. Mais que uma obra para ser lida de uma vez pode tornar-se, sem dúvida, um texto-base para consultas à medida que o leitor necessite recordar ou informar-se de determinado ponto nele tratado. Citar Este Trabalho (2011, 10). Resenha - Ávila, Antonio. Para conhecer a psicologia da religião. São Paulo: Loyola, 2007. TrabalhosFeitos.com. Retirado 10, 2011, de http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Resenha-%C3%81vila- Antonio-Para-Conhecer/76398.html
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