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Análise Abordagem de sistemas complexos para lesões esportivas: movendo-se da identificação do fator de risco fi cátion para reconhecimento de padrão de lesão - revisão narrativa e novo conceito NFN Bittencourt, 1 WH Meeuwisse, 2 LD Mendonça, 3 A Nettel-Aguirre, 4 JM Ocarino, 5 ST Fonseca 5 1 Departamento de Fisioterapia, Minas Tenis Clube e Universidade Uni-BH, Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil 2 Prevenção de lesões esportivas Centro de Pesquisa, Faculdade de Cinesiologia, Universidade de Calgary, Alberta, Canadá 3 Departamento de Fisioterapia, Universidade dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Minas Gerais, Diamantina, Brasil 4 Departamentos de Pediatria e Saúde Comunitária Ciências, Universidade de Calgary, Alberta, Canadá 5 Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação Física Departamento de Terapia, Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, Diamantina, brasil Correspondência para Dr. ST Fonseca, Programa de Pós-Graduação em Reabilitação Ciência, Fisioterapia Departamento, Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, Avenida Presidênte Antônio Carlos, 6627 - Pampulha, Belo Horizonte - MG 31270-901, Brasil; sfonseca@ufmg.br Aceito em 18 de junho de 2016 Publicado primeiro online 22 de julho de 2016 RESUMO A previsão de lesões é uma das questões mais desafiadoras nos esportes e um componente chave para a prevenção de lesões. As investigações da etiologia das lesões esportivas assumiram uma visão reducionista em que um fenômeno foi simplificado. fi editado em unidades e analisado como a soma de suas partes básicas e a causalidade foi vista de forma linear e unidirecional. Essa abordagem reducionista depende de análises de correlação e regressão e, apesar do grande esforço para prever lesões esportivas, tem sido limitada em sua capacidade de identificar fatores preditivos com sucesso. A maioria das condições de saúde humana são complexas. Nesse sentido, a natureza multifatorial complexa das lesões esportivas surge não da interação linear entre fatores isolados e preditivos, mas da complexa interação entre uma teia de determinantes. Assim, o objetivo deste artigo conceitual foi propor um modelo de sistema complexo para lesões esportivas e demonstrar como a implementação do pensamento de sistemas complexos pode nos permitir abordar melhor a natureza complexa da etiologia das lesões esportivas. fi les) que simultaneamente caracterizam e restringem o fenômeno e o padrão emergente que surge da complexa teia de determinantes. Na prática esportiva, esse padrão emergente pode estar relacionado à ocorrência ou adaptação de lesões. Esta nova visão de intervenção preventiva depende da identidade fi cação de regularidades ou risco pro fi le, passando de fatores de risco para o reconhecimento de padrões de risco. complexo. Nesse sentido, precisamos de uma abordagem mais ampla para entender melhor as relações complexas entre fatores / preditores de risco e lesões. 2 - 4 6 - 8 Para resolver esse problema, Meeuwisse et al 9 desenvolveram um modelo dinâmico e recursivo para risco e causas de lesões esportivas, considerando que a lesão tem comportamento não linear. Esse modelo trouxe muitos avanços para o entendimento da etiologia das lesões esportivas, pois parte do pressuposto de que podem ocorrer alterações recorrentes na suscetibilidade a lesões ao longo da prática esportiva, e a exposição aos fatores de risco primários pode produzir adaptações e alterar continuamente o risco. Apesar do reconhecimento das características não lineares e recursivas das lesões esportivas, o modelo descrito por Meeuwisse et al 9 não era suf fi suficiente para lidar com as complexas interações entre vários fatores. A natureza multifatorial e complexa das lesões esportivas surge não da combinação linear de fatores isolados e preditivos, mas da interação entre o que Philippe e Mansi 8 chamado ' a teia de determinantes '. Esses determinantes podem estar ligados entre si de forma não linear, no sentido de que pequenas mudanças em alguns determinantes podem levar a consequências grandes e, às vezes, inesperadas. 6 10 Propomos que, para descobrir completamente essa natureza complexa da etiologia das lesões esportivas, uma abordagem de sistemas complexos é necessária. Essa abordagem se baseia na identificação das interações e no esclarecimento de como essas interações contribuem para o surgimento de lesões esportivas. 10 11 Além disso, permite buscar regularidades (ver explicação nas características de uma seção de sistema complexo), por meio de técnicas de reconhecimento de padrões, 12 que permitem a identificação fi cação do risco pro fi le para um atleta ou grupo. Assim, o objetivo é apresentar um modelo de sistema complexo para lesões esportivas e demonstrar como a implementação do pensamento de sistema complexo pode nos permitir abordar melhor a natureza dinâmica da etiologia das lesões esportivas. Este artigo conceitual foi desenvolvido com base em fl seções na diferença fi cultos relacionados à previsão de lesões esportivas e como diferentes áreas estão tentando resolver problemas semelhantes. Estes re fl Seções e subsequente revisão exaustiva da literatura levaram a várias discussões entre os autores que resultaram neste trabalho. Para facilitar a compreensão de nossa proposição, este artigo está organizado em seis seções: introdução; uma mudança de paradigma: do reducionismo à complexidade descrevendo os paradigmas reducionista e da complexidade; características de INTRODUÇÃO A previsão de lesões é uma das questões mais desafiadoras nos esportes e um componente chave para a prevenção de lesões, uma vez que a identificação bem-sucedida fi cação de preditores de lesão constitui a base para medidas preventivas eficazes. 1 Tradicionalmente, cienti fi c as investigações assumiram uma visão reducionista na tentativa de compreender as lesões esportivas. De acordo com essa abordagem, o fenômeno (lesão) foi reduzido em unidades e explicado por dedução racional. 2 3 A literatura sobre lesões esportivas tem revelado importantes preditores de lesões por meio de ferramentas estatísticas típicas, como a regressão logística. No entanto, para algumas lesões (por exemplo, distensão dos isquiotibiais e tendinopatia patelar (TP)), essas técnicas ainda não produziram identidades consistentes fi cação de fatores de risco. 4 5 Infelizmente, essas inconsistências mostram que a maioria das condições de saúde humana são Citar: Bittencourt NFN, Meeuwisse WH, Mendonça LD, et al. Br J Sports Med 2016; 50: 1309 - 1314. Bittencourt NFN, et al. Br J Sports Med 2016; 50: 1309 - 1314. doi: 10.1136 / bjsports-2015-095850 1 de 7 B r J S p o r t s M e d : p u b l i c a d o p e l a p r i m e i r a v e z c o m o 1 0 . 1 1 3 6 / b j s p o r t s - 2 0 1 5 - 0 9 5 8 5 0 e m 2 1 d e j u l h o d e 2 0 1 6 . T r a n s f e r i d o d e h t t p : / / b j s m . b m j . c o m / e m 1 8 d e m a r ç o d e 2 0 2 0 p o r c o n v i d a d o . P r o t e g i d o p o r d i r e i t o s a u t o r a i s . http://crossmark.crossref.org/dialog/?doi=10.1136/bjsports-2015-095850&domain=pdf&date_stamp=2016-07-22 http://bjsm.bmj.com http://www.basem.co.uk/ http://bjsm.bmj.com/ Análise um sistema complexo; um modelo complexo para lesão esportiva que assume que a lesão esportiva é um fenômeno emergente que surge de interações dentro de uma teia de determinantes; implicações metodológicas do uso de uma abordagem de sistemas complexos e aplicação de um modelo complexo para lesões esportivas. UMA MUDANÇA DE PARADIGMA: DA REDUCIONISMO À COMPLEXIDADE O simpli fi cação de problemas complexos em unidades básicas é o método clássico de análise da ciência no paradigma do reducionismo. 2 4 8 Essa abordagem tem se concentrado na identificação de fatores isolados quesão freqüentemente assumidos como causas de lesões ou doenças. 8 12 Em muitos aspectos, esta tem sido uma abordagem bem-sucedida, como estabelecer uma forte conexão causal entre tabagismo e câncer de pulmão. 13 O reducionismo, portanto, ajudou a identificar algumas relações lineares aparentemente existentes. 8 A linearidade assume que o resultado está de alguma forma relacionado à soma do sistema ' s unidades e que pode ser previsto (embora sujeito a erros aleatórios) procurando essas relações diretas. 7 8 No entanto, essa associação linear caracteriza uma circunstância singular de relacionamento: quanto mais próxima a exposição estiver do ponto final, maior será seu impacto. 8 Um exemplo típico de lesão esportiva é o identi fi cátion valgo dinâmico do joelho (DKV) como fator de risco para ruptura do LCA. 14 Foi identi fi editado que atletas do sexo feminino que demonstraram joelho valgo durante a aterrissagem, 50 ms após o contato inicial, são fi cinco vezes mais propensos a lesionar o LCA do que atletas do sexo masculino (risco relativo (RR) = 5,3, p = 0,002). 15 Uma vez que as escalas que usamos medem os fatores desencadeantes que são proximais ao resultado final, tais relações lineares podem ser reveladas. 8 A preocupação aqui é que essa relação representa apenas um segmento do quadro total. 8 O quadro é diferente quando o evento inicial (exposição) é distante ou quando existem vários fatores em vários níveis (biomecânico, comportamental, fisiológico, etc) que podem interferir fl influenciar uns aos outros. Por exemplo, restrição no dorso do tornozelo fl amplitude de movimento (ADM) e carga de treinamento são considerados fatores de risco (embora inconsistentes) para o TP. 5 No entanto, em alguns casos, o tornozelo dorsal restrito fl A ROM de exão só será relevante na presença de alta carga de treinamento. Este último fator de risco irá em fl uencie o primeiro porque a alta frequência de salto vertical aumenta a energia mecânica total que atinge os tecidos, que deveria ser dissipada pelo quadril, joelho e tornozelo. Na presença de dorso do tornozelo restrito fl exion ROM, esta energia pode não ser dissipada adequadamente no tornozelo e pode sobrecarregar o tendão patelar. 16 Além disso, a quantidade de carga de treinamento pode ser modulada pelas demandas excessivas de patrocinadores externos ou treinadores ' filosofia de treinamento. Essa cadeia de possíveis eventos relacionados estabelece uma complexa teia de determinantes de lesões, que requer uma abordagem complexa para ser melhor compreendida. 8 Historicamente, o pensamento complexo estava em fl Foi influenciada por desenvolvimentos em diversas áreas, como teoria da informação, cibernética e teoria de sistemas, e, por sua vez, foi adotada por diversas disciplinas. 6 10 17 - 20 A biologia e a medicina reconhecem que os organismos vivos são entendidos como sistemas complexos caracterizados por múltiplas interações entre unidades, auto-organização, não linearidade e propriedades emergentes. 6 21 Mais recentemente, uma abordagem de sistemas complexos tem sido usada em epidemiologia para melhorar o conhecimento sobre as causas de vários níveis de saúde e doenças. 12 Previsão de problemas complexos, como fi crises financeiras, 20 doenças, 12 21 atleta de alto rendimento 22 e, potencialmente, lesão esportiva deve envolver a identidade fi cação da complexa teia de determinantes. No esporte, o foco deve ser a identificação das relações estáveis (às vezes complexas) entre os determinantes das lesões que apoiam o surgimento das lesões e não na contribuição de fatores isolados. 11 Precisamos estar cientes de que quando nós reduzir um problema complexo em suas unidades, os relacionamentos são negligenciados e a previsão pode não ser possível. 11 23 A lesão esportiva será melhor compreendida se reconhecermos os padrões frequentes de interação entre os fatores de risco multinível, em vez de nos concentrarmos na identificação do fator de risco no nível das unidades. 11 De acordo, Mendiguchia et al, 4 Quatman et al 2 e Hulme e Finch 11 propuseram uma mudança de paradigma na pesquisa de lesões esportivas. Esses autores enfatizam que a literatura se limita a identificar de forma consistente fatores preditivos, pois os atuais métodos de pesquisa baseados em abordagens unidirecionais e analíticas negligenciam as condições multifatoriais e complexas para o surgimento de lesões esportivas. 11 A falta de abordagens metodológicas adequadas limita nossa capacidade de identificar estratégias preventivas eficazes, pois frequentemente deixamos de reconhecer adequadamente a teia de determinantes de lesões. Consequentemente, algumas taxas de lesões, como distensão dos isquiotibiais, não melhoraram nas últimas três décadas. 24 O paradigma da complexidade contribui para examinar a lesão esportiva em termos de relacionamentos e não de fatores. No entanto, o paradigma da complexidade não deve substituir completamente o reducionismo. 11 12 É possível argumentar que o paradigma da complexidade é um avanço do reducionismo. Embora as abordagens lineares podem facilitar a identificação fi cação de fatores desencadeantes próximos ao mecanismo de lesão esportiva, eles deixam de reconhecer a não linearidade inerente aos processos biológicos relacionados às lesões esportivas. Esta inter-relação explica porque a busca por uma causa - relações de efeito sempre serão problemáticas. Dada a complexidade do processo de lesões esportivas, o futuro da pesquisa em etiologia deve avançar em direção à visão integrada da abordagem de sistemas complexos. CARACTERÍSTICAS DE UM SISTEMA COMPLEXO A compreensão sobre as interações é a pedra angular da abordagem de sistemas complexos. von Bertalan fl y 25 tem de fi ned um sistema complexo como um todo com unidades (partes) que interagem entre si. No entanto, de acordo com Rosen, 26 essas interações são complexas no sentido de que as unidades participantes são modi fi pelas interações ocorridas ou pelo fato de novas e imprevisíveis unidades surgirem durante o processo. Quando as unidades A e B interagem, o comportamento de A em interação com B é diferente do comportamento de A sozinho. 25 26 Em relação às lesões esportivas, o atleta deve ser analisado como um sistema complexo e o foco da pesquisa seria em como as relações entre as unidades (isto é, biomecânicas, comportamentais, fisiológicas e psicológicas) dão origem ao comportamento coletivo do atleta e como o atleta interage e forma relações estáveis (regularidades) com seu ambiente. Os sistemas complexos são sistemas dinâmicos e abertos com não linearidade inerente devido à existência de loops recursivos e interações complexas entre as unidades, que se organizam espontaneamente para gerar propriedades emergentes que não podem ser deduzidas apenas de suas propriedades originais (auto-organização). 3 10 Tais sistemas são colocados com algum nível de incerteza, pois os vários níveis e escalas (tamanho e tempo) das unidades de interação são frequentemente desconhecidos ou não diretamente observáveis. 17 Essas características são explicadas com mais detalhes a seguir. Sistema aberto Na física, todos os organismos vivos são sistemas abertos, pois trocam matéria e energia com o meio ambiente, sem perder sua identidade. 7 27 Em contraste, um sistema é fechado se o fl A influência do ambiente sobre ele pode ser ignorada, pois nenhuma matéria ou energia entra ou sai do sistema. 27 Para melhor distinguir sistemas fechados e abertos, o conceito de equi fi nalidade deve ser introduzida. 27 Equi fi nalidade significa que existem muitas maneiras diferentes pelas quais o mesmo resultado emergente pode ser gerado. 27 2 de 7 Bittencourt NFN, et al. Br J Sports Med 2016; 50: 1309 - 1314. doi: 10.1136 / bjsports-2015-095850 B r J S p o r t s M e d : p u b l i c a d o p e l a p r i m e i r a v e z c o m o 10 . 1 1 3 6 / b j s p o r t s - 2 0 1 5 - 0 9 5 8 5 0 e m 2 1 d e j u l h o d e 2 0 1 6 . T r a n s f e r i d o d e h t t p : / / b j s m . b m j . c o m / e m 1 8 d e m a r ç o d e 2 0 2 0 p o r c o n v i d a d o . P r o t e g i d o p o r d i r e i t o s a u t o r a i s . http://bjsm.bmj.com/ Análise Este tipo de comportamento é freqüentemente visto em lesões esportivas, nas quais diferentes relações entre os fatores de risco produzem a mesma lesão (resultado emergente; ver exemplo na aplicação de modelo complexo para a seção de lesões esportivas). Os sistemas abertos interagem totalmente com o ambiente e evoluem com o tempo, produzindo vários caminhos para resultados semelhantes. 7 Auto-organização (regularidades e padrões emergentes) As interações não lineares entre unidades individuais de um sistema resultam no surgimento de propriedades que não poderiam ser previstas com base apenas no comportamento das unidades individuais. 6 7 19 Essas propriedades emergentes são o resultado de um processo denominado auto-organização, que é regido por leis universais. 28 Essas leis universais, ou regras, permitem a auto-organização, criando a ocorrência espontânea de ordem dentro do sistema. 7 28 Devido à auto-organização, o comportamento geral do sistema não é proporcional ao comportamento individual das unidades, pois é através das unidades ' interações (cooperação) que o novo padrão é produzido. 7 28 Quando certos valores críticos do sistema ' s unidades são alcançadas, speci fi c con fi gurações das unidades interagentes produzirão regularidades observáveis. Em lesões esportivas, essas regularidades são padrões de ocorrência regular que estão relacionados ao fi resultado emergente final. As regularidades observadas podem ser classi fi ed como um risco de lesão ou profissional de proteção fi le. Em sistemas complexos, uma vez que as unidades existentes (fatores de risco) e suas interações são frequentemente desconhecidas e sua relação direta com o resultado é inexistente (ou fraca), 33 o único meio de inferir a dinâmica do sistema é por meio da observação de suas regularidades (risco pro fi le). Assim como acontece com o clima, a ocorrência de certas regularidades pode ajudar os cientistas a prever a ocorrência de certos eventos. Por exemplo, o fenômeno El Niño de ocorrência irregular é um tipo de regularidade (identi fi ed como um especi fi c variação na temperatura da superfície do mar) que está relacionada à ocorrência de fl inundações e secas em muitas regiões. Nos esportes, a natureza complexa dos mecanismos envolvidos com o surgimento de uma determinada lesão pode ser comprimida na relação mais simples entre a regularidade observável e o resultado emergente (por exemplo, lesão ou adaptação). Não linearidade inerente Os sistemas complexos exibem comportamentos não lineares que são relacionados de forma incerta à entrada fornecida. 3 7 Um sistema linear é caracterizado pelo princípio de superposição. Este princípio implica que o observado fi sistema final ' s comportamento global está diretamente relacionado à soma da contribuição de suas partes individuais. 7 8 No entanto, o princípio da superposição não pode ser aplicado a sistemas não lineares, porque as entradas não são proporcionais à saída. 7 19 Normalmente, grandes mudanças em uma variável não produzem necessariamente um grande efeito no resultado. Por outro lado, pequenas mudanças podem produzir um efeito grande e às vezes inesperado no resultado. 19 O processo relacionado a mudanças abruptas no sistema ' s con fi guração que é observada em sistemas não lineares é denominada ' emergência '. 6 As propriedades emergentes de um sistema complexo são o resultado de interações entre unidades e não são equivalentes às próprias unidades. 7 28 A previsão de lesões em esportes é menos direta e frequentemente dependente da dose - relações de resposta. Por exemplo: DKV (ângulo alto do joelho no plano frontal) foi associado à fraqueza do abdutor do quadril. 29 30 Em uma visão linear, pode-se supor que quanto mais fracos os abdutores do quadril, maior o DKV. No entanto, as evidências mostraram uma relação não linear entre a força muscular do quadril e DKV. 30 Quando os participantes têm alta rigidez de rotação interna do quadril (como no caso da retroversão do quadril), mesmo um alto nível de força do abdutor do quadril não é capaz de prevenir DKV. 30 Existem vários exemplos na literatura esportiva em que uma variável é importante, mas não determinante para a ocorrência de lesões. 31 - 33 Portanto, a natureza não linear da lesão esportiva nos impede de fi encontrar as relações esperadas entre preditores e resultados. Incerteza No surgimento de muitos fenômenos, a previsão não pode ser feita por meio da identidade fi cação da relação entre causa e efeito. 8 Nesses casos, a previsão depende apenas da identidade fi cação da probabilidade de ocorrência de fenômenos emergentes. Essa incerteza no comportamento de sistemas complexos é o resultado da auto-organização e da existência de relações não lineares dentro do sistema que levam a muitos caminhos para a adaptação ambiental. 3 35 Apesar da falta de previsibilidade total, algumas abordagens podem ser usadas para reduzir a incerteza, como a identificação de padrões recorrentes que consideram o contexto e a história. 3 7 35 Padrões relativamente simples foram mostrados em sistemas biológicos (como a variação batimento a batimento na frequência cardíaca), sistemas sociais (enfermeira ' s staf fi ng padrão em uma enfermaria de hospital) e fi mercados financeiros (taxas de câmbio) que estão relacionados com o resultado dos juros. 3 19 20 As características citadas, como sistema aberto, não linearidade, loop recursivo, auto-organização e incerteza, apoiam a compreensão da lesão esportiva como um fenômeno complexo. Para facilitar esse entendimento, um modelo complexo para lesões esportivas é necessário. Loop recursivo Outra característica essencial de um sistema complexo é a existência de um loop recursivo (feedback), no qual a saída é reprocessada e se torna uma nova entrada para o sistema. 7 9 Unidades de interação em um sistema criam padrões gerais e esses padrões gerais, por sua vez, fazem com que as unidades de interação mudem ou se adaptem. 20 26 Por exemplo, existe uma alça recursiva entre o hipotálamo, a hipófise e o ovário. O hipotálamo libera um hormônio liberador de gonadotrofinas, que estimula a glândula pituitária a produzir o hormônio folículo-estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH). O FSH e o LH, por sua vez, estimulam o ovário, resultando na produção de hormônios femininos, que controlam ainda mais a secreção pelo hipotálamo e pela hipófise. As interações entre o hipotálamo, a hipófise e os ovários são tão complexas que qualquer atividade disfuncional em qualquer nível da alça recursiva pode resultar em disfunção menstrual. 34 Esta ' global para local ' loop recursivo indica que o padrão global emerge de interações entre unidades locais, e este padrão global em fl influencia e restringe as unidades locais ' interações (por exemplo, o princípio escravizador descrito por Haken 28 ) Reconhecer a existência de loops recursivos deve nos lembrar que, após a ocorrência de uma lesão, o sistema pode mudar de forma imprevisível. 7 9 Nesse caso, os estados anteriores dos chamados preditores de lesão são alterados para não exibirem mais a mesma relação com o resultado ou até mesmo estarem presentes. UM MODELO COMPLEXO PARA LESÕES ESPORTIVAS Propomos um modelo alternativo para lesões esportivas que pode servir como uma nova perspectiva para a compreensão da etiologia das lesões. Este modelo é representado graficamente em fi figura 1 . Unidades em interação de um sistema complexo resultam em uma teia de determinantes, na qual as unidades interagem umas com as outras demaneiras imprevisíveis e não planejadas (freqüentemente desconhecidas). 7 8 Essas interações complexas surgem do sistema ' s própria história e regularidades observáveis de forma (risco ou proteção profissional fi le), que por sua vez surge como Bittencourt NFN, et al. Br J Sports Med 2016; 50: 1309 - 1314. doi: 10.1136 / bjsports-2015-095850 3 de 7 B r J S p o r t s M e d : p u b l i c a d o p e l a p r i m e i r a v e z c o m o 1 0 . 1 1 3 6 / b j s p o r t s - 2 0 1 5 - 0 9 5 8 5 0 e m 2 1 d e j u l h o d e 2 0 1 6 . T r a n s f e r i d o d e h t t p : / / b j s m . b m j . c o m / e m 1 8 d e m a r ç o d e 2 0 2 0 p o r c o n v i d a d o . P r o t e g i d o p o r d i r e i t o s a u t o r a i s . http://bjsm.bmj.com/ Análise indivíduos e da dinâmica social global para mostrar como diferentes estratégias de negociação do mercado de ações podem surgir de regras simples. 20 Da mesma forma, os meteorologistas têm usado técnicas de computação de sistemas complexos para melhorar a previsão do tempo. 36 Avanços na previsão de problemas complexos, como fi crises financeiras e desempenho esportivo, 20 22 37 foram possíveis usando classi fi métodos de cação na área de aprendizagem estatística, como redes neurais (por exemplo, mapas de recursos de auto-organização (SOFM)). 38 Pfeiffer e Hohmann 22 descobriram que o resultado do desenvolvimento de talentos esportivos foi melhor previsto por meio do método não linear de rede neural (SOFM) do que por métodos lineares, como a análise discriminante (DA). As porcentagens do total de casos previstos corretamente por SOFM foram 87,9% vs 69% por DA. Os autores destacaram que as redes neurais são capazes de reconhecer padrões globais de desenvolvimento de diferentes talentos e que os SOFM são ferramentas valiosas na análise de processos não lineares de talentos esportivos. 22 Na medicina, a matriz de métodos baseados em particionamento recursivo, como classi fi árvores catiônicas e de regressão (CART), florestas aleatórias e boosting, que permitem interações não lineares entre preditores, bem como representam e fazem uso dessas interações, foram bem-sucedidas na identificação do subconjunto de fatores de risco e preditivos para explicar diferentes resultados. 30 39 40 Bittencourt et al 30 usaram o CART para prever o ângulo alto do joelho no plano frontal (DKV) durante a aterrissagem de um salto vertical. 30 Eles demonstraram que a contribuição do alinhamento em varo do antepé da canela para a ocorrência de ângulo frontal alto do joelho depende da presença de fraqueza no abdutor do quadril. Alinhamento de varo e fraqueza do abdutor foram diminuídos fi ned em termos de pontos de corte, no sentido de que ter valores acima ou abaixo dos pontos de corte não aumentou ou diminuiu a probabilidade de ocorrência de DKV (não linearidade). 30 Recentemente, um modelo baseado em agente (ABMs) tem sido usado em epidemiologia para capturar relacionamentos complexos não identificados. fi ed por regressão logística. 41 Embora esses métodos não sejam comumente introduzidos em cursos de estatística, programas de computador estão se tornando facilmente disponíveis na Internet. Por exemplo, o software NetLogo (escrito em java) permite modelar ABMs, por meio de comandos simples, e possibilita a construção de teias de unidades inter-relacionadas. 42 Propomos que esses modelos estatísticos sejam adotados na ciência do esporte para investigar processos que envolvem interações entre diferentes preditores e identificar interações dinâmicas, com os fi finalidade final da previsão. Outra abordagem estatística que pode ser uma candidata apropriada para revelar possíveis preditores de interação de lesões esportivas é o aprendizado de máquina / estatística. A aprendizagem estatística foi expressa como a área de sobreposição de estatísticas, mineração de dados computacionais, arti fi inteligência social e engenharia. 38 Muito de seu uso tem sido na área de aprendizagem supervisionada, na qual um resultado observado é investigado olhando para os padrões de outros fatores, na tentativa de aprender qual padrão leva a essa especificação. fi c resultado. Muitas das ferramentas de aprendizagem estatística não geram necessariamente apenas um coeficiente fi suficiente ou taxa de mudança para um determinado fi preditor c. Por exemplo, no caso do CART, um preditor pode desempenhar um papel em várias divisões de diferentes ramos, dependendo dos outros preditores mais acima na árvore. 30 Até o recente desenvolvimento de Árvores de Regressão Aditiva Bayesiana, 43 o usual esperado e idolatrado ' valor p ' que acompanha os modelos de regressão, ou qualquer outra forma de con inferencial fi dência ou valor de probabilidade em estimativas pontuais, não faz parte da saída obtida de modelos de particionamento recursivo. Devido a essas duas questões principais, o paradigma deve ser desafiado a mover-se para a arena da previsão, em vez de examinar o impacto de um fator e confiar em outras medidas de ' sucesso ' como misclassi fi taxas de cátions. Estatístico figura 1 Modelo complexo para lesões esportivas. O grupo de variáveis na parte inferior constitui a teia de determinantes, que é composta de unidades contribuintes com pesos diferentes. Variáveis circuladas por linhas mais escuras têm mais interações do que variáveis circuladas por linhas mais claras e exercem uma maior fl influência no resultado. As linhas pontilhadas representam uma interação fraca e as linhas grossas representam uma interação forte entre as variáveis. As setas indicam a relação entre as regularidades observáveis, que captura o risco / proteção profissional fi le, e o resultado emergente ( fi figura adaptada da ref. 47 ) um padrão global (lesão ou adaptação). Este padrão emergente restringe as interações entre o sistema ' s unidades (o modelo ' s loops recursivos) e moldarão dinamicamente as interações existentes. Nesse caso, a teia de determinantes pode mudar de acordo com o resultado que produzem. A complexidade exige a aceitação de algum nível de incerteza (apesar de um possível determinismo) em relação à ocorrência dos fenômenos. 17 Como em uma previsão do tempo, a previsão está melhorando com o tempo, mas os erros são sempre uma possibilidade. Para enfrentar esse problema de incerteza, este artigo propõe que a pesquisa sobre lesões esportivas precisa se concentrar na análise das regularidades observáveis que surgem das interações simples e complexas existentes entre os elementos da teia de determinantes e não as próprias unidades (fatores de risco). Consequentemente, para identificar o funcionamento geral de um sistema em relação aos seus princípios e melhorar a previsão, é necessário aplicar métodos de sistema complexos. IMPLICAÇÕES METODOLÓGICAS DO USO DE UMA ABORDAGEM DE SISTEMAS COMPLEXOS As melhorias na previsão de lesões esportivas, bem como na prevenção, dependem da coerência entre os fenômenos de interesse (lesões esportivas como evento emergente), paradigma filosófico (complexidade) e métodos de análise. Nesse sentido, abordagens de sistemas não lineares e complexas devem ser exploradas. No nível metodológico, a complexidade assume que a previsão depende da probabilidade e não da causalidade direta (mesmo em sistemas determinísticos, a falta de conhecimento sobre as condições iniciais dos elementos existentes leva a um grande grau de incerteza). Para melhorar nossa capacidade de previsão, precisamos capturar interações estáveis entre as unidades (fatores de risco) e as regularidades observáveis (pro fi les). Economistas consideraram características de 4 de 7 Bittencourt NFN, et al. Br J Sports Med 2016; 50: 1309 - 1314. doi: 10.1136 / bjsports-2015-095850 B r J S p o r t s M e d : p u b l i c a d o p e l a p r i m e i r a v e z c o m o 1 0 . 1 13 6 / b j s p o r t s - 2 0 1 5 - 0 9 5 8 5 0 e m 2 1 d e j u l h o d e 2 0 1 6 . T r a n s f e r i d o d e h t t p : / / b j s m . b m j . c o m / e m 1 8 d e m a r ç o d e 2 0 2 0 p o r c o n v i d a d o . P r o t e g i d o p o r d i r e i t o s a u t o r a i s . http://bjsm.bmj.com/ Análise as ferramentas de aprendizagem podem ser mais precisas em previsões do que os modelos lineares usuais, e a quantidade de suposições pode ser reduzida. 38 Nesse sentido, devemos nos perguntar, sem tirar a importância epidemiológica de identificar os fatores de risco e seus potenciais modi. fi capacidade, se estamos visando a previsão ou apenas fi encontrar relacionamentos. Para detectar padrões e ser capazes de prevenir, precisamos prever. Além das questões estatísticas, também temos que incorporar metodologicamente o pensamento do sistema complexo. Meeuwisse et al 9 destacou a natureza dinâmica dos fatores de risco, pois o padrão de mudança em uma variável (ou seja, mudança de força durante uma temporada) poderia em fl O risco de lesão é maior do que seu valor absoluto em um determinado momento. Tal conceito requer o exame da mudança do fator de risco longitudinalmente ao longo de um período de tempo, a fim de incorporar a história do evento. Por esta razão, os desenhos de estudos e análises estatísticas devem considerar a existência de interações complexas e riscos de mudança. Na prática, avaliar o risco pro fi l deve ocorrer ao longo da temporada, não apenas na pré-temporada, e as análises devem se concentrar na mudança da teia de determinantes que levam a uma lesão emergente. APLICANDO MODELO COMPLEXO PARA LESÕES ESPORTIVAS Lesão esportiva é um fenômeno emergente complexo 11 e precisa ser visto através de um ' lente de complexidade '. Nesse caso, devemos buscar identificar características que estão presentes em sistemas complexos: (1) o padrão de relacionamento (interações) entre unidades (determinantes); (2) as regularidades (pro fi les) que simultaneamente caracterizam e restringem o fenômeno e (3) o padrão emergente que surge da complexa teia de determinantes. A literatura sobre lesões esportivas há muito busca algumas dessas características. No entanto, as informações existentes sobre esses recursos ainda não estão organizadas de acordo com uma estrutura de sistema complexa que nos permite ter alguns insights sobre a previsão de lesões (apesar de suas limitações). Para ilustrar a complexidade, consideremos o exemplo da lesão do LCA, onde existem algumas regularidades observadas que levam ao seu surgimento. Figura 2 A descreve a teia de determinantes para uma lesão do LCA no basquete. Para atletas de basquete, os eventos ambientais imprevistos típicos (UEE), 44 a presença de DKV 44 e fraqueza do quadril (HW) são os principais elementos que compõem a teia de determinantes. Esses elementos participam da maioria das interações existentes (relacionamentos unidirecionais ou bidirecionais) e, como tal, em fl uência e estão em fl influenciada por outros elementos. Neste caso, a interação com fi guração pode ser retratada da seguinte forma: a presença de DKV está em fl uenciado por fadiga, 44 força muscular do quadril, controle neuromuscular (capacidade de recrutar adequadamente os músculos necessários), alinhamento anatômico complexo do pé e carga de treinamento. Essas variáveis são moduladas por outros fatores, como idade e sexo (por exemplo, em fl influência da idade na força muscular do quadril). 45 Além disso, a carga de treinamento em fl influencia o nível de atenção e ansiedade, o que pode aumentar a fadiga e, por essa conexão, aumentar o DKV. A maneira como essas interações funcionam e como elas se juntam em fl uence a ocorrência de uma lesão do LCA criará um risco profissional fi le (regularidade) que é específica fi c para o contexto analisado. Um único fator de risco (ou seja, DKV) não garante a ocorrência da lesão. Por outro lado, o identi fi cação do risco pro fi ele pode informar sobre a probabilidade de ocorrência da lesão. Uma vez que a lesão é um fenômeno complexo caracterizado por incertezas e não linearidade inerente, uma lesão do LCA surgirá quando um específico fi c padrão de interação acontece na presença de um evento incitante de um determinado valor. Portanto, a melhor maneira de prever uma lesão é entendendo as interações entre a teia de determinantes e não os próprios determinantes. Como outro exemplo, fi figura 2 B representa a teia de determinantes de uma lesão do LCA em bailarinos. Devido ao tipo de treinamento recebido e à necessidade de qualidade do movimento, esses atletas não possuem, como elementos principais, a presença de DKV e HW. 46 Além disso, no balé, as UEE são raras quando comparadas aos esportes coletivos. 46 Nesse sentido, fadiga, nível de atenção, ansiedade e, possivelmente, outros não identificados fi variáveis ed podem ser as principais unidades de interação da teia de determinantes. A fadiga, por sua vez, é modulada pela quantidade de sessões de treinamento, que também irá nos fl influenciar outros fatores psicológicos que podem ser diferentes em fl uenciado pelo sexo. Na presença de um específico fi c padrão de interação, o nível de fadiga pode alterar a qualidade do movimento e levar à ocorrência de DKV, que pode produzir uma lesão do LCA. A teia de determinantes para bailarinos tem uma conotação diferente fi determinação das interações entre os fatores, quando comparados aos jogadores de basquete. Fatores semelhantes têm contribuições (pesos) diferentes e interagem de forma diferente com outros fatores, pois o contexto da prática também é diferente. No entanto, em cada contexto, a observância de um determinado padrão de interação ou risco pro fi le será relacionado a uma determinada probabilidade de ocorrência de ACL. Em vez de procurar as unidades ( fi fatores de risco de primeiro nível), devemos buscar o padrão de interação existente entre as unidades (regularidades). Só depois de aprendermos sobre essas regularidades, a identidade fi cação das relações entre as unidades contribuintes (fatores de risco de segundo nível) será necessária. Esta abordagem permitirá o desenvolvimento de intervenções eficazes para abordar o Figura 2 ( A) Teia de determinantes para uma lesão do LCA em atletas de basquete e (B) Teia de determinantes para uma lesão do LCA em bailarinos. Bittencourt NFN, et al. Br J Sports Med 2016; 50: 1309 - 1314. doi: 10.1136 / bjsports-2015-095850 5 de 7 B r J S p o r t s M e d : p u b l i c a d o p e l a p r i m e i r a v e z c o m o 1 0 . 1 1 3 6 / b j s p o r t s - 2 0 1 5 - 0 9 5 8 5 0 e m 2 1 d e j u l h o d e 2 0 1 6 . T r a n s f e r i d o d e h t t p : / / b j s m . b m j . c o m / e m 1 8 d e m a r ç o d e 2 0 2 0 p o r c o n v i d a d o . P r o t e g i d o p o r d i r e i t o s a u t o r a i s . http://bjsm.bmj.com/ Análise identi fi ed risco profissional fi le. Portanto, a previsão de lesões, como em um mercado de ações e previsão do tempo, deve basear-se na probabilidade de que a presença de regularidades observáveis (risco ou proteção pro fi (le) pode estar associada ao surgimento de uma determinada lesão. CONCLUSÃO Recentemente, uma abordagem de sistemas complexos foi usada para prever problemas complicados na medicina, biologia, economia e ciências sociais. Este trabalho conceitual serve como desafio e como suporte, pois indica as fragilidades do modelo de pensamento instituído e propõe um modelo que nos move de tentar fi WL ' causas ' para fi encontrando ' relações ' que apoiam o surgimento de uma lesão esportiva. A limitação do nosso ' poder de explicação ' de fenômenos complexos não deve nos impedir de tentar melhorar nosso ' poder preditivo ' para a ocorrência de lesões. A adoção da abordagem de sistemas complexos pode nos impulsionarem termos de conceitos e métodos para melhorar a previsão de lesões esportivas. Nesse sentido, movendo a pesquisa de fatores de risco isolados para o reconhecimento de padrões de lesão, por meio de identi fi cação do padrão complexo de interações entre a teia de determinantes, é obrigatória. Embora dif fi culto, é possível identificar e até mesmo compreender as regularidades de uma teia de determinantes usando dados reais e modelagem estatística. Essa abordagem pode ser a única opção se aceitarmos a não linearidade e a complexidade das lesões esportivas. Reconhecimentos Os autores gostariam de agradecer ao Dr. Roberto Bittencourt e à Dra. Rosana Sampaio por apresentarem o papel da complexidade na saúde. Contribuidores NFNB, LDM, JMO e STF contribuíram para o manuscrito ' s concepção e design. AN-A contribuiu com a análise e interpretação da sessão estatística, revisão precisa e crítica do manuscrito, bem como aprovação do fi versão final. NFNB foi o autor principal e responsável pela preparação inicial do manuscrito. WM e STF contribuíram para a revisão crítica e precisa do manuscrito, bem como aprovação do fi versão final. Todos os autores foram envolvidos na preparação e edição do manuscrito. Financiamento A agência estadual de fomento à pesquisa FAPEMIG e as agências brasileiras de fomento à pesquisa CAPES e CNPq apoiaram este estudo. Interesses competitivos Nenhum declarado. Consentimento do paciente Obtido. Proveniência e revisão por pares Não comissionado; revisado externamente por pares. REFERÊNCIAS 1 2 van Mechelen W., Hlobil H., Kemper HC. Incidência, gravidade, etilogia e prevenção de lesões esportivas. Uma revisão de conceitos. Sports Med 1992; 14: 82 - 99. Quatman CE, Quatman CC, Hewett TE. 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Br J Sports Med 2016; 50: 1309 - 1314. doi: 10.1136 / bjsports-2015-095850 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 O que são as fi descobertas? ▸ As lesões esportivas são fenômenos emergentes complexos, produzidos por interações entre diferentes unidades (teia de determinantes), que podem produzir regularidades (risco pro fi le) que induzem o padrão emergente (lesão). A prevenção de lesões esportivas depende da identidade fi cação de risco pro fi les, o que significa passar dos fatores de risco para o reconhecimento do padrão de risco. Essa abordagem considera uma interação interconectada e multidirecional entre todos os fatores, que abrangem a natureza complexa da lesão esportiva. As melhorias na previsão de lesões esportivas, bem como na prevenção, dependem da coerência entre os fenômenos de interesse (lesões esportivas como evento emergente), paradigma filosófico (complexidade) e métodos de análise. Nesse sentido, abordagens de sistemas não lineares e complexas devem ser exploradas. ▸ ▸ Como isso pode impactar a prática clínica em um futuro próximo? ▸ Os médicos devem estar cientes de como os fatores de risco podem interagir, em vez de listar vários fatores de risco isolados, a fim de planejar uma intervenção preventiva eficaz. Risco pro fi Isso pode incluir interação não linear entre fatores de risco de diferentes escalas, tais como biomecânica, características de treinamento, psicológicas e fisiológicas. Além disso, risco pro fi le deve ser continuamente avaliado durante a pré-temporada e na temporada. O reconhecimento da teia de determinantes na prática clínica pode incluir fatores de risco que fortemente fl influenciar o resultado e interagir de muitas maneiras diferentes com várias variáveis. ▸ ▸ 6 de 7 B r J S p o r t s M e d : p u b l i c a d o p e l a p r i m e i r a v e z c o m o 1 0 . 1 1 3 6 / b j s p o r t s - 2 0 1 5 - 0 9 5 8 5 0 e m 2 1 d e j u l h o d e 2 0 1 6 . T r a n s f e r i d o d e h t t p : / / b j s m . b m j . c o m / e m 1 8 d e m a r ç o d e 2 0 2 0 p o r c o n v i d a d o . 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