Buscar

Fisioterapia em Traumatoortopedia - Tema extra 1 - Prevenção da Lesão Musculoesquelética

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 63 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 63 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 63 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Prevenção da Lesão Musculoesquelética
Prof. Bruno Jotta da Costa
Descrição
Os mecanismos de lesão musculoesquelética, as cargas aplicadas ao sistema musculoesquelético e a
propagação do impacto e seus efeitos sobre o corpo humano.
Propósito
Conhecer os mecanismos de lesão musculoesquelética por meio da categorização das cargas aplicadas,
assim como os efeitos que estas exercem sobre o corpo humano, é fundamental para elaborar intervenções
relacionadas à prevenção ou atenuação de lesões.
Objetivos
Módulo 1
Mecanismos de lesão musculoesquelética esportiva
Identificar os mecanismos de lesão musculoesquelética.
Módulo 2
Cargas aplicadas ao sistema musculoesquelético
Reconhecer as cargas aplicadas ao sistema musculoesquelético.
Módulo 3
Propagação do impacto e seus efeitos no corpo humano
Analisar a propagação do impacto e seus efeitos sobre o corpo humano.
Todos os dias pessoas sofrem lesões musculoesqueléticas, as quais representam no imaginário
popular um evento traumático associado à perda de função temporária, seja para um atleta
profissional ou até mesmo para um esportista amador.
Neste conteúdo, você vai compreender o conceito de lesão musculoesquelética e identificar os
mecanismos biomecânicos associados à origem da lesão. Compreender isso é necessário ao
desempenho de diferentes profissionais da área de saúde para prevenir ou elaborar intervenções que
reduzam a amplitude da lesão.
Outro aspecto importante é a necessidade de quantificar o impacto da lesão e entender sua
repercussão em diferentes tecidos do sistema musculoesquelético. Para tanto, exploraremos o uso
Introdução
1 - Mecanismos de lesão musculoesquelética esportiva
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os mecanismos de lesão
musculoesquelética.
O que é lesão musculoesquelética esportiva e como
preveni-la?
de sensores e instrumentos destinados a quantificar o impacto aplicado ao corpo humano, assim
como os conceitos biomecânicos associados a ele.
Desse modo, você vai entender a geração da lesão e como quantificar cargas aplicadas ao corpo
humano durante o movimento, com fins de atenuação da extensão de lesões e, quando possível,
prevenção delas.
Entende-se por lesão musculoesquelética o dano tecidual do aparelho locomotor provocado por diferentes
eventos. Lesões costumam ocorrer quando o estresse físico imposto excede a capacidade de tolerância do
tecido. Considerando esse aspecto, músculos, ossos, ligamentos e cartilagens possuem diferentes
propriedades viscoelásticas implicando maior ou menor tolerância ao estresse imposto.
Em geral, lesões musculoesqueléticas são consideradas eventos complexos por
serem relacionadas a fatores como aspectos contextuais e biomecânicos. Essa
abordagem multivariada sobre a ocorrência de lesões é comumente utilizada no
estudo de lesões específicas presentes no meio esportivo. Aspectos culturais
particulares do esporte, assim como questões individuais de perfil e personalidade
dos atletas, têm se mostrado relevantes para o sucesso de estratégias de
prevenção.
Devido à tamanha complexidade, estratégias de prevenção de lesão são desenvolvidas com base em
algoritmos específicos com etapas bem definidas. Essas etapas, de um modo geral, passam por:
lgoritmos
Sequência de ações para resolver determinado problema. Nesse caso, evitar lesões.
Compreender a extensão da lesão
Analisar os mecanismos biomecânicos da geração
Elaborar estratégias de prevenção
Veri�car o resultado dessa intervenção
Essa última etapa muitas vezes é influenciada pelos aspectos culturais e individuais já mencionados. Assim,
pode-se considerar que a elaboração de estratégias de prevenção de lesão é um objetivo desafiador e difícil
de ser desenvolvido. Apesar disso, desenvolver estratégias, visando atenuar minimamente a ocorrência e a
gravidade das lesões, pode ser considerada uma prática profissional na área do esporte em todos os níveis
do desempenho esportivo.
Atenção
Além de limitar o desempenho do atleta, a ocorrência de lesões também configura um impacto econômico,
pois, assim como acontece com outros problemas de saúde, o alto custo do tratamento afeta diretamente o
sistema da saúde. É bastante comum que uma lesão musculoesquelética impeça um esportista de
participar de jogos, treinos e todo tipo de atividade competitiva, determinando a ausência de um trabalhador
em sua função diária.
A partir dessa perspectiva econômica relevante com relação à ocorrência de lesões, é necessário, em
primeiro lugar, identificar e quantificar a ocorrência de lesões musculoesqueléticas. Num segundo momento,
no entanto, busca-se compreender os mecanismos da geração da lesão e como é possível desenvolver uma
estratégia para atenuá-los.
A literatura apresenta diferentes critérios para determinação da lesão musculoesquelética, o que gera
bastante confusão quando nos debruçamos sobre o assunto. Apesar disso, principalmente envolvendo
esportes ou aspectos funcionais, um contexto denominado lost day tem sido usado e nos garante uma boa
base de comparação para diferentes desenhos metodológicos. Entenda:
Teoria
O lost day tem como base a ausência de um treino, jogo ou dia de trabalho, envolvendo, por exemplo, uma
gravidade mínima da lesão que acarreta perda funcional momentânea.
Veri�car a e�ciência do emprego dessa estratégia
Prática
Estudos que usam esse conceito registram lesões somente quando o lost day se confirma, evitando
confusão com definições de lesão relacionadas a simples atendimento médico ou presença de sintomas,
mas sem perdas funcionais.
Esportista lesionado durante jogo de futebol sem a capacidade funcional de caminhar.
Desse modo, a quantificação do número de lesões, com base no conceito de lost day, possibilita a geração
de diferentes estudos, mas também a quantificação dessas lesões musculoesqueléticas por profissionais
de saúde que atuam em meios esportivos e na saúde do trabalhador. Como já vimos, quantificar lesões
musculoesqueléticas, assim como a extensão de seus impactos sob diferentes perspectivas, é apenas o
primeiro passo para maior compreensão desse problema de saúde.
Mecanismo de lesão musculoesquelética esportiva
Uma vez que uma lesão musculoesquelética acontece, sempre recorremos aos fatos circunstanciais de
quando ela foi gerada. Nesse ponto, os aspectos biomecânicos fundamentam boa parte do arcabouço
teórico do que entendemos por mecanismo de lesão.
Ao considerarmos os princípios mecânicos principalmente nas áreas da cinemática
e cinética durante a ocorrência de uma lesão, obtemos informações importantes
para elaboração do tratamento, da reabilitação e das estratégias de prevenção ou
atenuação dos danos.
Existem diferentes sistemas de classificação de mecanismos de lesão, tomemos como exemplo uma lesão
provocada por um impacto. Sempre que algum componente musculoesquelético sofre colisão ou choque
com um objeto, devido às propriedades viscoelásticas e inerciais dos tecidos humanos, uma quantidade de
força é aplicada ao tecido. Na medida em que a força é aplicada ao tecido, o estresse causado pelo
estímulo promove uma deformação (chamada strain), que se apresenta de forma distinta em diferentes
tecidos, fazendo com que eles sejam mais ou menos capazes de se deformar.
Gráfico: Relação estresse e deformação (strain) aplicados ao tecido ósseo em caráter tensivo.
Se considerarmos parâmetros como direção, frequência, magnitude e tempo de aplicação da força, aliados
à característica particular do tecido na tolerância do estresse sofrido, percebemos que temos um
entendimento apenas básico do mecanismo de lesão. Entenda:
Associação natural de vários fatores
Esse caráter básico do mecanismo de lesão está associado à caraterística natural de mais de um
estresse físico sofrido por um tecido durante a geração de uma lesão e à influência variada dos fatores
mencionados anteriormente.
Classi�cação dos mecanismos de lesão
Podemos considerar então que por muitas vezes o tecido é submetido a mais de um tipo de estresse,o
que justifica o grande número de sistemas para classificação dos mecanismos de lesão, considerando
aspectos como tipo de registro médico e gravidade.
Sistemas de classificação de mecanismos de lesão com base no tipo de registro médico consideram
informações iniciais importantes para avaliação da lesão musculoesquelética e podem ser usados por
diferentes serviços de medicina no mundo apresentando alguma variação das nomenclaturas. Apesar
dessas variações, esse tipo de classificação que acaba por considerar o princípio básico dos mecanismos
de lesão tem sido importante para o estabelecimento de estudos sobre a epidemiologia das lesões

musculoesqueléticas. Tomemos como o exemplo os seguintes mecanismos básicos de lesão, propostos
por Leadbetter (1999):
Lesão provocada por evento traumático de contato considerada como a fonte primária de macro e
microtrauma tecidual. Contusões musculares diretas e entorses ligamentares graves com possíveis
luxações articulares traumáticas são exemplos típicos de lesão por contato de tecidos moles. Além
disso, possui uma natureza cumulativa relativa à frequência de aplicação desse impacto, muitas
vezes caracterizado por microtraumatismo.
Lesão causada pela falha ou ruptura tecidual devido à intolerância a uma deformação brusca e
repentina. Exemplo disso é ruptura de um tendão durante uma ação excêntrica.
Também é conhecido como sobrecarga. Está relacionado à falha adaptativa do tecido lesado
repetitivamente. Esse tipo de lesão é muito frequente nos esportes e tem como uma de suas fontes
erros de execução técnica e excesso de treinamento.
Característica relacionada à colaboração para a geração da fadiga ou sobrecarga excessiva de
determinada estrutura lesionada. Exemplo: padrão de marcha associado ao excesso de pronação e à
geração de lesão.
Impacto 
Sobrecarga dinâmica 
Uso excessivo 
Vulnerabilidade estrutural 
Inflexibilidade 
Lesão causada pela incapacidade de movimentação articular ou range (amplitude) de movimento de
uma articulação. Essa falta de mobilidade pode levar a modificações nas superfícies de contato
entre as articulações associadas com o processo degenerativo.
Lesão associada ao uso excessivo de determinado músculo, levando a desequilíbrios musculares e
consequentes disfunções na movimentação de articulações associadas. Outro aspecto seria a
presença facilitada de fadiga provocada pelo desequilíbrio muscular.
Lesão associada a desequilíbrios musculares e alterações no range de movimento articular
causadas pelo crescimento desproporcional durante o processo de maturação biológica.
Como visto, essa classificação envolve apenas uma visão básica do que causou a lesão
musculoesquelética, tornando necessária, muitas vezes, a utilização de outras informações sobre o
mecanismo de lesão em específico para uma melhor compreensão.
Tomemos como exemplo o tempo de contato ou aplicação de força num choque entre dois jogadores de
futebol durante a disputa de uma jogada aérea.
Nesse caso, temos uma caraterística impulsiva de alta magnitude, o que significa dizer que uma grande
quantidade de força foi aplicada em um período reduzido.
Impacto durante jogo de futebol, possível causa de dano tecidual.
Desequilíbrio muscular 
Crescimento rápido 
Alguns mecanismos envolvem outros aspectos além dos biomecânicos, uma vez que aspectos fisiológicos
podem também ser determinantes para a geração da lesão. No crescimento rápido, por exemplo, que
envolve lesões de crescimento e desenvolvimento no atleta adolescente, observa-se desequilíbrio entre os
ossos e o tecido muscular, tornando os indivíduos suscetíveis a lesões particulares. Normalmente, um
desses tecidos cresce mais abruptamente, levando à sobrecarga mecânica de algumas regiões e de tecidos
moles durante a ação desportiva.
Exemplo
Um exemplo de lesão relacionada ao crescimento é a síndrome de Osgood-Schlatter, na qual, durante a
adolescência, observa-se um hiperdesenvolvimento da junção miotendínea do quadríceps em sua inserção
na tíbia.
Osgood-Schlatter é exemplo de mecanismo de lesão relacionado ao crescimento ósseo.
Outro mecanismo de lesão que antecede o evento mecânico que buscamos entender é a suscetibilidade
estrutural, que está essencialmente associada a uma condição metabólica ou mecânica que eleva a
probabilidade de lesão. Podemos citar como formas de vulnerabilidade a própria fadiga e os aspectos
morfológicos e anatômicos considerados influentes como mecanismos de lesão.
Por exemplo, a relação entre a largura do quadril e o posicionamento estático da articulação do joelho. Em
geral, pessoas com quadril mais largo aumentam o ângulo Q do joelho, aumentando o nível de valgismo
nessa articulação e, por consequência, alterando os movimentos da articulação patelofemoral e
femorotibial.
Joelho normal e joelho com ângulo Q aumentado devido a uma maior largura do quadril.
A partir desse contexto, observamos que pode haver vários mecanismos de lesão interagindo na geração
das lesões musculoesqueléticas esportivas.
Outro aspecto associado ao mecanismo de lesão é o grau de extensão da lesão ocorrida. Muitas
classificações se baseiam em níveis de severidade associados ao número de dias necessários para
recuperação, que representam na prática o conceito do lost day já mencionado. Um exemplo clássico é a
classificação da gravidade de lesões ligamentares proposta também por Leadbetter (1994). Nesse caso,
teríamos três níveis numéricos com tempos de recuperação correspondentes à extensão do dando tecidual:
Primeiro grau
Poucos dias de recuperação.
Segundo grau
Até seis semanas de recuperação.
Terceiro grau
Indefinido ou superior a seis semanas.
Como podemos observar, temos mecanismos diferentes de lesão musculoesquelética no esporte. Eles, por
sua vez, ocorrem muitas das vezes com sobreposição, acarretando maior ou menor gravidade e diferentes
tempos de recuperação.
Epidemiologia das lesões musculoesqueléticas
A grande variedade dos mecanismos de lesões musculoesqueléticas esportivas explica a necessidade de
estudos sobre os mais diferentes aspectos desse problema de saúde. Além disso, os impactos econômico e
psicológico sobre o atleta também são fatores motivadores para a compreensão e solução do problema.
Para dar conta desse contexto, diferentes estudos têm levantado o número de
lesões por articulação e categorizado seus tipos em diferentes esportes e outras
informações adicionais.
Muitas vezes, esses estudos verificam dados sociodemográficos, etnia, gênero, idade etc., procuram
descrever quais possíveis lesões ocorrem em uma população esportiva e identificam associação de algum
desses fatores não modificáveis. O estudo desenvolvido por Perini e colaboradores (2020), por exemplo,
observou que, independentemente da modalidade esportiva, atletas acima de vinte e quatro anos tinham
duas vezes mais chance de sofrer uma lesão articular do que atletas abaixo de vinte anos de idade.
Fatores não modi�cáveis
Esses fatores são, geralmente, pouco modificáveis, afinal, a idade de um atleta não é algo controlável,
mas um fenômeno natural não modificável que se associa com ocorrência da lesão.
Fatores modi�cáveis
A contrapartida é que fatores como o tipo de esporte, o volume e a intensidade no treinamento são
considerados fatores modificáveis.
Assim, de um modo geral, podemos dizer que é importante administrar com eficiência os fatores
modificáveis que podem representar potencial lesivo ao atleta. Apesar disso, devemos estar atentos a
fatores não modificáveis e à associação deles com as lesões caraterísticas do esporte. O estudo em
questão contou com a participação de 627 atletas de cinco diferentes modalidades: futebol, rugby, polo
aquático, Handebol e esportes de combate. Nele, as lesões foram identificadas por região corporal,
considerando três tipos:
Lesões musculares
Tórax; ombro; braço; antebraço; coxa; perna.
Lesão articular
Todas as articulações.
Tendinopatia
Ombro; cotovelo; mão; quadril, joelho; tornozeloe outros.

Um resultado interessante é que, de todos os atletas que participaram do estudo, cerca de 76,2% relataram
histórico lesivo confirmado por exame diagnóstico. Outro aspecto é que 18,6% dos atletas apresentaram um
histórico de lesões de mais de um tipo ou região corporal lesionada. Esse percentual revela o impacto das
lesões, relacionado à perspectiva econômica, psicológica e ao conceito de lost day. Nesse contexto,
podemos identificar lesões mais comuns de acordo com a modalidade esportiva.
Gráfico: Distribuição de lesões musculoesqueléticas em atletas (n=478). Frequência das lesões musculoesqueléticas em atletas de grupos
esportivos. O valor de p foi obtido por meio do Teste Qui-quadrado (Pearson p-valor).
Extraído de Musculoskeletal injuries in athletes from five modalities: a cross-sectional study, Goes, 2020, p. 4.
No gráfico, identificamos frequências percentuais semelhantes de atletas de futebol lesionados, tanto em
lesões articulares como em musculares. Isso não ocorre com esportes de combate, em que observamos
maior prevalência de lesões articulares. Desse modo, é possível identificar uma tendência de maior
predominância de outros tipos de lesões para outros esportes avaliados. Tomemos como exemplos
adicionais as predominâncias elevadas de tendinopatias no polo aquático e de lesões musculares no
handebol.
Apesar disso, devido ao nosso foco principal estar associado à familiarização com o mecanismo de lesão,
precisamos explorar um pouco mais os dados do estudo. Assim, uma vez que mencionamos subitens para
os tipos de lesão musculares e tendinopatias, faz-se necessária a exposição de detalhes das frequências
ilustradas anteriormente:
Variáveis
Rugby
n = 225
Futebol
n = 172
Combate
n = 86
n (%)
H
n
Lesão articular
233
(100.0)
100
(100.0)
158
(100.0)
3
(1
Mão 43 (18.4) 3 (3.0) 24 (15.2) 1
Cotovelo 11 (4.7) 0 (0.0) 22 (13.9) 4
Variáveis
Rugby
n = 225
Futebol
n = 172
Combate
n = 86
n (%)
H
n
Ombro 58 (24.9) 15 (15.0) 34 (21.5) 7
Joelho 44 (18.9) 45 (45.0) 42 (28.5) 1
Tornozelo 72 (30.9) 34 (34.0) 27 (17.1) 1
Quadril 5 (2.2) 3 (3.0) 6 (3.8) 1
Lesão Muscular 192 (100.0) 115 (100.0) 87 (100.0) 1
Tórax 12 (6.2) 1 (0.9) 8 (9.2) 3
Braço e antebraço 17 (8.8) 1 (0.9) 8 (9.2) 9
Ombro 33 (17.2) 3 (2.6) 19 (21.8) 1
Parte anteiro da
coxa
27 (14.1) 41 (35.7) 10 (11.5) 1
Parte posterior da
coxa
42 (21.9) 48 (41.7) 15 (17.3) 2
Perna
lateral/medial
18 (9.4) 2 (1.7) 6 (6.9) 1
Panturilha 26 (13.5) 15 (13.0) 10 (11.5) 7
Quadril 14 (7.3) 3 (2.6) 7 (8.0) 5
Outros 3 (1.6) 1 (0.9) 4 (4.6) 6
Tendinopatia
84
(100.0)
51
(100.0)
30
(100.0)
2
(1
Mão 9 (10.7) 3 (5.9) 9 (30.0) 2
Cotovelo 0 (0.0) 0 (0.0) 3 (10.0) 2
Variáveis
Rugby
n = 225
Futebol
n = 172
Combate
n = 86
n (%)
H
n
Ombro 23 (27.4) 9 (17.6) 9 (30.0) 7
Joelho 30 (35.7) 30 (58.9) 3 (10.0) 9
Tornozelo 18 (21.4) 9 (17.6) 4 (13.3) 0
Outros 4 (4.8) 0 (0.0) 2 (6.7) 1
Tabela: Local de lesão de acordo com a modalidade esportiva.
Extraído de: Musculoskeletal injuries in athletes from five modalities: a cross-sectional study, GOES (2020), p. 4.
A complementação das informações dos subtipos das classificações facilita o reconhecimento do possível
mecanismo de lesão. Tomemos novamente o exemplo do polo aquático, a maioria das tendinopatias, lesões
mais comuns nesse esporte, ocorre na articulação do ombro, muito utilizada nessa prática esportiva. Nesse
contexto, podemos identificar de forma mais eficaz possíveis mecanismos de lesão particulares para
determinados esportes e, quando possível, desenvolver medidas de prevenção para lesões predominantes
em uma modalidade.
Mecanismos de lesão musculoesquelética
Neste vídeo, o especialista Bruno Jotta da Costa explica os mecanismos de lesão musculoesquelética.

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Lesões musculoesqueléticas são muito frequentes no meio esportivo, provocando consequências
como perda financeira de um clube ao não ter o atleta disponível para um jogo ou treinamento. Por
outro lado, atletas muitas vezes tem sintomas residuais de dor, mesmo em períodos de treinamento,
utilizando-se de recursos de recuperação para amenizar os sintomas e não perder a funcionalidade.
Nesse contexto, qual é o critério comumente utilizado para categorizar ou confirmar a ocorrência de
uma lesão musculoesquelética esportiva em pesquisas científicas e departamentos médicos de um
clube?
Parabéns! A alternativa C está correta.
Pesquisas científicas e departamentos médicos usam normalmente o conceito de dia perdido ou lost
day, o qual corresponde à incapacidade funcional de treinar ou jogar.
Questão 2
Mecanismos de lesão são meios pelos quais as lesões ocorrem. Eles são parte importante de um
primeiro momento de compreensão do possível dano tecidual e das necessidades de recuperação de
uma atleta.
A Atleta consegue treinar, mas não consegue jogar.
B Atleta não consegue treinar, mas consegue jogar.
C Atleta não consegue treinar e não consegue jogar.
D Atleta não consegue treinar, mas joga sentindo dor.
E Atleta não consegue jogar, mas treina sentindo dor.
Nesse contexto, quando um atleta sofre uma lesão no joelho durante um treino de futebol em
condições de fadiga intensa pode ser considerado o seguinte mecanismo de lesão:
Parabéns! A alternativa C está correta.
Alguns aspectos presentes nos mecanismos de lesão não estão relacionados somente à biomecânica,
mas também às condições metabólicas identificadas como vulnerabilidade de uma estrutura à
condição lesiva.
A Sobrecarga dinâmica.
B Uso excessivo.
C Vulnerabilidade estrutural.
D Inflexibilidade.
E Desequilíbrio muscular.
2 - Cargas aplicadas ao sistema musculoesquelético
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer as cargas aplicadas ao sistema
musculoesquelético.
O que é carga?
O termo “carga”, quando aplicado ao esporte, refere-se a um número elevado de utilizações na organização
e aplicação de treinamentos, avaliação dos jogos, competições e ocorrência de lesões. Muito além de um
jargão no âmbito do treinamento esportivo, o termo precisa ser compreendido sob o ponto de vista das
ciências do esporte por médicos, fisioterapeutas, preparadores e técnicos. Essa visão particular da carga
consiste em ponderá-la como um estímulo aplicado ao sistema biológico humano e às suas mais variadas
subunidades (elementos subcelulares, célula, tecidos, um ou múltiplos sistemas e órgãos).
Essa visão conceitual permite relacionar a carga de treinamento aplicada às
adaptações do organismo. Desse modo, podemos considerar aspectos
relacionados à magnitude e frequência de treinos aplicados como carga esportiva.
Ao se planejar um treinamento, deve-se idealizar uma aplicação de cargas, visando
a um aumento do desempenho e um menor número de lesões.
Por exemplo, um jogador de voleibol executa diferentes movimentos. Para a execução de alguns
fundamentos do esporte, como atacar e bloquear, observamos a necessidade de saltar. Assim, é possível
que o número total de saltos do voleibol, tanto no treinamento quanto no jogo, seja considerado um
importante descritor de carga externa, além de, consequentemente, provocar adaptação interna. Essa
adaptação ao longo de semanas (crônica) pode significar maiores níveis de força e potência, seja por vias
neurais ou hipertróficas. Ao mesmo tempo, o atleta pode ficar um pouco dolorido devido a uma quantidade
de saltos mais elevada que a de costume, ocasionando uma adaptação aguda.
Jogadores de voleibol durante um salto em funções de ataque e defesa.
Embora a utilização do conceito de carga esportiva seja importante, é necessário especificar dentro desse
contexto qual componente da carga estressora deve ser categorizado. Para tanto, abordaremos a definição
de carga associada a aspectos mecânicos presentes na geração da lesão musculoesquelética.
Cargas externas
Cargas externas podem ser entendidas como forças aplicadas a diferentes tecidos do sistema
musculoesqueléticocomo ossos, tendões e cartilagens. De um modo geral, temos três modelos básicos de
aplicação dessas cargas:
Cargas axiais
São forças aplicadas em um único eixo.
Flexão
Forças que atuam perpendiculares ao corpo, criando um momento de flexão.
Torção
Forças associadas a movimentos rotacionais em oposição.
Vejamos agora com um pouco mais de detalhes as características de cada modo de aplicação de carga
mencionado e suas variações, seus subtipos e sua significância prática.
Cargas axiais
Por definição, cargas axiais são aplicadas em uma única linha ou direção, sendo então consideradas
uniaxiais. Entretanto, na maioria das vezes, a aplicação da carga ocorre em mais de um eixo, acarretando
cargas multiaxiais.
Outro aspecto importante é que as cargas axiais podem ser tanto de compressão como de tensão, nesses
casos representando ações básicas como puxar e empurrar. A combinação de cargas axiais compressivas e
tensivas é capaz gerar o que denominamos estresse de cisalhamento, que ocorre especificamente quando
duas cargas axiais estão na mesma direção (horizontal, por exemplo), mas em sentidos opostos (direita
para esquerda e vice-versa), aplicadas em locais diferentes no mesmo corpo. A imagem a seguir demonstra
as cargas ou forças axiais em três diferentes modos de aplicação compressiva (compressive force), tensiva
(tensile force) e cisalhamento (shear force).
Carga axiais compressivas, tensivas e tensivas aplicadas em locais diferentes — cisalhamento.
Carga por �exão
A combinação de diversas forças axiais em sentidos opostos, sendo aplicadas em diferentes locais de um
corpo, não é exclusividade do estresse em cisalhamento. Os modos de aplicação de carga em flexão nada
mais são do que combinação de cargas axiais, que se aplicam a corpos em geral mais longos, ossos mais
longos como o fêmur.
Nesse caso, a oposição das forças axiais de forma ortogonal (90°) ao corpo pode causar nele o
comportamento de flexão. Um estresse em flexão forma uma face convexa e outra côncava, as quais estão
submetidas a cargas tensivas e compressivas, respectivamente.
Além disso, outras possiblidades de flexão podem ocorrer em função das combinações de cargas axiais em
diferentes números.
Formação das superfícies convexa e côncava, e flexão com duas e quatro forças.
Mecanismo de valgo dinâmico – rotação interna e flexão do joelho.
Outro modo de aplicação de cargas é a torção de um material. Como o próprio nome sugere, relaciona-se à
fixação da extremidade inferior devido a forças de atrito com solo e movimento rotacional em sentido
contrário a parte superior do corpo. Essa aplicação é muito comum em esportes de combate com golpes
rotacionais, mas também é recorrente no futebol e em outros esportes coletivos, devido à ocorrência do
valgo dinâmico.
O modo de aplicação de carga por torção está associado à clássica lesão do ligamento cruzado anterior do
joelho, comum em diferentes esportistas durante suas vidas atléticas profissionais e amadoras. Muito
embora seja mais didático considerarmos esses três mecanismos básicos separadamente, na maioria das
vezes ocorrem simultaneamente durante o movimento.
algo dinâmico
É a combinação de rotação interna com flexão do joelho durante uma mudança de direção ou frenagem
associada e até mesmo aterrissagens.
Cargas internas
Tempo de aplicação da força
No contexto de carga, temos a questão do tempo de aplicação da força como fator importante para
adaptação tecidual e geração de lesões. De fato, podemos identificar elevado número de lesões
musculoesqueléticas em determinados esportes, levando a um entendimento de que aplicação das cargas
associadas ao treinamento não estão otimizadas. Apesar disso, não se pode estabelecer uma relação
causal entre carga sofrida por uma articulação e a geração de lesões musculoesqueléticas.
Mensuração das forças internas
Outra questão importante é o reconhecimento da limitação que temos de mensurar essas forças internas
atuantes nas articulações. Devido a essa limitação, muitas vezes temos nossos achados com base em
estudos que utilizam modelos matemáticos para determinação dessas forças. Muito embora tenhamos
mencionado aspectos básicos de três modos de aplicação de carga, devemos determinar como essas
cargas aplicadas em diferentes ângulos podem ser categorizadas e de onde elas provêm durante os
movimentos.
Ao considerar a carga aplicada a uma articulação, podemos dividi-la em dois componentes:
Força de contato entre os ossos.
Rede ou resultante de força e momentos articulares.
O segundo componente está diretamente associado à necessidade de se controlar diferentes articulações
numa tarefa que envolve absorção de impacto, por exemplo. Em particular, o impacto é capaz de provocar
deformação em diferentes tecidos musculoesqueléticos. Sua identificação é difícil, uma vez que o dano
gerado é dependente de fatores como área de contato, velocidade, massa, direção e taxa de aplicação da
força.
Dessa forma, ao sofrer um impacto, as articulações precisam ser estabilizadas ou
movimentadas, acarretando a geração natural de contrações excêntricas,
isométricas e concêntricas de músculos que cruzam essa articulação. Nesse
momento, temos o surgimento de torque muscular e cinética de forças de reação
do solo compatíveis com a necessidade específica da tarefa.
Imaginemos a necessidade de um ginasta aterrissar após a execução de uma rotina de exercícios de solo,
quando o momento de aterrissagem se associa à necessidade de estabelecer a posição bipodal sem queda,
finalizando a rotina de exercícios. Pensemos agora nas forças e nos torques para interromper a
movimentação em flexão do joelho, estabilizando a articulação. Essa estratégia está associada à aplicação
da força oriunda do contato dos pés do atleta com o solo.
Ginasta no momento da aterrissagem com necessidade de estabilizar os joelhos.
Caso o objetivo fosse continuar o movimento com um salto, por exemplo, haveria menor tempo de contato
entre o solo e seus pés e toda força seria aplicada num curto espaço de tempo. Essas diferenças que estão
associadas à aplicação de força em períodos breves ou mais extensivos de tempo são o que entendemos
como variações na função impulso em função da tarefa. Essa influência, no entanto, não se limita a tarefa
em si, uma vez que a superfície e a presença da fadiga podem alterar essas características cinéticas em
relação à aterrissagem.
Assim, no exemplo mencionado, temos uma série de forças atuando em cada articulação e não só no
joelho, produzindo diferentes momentos de força e representando a capacidade do atleta em controlar os
movimentos angulares de suas articulações. Esses momentos angulares podem ser maiores ou menores
por uma série de aspectos técnicos relacionados, como a posição dos segmentos corporais durante o
contato inicial, além de outros fatores como o tipo de superfície.
Atenção
O posicionamento e controle das articulações, assim como o posicionamento em sua base suporte, são
partes da técnica esportiva individual, podendo acarretar padrões de melhor eficiência, nesse caso, gerando
menor necessidade de força e menor estresse externo nas estruturas do sistema musculoesquelético.
Nesse contexto, temos o fator humano associado à possibilidade de maior ou menor aplicação de carga em
uma articulação, dependendo do padrão de movimentação do atleta. Esse fator não é negligenciável e está
relacionado a aspectos coordenativos e estruturais que podem ser potencializados em termos de eficiência
pelo treinamento técnico e físico ao qual o esportista é submetido.
Nesse contexto, tanto as forças de contato entre os ossos quanto a rede ou resultante de força e momentos
articulares são influenciadas por diferentes fatores. Ambos podem ser considerados aspectos
biomecânicos relacionados à aplicação de cargas. Vale ressaltar que essas forças de contato entre os
ossos são, em geral, superiores às forças relacionadas à movimentação ou estabilização da articulação.
Quanto à categorização das cargasaplicadas ao sistema musculoesquelético, vale relembrarmos os
seguintes pontos apresentados:
Carga de treinamento
Carga de treinamento se refere a todo os agentes estressores do organismo associado ao
desempenho esportivo, podendo-se incluir aspectos metabólicos, psicológicos e
principalmente biomecânicos.
Modos de aplicação
Cargas são, em geral, forças aplicadas a diferentes tecidos musculoesqueléticos, obedecendo
a três modos básicos de aplicação. Apesar disso, normalmente tem-se a ação simultânea de
diferentes modos e angulações, dificultando a determinação de valores reais das cargas
aplicada a esses tecidos.
Força de contato e somatório das forças
Tanto a força de contato entre os ossos e o somatório das forças e dos momentos atuantes
na articulação são difíceis de se determinar, sendo a segunda, em geral, menor que a primeira
e associada à relação dos movimentos angulares das articulações.
Desse modo, temos um sistema musculoesquelético que sofre uma aplicação de carga constante e natural
durante o exercício de sua função. Conforme mencionado, parece tentador associar a magnitude das cargas
aplicadas à geração de lesões, mas afirmar essa relação ainda carece de mais estudos. Nesse contexto,
observamos diferentes instrumentações destinadas à quantificação possível das cargas sob o ponto de
vista biomecânico durante as ações esportivas.
Quanti�cando as cargas aplicadas ao sistema
musculoesquelético
Tarefas que exigem o controle de diferentes articulações
O somatório das forças e dos momentos presentes nas articulações se torna maior diante da
necessidade de executar tarefas que exigem o controle de diferentes articulações, muitas
vezes exercendo modos diferentes de contração em função da tarefa específica.
In�uência pelas estratégias motoras
O momento e as forças articulares são influenciados pelas estratégias motoras, podendo-se
obter eficiência por meio da geração de menor magnitude de carga aplicada numa
articulação.
Relação de otimização e estratégia motora
A relação de otimização e estratégia motora provém da variação da localização do centro de
massa e segmentos apendiculares e movimentos em relação à base de suporte durante
movimentos esportivos variados.
Agora que já sabemos o que é carga de treinamento, vamos explorar as possibilidades de quantificação
dessa carga. Muito embora tenhamos estudos baseados em modelos empregando simulação das cargas
aplicadas, mediante o estabelecimento de algumas variáveis de entrada, como e o que é possível quantificar
durante o desempenho esportivo?
A resposta seria a utilização de sensores capazes de registrar a força. Veja duas opções possíveis:
Plataformas de força
Os sensores capazes de registrar força são os dinamômetros, sendo necessária, nesse caso, uma classe
especial: as plataformas de força.
Sensores inerciais
Uma outra forma possível de quantificação da carga está relacionada a sensores inerciais, usados tanto no
tronco do atleta quanto em segmentos distais.
Exploraremos em mais detalhes essas duas possiblidades de registro e quantificação da carga, assim como
os resultados gerados.
Plataformas de força
Plataformas de força são construídas com base em sensores do tipo strain gauge, sensores que sofrem
deformações e as convertem em grandeza elétrica. A natureza de seu modo de transdução permite que as
plataformas sejam capazes de registrar as forças de reação do solo em seus componentes ortogonais, em
diferentes movimentos.
Muitas vezes não nos damos conta de que ao caminhar tocamos o solo depositando nele parte de nosso
peso corporal e amortecendo o impacto.
Essa analogia torna os movimentos de caminhar ou correr cada vez mais semelhantes aos movimentos de
aterrissagem após a execução de um salto.
Forças de reação do solo, forças aplicadas e suas componentes ortogonais.
Assim, observamos o uso comum dessa tecnologia na avaliação biomecânica da marcha e corrida e nas
diferentes manifestações de salto vertical e suas aterrisagens. Todos esses movimentos têm as forças de
reação do solo mensuradas em newtons (N), de modo que a variação no tempo durante o movimento
mensurado é normalmente específica.
Vejamos o exemplo da execução de um passo de uma caminhada ilustrado no gráfico a seguir. Percebemos
a presença de dois picos da força de reação do solo, o primeiro deles, com valor máximo superior ao
segundo, representa o toque do calcanhar no solo. O segundo, por outro lado, representa a parte anterior da
face plantar, relacionada especificamente à fase de propulsão, quando perdemos o contato do pé com o
chão.
Gráfico: Forças de reação vertical do solo para diferentes passos.
Em geral, as plataformas de força possuem capacidade de instalação versátil, possibilitando o uso tanto em
ambiente laboratorial como em ginásios destinados ao treinamento. Um exemplo de versatilidade está no
uso simultâneo de duas plataformas, possibilitando a regulagem da distância entre elas para diferentes
padrões antropométricos durante avaliação da marcha e da corrida.
Duas plataformas de força, permitindo a avaliação simultânea da fase de apoio.
A quantificação da carga proveniente do impacto da aterrissagem também pode ser realizada em esportes
artísticos. Nesse caso, as aterrissagens provêm de diferentes movimentos anteriores, considerados muitas
vezes complexos em termos de coordenação e especialização esportiva. A colocação da plataforma de
força no espaço físico deve ser feita de modo a permitir o registro do movimento que se deseja quantificar.
Esse mecanismo, seja no ginásio de treinamento ou em ambiente laboratorial, pode ser utilizado de
diferentes maneiras.
Atleta prestes a aterrissar na trave de equilíbrio.
Algumas instrumentações utilizam plataformas de força, distribuindo-as embaixo de aparelhos específicos,
como as traves de equilíbrio. Esse caso vai além da utilização da plataforma, pois temos uma superfície
muito pequena para aterrissagem enquanto o atleta executa os exercícios no aparelho. Na prática, temos a
influência dessa superfície, gerando um controle articular específico e consequentemente diferentes cargas
aplicadas se comparadas a aterrissagem em superfície regular. Nesse contexto, o tipo de superfície é um
fator influenciador na tarefa ou no gesto esportivo que envolve aterrissagem.
Em alguns desses esportes, o atleta deve realizar aterrissagem com dois desfechos básicos, o de
finalização ou de continuidade de sua apresentação. Em particular, essas estratégias são diferentes em
termos de controle das articulações, envolvendo naturalmente diferentes cargas aplicadas nas mesmas
articulações. Esse nível de complexidade se relaciona com a magnitude da carga gerada, assim como
outros fatores, como o tipo de superfície e o fator humano, associados à habilidade do atleta.
Saiba mais
Assim, temos nas plataformas de força a possibilidade de mensurar cargas essencialmente axiais,
identificando também suas componentes ortogonais. Todas as forças são relacionadas ao impacto do
membro inferior em diferentes movimentos como corrida, saltos e aterrisagens, sendo sempre registradas
em newtons.
Outro aspecto fundamental sobre o uso de plataformas de força é que o registro é representativo da posição
do centro de massa corporal em relação à base suporte. Esse fator possibilita explicar parte da variabilidade
associada ao fator humano na geração de cargas durante a aterrissagem. Por exemplo, há dependência
dessas cargas em relação à tarefa executada. Desse modo, podemos avaliar diferentes condições que vão
influenciar a variação de forças de reação do solo, em quatro condições:
Aterrissar e parar (LS);
Aterrissar e ir, ou continuar o movimento (LG);
Aterrissar em condições de fadiga (LGF);
Aterrissar com intenção de amortecimento (RF).
Gráfico: Força de reação do solo e a influência de diferentes tarefas.
Sensores inerciais
Nos últimos anos, a grande evolução da microeletrônica foi um dos fatores para o crescimento maciço de
tecnologias wearablesem diferentes esportes coletivos e individuais. De um modo geral, relógios e outros
equipamentos são capazes de medir aspectos como frequência cardíaca, distância percorrida ou número de
passos realizados numa caminhada. A maioria de equipamentos que fornece esse tipo de informação
emprega diferentes tecnologias para cada uma das informações obtidas. Por exemplo, para a verificação da
distância percorrida numa caminhada, normalmente utiliza-se uma conexão via GPS pelo próprio relógio ou
vinculado ao telefone celular, informando as coordenadas e a modificação de posição ao longo do tempo.
Conforme mencionado, outras informações provêm de outros sensores, sendo na maioria dos casos,
sensores inerciais.
Sensores inerciais são amplamente utilizados em diferentes esportes coletivos e
individuais e, quando fixados a um segmento corporal ou a qualquer objeto, não
modificam o momento de inércia do local em que estão fixados. São, em geral,
compostos por acelerômetros, giroscópios e magnetômetros, sendo os dois
primeiros considerados principais com relação ao tipo de informação mensurada.
Diferentemente das plataformas de força capazes de mensurar forças em newtons, a natureza desses
sensores é essencialmente cinemática, ou seja, eles são capazes de gerar medidas derivadas das
mudanças de posição ao longo do tempo. Nesse caso específico, a principal medida é a mensuração da
aceleração (m/s2) de um segmento corporal ao qual o sensor inercial é fixado. Essa mesma aceleração
juntamente com a massa do segmento representam a força aplicada, conforme a Terceira Lei de Newton.
Assim, na prática, registramos acelerações provenientes de impactos diversos sofridos durante movimentos
como correr, andar ou saltar e outros movimentos específicos de certos esportes, como chutar e socar.
Os sensores inerciais normalmente são utilizados em dois contextos principais relacionados ao local em
que o sensor é colocado no corpo do atleta:
Alocação dos sensores no segmento axial ou tronco;
Alocação dos sensores no esqueleto apendicular ou segmento distal.
Locais comuns de colocação do sensor nos esqueletos axiais e apendicular.
Sensores no esqueleto axial
Fixação no esqueleto axial é a forma a mais popular de utilização de sensores inerciais, principalmente
porque sua maciça utilização acontece em esportes coletivos como futebol e rúgbi, considerados esportes
de invasão. Sensores inerciais quando alocados no tronco do atleta em geral são utilizados em associação
com um GPS em um mesmo aparelho. Esse aparelho é colocado normalmente entre as escápulas e,
algumas vezes, na região do quadril, ambos na parte posterior do corpo.
Sensor inercial e GPS integrado no colete localizado entre as escápulas.
Essa forma de utilização, tradicional em esportes coletivos de invasão de espaço, também é adotada em
esportes de contato, devido às colisões corporais comuns ao esporte. Muito embora os choques corporais
sejam realizados muitas vezes no tronco, possibilitando um registro eficiente dos sensores colocados no
esqueleto axial, já sabemos que o atleta é submetido a diferentes forças ou aplicações de carga. Nesse
caso, todos os impactos provenientes, tanto de cargas axiais verticais como de cargas axiais horizontais
devido ao atrito do captor podal com a superfície de contato, propagam-se e são registrados pelo
acelerômetro. Entenda como isso acontece:
Índices
A utilização de um acelerômetro triaxial possibilita o desenvolvimento de índices com base na
captação de cada eixo do sensor.
Séries temporais
Esses índices em geral se baseiam em séries temporais, em que variações bruscas de aceleração entre
dois momentos diferentes representam um evento.
Tomemos como exemplo de utilização de sensores localizados no esqueleto axial a necessidade de
identificar a quantidade de vezes que um atleta salta durante um jogo ou treinamento de esportes como
futebol, handebol e até mesmo o voleibol. Nesse caso, é possível analisarmos a aceleração com base em
três eixos, a partir dos quais identificamos as diferentes fases do movimento de saltar:
Preparação ou carga
Momento de preparação para o salto. Nesta fase, os valores de aceleração resultante são altos.
Voo
Corresponde à fase aérea do salto, quando ocorre uma redução brusca dos valores de aceleração

resultante.
Aterrissagem
Na sequência, novamente uma elevação dessa aceleração resultante, correspondendo à fase de
aterrissagem.
O comportamento da aceleração resultante ao longo do tempo é um exemplo de como os sensores
empregam seus algoritmos, possibilitando o entendimento por parte do profissional de como os sensores
registram determinado movimento ou carga. A seguir, apresentamos um exemplo de um estudo que utiliza
variações de aceleração para detecção do salto em atletas de voleibol.
Gageler et al. (2015) realizaram um estudo com acelerômetro triaxial alocado entre as escápulas e com
base nas variações das acelerações contidas nos três eixos e foram capazes de identificar com eficiência
os saltos realizados pelos atletas. No gráfico abaixo, podemos verificar as variações no tempo dos três
eixos de aceleração (Anteroposterior, Vertical e Lateral) nas fases de preparação ou carga (linha pontilhada),
fase de voo (negrito) e aterrissagem (linha pontilhada) numa cinética muito semelhante à mencionada
anteriormente.
Gráfico: Aceleração registrada por acelerômetro triaxial durante salto de um atleta de voleibol.
Extraído de: GAGELER, 2015, p. 7.
Como podemos perceber, sensores inerciais usados sobre o esqueleto axial podem monitorar a variação de
aceleração relacionada a diferentes movimentos (como saltar, correr), em diferentes velocidades, assim
como detectar mudanças bruscas de velocidade relacionadas a frenagens e acelerações durante as
mudanças de direções. Cada um desses eventos está associado a um comportamento específico das
acelerações contidas nos três eixos. Além disso, alguns índices mencionados quantificam a aceleração
resultante se associando tanto com as forças axiais e de atrito que ocorrem no pé do atleta durante sua
movimentação como o impacto transmitido até o tronco e as movimentações corporais associadas.
Sensores no esqueleto apendicular
A segunda utilização de sensores inerciais refere-se à alocação no esqueleto apendicular, com objetivos de
mensuração do impacto sofrido por mãos e pés durante uma prática esportiva.
Medição de distâncias e avaliação da técnica de movimentos
Muito embora os sensores utilizados nos segmentos distais sejam capazes de fornecer medidas como a
distância percorrida, obtidas em sensores no esqueleto axial por meio do sensor GPS, a grande diferença
com entre eles é a possibilidade de avaliar aspectos técnicos do esporte.
Nesse contexto, pode-se utilizar o um sensor inercial das seguintes maneiras:
Na tíbia
Para se reconhecer a ação de chutar.
No segmento antebraço
Para se reconhecer o movimento de socar.
Embora cada utilização tenha suas peculiaridades, um aspecto em comum é o cuidado para que o sensor
durante ação não sofra um impacto, uma vez que o que se deseja é medir a transmissão do impacto e não
sofrer um.
Identi�cação da magnitude do impacto
O sensor também permite identificar a magnitude do impacto em valores de aceleração, sendo útil em
processos de retorno ao desempenho após uma lesão, por exemplo. Assim, podemos identificar as
modificações no impacto transmitido ao joelho em fase iniciais de reabilitação da corrida, comparando os
valores de magnitude com os registrados antes da lesão ou até mesmo com o membro inferior não
lesionado (direito x esquerdo).
Sensor inercial colocado na tíbia para mensuração do impacto.
Identi�cação de padrões cinemáticos
Ainda nesse contexto, outro aspecto promissor é a possiblidade de identificar padrões cinemáticos das
fases da marcha e corrida, como comprimento da passada, tempo de contato e tempo de voo. Essa
utilização em ambiente de treinamento possui grande validade ecológica por estar no local natural de
desempenho,representando também grande potencial para o de recuperação do atleta após lesão.
Resumindo
Como vimos, sensores inerciais possuem dois modos de utilização. A utilização em segmentos distais se
relaciona à quantificação do impacto e a algumas ações ou gesto técnicos. Em contrapartida, a utilização
do sensor alocado no esqueleto axial se relaciona com uma gama mais variada de possibilidades de
monitoramento, envolvendo o deslocamento do centro de massa corporal no espaço.
Ambas as utilizações têm sua importância, uma vez que a modificação do momento de inércia em
diferentes articulações se dá por meio de forças musculares diversas, implicando um evento de aplicação
de cargas provenientes tanto da força muscular quanto do impacto de estruturas distais.
Cargas aplicadas ao sistema musculoesquelético
Neste vídeo, o especialista Bruno Jotta da Costa explica os sistemas de quantificação de cargas aplicadas
ao sistema musculoesquelético.

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Os sensores wereables são amplamente utilizados em esportes como futebol e rugby. Parte disso se
deve à grande evolução da microeletrônica, possibilitando a mensuração de diferentes informações por
um dispositivo de pequeno volume e massa.
Considerando o contexto mencionado, por que é importante que o sensor seja pequeno e leve?
Parabéns! A alternativa B está correta.
Sensores wearables usados em esportes coletivos devem ser leves e possuir dimensão reduzida para
que não altere o movimento do atleta, uma vez que são alocados no seu corpo. Assim sensores
A Isso colabora para um melhor funcionamento do sensor GPS.
B Isso colabora para que o momento de inércia não se modifique.
C Isso colabora para que o momento de inércia se modifique.
D Isso colabora para mensuração da força realizada pelo sensor.
E Isso não colabora para mensuração da força realizada pelo sensor.
inerciais não podem influenciar na movimentação do segmento corporal avaliado e as forças aplicadas
a esse segmento.
Questão 2
Um treinador de futebol orienta seus jogadores para que formem um fila e sequencialmente treinem
finalizações ao gol. Imaginemos agora que o treinador está interessado em saber o total de chutes que
o atleta deu e a aceleração ou velocidade no momento de contato com a bola por meio de um sensor
wearable.
Considerando o uso de sensores wearables no esqueleto apendicular mencionado, pode-se afirmar que:
Parabéns! A alternativa D está correta.
Sensores wearables podem ser usados no esqueleto axial ou no esqueleto apendicular. Quando usado
neste último, pode-se reconhecer gestos técnicos como chutar socar e mensurar a velocidade ou
aceleração no movimento, devido ao uso de acelerômetros, sem necessidade alguma de sensor GPS. O
A
Sensores wearables colocados no esqueleto axial são capazes de fornecer essa
informação.
B
Sensores wearables colocados no esqueleto apendicular não são capazes de fornecer
essa informação.
C
Sensores wearables colocados no esqueleto apendicular obtêm essa informação por
meio de seus GPSs.
D
Sensores wearables colocados no esqueleto axial não são capazes de fornecer essa
informação.
E
Sensores wearables colocados no esqueleto axial não possuem GPS, mas fornecem
essa informação..
sensor GPS normalmente é empregado na colocação de sensores wearables no esqueleto axial e
relacionado com velocidades de deslocamento do centro de massa do atleta e não no reconhecimento
ou qualificação de gesto esportivo.
3 - Propagação do impacto e seus efeitos no corpo
humano
Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar a propagação do impacto e seus efeitos
sobre o corpo humano.
Impacto e sua propagação no sistema
musculoesquelético
Buscando o entendimento sobre lesão musculoesquelética, seus mecanismos e a possibilidade de registro
de cargas aplicadas, estabelecemos exemplos que, em sua maioria, envolvem uma aplicação de carga,
algumas vezes proveniente de impactos.
Neste contexto, impactos são choques de estruturas corporais em outras, ambas com seu grau de rigidez,
sendo capazes de se propagar como ondas mecânicas pelas estruturas corporais. Veja a seguir a relação
entre impacto e repetição:
Impacto
O impacto constitui um fenômeno cotidiano e repetitivo, como observa-se no impacto do calcanhar ao
tocar o solo durante a caminhada.

Repetição
A repetição caracteriza o impacto como um tipo de carga de natureza dinâmica, isso significa
reconhecer que ele participa de vários movimentos.
Os músculos, por exemplo, ao movimentarem uma articulação, tracionam os ossos por meio dos tendões,
de modo que esses ossos sofrem ações de outras forças que se somam para o estabelecimento força
resultante sobre articulação. Nesse caso, ao considerarmos as consequências em relação a forças
aplicadas a diferentes tecidos, podemos entender que o impacto faz parte de diferentes movimentos,
configurando-se como uma carga dinâmica proveniente da movimentação humana e do ambiente em que
ela é executada.
Saiba mais
O impacto obtido pelo captor podal (pé) decorrente do choque contra o solo se propaga de forma
ascendente, percorrendo diferentes estruturas corporais, chegando até os ossos do crânio. Muito embora
esse fenômeno não seja percebido, a velocidade de transmissão dessas ondas mecânicas é extremamente
rápida comparável até mesmo à velocidade de transmissão do impulso nervoso.
Essa propagação ocorre principalmente nos ossos devido a sua maior rigidez e função estrutural, tornando-
os os principais responsáveis pela propagação do impacto em diferentes segmentos corporais.

Possíveis locais de colocação do sensor com redução da aceleração no sentido ascendente.
Uma vez que o tecido ósseo está sempre próximo aos tecidos muscular, fibrocartilaginoso, entre outros,
temos a propagação do impacto em diferentes tecidos musculoesqueléticos.
Considerando o sentido ascendente da propagação do impacto, a utilização de sensores inerciais colocados
na tíbia, pelve e cabeça tem possibilitado identificar uma redução de valores médios de aceleração no eixo
vertical do instrumento. Nesse contexto, diferentes articulações possuem uma função de redução ou
atenuação do impacto transmitido de “baixo para cima” quando nos movimentamos, por exemplo, durante a
corrida.
Parece tentador associar sempre a geração de um impacto com movimentos envolvendo o membro inferior
durante nosso deslocamento, no entanto, não sofremos impacto somente ao caminhar, correr ou saltar.
Muitos esportes em que predominam movimentos do membro superior são
capazes de gerar impactos variados que se propagam em nosso corpo. Muito
embora tenhamos que assumir nossa limitação na mensuração desse evento físico,
temos nos sensores inerciais, mais uma vez, a capacidade de usar a aceleração
como indicador de carga geradora proveniente do impacto.
No tênis, por exemplo, podemos utilizar os sensores inerciais localizados nas raquetes para mensurar a
aceleração em três eixos durante o golpe na bola. A partir da mensuração, observa-se que, por menor que
seja a massa da bola, ocorre um impacto não só na raquete, mas também nas articulações do punho e do
cotovelo. A seguir, apresentamos a ilustração do estudo de Wei et al. (2006) em que a aceleração é
registrada pelos acelerômetros fixados por meio de bandas elásticas, utilizando-se também do registro do
sinal eletromiográfico (EMG) dos músculos extensores e flexores do cotovelo.
Gráfico: Acelerações na raquete, punho e cotovelo, além do EMG dos extensores e flexores do punho.
Extraído de: Wei et al., 2006, p. 4.
Observe na imagem que os valores de aceleração no momento do impacto com a bola são maiores na
raquete quando comparados aos valores registrados pelos acelerômetros colocados na articulação do
punho e do cotovelo. Esses achados são mais indicativos de que a carga com natureza de impacto não
surge somente nos movimentos de locomoção. Além disso, até mesmo no membro superior pode-se
observar uma transmissãode impacto em que as propagações das ondas mecânicas reduzem sua
magnitude à medida que se aproximam do tronco. Essa evidência sugere que também no membro superior
as articulações possuem a função de amortecer as ondas de choque.
A capacidade de amortecimento das articulações parece estar relacionada a estratégias em diferentes
esportes. Observe, a seguir, o caso do tênis:
Maiores impactos
No caso do tênis, especula-se que a manutenção de elevados níveis de força de preensão manual ao
segurar a raquete, após o impacto com a bola, pode proporcionar maior transmissão de impacto às
articulações do punho e do cotovelo. Temos então a possibilidade de modificar a técnica do atleta,
resultando na redução dos impactos transmitidos às articulações do cotovelo e do punho.
Cautela na correção técnica
Apesar dessa possiblidade, devemos ter cautela em sua aplicação, uma vez que alguns aspectos
técnicos individuais dos atletas estão intimamente ligados ao bom desempenho esportivo, mesmo que
associado a alguma carga dinâmica específica.Por esse motivo, muitos aspectos técnicos de correção
são aplicáveis aos atletas em formação.

Ao pensarmos nessas ondas de choque se propagando em nosso corpo, devemos considerar como essa
transmissão ocorre na coluna vertebral, que é responsável pela propagação das ondas de impacto oriundas
do membro inferior. Em específico, atribui-se à coluna lombar grande capacidade de atenuação desse
impacto. Nesse caso, observamos maiores valores de aceleração em acelerômetros alocados no início da
coluna lombar e uma redução dos valores de aceleração conforme ascendemos em direção ao crânio.
A capacidade de atenuação da propagação do impacto atribuída às articulações está relacionada às
propriedades viscoelásticas do sistema musculoesquelético. Músculos, tendões e cartilagens possuem
diferentes capacidades de deformação em regime elástico, então é de se esperar que componentes como
discos vertebrais, meniscos, tendões em deformação colaborem de forma significativa no amortecimento e
na propagação do impacto.
Re�exão
Ao considerarmos o impacto como uma carga dinâmica, devemos avaliar a magnitude e frequência de
aplicação dessas cargas. Muitas vezes eventos que provocam lesões estão associados a uma aplicação de
força de elevada magnitude em curto espaço de tempo. Esse evento é considerado impulsivo e geralmente
de natureza traumática. Eventos de frequência elevada, no entanto, mesmo que numa magnitude reduzida,
podem ser considerados determinantes para adaptação em longo prazo.
Como visto, a propagação do impacto nas estruturas corporais apresenta particularidades com relação ao
contato das superfícies que se chocam. Nesse contexto, parece haver uma influência de diferentes tecidos
na função amortecedora que as articulações desempenham durante a propagação do impacto registrada
por sensores acelerômetros inerciais.
A seguir, vamos entender um pouco mais o resultado imediato do impacto em nosso corpo e os efeitos em
longo prazo.
Efeito do impacto e cargas aplicadas ao sistema
musculoesquelético
A aplicação de cargas ao corpo ocorre de forma generalizada quando nos movimentamos, variando de
acordo com alguns aspectos. Sabemos que pela definição clássica da lesão, dano tecidual proveniente da
incapacidade de tolerância de carga ou estresse, tendemos a associá-la com a aplicação de carga.
Não podemos, no entanto, estabelecer uma relação direta entre a aplicação de carga e uma lesão. Entenda:
Tecido ósseo
Um dos maiores exemplos da capacidade de adaptação é o sistema ósseo, uma vez que é bem conhecida
sua responsividade a estímulos de natureza mecânica, devido à sua função de sustentação. Observamos o
aumento da densidade mineral óssea associada a impacto, força ou cargas com diferentes modos de
aplicação presentes em nossos movimentos.
A adaptação tecidual ocorre em diferentes frequências e magnitudes de aplicação de cargas, principalmente
por causa de sua natureza dinâmica e das cargas associadas à locomoção. Além disso, essas adaptações
não se limitam ao tecido ósseo, pois tendões e cartilagens articulares se adaptam, ainda que de forma
menos responsiva, se comparados ao tecido ósseo.
Diferenças na capacidade de adaptação tecidual
Um dos motivos para tanto são as diferenças na capacidade de adaptação tecidual de
músculos, ossos, tendões e cartilagens às cargas aplicadas.
Adaptação positiva ou negativa
Devemos considerar a carga de treinamento aplicada aos movimentos como um estímulo
possível de adaptações positivas e negativas, de acordo com a funcionalidade e saúde do
indivíduo.
Cartilagem articular
As cartilagens articulares são capazes de se adaptar à aplicação de carga, entretanto, muitas vezes essa
adaptação está relacionada ao desgaste por uso excessivo. Apesar disso, a aplicação mínima de carga em
uma cartilagem articular é considerada um facilitador da homeostase, colaborando para o exercício de sua
função protetora e estrutural.
Veja mais sobre a adaptação das cartilagens e intolerância às cargas aplicadas:
Adaptação a diferentes cargas
Em geral, as cartilagens estão adaptadas a suportar cargas diferentes nos movimentos cotidianos e
com magnitude moderada.
Intolerância por degeneração
Por outro lado, um nível mínimo de degeneração da cartilagem pode levar à intolerância desse tipo
comum de carga aplicada.
Tendões
Os tendões estão suscetíveis a adaptações mais lentas quando comparados aos ossos. Em geral, verifica-
se aumento da atividade fibroblástica nos tendões, acarretando maior depósito de colágeno. Como
resultado, observa-se uma maior capacidade de resistência a forças tensivas associadas ao aumento da
seção transversa do tendão, o que se considera uma adaptação crônica proveniente da aplicação de cargas.

Com isso, podemos concluir que níveis adequados ou mínimos de carga são
necessários para a manutenção da densidade mineral óssea e de tolerância à carga
de diferentes componentes do tecido musculoesquelético.
Por outro lado, alguns movimentos, seja por um evento de natureza caótica com alta magnitude de carga
aplicada em pequeno espaço de tempo, ou até mesmo aplicação crônica de carga em alta frequência e
baixa magnitude, podem provocar lesões agudas ou crônicas, respectivamente. Um exemplo relacionado ao
desenvolvimento crônico de lesões é a osteoartrose. Essa lesão consiste na degeneração progressiva da
cartilagem associada a problemas na homeostase, sendo relacionada tanto a fatores biomecânicos como
bioquímicos. Essa dualidade faz com que o nível de sintoma esteja associado a diferentes aspectos, como a
magnitude da carga e modo de aplicação predominante; assim como a outros aspectos menos
relacionados ao evento físico, como suscetibilidades estruturais, nível de instabilidade articular e baixos
níveis de força muscular. Nesse contexto, é difícil identificar o nível de carga adequado com fins de reduzir o
desenvolvimento de osteoartrose, do mesmo modo que outras lesões articulares de diferentes mecanismos
e modos de aplicação de carga.
Saiba mais
Outras lesões podem estar relacionadas a movimentos do membro superior em modos diferentes de
aplicação de carga, como acontece no beisebol. Nesse esporte, o movimento de arremesso apresenta uma
carga aplicada especificamente na articulação do cotovelo, associada à transição das fases de movimento
da bola e à aceleração final. Nesse momento, o cotovelo sofre um torque compatível com um deslocamento
em valgo, mas tem de contrapor esse torque com a ação de músculos e tecidos periarticulares como
tendões e cápsulas.
eriarticulares
Tecidos que rodeiam a articulação.
A extensão do cotovelo com o torque em valgo faz com que cargas tensivas sejam aplicadas nos
ligamentos da região medial do cotovelo, assim como causa impactos na parte medial do olécrano, no
olecrânio, entre outros. Percebe-se mais uma vez a sobreposição de diferentes cargas aplicadas a uma
articulação durante um movimento específico. Na verdade, os impactos acontecemtanto em movimentos
de cadeia fechada quanto aberta, sendo esses últimos em geral associados à tolerância de cargas tensivas
excêntricas aplicadas a tendões e cápsulas.
Essas cargas são relacionadas à necessidade de controle ou frenagem do movimento após uma contração
excêntrica vigorosa.
O mecanismo de lesão normalmente é associado ao volume total de arremesso por atleta, e a velocidade de
cada arremesso é mensurada por sensores inerciais wearables.
Assim, conseguimos mais uma vez quantificar informações que indicam a aplicação da carga em termos de
frequência e amplitude e observar as variações relacionadas aos diferentes treinamentos e competições.
Fase final de levantamento, quando o cotovelo é submetido a um estresse em valgo.
Mecanismos de lesão semelhantes aos observados no arremesso de beisebol estão presentes em outros
movimentos que utilizam contrações excêntricas de alta velocidade seguidos por contrações concêntricas
potencializadas pelo componente elástico da junção miotendínea. Um exemplo anteriormente utilizado é o
número total de saltos de um jogador ou até mesmo o número de finalizações a gol praticadas por um
jogador de futebol.
Nas diferentes lesões, temos que considerar que em algum momento a tolerância ao estresse físico no
modo de aplicação de carga não foi suficiente, ocorrendo a lesão.
Saiba mais
Em termos metodológicos, poucos estudos tentam evidenciar o quanto a aplicação de carga levou à
prevenção da lesão devido ao fato de a lesão ser codificada como um evento binário de “sim ou não”. Esse
problema metodológico tem inspirado cautela na interpretação de causa e efeito da relação carga e lesão,
pois os estudos em geral são observacionais e, por mais que tenham período de coorte, muitas vezes não
se tem controle pleno da intervenção aplicada ao longo do período. Apesar disso, devemos escolher a
magnitude e frequência de aplicação de forma a minimizar seus efeitos negativos, utilizando mecanismos
de controle de carga disponíveis e adequados ao atleta.
Outro aspecto é que, quando somos submetidos a uma carga, a magnitude e a transmissão são atenuadas
pelas articulações. Essa importante função pode implicar em dano tecidual uma vez que nesse momento a
estrutura com regimes elásticos diferentes podem apresentar menor tolerância ao estresse, proporcionando
uma lesão.
A capacidade de atenuação das articulações é influenciada por aspectos como a técnica individual do atleta
e a presença ou não de fadiga. Particularmente, sobre esse último aspecto, tem-se observado menor
capacidade de atenuação de carga em condições de fadiga. Nesse contexto, à medida que nos exercitamos
e desenvolvemos fadiga, observamos o aumento de aceleração proveniente da propagação de impactos em
diferentes articulações, o que pode ser considerado um indicativo de maior estresse imposto ao sistema
musculoesquelético em comparação às condições em que não há fadiga.
Como podemos perceber, cargas variadas são aplicadas ao sistema musculoesquelético, gerando
adaptações necessárias e outras indesejáveis para nossa funcionalidade e saúde. Essas adaptações podem
ocorrer de forma crônica ou aguda, como por exemplo, aumento da resistência de um tendão após semanas
de treinamento ou a simples inflamação aguda de um impacto recém-ocorrido e associado a um nível
mínimo de lesão tecidual.
Prevenindo ou minimizando o efeito das lesões
Construindo uma estratégia
Sabemos que a lesão é uma consequência desagradável e sua geração está de alguma forma associada à
aplicação de diferentes cargas que muitas vezes são aplicadas por profissionais que não desejam
machucar seus atletas. Essas cargas são aplicadas pela prescrição de treinamentos e pelo desempenho
competitivo.
Veja a importância de uma rotina de treinamento adequado e uma equipe multidisciplinar no treinamento:

Rotinas de treinamento adequado
As rotinas de treinamento, devido à demanda por movimentos específicos, podem submeter o tecido
musculoesquelético a diferentes estresses físicos, de natureza vetorial. Para minimizar o
desenvolvimento de lesões, como também colaborar com a recuperação funcional do atleta, a
prescrição de treinamentos adequados é fundamental.


Equipe multidisciplinar
É importante destacar, no entanto, que a efetividade dessa tarefa depende da atuação de diferentes
profissionais do meio esportivo.Com isso, observa-se que os efeitos da aplicação de carga no sistema
musculoesquelético no âmbito esportivo são, na verdade, efeitos do treinamento total planejado e
prescrito.
Programas de prevenção de lesões como estratégias amplas muitas vezes apresentam uma efetividade
duvidosa, pois aspectos culturais de cada esporte podem reduzir a efetividade. Por exemplo, a motivação de
um atleta de modalidade artística em relação ao espetáculo ou à coreografia pode levá-lo a negligenciar
sintomas. Essa perspectiva em esportes coletivos é mais rara, normalmente acarretando a real
possibilidade de redução da carga de treinamento, dependendo da importância do jogo semanal.
Essas comparações nos permitem entender os diferentes contextos que podem
estar relacionados à mesma lesão. Por esse motivo, aspectos contextuais e
culturais são propostos como processos que devem ser considerados nas
estratégias de prevenção de lesão. Na prática, alguns aspectos culturais
específicos do esporte podem inviabilizar, por exemplo, a parte da preparação física
desenvolvida com o treinamento neuromuscular, enquanto atletas de outros
esportes podem, por tradição de uso, ser mais receptivos a esse tipo de
treinamento complementar e importante.
Assim, uma estratégia de prevenção e recuperação de lesões por muitas vezes não consegue realmente ser
implementada ou obter sucesso por causa de aspectos individuais, coletivos, de ordem cultural e ampla
dentro de uma modalidade esportiva. Portanto, devemos considerar esse aspecto na proposição de uma
possível estratégia, visando à prevenção ou minimização de lesões, obedecendo a uma sequência de
passos ou ações possíveis de serem implementadas:
Passo 1
Avaliação dos aspectos individuais, coletivos e da cultura esportiva dos atletas, como também da relação
deles com esse contexto. Em ambientes de alto desempenho esportivo, o profissional de psicologia
normalmente fornece dados detalhados sobre esses aspectos que auxiliam na elaboração de
questionários e entrevistas para avaliação dessas informações. Por outro lado, a maioria dessas
informações pode ser obtida por meio de uma anamnese, dentro de um simples protocolo de avaliação
morfofuncional.
Passo 2
Com base nas informações do passo 1 e com a expectativa em termos de objetivo planejado, é
necessário avaliar a efetividade de se implantar uma estratégia com fins de prevenção ou minimização
dos efeitos das lesões.
Será que os aletas vão aderir?
O atleta terá paciência real para executar?
Se as respostas forem positivas, deve-se avançar.
Passo 3
Estabelecer a extensão do problema, o que na prática é feito por meio de diagnóstico médico, exames e
laudos. Com base em estudos epidemiológicos, é possível determinar, por exemplo, a relação da
severidade ou mensurar no atleta a prevalência da lesão em questão. Essas informações fornecem um
entendimento maior do grau da severidade e do possível tempo de recuperação necessário caso o
indivíduo venha a se lesionar. Trata-se de um conhecimento inicial necessário ao planejamento, que de
certa forma é sempre específico em relação à lesão-alvo.
Passo 4
Juntamente com o passo 5, é o passo mais relevante para o contexto biomecânico. Nesta etapa, devemos
estabelecer o mecanismo de lesão, considerando o paradigma de causa e efeito na análise. O mecanismo
de lesão deve ser analisado a partir do conhecimento sobre os mecanismos básicos e os diferentes
modos de aplicação da carga. Além disso, devemos realizar uma revisão mais ampla sobre aspectos
epidemiológicos que possam evidenciar um mecanismo comum e predominante em determinado
esporte.
Passo 5
Elaborare introduzir estratégias de prevenção e minimização com base em uma série de ações práticas
galgadas no conhecimento biomecânico sobre a premissa de condicionar o atleta à exposição da carga
específica associada à lesão. Nesse contexto, utilizam-se testes e monitoramentos de carga e são
propostos treinamentos com o objetivo de melhorar o condicionamento e atenuar a suscetibilidade à
geração de lesão, como os evidenciados durante a geração de fadiga. Trata-se de fato de um conjunto
amplo de procedimentos planejados e executados, merecedores de atenção especial.
Passo 6
Consiste em repetir o passo 1 como meio de avaliar a efetividade do procedimento. Em termos práticos,
os atletas são submetidos a cargas naturalmente impostas por fatores de calendário e treinamento e,
após um período de intervenção, verifica-se a incidência da lesão no grupo. Nesse momento, espera-se
que seja percebido um número reduzido de lesões esportivas em comparação a percentuais relatados
pela literatura corrente ou em relação a outro momento próximo de desempenho ou temporada da equipe
ou atleta.
Considerando os passos propostos, com base em recomendações justificáveis e itens comumente
utilizados, podemos evidenciar a importância de profissionais diferentes e com atuações sobrepostas.
Nesse contexto, identificamos também a necessidade de explorar ainda mais, separadamente, os passos 4
e 5. Tal necessidade ocorre porque boa parte da atuação nas etapas da estratégia está galgada em
aspectos biomecânicos, o que nos possibilita propor uma abordagem teórico-prática por meio de utilização
de exemplos ou estudos de caso.
Aplicando a estratégia
Identificaremos mais detalhes acerca dos passos quatro e cinco, uma vez que os procedimentos contidos
nessas duas etapas são essenciais e possíveis de serem utilizados como exemplificação teórico-prática
sobre o que estudamos.
Esse aspecto está relacionado com o conhecimento biomecânico necessário a diferentes profissionais
envolvidos no planejamento de programas com fins de prevenção de lesões.
A identificação do mecanismo de lesão e a prescrição de treino para o indivíduo supostamente exposto ao
mecanismo são duas informações primordiais.
A importância desses elementos está relacionada às diferentes perspectivas que envolvem a lesão
musculoesquelética esportiva, motivando o aprofundamento de conhecimento ao longo da evolução de
estudos e de metodologias associados ao tema.
Nesse contexto, devemos observar como as cargas de treinamento podem se relacionar com os
mecanismos de lesão e propor procedimentos num programa de exercícios dessa natureza.
Identi�cação do mecanismo de lesão
Primeiramente, necessitamos reunir informações sobre a lesão que desejamos prevenir, mesmo
considerando a natureza multivariada da lesão, o que dificulta qualquer tomada de decisão. Além disso, vale
a ressalva de que, ao analisar o que é reportado como mecanismo de lesão qualquer, é comum adotarmos o
paradigma de relação causa e efeito, especificamente sob o ponto de vista biomecânico.
Ao analisarmos o mecanismo de lesão, devemos observar se a circunstância de ocorrência da lesão possui
modos de aplicação de carga identificáveis e previamente descritos pela literatura. Desse modo, é possível
estabelecer hipoteticamente a melhoria de um aspecto neuromuscular ou biomecânico que possa tornar o
atleta menos suscetível ao mecanismo de lesão identificado.
Dentro do processo relacionado à identificação de lesão, temos a necessidade de identificar se dispomos de
algum teste ou monitoramento que torne possível avaliar os graus de exposição a cargas consideradas
nesse mecanismo de lesão.
Essa necessidade justifica o uso em grande escala de sensores wearables em esportes coletivos, já que
controlam a carga com fins preventivos, e também estão voltados à melhoria do desempenho esportivo.
Sobre esse aspecto, há de se ter cuidado, pois, apesar do uso extensivo de métricas derivadas desses
sensores, a validade delas com relação aos diferentes danos teciduais é sempre particular.
Outro aspecto é que ainda temos compreensão limitada em relação aos modos de aplicação de carga no
mecanismo de lesão. Essa limitação se dá de forma natural, fazendo com que estudos envolvendo modelos
matemáticos sejam a base do conhecimento. Dessa forma, necessitamos ter cautela ao considerar que
determinada variável pode estar associada a um mecanismo de lesão em particular.
Devemos analisar o movimento da lesão cientes de algumas limitações dos instrumentos e medidas
derivadas usadas nos testes e monitoramentos, utilizando recursos diversificados para complementar
achados, inclusive a experiência. Nossa única obrigação é a utilização coerente do conhecimento sobre o
mecanismo de lesão e o significado de medidas derivadas de testes e monitoramentos, sabendo interpretá-
las.
Atenção
Apesar dessas limitações, temos motivos para usar mecanismos de controle de carga pensando em lesões.
A explicação para isso é que ao usar controles de carga externa ou aplicada, podemos identificar o nível
máximo desempenhado por cada atleta, o que permite distribuir as cargas em percentuais desse nível
máximo individual, assim como organizar o processo de aplicação dessas cargas ao longo de um período
de tempo. Com isso, podemos perceber a que ponto o atleta excedeu sua carga máxima ou média e planejar
estratégias de recuperação ou estabelecer ausência de treinamento em um turno ou dia.
Outro aspecto é que boa parte da carga aplicada ocorre durante o treinamento técnico, possibilitando a
integração e o planejamento de situações técnicas que podem influenciar diretamente o nível de exposição
à carga. Se considerarmos o excesso dos calendários competitivos e as particularidades de algumas
modalidades de treinamento, temos motivos adicionais para utilizar o controle das cargas relativas
percentuais de um atleta ao longo de uma temporada.
Dessa forma, devemos utilizar o controle de carga para prevenir lesões, pelo fato de esses procedimentos
ajudarem na compreensão de como diferentes atletas respondem às cargas aplicadas, mesmo que
reconheçamos as limitações metodológicas dos métodos.
Prescrição de treinamento
Uma vez identificado o mecanismo de lesão, devemos considerar os métodos de treinamento empregados
na parte preventiva. Embora nosso foco esteja no aspecto lesivo, os programas de condicionamento físico
aplicados a diferentes esportes coletivos e individuais utilizam métodos de treinamento cardiorrespiratórios
e neuromusculares. Devido à sua maior ênfase em programas voltados a aspectos lesivos e à nossa
abordagem biomecânica, focaremos o treinamento neuromuscular.
Porém, é relevante entender a importância dos métodos cardiorespiratórios dentro do contexto abordado:
Inserido em programas preventivos
Vale ressaltar que correr ou pedalar, normalmente consideradas práticas esportivas com base
fisiológica cardiorrespiratória, são atividades incorporadas a programas preventivos.
Auxilia nos aspectos musculares
Desse modo, embora nossa abordagem seja mais direcionada a aspectos musculares, não devemos
excluir a utilização de métodos cardiorrespiratórios.
Podemos utilizar componentes do treinamento neuromuscular com exercícios visando ao desenvolvimento
ou à manutenção de força, agilidade, equilíbrio e coordenação. Assim, são utilizados tanto treinamento de
força tradicional como também exercícios simples de equilíbrio em que o atleta apoia um dos pés por pouco
segundos. Essa gama de possibilidades está relacionada aos recursos disponíveis em termos de ambiente,
material e equipamento. Esse fator é potencial para elaboração de estratégias minimalistas que abordem os
aspectos aos quais os exercícios são direcionados.
Como exemplo podemos mencionar o programa FIFA+11, que foi desenvolvido para
o futebol. O programa deve ser introduzido como aquecimento ou ser anterior ao
treino principal, sendo um exemplo de minimização, devido aos exercícios
executados necessitarem apenas do campo

Continue navegando