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2ºAula
NORMAS FUNDAMENTAIS DO 
PROCESSO - BASE PRINCIPIOLÓGICA
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de: 
• refletir a respeito dos princípios constitucionais processuais apresentados;
• desenvolver uma visão crítica acerca da importância dos princípios no ordenamento jurídico brasileiro;
• compreender o ordenamento jurídico brasileiro como uma estrutura orgânica de normas.
Queridos(as) alunos(as),
Na Constituição Federal de 1988 encontram-se os princípios 
processuais fundamentais. Esta aula tem como objetivo estudá-los para 
melhor compreensão do(a) aluno(a) acerca do tema e da devida importância 
destes princípios para o Direito Processual.
Compreenderemos que todas as normas processuais, seja na 
sua criação ou na sua aplicação, devem ser analisadas pelos princípios 
processuais fundamentais, dessa forma, a norma estará em conformidade 
com a textura processual adequada no nosso ordenamento jurídico.
Boa aula!
Bons estudos!
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Direito Processual I 14
1. 
Seções de estudo
Normas fundamentais do Processo e sua importância
1 - Normas fundamentais do 
processo e sua importância
Fonte: autora.
O quadro sinótico acima reflete a amplitude do Princípio do 
Devido Processo Legal (Due Process of Law). Dele são derivados 
diversos outros princípios processuais constitucionais. Não 
se trata de um rol taxativo, pois, há outros princípios não 
elencados acima.
Pois bem, vamos à análise de cada um dos princípios de 
nossa lista.
Só para relembrar:
Vamos conversar um pouco sobre o que significa 
esse vocábulo que usamos tanto em nosso cotidiano:
os demais; o início de uma ação ou processo: princípio 
dos tempos; no princípio do trabalho era mais feliz. 
podendo dar a ideia de começo, início, origem, ponto de partida, ou, 
para algo. Portanto, etimologicamente, o termo princípio origina-se de 
principal, primeiro, demonstrando origem de algo, de uma ação ou de 
um conhecimento.
objetivos para estas ciências.
No Direito, os princípios dão a mesma ideia mencionada acima, 
tratando do sentido de fornecer rumos, constituindo verdadeiros 
base e começo de tudo, os mesmos nem sempre tiveram, no Direito, 
tempo, os princípios passaram a fazer parte dos sistemas jurídicos 
ganhando força normativa.
Fonte: Texto disponível em: <https://livros-e-revistas.vlex.com.br/vid/conceito-
principio-uma-quest-criterio-216631573>. Acesso em: 16 de Nov 2018.
1.1 - Princípio do devido processo 
legal (due process of law)
Origem: Magna Charta Libertatum de João Sem Terra, em 
1215, na Inglaterra, ao se referir à law of the land em seu artigo 39, 
apesar de não ter literalmente escrito o termo “devido processo 
legal”.
Objetivos da Magna Charta: Limitar o poder do Rei 
(Monarquia), estabelecer uma Assembleia, outorga de direitos 
ao clero e à nobreza, dentre outros.
Desenvolvimento: a nomenclatura de como é conhecido 
hoje, “devido processo legal”, surgiu no reinado de Eduardo III, 
na Inglaterra, no ano de 1354, no documento chamado Statute 
of Westminster of the Liberties of London. A partir de então essa 
cláusula foi incorporada na maioria das cartas constitucionais 
do Ocidente, sendo um reflexo do início da expansão da 
jurisdição constitucional.
Devido Processo Legal: Genericamente, o princípio do 
devido processo legal caracteriza-se pelo trinômio vida-liberdade-
propriedade, o que vale dizer, tem-se direito à tutela àqueles bens 
da vida em seu sentido amplo e genérico. De fato, tudo o que 
disser respeito à tutela da vida. Liberdade ou propriedade está 
sob a proteção do due process of law (NERY JR, 2016).
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Importante ressaltar que quando falamos de liberdade, 
não nos referimos apenas à liberdade de locomoção (ir e vir), 
mas também, à liberdade de opinião, de imprensa, de religião, 
de reunião e de convicção. 
E com essa inspiração, a Constituição Federal de 1988 
elaborou a redação do artigo 5º, inciso LIV:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País 
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes:
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o 
devido processo legal; 
Fonte: autora.
1.2 - Devido processo legal material 
(substantive due process of law)
 A Cláusula do devido processo legal não abarca somente 
a tutela processual, mas sobretudo a tutela material. Importante 
esse esclarecimento para a compreensão do processo como um 
todo.
Com o passar do tempo, o conceito do devido processo 
legal foi se modificando, no sentido de expandir seu raio de 
atuação, de modo a tutelar substantivamente os direitos da 
pessoa humana, consagrado pelo Princípio da Dignidade da 
Pessoa Humana.
O devido processo legal substancial é considerado mais 
abrangente que o formal, pois é um denominador comum 
em todos os ramos do direito: civil, trabalhista, constitucional, 
previdenciário, empresarial, tributário, penal, entre outros.
A garantia do Substantive Due Process of Law está associado à 
garantia que o cidadão tem de não ter Leis, ou qualquer que seja 
a espécie normativa, que ofendam suas garantias fundamentais, 
como a: vida, liberdade, propriedade, educação, lazer, enfim, 
todas os direitos e garantias constitucionais.
Assegura ainda que não sejam prolatadas decisões 
materialmente injustas, caprichosas, desarrazoadas, ainda que 
aparentemente amparadas pelo texto legal. As decisões devem 
ser pautadas buscando sempre o norte constitucional, de acordo 
com a somatória de princípios que orientam todo ordenamento 
jurídico, firmando organicidade ao sistema com decisões justas 
e coerentes.
1.3 - Devido processo legal processual 
(procedural due process of law)
Trata-se da possibilidade efetiva de a parte ter acesso à 
justiça, deduzindo pretensão e defendendo-se do modo mais 
amplo possível, dentro de um processo cujo procedimento e 
cujas consequências tenham sido previstas em lei (WAMBIER; 
TALAMINI, 2016).
Aqui, visualizamos as garantias processuais das partes: 
o contraditório e a ampla defesa, a paridade de armas, a 
imparcialidade do julgador, todo trâmite garantido pela lei e que 
deve ser respeitado.
1.4 - Princípio da isonomia ou da 
igualdade
[...]“A regra da igualdade não consiste senão em 
quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida 
em que se desigualam. Nesta desigualdade social, 
proporcionada à desigualdade natural, é que se 
acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são 
desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. 
Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais 
e não igualdade real. Os apetites humanos 
conceberam inverter a norma universal da criação, 
pretendendo, não dar a cada um, na razão do que 
vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se 
todos se equivalessem” (Oração aos Moços, Rui 
Barbosa).
Esse princípio constitucional defende a igualdade de 
tratamento tanto para as partes quanto para os demais membros 
envolvidos no desenvolvimento da relação jurídica processual. 
O Art. 139 do Código de Processo Civil, de 2015, determina 
que o juiz deve assegurar às partes igualdade de tratamento. A 
igualdade no texto de lei ratifica tanto a igualdade formal quanto 
a material, porém, há um destaque maior para a igualdade 
material, isto é, “tratar de forma desigual os desiguais, na 
proporção em que se desigualam, pois, com isso, as diferenças 
poderiam ser corrigidas”.
Consoante ensinamento de Cândido Rangel Dinamarco:
igualdade substancial, que nem sempre coincide com 
uma formal igualdade de tratamento porque esta 
pode ser, quando ocorrente essas fraquezas, fonte 
de terríveis desigualdades. A tarefa de preservar a 
isonomia consiste, portanto, nesse tratamento 
formalmente desigual que substancialmente iguala 
(DINAMARCO, 2008, p. 209).
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Direito Processual I 16
igualdade-isonomia-desenhadas-para-a-nossa-alegria/>. Acesso em: 21/08/2018.
Tal ideia fundamenta diversos direitos e deveres na 
legislação brasileira,a exemplo disso são as prerrogativas 
do Código de Defesa do consumidor conferidas à parte 
hipossuficiente da relação, qual seja, o consumidor. Note 
que a legislação consumerista prevê a inversão do ônus da 
prova “aplicando-se para as situações em que, ao final da 
demanda, persistam fatos controvertidos não devidamente 
comprovados durante a instrução probatória” (TARTUCE; 
NEVES, 2018, p. 716).
E ainda, os prazos diferenciados dilatados concedidos ao 
Ministério Público, para a Fazenda Pública e para a Defensoria 
Pública. O Código de Processo Civil de 2015 prevê que 
essas entidades gozarão da contagem em dobro para todas 
suas manifestações processuais, exceto quando a lei ordenar 
expressamente.
1.5 - Princípio do juiz e do promotor 
natural
O princípio do juiz e do promotor natural tem intrínseca 
relação com o elemento fundamental do Processo: a 
Jurisdição. Significa dizer que partes não terão opção de 
escolher o julgador que apreciará a demanda em curso de 
processo jurisdicional.
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17
O histórico desse princípio remonta à Inglaterra de 1215, sob 
o comando do Rei João Sem Terra, que previa “o julgamento 
legítimo de seus pares e pela lei da terra”. Já no Brasil, todas 
as Constituições previam o Princípio do Juiz Natural, exceto 
a Constituição de 1937.
Observe a redação do Artigo 5º, LIII da Constituição 
Federal de 1988:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no 
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela 
autoridade competente; 
1.6 - Princípio da inafastabilidade do 
controle jurisdicional
O princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, 
também nomeado de Princípio do Direito de Ação, 
corresponde ao dever do Estado de assumir suas obrigações, 
garantindo a tutela jurisdicional e não se esquivando ou 
negando de cumpri-la, de modo que em nenhuma hipótese 
poderá o juiz deixar de proferir decisão judicial. 
“Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre 
si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário” (CRFB/88).
Encontra-se a norma em questão prevista no artigo 5º, 
XXXV, da Constituição Federal de 1988: “a lei não excluirá 
da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
Destarte, pode-se entender que a garantia de acesso ao 
Poder Judiciário representa a possibilidade, conferida a todos 
os indivíduos, de provocar a atividade jurisdicional do Estado 
e instaurar o devido processo constitucional, com as garantias 
a ele inerentes, como contraditório, ampla defesa, juiz natural, 
motivação das decisões, publicidade dos atos e outros vetores 
principiológicos.
Mas não basta ao Estado realizar a jurisdição através 
do processo. Deve garantir, mais do que isto, uma adequada 
tutela jurisdicional, a materialização do direito. Propiciando 
uma ordem jurídica justa através do acesso à Justiça a todos, 
assegurando às partes, não o mero ingresso em juízo, mas 
uma igualdade real.
1.7 - Princípio do contraditório e da 
ampla defesa
O histórico desse princípio remonta à Constituição de 
1891, onde foi possível verificar que o legislador constituinte 
fez alusão ao vocábulo “defesa”, ao se referir aos direitos dos 
presos.
Mais adiante, a Constituição de 1934 referiu-se à 
“ampla defesa”, como podemos observar seu artigo 72: “a 
lei assegurará aos acusados ampla defesa, com os meios e 
recursos essenciais a esta”.
Não obstante, a Constituição de 1934, na seara criminar, 
assegurou em seu artigo 122, § 11:
poderá efetuar-se senão depois da pronuncia 
do indiciado, salvo os casos determinados em 
lei e mediante ordem escrita de autoridade 
competente. Ninguém poderá ser conservado 
em prisão sem culpa formada, senão pela 
autoridade competente, em virtude de lei e na 
forma por ela regulada; a instrução criminal 
será contraditória, asseguradas antes e depois 
da formação da culpa as necessárias garantias 
de defesa.
Na mesma direção, a Constituição de 1946 retornava à 
redação da “plena defesa” em seu artigo 141, § 25, bem como 
a Constituição de 1967, com a expressão “ampla defesa”.
Na Constituição Federal de 1988, o legislador constituinte 
ratificou e alargou o espectro de proteção do contraditório 
e da ampla defesa, pois antes esse princípio era restrito ao 
Direito Processual. Consta na redação do artigo 5º, LV: 
“Aos litigantes, em processo judicial e administrativo, e aos 
acusados de modo geral são assegurados o contraditório e a 
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
Conforme entendem Nelson Nery Junior e Rosa Maria 
de Andrade Nery, vejamos:
A garantia do contraditório compreende para 
o autor a possibilidade de poder deduzir ação 
em juízo, alegar e provar fatos constitutivos de 
seu direito e, quanto ao réu, sem informado 
sobre a existência e conteúdo do processo e 
poder reagir, isto é fazer-se ouvir. Para tanto é 
preciso dar as mesmas oportunidades para as 
partes (Chancengleichheit) para que possam fazer 
valer em juízo seus direitos (2004, p. 145).
Portanto, é possível entender o princípio do 
contraditório no trinômio: INFORMAÇÃO-REAÇÃO-
PARTICIPAÇÃO.
A PARTICIPAÇÃO é compreendida como o diálogo 
que informa o contraditório. As partes e o Juiz devem estar 
abertos ao diálogo franco e sem má-fé, de modo a respeitar a 
relação jurídica processual, pautada na comunicação, a fim de 
garantir a efetiva participação do autor e do réu no processo.
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Direito Processual I 18
Fonte: Disponível em: < https://advocaciaderesultado.com.br/blog/audiencia-de-
conciliacao-instrucao/ >. Acesso em: 15/11/2018.
A INFORMAÇÃO é a obrigatoriedade de as partes 
serem informadas do que ocorre no deslinde processual, para 
ter sua oportunidade de contraditório e defesa assegurados.
A REAÇÃO trata do direito das partes se defenderem de 
algo imputado, dentro do processo, contrariando-o.
O princípio do contraditório pode também ser 
compreendido pelo brocardo latino “audiatur et altera pars”, 
que significa “ouça-se também a outra parte”. Fundamental 
conceber o contraditório de duas maneiras “de um lado, a 
necessidade de dar conhecimento da existência da ação e de 
todos os atos do processo às partes, e, de outro, a possibilidade 
de as partes reagirem aos atos que lhe sejam desfavoráveis” 
(NERY JR., 2016, p. 248).
Consubstancia-se na doutrina a divisão do Princípio 
do Contraditório em material e substancial. O contraditório 
material apresenta-se como conteúdo substancial que se 
estabelece a priori, compõe-se da necessidade de oitiva das 
alegações, fundamentos e provas de ambas partes litigantes, 
ou seja, destaca-se o poder de influência da parte, pois ouvida 
em condições que possa influenciar a decisão do magistrado. 
Já o contraditório formal liga-se de modo intrínseco 
às garantias do processo, de modo que as partes tenham 
mecanismos e garantias dentro do processo para firmarem 
suas alegações e o principal, de serem ouvidas pelo juízo, 
coibindo a arbitrariedade e a discricionariedade judicial. 
O ordenamento jurídico brasileiro prevê uma sanção no 
caso de inobservância do princípio do contraditório, como 
assevera Nery Jr. a “ofensa ao princípio do contraditório 
caracteriza cerceamento de defesa, causa de anulação de processo 
ou procedimento” (2016, p. 248). É importante ressaltar que 
o princípio do Contraditório, por ser oriundo do Devido 
Processo Legal, é corolário dos diversos ramos do Direito, 
não somente ao direito processual civil e ao direito penal.
Fonte: Autora.
1.8 - Princípio do duplo grau de 
jurisdição
O princípio do duplo grau de jurisdição consiste na 
possibilidade de apreciação por outro órgão julgador do litígio. 
Trata-se de um princípio fundamental do Estado Democrático 
de Direito, vetor do sistema judiciário e processual.
A organização judiciária possui instâncias superiores e 
instrumentos processuais para a garantia desteprincípio. E 
ainda, de instrumentos para se alcançar o direito, tal como os 
recursos para acesso dessas instâncias.
De acordo com Ada Pellegrine Grinover (1998), de 
modo algum um ato estatal pode escapar de controle e, como 
tal, a revisão das decisões judiciárias constitui postulado e 
vetor do Estado Democrático de Direito, por meio do qual se 
realiza o controle interno, exercido por órgão diverso do que 
julgou em primeiro grau, para aferir a legalidade e a justiça da 
decisão por este proferida.
O recurso é analisado por um órgão de segunda instância, 
composto por juízes mais experientes, permitindo que uma 
mesma matéria, isto é, uma mesma demanda, seja julgada por 
dois órgãos distintos do Poder Judiciário.
Vale a pena lembrar:
FONTE: Disponível em: <https://www.politize.com.br/separacao-dos-tres-poderes-
executivo-legislativo-e-judiciario/>. Acesso em: 08/10/2018.
O histórico do princípio do duplo grau de jurisdição 
remonta ao Direito Romano e ao Direito Canônico, no 
74
19
entanto, apenas com a Revolução Francesa de 1789 tomou 
forma, como decorrência da reorganização jurídica estatal.
Na Constituição Brasileira de 1988 esse princípio é 
encontrado no Art. 5º, incisos, XXXVII, LIII, LIV, LV, LVI 
e Art. 93 incisos IX e X, como decorrência do princípio do 
devido processo legal.
Acesso em: 06/10/2018.
1.9 - Princípio da publicidade dos 
atos processuais 
Nós, representantes do povo brasileiro, 
reunidos em Assembléia Nacional 
Constituinte, para instituir um Estado 
Democrático, destinado a assegurar o exercício 
dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a 
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a 
igualdade e a justiça como valores supremos 
de uma sociedade fraterna, pluralista e 
sem preconceitos, fundada na harmonia 
social e comprometida, na ordem interna 
controvérsias, promulgamos, sob a proteção 
de Deus, a seguinte Constituição da República 
Federativa do Brasil (CRFB/88).
Notem no Preâmbulo da Constituição Federal de 1988 a 
adoção do modelo democrático de governo, o que pressupõe 
compromisso com vetores fundamentais de direitos e 
garantias previstas na Carta Magna.
Vamos observar o Art. 5º da CF e alguns de seus incisos:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem 
distinção de qualquer natureza, garantindo-se 
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 
no País a inviolabilidade do direito à vida, 
à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos 
e obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar 
de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; 
(CRFB/88).
Nesse sentido fica claro que não haverá legítima 
democracia no Estado que não exercer o poder soberano 
de forma transparente, evidenciando-se a necessidade de 
mecanismo de controle que regulem os atos dos representantes 
do povo. 
Por esse motivo existe relevância do Princípio da 
Publicidade dos atos dos agentes públicos, conferindo-se 
transparência à administração e garantindo o controle de 
sua legitimidade e legalidade. Compreende instrumento 
fundamental à democracia e ao Estado.
Pois bem, a publicidade dos atos processuais constitui 
regra no ordenamento jurídico brasileiro, no entanto, é 
aceitável exceções, ou seja, sigilo, nos casos de interesse social 
e a proteção à intimidade do interessado.
publica-homologacao-de-concurso-de-conde-e-convoca-para-exames/>. Acesso 
em: 16 de nov 2018.
Art. 5º. Inciso: LX - a lei só poderá restringir 
a publicidade dos atos processuais quando a 
defesa da intimidade ou o interesse social o 
exigirem; (CRFB/88).
Também consta na redação do Código de Processo Civil, 
de 2015, da seguinte maneira:
Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos 
do Poder Judiciário serão públicos, e 
fundamentadas todas as decisões, sob pena de 
nulidade.
Parágrafo único. Nos casos de segredo 
de justiça, pode ser autorizada a presença 
somente das partes, de seus advogados, de 
defensores públicos ou do Ministério Público.
Art. 189. Os atos processuais são públicos, 
todavia tramitam em segredo de justiça os 
processos:
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Direito Processual I 20
I - em que o exija o interesse público ou social;
II - que versem sobre casamento, separação 
de corpos, divórcio, separação, união estável, 
adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo 
direito constitucional à intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive 
sobre cumprimento de carta arbitral, desde que 
seja comprovada perante o juízo.
§ 1o O direito de consultar os autos de 
processo que tramite em segredo de justiça 
e de pedir certidões de seus atos é restrito às 
partes e aos seus procuradores.
§ 2o O terceiro que demonstrar interesse 
jurídico pode requerer ao juiz certidão 
do dispositivo da sentença, bem como de 
inventário e de partilha resultantes de divórcio 
ou separação.
Vejamos também a importância desse princípio para o 
Direito Administrativo, como dispõe a Constituição Federal 
de 1988:
Art. 37. A administração pública direta e 
indireta de qualquer dos Poderes da União, dos 
Estados, do Distrito Federa l e dos Municípios 
obedecerá aos princípios de legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade e 
1.10 - Princípio da motivação das 
O princípio da fundamentação ou motivação das 
decisões judiciais recebeu grande destaque na constituição de 
1988, instituindo o dever de fundamentação como verdadeira 
garantia constitucional, vejamos o Art. 93, IX:
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do 
Supremo Tribunal Federal, disporá sobre 
o Estatuto da Magistratura, observados os 
seguintes princípios:
IX - todos os julgamentos dos órgãos 
do Poder Judiciário serão públicos, e 
fundamentadas todas as decisões, sob pena de 
nulidade, podendo a lei limitar a presença, em 
determinados atos, às próprias partes e a seus 
advogados, ou somente a estes, em casos nos 
quais a preservação do direito à intimidade 
do interessado no sigilo não prejudique o 
interesse público à informação;
Observa-se a tendência constitucional como um 
obstáculo a arbitrariedades, além da possibilidade do 
sucumbente (parte perdedora) sabe de que forma irá recorrer 
da decisão emanada pelo juiz. 
Esse dispositivo constitucional determina a 
fundamentação das decisões judiciais, sob a pena de nulidade. 
No entanto, o texto constitucional não determinou os 
requisitos dessa atividade jurisdicional que é a decisão judicial, 
gerando ao longo dos anos muitas discussões acaloradas.
Fonte: disponível em: <https://www.certidoes.blog.br/protesto-de-sentenca-
judicial/>. Acesso em: 16 de nov 2018.
Ficou a cargo do Código de Processo Civil de 2015 em 
seu Art. 489 elencar os requisitos da sentença e estabelecer 
limites para a atividade do intérprete, vejamos:
Art. 489. São elementos essenciais da 
sentença:
I - o relatório, que conterá os nomes das 
do pedido e da contestação, e o registro das 
principais ocorrências havidas no andamento 
do processo;
 II - os fundamentos, em que o juiz analisará as 
questões de fato e de direito;
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá 
as questões principais que as partes lhe 
submeterem.
§ 1o Não se conside ra fundamentada qualquer 
decisão judicial, seja ela interlocutória, 
sentença ou ac órdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à 
paráfrase de ato normativo, sem explicar sua 
relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos 
indeterminados, sem explicar o motivo 
conc reto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a 
IV - não enfrentar todos os argumentos 
 deduzidos no processo capazes de, em tese, 
V - se limitar a invoca r precedente ou 
fundamentos determin antes nem demonstrar 
que o caso sob julgamento se ajusta àqueles 
fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, 
jurispr udência ou precedente invocado pela 
parte, sem demonstrar a existência de distinção 
no caso em julgamento ou a superação do 
entendimento.
§ 2o No caso de colisão entre normas,o 
gerais da ponderação efetuada, enunciando 
as razões que autorizam a interferência na 
norma afastada e as premissas fáticas que 
fundamentam a conclusão.
§ 3o A decisão judicial deve ser interpretada 
a partir da conjugação de todos os seus 
elementos e em conformidade com o princípio 
da boa-fé.
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21
Observa-se que o dispositivo, acima citado, expõe a 
descrição do que deve conter uma decisão fundamentada, 
portanto, eles são elementos imprescindíveis para que a 
decisão não seja anulada.
Motivação e fundamentação são vocábulos 
etimologicamente distintos, mas o dever de fundamentação 
abrange os dois sentidos, ou seja, o juiz, ao fundamentar, 
expõe o que o levou a chegar a dada conclusão (motivu), e deve 
também proferir uma decisão justa (justificare) (MEDINA, 
2016, p.772).
A exigência dessa função eminentemente política do 
dever de motivação foi, certas vezes, negada ou desconhecida, 
sob a base de conceitos estritamente dogmáticos dos 
fenômenos processuais, segundo os quais nenhum aspecto da 
disciplina de processo teria conotação política. Diz-se as vezes 
que a sociedade, como tal, não lê as sentenças, e, portanto, não 
faria sentido falar de controle social difuso da sua motivação 
(TARUFFO, 2015, p.21).
E ainda, essa função que a sociedade exerce no controle 
das decisões judiciais é chamada de controle externo difuso 
ou função extraprocessual, uma vez que aqueles investidos 
em cargos, que exercem a atividade jurisdicional, devem 
justificar suas decisões, pois é através desta análise que o povo 
verifica se há o cumprimento dos princípios basilares do 
Estado Democrático de Direito.
Já a função endoprocessual consiste, por sua vez, em 
permitir que a parte recorra, bem como permitir que a segunda 
instância possa manter ou reformar a decisão proferida pelo 
magistrado tendo por base a fundamentação da decisão 
judicial.
1.11 - Princípio da celeridade e da 
duração razoável do processo
FONTE: Disponível em: <https://alestrazzi.jusbrasil.com.br/artigos/475120201/
quanto-tempo-demora-um-processo-dr-dr>. Acesso em: 08/10/2018.
“A justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada 
e manifesta”, já ressaltava Rui Barbosa, em 1921, na Oração 
aos Moços.
Pois bem, esse princípio constitucional estabelece a 
importância do tempo no processo. Uma decisão justa não 
pode ultrapassar o prazo do aceitável, tampouco incorrer 
na “morosidade destrutiva da efetividade da jurisdição” 
(NICOLITT, 2014, p. 30).
Está previsto no Art. 5º da Constituição o inciso LXXVIII, 
que diz: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são 
assegurados a razoável duração do processo e os meios que 
garantam a celeridade de sua tramitação”. Ficou assegurado o 
direito à razoável duração do processo e, agregadas a ele, as 
garantias, ainda que não expressas, necessárias à concretização 
de tal direito no plano prático, ou seja, a materialização do 
direito uma vez previsto formalmente no ordenamento 
jurídico brasileiro. 
Retomando a aula
1 - Normas fundamentais do Processo e sua 
importância
Nessa seção, aprendemos que existe normas 
fundamentais no processo, princípios e regras, que fazem 
parte do ordenamento jurídico brasileiro e tem por finalidade 
dar coesão e coerência, ao Direito, como um macro sistema. 
A função dos princípios é a de orientar a aplicação da lei, 
objetivando a justiça em suas multifacetárias faces. 
Vimos também que a base principiológica do direito 
brasileiro ganhou destaque a partir da Constituição Federal 
de 1988, advento no qual os princípios galgaram um status 
elevado, o de norma, o que antes não ocorria.
A partir de então, o ordenamento segue uma base 
principiológica constitucional, com princípios implícitos e 
explícitos, que emanam pelo ordenamento jurídico brasileiro 
como raios de sol, iluminando, “principiando” o sistema 
normativo e atribuindo, de sobremodo, carga axiológica. 
Queridos(as) alunos(as), realizem as atividades 
disponibilizadas no Ambiente Virtual e, caso tenham dúvidas, 
acessem as ferramentas “fórum”, “quadro de avisos” ou 
“chat” para interagirem com seus colegas de curso e com a 
professora. Sejam protagonistas de sua aprendizagem. Avante! 
GRECO, Leonardo. Instituições de Processo Civil: 
introdução ao direito processual civil. Volume I. 5ª edição. 
Rio de Janeiro: Forense, 2015.
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 7. ed. São 
Paulo: Saraiva, 2014.
ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro: parte geral: 
fundamentos e distribuição de conflitos. 2. ed. São Paulo: 
Vale a pena ler
Vale a pena
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Direito Processual I 22
8 filmes e séries que todo advogado deveria ver
Disponível em: <https://exame.abril.com.br/
carreira/8-filmes-e-series-que-todo-advogado-deveria-
ver/>. Acesso em: 16/10/2018.
Entre o Direito e a Literatura: uma análise da jurisdição 
atual e do papel do juiz no tratamento dos conflitos. 
Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/
conteudo/entre-o-direito-e-literatura-uma-an%C3%A1lise-
da-jurisdi%C3%A7%C3%A3o-atual-e-do-papel-do-juiz-
no>. Acesso em: 16/10/2018.
Vale a pena acessar
DIREITO & LITERATURA (YOUTUBE)
STRECK, Lenio Luiz. Direito & Literatura - O que é 
um princípio? (Bloco 1). TV e Rádio Unisinos. Publicado 
em 12 de fev de 2016. Disponível em: < https://www.
youtube.com/watch?v=C6yIZVlSqL8 >. Acesso em: 19 de 
out. de 2018.
STRECK, Lenio Luiz. Direito & Literatura - O que é 
um princípio? (Bloco 2). TV e Rádio Unisinos. Publicado 
em 12 de fev de 2016. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=QSrKcDEON5s>. Acesso em: 19 
de out. de 2018.
STRECK, Lenio Luiz. Direito & Literatura - O que é 
um princípio? (Bloco 3). TV e Rádio Unisinos. Publicado 
em 12 de fev de 2016. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=MZ-5P1bODec>. Acesso em: 19 
de out. de 2018.
Vale a pena assistir
Revista dos Tribunais, 2016.
ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro: parte geral: 
institutos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2016.
DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual 
civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e 
processo de conhecimento. 19. ed. Salvador: JusPODIVM, 
2017.
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de 
direito processual civil: teoria geral e processo de conhecimento. 
8. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; 
DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada 
Pellegrini. Teoria Geral do Processo. 28ª edição. São Paulo:
Malheiros, 2012.
Minhas 
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