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20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 1/29 INFÂNCIA NA HISTÓRIA E NA CULTURA CONTEMPORÂNEA CAPÍTULO 2 - CRIANÇA PRODUZ CULTURA? Suellen Irene Pereira Pierri INICIAR 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 2/29 Introdução Você já parou para pensar sobre a infância hoje? Será que a criança de hoje é diferente da de ontem e da que virá nos próximos anos? Quando pensamos em cultura, temos que levar em consideração que ela é um organismo vivo que está sempre mudando e tomando rumos outros a partir das pessoas que vivem suas vidas de determinadas maneiras e pensam de determinadas formas. Todas essas falas e vivências vão se entrelaçando e contando a história de cada um, ao mesmo tempo em que contam a história de uma comunidade ou de um conjunto de pessoas. Mas será que a influência dos que vieram antes de nós e daqueles que vivem conosco pode mudar toda uma conjuntura espaço-temporal de forma a influenciar os indivíduos em uma escala ainda maior do que imaginamos? O antropólogo Lévi-Strauss (1976, p. 19) afirma que cultura “[...] é este conjunto complexo que inclui conhecimento, crença, arte, leis, costumes e várias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. Dessa forma, pensar na criança como um indivíduo passando por mudanças no decorrer dos tempos, e a partir da influência das pessoas que vieram antes e convivem agora para juntas transformarem o amanhã, é premissa que se prova a partir de pesquisas antropológicas, sociológicas e histórias contadas entre gerações. Neste capítulo, você entenderá melhor as leis que regem a infância no país, assim como conhecerá o conceito de cultura em que se baseiam as literaturas sobre a infância, e de que forma a interação entre as gerações influencia a criança e a infância. Além disso, aprenderá que a cultura também é constituída por outros conceitos como educação, diversidade, cidadania, identidade, e que ela se constrói a partir das relações entre as pessoas dos diferentes grupos etários, seus contextos e suas relações com o meio. Bom estudo! 2.1 Infância na contemporaneidade a partir das crianças e dos adultos (gerações) Quando tratamos de conceitos e concepções sobre um determinado tema, temos de levar em conta que não há uma verdade única, mas sim teorias e pensamentos nos quais as pessoas acreditam, se identificam ou aceitam – e que acabam por 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 3/29 transformar essas ideias em verdades. Bourdieu (1998) alerta-nos sobre a “ilusão biográfica”, ou seja, para o entendimento de que a unidade do “eu” de cada um nada mais seria do que sua apresentação sociocultural. Dessa forma, seríamos influenciados, de forma consciente ou não, por conceitos, ideias, pensamentos e atitudes que ocorrem em conjunto com os outros com os quais nos relacionamos, e é a partir disso que recriamos nossos próprios conceitos, ideias, pensamentos e atitudes. Nesse sentido, podemos concluir que a criança é o indivíduo que também ouve, entende e cria conceitos, já que está imersa e atuante na cultura desde o nascimento. Essas ressignificações da criança, ou seja, sua maneira de ver, entender e dar sua própria significação aos fatos, é o que também perpetua as constantes mudanças que ocorrem na sociedade. A infância, nessa perspectiva, refere-se a uma determinada classe de idade, porém revestida pelo conceito de geração, num viés histórico e também relacional, na diferenciação com as outras classes de idade, ou seja, outras gerações. A partir desses pressupostos, a infância é considerada uma categoria geracional de caráter relacional, pois é histórica e socialmente construída, por meio da participação das crianças em suas culturas e de sua geração com as dos adultos, instâncias mutuamente entrelaçadas. Note que, por meio dessa análise, entende-se que as crianças vivem suas vidas como parte de um grupo social – a geração –, que por sua vez, faz parte de uma estrutura social mais ampla: a sociedade. Nesse âmbito, a infância pode ser reconhecida como a fase de descobertas do indivíduo, um período em que a criança, desde que nasce, é apresentada e inserida em um grupo cultural, com costumes e ideias específicas do contexto em que vive. Assim, desde que nasce, o indivíduo é inserido em um grupo social, é um integrante da sociedade cuja cultura, costumes e valores lhe são passados por aqueles que nela convivem, em uma relação primeiramente de transmissão, realizada pelos demais integrantes do grupo, como seus familiares e outras pessoas. À medida que o indivíduo convive com seu grupo cultural, também recria as influências e os hábitos recebidos, estabelecendo relações de recriação e trocas. A partir dessas informações e trocas, que são oriundas do convívio com o grupo cultural no qual estão inseridas, as crianças também vão se constituindo e se reconhecendo como cidadãos com direitos e deveres. 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 4/29 Nesse sentido, você consegue perceber a importância do outro na constituição do ser criança e do viver a infância? Isso porque a criança se constitui a partir das múltiplas relações que estabelece com as pessoas às quais se relaciona, e com elas determina formas de interação com o mundo. Observe o exemplo ilustrado pela figura a seguir. Apoiada na perspectiva das pessoas que fazem parte de seu convívio, a criança vai estabelecendo formas de criar seus próprios entendimentos e suas concepções sobre o mundo. Figura 1 - Os vínculos com a criança permitem que ela estabeleça relações de afeto desde os primeiros anos de idade. Fonte: Sunnystudio, Shutterstock, 2017. Deslize sobre a imagem para Zoom 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 5/29 Dessa maneira, quando se pensa na concepção de infância hoje, não se pode tratá-la como momento isolado, já que “[...] não pode ser entendida fora da relação com a vida adulta, configurando-se também como uma categoria de caráter relacional.” (SALGADO, 2014, p. 67). Esse caráter relacional se estende ao convívio entre a criança e todos aqueles que compartilham sua vida social, como representa a figura a seguir. Você pode imaginar que a escola, por sua vez, é o local em que as relações estabelecidas são as mais diversificadas, é onde a criança estabelecerá, obrigatoriamente, vínculos com várias pessoas à sua volta – das mais variadas idades –, permitindo relações intergeracionais que irão agregar conhecimento ao seu entendimento de mundo. Figura 2 - A infância é cercada de diversidade de ideias, pessoas, histórias, permitindo inúmeras possibilidades relacionais para a criança. Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2017. Deslize sobre a imagem para Zoom 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 6/29 O “fazer-fazendo”, que acontece na escola e na vida cotidiana das crianças a partir da relação que elas estabelecem com o outro, deve ser levado em conta ao se construir o currículo escolar (MARTINS FILHO, 2013). Assim, deve-se garantir à criança que seja ela mesma na escola, mas em interação com os outros alunos da sua faixa etária e com os professores. A proposta pedagógica, portanto, deve levar em consideração os conhecimentos prévios e os saberes trazidos pelas crianças, considerando-se seu contexto social e cultural. De acordo com essa visão da infância, deve-se criar, então, situações de aprendizagens nas quais as crianças, a partir dos conhecimentosadquiridos em seu meio social, poderão ampliar e reconstruir conceitos e habilidades. Essas vivências devem também levar em consideração as aprendizagens coletivas, entendendo que é coletivamente e nas relações entre as pessoas que o conhecimento se amplia. No filme Mogli: o menino lobo, fica evidente quanto se aprende no contexto natural e/ou cultural em que se vive a infância. Depois de ter sua vida ameaçada por um temível tigre, Mogli, um menino criado por lobos, deixa o seu lar na selva e parte em uma viagem de autodescoberta, guiado por uma pantera austera e um urso alegre e independente. Para assistir à versão dublada, acesse o endereço: <http://filmesonlinegratisahd.com/mogli-o-menino-lobo-dublado-online/ (http://filmesonlinegratisahd.com/mogli-o-menino-lobo-dublado-online/)>. Dessa forma, é possível compreender quanto a multiplicidade de encontros, trocas e experiências durante a vida da criança – comcoetâneos, familiares, professores e pessoas das mais diversas idades, ou seja, trocas intergeracionais – agregam conhecimento de mundo e permitem à criança se apropriar da sociedade a partir da realidade em que vive. Ademais, note quanto a escola é local privilegiado para se estabelecer essas trocas, seja em momentos de escolha entre as próprias crianças, seja a partir da mediação do professor, como você pode inferir a partir do exemplo de relação que consta na figura a seguir. VOCÊ QUER VER? http://filmesonlinegratisahd.com/mogli-o-menino-lobo-dublado-online/ 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 7/29 Figura 3 - A professora também é quem faz a mediação entre o conhecimento dos alunos e as propostas de ensino da escola e oportuniza a troca de conhecimentos entre os atores sociais. Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2017. Deslize sobre a imagem para Zoom 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 8/29 Quando tratamos da importância da mediação do professor, é conveniente ressaltar que ele é mais um dos mediadores entre a criança e o conhecimento, e que este se faz também a partir das relações estabelecidas entre a criança e todos os outros com os quais ela faz contato durante sua vida, permitindo a elacompreendero mundo a partir de inúmeras perspectivas. [...] é básico que a escola, as crianças, os jovens e os adultos recuperem, aprendam, descubram a paixão pelo conhecimento, porque só o ser humano pode conhecer e, nesse processo – de construção de conhecimento – o papel do outro e da coletividade é fundamental (KRAMER; LEITE, 1998, p. 20). No livro “As Marcas do Humano: as origens da constituição cultural da criança na perspectiva de Lev S. Vigotski”, você pode conferir como o professor Angel Pino (2005) explana sobre a constituição do ser cultural e social da criança desde seu nascimento e a influência do outro no entendimento de mundo da criança. É muito importante que você compreenda, como já explicamos, que a criança traz seus conhecimentos prévios e diferentes de acordo com o seu grupo social. Estando na escola, ela terá contato com outras crianças com diferentes conhecimentos, além do contato com os saberes das ciências e os conceitos científicos. Assim, na escola, através da mediação dos professores e das outras crianças, serão construídos outros conhecimentos, a partir daqueles que a criança já carrega consigo. É na troca que está o entendimento, a partir do outro e com o outro os saberes se entrelaçam e se multiplicam, dando forma a uma cultura multifacetada e viva. No próximo tópico, você continuará a aprender sobre os diferentes modos de viver a infância, bem como os modos de se estabelecer relações com as crianças no contexto geracional. VOCÊ QUER LER? 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 9/29 2.2 Infância na contemporaneidade a partir das experiências das crianças e dos adultos (gerações) Quando tratamos do conceito de infância, nos referimos também à maneira pela qual a sociedade vê essa criança e ao que espera dela.Nesse sentido, se entrecruzam as expectativas das diferentes gerações: das crianças e dos adultos. De acordo com Shultz e Barros (2011, p. 139) “[...] a infância é ligada diretamente às outras fases da vida e construída ao longo do tempo.” Dessa forma, relaciona-se com o entendimento que se tem também sobre as outras gerações ao longo da história e os papéis assumidos pelos integrantes de cada uma. A partir desses pressupostos, podemos concluir que ser integrante da categoria geracional da infância indica assumir diferentes comportamentos e atitudes de acordo com o contexto histórico e cultural vivido. Nos itens a seguir serão exploradas mais detidamente a questão geracional e suas implicações. 2.2.1 Relações intergeracionais Como você já pôde perceber, as relações intergeracionais são múltiplas e inevitáveis quando pensamos na criança e em seu círculo social. Quando a criança é muito pequena, essas relações se limitam a seus familiares e amigos próximos;mas, conforme vai crescendo, as suas conexões aumentam, e a criança começa a frequentar outros lugares e a conhecer outras pessoas. Cada pessoa é produto das relações que estabelece desde o nascimento, entre as pessoas com quem convive em casa, na escola, no trabalho e nos locais que frequenta. Seja por muito, seja por pouco tempo, cada interação que ocorre durante a vida acaba por montar um pouco do que forma cada indivíduo. “[A] socialização é um termo amplo que indica que o ser humano, desde que nasce, não apenas está sujeito a influências da sociedade de que participa e ajuda a construir, como também a influencia.” (MORAGAS, 1997, p. 101). Assim, cabe nos perguntarmos: de que forma se dão essas relações intergeracionais? Dessa forma, o que acontece são interações baseadas em trocas e assimilação de regras de conduta e formas de viver em determinada sociedade. Essas trocas acontecem – ou deveriam acontecer – de forma que a transmissão de memórias e 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 10/29 experiências permita que as várias gerações se respeitem e se compreendam em um processo recíproco de aprendizagens. No livro “Vidas Compartilhadas: cultura e relações intergeracionais na vida cotidiana”, de Paulo de Salles Oliveira (2011), você pode ter acesso a um estudo do dia a dia de crianças cuidadas por seus avós, nas classes populares. Esse estudo mostra o encontro de sujeitos sociais diferentes e o caminho que passam a construir juntos, buscando cultivar interações igualitárias, nos direitos e nos deveres. Você pode imaginar como, para a criança, qualquer evento, a exemplo da ida para a creche, abre um novo mundo de possibilidades relacionais entre gerações, tanto com coetâneosquanto com adultos ou crianças mais novas ou mais velhas,e essas relações oferecem aprendizagem e ampliação de conhecimento de mundo da criança. Assumindo a visão de que as crianças são seres sociais desde que nascem, vemos que elas continuam, na creche, sua busca por socialização com o outro, e essas relações devem ser otimizadas na instituição, de forma que se priorizem princípios baseados em respeito às diferenças, solidariedade e troca de experiências, ampliando o bem-estar entre as gerações, e garantindo que as trocas sejam feitas de forma constante e harmoniosa, em que todos ganham e doam seu conhecimento.Dessa forma, pode-se caminhar para uma sociedade mais igualitária, justa e respeitosa, tendo a instituição educacional como ponto chave desse caminhar. Por tudo o que já expomos a respeito do tema, você deve ter em vista que essa troca deve ser via de mão dupla, na qual adultos, jovens, crianças e idosos compartilham experiências.Porém, é inegávelo fato de que os papéis de cada envolvido na relação diferem, sendo que “há posições geracionais de uma geração sobre a outra” (LIBARDI, 2016, p. 53), ou seja, aos adultos e idosos cabe uma responsabilidade com a geração mais nova de jovens e crianças.Então, tanto nas VOCÊ QUER LER? 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 11/29 instituições de educação quanto nas relações que se estabelecem em qualquer âmbito social, cabe aos mais velhos proteger os mais novos e passar a eles determinados conhecimentos. Por outro lado, também deve ser permitido aos mais novos contribuir com a sociedade a partir daquilo que recebem dela, pois também os menores têm algo a compartilhar e aplicar perante as informações a que foram expostos. Consequentemente, essas relações intergeracionais devem ser baseadas em fatores de reciprocidade e interdependência, de forma que crianças, jovens, adultos e idosostroquem compreensões e entendimentos, cada um à sua maneira, dentro daquilo que veja como verdade, na percepção de que são muitas histórias e muitas verdades existentes. 2.2.2 A geração como um constructo sociológico Como já expusemos brevemente, a questão das gerações e todas as implicações relacionais entre elas é um constructo sociológico. Essa afirmação se baseia na ideia de que há interações dinâmicas a todo momento entre as gerações, ou seja, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos se relacionam das mais diversas maneiras em suas interações (SARMENTO, 2005). No entanto, é importante destacar que em cada geração hápapéis constituídos socialmente no transcorrerhistórico. É importante que você perceba que as dinâmicas intergeracionais acontecem quando os mais velhos trocam informações e conhecimentos com os mais novos, e estes os ressignificam. CASO Sabemos que, paracrianças de quatro a cinco anos, todas as descobertas são interessantes, pois são movidas pela curiosidade pelas coisas do mundo, e que as brincadeiras têm valor simbólico a partir da tentativa de entender esse mundo que as rodeia.Numa escola pública, em sala de aula com crianças dessa idade, como um professor ou professora deve agir? Nesse caso que trazemos, a professora está participando de uma conversa com as crianças, a quem eles fazem perguntas e explicam a partir do seu entendimento e de suas hipóteses sobre a metamorfose e o ciclo de vida das borboletas. Nesse momento, uma criança diz ter visto minhocas em 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 12/29 sua casa e que elas ficam na terra.A professora aproveita essa fala e questiona sobre o ambiente em que vivem as borboletas e as minhocas. As crianças falam animadamente e escutam o que os colegas pensam sobre isso. A professora propõe que juntos possam descobrir mais informações e façam investigações. Dessa forma, a professora leva em consideração oque as crianças têm como hipóteses e também se propõe a criar condições de ampliar esses conhecimentos. É muito provável que, juntos, aprendam muito. Com base no exemplo analisado e no que já discutimos anteriormente, é importante que você perceba que as relações intergeracionais ultrapassam a transmissão de valores e conhecimento, agindocomo uma forma de se estabelecer a mediação entre diferentes conhecimentos, sendo as crianças respeitadas em seu processo de busca por esses conhecimentos. A professora não impõe o conhecimento, mas parte do interesse e da curiosidade das crianças. Tanto na escola quanto fora dela, as relações entre os indivíduos de diferentes gerações devem acontecer a partir do respeito pelo conhecimento do outro, buscando um convívio colaborativo e de trocas entre os envolvidos. Como você pode perceber, a imagem a seguir ilustra a ideia de quanto as crianças podem participar da tomada de decisões e envolver-se em situações de aprendizagem. 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 13/29 Além da relação intergeracional em si, você precisa ter em mente a existência de fatores externos que a influenciam. Deve-se levar em conta que a mudança de entendimento sobre o mundo, que também perpassa as gerações, é fator relevante para a troca de ideias intergeracional. Por outro lado, no mundo contemporâneo estão disponíveis elementos diferentes em relação a outras épocas; a tecnologia é um desses fatores e influencia diretamente as vivências diárias das crianças dentro e fora da escola: “Para as professoras, a tecnologia também aparece como um significativodiferencial entre a infância de sua geração e a das crianças hoje [...]” (SALGADO, 2014, p. 74). Esse fato precisa ser levado em consideração na mediação dos processos de aprendizagem. Nesse sentido, entende-se que,pelo fatode as crianças e os jovens serem indivíduos que nasceram emum contexto com mais acesso a novos recursos tecnológicos, têm mais facilidade para utilizar computadores, celulares, tablets etc. do que os adultos.Assim, este é um desafio para o professor:que sejam implementadas propostas em que a tecnologia seja um recurso utilizado na escola, a fim de transformar informações em conhecimentos. Figura 4 - Crianças atuantes em sala de aula desenvolvem o convívio colaborativo. Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock, 2017. Deslize sobre a imagem para Zoom 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 14/29 VOCÊ SABIA? O Ministério da Educação (MEC) lançou em 1997 o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo), no intuito de promover o uso pedagógico das tecnologias de informação e comunicação na escola pública. O site é colaborativo e de livre acesso pela população. Para mais informações, acesse: <http://e- proinfo.mec.gov.br/eproinfo/interativo/acessar_espaco_sistema/acessar.htm (http://e- proinfo.mec.gov.br/eproinfo/interativo/acessar_espaco_sistema/acessar.htm)>. Perceba que a tecnologia, então, não pode ser considerada apenas algo que separa gerações, mas também pode ser vista como uma ferramenta a partir da qual outras interações permitiriam aproximações. Dessa forma, as relações intergeracionais, independentemente de seu tempo, são capazes de proporcionar uma aprendizagem recíproca que valoriza as diferenças e as histórias dos envolvidos. No próximo tópico, você irá aprender mais sobre a infância como um direito, sabendo analisar criticamente esses direitos, assim como reconhecer a visibilidade social da infância e a criança como produtora de cultura. 2.3 Infância como um direito da criança Ao entendermos que a visão do que hoje compreendemos por infância é uma construção histórica, podemos perceber quenão é estáticanem imutável. Nesse sentido, também os direitos relacionados às crianças foram constituídos ao longo de processos de defesa da infância. Atualmente, temos a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, como os pilares legais dos direitos das crianças no Brasil. Mas será que essas leis protegem todas as crianças da mesma forma? O que pode ser feito para permitir aos pequenos gozarem desses direitos de maneira plena, como cidadãos que são desde o nascimento? 2.3.1 Visibilidade social da infância http://e-proinfo.mec.gov.br/eproinfo/interativo/acessar_espaco_sistema/acessar.htm 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 15/29 Qual o papel social da criança na sociedade de hoje? Para responder essa questão, você precisa ter em mente que esse papel mudou consideravelmente conforme os anos e séculos foram passando. Assim, pode-se dizer de forma introdutória que, atualmente,pelomenos no mundo das ideias e teorias, a criançatem um papel atuante socialmente, ela é entendida como indivíduo participante da sociedade. Observe a imagem a seguir antes de continuarmos a discussão. 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 16/29 Figura 5 - A imagem revela uma criança que não tem direito à infância. Fonte: Gallery 3.0.9 (Chartres), Shutterstock, 2017. Deslize sobre a imagem para Zoom 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 17/29 Com base nesse sentimento de infância,histórica e socialmente construído, você podeobservar essa imagem e perceber que esse menino, aparentemente ainda tão pequeno, não está vivendo sua infância. O ato de pedir esmola leva a crer que esse menino, muito provavelmente, não frequenta a escola e não leva uma vida que o permita gozar de seus direitos comocidadão. Assim, sua cidadania, ao mesmo tempo que garantida por lei, está lhe sendo retirada, por motivos imbricados por questões sociais, econômicas e políticas.Sendo assim, o fato de ser criança não garante uma infância digna e com os direitos básicos garantidos. Crianças do Brasil é um roadmovie filmado em muitas cidades brasileiras. O Brasil, do extremo Norte (Oiapoque) ao extremo sul (Chuí), é visto sob a ótica das crianças. Trata-se de uma série de 10 programas de 12 minutos de duração sobre várias regiões do Brasil mostradas por crianças de diferentes classes sociais, etnias, sotaques e culturas. Trailer disponível em: <https://youtu.be/LKQaRhKpG2k (https://youtu.be/LKQaRhKpG2k)>. Ainda analisando o exemplo da figura anterior, podemos pensar que a visibilidade sobre a infância muitas vezes está pautada em uma visão unilateralde criança, ou seja, o olhar das pessoas hoje já está acostumado a ver crianças pelas ruas ou como pedintes. Assim, esse fato passa a ser banalizado, e nem sempre se exigem mudanças. Destarte, se faz importante que você – e todas as pessoas – compreenda os direitos e deveres constitucionais, participando da busca por diminuições das barreiras que impedem o acesso às condições mínimas de vida para todos os cidadãos brasileiros. Perceba, dessa forma, que ser criança no Brasil e no mundo não implica, necessariamente, gozar plenamente da infância e de todos os direitos que derivam do fato de ser criança. A execução na práticadesses direitos, de forma que sejam realmente garantidos a todas as crianças do país, ainda está em pauta e será ainda uma luta a ser travada por muito tempo. VOCÊ QUER VER? https://youtu.be/LKQaRhKpG2k 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 18/29 Estar criança não é direito, é condição; o indivíduo nasce e passa, obrigatoriamente, pela fase da infância, não sendo possível a mudança por nenhum ator social. Contudo, para que seja permitido à criança o direito ao ser plenamente criança, deve-se entendê-la em suas particularidades e garantir seus direitos legais e constitucionais, sendo este dever político e social. Na esfera política, cabe aos legisladores fazerem valer os direitos das crianças não apenas no papel, mas igualmente em seu dia a dia. Na esfera social, é importante que todos os indivíduos tenham um olhar sensível voltado à criança, a todas as crianças, independentementede sua condição social. Observe a imagem e reflita sobre o direito que esse menino tem de ser criança. Figura 6 - Muitas famílias de baixa renda dependem do trabalho infantil para garantir sustento. Fonte: Deslize sobre a imagem para Zoom 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 19/29 Com uma leitura mais atenta da imagem, pode-se supor que esse menino não faz parte de uma família que mantém uma renda sustentável para uma vida que lhe permita gozar dos direitos à alimentação, saúde e habitação dignas, devendo, por isso, complementar a renda familiar à custa da venda de sua própria força de trabalho. O ser criança deve levar em conta todos os direitos que permitam viver a infância: [...] a existência de um direito, seja em sentido forte ou fraco, implica sempre a existência de um sistema normativo, onde por "existência" deve entender-se tanto o mero fator exterior de um direito histórico ou vigente quanto o reconhecimento de um conjunto de normas como guia da própria ação. A figura do direito tem como correlato a figura da obrigação. (BOBBIO, 1992, p. 79-80). Você deve se lembrar, pois já tratamos desse assunto, que as leis mais importantes que delineiam a criança são a Constituição de 1988 e o ECA, de 1990.A Constituição do país assegura inúmeros direitos a todo brasileiro.Em seu artigo 6º, caput, dispõe: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.” (BRASIL, 1988, s. p.). Além disso, a mesma Carta também trata sobre o direito à educação de todas as crianças de zero a seis anos, conforme análise de Kramer (1999, s. p.): A população brasileira, a partir da progressiva consciência de seus direitos e da participação em movimentos sociais, teve papel central numa das maiores conquistas da educação infantil no Brasil: o reconhecimento, na Constituição de 1988, [...] do dever do Estado de oferecer creches e pré-escolas para tornar fato este direito. Movimentos sociais e instâncias públicas (municipais e estaduais) vêm se esforçando no sentido de expandir com qualidade a educação infantil e enfrentar os desafios que se colocam. Pela primeira vez na história da educação brasileira, foi formulada uma política nacional de educação infantil, com diretrizes para a formação dos profissionais. Zzvet, Shutterstock, 2017. 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 20/29 Dessa forma, a criança, assim como todo cidadão brasileiro, tem direito a uma vida plena, com boa moradia, saúde e educação de qualidades, lazer e assistência. A luta, da qual trata Kramer (1999), fez valer as leis no mundo das ideias, mas ainda temos que fazê-las valer para todas as crianças, não apenas para aquelas cujas famílias conseguiram se adequar à desigual sociedade em que vivemos, mas também as ditas marginais, às quais foi negado o direito de viver e ser criança. O ECA foi criado com o objetivo de proteger integralmente crianças e adolescentes. Em seu artigo 7º o estatuto prevê que a criança e o adolescente “[...] têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.” (BRASIL, 1990, s. p.). Infelizmente, não é essa a realidade das crianças brasileiras, pois as manchetes do ano de 2017 de jornais e revistas do país sobre a infância contam outra história. A história contada é de um país em que milhões de crianças vivem em situação de extrema pobreza (LAMBERT, 2017), com o retorno à condição de “país da miséria” (O BRASIL…, 2017), local em que 40% das crianças até 14 anos vivem em situação de risco e desamparo (CRUZ, 2017). Essas são histórias de um país que não se preocupa com sua infância, um país que mantém leis de proteção à criança apenas no papel e que permite à criança estar criança, mas não permite a todas o ser criança e aproveitar o que esse ato traz em sua plenitude. Apenas a luta da sociedade, assim como o trabalho do professor na sala de aula e fora dela, permitirá relevantes mudanças no panorama social e político do país.Se foi com luta que se garantiu as leis, também com luta se garantirá a efetivação dessas leis para todas as crianças etodos os adolescentes brasileiros, assim como para todos os cidadãos do país. No próximo tópico, vamos abordar a questão das culturas infantis, para que você possa reconhecê-las e detectar aspectos que indicam a relação entre concepções de infância, educação, cultura, conhecimento, diversidade, cidadania e identidade. 2.4 Culturas infantis 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 21/29 As pesquisas com crianças aumentaram, assim como o conceito de criança e a concepção de infância foram se transformando. Hoje aceita-se que a criança, para além de ser influenciada pela cultura que a cerca, também produz cultura a partir das relações com seus pares e adultos. Corsaro (2002) apresenta o conceito de “reprodução interpretativa (p. 115), construindo a ideia de que as crianças contribuem ativamente para a preservação social, assim como para sua mudança. E são essas mudanças que acontecem coletivamente que permitem reconhecermos a participação das crianças na construção cultural da sociedade. Nos itens a seguir, você entenderá melhor a visão da criança como produtora de cultura, além de conhecer a área de estudo da Sociologia da Infância. 2.4.1 Criança como produtora de cultura Como você já pôde constatar a partir da visão atual de infância, é indiscutível que a criança influencia e é influenciada pelo grupo cultural que integra. O que ainda é objeto de estudo é o olhar para a criança como produtora de cultura, sob uma perspectiva pela qual a criança cria sobre aquilo que absorve.Ou seja, primeiramente ela age concretamente sobre a realidade que a cerca, levando em consideração todos os aspectos da cultura e as relações entre seus pares; a partir disso, ela também reelabora as influências recebidas e assim produz cultura. Elas [as crianças] elaboram sentidos para o mundo e suas experiências compartilhando plenamente de uma cultura. Esses sentidos tem uma particularidade, e não se confundem nem podem ser reduzidos àqueles elaborados pelos adultos; as crianças têm autonomia cultural frente ao adulto. Essa autonomia deve ser reconhecida e também relativizada: digamos, portanto, que elas têm uma relativa autonomia cultural. Os sentidos que elaboram partem de um sistema simbólico compartilhado com os adultos (COHN, 2005, p. 35). Dessa forma, entende-se que as crianças produzem cultura a partir daquilo que vivenciam e aprendem,conforme o grupo cultural em que nascem, as conversas com as pessoas com quem convivem, brincando com outras crianças, enfim,emvariadas formas de interação com o meio e as pessoas. 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 22/29 Porém, há uma complexidade no entendimento dessas dinâmicas infantis (SARMENTO; PINTO, 1997), já que é necessário escutar e observar a criança,estimulando o seu protagonismo. Para tanto, você deveter em mente que as infâncias são vividas das mais diversas formas, dependendo dos contextos sociais e culturais; assim,não há apenas um tipo de criança ou um tipo de infância. Sendo assim, as pesquisas que se debruçam sobre a infância devem levar em consideração os contextos nos quais as crianças estão imersas para entender a complexidade dos envolvidos. Somente dessa forma há a possibilidade de Figura 7 - As inúmeras relações disponíveis para a criança durante suas vivências formam o seu mundo. Fonte: Guz Anna, Shutterstock, 2017 Deslize sobre a imagem para Zoom 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 23/29 compreender as culturas infantis de determinado grupo partindo da estrutura social que o cerca, das relações que se estabelecem e das suas visões de mundo. Esse estudo mais aprofundado a partir do entendimento da criança como produtora de cultura é considerado como fazendo parte de uma linha de pesquisa denominada Sociologia da Infância, uma ramificação da sociologia determinada a estudar a criança imersa em seus constructos culturais, sociais e históricos, e será tratada no próximo item. 2.4.2 A Sociologia da Infância Pode-se afirmar que a Sociologia da Infância é uma área de estudo relativamente nova, que busca compreender a condição social da infância e as relações das crianças com os adultos e entreseuspares. Como forma de ampliar essa interpretação, segue trecho de uma explicação do professor Sarmento (2005, p. 361): A sociologia da infância propõe-se a constituir a infância como objecto sociológico, resgatando-a das perspectivas biologistas, que a reduzem a um estado intermédio de maturação e desenvolvimento humano, e psicologizantes, que tendem a interpretar as crianças como indivíduos que se desenvolvem independentemente da construção social das suas condições de existência e das representações e imagens historicamente construídas sobre e para eles. Porém, mais do que isso, a sociologia da infância propõe-se a interrogar a sociedade a partir de um ponto de vista que toma as crianças como objecto de investigação sociológica por direito próprio, fazendo acrescer o conhecimento, não apenas sobre infância, mas sobre o conjunto da sociedade globalmente considerada. Dessa forma, a Sociologia da Infância não procura estudar as crianças per se, mas sim em sociedade, e busca posicioná-las como atores sociais, tanto no campo teórico como no metodológico. VOCÊ SABIA? A Sociologia da Infância surgiu no Brasil em meados da década de 1980, contrapondo-se às teorias biológicas e higienistas que entendiam a criança como um vir a ser, um indivíduo simples em constante maturação. Porém, foi somente no final da década de 1990 que pesquisas relevantes na área começaram a ser 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 24/29 publicadas, o que coloca essa área do estudo ainda como algo novo e em ascensão no país. Para mais informações, acesse: <http://www.fe.ufg.br/nedesc/cmv/controle/DocumentoControle.php? oper=download&cod=1547 (http://www.fe.ufg.br/nedesc/cmv/controle/DocumentoControle.php? oper=download&cod=1547)>. Essa área de estudo busca transpor o pensamento adultocêntrico, ainda tão vigente na sociedade, assim como convida estudiosos e profissionais da educação a pensar a infância sob outroângulo: o da criança por ela mesma, ou seja, entender que há uma criança que é sujeito de sua aprendizagem e de seu conhecimento, ao mesmo tempo em que também é motivada a partir das atitudes do outro. Além disso, os professores Manuel Sarmento e Manuel Pinto (1997) atentam para o fato de que estudar as infâncias, para além de aumentar a compreensão sobre o ser criança, também auxilia na compreensão de toda a sociedade: O olhar das crianças permite revelar fenômenos sociais que o olhar dos adultos deixa na penumbra ou obscurece totalmente. Assim, interpretar as representações sociais das crianças pode ser não apenas um meio de acesso à infância como categoria social, mas às próprias estruturas e dinâmicas sociais que são desocultadas no discurso das crianças (SARMENTO; PINTO, 1997, p. 25). Essa explanação permite destacar ainda mais importância ao estudo sociológico da infância, já que legitima a importância do estudo da criança não apenas por ela mesma, mas em uma perspectiva mais ampla, de entendimento social, cultural e histórico. Ana Lúcia Goulart de Faria é professora doutora da Faculdade de Educação da Unicamp, grande precursora da Sociologia da Infância no Brasil, com inúmeros textos e livros publicados sobre o tema. Para mais informações e acesso a publicações da professora, veja: VOCÊ O CONHECE? http://www.fe.ufg.br/nedesc/cmv/controle/DocumentoControle.php?oper=download&cod=1547 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller25/29 <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4793285J1 (http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4793285J1)>. Estudos na área da Sociologia da Infância são como uma “[…] retomada do movimento de luta a favor das crianças, da infância e da educação.” (ROCHA, 2011, p. 3). Para além da criança vista através da psicologia, medicina ou psicanálise, a infância observada sob a lente das ciências sociais vem ganhar uma nova forma, permitindo aos profissionais da área e a toda a sociedade um melhor agir sobre a infância. Síntese Concluímos o segundo capítulo relativo aos diferentes modos de viver a infância e às culturas infantis. Agora você já sabe como é entendida a infância no mundo contemporâneo, sua relação com a educação e as gerações. Além disso, é de seu conhecimento que a cultura infantil é algo socialmente definido e que esse aspecto da infância deu início a uma nova vertente sociológica conhecida como Sociologia da Infância. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: compreender que o entendimento da infância pela sociedade é uma construção política e social; perceber o que são relações intra e intergeracionais e no que elas influenciam a criança de seu tempo; conhecer as mais importantes leis que regem a educação e o bem-estar de crianças e jovens no Brasil; aprender que a criança pequena, para além de compreender a cultura do grupo que a cerca, também produz cultura; identificar que existe uma vertente da sociologia que se dedica a estudar a infância: a Sociologia da Infância. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4793285J1 20/03/2020 Infância na História e na Cultura Contemporânea https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 26/29 Referências bibliográficas BOBBIO, N. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaina. Usos e abusos da história oral. 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