Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/334959649 Gestão de Stakeholders: Um Estudo sobre Fatores que Interferem na Elaboração do Relato Integrado https://congressousp.fipecafi.org/anais/Anais2019_NEW/ArtigosDownload/1832.pdf Article · August 2019 CITATIONS 0 READS 61 3 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Relato Integrado View project Estudos Multidisciplinares em Gestão Pública View project Anne Carolina dos Santos Universidade Estadual de Maringá 3 PUBLICATIONS 0 CITATIONS SEE PROFILE Kelli Favato Universidade Estadual de Maringá 4 PUBLICATIONS 4 CITATIONS SEE PROFILE Marguit Neumann Universidade Estadual de Maringá 24 PUBLICATIONS 7 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Kelli Favato on 04 August 2019. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/334959649_Gestao_de_Stakeholders_Um_Estudo_sobre_Fatores_que_Interferem_na_Elaboracao_do_Relato_Integrado_httpscongressouspfipecafiorganaisAnais2019_NEWArtigosDownload1832pdf?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/334959649_Gestao_de_Stakeholders_Um_Estudo_sobre_Fatores_que_Interferem_na_Elaboracao_do_Relato_Integrado_httpscongressouspfipecafiorganaisAnais2019_NEWArtigosDownload1832pdf?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Relato-Integrado-2?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Estudos-Multidisciplinares-em-Gestao-Publica?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Anne_Dos_Santos?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Anne_Dos_Santos?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade_Estadual_de_Maringa?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Anne_Dos_Santos?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Kelli_Favato?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Kelli_Favato?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade_Estadual_de_Maringa?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Kelli_Favato?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Marguit_Neumann?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Marguit_Neumann?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade_Estadual_de_Maringa?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Marguit_Neumann?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Kelli_Favato?enrichId=rgreq-b1793c8189bf7920a76ebee744a4665f-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzNDk1OTY0OTtBUzo3ODgxODE0MzU4MjIwODBAMTU2NDkyODUwNjE2MQ%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf 1 Gestão de Stakeholders: Um Estudo sobre Fatores que Interferem na Elaboração do Relato Integrado ANNE CAROLINA DOS SANTOS Universidade Estadual de Maringá KELLI JULIANE FAVATO Universidade Estadual de Maringá MARGUIT NEUMANN Universidade Estadual de Maringá Resumo A pesquisa objetiva analisar quais fatores relacionados à gestão de stakeholders interferem no processo de elaboração de reportes baseados nas diretrizes do International Integrated Reporting Council. Para tanto, utilizou-se de pesquisa bibliográfica e de uma revisão multiparadigmática de artigos que contenham o termo Integrated Reporting ou Relato Integrado e stakeholders no título ou no assunto, conforme buscas realizadas no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Web of Science, Scopus, Science Direct e Scientific Electronic Library Online, sem delimitação temporal em fevereiro de 2019, o que resultou em 15 artigos. Os resultados indicam 9 fatores relacionados ao tema pesquisado, a partir destes foram formuladas 11 proposições, sendo que a proposição geral é a seguinte: a ausência de comunicação com stakeholders deve-se ao fato de que nem todos os stakeholders utilizam o Relato Integrado como fonte de informação, por ser direcionado aos provedores de capital financeiro e para o pilar financeiro, logo, as organizações não entendem como funciona o Relato Integrado, devido a falhas e ausência de explicações no Framework 1.0 para Relato Integrado, assim adotam o RI por conta da competitividade e legitimidade, já que outros frameworks se destacam, como o Global Reporting Initiative; por conseguinte há necessidade de amadurecimento de práticas internas e motivação dos líderes organizacionais em realizar tais mudanças. Os paradigmas dos estudos da amostra são positivistas ou interpretativistas, ou seja, superam a dicotomia normativo- positivo, porém, avanços devem se dar por meio de pesquisas críticas, com intuito de auxiliar o International Integrated Reporting Council a mudar as circunstâncias atuais a respeito do Relato Integrado. Assim, este estudo contribui para reflexão sobre a teoria dos stakeholders, por ser uma alternativa ao capitalismo. Além disso, contribui-se para a discussão dos desafios do Relato Integrado, que almeja se tornar o padrão mundial de reportes corporativos. Palavras-chave: Relato Integrado; Gestão de Stakeholders; Paradigmas da Pesquisa Contábil. 2 1 INTRODUÇÃOUtilizar a contabilidade sem esforços de uma reforma, no sentido de não integrar questões econômicas e socioambientais em práticas organizacionais, resulta em mudanças marginais e comportamentos insustentáveis (Gray, 2010; Thomson, 2015). Logo, o pensamento não integrado, e consequentemente, a contabilidade não integrada domina o campo organizacional contemporâneo (Flower, 2015; Thomson, 2015). Diante disso, o International Integrated Reporting Council (IIRC) desenvolveu a estrutura (Framework 1.0 para Relato Integrado - RI) do RI, em 2010, com objetivo de integrar informações financeiras, socioambientais e de governança em um formato claro, conciso, consistente e comparável (Humphrey, O’Dwyer & Unerman, 2016). Uma particularidade notável da estrutura para reporte RI, é o poderoso corpo de diretores do seu conselho (IIRC), representado pelo The International Accounting Standards Board (IASB), The Financial Accounting Standards Board (FASB), The International Federation of Accountants (IFAC), The International Organization of Securities (IOSCO), as quatro maiores organizações de auditoria de contábil (Big Four), os chefes dos principais órgãos de profissionais de contabilidade britânicos, principais multinacionais, entre outros (Flower, 2015, p. 2). Outro aspecto relevante se refere ao fato de que a metade desses membros são profissionais contábeis (Flower, 2015, p. 2). A adoção ao RI pelo mercado tem diversas motivações, desde o efeito compulsório (África do Sul) até a busca do valor para o acionista (Anglo-saxões) (Frías-Aceituno, Rodríguez-Ariza & García-Sánchez, 2013). No Brasil, a Lei nº 13.303/2016 determina a obrigatoriedade da divulgação anual de Relatório Integrado ou Relatório de Sustentabilidade para organizações estatais e mistas. Todavia, a perspectiva é que, a longo prazo, o RI seja um padrão de reportes corporativos (IIRC, 2014), que proporcione sua redução de forma conectiva e assertiva (Humphrey et al., 2016). A mudança da visão financeira para uma visão múltipla, a longo prazo, é consistente com a perspectiva da literatura, que desafia os valores do tradicional relatório anual emitido pelas organizações (Gray, 2010; Thomson, 2015). Argumentos da literatura indicam que os pesquisadores devem se concentrar em fornecer subsídios para determinação de diretrizes obrigatórias e indicar o valor do RI para os interessados (Dumay, Bernardi, Guthrie & Demartini, 2016). Assim, cabe ao âmbito acadêmico acompanhar o desenvolvimento e implementação do RI, ao adotar uma postura ativa e cautelosa em relação às movimentações do mercado quanto ao desenvolvimento sustentável (Flower, 2015; Perego et al., 2016; Thomson, 2015). Para Cosenza, Mamede, e Laurencel (2010), os estudos no campo da Contabilidade Socioambiental (CSA) tem dado ênfase para a evidenciação dos fenômenos socioambientais no sentido de associá-los com a elaboração e apresentação de informações para usuários externos. Essa tendência positivista provoca um entrave no desenvolvimento da ciência, seja no ensino ou na evolução dos conceitos relativos à pesquisa na Ciência Contábil (Cosenza et al., 2010). Todavia, as pesquisas sobre RI permanecem normativas ou positivistas (Dumay et al., 2016; Santos, Neumann & Camacho, 2018). Ou seja, quanto ao RI, percebe-se que as pesquisas são voltadas para o ‘glacê’ (reporte final) e não para o ‘bolo’(elaboração do reporte) (Perego et al., 2016). Considerando o direcionamento para uma ruptura do paradigma econômico e a amplitude no processo de comunicação contábil, torna-se relevante refletir sobre o aspecto abrangente de inter-relações sociais (Lopes & Martins, 2005), isto é, sobre multi-stakeholders. Por um lado, na visão do IIRC (2014, p. 7), o RI é voltado para todos os interessados na capacidade da organização em criar valor ao longo do tempo, incluindo funcionários, clientes, fornecedores, parceiros de negócios, comunidades locais, legisladores e órgãos reguladores. 3 Por outro lado, para a literatura, o foco do RI é atender as necessidades informacionais de provedores de capital (Adams, 2015; Dumay et al., 2016; Villiers, Rinaldi & Unerman, 2014). Diante do exposto, surgem indagações a respeito da construção do pensamento socioambiental no RI, conforme perspectiva para quê e para quem o conhecimento é gerado, indo além das perspectivas econômicas e atendendo todos os stakeholders. Nesse contexto, pergunta-se: Quais fatores relacionados à gestão de stakeholders interferem no processo de elaboração de reportes baseados nas diretrizes do IIRC? Para responder essa questão, a pesquisa objetiva analisar quais fatores relacionados à gestão de stakeholders interferem no processo de elaboração de reportes baseados nas diretrizes do IIRC. Para tanto, utilizou-se de pesquisa bibliográfica e, de forma complementar, de uma revisão multiparadigmática em artigos que contenham o termo Integrated Reporting ou Relato Integrado e stakeholders no título ou no assunto, publicados no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Web of Science, Scopus, Science Direct e Scientific Electronic Library Online (Scielo). Para isso, não houve delimitação temporal e as buscas foram realizadas no mês de fevereiro de 2019. A revisão multiparadigmática possibilitou relacionar como os paradigmas que norteiam os estudos de RI aplicados a gestão de stakeholders, contribuem com o desafio do problema de pesquisa levantado. Para Lewis e Grimes, (2005), paradigmas são premissas, práticas e concordâncias numa comunidade acadêmica, no sentido de legitimar alternativas que não estavam em evidência. Desse modo, a presente pesquisa almejou identificar aspectos práticos (experimentados pelas organizações que foram foco de estudos precedentes) e aspectos paradigmáticos (que norteiam tais estudos), em razão de investigações científicas permitirem a obtenção de conhecimento sobre a realidade organizacional. Justifica-se esta pesquisa considerando que a mesma traz contribuições para a academia, ao considerar que o: i) o conceito de stakeholders tem sido um processo instigante e desconcertante para muitos pesquisadores (Sloan, 2005) bem como; ii) a investigação multiparadigmática contribui como um ponto de equilíbrio entre o dogmatismo e o relativismo (Scherer, 1998), sendo que paradigmas podem ser capazes de ajudar a revelar o impacto da ênfase em premissas dadas como certas (Lewis & Grimes, 2005). As organizações estão adotando uma nova forma de comunicação (RI) e contribui-se com seus desafios, tendo em vista que o IIRC busca tornar o RI um padrão mundial de reportes corporativos. Logo, a pesquisa também contribui para as organizações, tendo em vista que: iii) compreender que o engajamento com stakeholders é a maneira de produzir resultados a longo prazo e criar uma organização crescente e próspera (Freeman, 2010), Da mesma forma contribuiu-se com resultados direcionados ao IIRC (órgão), pois: iv) a proposta inicial do RI é atender além do provedor de capital (Flower, 2015; Humphrey et al., 2016) e este tema é um debate atual sobre sustentabilidade organizacional (Nossa, Rodrigues & Nossa, 2017); v) o IIRC enfrenta obstáculos quanto à definição de stakeholders, no qual as organizações podem definir normas sociais baseadas em um grupo maior do que o proposto por tal órgão (Beck, Dumay & Frost, 2016). Por fim, contribuiu-se com a sociedade, ao considerar que: vi) uma alternativa à teoria capitalista das organizações é a teoria do stakeholder, em razão dos stakeholders estarem entre a sociedade, que por sua vez, têm interesse em conteúdos de reportes corporativos. 2 O RELATO INTEGRADO E A GESTÃO DE STAKEHOLDERS A Estrutura Internacional para Relato Integrado (IIRC, 2014), conhecida como Framework 1.0 para RI, foi desenvolvida pelo IIRC em 2013 (Lodhia, 2015). Portanto, o RI é um recente desenvolvimentoapós 30 anos, ou mais, de tentativas de ampliar a prestação de 4 contas ao incluir o impacto socioambiental no negócio, visando comunicar de forma eficaz aos stakeholders (Stubbs & Higgins, 2015). O conceito pensamento integrado difundido pelo Framework 1.0 para RI, permite que os funcionários identifiquem a capacidade da organização de criar e manter valor ao longo do tempo. A partir disso, há melhora no processo de tomada de decisões interna. Logo, por meio de reportes baseados nas diretrizes do IIRC, os stakeholders podem avaliar como a gestão das organizações lida com o capital financeiro e outros (Humphrey et al., 2016; Thomson, 2015). Assim, o RI abrange uma perspectiva de compreensão integrada a longo prazo, no qual o reporte é o resultado final deste processo, proposto com base em seis capitais: financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social e de relacionamento e natural (IIRC, 2014). Os capitais propostos para o RI encaminham a comunicação para uma perspectiva multidimensional, agregando informações financeiras e não financeiras para um grupo maior de interessados (Humphrey et al., 2016). Nota-se que o RI é baseado na suposição de usuários empoderados para monitorar, recompensar, disciplinar e punir organizações com práticas não aceitáveis durante a transição para capitalismo sustentável (Thomson, 2015). Ao estabelecer um leque maior de stakeholders, além dos provedores de capital financeiro, o RI visa demonstrar que o empreendimento é cooperativo, ou seja, é assegurado e sobrevive por meio de sua rede de colaboração (Flower, 2015). A literatura ressalta a necessidade de alteração do Framework 1.0 para RI, em razão de abandonar a sustentabilidade ao focar no atendimento dos interesses dos provedores de capital. Nesse sentido, a tendência é que não haja geração de valor para a sociedade (Adams, 2015; Dumay et al., 2016; Villiers et al., 2014). Além disso, Thomson (2015) defende que o RI pode silenciar elementos sustentáveis e mascarar práticas organizacionais insustentáveis, devido a falta de detalhamento das diretrizes expostas no Framework 1.0 para RI. Na visão de Feng, Cummings e Tweedie (2017) devido à ausência de diretrizes claras do IIRC ou de um maior compromisso empírico, os pesquisadores não podem ter certeza que tais diretrizes sejam incontestáveis. A tecnologia da informação e a instantaneidade dos fatores levaram a necessidade de transparência, abertura e responsabilidade, surgindo então, um crescente interesse em compreender como o capitalismo, a ética, a sustentabilidade e a responsabilidade social podem atender a todos os stakeholders de organizações. Compreende-se que o engajamento com os stakeholders é a melhor maneira de produzir resultados a longo prazo (Freeman et al., 2010). Essa relação envolve grupos com diferentes olhares e poderes na instituição, que é a posição dos referidos safeguards exógenos, ou seja, fator de pressão para que a gestão trate suas relações com os stakeholders de forma multilateral (Freeman & Evan, 1990). De fato, a importância da visão da gestão dos stakeholders dentro da organização é crucial, considerando que um fator prejudicial é a assimetria informacional, haja vista, que os stakeholders não têm viés para monitorar o comportamento do agente, propiciando o conflito de interesse entre as partes (Richardson, 2000). Schaltegger (2012) conclui que a confiança dos stakeholders na organização se dá por uma infinidade de atividades e interações, não apenas aquelas esperadas pela emissão de reportes, que por sua vez, estão de acordo com diretrizes regulatórias. Meintjes e Grobler (2014) argumentam que a literatura apresenta níveis para descrever a gestão de relacionamentos entre organização e stakeholders, sendo elas: i) processo de envolvimento de grupos no processo central de negócios das organizações; ii), as organizações não podem necessariamente gerir seus stakeholders, mas cabe a elas governar seus relacionamentos, assim, o poder é o nível de influência dado a grupos interessados; iii) a visão impulsionada pela construção e manutenção de relacionamentos a longo prazo, influenciado pelo poder, confiança, satisfação e compromisso. 5 Em suma, estima-se ser necessária a compreensão de como estabelecer relações de confiança e como desenvolver a contabilidade e reportes de forma que os stakeholders se envolvam com a organização em uma interação mutuamente benéfica (Schaltegger, 2012). As relações institucionais com stakeholders e as expectativas destes, quanto ao atendimento de suas necessidades, conduzirá o processo de incorporação da gestão de relacionamentos, além de contribuir com o processo de asseguração do RI (Campoe, 2016). Portanto, o RI é uma área de pesquisa em consolidação cabendo aos acadêmicos e pesquisadores contribuir com suas deficiências (Dumay et al., 2016; Feng et al., 2017). Estudos precedentes, com objetivos próximos da presente pesquisa, indicam que os estudos sobre RI são fundamentalmente de caráter normativo (Dumay et al., 2016) ou positivista (Slewinski et al., 2015; Santos et al., 2018). Dessa forma, é reconhecida a carência de estudos que estabeleçam discussões sobre paradigmas de pesquisa no âmbito do RI. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para delineamento da pesquisa, empregou-se os fundamentos da: i) pesquisa bibliográfica em estudos precedentes (com intuito de identificar quais fatores da gestão de stakeholders interfere no processo de elaboração do RI) e de forma complementar ii) a revisão multiparadigmática (com intuito de identificar como paradigmas que norteiam os estudos analisados contribuem com o desafio de abordar o tema em questão). Portanto, neste estudo, a revisão multiparadigmática foi utilizada para identificar quais paradigmas de pesquisas são utilizados nos artigos de RI com ênfase na gestão de stakeholders. A amostra foi direcionada aos artigos que contenham o termo Integrated Reporting ou Relato Integrado e stakeholders no título ou no assunto, sem delimitação temporal. A população do estudo, levantada no mês de junho de 2017 e posteriormente atualizada em fevereiro de 2019, consiste em artigos localizados por meio das bases de periódicos Capes, Web of Science, Scopus, Science Direct e Scielo. A partir disso, analisou se os artigos eram direcionados para gestão de stakeholders. Entende-se que gestão de stakeholders, neste estudo, são temas que contemplem relacionamento, poder e estratégia com os stakeholders (Freeman et al., 2010; Meintjes & Grobler, 2014; Richardson, 2000). Os filtros descritos resultaram em uma amostra de 15 artigos (Tabela 1). Tabela 1 – Amostra de pesquisa Citações Fator de impacto Nº Autoria Total Média Periódico 1 (Rensburg & Botha, 2014) 96 19,20 Public Relations Review 2,08 2 (Sierra-García, Zorio-Grima & García- Benau, 2015) 105 26,25 Corporate Social Responsibility and Environmental Management 4,29 3 (García-Sanchez & Noguera-Gámez, 2017) 17 8,50 Corporate Social Responsibility and Environmental Management 4,29 4 (Fasan & Mio, 2017) 25 12,50 Corporate Social Responsibility and Environmental Management 4,29 5 (Stubbs & Higgins, 2018) 30 30,00 Journal of Business Ethics 3,52 6 (Brusca, Labrador, & Larran, 2018) 5 5,00 Journal of Cleaner Production 6,20 7 (Flower, 2015) 301 75,25 Critical Perspectives on Accounting 1,50 8 (Wulf, Niemöller, & Rentzsch, 2014) 13 2,60 Corporate Social Responsibility and Environmental Management 4,29 9 (Feng, Cummings, & Tweedie, 2017) 34 17,00 Journal of Intellectual Capital 4,15 10 (Veltri & Silvestri, 2015) 46 11,50 Journal of Intellectual Capital 4,15 6 11 (Clayton, Rogerson, & Rampedi, 2015) 24 6,00 Bulletin of Geography. Socio– economic - 12 (Perego et al., 2016) 69 23,00 Journal of Cleaner Production 6,20 13 (Baptista, 2018) 0 0,00 Media & Jornalismo - 14 (Lai, Melloni& Stacchezzini, 2018) 7 7,00 Accounting, Auditing & Accountability Journal 2,91 15 (Naynar, Ram & Maroun, 2018) 0 0,00 Meditari Accountancy Research 0,76 Fonte: Elaborada com base nos dados da pesquisa (2019) Objetivando explanar os artigos de maior impacto, conforme proposto por Dumay et al. (2016), foi levantado o número de citações no Google Scholar, constatando que os artigos 1, 2, 7 e 12 são os artigos mais citados (Tabela 2). No entanto, levando em consideração que os artigos publicados há mais tempo podem ter mais publicações, utilizou-se o software Publish or Perish e a métrica Number of citations per author per year, para analisar a média de citações. Além disso, ressalta-se que não foram localizadas pesquisas nacionais. O intuito da pesquisa bibliográfica foi alcançado por meio de leitura dos artigos da amostra enquanto que a revisão multiparadigmática foi alcançada por meio da aplicação do arcabouço teórico que aborda sobre os paradigmas da pesquisa em contabilidade. A investigação multiparadigmática contribui como ponto de equilíbrio entre o dogmatismo e o relativismo (Scherer, 1998). Para Lewis & Grimes (2005, p. 73) os paradigmas podem ser vistos como heurísticos, capazes de ajudar os acadêmicos a explorarem as complexidades teóricas e organizacionais, de estenderem o escopo, a relevância e revelar o impacto da ênfase a algumas premissas dadas como certas. A predominância de um paradigma para nortear a produção de conhecimentos, pode ter efeito negativo impondo limites cognitivos para os pesquisadores e para a produção científica, mantendo-os dentro de determinadas fronteiras paradigmáticas (Barbosa, Neves, Santos, Cassunde, & Cassunde, 2013). O processo de pesquisa científica é explorado nas suas premissas ontológicas, epistemológicas e metodológicas. No que tange a ontológica, são suposições filosóficas sobre a realidade e dizem respeito a verdadeira essência do fenômeno. Nessa premissa, o pesquisador define seu posicionamento de como enxergará o mundo (Burrel & Morgan,1979; Chua, 1986; Martins, 2012). A premissa epistemológica refere-se ao processo de aquisição de conhecimento sobre a realidade, isolando o sujeito ou analisando-o de uma maneira mais solta. A premissa metodológica indica métodos considerados apropriados para a coleta de evidências (Burrel & Morgan,1979; Chua, 1986; Martins, 2012). Para tanto, de acordo com literatura, quatro paradigmas são empregados na pesquisa contábil (Tabela 2). Tabela 2 – Características de paradigmas abordados na pesquisa contábil Paradigma Ontológico Epistemológico Metodológico Características Normativo Realismo Objetivis mo Qualitativo Analisa questões prescritivas relacionadas ao conteúdo dos demonstrativos financeiros e a avaliação dos itens que os compõe, a partir da prática contábil. Positivo Realismo Objetivis mo Quantitativo Assume que a realidade é objetivamente dada, geralmente testa a teoria na tentativa de aumentar a compreensão dos fenômenos. Interpretati- vista Relativis- mo Construtivismo Qualitativo Supõe que o acesso à realidade é apenas através de construções sociais como consciência e significados compartilhados. Entender fenômenos através dos significados que as pessoas atribuem a eles. 7 Crítico Relativis- mo Construtivismo Qualitativo Assume que a realidade social é historicamente constituída e reproduzida por pessoas. Embora as pessoas possam agir conscientemente para mudar suas circunstâncias sociais e econômicas, críticos reconhecem que a capacidade de o fazer é restringida por dominação social, cultural e política. Fonte: Elaborada com base em Chua (1986); Iudícibus e Martins (2015); Lewis e Grimes (2005); Martins (2012); Myers (2004); Salotti & Yamamoto (2005); Scherer (1998) Ressalta-se que o método quantitativo e qualitativo comumente segue esta estrutura para emprego dos paradigmas, não é uma obrigatoriedade. Por exemplo, pode ser empregado uma metodologia qualitativa ou quali-quanti em um paradigma positivista. Inclusive, todos os paradigmas possuem pontos positivos, ao mesmo passo que, sofrem críticas específicas (Martins, 2012). Na contabilidade, a pesquisa passou por grandes transformações de âmbito metodológico, devido à transição do normativismo para o positivismo. Antes, tida como uma abordagem prescritiva, fornecendo soluções teóricas, ditando regras e determinando o que deveria ser adotado pela prática contábil, por conseguinte a transição surgiu em contraposição ao normativismo, sugerindo a construção da teoria baseada em evidências empíricas (Salotti & Yamamoto, 2005). Iudícibus e Martins (2012) denotam que o avanço real da ciência contábil é incipiente, assim faz-se necessário repensar a contabilidade frente à natureza filosófica de pesquisa. Nesse sentido, ressalta-se a valia de analisar as premissas de estudos adotadas por pesquisadores do RI e identificar seu posicionamento. 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 4.1 Gestão de stakeholders: fatores que interferem na elaboração do Relato Integrado O artigo 1, de autoria de Rensburg e Botha (2014), assevera que um dos maiores desafios que as organizações enfrentam é como comunicar suas informações de forma concisa a todos os stakeholders, por meio dos canais de comunicação ou plataformas que estes preferem, diante do fato de que os stakeholders não utilizam o RI como fonte primária de informação. A probabilidade de divulgação do RI está associada a ter o relatório de RSC (GRI) assegurado, logo se torna um componente da qualidade do RI, conforme o que foi exposto pelo artigo 2 (Sierra-García et al., 2015). Quanto ao artigo 3, García-Sanchez e Noguera-Gámez (2017) inferem a relação do RI com a redução da assimetria informacional, visto que a integração de todas as informações-chaves em um único reporte permite que investidores façam estimativas, embora idiossincráticas, dos custos de transação futuros ainda no momento da aquisição. Mesmo assim, na visão García-Sanchez e Noguera-Gámez (2017), a divulgação pode agregar valor para os acionistas e demais stakeholders, demonstrando o compromisso gerencial para relatar informações não financeiras. O RI, para Fasan e Mio (2017) – artigo 4, por um lado, é uma poderosa ferramenta de engajamento com os stakeholders que ocorre por meio do processo de determinação da materialidade. Porém, por outro lado, as organizações fazem seu uso para demonstrar uma imagem socialmente responsável de forma a legitimar seu comportamento (Fasan & Mio, 2017). O artigo 5 aponta que os stakeholders dão apoio para abordagens voluntárias de RI, alegando que a maioria considerava ser cedo demais para uma reforma regulatória, fala que também foi apontada nos entrevistados de Perego et al. (2016), sugerindo que o RI se tornará uma norma ao longo do tempo, na medida em que mais organizações o adotem. Ademais, Stubbs e Higgins (2018) corrobora que a terminologia 'criação de valor' foi utilizada por todos 8 os participantes de sua pesquisa, por sua vez, isso indaga sobre as responsabilidades das organizações e afirma que a prestação de contas não está na vanguarda, pois, a tomada de decisão econômica continua sendo o primeiro pilar (Stubbs & Higgins, 2018). A aplicação da teoria dos stakeholders, no artigo 6, demonstra que os stakeholders podem envolver a universidade (objeto de estudo) em um processo de mudança, se os líderes os envolverem positivamente no processo de mudança. Os entrevistados forneceram evidências da importância desses aspectos na concepção dos objetivos estratégicos da universidade, legitimando suas práticas (Brusca et al., 2018). Na percepção de Flower (2015), artigo 7, o IIRC privilegia a criação de valor financeiro em detrimento do gerenciamento do capital socioambiental, isso inibe o RI de alcançar o paradigma sustentabilidade. Além disso, a necessidade de mudançade uma perspectiva de relacionamento organizaçãoorganização e investidor (o que a maioria consegue administrar com eficácia) para uma perspectiva de relacionamento organizaçãoorganização com todos stakeholders, traz incerteza e diluição do poder e autoridade da organizaçãoorganização. Entretanto, na visão de Flower (2015) o Framework 1.0 para RI é inconsistente com a ideia de reporte completo no que diz respeito ao impacto das atividades organizaçãoorganizaçãoriais na vida dos stakeholders. O artigo 8 discorre que o RI reduz a assimetria, no sentido de melhorar a interpretação dos usuários sobre a governança corporativa, em detrimento do reporte de comentários da administração. Porém, relatórios financeiros e o RI afetam indiretamente a governança corporativa, induzindo a sistemas adequados de controle gerencial (Wulf et al., 2014). O artigo 9, de Feng et al. (2017), corrobora no sentido de que o RI pode legitimar as práticas da organização, contudo aponta que o RI está deixando de atrair apoio dos stakeholders devido construções abstratas de conceitos, como a criação de valor e pensamento integrado, tornando a estrutura do IIRC difícil de ser implementada. Veltri e Silvestri (2015) (artigo 10) apontam que o RI é apenas uma ferramenta de comunicação, emitida para elevar sua reputação da universidade investigada, sem vestígio de um diálogo entre a organização e seus stakeholders. Fornecer informações de forma integrada e garantir a criação de valor é um processo complexo, devido à capacidade dos gestores para cumprir isso e divulgar aos stakeholders em forma de reporte (Veltri & Silvestri, 2015). O estudo de Clayton et al. (2015) (artigo 11) aponta que as organizações investigadas haviam tomado às informações divulgadas em um relatório de sustentabilidade e colocaram estrategicamente tais informações no RI, logo não houve mudanças na comunicação com os stakeholders após a adesão do RI. De fato, a jornada em direção ao pensamento integrado precisa ser trabalhada, em razão das organizações não estarem preparadas (Clayton et al., 2015). No sentido de construções abstratas, Perego et al. (2016) (artigo 12) apontam que especialistas consideram o RI como muito diversificado e incoerente, o que dificulta o real entendimento da proposta de elaboração e do seu potencial, só após resolver isso pode-se então cogitar de difundir o RI em todas as organizações. Apesar dos progressos, o RI ainda é tido como de difícil compreensão, por possuir metodologia falha para dar suporte a sua adoção. Logo, há necessidade premente de difusão do pensamento integrado como um passo crucial para o campo. Os acadêmicos podem fazer uma significativa contribuição para o desenvolvimento do RI por meio da educação, em particular a educação na área de negócios (Perego et al., 2016). Quanto ao artigo 13, Baptista (2018) assevera sobre a importância da consideração de todos os stakeholders. Logo, surge a seguinte questão: até que ponto o RI, conforme conceituado pelo IIRC, apresenta benefícios claros em comparação com os outros reportes? As estratégias de envolvimento com os stakeholders exigem um diálogo contínuo com a organização, contudo é um processo de aprendizagem organizacional (Baptista, 2018). Lai et al. (2018) (artigo 14) concluem, que além de stakeholders suprimidos na construção da 9 criação de valor, questões sobre a sustentabilidade não estão incluídas no RI. Inclusive, os preparadores, entrevistados por Lai et al. (2018), não reconhecem a necessidade de personalizar o reporte de acordo com os diferentes stakeholders. Por conta disso, o artigo 15, de autoria de Naynar et al. (2018), demonstra que as organizações ainda estão em um processo de engajamento com os stakeholders, para entender quais informações valorizam. Isso ocorre devido ao fato das organizações não entenderem o efeito dos usuários e suas necessidades informacionais, já que grupos têm prioridades diferentes para a construção do reporte (Naynar et al., 2018). Diante da análise bibliográfica dos estudos da amostra, conforme problema de pesquisa levantado, foram identificados fatores (F) relacionados à gestão de stakeholders, que interferem no processo de elaboração de reportes baseados nas diretrizes do IIRC (Tabela 3). Tabela 3 – Fatores relacionados à gestão de stakeholders que interferem no processo de elaboração de reportes baseados nas diretrizes do IIRC Fatores (F) Referências 1. Nem todos os stakeholders utilizam o RI como fonte de informação Rensburg e Botha (2014) 2. O RI é direcionado aos provedores de capital financeiro Baptista (2018); Flower (2015); Lai et al. (2018); Wulf et al. (2014) 3. Ausência de comunicação com stakeholders Lai et al. (2018); Naynar et al. (2018); 4. O RI é voltado para o pilar financeiro Flower (2015); Lai et al. (2018); Stubbs e Higgins (2018); Wulf et al. (2014) 5. Organizações não entendem como funciona o RI, devido a falhas e ausência de explicações no Framework 1.0 para RI Baptista (2018); Brusca et al. (2018); Clayton et al. (2015); Feng et al. (2017); Flower (2015); Naynar et al. (2018); Lai et al. (2018); Stubbs e Higgins (2018); Perego et al. (2016); Veltri e Silvestri (2015) 6. Organizações adotam o RI por conta da competitividade e legitimidade Brusca et al. (2018); Fasan e Mio (2017); Feng et al. (2017) 7. Outros frameworks se destacam, como o GRI Baptista (2018); Sierra-García et al. (2015) 8. Necessidade de amadurecimento de práticas internas (aprendizado) Baptista (2018); Stubbs e Higgins (2018); Perego et al. (2016); Wulf et al. (2014) 9. Necessidade de motivação dos líderes organizacionais em realizar mudanças nas práticas internas Brusca et al. (2018) Fonte: Elaborada com base nos dados da pesquisa (2019) A necessidade de superação do Fator 1 e do Fator 3 é fundamental, considerando que são fatores prejudiciais no que se refere a produção de resultados a longo prazo, ao evitar a assimetria informacional (Freeman et al., 2010; Freeman & Evan, 1990; Richardson, 2000). Deste modo, o estabelecimento da gestão de stakeholders auxilia no alcance de tais fatores, isso significa que deve ser colocada em prática tanto para o alcance dos objetivos do RI como para contribuir com o processo de sua asseguração independente (Campoe, 2016). Cabe às organizações governar relacionamentos com seus stakeholders, assim, determinados grupos interessados possuem mais poder em detrimento de outros, isso faz parte do processo de materialidade do RI (IIRC, 2014; Meintjes & Grobler, 2014). Nesta perspectiva, adotar o RI somente como estratégia de busca de legitimidade ou competitividade (F6), desconsiderando a gestão de stakeholders, significa ignorar os pressupostos do RI. Por isso, organizações tendem a elaborar reportes de cunho não financeiro com base no GRI (F7) e no IIRC, simultaneamente, adotando o RI de forma superficial devido à ausência de informações concretas no Framework 1.0 para RI (F5). O Fator 4 contrapõe o que é exposto pelo Framework 1.0 para RI, que por sua vez, determina incluir informações socioambientais no reporte (Humphrey et al., 2016; IIRC, 10 2014). Ainda sobre o Fator 4, para considerar as narrativas da sustentabilidade a nível organizacional, a contabilidade deve se envolver neste processo (Gray, 2010). Portanto, na prática o RI ainda é falho, ao considerar que o capital financeiro é somente um dos seis capitais previstos, como consequência cabe à contabilidade contribuir com a inclusão de informações financeiras e não financeiras no RI (Adams, 2015; Dumay et al., 2016; Gray, 2010; Humphrey et al., 2016; Thomson, 2015). Na visão do IIRC (2014), o RI é voltado para todos os interessados na capacidade da organização em criar valor ao longo do tempo, incluindo diversos grupos. Todavia, os achados do presente estudo, especificamente o Fator 2, contradiz o IIRC, pois,constatou-se que o RI é voltado para especificamente aos provedores de capital financeiro, da mesma forma que Adams (2015), Dumay et al. (2016) e Villiers et al., (2014) concluíram. Inclusive, o IIRC espera que RI seja um padrão de reportes corporativos (IIRC, 2014), que proporcione sua redução de forma conectiva e assertiva (Humphrey et al., 2016), entretanto, constatou-se a necessidade da evolução de suas diretrizes (Framework 1.0 para RI), logo, as expectativas do IIRC não foram alcançadas, tendo em vista o Fator 5 deste estudo. Considerando os Fatores 5 e 8 e que RI é uma recente tentativa de ampliar a prestação de contas corporativas (Stubbs & Higgins, 2015), infere-se que Framework 1.0 para RI deve evoluir, assim como asseveram Feng et al. (2017) e Thomson (2015), no sentido de incluir explicações a respeito de conceitos de difícil aplicação prática, como pensamento integrado, geração de valor e sobre os capitais. Dessa forma, experiências corporativas e investigações empíricas contribuem com o debate sobre o tema. Justifica-se o Fator 8, diante da necessidade de incorporar os pressupostos do RI nos processos corporativos internos (Humphrey et al., 2016; Thomson, 2015), não somente de forma superficial, haja vista que o reporte, em si, é o resultado final do processo de pensamento integrado (IIRC, 2014). Diante dos artigos da amostra, percebeu-se que os fatores presentes na Tabela 3 possuem interligações entre si, no sentido de se caracterizarem proposições (Tabela 4). Cabe ressaltar que as proposições advêm da interpretação dos resultados das pesquisas da amostra. Apesar de tais proposições, considera-se que o fato da ausência de comunicação com stakeholders (F3) desencadeia os demais fatores presentes na Tabela 3. Logo, a principal proposição (PROP-GERAL) deste estudo envolve todos os fatores (F) de tal Tabela. Tabela 4 – Proposições do estudo F + F Descrição Todos PROP-GERAL - A ausência de comunicação com stakeholders (F3) deve-se ao fato de que nem todos os stakeholders utilizam o RI como fonte de informação (F1), por ser direcionado aos provedores de capital financeiro (F2) e para o pilar financeiro (F4), logo as organizações não entendem como funciona o RI, devido a falhas e ausência de explicações no Framework 1.0 para RI (F5), assim adotam o RI por conta da competitividade e legitimidade (F6), já que outros frameworks se destacam, como o GRI (F7); por conseguinte há necessidade de amadurecimento de práticas internas (F8) e motivação dos líderes organizacionais em realizar tais mudanças (F9). F1 + F2 PROP1 – Nem todos stakeholders utilizam o RI como fonte de informação, pois, é direcionado aos provedores de capital financeiro. F1 + F4 PROP2 - Nem todos stakeholders utilizam o RI como fonte de informação, pois, é voltado para o pilar financeiro. F1 + F5 PROP3 - Nem todos stakeholders utilizam o RI como fonte de informação, pois, organizações não entendem como funciona o RI, devido a falhas e ausência de explicações no Framework 1.0 para RI. F1 + F6 PROP4 - Nem todos stakeholders utilizam o RI como fonte de informação, pois, organizações adotam o RI por conta da competitividade e legitimidade. F2 + F4 PROP5 – O RI é direcionado aos provedores de capital financeiro, pois, é voltado para o pilar financeiro. 11 F2 + F5 PROP6 – O RI é direcionado aos provedores de capital financeiro, pois, organizações não entendem como funciona o RI, devido a falhas e ausência de explicações no Framework 1.0 para RI. F4 + F5 PROP7 - O RI é voltado para o pilar financeiro, pois, organizações não entendem como funciona o RI, devido a falhas e ausência de explicações no Framework 1.0 para RI. F4 + F7 PROP8 – O RI é voltado para o pilar financeiro, pois, outros frameworks se destacam, como o GRI. F5 + F7 PROP9 - Organizações não entendem como funciona o RI, devido a falhas e ausência de explicações no Framework 1.0 para RI, assim, outros frameworks se destacam, como o GRI. F8 + F9 PROP10 – Há necessidade de amadurecimento de práticas internas (aprendizado), porém, não há motivação dos líderes organizacionais em realizar mudanças nas práticas internas. Fonte: Elaborada pelas autoras (2019) Esta seção compreendeu a pesquisa bibliográfica, quanto ao conteúdo dos estudos da amostra. A revisão multiparadigmática é abordada na seção seguinte (4.2). 4.2 Apresentação dos resultados da revisão multipadigmática Para identificar os paradigmas foi necessário analisar o objetivo, metodologia e os principais resultados das pesquisas. A disposição dos resultados está conforme os paradigmas identificados nas pesquisas, ou seja, positivista e interpretativista, Tabela 4 e Tabela 5, respectivamente. Isso significa que o paradigma normativo e o paradigma crítico não foram localizados. A Tabela 5, organizada sistematicamente, apresenta os artigos identificados no paradigma positivista, estes indicam o autor tem uma realidade conhecida e emprega um caráter impessoal de forma objetiva e irreflexível, porém tende a explicar ou descrever o fato diante ao levantamento empírico a luz da teoria e teste de hipóteses. Tabela 5 – Pesquisas norteadas pelo paradigma positivista Autoria Metodologia Objetivo Principais Resultados (Rensburg & Botha, 2014) Pesquisa Empírica – survey Investigar como as informações financeiras são consumidas no âmbito dos novos padrões de relatórios financeiros. Os stakeholders pouco utilizam o RI como a principal fonte de informações financeiras e/ou de investimentos, vistos como informações adicionais. Os relatórios financeiros anuais são o principal suporte para informações financeiras organizacionais. (Wulf et al., 2014) Pesquisa documen- tal Avaliar a capacidade de um RI melhorar a governança corporativa. Mesmo que governança corporativa tenha mudado para uma perspectiva voltada para as stakeholders, seu foco ainda é dirigido aos acionistas. O sistema alemão parece ser uma excelente base para futuros desenvolvimentos do RI, ou seja, para o fortalecimento da abordagem stakeholders e governança corporativa. (Veltri & Silvestri, 2015) Estudo de Caso Explorar o RI de uma universidade pública sul- africana, comparando-o com o Framework 1.0 para RI, afim de verificar a compatibilidade. O RI da universidade inclui os elementos de conteúdo como rótulos, mas não aprofunda seu significado. Além disso, não segue os princípios das diretrizes do IIRC, consequentemente os relacionamentos com os stakeholders não são destacados e a capacidade de criar valor não é divulgado. (Sierra- García et al., 2015) Pesquisa Empírica - levantame nto Investigar por quê as organizações estão produzindo RI e quais os vínculos de garantia do relatório de Responsabilidade Social A probabilidade de divulgação do RI é positivamente associada a ter o relatório RSC assegurado, considerando que os resultados são importantes para os stakeholders. 12 Corporativa (RSC). (Clayton et al., 2015) Pesquisa documen- tal Analisar o desenvolvimento do RI por grandes organizações na África do Sul e avaliar o impacto da transição necessária de relatórios de sustentabilidade para RI. Certas tendências da transição de relatórios de sustentabilidade para o RI foram observadas, a saber: um aumento na garantia de informações não financeiras; aderência a diretrizes externas; o surgimento da materialidade, divulgação de riscos e remuneração como novos temas; e a evolução do discurso orientado pelos stakeholders. (García- Sanchez & Noguera- Gámez, 2017) Pesquisa Empírica – levanta- mento Analisar a possível relação entre a divulgação de informações integradas e o grau de assimetria informacional. Existe uma relação negativa entre a assimetria de informação e a divulgaçãode um RI, indicando que seu uso ajuda a mitigar problemas de agência, facilitar a tomada de decisões organizacionais e melhorar as informações entre os investidores. (Fasan & Mio, 2017) Pesquisa Empírica – levanta- mento Identificar os determinantes da divulgação de materialidade entre as organizações do Programa Piloto do IIRC. A indústria e alguns níveis de características (tamanho e diversidade do conselho) desempenham um papel significativo na determinação da divulgação da materialidade. As organizações do Programa Piloto divulgaram mais informações sobre materialidade do que seus concorrentes que não aderiram ao programa. (Baptista, 2018) Pesquisa documen- tal Avaliar em que medida Relatos Integrados estimulam a comunicação estratégica de RSC. Relatos Integrados são focados nas necessidades de informação dos provedores de capital financeiro, assim não requerer às organizações o reporte do impacto total das suas atividades em relação aos demais stakeholders. Fonte: Elaborada com base nos dados da pesquisa (2019) Diante da análise dos artigos voltados para o paradigma positivista de pesquisa, percebe-se que estudam sobre as motivações e o porquê as organizações divulgam o RI. A Tabela 6 apresenta as pesquisas identificadas no paradigma interpretativista. Tabela 6 – Pesquisas norteadas pelo paradigma interpretativista Autoria Metodologia Objetivo Principais Resultados (Stubbs & Higgins, 2018) Pesquisa empírica - entrevista Explorar as perspectivas dos stakeholders sobre o papel das organizações voluntárias e abordagens regulatórias para estabelecer o RI na Austrália. As organizações que elaboram RI estão mudando seus processos, porém a adoção não tem necessariamente envolve inovações para estimular mecanismos de divulgação. Analisando a percepção dos stakeholders não descobriu mudanças radicais para apresentação de um relato inovador, mas um processo de alterações incrementais do relatório de sustentabilidade. (Brusca et al., 2018) Estudo de Caso Examinar o desenvolvimento para implementar a sustentabilidade e o RI em uma universidade. O reporte está focado principalmente em valores sociais e de sustentabilidade, o que não pode ser considerado um RI que conecte todos os capitais. O principal motor tem sido os interesses dos stakeholders, representados pelo conselho social da universidade, com o objetivo de aumentar a competitividade. (Flower, 2015) Pesquisa teórica - documental Traçar a história do IIRC ao longo dos quatro anos desde sua formação em 2010. O IIRC abandonou a contabilidade da sustentabilidade, no qual o conceito de valor do IIRC é ‘valor para os investidores’ e não ‘valor para a sociedade’. (Feng et al., 2017) Pesquisa empírica - entrevista Explorar como os principais stakeholders interpretam o pensamento O IIRC não definiu totalmente o conceito de pensamento integrado, logo não há consenso compartilhado entre os profissionais. Há evidências de 13 integrado e como as organizações do Programa Piloto estão aplicando o pensamento integrado. uma compreensão evolutiva do pensamento integrado na prática. O que ainda não está claro é como esse entendimento se desenvolverá com o tempo. (Perego et al., 2016) Pesquisa empírica - entrevista Apresentar o impacto das abordagens do sensemaking na prática do RI. Os entrevistados referem-se às preocupações sobre a marginalização das organizações, com foco excessivo de reportes externos, assim notam a necessidade de compreender o RI como um processo interno, observando os stakeholders e indagando se a gestão interna realmente conhece o Framework 1.0 para RI, para posteriormente estruturar o RI para o âmbito externo. (Lai et al., 2018) Pesquisa Empírica - entrevista Analisar como o modo de cognição dos preparadores influencia em padrões de prestação de contas associadas ao RI. Os esforços dos preparadores em estabelecer diálogos e prestação de conta junto aos stakeholders, revelam o potencial da RI como fonte narrativa. No entanto, os provedores de capital financeiro continuam sendo os principais stakeholders deste tipo de reporte. (Naynar et al., 2018) Pesquisa documental e empírica - entrevista Explorar a ênfase dada a determinados temas em Relatos Integrados, conforme percepção de stakeholders. Existem inconsistências entre o conteúdo (socioambiental) do reporte e a importância de seus temas dado pelos stakeholders entrevistados. Esta lacuna existe devido à falta de comunicação entre as partes. Fonte: Elaborada com base nos dados da pesquisa (2019) Os estudos analisados com características do paradigma interpretativista, adotaram a ontologia relativista e epistemologia construtivista, nos quais o pesquisador desempenhou o papel de investigador, tendo interferência do olhar do sujeito sobre o objeto diante de um fato ainda não conhecido. 4.3 Discussão dos resultados da revisão multipadigmática Como os acadêmicos devem contribuir com as deficiências do RI (Dumay et al., 2016; Feng et al., 2017), logo, de forma complementar, identificou-se os paradigmas que norteiam as pesquisas da amostra, para contribuir com o desafio de abordar o tema RI e gestão de stakeholders. Diante dos artigos analisados não foi identificado nenhum posicionamento voltado ao paradigma normativo e crítico. O resultado desta análise indica que os estudiosos da temática tendem a adotar o paradigma positivista e interpretativista. As pesquisas da amostra estudada superaram a dicotomia normativo-positivo, porém confirmou-se o que Cosenza et al. (2010) defende, ou seja, que a maioria dos estudos do CSA são de natureza positivista; da mesma forma que confirmou-se os resultados de Santos et al. (2018) e Slewinski et al. (2015), que estudaram, especificamente, o RI. Por um lado, as pesquisas positivistas estão voltadas a explicar o porquê adotar o RI, qual influência externa e a influência na gestão da organização, além de explorar a influência da conectividade para a relação com os stakeholders. Por outro lado, no paradigma interpretativista, pode-se inferir que as pesquisas analisadas estão direcionadas a uma visão interna da organização, tal como, transição na implementação do RI, influência no sistema de gestão e na legitimidade de informações. Por conseguinte, é possível identificar que o paradigma adotado relaciona os tipos de investigação que o pesquisador irá inferir. Nas pesquisas sobre RI e gestão de stakeholders com posicionamento interpretativista, a metodologia mais empregada foi estudo de caso e levantamento por meio de entrevistas semiestruturadas. Desse modo, o paradigma interpretativista torna-se um viés alternativo ao 14 mainstream, adotando a premissa de que as práticas contábeis apresentam significado social e organizacional e funcionam como eficiente mecanismo de gestão econômica e social (Cosenza et al., 2010). Ao considerar que a interpretação de significados, que os indivíduos colocam em sua atividade, é uma questão central para a organização, neste sentido, são os seres humanos quem constroem teorias a respeito do funcionamento do mundo e da sociedade. Logo, o processo de compreensão entre gerar e disseminar informações de situações novas ou desconhecidas deve envolver aspectos da abordagem comportamental, ou seja, a pesquisa interpretativista. A postura contábil dominante (normativo-positivo) tem uma característica evolutiva com foco nos conceitos e premissas baseados em fundamentos racionais e objetivos, relegando a um segundo plano os aspectos históricos, metodológicos, morais, éticos e sociais nos estudos da CSA. Aspectos que a perspectiva radical (crítica) tende a adotar, evoluindo de forma a incorporar as dimensões institucional,econômica, fiscal, socioambiental dos fatos patrimoniais, por isso nessa abordagem os estudos tendem a ser mais revolucionários (Cosenza et al., 2010). No entanto, essa abordagem ainda não foi utilizada no campo de RI com ênfase nos stakeholders. Percebe-se 6 artigos (40%) adotam teorias como embasamento. Mesmo que ainda não haja uma teoria que atenda as perspectivas da contabilidade socioambiental ou do RI (Cosenza et al., 2010; Deegan, 2002; Gray, 2010), para Gray, Kouhy e Lavers (1995) e Deegan (2002), a teoria dos stakeholders e a teoria da legitimidade poderiam acrescentar nas discussões de sustentabilidade organizacional, uma vez que estas bases teóricas favorecem entender como e porquê os gerentes devem divulgar informações dos três pilares da organização (econômico, social e ambiental). Para Flower (2015) a teoria dos stakeholders seria uma alternativa à teoria capitalista da organização e base para discutir sustentabilidade, uma vez que, nessa lente teórica os fornecedores não são independentes da organização e sim associados a ela. Contudo, no presente artigo, apoia-se a afirmativa de Stubbs e Higgins (2018) quanto ao fato das vozes dos usuários de RI permanecem silenciosas na literatura, considerando que somente 3 artigos (20%) se embasaram na teoria dos stakeholders. Ou seja, quanto ao RI, percebe-se que as pesquisas devem se voltar para o ‘bolo’ (elaboração do reporte), com foco nas vozes dos stakeholders (Perego et al., 2016). 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa evidenciou os fatores relacionados à gestão de stakeholders que interferem no processo de elaboração do RI, com base em estudos precedentes sobre o tema. Diante disso, foram formuladas 11 proposições, sendo que a principal é a seguinte: a ausência de comunicação com stakeholders deve-se ao fato de que nem todos os stakeholders utilizam o RI como fonte de informação, por ser direcionado aos provedores de capital financeiro e para o pilar financeiro, logo as organizações não entendem como funciona o RI, devido a falhas e ausência de explicações no Framework 1.0 para RI, assim adotam o RI por conta da competitividade e legitimidade, já que outros frameworks se destacam, como o GRI. Por conseguinte há necessidade de amadurecimento de práticas internas e motivação dos líderes organizacionais em realizar tais mudanças. Observa-se que as narrativas da sustentabilidade, sob o aspecto do RI, ainda tem muito que avançar, principalmente, devido ao fato deste reporte ser direcionado aos provedores de capital financeiro, no sentido de focar no aspecto financeiro. A partir disso, o RI deve evoluir, diante do objetivo da contabilidade consistir em disponibilizar informações úteis para a tomada de decisão dos usuários. Quanto a isso, tradicionalmente, os reportes corporativos já incluem a perspectiva financeira, assim a preocupação reside no aspecto socioambiental com 15 foco na sustentabilidade, ao considerar as necessidades dos demais usuários. Nesse caso, o RI pode se tornar o padrão mundial de reportes corporativos no futuro, porém, é necessário que seu framework evolua para permitir a aplicação de seus conceitos no âmbito organizacional. Isso é justificado pelo fato das pesquisas da amostra evidenciarem que as organizações não compreendem o RI e, consequentemente, adotam seus pressupostos de forma imprecisa. Portanto, avanços devem ser feitos no sentido fomentar os 9 fatores relacionados à gestão de stakeholders e ao RI, expostos por este estudo. A academia é responsável pela transmissão de conhecimentos aos futuros profissionais na área e pela execução de pesquisas que aproximem a academia dos praticantes, no sentido de agregar conhecimentos que sejam aplicáveis aos profissionais da área, contribuindo com o debate de temas inconclusos. Sobre isso, é reconhecido que as pesquisas sobre RI e gestão de stakeholders estão buscando contribuir com a evolução de seus conceitos, ou seja, avançando para o posicionamento interpretativista. Entretanto, embora o aspecto crítico possa contribuir no processo de enraizamento e evolução da CSA, outras abordagens são importantes no processo de consolidação para normatizar, descrever, explicar fenômenos e interpretar seu funcionamento dentro da organização. Logo, todas as abordagens têm suas vantagens e desvantagens e propiciam a consolidação da CSA, diante do fato de que o RI deve quebrar a concepção de uma ciência voltada apenas para vertentes financeiras. Ademais, os stakeholders representam os diferentes grupos que envolvem um conjunto de práticas multilaterais (Freeman & Evan, 1990). As pesquisas analisadas apontaram o papel dos stakeholders no processo de comunicação com as organizações, contudo, alguns autores não definiram qual grupo estavam se referindo, sendo externo ou interno. A pesquisa de Beck, Dumay e Frost (2016), sugeriu que o IIRC defina com mais estrutura para quais stakeholders o RI é voltado. Assim, definindo quem são os stakeholders, os estudos podem contribuir de forma pontual com os desafios do RI. A contribuição teórica deste estudo está ao constar que a contabilidade está avançando para um novo paradigma de pesquisa, que são pesquisas interpretativas voltadas para o sujeito. Mas ao mesmo tempo, nessa amostra, não houve estudos normativos o que causa preocupação ao considerar que a academia pode estar passando de normativo para positivo e, órgãos reguladores assumindo o papel de normativos (Flower, 2015; Iudícibus & Martins, 2015). Além disso, contribui-se para a literatura do RI ao refletir que os pressupostos da teoria do stakeholders pode ser uma alternativa para atender além dos pressupostos capitalistas e do provedor de capital financeiro de uma organização. Quanto à contribuição empírica ao IIRC e as organizações, nota-se que a adoção do RI é uma nova forma de comunicação, logo, em seu âmbito, a sustentabilidade deve ser debatida para aperfeiçoar as métricas contábeis de reconhecimento e mensuração, no sentido de abordar informações não financeiras, ao manter contato com os stakeholders. Como os stakeholders estão entre a sociedade, que por sua vez, têm interesse em conteúdos de reportes corporativos, observa-se que as organizações devem se atentar à sustentabilidade na composição do RI. Inclusive, contribuiu-se com os desafios do RI, ao evidenciá-los por meio de fatores e proposições qualitativas, tendo em vista que o IIRC busca torná-lo um padrão mundial de reportes corporativos. Embora defendível teoricamente e metodologicamente, uma limitação nesse estudo é não poder generalizar os dados. Para estudos posteriores sugere-se utilização de filtros de pesquisa que possibilitem analisar mais artigos, para verificar a evolução das premissas de pesquisa. Assim como, desafia-se os acadêmicos e pesquisadores da área a fomentar os 9 fatores relacionados à gestão de stakeholders e ao RI, expostos por este estudo, por meio de pesquisas críticas com intuito de auxiliar o IIRC a mudar as circunstâncias atuais a respeito do RI. 16 REFERÊNCIAS Adams, C. A. (2015). The International Integrated Reporting Council: a call to action. Critical Perspectives on Accounting, 27(1), 23–28. Barbosa, C. A. M., Neves, F. E. B., Santos, J. M. L., Cassunde, F. R. de S. A., & Cassunde, N. F. J. (2013). “Positivismos” versus “Interpretativismos”: o que a Administração tem a ganhar com esta disputa ? Organizações em Contexto, 9(17), 1–29. Baptista, N. (2018). Integrated reporting stimulates strategic communication of corporate social responsibility? A marketing perspective analysis based on Maignan, Ferrell and Ferrell’s stakeholder model of corporate social responsibility in marketing. Media & Jornalismo, 18(33), 43-60. Beck, C., Dumay, J., & Frost, G. (2016). In Pursuit of a “Single Source of Truth”: from Threatened Legitimacy to Integrated Reporting. Journal of Business Ethics,141(1), 191– 205. Brusca, I., Labrador, M., & Larran, M. (2018). The challenge of sustainability and integrated reporting at universities: A case study. Journal of Cleaner Production, 188, 347–354. Burrel, G. & Morgan, G. (1979) Sociological Paradigms and Organizational Analysis. Ashgate Publishing Limited, Burlington, Nova Jérsia. Campoe, J. C. (2016). Incorporação do pensamento integrado aos mecanismos internos como pré-requisitos para a viabilização do processo de asseguração independente para relato integrado. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, Brasil. Chua, W. F. (1986). Radical Developments in Accounting Thought. The Accounting Review, 61(4), 601-632. Clayton, A. F., Rogerson, J. M., & Rampedi, I. (2015). Integrated reporting vs. sustainability reporting for corporate responsibility in South Africa. Bulletin of Geography, 29(29), 7-17. Cosenza, J. P., Mamede, E., & Laurencel, L. C. (2010). Análise dos fundamentos teóricos associados à pesquisa contábil na área ambiental. Enfoque: Reflexão Contábil, 29(1), 18– 38. Deegan, C. (2002). Introduction: The legitimising effect of social and environmental disclosures–a theoretical foundation. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 15(3), 282-311. Dumay, J., Bernardi, C., Guthrie, J., & Demartini, P. (2016). Integrated reporting : A structured literature review. Accounting Forum, 40(3), 166–185. Fasan, M., & Mio, C. (2017). Fostering Stakeholder Engagement: The Role of Materiality Disclosure in Integrated Reporting. Business Strategy and the Environment, 26, 288–305. Feng, T., Cummings, L., & Tweedie, D. (2017). Exploring integrated thinking in integrated reporting – an exploratory study in Australia. Journal of Intellectual Capital, 18(2), 330– 353. Flower, J. (2015). Critical Perspectives on Accounting The International Integrated Reporting Council : A story of failure. Critical Perspectives on Accounting, 27, 1–17. Freeman, R. E. & Evan, W. M. (1990). Corporate Governance: A Stakeholder Interpretation. The Journal of Behavioral Economics, 19(4), 337-359. 17 Freeman, R. E., et al. (2010). Stakeholder Theory: The State of the Art. New York: Cambridge University Press. Frías-Aceituno, J. V, Rodríguez-Ariza, L., & García-Sánchez, I. M. (2013). Is integrated reporting determined by a country’s legal system ? An exploratory study. Journal of Cleaner Production, 44(1), 45–55. García-Sanchez, I.-M., & Noguera-Gámez, L. (2017). Integrated Reporting and Stakeholder Engagement: The Effect on Information Asymmetry. Corporate Social Responsibility and Environmental Management, 24, 395–413. Gray, R. (2010). Is accounting for sustainability actually accounting for sustainability… and how would we know? An exploration of narratives of organisations and the planet. Accounting, Organizations and Society, 35(1), 47-62. Gray, R., Kouhy, R., & Lavers, S. (1995). Corporate social and environmental reporting: a review of the literature and a longitudinal study of UK disclosure. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 8(2), 1–32. Humphrey, C., O’Dwyer, B., & Unerman, J. (2016). Re-theorizing the configuration of organizational fields: the IIRC and the pursuit of “Enlightened” corporate reporting. Accounting and Business Research, 47(1), 30–63. International Integrated Reporting Council – IIRC (2014). A Estrutura Internacional para Relato Integrado. Recuperado em 28 dez. 2018, de http://integratedreporting.org/resource/international-ir-framework Iudícibus, S., & Martins, E. (2015). Estudando E Pesquisando Teoria: O Futuro Chegou? Revista Universo Contábil, 11(1), 6-24. Lai, A., Melloni, G., & Stacchezzini, R. (2018). Integrated reporting and narrative accountability: The role of preparers. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 31(5), 1381-1405. Lewis, M.W. & Grimes, A. J. (2005). Metatriangulação: a construção de teorias a partir de múltiplos paradigmas. Revista de Administração de Organizaçãos, 45(1), 72-91. Lodhia, S. (2015). Exploring the transition to integrated reporting through a practice lens: an Australian customer owned bank perspective. Journal of Business Ethics, 129(3), 585-598. Lopes, A. B. & Martins, E. (2005). Teoria da Contabilidade: uma nova abordagem. São Paulo: Atlas. Martins, A. V. (2012). Pesquisa Contábil Brasileira: Uma Análise Filosófica. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, SP, Brasil. Meintjes, C., & Grobler, A. F. (2014). Do public relations professionals understand corporate governance issues well enough to advise companies on stakeholder relationship management? Public Relations Review, 40(2), 161-170. Myers, M. D. (1994). Qualitative Research in Information Systems. MIS Quarterly, 21(2), 241-242. Naynar, N. R., Ram, A. J., & Maroun, W. (2018). Expectation gap between preparers and stakeholders in integrated reporting. Meditari Accountancy Research. 18 Nossa, V., Rodrigues, V. R. dos S., & Nossa, S. N. (2017). O que se tem pesquisado sobre Sustentabilidade Organizaçãorial e sua Evidenciação? Revista de Educação e Pesquisa em Contabilidade, 11(5), 87–105. Perego, P., Kennedy, S., & Whiteman, G. (2016). A lot of icing but little cake ? Taking integrated reporting forward. Journal of Cleaner Production Journal, 136, 53-64. Rensburg, R., & Botha, E. (2014). Public Relations Review Is Integrated Reporting the silver bullet of financial communication ? A stakeholder perspective from South Africa. Public Relations Review, 40(2), 144–152. Richardson, V. J. (2000). Information asymmetry and earnings management: Some evidence. Review of Quantitative Finance and Accounting, 15 (4), 325-347. Salotti, B. M., & Yamamoto, U. D. S. (2005). Ensaio Sobre a Teoria da Divulgação. Brazilian Business Review, 2(1), 53-70. Santos, A. C., Neumann, M., Camacho, R. R. (2018). Reflexões Epistemológicas de Estudos Empíricos sobre Relato Integrado. Anais... São Paulo: XVIII Congresso USP Controladoria e Contabilidade. Schaltegger, S. (2012). Sustainability Reporting in the Light of Business Environments Linking Business Environment, Strategy, Discussion Paper. Scherer, A. G. (1998). Introduction to the Special Issue : Theory Pluralism and Incommensurability in Strategic Management and Organization Theory : A Problem in Search of a Solution, Organization, 5(2), 147-168. Sierra-García, L., Zorio-Grima, A., & García-Benau, M. A. (2015). Stakeholder Engagement, Corporate Social Responsibility and Integrated Reporting: An Exploratory Study. Corporate Social Responsibility and Environmental Management, 22, 286–304. Slewinski, E., Camacho, R. R., Sanches, S. L. R. (2015). Análise bibliométrica e paradigmática da produção científica sobre Relato Integrado nos periódicos internacionais de contabilidade. Anais... São Paulo: XV Congresso USP Controladoria e Contabilidade. Stubbs, W., & Higgins, C. (2018). Stakeholders’ perspectives on the role of regulatory reform in integrated reporting. Journal of Business Ethics, 147(3), 489-508. Thomson, I. (2015). Critical Perspectives on Accounting “But does sustainability need capitalism or an integrated report ” a commentary on “ The International Integrated Reporting Council : A story of failure ” by Flower , J . Critical Perspectives on Accounting, 27, 18–22. Veltri, S., & Silvestri, A. (2015). The Free State University integrated reporting : a critical consideration. Journal of Intellectual Capital, 16(2), 443–462. Villiers, C. de, Rinaldi, L., & Unerman, J. (2014). Integrated Reporting: Insights, gaps and an agenda for future research. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(7), 1042- 1067. Wulf, I., Niemöller, J., & Rentzsch, N. (2014). Development toward integrated reporting, and its impact on corporate governance: a two-dimensional approach to accounting with reference to the German two-tier system.Journal of Management Control, 25(2), 135-164. View publication statsView publication stats https://www.researchgate.net/publication/334959649
Compartilhar