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Estados e Classes Sociais 
1 TROL 
Estados e Classes 
Sociais 
Cátia Couto da Costa 
 
1ª
 E
d
iç
ão
 
Estados e Classes Sociais 
2 
DIREÇÃO SUPERIOR 
Chanceler Joaquim de Oliveira 
Reitora Marlene Salgado de Oliveira 
Presidente da Mantenedora Wellington Salgado de Oliveira 
Pró-Reitor de Planejamento e Finanças Wellington Salgado de Oliveira 
Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira 
Pró-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira 
Pró-Reitora Acadêmica Jaina dos Santos Mello Ferreira 
Pró-Reitor de Extensão Manuel de Souza Esteves 
 
DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTÂNCIA 
Assessora Andrea Jardim 
 
FICHA TÉCNICA 
Texto:Cátia Couto da Costa 
Revisão Ortográfica: Marcus Vinícius da Silva e Natália Barci de Souza 
Projeto Gráfico e Editoração:, Eduardo Bordoni, Fabrício Ramos, Marcos Antonio Lima da Silva 
Supervisão de Materiais Instrucionais: Janaina Gonçalves de Jesus 
Ilustração: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos 
Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos 
 
COORDENAÇÃO GERAL: 
Departamento de Ensino a Distância 
Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br 
 
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universo– Campus Niterói 
 
Bibliotecária: Elizabeth Franco Martins CRB 7/4990 
Informamos que é de única e exclusiva responsabilidade do autor a originalidade desta obra, não se responsabilizando a ASOEC 
pelo conteúdo do texto formulado. 
© Departamento de Ensino a Distância - Universidade Salgado de Oliveira 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma 
ou por nenhum meio sem permissão expressa e por escrito da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, mantenedora 
da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO). 
 
C837e Costa, Cátia Couto. 
 Estado e classes sociais / Cátia Couto Costa ; revisão de Natália
Barci de Souza e Marcus Vinicius da Silva. – Niterói, RJ: 
EAD/UNIVERSO, 2012. 
 119 p. : il. 
 1. Estado. 2. Política. 3. Estratificação social. 4. Classes 
sociais. 5. Ciência política. I. Souza, Natália Barci de. II. 
Silva, Marcus Vinicius da. III. Título. 
 CDD 320.1 
 
Estados e Classes Sociais 
3 
 
 
Informações sobre a disciplina 
 
 
Carga Horária: 45 h 
Créditos: 03 
 
Ementa: Relação entre a Política, o Estado e a Ciência Política. Genealogia do 
Estado Moderno. Teorias do Estado. Fundamentação teórica do Estado 
Contemporâneo. Estratificação social e classes sócias: conceitos, teorias e 
metodologias de análise. 
 
Unidade 1: O Estado e a Política 
• Introdução à Política. 
• A Genealogia do Estado. 
• O Estado como Foco de Análise Científica. 
• Instituições: Estado e Governo. 
• Recursos: Poder, Influência ou Autoridade. 
• Processos: Formulação de Decisões sobre Linhas de Conduta Coletiva. 
• Função: Resolução Não Violenta dos Conflitos. 
 
Unidade 2: Fundamentações Teóricas do Estado Moderno 
• O Cenário Político da Europa Ocidental e da Península Itálica na metade 
Século XV. 
• A Concepção de Estado na Obra de Nicolau Maquiavel (1469-1527). 
• A Tradição Jusnaturalista e Contratualista. 
• Thomas Hobbes (1588-1679) e o Estado Absolutista. 
• A Filosofia Política do Liberalismo. 
• John Locke (séc. XVI-XVIII) e o Abalo do Edifício Absolutista. 
• Rousseau (séc. XVIII) e o Século das Luzes: Ideias e Legados. 
Estados e Classes Sociais 
4 
 
Unidade 3: Fundamentações Teóricas do Estado Contemporâneo 
 
• O Estado Idealista de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831). 
• Estado e Sociedade Civil: O Materialismo Histórico na Teria de Karl Marx. 
• A Crítica ao Estado Liberal Burguês. 
 
Unidade 4: Classes Sociais e Estratificação Social: Conceitos, Teorias e 
Metodologias 
 
• Estratificação Social e Classes Sociais – Conceitos Básicos. 
• Conceituação de Classes Sociais e Estratificação Social segundo Marx, Weber, 
Durkheim e Parsons. 
• O que Revelam os Estudos sobre Classes Sociais e Estratificação Social no 
Brasil. 
 
Bibliografia Básica: 
 
ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à Filosofia. São 
Paulo: Moderna, 1993. 
BOBBIO, N.; PASQUINO, G.; MATTEUCCI. Dicionário de Política. Brasília: UNB, 1997. 
CHAUI, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1998. 
 
Estados e Classes Sociais 
5 
 
Bibliografia Complementar: 
 
PINZANI, Alesandro. Maquiavel e o Príncipe. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. 
(Coleção Filosofia Passo a Passo) 
WEFFORT, Francisco C. (org.). Os Clássicos da Política. São Paulo: Ática, v.1, 1995. 
OUTHWAITE, W. et al. Dicionário do Pensamento social do século XX. Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996. 
SKINNER, Quentin. As Fundações do Pensamento político moderno. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1996. 
WEFFORT, Francisco C. (org.). Os Clássicos da Política. São Paulo: Ática, v.1, 1995. 
. 
Estados e Classes Sociais 
6 
 
Pa l av ra da Rei tora 
Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo, 
exigente e necessitado de aprendizagem contínua, a Universidade Salgado de 
Oliveira (UNIVERSO) apresenta a UNIVERSO Virtual, que reúne os diferentes 
segmentos do ensino a distância na universidade. Nosso programa foi 
desenvolvido segundo as diretrizes do MEC e baseado em experiências do gênero 
bem-sucedidas mundialmente. 
São inúmeras as vantagens de se estudar a distância e somente por meio 
dessa modalidade de ensino são sanadas as dificuldades de tempo e espaço 
presentes nos dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu próprio 
tempo e gerenciar seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se 
responsável pela própria aprendizagem. 
O ensino a distância complementa os estudos presenciais à medida que 
permite que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo 
momento ligados por ferramentas de interação presentes na Internet através de 
nossa plataforma. 
Além disso, nosso material didático foi desenvolvido por professores 
especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade são 
fundamentais para a perfeita compreensão dos conteúdos. 
A UNIVERSO tem uma história de sucesso no que diz respeito à educação a 
distância. Nossa experiência nos remete ao final da década de 80, com o bem-
sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo 
de atualização, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualização, 
graduação ou pós-graduação. 
Reafirmando seu compromisso com a excelência no ensino e compartilhando 
as novas tendências em educação, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer o 
programa e usufruir das vantagens que o estudar a distância proporciona. 
 
Seja bem-vindo à UNIVERSO Virtual! 
Professora Marlene Salgado de Oliveira 
Reitora 
Estados e Classes Sociais 
7 
 
 
Sumário 
 
Ementa ..................................................................................................................................3 
 
Apresentação da Disciplina .............................................................................................10 
 
Plano da Disciplina .............................................................................................................12 
 
Unidade 1 - O Estado e a Política.....................................................................................15 
 
Unidade 2 - Fundamentações Teóricas do Estado Moderno. .................................41 
 
Unidade 3- Fundamentações Teóricas do Estado Contemporâneo...................... 71 
 
Unidade 4: Classes Sociais e Estratificação Social: Conceitos, Teorias e 
Metodologias. ....................................................................................................................85 
 
Considerações Finais .........................................................................................................114Conhecendo a Autora .......................................................................................................115 
 
Referências ..........................................................................................................................116 
 
Anexos................................................................................................................................... 119 
 
Estados e Classes Sociais 
8 
 
 
Estados e Classes Sociais 
9 
 
A pr esentação da Di sciplina 
 
Prezado aluno, 
Seja bem-vindo à disciplina Estado e Classes Sociais! 
 
O desafio para entender a natureza do Estado torna-se claro se observarmos 
que a forma estatal, pelo menos atualmente, é a expressão mais completa do 
esforço para estruturar de maneira racional as relações entre os homens. Este é 
pelo menos o ensinamento dos clássicos de Aristóteles a Hegel, mas este esforço 
parece sempre inacabado. Nossa insatisfação diante das diferentes organizações 
estatais nos coloca diante de muitas dúvidas e incertezas. O que precisa estar claro 
antes de tudo é que o Estado é uma instituição, a qual está ligada diretamente a 
ação racional empregada no campo da política. Mas afinal, o que é política? 
Em conversas diárias costumamos nos dirigir a política de diversas formas que 
não ao sentido original desta palavra. Embora permeie todas as esferas da nossa 
vida, a política como ciência se constitui um instrumento fundamental para os 
profissionais da área de ciências humanas se familiarizarem com as interpretações, 
tradições e linguagens desenvolvidas pelo homem imerso em relações sociais. Por 
isso, a primeira unidade desta disciplina se colocará como objetivo propor uma 
análise sobre o Estado como um espaço de realização da política. 
O curso tem por objetivo apresentar e discutir o conceito de Estado e de 
classes sociais, dois substantivos que, como categorias históricas, guardam em si o 
acúmulo das transformações e ideologias de cada contexto na qual o poder 
simbólico ganhou diferentes desenhos. Na unidade dois e três conheceremos parte 
do legado que a filosofia política nos proporcionou para dar as bases do que hoje 
chamamos de Estado e classes sociais. 
Na medida em que a reflexão política se constitui a partir de um conjunto 
próprio de enunciados sobre o mundo, o nexo com a filosofia se torna, portanto, 
incontornável. Na última unidade, buscamos dar luz ao conceito de classe social. 
Além disso, veremos também que é difícil para estudiosos das diferentes tradições 
políticas e intelectuais obterem um consenso sobre esta matéria. 
Estados e Classes Sociais 
10 
 
Por tudo isso, o convite é o de por em destaque a dimensão poética dos dois 
conceitos com o qual se ocupam esta disciplina, vale dizer, a da antecipação e 
invenção de uma tipologia de mundo existente que, por vezes, influenciaram as 
atitudes dos homens no mundo real da política. Em outros termos, trata-se de 
explorar a ideia de que a tradição da filosofia política constitui um elemento 
importante para o profissional de serviço social que atua diretamente com as 
mazelas de uma série de atos de simulações de mundos. 
Espero que vocês tenham ficado animados para nossa disciplina, qualquer 
dúvida conte conosco, com o nosso auxílio na construção do caminho que se 
descortina através da viagem pelas ideias políticas e sociais que iremos começar. 
 
Bom desempenho! 
 
Estados e Classes Sociais 
11 
 
Plano da Disciplina 
 
A disciplina Estado e Classes Sociais vai abordar a relação entre a Política, o 
Estado e a Ciência Política, Genealogia do Estado Moderno, Teorias do Estado, 
Fundamentação Teórica do Estado Contemporâneo, Estratificação Social e Classes 
Sócias: Conceitos, Teorias e Metodologias de Análise. 
A Disciplina foi subdividida em quatro Unidades, 
dasquaisfaremosumpequenoresumodeseusrespectivosobjetivosparadarumavisão
geraldoqueseráabordadonoconteúdo. 
 
Unidade 1: O Estado e a Política 
Iniciaremos os nossos estudos sobre Estado e classes sociais fazendo uma 
descrição do que entendemos por Estado e como ele se constitui em um objeto de 
Ciência Política. A partir da compreensão desse conceito, ficarão mais claras as 
diferentes abordagens que serão tratadas nas unidades seguintes. 
 
Objetivo: 
Compreender o Estado como uma instituição política dando ênfase às 
principais formas de abordagem do fenômeno político, enquanto objeto de 
investigação científica. 
 
Unidade 2: Fundamentações Teóricas do Estado Moderno 
Nesta unidade veremos como a teoria política moderna cria contornos para a 
fundamentação do Estado moderno. Serão abordadas as teorias de Nicolau 
Maquiavel e o contratualismo de Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques 
Rousseau, além dos conceitos de soberania, contrato e representação que 
reconfiguraram, em seus fundamentos, o campo teórico do pensamento político 
na direção apontada por Maquiavel. 
 
Estados e Classes Sociais 
12 
 
Objetivos: 
Analisar e identificar a gênese do Estado moderno tendo como base a 
elaboração da teoria de Nicolau Maquiavel e a teoria construída no interior do 
contratualismo. 
 
Unidade 3: Fundamentações Teóricas do Estado Contemporâneo 
Nesta unidade iremos conhecer a contribuição dos alemães Georg Wilhelm 
Friedrich Hegel e Karl Marx para a teoria de Estado do século XIX e, as condições 
que propiciaram a formulação da teoria neoliberal. 
 
Objetivos: 
Analisar a contribuição de Hegel e Karl Marx para a teoria de Estado e os 
desdobramentos mundo contemporâneo. 
 
Unidade 4: Classes Sociais e Estratificação Social: Conceitos, Teorias e 
Metodologias. 
Nesta nossa última unidade vamos estudar os fatos que influenciam a 
percepção e as metodologias usadas por universidades, institutos de pesquisa, 
governos, sindicatos e empresas para explicar a desigualdade social existente entre 
os indivíduos ou grupos sociais, nas sociedades contemporâneas, modernas ou 
antigas, bem como identificar a aplicação destes conceitos e metodologias em 
algumas análises da sociedade brasileira contemporânea. 
Objetivo: 
Compreender os conceitos de classes sociais e estratificação social do ponto 
de vista de autores clássicos como Emile Durkheim, Karl Marx, TalcottParsons e Max 
Weber. 
Bons Estudos! 
Estados e Classes Sociais 
13 
1 O Estado e a Política 
Introdução à Política. 
A Ge ne alogia do Estado. 
O Estado com o Foco de A nálise Cie ntíf ica. 
Instituiçõe s : Estado e Gove rno. 
Re cursos : Pode r, Influê ncia ou A utoridade . 
Proce ssos : Form ulação de De cisõe s sobre Linhas de 
Conduta Cole tiva. 
Função: Re solução Não Viole nta dos Conflitos . 
Estados e Classes Sociais 
14 
 
Prezado aluno, iniciaremos os nossos estudos sobre Estado e classes sociais 
fazendo uma descrição do que entendemos por Estado e como ele se constitui em 
um objeto de Ciência Política. A partir da compreensão desse conceito, ficarão mais 
claras as diferentes abordagens que serão tratadas nas unidades seguintes. 
 
Objetivo da Unidade: 
 
Compreender o Estado como uma instituição política dando ênfase às 
principais formas de abordagem do fenômeno político, enquanto objeto de 
investigação científica. 
 
Plano da Unidade: 
 
• Introdução à Política. 
• A Genealogia do Estado. 
• O Estado como Foco de Análise Científica. 
• Instituições: Estado e Governo. 
• Recursos: Poder, Influência ou Autoridade. 
• Processos: Formulação de Decisões sobre Linhas de Conduta Coletiva. 
• Função: Resolução Não Violenta dos Conflitos. 
 
Estados e Classes Sociais 
15 
 
Definir o conceito de Estado é uma tarefa que exige algumas considerações. 
Antes de tudo é importante desnaturalizar a noção de sua própria existência. O 
Estado é uma criação, uma instituição humana e que, portanto, não existiu sempre, 
menos ainda, se constitui como o único modelo de organização social. Existem 
outras formas de organização baseadas natradição, em mitos, em relações de 
parentesco, clãs etc. O antropólogo francês Pierre Clastres, no livro Sociedades 
Contra o Estado, dedicou-se a estudar sociedades que não se organizaram tendo 
como base a instituição política do Estado. Em seu trabalho evidencia-se como 
fomos acostumados pela ideologia europeia a considerar essas diferentes 
formações sociais de primitivas, inferiores, não como uma outra resposta a dilemas 
e desafios em comum às sociedades ‘com Estado’ e ‘sem Estado’. É curioso e difícil 
de compreender como essas sociedades criaram uma organização deliberada na 
qual o poder não se destaca nem se separa da comunidade, não forma uma 
instituição acima ou fora dela. 
Se pensarmos na morfologia do Estado é difícil imaginar que a defesa nacional, 
o poder de polícia, as normatizações, a criação e cobrança de impostos possam ser 
de outra competência que não a do Estado. Pierre Clastres explica isso mostrando 
que nas sociedades sul-americanas, por ele analisadas, não há propriedade privada 
nem divisão social do trabalho, não havendo, portanto, classes sociais nem luta de 
classes. Trata-se de outra lógica de organização social. A propriedade é comum a 
todos os membros sociais, por isso o que se tem é uma comunidade e o trabalho 
se divide por sexo ou idade. Nesta lógica a sociedade é homogênea, una e 
indivisível, possuindo uma História e um destino comum. Isso possibilita que a 
sociedade decida para si mesma com base em suas necessidades e tradições. O 
livro de Pierre Clastres nos dá uma abertura para entender duas consequências de 
imediato para o estudo e a abordagem do problema da definição do que venha a 
ser o Estado. 
A primeira delas refere-se à consciência de que nem todas as sociedades têm 
dentre seus sistemas simbólicos a instituição do Estado. Cada “[...] sistema cultural 
tem a sua própria lógica e não passa de um ato de etnocentrismo tentar transferir a 
lógica de um sistema para o outro” (LARAIA, 2004, p.87). Lamentavelmente, a 
tendência mais corrente é olhar para essas diferenças numa perspectiva 
comparativa que estabelece comparações, gradações entre ‘superiores’ e 
‘inferiores’, ‘civilizados’ e ‘primitivos’ ou ainda ‘desenvolvidos’ e ‘subdesenvolvidos’ 
Estados e Classes Sociais 
16 
 
Em segundo lugar e correlativamente, compreende-se também que o Estado é 
produto de uma criação artificial, ou seja, que se trata de uma instituição social e 
como tal, este está imerso nas contradições e na dinâmica de cada particularidade 
histórica. 
A condição de Estado se constitui, de forma geral, muito mais como uma 
aspiração do que uma realidade. Esta característica ajuda a entender à dificuldade 
de se obter um consenso conceitual acerca do Estado. Se entendermos que o 
Estado é uma forma de organização política cabe definir, antes, o que seja a 
política e qual é a sua relação com o Estado. 
 
Introdução à Política 
 
A migração das ideias raramente se faz sem provocar danos quando são 
deslocadas de seu contexto histórico e cultural. O sistema de referências teóricas, 
em relação às quais as ideias se definem estão vinculadas ao espaço, grupo e 
tempo de origem. O conceito de política é vítima desse movimento de repatriação. 
Isso implica nos riscos graves de simplificação do seu conceito. 
Uma visão contemporânea generalizada define a política como algo 
pejorativo, perverso, perigoso, fraudulento, corrupção, distante de nós, sobretudo, 
como uma atribuição exclusiva do Estado e praticada por políticos profissionais. 
A palavra política é usada de diversas formas que não se referem, 
necessariamente, ao seu sentido fundamental. Falamos de políticas públicas, 
política sindical, política da empresa, da escola, no trabalho, da Igreja, enquanto 
formas de disputa de poder interno. Mas afinal, como identificar o que vem a ser 
política? 
A política pode ser descrita de várias maneiras, como por exemplo: dizendo 
respeito ao poder, lidando com a resolução de conflitos ou fornecendo 
mecanismos para a tomada de decisões. Apesar de elementos como poder e 
autoridade sempre ter existido, não podemos dizer o mesmo da política por dois 
motivos: Em primeiro lugar, porque as formas como os homens se organizam é o 
resultado de uma escolha, de um processo de experimentação, concepções entre 
Estados e Classes Sociais 
17 
 
infinitas possibilidades de ações e relações que dizem respeito a todos os membros 
de uma sociedade. Em segundo lugar, porque a política foi uma resposta dos 
homens para lidar com seus diferentes interesses e conflitos sem que, para isso, 
tivessem que declarar uma guerra generalizada, com uso da violência e do 
extermínio recíproco. 
Por essas duas razões convêm dizer que é um consenso, na área das ciências 
sociais, que a política é uma criação artificial, resultado da capacidade do homem 
de inventar conceitos e convenções sociais. A capacidade infinita de formulações 
gera diferentes culturas, formas de deliberar, de decidir em grupo, negociar, 
discutir, representar e ser representado em grupo. 
 
A Genealogia do Estado 
 
De maneira simplificada, devemos entender por genealogia o estudo dos 
antepassados de uma pessoa, mas em termos filosóficos também podemos aplicar 
este termo como um modo de compreender o presente a partir do passado, com o 
objetivo de conhecer um conceito, seu desenvolvimento e sua história. Neste 
curso, a história não nos interessa agora como sucessão de fatos, mas como a base 
para entender o mundo atual, como um meio de descobrir o sentido, a direção dos 
acontecimentos, a estrutura e a função de determinadas configurações político-
institucionais. 
A origem muito antiga da política remonta ao século IV a.C., especificamente, à 
cultura dos gregos e romanos. No entanto, atribuir a gregos e romanos a invenção 
da política e suas formas de representação (seus signos), não significa dizer que, 
antes deles, não existiam o poder e a autoridade. O critério do que é o poder, 
como este passa à autoridade de forma legítima — quem manda e quem obedece 
— varia no tempo e de lugar. 
Gregos e romanos inovaram a maneira de organizar, exercer o poder e a 
autoridade, ou seja, rearticularam as bases de legitimidade. As justificativas de 
apropriação do poder e da autoridade através de mitos, forças transcendentais, 
naturalistas, foram substituídas pela ação humana. A compreensão da política 
Estados e Classes Sociais 
18 
 
passa pela necessidade de perceber que ela está vinculada a uma ideia de 
liberdade e espontaneidade humana. 
A maior parte do vocabulário que utilizamos contemporaneamente tem suas 
origens nessas duas culturas. Antes de examinarmos como ocorreu à invenção da 
política, cabe conhecermos uma parte básica de seu vocabulário. Para isso, 
tomaremos emprestadas as definições feitas por Norberto Bobbio, Nicolau 
Matteucci e Pasquino, no Dicionário de Política e da filósofa Marilena Chauí, no 
livro Convite à Filosofia. 
O termo grego, Política, está intimamente vinculado ao adjetivo tapolitika 
originado de pólis — que se refere a tudo que é urbano, da cidade, a organização 
da comunidade, civil, público e social. A pólis é formada pelos politikos (cidadãos), 
“isto é, pelos homens nascidos na Cidade, livres e iguais, portadores de dois direitos 
inquestionáveis, a isonomia [igualdade perante a lei]e a isegoria[direito de expor 
seus argumentos]” (CHAUÍ, 2002, p.371, grifo meu). Na Grécia Clássica, a lei foi 
criada como uma forma de padronizar o comportamento de todos os indivíduos 
que habitavam a pólis. Não havia autoridade acima da lei, todos os cidadãos 
participavam da vida pública. 
Além disso, outras palavras greco-romanas fazem parte do nosso vocabulário 
para definir a esfera do político. Do grego Kratos (força, potência) e arché 
(autoridade) nasceram os nomes das antigas formas de governo, “democracia”, 
“aristocracia”, “oligarquia”, “monarquia” e todas as palavras que gradualmenteforam sendo criadas para indicar forma de poder ou ações políticas, “tirania”, 
“despotismo”, “anarquia”, “consenso”, “pacto”, “ditadura”, “senado”, “povo” etc. 
Em resumo, tapolitika seria as ações públicas realizadas pelos cidadãos — 
administração dos serviços e erário públicos, contratos de paz e guerra, leis, 
costumes e atividades econômicas. Em Roma, a tradução latina civitas, se equivale 
à palavra grega pólis, assim como a palavra res publica é a aliteração latina de 
tapolitika. 
Na época moderna esses termos se metamorfosearam: pólis e civitas passaram 
a corresponder à ideia de Estado e suas instituições, enquanto, Ta política e res 
pública se referem à participação no poder, a ação política, aos conflitos e 
mediações, a administração, serviços e negócios públicos, ou seja, tudo que resulta 
no funcionamento do Estado. 
Estados e Classes Sociais 
19 
 
 
O Estado como Foco de Análise Científica 
 
O uso da palavra ciência aplicada ao estudo da política é, muitas vezes, 
controverso. A política apresenta uma pluralidade de dimensões. A ciência evoca 
um conjunto organizado de conhecimentos que se desenvolve no domínio do 
concreto e experimental, baseado na observação da realidade. Como ciência social 
não compete ao cientista político conclusões imperativas nem diretrizes morais, 
mas conclusões indicativas racionais, harmonizadas com regularidades e 
tendências. 
O cientista político deve se abster dos juízos de valor durante a pesquisa para 
não influenciar a análise e perder a objetividade científica. Sem a suspensão dos 
juízos de valor não há ciência. O resultado da pesquisa conta com o compromisso 
ético e político do pesquisador. 
Sem ignorar que todo cientista está imerso num sistema sociocultural, ao 
pactuar com a objetividade científica cada investigador tem por dever considerar, 
conscientemente, sua pretensão e definir explicitamente o seu conceito de Política. 
Neste ponto está o segredo das ciências humanas. A definição dos conceitos é a 
chave que abre a porta para uma abordagem do conhecimento. Diferentes chaves 
podem conduzir a diferentes resultados finais. Quando uma assistente social utiliza 
uma dessas chaves este também deve ter clareza de quais são os conceitos que 
utilizará para dar inteligibilidade à realidade em que atua e, principalmente, qual 
será o seu método de intervenção nesta mesma realidade. 
Importante 
Durante m uito te m po o te rm o política foi utilizado para de s ignar os e studos 
do que se re fe ria o Estado, m as m ante r esta abordage m se ria re ducionista de m ais . 
Estaríam os e xplicando a política por ape nas um a de suas parte s , se ria “re duzir” o 
próprio conce ito de política. Quando falam os de política “e stam os falando de um 
proce sso social atravé s do qual o pode r cole tivo é ge rado, organizado, distribuído e 
usado nos s is te m as sociais .” (JOHNSON, A .G. Dicionário de Sociologia. 1 9 9 7. p.1 78 ). 
Estados e Classes Sociais 
20 
 
Cada conceito ou definição opera como uma espécie de hipótese inicial que, 
como observa Maurice Durverger, formará e deformará o trabalho do profissional, 
independente de sua vontade. A realidade é polissêmica, o que torna toda análise 
sempre parcial. 
Hipertexto: polissemia é o que tem muitos significados. Quando um termo 
tem várias acepções, dizemos que há uma polissemia. 
Em função da complexidade dos fenômenos sociopolíticos, ninguém 
conseguiu apresentar uma teoria geral das sociedades que fosse satisfatória. 
Portanto, é tão inconsequente expedir opiniões sobre os limites do conhecimento, 
quanto negar a possibilidade de qualquer teoria ser ultrapassada. 
Em síntese, a ciência política procede metodologicamente como todas as 
ciências, buscando construir um conhecimento sistemático e ordenado dos 
fenômenos referentes à política, identificando um conjunto de atividades que se 
diferencie de outros fenômenos sociais com características, relações e padrões 
diferentes. Uma vez atingida à teoria, o processo de divulgação vai sendo 
enriquecido em decorrência de novas pesquisas, das mudanças sociais estudadas e 
do desenvolvimento metodológico. 
No restante desta unidade você vai ser apresentado a algumas das principais 
abordagens à delimitação de campo de investigação da ciência política. Lembre-se 
que, cada abordagem é uma chave, uma porta de entrada, um recorte da realidade. 
Isso não significa que os caminhos diferentes a serem tomados não possam se 
encontrar. 
Ao investigar os estudos realizados sobre política percebemos que seu 
conceito é impreciso. Encontramos diferentes variações, combinações que mudam 
no tempo e no espaço. Mesmo diante da dificuldade de conhecer os tipos de 
análise mais frequentes, é possível compreender que falar de política é falar de 
conflito. A partir do momento que uma sociedade se diferencia o suficiente para 
que seus membros precisem criar normas gerais (leis positivas) de comportamento 
estamos diante de uma organização política. 
Diante do mínimo que foi exposto, podemos dizer que a política é uma 
resposta humana para lidar com as divergências de interesses latentes ou 
evidentes na sociedade. Neste exercício analítico da política, mesmo diante de 
Estados e Classes Sociais 
21 
 
muitas variações, encontramos quatro abordagens típicas à delimitação de campo 
de investigação da ciência política. Conforme uma tipologia geral, a política pode 
ser definida por: suas instituições, seus recursos, suas funções ou seus processos. 
Cada caso corresponde a uma definição: 
 
a) como “instituições”, a análise privilegia o quadro social concreto dentro do 
qual participam os atores. O principal exemplo é o exame das estruturas do Estado 
ou Governo; 
b) a identificação dos “recursos” compreende ao estudo dos meios utilizados 
pelos atores como: poder, influência ou autoridade para atingir fins desejados; 
c) por meio da análise dos “processos” o cientista aborda a atividade principal 
desenvolvida pelos atores sociais, ou seja, estuda como se estrutura a formulação 
de decisões de grupo, dito de outra forma, estuda as linhas de conduta coletiva; 
d) a abordagem “funcionalista” investiga as atividades necessárias para o bom 
funcionamento da sociedade. Portanto, seu foco é a resolução nãoviolenta dos 
conflitos. 
 
Antes de definir cada uma das tipologias de análise mencionadas 
anteriormente, é importante deixar claro que não há como construir um conceito 
rigoroso do que signifique a palavra política por pelo menos três motivos: pela 
divergência teórica sobre a natureza dos fenômenos políticos; em função da 
imprecisão do que se poder definir como fenômeno político objetivo; e, devido as 
suas metamorfoses no decorrer da história, ou seja, sua dimensão temporal e 
espacial. 
É evidente que a fórmula política deve, em cada caso, corresponder ao grau de 
maturidade intelectual, aos sentimentos e às crenças que prevalecem numa época 
e num determinado povo. 
Uma prova (...) mais recente é a que se pode deduzir do uso 
enraizado nas línguas mais difundidas de chamar história 
das doutrinas ou das idéias políticas ou, mais 
genericamente, história do pensamento político à 
história que, se houvesse permanecido invariável o 
significado transmitido pelos clássicos, teria que se chamar 
história da Política (...) (BOBBIO et all. 1992 p.954). 
Estados e Classes Sociais 
22 
 
A variação da própria forma de abordagem do estudo da política mostra o 
quanto seu estudo pode ser controverso e variado. A apreensão do seu significado 
é multivariada na própria abordagem epistemológica realizada pelos diferentes 
cientistas. Como em todas as disciplinas, a ciência política precisa desenvolver uma 
teoria, caso deseje compreender os fenômenos que observa. Para um melhor 
entendimento vamos descrever cada uma das quatro abordagens descritas acima, 
quais sejam: instituições, recursos, processos e função. 
 
Instituições: Estado e Gov erno 
 
Este focode análise ganha diferentes interpretações o que justifica sua 
abordagem como um dos objetos da Ciência Política. O Estado foi instituído pela 
sociedade, por isso dizemos que é uma instituição social, por isso, definir o 
conceito de Estado é uma tarefa que exige algumas considerações: primeiro, a 
ideia de que sua origem está ligada a certas circunstâncias que podem ser datadas 
com base na definição temporal que se tornou característica das sociedades 
ocidentais após o Renascimento; e, segundo, trata-se de um modelo de instituição 
que representa e administra um conjunto de funções sociais. 
Diferentes teóricos, dentre eles filósofos, sociólogos, bacharéis de direito se 
colocaram o desafio de pensar os objetivos e a arquitetura institucional do Estado. 
Em cada época, em cada contexto, diferentes teorias foram tomando forma e 
ganhando espaço na arena política. Não se produziu uma unanimidade sobre este 
conceito e nem se busca construir tal unanimidade, já que esta constitui uma 
categoria rica em suas múltiplas determinações. O que é importante apreender é 
que a noção de Estado está sujeita a filosofia e a teoria a qual seu proponente 
teórico tende a defender. 
Na abordagem institucionalista, o Estado ganha diferentes interpretações. O 
foco que predomina nos dicionários e em muitas faculdades é o da política como 
fenômeno referente ao Estado. Antes de fazer a incursão sobre a óptica de 
definição pautada em filosofias e teorias políticas vamos conhecer a definição 
deste ente tendo como base algumas definições dicionaristas. 
 
Estados e Classes Sociais 
23 
 
Há uma grande concordância entre os cientistas sociais 
quanto a como o estado deve ser definido. Uma definição 
composta incluiria três elementos. Primeiro, um estado é 
um conjunto de instituições; estas são definidas pelos 
próprios agentes de estado. A instituição mais importante 
do estado é a dos meios de violência e coerção. Segundo, 
essas instituições encontram-se no centro de um território 
geograficamente limitado e geralmente nos referimos 
como sociedade. De modo crucial, o estado olha para 
dentro de si mesmo, no caso de sua sociedade nacional, e 
para fora, no caso de sociedades mais amplas entre as quais 
ele precisa abrir seu caminho; seu comportamento em uma 
área, em geral, só pode ser explicado pelas suas atividades 
na outra. Terceiro, o estado monopoliza a criação das 
regras dentro do seu território. Isso tende à criação de uma 
cultura política comum, partilhada por todos os cidadãos. 
(DPS, 1996, p.257). 
 
Apesar da simplicidade tratada logo no início do verbete apresentado no 
Dicionário do Pensamento Social do Século XIX, organizado por Renato Lessa e 
Wanderley Guilherme dos Santos, dois intelectuais e cientistas políticos de renome 
na academia, chegar a esses três elementos constitutivos do estado – instituições, 
desenho geográfico e monopólio normativo – não significa que seja uma tarefa 
fácil e, menos ainda, consensual. Ao examinar este mesmo verbete no Dicionário 
Crítico de Sociologia desenvolvido por Raymond Boudon e François Bourricaud, 
neste caso dois representantes da intelectualidade acadêmica francesa, esta 
definição ocorre nos seguintes termos: 
 
Definir o Estado é uma tarefa quase impossível, que esbarra 
em pelo menos três tipos de dificuldades. Primeiramente, 
associada de maneira arbitrária o ponto de vista normativo 
e o ponto de vista descritivo. Quando se fala, por exemplo, 
de um Estado de direito [...] propõe-se uma organização 
política ideal? Ou tem-se em vista a prática dos governos 
moderados? Em segundo lugar, este pode designar uma 
forma política historicamente definida. Os evolucionistas e 
os marxistas – na medida, aliás, discutível, em que o 
Estados e Classes Sociais 
24 
 
marxismo é um evolucionismo – ressaltaram que o 
aparecimento do Estado está ligado a certas circunstâncias 
que podem ser datadas, e seu ‘perecimento’ não pode 
deixar de ocorrer uma vez desaparecidas as condições – 
especialmente no domínio da produção – que precederam 
o seu advento. Por fim, a definição de Estado coloca o 
problema que diz respeito à lista e a morfologia de seus 
órgãos: por Estado deve-se entender somente o governo? 
Deve-se também incluir em sua definição a burocracia, a 
justiça? Que relações esses órgãos especializados têm entre 
si? Que relações têm eles com a sociedade civil? Mesmo 
que pretenda ver no estado apenas o conjunto de 
governantes e dos recursos que eles podem mobilizar no 
exercício do seu poder, deve-se dizer que o Estado não é 
nada mais que um ‘aparelho repressivo’ com a ajuda do 
qual os ‘dominantes’ exploram os ‘dominados’? [...] (p.205). 
 
No primeiro verbete definir o conceito de Estado é apresentado como uma 
tarefa consensual e, portanto, simples, no segundo verbete, esta mesma definição 
é dada como uma tarefa quase impossível. Observe que em dois aspectos as duas 
definições apresentam relativo consenso, no primeiro o Estado é definido como 
um conjunto de instituições/órgãos responsável, no segundo, esta instituição é 
caracteriza por sua natureza normativa. O terceiro elemento para a definição do 
Estado apresenta uma imprecisão, na primeira a definição das fronteiras 
geográficas é um fator de produção da identidade de um Estado; no segundo, com 
base em outra abordagem, o Estado é tratado com forma política histórica que 
pressupõe uma cultura racional no processo de sua constituição. Ora, então qual 
seria o terceiro elemento, a fronteira geográfica ou a cultura racional imanente à 
formação histórica deste? Para responder a esta questão caberá um exame das 
teorias políticas aplicadas ao fenômeno do Estado que estudaremos na próxima 
unidade. 
Dificultando ainda mais esta definição, por vezes, o Estado é confundido com 
Nação ou com Governo. Como Celso e Falcão (2004, p.141) argumentam, [...] esses 
deslizes semiológicos explicam-se pelo fato de acentuar-se no Estado, ora sua 
dimensão comunitária, ora suas funções de instituição, isto é, de controle social. No 
livro Política y ciência política: una introducción, Michael Sodaro nos dá a dimensão 
desse imbróglio no seguinte trecho: 
Estados e Classes Sociais 
25 
 
Os especialistas em política costumam utilizar o 
termo ‘Estado’ para se referir a todas as instituições 
de governo e administração de um país, assim 
como aos funcionários e empregados que trabalham 
nelas. As instituições do Estado realizam funções 
específicas de acordo com as leis, regras e diretrizes 
e outros procedimentos e práticas estabelecidas [...] 
O aspecto mais significativo que distingue o Estado 
de outras entidades - como organizações ou 
empresas privadas – é a capacidade de elaborar e 
cumprir leis aplicáveis a toda a população. Para isso, 
dispõem dos principais meios do poder coercitivo: a 
polícia, os tribunais, o sistema penal e o exército. 
Precisamente porque ao Estado é reconhecido o 
monopólio da autoridade legal do uso dos meios de 
coerção legalmente sancionados, quem quer que 
controle estará no núcleo do poder político. 
(SODARO, 2006, p.23). 
 
Para reduzir essas confusões, vale registrar que o governo é um conjunto de 
pessoas (agentes) que ocupam posições de autoridade temporária dentro do 
Estado. O que significa que os governos se revezam, mudam frequentemente, 
enquanto o Estado perdura. A mudança do governo é mais dinâmica, 
diferentemente, o Estado muda de forma lenta. 
Com o desenvolvimento das instituições nãogovernamentais e a descoberta 
de sua importância, esta delimitação parecia ser ainda mais estreita. Então os 
cientistas políticos ampliaram-na para incluir algumas organizações anexas que 
intervêm na atividade estatal: partidos políticos, facções, grupos de pressão, 
sociedades de economias mistas, militares, empresários entre outros, o que 
aumenta ainda mais a dificuldade de sua acepção. 
O sociólogo alemão Max Weber definiu o Estado como uma “comunidade 
humana que, no interior de determinadoterritório reclama para si, com sucesso, o 
monopólio da coação física legítima”. Neste caso, o Estado é uma instituição que 
detém a legitimidade do monopólio do uso da força, da autoridade para gerar e 
aplicar o poder coletivo. Além dos elementos: povo, território e soberania, um novo 
 
Estados e Classes Sociais 
26 
 
aspecto é acrescentado com esta definição. A ideia de conflito e do controle do 
mesmo. 
Na perspectiva do conflito, o Estado é uma instituição que representa — 
implicitamente ou não — o interesse de um grupo dominante dentro de uma 
sociedade, sejam classes étnicas, raciais, econômicas, religiosas etc. Quanto mais 
heterogênea for a sociedade, maior é o seu potencial de conflito e, 
consequentemente, a tendência do Estado passar pela reestruturação constante de 
suas instituições. 
A morfologia do Estado e de seus órgãos fornece elemento para muitos 
estudos, mas não cabe estender este debate — parte destas variações ficará mais 
evidente no transcorrer das unidades deste curso. O que é importante apreender é 
que a ideia de Estado como entidade de representação coletiva é um avanço da 
modernidade. 
A criação do Estado como lugar de exercício do poder e da autoridade colocou 
em xeque outras formas mais antigas de legitimidade da autoridade: os direitos de 
herança, teocrático, mágico, patriarcal deram lugar a uma instituição abstrata que 
administra um território a partir de pactos estabelecidos pela coletividade. Em 
resumo, o Estado é mais uma aspiração do que uma realização efetiva. É um 
conceito que varia de acordo com a época e o lugar. 
Vale ressaltar, que na abordagem institucionalista, o Estado é o ponto de 
partida para a análise — veremos que, ao contrário, para a abordagem 
processualista o Estado é o ponto de chegada — mesmo havendo algumas 
tendências de definições mais abstratas e difusas. 
 
Recursos: Poder, Influência ou Autoridade 
 
A grande maioria dos cientistas políticos define como foco principal da análise 
política, os recursos utilizados, ou seja: poder, influência e autoridade. Isolados ou 
agregados, esses recursos se transformam em variáveis explicativas de diferentes 
circunstâncias de organização do fenômeno político. Como vimos, na abordagem 
institucional utilizamos algumas vezes, de forma secundária, essas variáveis para 
definir as atribuições do Estado. Desta vez, os recursos recebem a atenção 
pormenorizada do pesquisador. Começamos com a variável do poder. 
Estados e Classes Sociais 
27 
 
Poder ou Política como Coação 
Em sentido genérico, o termo poder designa a capacidade ou a possibilidade 
de agir e produzir efeitos. Podemos falar do poder da natureza, do poder de 
absorção, do poder do tempo etc. Além disso, também podemos falar do poder do 
homem como sujeito e como objeto do próprio poder. Mas, vale ressaltar, o poder 
do homem sobre o homem, não é uma coisa em si, é uma relação social. 
O poder de um homem sobre outro homem é diferente do poder sobre os 
objetos. Apesar disso, o poder sobre alguns instrumentos e objetos pode se 
converter em um recurso para o exercício do poder entre indivíduos ou grupos 
sociais. Se o poder não é um objeto — embora possa ser representado 
simbolicamente por um cetro, uma coroa, uma faixa presidencial etc.— é uma 
relação de força (física ou não) que uma pessoa ou grupo exerce sobre outra 
pessoa / grupo. 
Como uma relação social, não existe poder entre indivíduos se não houver 
algo (bens materiais, coerção moral, coerção física, etc.) que induza um homem a 
comportar-se de forma a atender a expectativa do outro. Com esta definição nos 
aproximamos da segunda variável, a da influência. 
A relação entre governantes e governados é uma relação de poder. Nas 
sociedades complexas, com alto grau de estratificação social, de um lado 
encontram-se os que dão as ordens e, de outro lado, os que obedecem e se 
submetem. Para Friedrich Engels, por exemplo, as sociedades baseadas nos 
antagonismos de classe prescindiam do Estado como instrumento de exercício do 
poder da classe dominante sobre as classes exploradas. 
A referência ao poder pode ser atribuída tanto a um grupo de pessoas ou a um 
indivíduo que seja capaz de agir e produzir efeitos de dominação, ou mesmo 
persuasão, sobre outros. Mas, com frequência encontramos a ênfase no fenômeno 
da coerção e no uso da força física. 
 
Estados e Classes Sociais 
28 
 
Influência: Política como Arte de Persuadir 
Como vimos, a influência pertence à categoria das relações de poder. Quando 
uma ação provoca uma reação (positiva ou não), há influência. Se essa reação for 
orientada mediante persuasão, sem constrangimento, temos uma forma de poder 
invisível. 
A influência se define pela variedade, sutileza dos meios e recursos utilizados 
pelos atores políticos. É a arte de manipular ou controlar grupos. O estudo da 
influência permite descobrir o poder onde este se torna invisível — como o 
propósito de avançar alguns contra a posição de outros. 
A capacidade de influenciar depende dos recursos disponíveis, do interesse e 
da capacidade de utilizá-los. O influenciador tem que ser informado e transmitir 
confiança. Este recurso só é eficiente quando se produz um consenso em relação a 
algumas orientações gerais. Por esse motivo, a influência está próxima da retórica, 
da capacidade de convencimento. 
A mídia é um instrumento de comunicação que opera com esse recurso de 
forma massificada. A mídia comunica opiniões, fornece informações, produz 
avaliações e põe as ideias em fluxo. A propaganda política e a publicidade 
comercial se valem de seu alcance a grande parcela da população. 
A influência tem um caráter limitado de alcance. O sujeito influenciado não é 
como uma ‘folha em branco’. Este tem algumas convicções, sobretudo de ordem 
moral ou religiosa, as quais devem ser levadas em conta se pretende conquistar 
seu engajamento. 
A influência complementa e fortalece o recurso do poder por reforçar a 
legitimidade através do consenso. Como veremos, a combinação da influência e do 
poder produz um terceiro recurso, a autoridade. Desta forma, estes três recursos 
se tornam matéria-prima elementar para a analise da política para alguns cientistas 
sociais — são exemplos, Robert Dahl, Lazarsfeld, MacLuhan, Harold Lasswell 
 
Estados e Classes Sociais 
29 
 
Autoridade: Política como Autoridade ou Poder legítimo 
A política analisada como forma de autoridade ou poder legítimo configura 
um tipo particular de ordem na sociedade, é o poder estabilizado. No entanto, nem 
toda autoridade constitui um poder estável, mas apenas aqueles em que a 
disposição dos atores de obedecer incondicionalmente se sustenta nas normas do 
sistema social e, de modo geral, é aceita como legítima pelos sujeitos que 
participam dela. 
Mas, afinal, o que é legitimidade? No Dicionário de Sociologia de Allan G. 
Johnson, legitimidade se define como: 
 
“(...) o processo através do qual um sistema social ou algum 
aspecto do mesmo vêm a ser aceito como justo e são em 
geral apoiados pelos que deles participam. Uma vez que é 
difícil manter por muito tempo um sistema pela coerção, a 
maneira mais eficaz para conservar a coesão social consiste 
em fazer com que as pessoas acreditem no sistema e o 
aceitem como é”. (JOHNSON, A.G. Dicionário de Sociologia, 
Rio de Janeiro.). 
 
Existem diferentes princípios de legitimidade do poder que asseguram a 
autoridade. O principal elemento é a capacidade de manter a crença de que o 
sistema social vigente é o mais “justo” e “natural” para essa sociedade, por 
exemplo: 
• Nos Estados teocráticos, o poder legítimo vem de um poder transcendental, 
Deus; 
• Nas Monarquias hereditárias, o poder é transmitido de geração em 
geração, por consanguinidade ou tradição; 
• Nas Aristocracias, apenas os melhores têm acesso ao poder, vale dizer que a 
definição dos notáveis varia de acordo com o tipo de aristocracia: os mais ricos, 
fortes, sábios etc.; 
• NasDemocracias, a legitimidade do poder vem do consenso, da vontade do 
povo. 
Estados e Classes Sociais 
30 
 
Sociologicamente, a autoridade legítima é a forma mais eficiente 
assumida pelo poder na vida social. Ao contrário da autoridade coercitiva — 
tomada, em geral, por usurpadores e tiranos que usam a força física—, a 
autoridade legítima é controlada por sistemas sociais. Como tal tende a ser mais 
estável e duradoura porque todos têm interesse em salvaguardá-la. 
O poder do Estado que apenas se sustenta na força física, não pode durar. 
Nenhum Estado autoritário dura sem o apoio da população que lhe concede a 
legitimidade de que precisa para governar. A autoridade, como um tipo de relação 
social que combina os dois recursos (poder e influência) é, conforme o sociólogo 
alemão Max Weber diz: um poder que se faz obedecer voluntariamente. 
A autoridade está ligada às posições (status) dos papéis exercidos em 
sistemas sociais. A amplitude da ação dos indivíduos que exercem a autoridade 
está ligada aos cargos que ocupam e aos limites estabelecidos socialmente aos 
mesmos. Max Weber identificou três tipos de autoridades baseadas em diferentes 
estruturas sociais: 
• Autoridade racional-legal baseia-se em um código de regras formais 
pautada pelo consenso entre aqueles que obedecem e aquele que manda. Essa 
forma de autoridade é encontrada no governo, na escola, no trabalho etc.; 
• Autoridade tradicional apoia-se na tradição; não fere as identidades e a 
moral social. Sua manifestação típica ocorre em sociedades patriarcais, entre 
líderes religiosos e sua comunidade; 
• Autoridade carismática opera com a capacidade de persuasão, 
encantamento carismático e afetivo que o torna irresistível. O que não significa que 
tal autoridade é controlada por quem a exerce, é a sociedade que o eleva e 
também derruba. 
Na prática, nenhum dos três recursos (poder, influência e autoridade) ou 
nenhuma das formas de autoridade weberiana são encontrados em suas formas 
puras em qualquer sociedade. Empiricamente, sempre há uma combinação de dois 
ou mais tipos. 
 
Estados e Classes Sociais 
31 
 
À luz destas noções, o objetivo da política seria o estudo das relações de 
autoridade entre os indivíduos e os grupos, da hierarquia de forças que 
estabelecem no interior das sociedades complexas. A função do cientista político 
seria a de analisar e explicar toda essa estrutura, as forças e influências respectivas 
que a compõem. O assistente social prescinde dessas análises para compreender a 
sociedade na qual atua redimensionando sua prática profissional de acordo com as 
forças em jogo. 
 
Processos: Formulação de Decisões sobre Linhas de 
Conduta Coletiva 
 
Outra tentativa de situar o campo de investigação da política se baseia nos 
processos sociais. Utilizando os recursos já descritos (poder, influência e 
autoridade), esta abordagem destaca as decisões coletivas como foco de análise. 
A tarefa da Ciência Política seria, então, a de explicar e predizer, por que uma 
determinada linha de conduta foi, é ou será adotada. Como foi formulada? Quem 
participou? Quais foram os determinantes desta atividade? Qual foi o resultado e 
seu impacto sobre decisões posteriores? Essas são algumas das perguntas 
implícitas nessa definição. 
A ênfase está no fenômeno da repartição e administração das decisões. A 
estrutura dessa teoria lógico-dedutiva busca estabelecer uma relação entre o 
comportamento individual e as escolhas coletivas. A forma como os interesses se 
agregam e estruturam novas preferências distintas das escolhas individuais se 
torna um foco de análise importante. 
Se por decisão individual entende-se que cada indivíduo ‘decide por si’, então 
as decisões coletivas são decisões nãoindividuais. Quando um indivíduo ou órgão 
representa o interesse de outras pessoas, trata-se de uma decisão nãoindividual. 
Nesse caso falamos que o representante da coletividade atende a uma linha de 
conduta coletiva, ou seja, uma decisão coletiva pode ser tomada por apenas uma 
pessoa ou órgão. 
 
Estados e Classes Sociais 
32 
 
Com isso, definem-se como decisões coletivas aquelas em que o sujeito que 
decide não é o singular, mas o coletivo, o próprio grupo. Isso significa que o 
pesquisador pode limitar o estudo da Ciência Política ao estudo do órgão que toma 
e implementa as decisões em nome de toda a sociedade. Neste caso, a política 
volta a ser definida em termos de Estado. Aqui uma pergunta se faz necessária: 
estamos voltando à abordagem do estudo das instituições? A resposta é não. 
Como o ponto de partida da análise são as condutas coletivas que moldam a 
ação do Estado, este órgão é visto como o resultado de um processo e não como 
uma instituição. O Estado é o ponto de chegada da investigação, é a síntese de 
múltiplas determinações. 
A vantagem deste tipo de análise seria precisamente o de fazer comparações 
entre processos sociais de diferentes sociedades. Assim é possível verificar a 
hipótese de que as decisões coletivas (públicas) têm características e padrões 
diversos de decisões privadas. 
 
Função: Resolução Não Violenta dos Conflitos 
 
A última abordagem em termos de análise política adota a noção de função. 
Uma análise funcionalista se realiza com o objetivo de identificar os aspectos que 
colaboram para a manutenção de um sistema social vigente. O padrão das 
atividades políticas é muito heterogêneo, varia em graus de complexidade, mas o 
fundamental é que a política é, na maior parte dos casos, tratada com a função de 
mediar os conflitos entre indivíduos e grupos sem que este conflito destrua 
um dos partidos em jogo. 
A expressão “mediar” remete à noção de equilíbrio de interesses, uma medida 
nãoviolenta para minimizar o conflito. Uma sociedade com alto grau de 
diferenciação sempre manifesta conflitos. Na impossibilidade de extinguir os 
conflitos, a política se torna um elemento importante para desfazer a condição 
beligerante, canalizando e transformando seu potencial em respostas satisfatórias 
para os partidos envolvidos. No entanto, todos os atos sociais são políticos, para 
isso, se impõem duas condições: 
Estados e Classes Sociais 
33 
 
Primeiro, o ato deve ser controverso, indicar um conflito, um antagonismo 
entre interesses ou atitudes expressas por diferentes indivíduos ou grupos. Isso 
implica que muitos atos governamentais não sejam políticos por não serem 
controversos, tal como a publicação de documentos, a vacinação de cães etc. Mas 
devemos insistir que qualquer acontecimento social é potencialmente político. 
Segundo, a condição suficiente para que o conflito seja político e de que os 
atores sejam capazes de integração ou cooperação entre indivíduos e grupos. 
Para isso é necessário que reconheçam reciprocamente suas limitações nas 
reivindicações das suas exigências. Isto quer dizer que os conflitos políticos 
acontecem dentro de um quadro de restrições recíprocas. 
Essa qualidade de restrição ou autolimitação recíproca pode ser baseada em 
uma escolha comum dos atores em conflito ou no medo de sofrer um prejuízo 
irreparável. A opção pelo cerceamento das expectativas e não pela destruição do 
outro (ou o risco da própria destruição) é o que equilibra o conflito. Esta relação 
social é o que produz o ato político, ou seja, a própria política. 
Os elementos componentes de uma sociedade política são heterogêneos; isto 
os coloca ao mesmo tempo em conflito e em interdependência. A natureza das 
relações políticas é reconhecer os conflitos, a variedade de interesses, atitudes que 
dão base a esses conflitos e tratar de contê-los dentro de um quadro social estável. 
Diante desta concepção, a análise da política compreenderá dois aspectos: de 
um lado, a face do conflito, ou seja, o estudo de suas bases — tipos, fontes, 
padrões e intensidades e, de outro lado, a face da integração, neste caso, o estudo 
dos meios de integração — autoridades, estruturas,formulação de decisões e 
crenças comuns. 
Por este caráter, a política apresenta uma visão dualista: para alguns, ela é 
essencialmente luta, combate como forma de tirar partido da situação; para outros, 
a política se define como um esforço para atingir ou manter a ordem em que o 
poder permite a proteção do interesse geral contra a pressão das reivindicações 
particulares. Uma análise completa da Ciência Política deve incluir essas duas 
dimensões. 
 
Estados e Classes Sociais 
34 
 
Mas a análise dos processos não políticosou propriamente administrativos 
também deve ser objeto de estudo. Afinal, o que pressupõe a necessidade de 
administração tem um conflito em potencial caso os resultados finais não sejam 
satisfatórios ou produza resultados não esperados. 
O estudo da administração pública parece, à primeira vista, não preencher a 
condição necessária à existência do conflito. O estudo das relações internacionais 
parece, ao contrário, implicar conflito sem a condição suficiente de integração. 
Estudos detalhados revelam que há mais conflito dentro da administração pública 
e mais integração dentro das relações internacionais do que se supõe. 
Resumindo, a política é o conflito entre atores para a determinação de linhas 
de conduta coletivas dentro de um quadro de cooperação-integração 
reciprocamente reconhecido. Tradicionalmente, os cientistas políticos focalizaram 
a determinação de linhas de conduta pública – comuns a toda a sociedade – 
formulada dentro do quadro social essencialmente autoritário que é o Estado. 
Vale lembrar, é importante não limitar o estudo da política à atividade de uma 
instituição. A política se manifesta em diferentes dimensões da vida social de forma 
dissimulada ou não. 
Cada sociedade ou cada momento das relações sociais engendra 
determinadas respostas que podem experimentar o autoritarismo violento ou 
implantar uma autoridade legítima, portanto pacífica. O que se busca é a forma de 
resolver ou identificar em qual parte da sociedade encontramos o conflito e as suas 
formas de resolução, principalmente, nãoviolenta, sendo irrelevante o que 
chamamos de sociedade civil ou Estado. Um ponto importante a ser considerado é 
o caráter da organização política como um instrumento que a própria sociedade 
utiliza para se autodisciplinar. 
LEITURA COMPLEMENTAR 
CHA UI, M. Convite à filosofia. São Paulo: Á tica, 1 9 9 8 . 
JOHNSON, A . G . Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem 
sociológica. Rio de Jane iro: Jorge Zahar, 1 9 9 7 . 
Estados e Classes Sociais 
35 
 
Na próxima unidade vamos estudar as Fundamentações Teóricas do Estado 
Moderno. Além disso, iremos analisar e identificar a gênese do Estado moderno 
tendo como base a elaboração da teoria de Nicolau Maquiavel e a teoria construída 
no interior do contratualismo. 
Até a próxima unidade. 
 
É HORA DE SE AVALIAR! 
Le m bre -se de re alizar as atividade s de sta unidade de e studo, e las irão ajudá-lo 
a f ixar o conte údo, alé m de proporcionar sua autonom ia no proce sso de e ns ino-
apre ndizage m . Caso pre fira, re dija as re spostas no cade rno e de pois às e nvie 
atravé s do nosso am bie nte virtual de apre ndizage m (A VA ). Inte raja conosco! 
Estados e Classes Sociais 
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Exercícios – Unidade 1 
 
1) A delimitação da análise política que estuda os aspectos institucionais tem como 
foco de investigação o(s): 
 
a) Estado ou governo. 
b) poder, a influência e a autoridade. 
c) processos de decisões. 
d) meios de resolução pacífica de conflitos. 
e) instrumentos de coação física internacional. 
 
2) Observe como Hanna Arendt analisa a ascensão do nazismo no período que 
precede a 2ª Guerra Mundial: 
 
“(...) O fascismo é um fenômeno social, e o fascínio que 
Hitler exercia sobre seu ambiente deve ser definido em 
termos daqueles que o rodeavam. (...) Na sociedade 
moderna, com sua falta de discernimento, essa tendência 
(de aceitar um louco como um gênio) é ainda maior, de 
modo que uma pessoa que não apenas tem certas 
opiniões, mas as apresenta num tom de inabalável 
convicção, não perde facilmente o prestígio, não importa 
quantas vezes tenha sido demonstrado seu erro (...)”. 
 
Segundo a historiadora, o momento histórico retratado favoreceu o 
crescimento das ideologias fascistas, devido à “falta de discernimento” das 
sociedades modernas, que se viam inseguras frente às turbulências do período. 
Diante dessas informações, podemos dizer que essa análise tem como dado de 
investigação: 
 
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a) o comportamento das linhas de conduta coletiva. 
b) a estrutura do Estado enquanto instituição separada da sociedade. 
c) a imposição ilegítima de uma forma de governo. 
d) a incapacidade do chefe de Estado de influenciar decisões coletivas. 
e) a presença de entidades não governamentais como formadoras de conflito. 
 
3) Numa abordagem institucional, identifique qual elemento NÃO serviria como 
objeto de estudo: 
 
a) Estado. 
b) sindicatos patronais. 
c) partidos políticos. 
d) grupos de pressão. 
e) grupos não organizados. 
 
4) Numa abordagem funcionalista, a política pode ser definida como: 
 
a) resolução não violenta de conflitos com o objetivo de atingir interesses 
coletivos. 
b) meio de empreender o poder coercitivo, se necessário, através da violência ou 
guerra. 
c) análise do comportamento dos funcionários públicos e privados. 
d) estudo da organização militar do Estado. 
e) investigação assistemática e casual da sociedade. 
 
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5) Faça uma distinção entre os três recursos que podem ser utilizados pelos atores 
políticos no contexto de administração do Estado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Fundamentações Teóricas 
do Estado Moderno 
O Ce nário Político da Europa Ocide ntal e da Pe nínsula Itálica na m e tade 
Sé culo XV. 
A Conce pção de Estado na Obra de Nicolau Maquiave l (1 4 6 9 -1 5 2 7 ) . 
A Tradição Jusnaturalis ta e Contratualis ta. 
Thom as Hobbe s (1 5 8 8 -1 6 7 9 ) e o Estado A bsolutis ta. 
A Filosofia Política do Libe ralism o. 
John Locke (sé c. XVI-XVIII) e o A balo do Edifício A bsolutis ta. 
Rousse au (sé c. XVIII) e o Sé culo das Luze s : Ide ias e Le gados . 
 
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Prezado aluno, nesta unidade veremos como a teoria política moderna cria 
contornos para a fundamentação do Estado moderno. Serão abordadas as teorias 
de Nicolau Maquiavel e o contratualismo de Thomas Hobbes, John Locke e Jean-
Jacques Rousseau. Além disso, abordaremos conceitos de soberania, contrato e 
representação, os quais reconfiguraram em seus fundamentos o campo teórico do 
pensamento político na direção apontada por Maquiavel. 
 
Objetivos da Unidade : 
 
Analisar e identificar a gênese do Estado moderno tendo como base a 
elaboração da teoria de Nicolau Maquiavel e a teoria construída no interior do 
contratualismo. 
 
Plano da Unidade: 
• O Cenário Político da Europa Ocidental e da Península Itálica na metade 
Século XV. 
• A Concepção de Estado na Obra de Nicolau Maquiavel (1469-1527). 
• A Tradição Jusnaturalista e Contratualista. 
• Thomas Hobbes (1588-1679) e o Estado Absolutista. 
• A Filosofia Política do Liberalismo. 
• John Locke (séc. XVI-XVIII) e o Abalo do Edifício Absolutista. 
• Rousseau (séc. XVIII) e o Século das Luzes: Ideias e Legados. 
 
 
Bons estudos. 
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Enveredar na discussão acerca da relação entre as categorias de Estado e 
sociedade civil significa apreender a profunda inflexão que diferentes pensadores 
registraram na concepção teórico-política desses que, utilizando uma expressão do 
filósofo Georg Lukács, são dois complexos sociais fundamentais. 
Esta inflexão prescinde da análise daquele que se convencionou considerar o 
precursor da teoriade Estado moderno, Nicolau Maquiavel, das categorias de 
autores conhecidos como jusnaturalistas, do representante do idealismo alemão, 
Hegel,o expoente moderno da teoria de Estado, Karl Marx. Sem esses autores nossa 
compreensão sobre os temas aqui propostos seria vazia de significado. Todo 
arcabouço teórico sobre o Estado e as classes sociais que operamos tem os marca 
da contribuição desses autores. 
Para iniciar nossa trajetória, vamos fazer um panorama no cenário histórico 
que se desenvolveu na última fase do Renascimento e que deu a Nicolau 
Maquiavel as condições de inaugurar a teoria política para a formulação do Estado 
moderno em substituição ao modelo de Estado feudal da Idade Média. 
 
O Cenário Político da Europa Ocidental e da Península 
Itálica na metade Século XV 
 
Na segunda metade do século XV, principalmente na península itálica e, em 
seguida, na Europa Ocidental, ocorreram mudanças significativas que marcaram a 
ruptura entre o mundo medieval — com características da sociedade agrária, 
estamental, teocrática, fundiária — e o mundo moderno — urbano, burguês e 
comercial. Um fenômeno histórico conhecido como Renascença foi se 
configurando “à medida que os homens interagiam com elementos da cultura 
clássica, ou seja, com o mundo intelectual dos antigos gregos e romanos”. 
A nova postura do homem ocidental — diante da natureza e do 
conhecimento — mudou as condições intelectuais e morais da sociedade 
europeia. Essas transformações se deram em um contexto de profunda alteração 
da estrutura política e militar. 
 
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O Sacro Império Romano e o Papado diminuíram a ação unificadora que 
disputavam, desde o ano 1000, de modo a dominarem os corpos (Estado) e as 
almas (Igreja). A diminuição da hegemonia da Igreja como instituição foi 
acompanhada do aparecimento de novas doutrinas e seitas que reinterpretavam 
os textos sagrados. O movimento renascentista começou a promover um certo 
espírito especulativo através do resgate da possibilidade de duvidar e questionar 
verdades dogmatizadas, resultantes da contemplação e da fé. 
Os instrumentos de investigação e a relação com a vida concreta passavam a 
ser a filosofia, a ciência e a arte. Em uma palavra, o homem — a capacidade 
cognitiva do homem de investigar, decompor, analisar, pintar, cantar, reproduzir 
imitar, descrever a natureza. 
Em termos de geopolítica, o poder das monarquias experimentava o processo 
de centralização nos séculos XIV (Portugal) e XV (Inglaterra, França, Espanha). 
Foram os séculos de surgimento dos Estados modernos e que passavam a ter o 
monopólio do uso da força física, a controlar os exércitos, a administrar o erário 
público, a fazer e aplicar leis. 
Na Inglaterra, após longo período de guerras civis — com a morte de grande 
parte da nobreza normanda — a paz teria sido instaurada sob a dinastia Tudor 
(1485-1603). Sob a qual as antigas formas da constituição feudal foram 
conservadas, no entanto, a autoridade da 
coroa se tornaria preponderante com o apoio 
da Câmara dos Lordes que, com participantes 
recém-nomeados, havia perdido prestígio. A 
Câmara dos Comuns não tinha ainda a 
autoridade que conseguiria posteriormente 
(século XVII), pois a burguesia urbana e rural 
não estava ainda suficientemente 
desenvolvida. 
Na França, Luís XI, anexou quase todos os feudos à Coroa, subjugou a 
nobreza guerreira e impôs uma política unificadora que seria seguida por Richilieu, 
Mazarin e Luiz XIV. Na Espanha, com a união de Aragão, Castela e a tomada de 
Granada dos mouros (1492), o Estado se unificou e a monarquia se fortaleceu. Uma 
das estratégias de controle que unificou o povo espanhol foi a Inquisição — arma 
Câmara dos Lordes (ou Casa dos Lordes) - 
é a câmara alta do Parlamento do Reino 
Unido. 
Câmara dos Comuns a Câmara dos 
Comuns (ou Casa dos Comuns)- é o nome 
histórico da câmara inferior ao parlamento. 
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da Igreja. Nos países germânicos, os Habsburgos estavam mais preocupados em 
alargar seus domínios do que conter os desejos de independência dos diversos 
príncipes e senhores. 
E na Itália? Qual era o cenário geopolítico? 
A Itália, melhor dizendo, a península que só a partir do século XIX, passou a 
conformar o Estado unificado que hoje chamamos de Itália, era constituída por 
numerosos principados e cidades livres, reunidos em cinco grandes grupos: as 
repúblicas de Veneza e de Florença, o reino de Nápoles, o território do Estado 
Pontifical e o ducado de Milão. 
A unificação desses grupos era um desafio por, pelo menos, dois motivos: a 
inexistência de um grande líder, capaz de impor sua influência e poder, a estratégia 
de potências estrangeiras — principalmente a Espanha e a França — que visando 
territórios daquela região invadia e incitava os estados italianos uns contra os 
outros. As frequentes batalhas provocavam a perda de instituições comunais e a 
liberdade política. Várias cidades italianas eram defendidas por mercenários 
estrangeiros (soldados pagos), sob comando de um condottieri (chefe das 
companhias de aventura). 
Nesta época, esta era a região mais culta e mais rica de toda a Europa, mas 
também era a região mais desorganizada política e militarmente, tornando-se 
presa fácil de ataques estrangeiros. 
A elevação e queda de algumas cidades, com frequência, se davam em menos 
de três meses. Neste ritmo, a moralidade política e o espírito público atingiam 
níveis deploráveis. Isso levou as cidades da península itálica a desenvolverem, ao 
extremo, a habilidade diplomática de negociar. Foi neste contexto da que Nicolau 
Maquiavel teceu sua teoria que deu as fundações do Estado moderno que 
herdamos na atualidade. 
 
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A Concepção de Estado na Obra de Nicolau Maquiavel 
(1 469-1527) 
 
Nicolau Maquiavel, pensador florentino, escreveu O Príncipe, texto dedicado a 
Lourenço de Médici (1449-1492), governador de Florença e personagem 
importante para a época, incentivador das artes e da literatura, mas também um 
ditador. Nessa obra Maquiavel se propõe a analisar as condições de conquista e 
manutenção de um Estado. 
Ao desenvolver uma análise histórica das 
condições de conquista ou perda de poder em 
diferentes épocas e lugares, Maquiavel revela 
sua preocupação pragmática e empírica. Esse 
método permite ao florentino estabelecer 
uma nova relação entre a ética e a política, 
diferente das perspectivas grega, romana e 
cristã. 
Para Maquiavel, o governante deveria ser 
implacável no exercício do poder. Sua 
principal qualidade era a virtú, que nada tem em comum com a moral cristã — 
como a piedade e a humanidade, mas, ao contrário, pressupõe coragem, 
habilidades e persistência. O príncipe de virtú está acima das normas 
preestabelecidas pela moral cristã, pois isso poderia arruiná-lo. Essas características 
tornariam o príncipe apto para conquistar e manter o poder. 
 
[...] Os governantes devem ser temíveis como leões, 
aconselha Maquiavel, e — prossegue sua memorável 
analogia — astutos como raposas. Devem manipular seus 
súditos com engenhosos incentivos. Os governantes 
eficazes devem também propagar idéias que induzam seus 
seguidores a obedecer-lhes. Isso inclui a promoção de 
imagens atraentes deles próprios que não precisam ser 
verdadeiras. Sempre que se dispuser a atrair seus súditos, o 
governante deve mostrar-se cheio de misericórdia, 
integridade e humanidade. Ele deve, sobretudo, aparentar 
ser um homem religioso. Além disso, a religião deve 
desempenhar um papel decisivo na promoção da 
solidariedade política, unificando as massas e fortalecendo 
a moral. O objetivo da boa sociedade para Maquiavel, não 
aproximar-se cada vez mais de uma condição humana 
ideal, mas garantir o maior ou menor equilíbrio que possa 
ser alcançado em um determinado período, protegendo os 
interesses da coletividade a que se pertence através da 
liderança efetiva de governantes competentes.[...] (LEVINE, 
D.N., 1997, p.211). 
Define-se como pragmática a ênfase do 
pensamento filosófico na aplicação das 
ideias e nas consequências práticas de 
conceitos e conhecimentos; filosofia 
utilitária. 
É empírico o conhecimento baseado na 
experiência e na observação, metódicas ou 
não. 
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No entanto, a virtú do príncipe não se resumiria a um conjunto fixo de 
qualidades morais. Afinal, a fortuna demanda astúcia para governá-la — lembre-se 
que fortuna significa ocasião, acaso, sorte. O príncipe de virtúdeve saber dominar as 
circunstâncias aleatórias a seu favor. Nesta dimensão, ao banir a relação hierárquica 
e providencial, Maquiavel possibilita o exercício do livre arbítrio. 
Com a valorização da sabedoria e das energias individuais, a moral política do 
príncipe não precisava estar vinculada à moral cristã. Muito embora pudesse se 
servir da capacidade da Igreja e da religião para apaziguar as paixões humanas. A 
nova ética visa às consequências dos resultados da ação política para a 
comunidade. Por isso, o recurso ao poder coercitivo poderia se justificar se fosse 
para o bem do Estado, da comunidade. 
Além disso, a ética do homem privado não coincidia com a ética do homem 
público. O príncipe deveria governar para o bem do Estado e não confundir isso 
com o seu próprio bem. O que poderia ser imoral do ponto de vista da ética 
privada pode ser virtude política. Por isso, os fins sempre justificariam as estratégias 
utilizadas para alcançá-los. Para julgar uma ação como moral ou imoral, a análise 
do contexto desta ação se tornava fundamental. 
Ao usar a força, um tirano agiria por capricho. Do contrário, um bom 
governante agiria pelo bem coletivo. Isso tornaria o príncipe de virtú diferente do 
tirano. A prática da espionagem, a guerra, a violência física, o enrijecimento das leis 
teriam um propósito justo: a obtenção e manutenção da ordem, ou seja, a 
sobrevivência do Estado. Numa Itália em formação esta proposta se tornava uma 
alternativa. 
Ao valorizar uma política laica, Maquiavel fazia a defesa de um Estado 
Absoluto, não atrelado à religião. Mas as leis exerceriam um papel preponderante 
nas monarquias ou nas repúblicas. Os príncipes, os aristocratas e o povo deveriam 
ter o poder de se policiarem mutuamente. Mas afinal, você deve estar se 
perguntando: Maquiavel era um absolutista ou um republicano? 
Certamente, em tempos de crise, conquista ou ameaça à integridade do 
Estado, Maquiavel defendia o príncipe temido, que manteria o Estado sob rédeas 
curtas. Mas em tempos de paz, o príncipe deveria se permitir ser amado com a 
promoção do bem comum. 
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O ideal de Maquiavel consiste, portanto, na criação de um 
Estado independente por mão de um príncipe capaz de dar 
a essa sua criação uma constituição republicana passível de 
lhe garantir a estabilidade. Neste sentido, poder-se-ia dizer 
que O Príncipe trata de como criar um novo Estado e 
identifica o príncipe como o único sujeito capaz dessa 
tarefa. Já nos Comentários Maquiavel se ocupa da questão 
da estabilidade e manutenção desse Estado, identificando 
nas instituições republicanas o instrumento mais 
apropriado para tal fim. (PINZANI, A., 2004, p.15). 
 
Portanto, a virtú transitória, passível de mudar de acordo com as 
circunstâncias, permite ao príncipe essa dualidade. Ora ser temido, ora ser amado. 
Mas entre ser temido ou amado, o temor poderia ser uma chave para garantir a 
sobrevivência do Estado. Porém, Maquiavel estava consciente que um príncipe 
temido por todos a todo tempo poderia ser deposto. O segredo estava no 
equilíbrio e na capacidade de saber ser ambos no momento certo. 
Com essa forma de análise, Maquiavel 
buscou identificar as regularidades da política. 
O recurso à História e a empiria o permite tirar 
suas conclusões de forma indutiva e não 
dedutiva — como farão alguns dos seus 
sucessores, como Hobbes, Locke e Rousseau. 
Maquiavel não partia de postulados e 
axiomas, mas de exemplos históricos. 
O que interessava a Maquiavel não era 
identificar o poder em si, mas o poder como 
instrumento para unificar a comunidade 
política, para dar-lhe ordem e segurança com 
o fim de prosperar. 
O alvo dos escritos de Maquiavel podem ser aqueles indivíduos que detêm (ou 
querem deter) o poder: príncipes e membros do governo republicano. São eles que 
devem manter o domínio sobre uma região ou território. Os meios para conquistar 
esses fins variam nos casos de principados ou repúblicas. Nos dois casos os únicos 
Postulado - o que se considera como fato 
reconhecido e ponto de partida, implícito 
ou explícito, de uma argumentação; 
premissa. 
Axioma-fundamento de uma 
demonstração, porém ela mesma 
indemonstrável, originada, segundo a 
tradição racionalista, de princípios 
originados na consciência ou segundo os 
empiristas, de generalizações da 
observação empírica. 
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sujeitos da política são os detentores do poder. Não os Estados, no sentido atual, 
nem o povo. A concepção de poder de Maquiavel se identifica com a capacidade 
do príncipe ou do governo de conquistar e manter “o estado”. Exércitos, 
armamentos, fortalezas, cidades ricas, todos seriam instrumentos do poder 
soberano. 
Maquiavel assistiu a ascensão da burguesia comercial das grandes cidades e a 
fragmentação da Itália, dificultando a estabilidade da nova ordem social, política e 
econômica. A compreensão dessas novas experiências o fez entender a 
necessidade de uma nova concepção de sociedade. Sua obra tenta propor essas 
novas respostas e fomentar novas atitudes para o homem moderno. Nessa 
trajetória, como ressalta Marilena Chauí (1998, p. 395-396), suas principais teses 
passam por quatro pontos: 
 
• Maquiavel recusa o fundamento anterior e exterior à política (Deus, 
natureza e razão). Para esse florentino, a política nasce com o propósito de 
resolver conflitos dos homens, portanto é uma solução proposta por esses 
mesmos sujeitos para possibilitar a formação de uma identidade e unidade. 
Com isso a religião e o Estado não devem estar, necessariamente, 
associados. 
• Afinalidade da política não era o bem comum e a justiça — propósito de 
gregos, romanos e cristãos —, mas a tomada e manutenção do poder. A 
sociedade não é homogênea, por isso a força tinha que se reverter em lei 
para controlar o conflito. Maquiavel percebeu que o Estado seria uma 
instituição capaz de monopolizar e ter o uso a força física legitimado diante 
da comunidade. 
• A virtude do príncipe era uma virtude política. O príncipe deve ser 
respeitado e temido, mas não odiado. Sua virtude política se evidencia na 
qualidade das instituições políticas criadas e na capacidade de reproduzi-
las, mesmo em situações de conflito. A virtúe a fortuna deveriam ser 
inseparáveis. As instituições políticas eram impessoais. Deveriam defender 
não o Direito do dirigente político, mas o interesse que zelasse pela 
manutenção da existência do Estado. 
• Maquiavel não estava preocupado em fazer uma tipologia do poder 
(monarquia, aristocracia, democracia, anarquia, tirania, oligarquia, etc.). 
Qualquer poder político seria legítimo desde que garantisse a liberdade e a 
segurança do seu corpo político. 
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Maquiavel revolucionou o caráter normativo do pensamento político. Ele 
libertou o homem de cartilhas morais e espirituais dando autonomia para a ação 
eficaz movida por fins. Assim, o relativismo atribui à dimensão humana a função de 
reinventar a política de acordo com circunstancias determinadas. 
 
A Tradição Jusnaturalista e Contratualista 
 
Entre os séculos XVI e XVIII, alguns filósofos representantes de uma tradição 
denominada contratualista e jusnaturalista, articularam diferentes formas de 
legitimar o poder do Estado e a base da soberania de governo partindo de 
construções teóricas hipotético-dedutivas, ou seja, de hipóteses e deduções, sobre

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