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Universidade de Caxias do Sul Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET) Curso de Engenharia Ambiental Disciplina de Gestão de Resíduos Sólidos II Professor Geraldo Antônio Reichert Acadêmica Virgínia Viganó A importância da segregação dos resíduos sólidos urbanos na origem Os resíduos sólidos decorrentes das atividades humanas têm causado preocupações devido ao seu manejo e destinação ambientalmente adequada, a fim de se evitar passivos ambientais. A intensa geração dos mesmos está relacionada à diversidade da composição dos bens de consumo que o mercado oferece atualmente. Ocorre que, em muitos casos acaba se tornando mais viável financeiramente para as indústrias produzirem materiais utilizando matéria-prima virgem, ao invés de reutilizarem a sucata proveniente da triagem de resíduos sólidos. Para a Norma Brasileira (NBR) 10.004 (ABNT, 2004a), resíduos sólidos são: resíduos sólidos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. (ABNT, 2004a) Os resíduos sólidos podem ser classificados, de acordo com a (NBR) 10.004 (ABNT, 2004a), como perigosos (Classe I) ou não perigosos (Classe II, sendo Classe IIA os não inertes e Classse IIB os inertes. Os resíduos urbanos são considerados Classe II. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305, em seu artigo 9º estabelece que na gestão dos resíduos deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: “não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos” (BRASIL, 2010, p.6). A mesma lei, em seu artigo 3º, inciso XV, define que rejeitos são “resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada” (BRASIL, 2010, p.6). É importante salientar que estes conceitos vêm ao encontro do beneficiamento dos eixos econômico, social e ambiental. Obedecer a ordem de prioridades estabelecida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, anteriormente mencionada, permite gerar renda durante as etapas do processo, movimentando a economia e a oferta de empregos para a população e aumentando a vida útil dos aterros de resíduos sólidos. Portanto, verifica-se a importância do tratamento dos resíduos sólidos. Segundo Schalch, 2002, o tratamento ou a “industrialização dos resíduos” envolve um conjunto de atividades e processos com o objetivo de promover a reciclagem de alguns de seus componentes, como o plástico, o papelão, os metais e os vidros, além da transformação da matéria orgânica em composto, para ser utilizado como fertilizante e condicionador do solo, ou em polpa para a utilização como combustível. O processo de triagem dos resíduos consiste na separação dos materiais que serão encaminhados para reciclagem, de acordo com suas características potenciais. Trata-se de uma etapa essencial no processo de reciclagem. Para que que isso ocorra é necessário que aconteça uma coleta seletiva no município. Além disso, é preciso que os materiais coletados sejam gerenciados adequadamente e da maneira mais rápida possível para que se possa atingir um índice satisfatório de reutilização e reciclagem. A Usina de Triagem (UT), também conhecida como Central de Triagem (CT) é o local onde ocorre a separação dos resíduos sólidos. Essa separação pode ser feita das seguintes formas: ♦ Manual; ♦ Mecanizada; ♦ Semi-mecanizada. A triagem manual de resíduo sólido urbano consiste, na separação dos componentes do resíduo de forma manual, ou seja, basicamente por meio do uso de mão- de-obra. É indicada para municípios pequenos onde o volume de resíduos gerados não justifica uma central automatizada. Sua utilização em centrais de triagem é bastante comum, devido à maleabilidade deste sistema. Um aspecto que pode ser determinante, do ponto de vista negativo, neste tipo de triagem de resíduos, é a elevada quantidade de mão- de obra que se faz necessária e com baixa eficiência de separação. Também se devem considerar as questões de segurança e saúde ocupacional que precisam de acompanhamento, demandando mais recursos humanos e financeiros. Porém, em contra partida há geração de empregos em grande número, pode estar unida com as associações de catadores de lixo e o investimento inicial é baixo. Ressalta-se que, se não houver uma boa administração a central de triagem pode ser fechada, desperdiçando os recursos financeiros nela aplicados. Na década de 80 no Brasil, quando por iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que colocou à disposição das prefeituras municipais uma linha de crédito para a compra de equipamentos, foram instaladas diversas centrais de triagem nestes moldes. Atualmente, todas estas foram fechadas, devido à má gestão. A triagem mecanizada, diferentemente do sistema de triagem manual, inclui uma séries de tecnologias que agilizam o processo de segregação de resíduos, além de garantir mais segurança aos operadores. É indicada para municípios de grande porte onde o volume de resíduos gerados pela população inviabiliza o trabalho manual. Uma das vantagens deste sistema é que a capacidade de produção, ou seja, de triagem pode ser estimada na fase de implantação da obra. A qualidade de separação dos resíduos é alta e consequentemente os mesmos tornam-se mais fáceis de serem comercializados, devido a sua melhor qualidade. Além disso, pela confiabilidade do processo e baseado em dados estatísticos de coleta, o administrador pode inclusive projetar as quantidades mínimas de materiais que serão processados no local. As desvantagens da triagem mecanizada são menores em relação à triagem manual. Estas encontram-se na diminuição considerável da quantidade de funcionários e a necessidade de qualificação dos poucos colaboradores que trabalharão no processo. Outro ponto a ser discutido é o alto custo de investimento inicial e posterior de manutenção com os equipamentos. Conforme Panizzon, 2010, os equipamentos utilizados para triagem de resíduos podem ser classificados em algumas categorias: ♦ Redutores de volume: com vista a aperfeiçoar o funcionamento de equipamentos posteriores, ou mesmo melhorar o transporte dos materiais, foram desenvolvidos diferentes equipamentos para redução de volume. De forma breve, pode-se apontar dois principais: � Moinho de martelos: consiste em um dispositivo com martelos girando em elevadas velocidades (700 a 1200 rot/min), com fins de redução de volume através do impacto. Esta tecnologia, porém, apresenta o maior risco de explosão devido à combinação de faíscas e pó gerado; � Moinho de serras: ao contrário do moinho de martelos que atua através do impacto, esta consiste em serras rotatórias em alta velocidade (60-190 rot/min), buscando triturar os resíduos. A escolha entre o moinho de martelos ou este dependerá em muito do tipo de resíduo e características desejáveis. ♦ Peneiras: as peneiras podem ser de três tipos principais, vibratórias, rotatórias e em disco. � Peneiras vibratórias: são comumente usadas no Brasil para separação de materiais de pequeno porte, como tipos de solo, ou mesmo em algumas estações de tratamento de efluentes. Esta tecnologia, porém, apresenta como grande desvantagem um maior entupimento dos orifícios, sendo mais comum a utilização dos modelos posteriores para RSU;� Peneiras rotativas: consistem em grandes rolos que rotacionam sobre seu eixo central. Este tipo de peneira pode ser encontrado em algumas centrais de triagem de resíduos no Brasil, além de permitir a adição de dispositivos como injetores de ar, para separação de materiais leves, de serras, para abertura de sacos ou imãs, para separação magnética. Este tipo de peneira, devido à sua resistência, consuma ser utilizada na remoção de rejeitos; � Peneiras em disco: consiste em um conjunto de discos paralelos em formato circular ou de estrelas, sendo muito utilizadas na separação de papel e papelão. Ajustando-se o espaçamento entre estes, é possível separar materiais de menor porte, os quais passam entre os discos, daqueles de maior porte, que passam sobre estes. Tal peneira possui diversas vantagens, como desobstrução automática dos orifícios e fácil ajuste do espaçamento entre discos, sendo, juntamente com as peneiras rotativas, muito utilizadas em centrais de triagem atualmente em operação. ♦ Separadores magnéticos: encontrados em algumas poucas centrais de triagem brasileiras, separadores magnéticos consistem basicamente em imãs para atração de metais ferrosos. Estão geralmente presentes na forma de esteiras magnéticas, podendo inclusive estar suspensas, sem contato direto com o resíduo não ferroso. Devido ao seu preço razoável e sua elevada eficácia, quando bem utilizados, separadores magnéticos são encontrados em praticamente todas centrais de triagem mecanizada que recebam resíduos ferrosos. ♦ Separadores por corrente Eddy: baseado na lei de Faraday da indução magnética, são utilizados para a separação de metais não ferrosos, principalmente alumínio. Neste dispositivo é produzido um campo magnético o qual induz a geração de uma força magnética oposta no metal, fazendo este ser repelido. Em relação ao sistema de triagem de resíduos semi-mecanizado, este é indicado para municípios que tenham condições de realizar um trabalho combinado com as associações de catadores de lixo e os sistemas automatizados. O trabalho consiste em aliar a tecnologia com a mão-de-obra, não automatizando totalmente o sistema. Algumas vantagens que esta forma de gerenciamento de resíduos apresenta é a maior conciliação entre as associações de catadores e a indústria, o que ocasiona um impacto positivo no município. Neste processo, é possível adaptar a produção à demanda de materiais que estão dando entrada no sistema, ou seja, é possível modificar o mesmo em função da sazonalidade, por exemplo. Como desvantagens, exige um maior controle dos colaboradores, organização e qualificação da mão-de-obra. Não é possível afirmar qual é o melhor sistema de triagem. Faz-se necessário avaliar a situação de cada local e realizar um comparativo entre os métodos apresentados. Porém, para que qualquer tratamento de resíduos sólidos tenha êxito verifica-se que quanto mais bem separado esses resíduos, maior será o seu valor agregado. Cabe portanto, ao engenheiro responsável a escolha do sistema mais adequado. Verifica-se que o que torna viável e facilita o processo de triagem e posterior tratamento dos resíduos sólidos é a segregação dos mesmos na origem, ou seja, nas residências da população, quando se fala em coleta e destinação de resíduos sólidos domésticos. Isso permite que os materiais que possuem potencial para reciclagem não sejam contaminados com outros que não, além de tornar menor o trabalho na UT. Para se alcançar a eficiência na separação dos resíduos sólidos na origem é necessário educar os munícipes, fazendo com que os mesmos percebam a importância dessa segregação em relação ao meio ambiente, à saúde econômica do município e o lado social, que contempla as pessoas que tiram seu sustento de um material que para outros não possui mais valor. Acredita-se que com a adoção de políticas públicas permanentes relacionadas com o tema do tratamento de resíduos, possa se avançar neste sentido.
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