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Como sistematizar as complicadas relações entre sons e letras “(...)não abordaremos questões de metodologia de ensino, pois é a área dos pedagogos.” (p. 25) “Discutiremos, aqui, o percurso e o enfoque do conteúdo a ser colocado nas primeiras etapas do ensino da língua escrita.” (p. 25) - Relações existentes em nossa língua entre sons da fala e letras do alfabeto: *Relação de um para um: cada letra com seu som, cada som com uma letra; *Relações de um para mais de um, determinadas partir da posição: cada letra com um som numa dada posição, cada som com uma letra numa dada posição; *Relações de concorrência: mais de uma letra para o mesmo som na mesma posição. No primeiro caso – Relação de um para um – a motivação fonética existente é perfeita. Todavia, há uma gradação entre as três relações; no segudo caso – Relação de um para mais de um, determinadas a partir da posição – a motivação fonética se combina com a posição; e no terceiro caso – Relações de concorrência – a motivação fonética da opção entre as letras não existe mais. Da gradação fonética decorre a gradação na facilidade no aprendizado. A primeira etapa da alfabetização: a teoria do casamento monogâmico entre sons e letras *O primeiro grande progresso na aprendizagem acontece quando o alfabetizando atina com a ideia de que existe uma representação gráfica para os sons – as letras. *O aluno, em seus primeiros passos pela compreensão do sistema, faz o entendimento de forma mais simples possível: cada letra tem um som e cada som tem sua letra – relação biunívoca. O que fazer? Por que não começar o ensino seguindo as etapas naturais do aprendiz? Devemos deixar o aluno explorar suas primeiras hipóteses por certo tempo; fornecendo-lhe um material de estudo que não entre em contradição com a primeira ideia que foi construída por ele. *“Fiéis esposas de um marido só.” (p. 26) p, b, t, d, f, v, a. *Representam sempre a mesma unidade fonênica. Portanto, merecem o privilégio de serem as primeiras a serem estudadas já no início da etapa de alfabetização. *Em um segundo momento da primeira etapa, colocaríamos algumas letras “menos virtuosas”, mas de maneira que a ideia de relação única entre letra e som que foi criada pelo alfabetizando não fosse interrompida bruscamente. Exemplos: lua, lava, vala, menina, navio *Evitando exemplos como sol, mel, sal, pombo, anta Entretanto... “Não podemos nos agarrar com rigidez ao intuito de manter o alfabetizando resguardado por algum tempo das complicações da escrita. As palavras vão jorrar de todos os lados, as crianças vão trazê-las, e não seria sensato exagerar o peneiramento de dados. Se as letras indesejadas forçarem sua entrada, será preciso adiantar a explicação de que essas letras podem, às vezes, ter outros sons, quando colocadas em outras posições.” (p. 27) A segunda etapa da alfabetização: a teoria da poligamia com restrições de posição *Rejeição da hipótese da monogamia. *O professor deve ajudar o aprendiz a observar a relação de poligamia. Letra l com som de [u]; Letra o com som de [u], Letra e com som de [i] Como fazer isso? - Atividades de pesquisa Exemplo: “O professor pode arranjar jornais velhos, revistas velhas, invólucros de produtos e qualquer material impresso, além de folha de papel grande, tesoura e cola, e propor o seguinte: “Vamos estudar a letra l. Que sons ela tem? Em lua e em sala ela tem um som. Em sol e em papel, o som é outro.” (p. 28) Resultados: - O alfabetizador ajudará o aluno a perceber que a ideia de monogamia é inviável; - Com os novos dados, a nova hipótese – de poligamia condicionada pela posição – será criada. - O que acontece quando o alfabetizando “encalha” na ideia de monogamia? Falhas típicas de leitura e escrita Pronúncia artificial das palavras “O triste é que, na maioria das vezes, o aluno é secundado nisso pelos professores, que acreditam ingenuamente ser essa pronúncia fictícia, de alguma maneira, a certa da língua.” (p. 29) “Essa maneira especial de pronunciar as palavras pode ser interpretada como um artifício didático usado pelos professores para preservar a validade da teoria monogâmica do sistema de escrita. Mas isso é um erro.” (p. 30) Criação artificiosa de uma modalidade de língua que só existe dentro das salas de aula de alfabetização. A terceira etapa: as partes arbitrárias do sistema - Vencida a segunda etapa, o alfabetizando NÃO está livre de cometer desvios ortográficos. “A terceira etapa dura toda a vida. Ninguém está livre de um momento de insegurança sobre ortografia correta de uma palavra rara.” (p. 31) *Quando mais de uma letra pode, na mesma posição, representar um som, a opção pela letra correta em uma palavra é inteiramente arbitrária. Rosa – roza Exame – esame *O alfabetizando já aceitou que a monogamia é inviável, e já conhece as restrições de posição. *Agora, o aluno precisa organizar suas ideias de maneira a entender a arbitrariedade, além de memorizar a escolha certa da letra, individualmente para cada palavra. “Para cada som numa dada posição, há uma dada letra; a cada letra numa dada posição, corresponde um dado som. Em certos ambientes, certos sons podem ser representados por mais de uma letra.” (p. 32) - O que o alfabetizador pode fazer para ajudar o alfabetizando na terceira etapa? *Fornecer respostas corretas se algum aluno perguntar, por exemplo, por que sino começa com s e cinco começa com c. *Conduzir o alfabetizando, organizadamente, a saber exatamente quais são os contextos em que duas ou mais letras concorrem na representação do mesmo som. – Isso também pode ser feito pelo método da pesquisa.
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