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Ótica da demanda José Tadeu de Almeida Introdução Nesta aula, você verá alguns conceitos da Macroeconomia, que dedica-se ao estudo das políticas econômicas e seus impactos sobre a sociedade através do crescimento econômico e da geração da produção de uma economia. Você vai estudar também a composição da demanda agregada, uma identidade econômica elaborada a partir de diferentes elementos que compõem a produção total de bens e serviços. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • entender o que é e como se forma a demanda agregada; • compreender a situação de equilíbrio na qual produto é igual à demanda; • identificar os tipos de bens que constituem as exportações e importações e o saldo de transações reais. 1 Consumo, investimento e gastos Você pode verificar que os estudos de Macroeconomia levam em consideração três elementos fundamentais, os agregados macroeconômicos: o produto, a renda e o dispêndio. O produto corres- ponde à soma de todos os bens e serviços produzidos pelos agentes em certo tempo. A renda, por sua vez, corresponde à remuneraçãode todos os recursos necessários à fabricação dos bens finais. Já o dispêndio, ou gasto, representa os valores usados pelos agentes para a aquisição dos bens produzidos. Deste modo, pode-se dizer que a renda se iguala à despesa; e que ambas, separadamente, igualam-se ao produto (PAULANI; BRAGA, 2013). Porém, cada agregado é determinado por variá- veis específicas. Você poderia citar algumas? Exemplos clássicos são os encontrados no título deste tópico, quais sejam, o consumo, o investimento e os gastos do Governo. Você analisará cada um desses componentes para enten- der como é composta a chamada demanda agregada (D). O consumo pode ser compreendido como a soma do valor das aquisições pelos agentes econômicos (famílias, indivíduos, empreendedores, dentre outros) de bens que destinam-se ao uso desses agentes (BLANCHARD, 2004). Podemos enquadrar estes bens em três categorias: • bens de consumo não duráveis, destinados ao uso em curtíssimo e curto prazo, às vezes por uma única vez, como alimentos, produtos derivados do tabaco e combustíveis. Figura 1 – Combustíveis são bens de consumo não duráveis Fonte: Anze Bizjan/Shutterstock.com • bens de consumo duráveis, normalmente utilizados por mais de uma pessoa, por mais de uma vez e cujo prazo de deterioração é maior, como eletrodomésticos, eletrônicos e automóveis, por exemplo. FIQUE ATENTO! Parte da literatura econômica separa os bens de consumo em outra categoria, a de bens de consumo semiduráveis, que são aqueles a serem consumidos por um agente em curto e médio prazos e que têm prazo de deterioração superior aos bens não duráveis, como calçados e roupas. • serviços, atividades que vêm do trabalho humano e prestam-se à satisfação de uma necessidade dos agentes, como consultas médicas, consultorias, trabalhos advocatí- cios etc. SAIBA MAIS! Uma investigação a respeito do consumo de bens duráveis e não-duráveis no Brasil entre 1970 e 2003 pode ser encontrada no artigo de Fábio Augusto Reis Gomes, “Evolução do consumo de duráveis e não duráveis: existe ajustamento len- to no caso brasileiro?”, que está disponível no link: <http://www.scielo.br/pdf/ecoa/ v17n2/a05v17n2.pdf>. O investimento é uma variável macroeconômica que corresponde ao somatório de gastos, por parte das empresas, em especial (pois, na teoria econômica, são elas, no setor privado, que conduzem o processo de produção) para a aquisição de bens e serviços que tenham por obje-tivo a realização da produção em longo prazo. Figura 2 – Investimentos envolvem o longo prazo Fonte: Tzido Sun/Shutterstock.com Veja que essas aquisições podem ser de equipamentos e construção de instalações destina- das à fabricação das mercadorias. Cabe destacar que, na categoria “equipamentos”, observa-se outro tipo de bens, qual seja: • bens de capital, destinados à produção de outros bens e cuja utilização dá-seemmédio e longo prazos, de acordo com uma taxa de deterioração (também conhecida como depreciação ou sucateamento). FIQUE ATENTO! De modo geral, a taxa de depreciação de um bem de capital é razoavelmente conhecida pela firma e determinada pela evolução tecnológica e intensidade de uso deste bem. O gasto público deriva de todas as atividades realizadas pelo Estado para a aquisição de bens e serviços, além da remuneração dos funcionários. Essa variável é um importante instrumento de política econômica à medida que permite aquecer ou desacelerar a atividade econômica através de variações nas despesas do Estado (PAULANI; BRAGA, 2013). FIQUE ATENTO! A política econômica que utiliza o gasto do governo para atuar sobre a atividade econômica é denominada política fiscal. Expressamos, assim, através do Consumo, do Investimento e do gasto do governo, as variá- veis mais importantes para a determinação da demanda. Neste sentido, precisamos ter em conta que esta demanda por bens pode ser suprida por aqueles produzidos dentro da economia, ou bens domésticos (d), tanto quanto por bens importados (m). SAIBA MAIS! Em geral, as economias dos diferentes países mantêm relações com o resto do mundo, de forma que, quase sempre, visualizaremos fluxos de bens e capitais entre essas diferentes nações. Deste modo, podemos, inicialmente, definir o consumo como uma relação entre a aquisição de bens de consumo domésticos e importados. Verifique a equação que segue. C = dbc + mbc Ou seja, o consumo é formado pela aquisição de bens de consumo domésticos (dbc) e importados (mbc). EXEMPLO Se foram produzidos bens no mercado doméstico com o valor de R$ 1 bilhão e os bens importados somaram o valor de R$ 100 milhões, temos que o consumo total desta economia é de R$ 1,1 bilhão. Podemos expandir este conceito para as outras variáveis macroeconômicas que estudamos até agora. O investimento, enquanto se configure por um processo de aquisição de bens de capital (bk), pode ser determinado através da seguinte equação: I = dbk + mbk Da mesma forma, o gasto governamental (G) envolve a compra de bens públicos (bp) que serão disponibilizados à sociedade através do Estado, conforme a equação: G = dbp + mbp Expressando, portanto, as três variáveis que determinam a demanda agregada (D), podemos abri-las a partir da aquisição de bens domésticos e importados, concluindo nosso raciocínio atra- vés da seguinte equação: D = C + I + G = dbc + mbc + dbk + mbk + dbp + mbp 2 Em equilíbrio: PIB = renda O Produto Interno Bruto (PIB) é a expressão do valor de todos os bens e serviços produzidos em uma economia ao longo de um determinado período de tempo, normalmente correspondente a um ano. Ele é a expressão do produto total, através da equação: PIB = C + I + G + (X – M) Em que C, I e G representam, respectivamente, o consumo, o investimento e os gastos do Governo. (X-M) representa o saldo da balança comercial (através da identidade exportações -importações). Como as operações de consumo, investimento e gasto implicam uso de recursos monetá- rios, você pode observar que esses recursos advêm da renda obtida pelas atividades produtivas – no consumo das famílias, no investimento das empresas, no gasto do Governo. Figura 3 – Estado e seus gastos Fonte: Bart Sadowski/Shutterstock.com Supondo que essa economia seja fechada, ou seja, sem contato com o exterior, temos que o cálculo do Produto Interno Bruto se dá através da relação PIB = C + I + G. Vamos, porém, utilizar o caso de uma economia aberta, que realiza transações com o exterior. Assim, em condições de equilíbrio, observa-se a identidade PIB = Renda; renda esta que, des- considerando a hipótese de poupança, será correspondente à demanda. Ou seja, nessas condi- ções, o produto se iguala à demanda (PAULANI; BRAGA, 2013). Sabendo-se, portanto, que o PIB se iguala à demanda, temos a seguinte identidade: PIB = D → PIB – D = 0 Neste caso, vamos abrir um pouco mais a identidade que estabelecemos no conjunto de equações da seção anterior.Se o PIB se iguala à demanda, temos que, no cálculo do PIB, são computados todos os bens produzidos, importados e exportados, seja na forma de bens de consumo, capital ou bens públi- cos. Porém, devemos citar uma quarta categoria de bens, qual seja, os bens intermediários, que são bens que já passaram pelo processo de produção, mas destinam-se à composição da produ- ção de outros bens, como, por exemplo, de chapas de aço para a construção de automóveis. Estes bens intermediários (tratados por BI) podem ser exportados ou importados conforme as especificidades da economia, logo, para o cálculo do o saldo dos bens intermediários em uso na economia, temos a seguinte equação: BI = xbi – mbi Sabendo, assim, que no cálculo do PIB os bens intermediários também devem ser computa- dos, obtemos a seguinte equação: PIB = BC + BK + BP + BI Logo: PIB = dbc + mbc + dbk + mbk + dbp + mbp + xbi – mbi Como o PIB se iguala à demanda em condições de equilíbrio, temos que: PIB = D → dbc + xbc + dbk + xbk + dbp + xbp + xbi – mbi = dbc + mbc + dbk + mbk + dbp + mbp Deste modo: PIB – D = dbc + xbc + dbk + xbk + dbp + xbp + xbi – mbi – (dbc + mbc + dbk + mbk + dbp + mbp) Retirando-se as variáveis que eliminam-se mutuamente, temos que: PIB – D = xbc – mbc + xbk - mbk+ +xbp – mbp +xbi – mbi Assim, PIB – D se igualam ao saldo de exportações e importações de bens: PIB – D = X – M (SILVA, 1999) 3 Exportações, importações e saldo de transações reais Considerando o conjunto de equações apresentado na seção anterior, você pode compreen- der o resultado da identidade macroeconômica (PIB – D) como o saldo de transações reais (ou correntes) de uma economia (com notação STR). Logo, sabendo-se que PIB – D = STR, temos que: STR = X – M Ou seja, o saldo em transações reais corresponde aos resultados das transações da econo- mia com o exterior, através dos processos de exportação e importação de produtos (SILVA, 1999) EXEMPLO Se as exportações tiveram um saldo final de R$ 4 bilhões e as importações tiveram saldo de R$ 3 bilhões, temos que o saldo de transações reais é igual a STR = 4 – 3 = R$ 1 bilhão. Figura 4 – Transações correntes: relações de uma economia com o exterior Fonte: Fine Art/Shutterstock.com 4 PIB = D + (X-M) Tendo explorado o conceito de transações correntes, vamos incorporá-lo ao cálculo da demanda para compreendermos a formação do produto interno bruto, identidade de grande importância macroeconômica. Vamos recuperar a equação PIB = C + I + G + (X-M) para o caso de uma economia aberta. Sabendo-se que o consumo, o investimento e o gasto do Governo são expressões da demanda na economia, podemos transformar essa equação em: PIB = D + (X – M) Ou seja, o produto interno bruto é formado pela demanda adicionada dos saldos das transa- ções no exterior, constituindo, assim, a demanda agregada que iguala-se ao produto. Tratamos, então, a demanda como “agregada”, pois ela não é individualizada, mas sim composta pela soma das atividades dos agentes econômicos. Fechamento Nesta aula, você teve oportunidade de: • entender a natureza e os fatores determinantes de importantes variáveis macroeconô- micas, como o consumo, o investimento e o gasto do Governo; • verificar que o produto interno bruto se iguala à renda sob condições de equilíbrio; • conhecer os instrumentos de relações de uma economia com o exterior através do saldo de transações reais. Referências BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. 3 ed. Rio de Janeiro: Pearson, 2004. GOMES, Fábio Augusto Reis. Evolução do consumo de duráveis e não duráveis: existe ajustamento lento no caso brasileiro? In: Economia Aplicada. v. 17, n. 2, 2013. p. 275-294. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/ecoa/v17n2/a05v17n2.pdf>. Acesso em: 31 dez. 2016. PAULANI, Leda Maria; BRAGA, Márcio Bobik. A nova contabilidade social – uma introdução à macroeconomia. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 21 ed. São Paulo: Atlas, 2016. SILVA, José Cláudio Ferreira. Modelos de análise macroeconômica: um curso completo de macro- economia. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
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