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PROPOSTA METODOLÓGICA PARA INTEGRAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS Daniella Rocha TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL. Aprovada por: _______________________________________________ Prof. Nelson Francisco Favilla Ebecken, D.Sc. _______________________________________________ Profa. Alessandra Magrini, D.Sc. _______________________________________________ Prof. Luiz Landau, D.Sc. _______________________________________________ Prof. Alexandre Gonçalves Evsukoff, Ph.D. _______________________________________________ Prof. Elton Fernandes, Ph.D. _______________________________________________ Prof. Antônio Ferreira da Hora, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL MARÇO DE 2007 ii ROCHA, DANIELLA Proposta Metodológica para Integração dos Instrumentos de Gerenciamento de Recursos Hídricos. IX, 285 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, D.Sc., Engenharia Civil, 2007) Tese – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE 1. Gerenciamento dos recursos hídricos 2. TMDL I. COPPE/UFRJ II. Título (série) iii Dias Melhores “Vivemos esperando Dias melhores Dias de paz, dias a mais Dias que não deixaremos para trás Vivemos esperando O dia em que seremos melhores Melhores no amor, melhores na dor Melhores em tudo Vivemos esperando O dia em que seremos para sempre Vivemos esperando Dias melhores para sempre” À Ana Beatriz Rocha Krupka, é claro iv AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, por ter me permitido chegar ao final, apesar das tribulações. À minha mãe (D. Lucia), para a qual não tenho palavras, pois tudo o que sou, tudo o que conquistei, devo a ela. Aos meus irmãos Denise, Daisy, Djenal, Durvalina e Djalene pelo amor, amizade, carinho e principalmente pelo exemplo de pessoas. Ao meu esposo Piotr Krupka Filho pelos ensinamentos, e que, na convivência diária, soube ter paciência me apoiando nessa longa jornada. Ao professor Nelson F. Favilla Ebecken pela oportunidade de minha integração ao programa de engenharia civil desde o mestrado, pela orientação e principalmente pela confiança e carinho dispensados a mim. À professora Alessandra Magrini pela orientação, carinho e oportunidade em obter experiência profissional cujo maior ensinamento foi o próprio exemplo de dedicação ao trabalho. Ao professor José Jailton Marques, que pelo exemplo de dedicação à vida acadêmica, pelo seu carinho, amizade, ajuda, companheirismo e dedicação durante todo tempo, merece a co-autoria neste trabalho. Não há palavras para expressar minha gratidão. Desejo expressar minha eterna gratidão a Valdilene dos Santos e principalmente a Daniela dos Santos que cuidaram de meu bem mais precioso, Ana Beatriz, para que eu pudesse terminar esta tese. A Andrelina Maria Pinheiro Santos pela amizade, carinho e ajuda neste trabalho. A Lilian pela atenção e colaboração na realização deste trabalho. A Dra. Maria Fernanda Camarano, pessoa para quem não tenho palavras para sumarizar todo meu agradecimento pelo carinho e apoio nos momentos difíceis e que com certeza tem contribuição em cada capítulo desse trabalho, pois com sua sapiência me auxiliou a manter a mente quieta, a coluna ereta e coração tranqüilo para que eu pudesse, na medida do possível, manter o equilíbrio. A Marta Helena, Elton Beltran, César Bündchen, alunos dedicados, pelo carinho e apoio neste trabalho. Aos amigos que mesmo distantes sei que torcem por mim: Lea Margarida, Elizabeth Porto, Adelaide, Hermes, Rossana Fernandes e Edílson dos Santos. A Superintendência de Recursos Hídricos de Sergipe na pessoa de João Carlos da Rocha, pela atenção e dados fornecidos. A Cibele, Sergio Rocha e Ricardo Lima pela atenção e elaboração dos mapas. v Resumo da tese apresentada a COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.) PROPOSTA METODOLÓGICA PARA INTEGRAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS Daniella Rocha Março/2007 Orientadores: Nelson Francisco Favilla Ebecken Alessandra Magrini Programa: Engenharia Civil Esta tese apresenta-se como um marco inovador na área do gerenciamento de bacias hidrográficas, na medida em que reúne um conjunto de ferramentas de suporte ao desenvolvimento de uma metodologia cuja meta é promover a integração dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, visando garantir qualidade e quantidade aos usos designados diante do lançamento de matéria orgânica biodegradável nos corpos hídricos. Como etapa inicial, foi realizada uma caracterização dos meios físicos, biológicos e socioeconômicos (diagnóstico ambiental) e, paralelamente, foi realizada a avaliação da poluição hídrica da bacia hidrográfica. A carga poluidora industrial foi estimada através das seguintes metodologias: Industrial Pollution Projection System - IPPS, CASTAGNINO e IMHOFF. Para a carga populacional, foi utilizado o parâmetro 0,054 kg de DBO/hab*dia-1. A ferramenta de auxílio à integração dos instrumentos de gerenciamento de recursos hídricos aqui apresentada é o modelo do Total Maximum Daily Load - TMDL. O TMDL é uma ferramenta de planejamento que determina a quantidade máxima de um poluente que o corpo hídrico pode receber sem violar os padrões de qualidade estabelecidos para os usos designados, alocando cargas deste poluente entre as fontes de poluição pontuais e difusas. A partir da aplicação do processo TMDL à sub-bacia do rio Cotinguiba, principal afluente do rio Sergipe, conclui-se que esta é uma ferramenta útil para os processos de enquadramento, outorga e cobrança, pois, ao utilizar o modelo de qualidade da água para simular diversos cenários para o seu desenvolvimento, possibilita a previsão de uma situação futura. Além disso, ao incorporar o monitoramento, permite analisar se as ações adotadas para diminuir as cargas poluentes são eficazes ou devem ser melhoradas. vi Thesis Abstract presented to COPPE/UFRJ as one of the requirements to obtain Doctor Sciences Grade (D.Sc) PROPOSED METHODOLOGY FOR THE INTEGRATION OF INSTRUMENTS APPLIED IN WATER RESOURCE MANAGEMENT Daniella Rocha 2007/March Advisors: Nelson Francisco Favilla Ebecken Alessandra Magrini Department: Civil Engineering This thesis presents as an innovation mark in hydrographic watershed management area in which it congregates a set of support tools to design the development of one methodology. The objective is to promote the integration of National Hydric Resource Policy instruments to guarantee the qualitative and quantitative application of designated policies in the face of organic biodegradable material discharge into bodies of water. The initial step was to perform the characterization of physical, biological and socio-economical (environmental diagnosis) aspects and in parallel the evaluation of water pollution in the hydrographic watershed was made. The volume of industrial pollution was estimated applying the following methodologies: “Industrial Pollution Projection System - IPPS, CASTAGNINO and IMHOFF. The population load was estimated using the parameter 0,054 kg of BOD/hab*day-1 ). The Total Maximum Daily Load – TMDL was used as the auxiliary tool for the integration of hydric resource management instruments. The TMDL is a planning tool t that determines the maximum quantity of a pollutant that can be received by any body of water without exceeding the established quality standards for the designateduses of the water, and allocates loads of those pollutants between the points and variety of pollution sources. From the application of the TMDL process to the Cotinguiba river sub-watershed, the Major tributary to the Sergipe river, this tool was found to be very useful to the process of defining suitability, approval and charging (taxation), because through the use of the water quality model to simulate a variety of scenarios for its development, permitted the forecast of a future situation. Furthermore, by incorporating monitoring, permits the analysis of the adopted actions to reduce the pollutant loads whether they are effective or must be improved. vii SUMÁRIO Capítulo I - Introdução 1 1.1 - Introdução 2 1.2 – Objetivos 6 1.2.1 – Objetivo geral 6 1.2.2 – Objetivos específicos 6 1.3 – Estrutura do trabalho 7 Capítulo II – Revisão bibliográfica 11 2.1 – A Política Nacional de Recursos Hídricos 12 2.1.1 – Plano de Recursos Hídricos 19 2.1.2 – Enquadramento dos corpos d’água em classes de usos 19 2.1.3 – Outorga pelo uso da água 22 2.1.4 – Cobrança pelo usos dos recursos hídricos 23 2.1.5 – Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos 24 2.2 – Metodologias de estimativa de carga poluidora 24 2.2.1 – Estimativa da carga poluidora populacional 24 2.2.2 – O sistema Industrial Pollution Projection System - IPPS 25 2.2.3 – Metodologia CASTAGNINO 29 2.2.3 – Metodologia IMHOFF 31 2.3 – Avaliação da carga máxima total diária (Total Maximum Daily Load – TMDL) 33 2.3.1 – O processo de estabelecimento do TMDL 39 2.3.1.1 – Nome e localização do corpo hídrico ameaçado ou impactado 41 2.3.1.2 – Identificação do problema 41 2.3.1.3 – Análise dos objetivos 41 2.3.1.4– Identificação e avaliação das fontes poluidoras 42 2.3.1.5 – Associação entre os objetivos de qualidade e as fontes poluidoras 43 2.3.1.6 – Alocação das cargas poluidoras 43 2.3.1.6.1–Alocação da carga poluidora de fontes pontuais 44 2.3.1.6.2– Alocação da carga poluidora de fontes difusas 45 2.3.1.6.3– Margem de segurança 46 2.3.1.6.4– Variação sazonal 47 viii 2.3.1.6.5– Crescimento futuro 47 2.3.1.7 – Planos implementação e monitoramento 48 2.4 – Participação popular no processo de implementação do TMDL 48 2.4.1 – Aviso público 49 2.4.2 – Audiência pública 49 2.5 - Modelo de qualidade da água – Streeter & Phelps 49 2.6 - Considerações finais 52 CAPÍTULO III - Metodologia da Pesquisa 54 3.1 – Identificação da bacia hidrográfica 56 3.2– Levantamento de dados da bacia hidrográfica 56 3.3 – Estimativa da carga poluidora populacional 61 3.4 - Estimativa da carga poluidora industrial 62 3.4.1 – Carga poluidora industrial estimada com dados do Industrial Pollution Projection System -IPPS 63 3.4.2- Carga poluidora industrial estimada com dados de CASTAGNINO 66 3.4.3– Carga poluidora industrial estimada com dados de IMHOFF 68 3.5 – Aplicação da metodologia Total Maximum Daily Load (TMDL) 70 3.5.1 – Nome e localização do corpo hídrico ameaçado ou impactado 72 3.5.2 – Identificação do problema 73 3.5.3 – Análise dos objetivos 73 3.5.4 – Identificação e avaliação das fontes poluidoras 75 3.5.5 – Associação entre os objetivos e as fontes poluidoras 77 3.5.6 – Alocação das cargas poluidoras 78 3.5.7 – Planos implementação e monitoramento 79 3.6 – Participação popular no processo TMDL 80 3.7 – Considerações finais 80 CAPÍTULO IV – Diagnóstico da bacia hidrográfica do rio Sergipe 83 4.1 – Identificação da bacia hidrográfica 84 4.2 – Levantamento de dados 84 4.2.1 – Tratamento dos dados obtidos 86 4.3 – Pesquisa de campo 87 4.4 – Diagnóstico ambiental da situação atual da bacia hidrográfica do rio Sergipe 89 4.4.1 – Meio físico 89 ix 4.4.1.1 – Características gerais da bacia – Recursos hídricos 89 4.4.1.2 – Clima 107 4.4.1.3 – Relevo 108 4.4.1.4 – Tipos de solo 108 4.4.2 – Meio biológico 109 4.4.2.1 – Flora 109 4.4.2.2 – Fauna 109 4.4.3 – Meio socioeconômico 109 4.4.3.1 – O uso e ocupação do solo 109 4.4.3.2 – Usos dos recursos hídricos do estado 111 4.4.3.3 – Aspectos demográficos 111 4.4.3.4 – Caracterização do resíduo sólido 114 4.4.3.5 – Caracterização do parque industrial 123 4.5 – Considerações finais 131 CAPÍTULO V – Avaliação da poluição hídrica na bacia hidrográfica do rio Sergipe 133 5.1 - Estimativa da carga poluidora 135 5.1.1 - Estimativa da carga poluidora populacional da bacia hidrográfica do rio Sergipe 135 5.3 - Estimativa da carga poluidora industrial da bacia hidrográfica do rio Sergipe 140 5.3.1 – Estimativa da carga poluidora industrial pelo método Sistema de Projeção de Poluição Industrial - Industrial Pollution Projection System-IPPS 140 5.3.2 – Estimativa da carga poluidora industrial pelo método de CASTAGNINO 146 5.3.3 – Estimativa da carga poluidora industrial pelo método de IMHOFF 151 5.4 – Considerações finais 155 Capítulo VI – Aplicação da metodologia TMDL a bacia hidrográfica do rio Sergipe 163 6.1 – Nome e localização 164 6.2 – Identificação do problema 168 6.3 – Análise dos objetivos 168 6.3.1 – Usos dos recursos hídricos 169 6.3.2 – Padrão de qualidade 171 6.3.3 – Carga poluidora máxima 172 x 6.3.4 – Carga poluidora que diverge do limite determinado 173 6.4 – Identificação e avaliação das fontes poluidoras 178 6.5 – Associação entre os objetivos de qualidade e as fontes poluidoras 179 6.6 – Alocação da carga poluidora 182 6.6.1 – Variação sazonal 182 6.6.2 – Alocação da carga poluidora de fontes pontuais 182 6.6.3 – Alocação da carga poluidora de fontes difusas 196 6.6.4 – Margem de segurança 196 6.6.5 – Crescimento futuro 197 6.7 – Planos de implementação e monitoramento 198 6.7.1 – Ações de implementação e medidas de gerenciamento 198 6.7.2 – Cronograma 199 6.7.3 – Garantias de implementação 200 6.7.4 – Controle legal ou regulatório 202 6.7.5 – Tempo requerido para alcançar os padrões de qualidade da água 203 6.7.6 – Plano de monitoramento 204 6.7.7 – Metas intermediárias para se atingir os padrões de qualidade da água 205 6.7.8 – Procedimento de revisão do TMDL 205 6.8 – Participação popular no processo de implementação do TMDL 206 6.9 – Considerações finais 208 Capítulo VII – Conclusões e recomendações 213 Referências bibliografias 220 Anexos 233 1 CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO 2 1.1 - Introdução A água representa insumo essencial à vida, como constituinte biológico dos seres vivos, como meio de vida de várias espécies vegetais e animais, e também como fator de produção de vários bens de consumo. O acelerado crescimento populacional no mundo tem conduzido ao aumento da demanda de água o que vem causando, em algumas regiões, problemas com a escassez desse recurso. Não se pode esquecer também o exacerbado crescimento industrial, acompanhado da exploração da terra por atividades agropecuárias e de mineração. Tais explorações associadas ao crescimento populacional fazem com que a degradação dos recursos hídricos atinja um estágio crítico em todo o mundo, gerando impactos ambientais que demandam ações concretas de prevenção, controle, preservação e recuperação da qualidade e quant idade da água dos corpos hídricos. Esta degradação está relacionada à presença de cargas poluentes presentes nos corpos hídricos. Acreditava-se que a água era um bem de abundância ilimitada e dotado de inesgotável capacidade de renovação mediante quaisquer descargas de poluentes. Uma descoberta importante para toda a humanidade no final do século passado foi que a água disponível é um recurso limitado: "A água doce é um recurso finito e vulnerável, indispensável para sustentar a vida, o desenvolvimento e o meio ambiente", (Conferênciasobre Água e Meio Ambiente, 1992). A escassez ou a falta de água está crescendo a cada dia, seja pelo aumento da população humana, seja pela extrapolação da capacidade de suporte decorrente da recepção de altas cargas poluidoras. Assim, a água, recurso natural finito e de importância estratégica para os países em todo o mundo, vem demandando o desenvolvimento e aperfeiçoamento de diversos modelos de gestão, que buscam a harmonia entre os usos múltiplos e os conflitos decorrentes. 3 De acordo com TUCCI (2000), os principais impactos sobre os recursos hídricos em nível nacional são os relacionados abaixo: § Despejos de efluentes domésticos e industriais nos rios; § Contaminação difusa pelo uso de fertilizantes e pesticidas de áreas agrícolas; § Degradação do solo rural pelo desmatamento e práticas agrícolas inadequadas; § Construção de obras hidráulicas; § Aterros sanitários; § Mineração, etc. A degradação resultante das fontes de poluição acima pode direta ou indiretamente prejudicar a saúde humana, a segurança e o bem-estar da população em geral. É importante salientar que em função da forma como os poluentes podem alcançar os mananciais, as fontes são classificadas em dois tipos (MOTA, 1995): § A primeira, denominada fonte localizada ou pontual, é aquela que tem um local determinado de lançamento na água. É o caso, por exemplo, da desembocadura de efluentes de uma estação de tratamento de esgotos domésticos ou industriais em um rio, ou a saída de um tronco coletor de esgotos domésticos sem tratamento, ou ainda a saída no mar de um emissário submarino. Estas fontes são mais fácies de identificação, pois se restringem a lançamentos pontuais de carga poluidora. § As fontes não localizadas caracterizam-se por aplicação difusa dos poluentes na água. Por exemplo: águas de escoamento superficial; águas de drenagem de sistemas de irrigação; lançamentos aleatórios de detritos na água. Esse tipo de poluição alcança os mananciais de forma espalhada, dificultando sua identificação. Das fontes de poluição citadas, observa-se atualmente que o controle maior se concentra sobre os efluentes industriais, principalmente nas regiões mais desenvolvidas, pois as indústrias vêm sendo fiscalizadas e obrigadas a melhorar seu efluente. Entretanto, com relação ao esgo tamento sanitário, somente 20,2% dos municípios 4 brasileiros têm sistema de coleta com algum tipo de tratamento (IBGE, 2002). Outros 32% dos municípios lançam seus efluentes diretamente in natura em algum corpo receptor, ao passo que 47,8% nem coleta de esgoto fornecem (IBGE, 2002). Diante dessa situação, há um considerável lançamento de carga orgânica nos corpos d’água. Infere-se, portanto, que cerca de 80% do esgoto doméstico produzido diariamente no país é lançado nos cursos d’água sem qualquer tipo de tratamento. Daí essa fonte ser considerada a maior poluidora dos rios, lagos e mares. Os parâmetros mais tradicionais utilizados na avaliação do impacto ambiental causado pelo lançamento nos corpos receptores de efluentes contendo matéria orgânica são a Demanda Bioquímica de Oxigênio - DBO e Oxigênio Dissolvido - OD. A DBO é o indicativo da quantidade de oxigênio necessária para a decomposição da matéria orgânica presente na água. Assim sendo, a DBO serve como forma de medição do potencial poluidor de certas substâncias biodegradáveis em relação ao consumo de oxigênio dissolvido (BRAGA et al., 2002). Convém destacar que a matéria orgânica em si não é um poluente, porém, seu despejo no meio aquático pode ocasionar um desequilíbrio entre a produção e consumo de oxigênio (BRAGA et al, op. cit.). Em função desses problemas, a gestão de recursos hídricos vem assumindo importância ímpar nas discussões técnico-científicas, políticas e socioeconômicas promovidas por agentes governamentais e da sociedade. Infelizmente, no Brasil não há uma caracterização geral do estado atual dos corpos hídricos em termos de seus aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos, tampouco um inventário nacional das cargas poluidoras industrial e populacional, com registro de sua localização e dos poluentes por elas gerados. A caracterização da situação ou da qualidade ambiental (diagnóstico ambiental) pode ser realizada com objetivos diferentes. Um deles é, a exemplo do que preconiza as metodologias de planejamento, servir de base para o conhecimento e o exame da situação ambiental, visando traçar linhas de ação ou tomar decisões para prevenir, controlar e corrigir os problemas ambientais (REDEAMBIENTAL, 2006). Portanto, não basta apenas o conhecimento das cargas poluidoras ou dos padrões de qualidade dos usos pretendidos, pois segundo JARRELL (1999), eles são difíceis de controlar e até mesmo de estimar. É preciso ter o conhecimento profundo da bacia, tendo em vista a minimização ou alocação dessas cargas nos diversos usos pré-definidos no plano de recursos hídricos. 5 Não se pode esquecer que desde a década de 30, o Brasil já dispunha do Código de Águas – Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934. Entretanto, tal ordenamento jurídico foi incapaz de incorporar meios para combater o desequilíbrio hídrico e os conflitos de uso, tampouco de promover os meios adequados para uma gestão descentralizada e participativa como é exigido nos dias de hoje. Atualmente, muito já se desenvolveu no campo da Gestão de Recursos Hídricos, tanto no cenário mundial quanto no nacional. Não obstante, a necessidade de reverter esta situação se tornou uma prioridade com a Lei nº 9.433 de 08 de janeiro de 1997, que instituiu a Política e o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos, e proclama princípios básicos praticados hoje em países desenvolvidos. Dentre esses princípios, destacam-se: a adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento; os usos múltiplos da água e a gestão descentralizada e participativa. Com intuito de promover efetivamente a gestão dos recursos hídricos tendo como referência os princípios básicos proclamados acima, a Lei nº 9.433/97 tem como um dos seus principais objetivos assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos. Para sua implementação, a referida lei institui, em seu art. 5 , os instrumentos de gestão de recursos hídricos a seguir: § Planos de Recursos Hídricos – são planos diretores que visam fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos; § Enquadramento dos corpos d’água em classes de uso – trata-se da classificação que relaciona os padrões de qualidade dos corpos hídricos aos respectivos usos compatíveis com esses padrões § Outorga de direito de uso dos recursos hídricos – tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água associados a uma garantia; § Cobrança pelo uso dos recursos hídricos – condicionada a outorga, é capaz de promover as condições de equilíbrio entre as forças de oferta (disponibilidade água) e de demanda, visando a promoção de racionalização do uso; 6 § Sistema Nacional de Informações sobre os Recursos Hídricos – sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações que irá auxiliar o gerenciamento dos recursos hídricos. Diante do exposto, nota-se que a Lei nº 9.433/97 tem uma estrutura avançada e complexa, especialmente por propor ações integradas, descentralizados e participativas. Sendo assim, torna-se oportuno o desenvolvimento de uma metodologia que auxilie a integração dos instrumentos de gestão de recursos hídricos, objetivando garantir a qualidade e a quantidade de água dos corpos d’água, frente ao aporte de matéria orgânica biodegradável. Ressalta-se que a metodologia desenvolvida é bem adaptada à aplicação em bacias de pequeno e médio porte,essenciais para o gerenciamento de demandas como abastecimento de água, irrigação, dessedentação animal etc., que praticamente não são monitoradas. Diante da falta de informações, esta situação pode induzir a decisões que gerem conflitos de usos. 1.2 – Objetivos 1.2.1 – Objetivo geral § Desenvolver e aplicar uma metodologia de integração dos instrumentos de gerenciamento de recursos hídricos, visando metas de qualidade e quantidade dos corpos d’água. 1.2.2 – Objetivos específicos § Elaborar uma enquete para coletar e confirmar alguns dados relevantes das indústrias; § Dar um diagnóstico ambiental sumarizado da bacia hidrográfica do rio Sergipe; § Dar um diagnóstico das indústrias consideradas poluidoras ou potencialmente poluidoras dos municípios inseridos totalmente ou parcialmente na bacia hidrográfica do rio Sergipe; § Estimar a carga poluente (DBO5,20) gerada pelas indústrias na bacia hidrográfica do rio Sergipe, utilizando para esse fim diversas 7 metodologias de estimativa da carga poluidora industrial: IPPS, CASTAGNINO e IMHOFF. § Estimar a carga poluente (DBO5,20) gerada pelo esgoto doméstico populacional. Para tanto, admitiu-se uma contribuição per capita de 0,054 kg/hab*dia-1. § Calcular a carga máxima total diária, levando em consideração a capacidade de suporte do corpo receptor tendo como referência a classe no qual foi enquadrado, ou seja, respeitando o nível de qualidade a ser alcançado e/ou mantido no segmento de corpo d’água ao longo do tempo. § Aplicar a metodologia TMDL à sub-bacia hidrográfica do rio Cotinguiba. § Alocar a carga poluidora excedente presente no corpo hídrico entre os usuários-poluidores; § Aplicar o modelo de qualidade da água, Streeter & Phelps a várias alternativas de cenários e § Finalmente, possibilitar a articulação com diversos instrumentos de planejamento e desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do município e do território sob sua área de influência, com o objetivo de evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano, e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente e principalmente sobre os recursos hídricos. Para alcançar os objetivos, foram utilizados alguns procedimentos metodológicos que se encontram divididos em três blocos: Elaboração de um diagnóstico da bacia hidrográfica, avaliação da poluição hídrica da bacia hidrográfica e aplicação da metodologia Total Maximum Daily Load - TMDL. Nesta linha de raciocínio, a tese se desenvolve em 7 capítulos, descritos a seguir. 1.3 – Estrutura do trabalho O Capítulo I contém uma breve apresentação sobre o estado atual dos recursos hídricos no Brasil, os motivos que estimulam esta pesquisa e os métodos utilizados para alcançar os objetivos. No capítulo seguinte, é apresentada uma revisão bibliográfica da Política Nacional de Recursos Hídricos, das metodologias de estimativa de carga 8 poluidora industrial (IPPS, CASTAGNINO e IMHOFF) e da metodologia TMDL que fundamentam este trabalho. No Capítulo III, é apresentado o procedimento metodológico efetivamente adotado, bem como sua adaptação à realidade nacional. Dentre as adaptações necessárias, destacam-se aquelas relacionadas à legislação para recursos hídricos e meio ambiente, padrão tecnológico, entre outros. Tal harmonia com as particularidades nacionais é necessária, pois PORTO (2002 in NEVES 2005) ressalta que alguns países em desenvolvimento muitas vezes enfrentam dificuldades na gestão da qualidade das águas por tentarem seguir as tendências dos países desenvolvidos. Uma situação típica é exigir cada vez maior rigor no controle da poluição, imitando países que já passaram para a “segunda geração” da gestão da qualidade da água, sem terem conseguido sequer enfrentar e resolver, por insuficiência de recursos financeiros e capacidade institucional, os problemas de “primeira geração” da gestão da qualidade da água. Para o desenvolvimento do Capítulo IV, foi necessário primeiramente fazer um levantamento de dados existentes nos órgãos estaduais e municipais de meio ambiente ou administrativo. A segunda fase consistiu, portanto, em pesquisa de campo, através de uma enquete para confirmação dos dados obtidos nos referidos órgãos e georeferenciamento de potenciais e efetivas fontes poluidoras dos recursos hídricos. Ressalta-se que as diretrizes norteadoras sugeridas para a elaboração de um diagnóstico ambiental são fundamentadas na Resolução CONAMA nº 001 de 23 de janeiro de 1986 e complementadas pela CNRH nº 12 de julho de 2000, que define os procedimentos para o enquadramento de corpos d’água em classes segundo seus usos preponderantes. Assim, a quantificação da carga poluidora lançada nos corpos d’água torna-se possível a partir dos dados obtidos principalmente sobre a produção, número de empregados e população residente nos municípios. Portanto, neste estudo, as estimativas das cargas poluidoras industriais são possíveis através das metodologias Industrial Pollution Projection System – IPPS, CASTAGNINO e IMHOFF, apresentadas no Capítulo V. É importante salientar que estas metodologias não representam todas as ferramentas disponíveis de estimativa de carga poluidora, mas são as mais usadas quando se trata de carga poluidora decorrente lançamento de matéria orgânica. A intensidade de poluição obtida através de coeficientes de emissão, do IPPS, é expressa em termos de poluição por unidade de número de empregados, por valor agregado, ou por valor de produção (HETTIGE et al., 1995). Já os métodos propostos por CASTAGNINO e IMHOFF utilizam valores médios de alguns parâmetros de águas 9 residuárias industriais dos Estados Unidos e equivalentes populacionais que relacionam a carga poluidora de indústrias com a de esgoto doméstico, respectivamente. Para a estimativa da carga poluidora populacional, decorrente da contribuição do esgoto doméstico, tem sido comum a utilização do seguinte dado de contribuição per capita: 0,054 kg de DBO5,20/dia (MOTA, op. cit.). É importante salientar que nada substitui as campanhas de monitoramento. Entretanto, diante da falta de dados para o diagnóstico da poluição industrial, as metodologias para estimação de carga poluidora se mostram bastante úteis diante da falta de uma rede de monitoramento sistemática e contínua das fontes de poluição hídrica. A partir dos dados obtidos acima, e particularmente do acesso a informações sobre o estado atual de degradação dos corpos hídricos da bacia hidrográfica estudada, abre-se o Capítulo VI, onde é feita a quantificação da carga máxima admissível que um corpo hídrico pode receber sem que sejam violados os padrões de qualidade para os usos pretendidos. Para tanto, utiliza-se o modelo do Total Maximum Daily Load - TMDL implementado nos Estados Unidos e desenvolvido pela United Sates Environmental Protection Agency – EPA. Os principais indicadores que podem ter seu TMDL desenvolvido, dependendo do interesse, são Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO, Fósforos Totais, Metais, Nitratos, Nitrogênio, Oxigênio Dissolvido – OD, Patogênicos (coliformes fecais), Pesticidas, pH, Sólidos totais dissolvidos, Sólidos totais em suspensão, Sulfatos, Temperatura, Turbidez e outros (JARRELL, op. cit.). O TMDL emprega o uso da modelagem matemática no planejamento dos recursos hídricos, através do cálculo da carga máxima total diária em bacias norte- americanas que um corpo d’água pode receber sem violar os padrões estabelecidos da qualidade da água, alocando cargas deste poluente entre fontes pontuais e não pontuais (USEPA, 1991, USEPA, 1997). Dentro desse contexto, o processo TMDL se apresenta como uma ferramenta que viabiliza a articulação entre os instrumentos de gestão da Política Nacional de Recursos Hídricos. O TMDL é constituído, portanto, de sete etapas. A primeira e a segunda etapas correspondemà identificação do problema, bem como do nome e localização do corpo hídrico ameaçado ou impactado, classificado em função do grau de poluição, no qual se pretende aplicar o TMDL. Na terceira etapa, define-se o relacionamento entre os usos designados, o padrão de qualidade e a carga poluidora. A fase seguinte refere-se à identificação e avaliação das fontes poluidoras, 10 visando conhecer os agentes causadores dos impactos ou iminentes degradadores dos recursos hídricos. A quinta etapa visa determinar a relação entre o objetivo de qualidade da água, do corpo hídrico, e a carga poluidora admissível para a classe almejada. Obtém-se, a partir dessa relação, uma estimativa da carga poluidora excedente, assim como o grau de redução de poluente a fim de atingir o padrão de qualidade para o uso pretendido. A implementação do processo TMDL tem muito a contribuir com o processo de enquadramento, através do critério de alocação de cargas, que corresponde à sexta etapa. O objetivo desta fase é alocar a carga poluidora excedente presente no corpo hídrico entre os usuários-poluidores de fontes pontuais ou difusas. Caso se identifique mais de uma possibilidade de alocação, o processo TMDL poderá admiti- las desde que se demonstre que são tecnicamente viáveis e que os padrões de qualidade da água serão alcançados e mantidos, conforme proposta de enquadramento. Assim sendo, utiliza-se o modelo de qualidade da água, Streeter & Phelps, de domínio público, que visa solucionar os problemas advindos das decisões de alocação que são freqüentemente duvidosas, tendo em vista que não se conhece precisamente a resposta do corpo d’água às alterações propostas. A modelagem da qualidade de água caracteriza-se, portanto, como uma ferramenta operacional, utilizada na tomada de decisões voltadas para a otimização do gerenciamento dos recursos hídricos. A principal vantagem da aplicação de modelos reside na possibilidade do estudo de vários cenários diferentes e de forma rápida, muitos deles ainda não explorados. Além disso, os modelos permitem avaliar o comportamento do rio após a emissão de poluentes, a capacidade de autodepuração, e mensurar a carga poluente que ele pode suportar, viabilizando intervenções futuras mais eficazes na manutenção da qualidade da água (AISSE et al., 2006). Assim, a partir dos resultados obtidos nas simulações de autodepuração do corpo hídrico, pode-se inferir, por exemplo, sobre os processos de outorga e cobrança quando da instalação de um novo usuário-poluidor, tendo em vista a classe de uso no qual foi enquadrado. Por fim, elabora-se um plano constituído por um conjunto de medidas e intervenções a serem implementadas que visam atingir a qualidade requerida para o corpo d’água, contendo inclusive as metas intermediárias para se atingir os padrões de qualidade da água. A metodologia aqui desenvolvida foi aplicada à bacia hidrográfica do rio Sergipe, sendo que para a aplicação do processo TMDL selecionou-se a sub-bacia do rio 11 Cotinguiba, afluente do rio Sergipe. A partir da aplicação do processo TMDL a sub- bacia do rio Cotinguiba, conclui-se que esta é uma ferramenta útil para os processos de enquadramento, outorga e cobrança, pois, ao utilizar o modelo de qualidade da água para simular diversos cenários para o seu desenvolvimento, possibilita a previsão de uma situação futura, podendo lançar mão de medidas de controle eficazes de poluição ou corrigir eventuais erros. Finalmente, no Capítulo VII, são registradas as limitações e dificuldades encontradas na elaboração da metodologia proposta. São apresentadas também as conclusões desta tese, ressaltando os principais benefícios e resultados para o gerenciamento dos recursos hídricos principalmente para as bacias de pequeno e médio porte. As recomendações para estudos futuros encerram esta tese. 12 CAPÍTULO II – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 13 2.1 – A Política Nacional de Recursos Hídricos O marco legal da gestão dos recursos hídricos no Brasil é o Código de Águas, estabelecido pelo Decreto Federal n° 24.643, de 10 de julho de 1934, ainda em vigor. Tal ordenamento jurídico fo i incapaz de incorporar meios para combater o desequilíbrio hídrico e os conflitos de uso, ou promover os meios adequados para uma gestão descentralizada e participativa como é exigido nos dias de hoje. A abordagem até então era baseada em princípios de comando-controle, ou seja, era essencialmente baseada na imposição, pelo Estado, de normas e regras aos usuários poluidores. Com isso, determina-se à coletividade e aos empreendedores modos de comportamento expressos em normas de emissão de poluentes, de processos técnicos de produção ou de processos de autorização para implementação de empreendimentos e para o exercício de certas atividades específicas que pressionam os recursos (CHRISTOFIDIS, 2001 in NEVES, op. cit.). As principais desvantagens da política de “comando e controle” citadas por (PEREIRA e TAVARES, 1999) são as descritas abaixo. § Economicamente são ineficientes porque não consideram as diferentes estruturas de custos dos agentes privados para redução de poluição; § Tem custos administrativos muito elevados, pois envolvem o estabelecimento de normas e/ou especificações por agências oficiais, bem como um forte esquema de fiscalização; § Criam barreiras à entrada de novas empresas; a concessão de licenças não comercializáveis tende a perpetuar a estrutura de mercado existente; § Após atingir o padrão ou a concessão da licença, o poluidor não é encorajado a introduzir novos aprimoramentos tecnológicos (anti- poluição); Diante do exposto, foi promulgada no dia 08 de janeiro de 1997 a Lei nº 9.433 que dispõe sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos pautada nos seguintes fundamentos básicos, conforme art. 1º da referida lei (ver Anexo 2.1): I - A água é um bem de domínio público; II - A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; 14 III - Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais; IV - A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas; V - A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e VI - A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. Do ponto de vista dos instrumentos, a Lei nº 9.433/97 introduziu instrumentos econômicos, rompendo assim com a tradicional abordagem baseada essencialmente em instrumentos de comando e controle (MAGRINI, 2001). Para sua implementação, a referida lei estabeleceu os seguintes instrumentos: § Planos de Recursos Hídricos; § Enquadramento dos corpos d’água em classes de usos; § Outorga de direito de uso dos recursos hídricos; § Cobrança pelo uso dos recursos hídricos e § Sistema Nacional de Informação sobre recursos hídricos. A nova lei estabeleceu ainda um novo arranjo institucional que, segundo MAGRINI op. cit., pressupõe formas compartilhadas de gestão da água. As atribuições dos novos organismos criados são: Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SINGREH: Estabelece diretrizes para as entidades responsáveis pela gestão dos recursos hídricos no Brasil. Ao SINGREH cabe (Lei nº 9.433/97, art. 32): § Coordenar a gestão integrada das águas; § Arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos; § Implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos; 15 § Planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursoshídricos e § Promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos. Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH: Órgão mais elevado da hierarquia do Sistema Nacional de Recursos Hídricos, em termos administrativos. De acordo com o art. 35 da Lei n° 9.433/97 são atribuições do CNRH: § Promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos nacional, regional, estadual e dos setores usuários; § Arbitrar, em última instância administrativa, os conflitos existentes entre Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos; § Deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos cujas repercussões extrapolem o âmbito dos estados em que serão implantados; § Deliberar sobre as questões que lhe tenham sido encaminhadas pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos ou pelos Comitês de Bacia Hidrográfica; § Analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos e à Política Nacional de Recursos Hídricos; § Estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; § Acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas; § Estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos e para a cobrança por seu uso e § Aprovar propostas de instituição dos Comitês de Bacia Hidrográfica e estabelecer critérios gerais para a elaboração de seus regimentos. Além dessas atividades, o Decreto nº 4.613 de 11 de março de 2003, que regulamenta o CNRH, atribui a ele também outras competências. 16 Secretaria Nacional de Recursos Hídricos : Forma de organização pré-existente à Lei nº 9.433/97 que adquire funções de Secretaria Executiva do CNRH. À Secretaria Nacional de Recursos Hídricos cabe (Lei nº 9.433/97, art. 46): § Prestar apoio administrativo, técnico e financeiro ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos; § Coordenar a elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos e encaminhá- lo à aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos; § Instruir os expedientes provenientes dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos e dos Comitês de Bacia Hidrográfica; § Coordenar o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos e § Elaborar seu programa de trabalho e respectiva proposta orçamentária anual e submetê- los à aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Comitês de Bacias Hidrográficas: São órgãos colegiados com atribuições normativas, deliberativas e consultivas a serem exercidas na bacia hidrográfica de sua jurisdição, que pode ser a totalidade de uma bacia hidrográfica, sub-bacia de tributário do curso principal, afluente desse tributário ou ainda bacias hidrográficas contíguas. A Lei n° 9.433/97, em seu artigo 38, define como competência dos comitês de bacia hidrográfica: § Promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação das entidades intervenientes; § Arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos recursos hídricos; § Aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia; § Acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia e sugerir as providências necessárias ao cumprimento de suas metas; § Propor ao CNRH e aos CERH as acumulações, derivações, captações e lançamentos de pouca expressão, para efeito de isenção da obrigatoriedade de outorga de direitos de uso de recursos hídricos, de acordo com seus domínios; § Estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os valores a serem cobrados; 17 § Estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo. De acordo com a Lei nº 9.433/97, art 39, os Comitês de Bacia Hidrográfica serão compostos por representantes: § Da União; § Dos estados e do Distrito Federal cujos territórios se situem, ainda que parcialmente, em suas respectivas áreas de atuação; § Dos municípios situados, no todo ou em parte, em sua área de atuação; § Dos usuários das águas de sua área de atuação; § Das entidades civis de recursos hídricos com atuação comprovada na bacia. O número de votos dos representantes da União, estados e Distrito Federal estarão limitados a 40% do total, valor semelhante ao do setor dos usuários, embora este último seja fixo. Já as entidades civis responderão por pelo menos 20% dos votos. Esta divisão oferece uma maior representação aos atores diretamente envolvidos nas questões dos recursos hídricos locais, contribuindo para a gestão descentralizada e participativa. Agência Nacional de Água - ANA: Criada pela Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000 como uma autarquia sob regime especial, sua finalidade principal é controlar, supervisionar e avaliar as atividades decorrentes do cumprimento da Lei nº 9.433/97 e disciplinar, em caráter normativo, a operacionalização e a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos - PNRH. À ANA compete: § Supervisionar, controlar e avaliar as ações e atividades decorrentes do cumprimento da legislação federal pertinente aos recursos hídricos; § Disciplinar, em caráter normativo, a implementação, operacionalização, controle e avaliação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos; § Estimular e apoiar as iniciativas voltadas para a criação de Comitês de Bacia Hidrográfica; 18 § Planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos de secas e inundações, no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, em articulação com o órgão central do Sistema Nacional de Defesa Civil, em apoio aos estados e municípios; § Definir e fiscalizar as condições de operação de reservatórios por agentes públicos e privados, visando garantir o uso múltiplo dos recursos hídricos, conforme estabelecido nos planos de recursos hídricos das respectivas bacias hidrográficas; § Organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos; § Propor ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos o estabelecimento de incentivos, inclusive financeiros, à conservação qualitativa e quantitativa de recursos hídricos; § Prestar apoio aos Estados na criação de órgãos gestores de recursos hídricos; § Promover a coordenação das atividades desenvolvidas no âmbito da rede hidrometeorológica nacional, em articulação com órgãos e entidades públicas ou privadas que a integram, ou que dela sejam usuárias; § Estimular a pesquisa e a capacitação de recursos humanos para a gestão de recursos hídricos e § Promover a elaboração de estudos para subsidiar a aplicação de recursos financeiros da União em obras e serviços de regularização de cursos de água, de alocação e distribuição de água, e de controle da poluição hídrica, em consonância com o estabelecido nos planos de recursos hídricos; Agências de Águas : Têm a função de secretaria executiva do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica. Compete a elas, portanto, a execução das tarefas que irão concretizar a gestão da água no Brasil. Às Agências de Águas cabe (Lei nº 9.433/97, art. 44): § Manter balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos em sua área de atuação; § Manter o cadastro de usuários de recursos hídricos; 19 § Efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de recursos hídricos; § Analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem financiados com recursos gerados pela cobrança de uso de recursos hídricos e encaminhá- los à instituição financeira responsável pela administração desses recursos; § Acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos em sua área de atuação; § Geriro Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos em sua área de atuação; § Celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços para a execução de suas competências; § Elaborar a sua proposta orçamentária e submetê- la à apreciação do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica; § Promover os estudos necessários para a gestão dos recursos hídricos em sua área de atuação; § Elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica; § Propor ao respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica: v O enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para encaminhamento ao respectivo Conselho Nacional ou Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo com o domínio destes; v Os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos; v O plano de aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos; v O rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo. Organizações Civis de Recursos Hídricos: Entidades atuantes no setor de planejamento e gestão dos recursos hídricos que tem assento nos Comitês de Bacias Hidrográficas. A Lei nº 9.433/97 em seu art. 47 considera como organizações civis de recursos hídricos passíveis de integrar o Sistema Nacional de Recursos Hídricos, desde que legalmente constituídoos (Lei nº 9.433/97, art. 48): 20 § Consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas; § Associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos hídricos; § Organizações técnicas e de ensino e pesquisa com interesse na área de recursos hídricos; § Organizações não governamentais com objetivos de defesa de interesses difusos e coletivos da sociedade e § Outras organizações reconhecidas pelo Conselho Nacional ou pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos. 2.1.1 – Plano de Recursos Hídricos De acordo com a Lei nº 9.433/97, os planos de recursos hídricos são planos diretores que visam fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos. Cabe ao Comitê de Bacia Hidrográfica, em sua área de atuação, aprovar o Plano de Recursos Hídricos e acompanhar sua execução, assim como sugerir providências necessárias ao cumprimento de suas metas. A referida lei estabelece ainda que os Planos de Recursos Hídricos são planos de longo prazo, com horizonte de planejamento compatível com o período de implantação de seus programas e projetos, tendo o seguinte conteúdo mínimo: § Diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos; § Análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo; § Balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais; § Metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis; § Medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados para o atendimento das metas previstas; § Prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos; § Diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos; 21 § Propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos. 2.1.2 – Enquadramento dos corpos d’água em classes de usos O enquadramento dos corpos d’água em classes, segundo os usos preponderantes da água, possibilita a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de qualidade e quantidade, já que a concentração de poluente está relacionada à vazão do corpo hídrico (RODRIGUES, 2005). Desta forma, o gerenciamento dos recursos hídricos tendo em vista o binômio quantidade e qualidade está condicionado à outorga de uso da água para captação e lançamento de efluentes. Diante do exposto, a outorga de captação ou lançamento deve ser concedida visando assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas, levando-se em consideração a qualidade almejada. Ressalta-se que o enquadramento não representa especificamente um processo de classificação do estado atual da qualidade do corpo d’água, mas uma meta a ser alcançada a médio e longo prazo. Portanto, deve ser visto como instrumento de planejamento com flexibilidade de adotar metas intermediárias, objetivando alcançar efetivamente a meta final de qualidade para o corpo hídrico. A legislação que dispõe sobre a classificação dos corpos d’água em classes de usos e dá as diretrizes gerais para o enquadramento é a Resolução CONAMA nº 357 de 17 de março de 2005 (Anexo 2.2). A utilização de esquemas de classificação dos corpos d’água permite uma melhor explicação da relação entre os usos da água e objetivos de qualidade pretendidos. É muito comum que os objetivos de qualidade da água sejam expressos ou agrupados em classes de uso. Desta maneira, permitem que sejam definidas estratégias comuns para usos como objetivos e qualidade semelhantes. A classificação dos corpos hídricos é a combinação dos instrumentos objetivos de qualidade e padrões ambientais, ou critérios de qualidade da água (RODRIGUES, op. cit.). Um esclarecimento relevante sobre essa norma está contido no seu art 80, que diz respeito ao conjunto de parâmetros de qualidade de água a serem selecionados para subsidiar a proposta de enquadramento. Estes deverão ser monitorados periodicamente, sendo selecionados os mais representativos dos impactos ocorrentes tendo em vista as atividades que ocorrem na bacia hidrográfica. Portanto, deve-se lembrar que não se 22 pode planejar uma ação com muitas metas a serem atendidas: é preciso trabalhar com poucos parâmetros. Com relação aos valores máximos estabelecidos para os parâmetros relacionados em cada uma das classes de enquadramento, eles deverão ser obedecidos nas condições de vazão de referência (Resolução CONAMA nº 357/05). Vazões de referência e metas progressivas intermediárias são dois ganhos importantes trazidos pela Resolução CONAMA nº 357/05, que associadas trazem um enorme benefício ao setor de recursos hídricos. Vazões de referência que aceitam riscos maiores permitem que sejam utilizadas técnicas mais econômicas de tratamento de esgotos, e conseqüentemente requerem maiores vazões para o processo de autodepuração dos rios, uma vez que estas técnicas têm menor eficiência de remoção. Ao se relacionar com o estabelecimento de metas intermediárias de qualidade da água, obtendo um maior controle de poluição na bacia, o risco aceitável diminui, e as vazões de referência exigidas tornam-se mais baixas (PORTO, 2002 in NEVES op. cit.), restringindo a carga que aporta no corpo receptor até que se chegue à meta final do enquadramento. As diretrizes ambientais para o enquadramento estão listadas no Capítulo V da Resolução CONAMA nº 357/05, que estabelece: Art. 38º. O enquadramento dos corpos de água dar-se-á de acordo com as normas e procedimentos definidos pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH e Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos. § 1º O enquadramento do corpo hídrico será definido pelos usos preponderantes mais restritivos da água, atuais ou pretendidos. § 2º Nas bacias hidrográficas em que a condição de qualidade dos corpos de água esteja em desacordo com os usos preponderantes pretendidos, deverão ser estabelecidas metas obrigatórias, intermediárias e final, de melhoria da qualidade da água para efetivação dos respectivos enquadramentos, excetuados nos parâmetros que excedam aos limites devido às condições naturais. § 3º As ações de gestão referentes ao uso dos recursos hídricos, tais como a outorga e cobrança pelo uso da água, ou referentes à gestão 23 ambiental, comoo licenciamento, termos de ajustamento de conduta e o controle da poluição, deverão basear-se nas metas progressivas intermediárias e final aprovadas pelo órgão competente para a respectiva bacia hidrográfica ou corpo hídrico específico. § 4º As metas progressivas obrigatórias, intermediárias e final, deverão ser atingidas em regime de vazão de referênc ia, excetuados os casos de baías de águas salinas ou salobras, ou outros corpos hídricos onde não seja aplicável a vazão de referência, para os quais deverão ser elaborados estudos específicos sobre a dispersão e assimilação de poluentes no meio hídrico. § 5º Em corpos de água intermitentes ou com regime de vazão que apresente diferença sazonal significativa, as metas progressivas obrigatórias poderão variar ao longo do ano. § 60 Em corpos de água utilizados por populações para seu abastecimento, o enquadramento e o licenciamento ambiental de atividades a montante preservarão, obrigatoriamente, as condições de consumo. De modo a auxiliar na elaboração do plano de enquadramento de recursos hídricos, foi editada a Resolução CNRH n° 12, de julho de 2000 que dispõe sobre o estabelecimento de procedimentos para a realização do enquadramento de corpos de água em classes segundo os usos preponderantes, de forma a subsidiar a implementação deste instrumento de gestão. 2.1.3 – Outorga pelo uso da água De acordo com a Lei nº 9.433/97 a outorga é um instrumento que assegura o controle qualitativo e quantitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água. Para tanto, deve-se levar em consideração os quesitos de qualidade que os corpos d’água devem possuir e que são estabelecidos por meio do enquadramento, bem como a vazão do corpo d’água. Dentro desse contexto, o enquadramento dos corpos d’água em classes limita e direciona o processo de outorga, uma vez que as autorizações para o uso da água, seja para lançamentos, seja para captação, devem atingir/manter a qualidade requerida pelo corpo hídrico (Lei nº 9.433/97, art. 13). 24 A introdução do conceito de metas progressivas obrigatórias representa um grande avanço no gerenciamento dos recursos hídricos, pois a outorga poderá ser concedida visando atender as condições intermediárias de qualidade, e não mais somente as finais. Segundo NEVES op. cit., isso permite que os atuais e futuros usuários-poluidores se adaptem às novas exigências de qualidade. Assim, progressivamente, vão se fazendo os investimentos necessários ao cumprimento das metas de qualidade da água, até se chegar à qualidade desejada. HORA e HORA (2001), afirmam que o principal fator complicador do processo de emissão de outorga tem origem no fato de que o conceito de vazão outorgável admite diferentes formulações, uma vez que a vazão fluvial é uma variável aleatória, e não uma constante, ou seja, cada corpo hídrico possui suas particularidades em termos de sazonalidades de dados hidrológicos. É importante salientar que para o processo de outorga é necessário também considerar a Resolução CONAMA nº 16 de 14 de maio de 2001, que ressalta a necessidade de atuação integrada dos órgãos componentes do SNGRH. Merece destaque o artigo 12º, inciso 1, que estabelece: “As vazões e os volumes outorgados poderão ficar indisponíveis, total ou parcialmente, para outros usos no corpo de água, considerando o balanço hídrico e a capacidade de autodepuração para o caso de diluição de efluentes”. 2.1.4 – Cobrança pelo uso dos recursos hídricos O princípio de cobrança que a Lei nº 9.433/97 introduz para o uso das águas já estava contido genericamente na Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 em seu art. 4, ao dizer que a Política Nacional de Meio Ambiente visará impor ao usuário uma contribuição pela utilização de recursos com fins econômicos. Portanto, o fundamento básico da Lei nº 9.433/97, que estabelece que a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico, só ratifica a Lei nº 6.938/81. A arrecadação com a cobrança contribui para financiar programas de recuperação e o próprio sistema de gestão, além de indiretamente incentivar a racionalização do uso. HORA e HORA op. cit., chamam a atenção para o valor total a ser cobrado para um determinado usuário, pois este deverá ser a soma de cada um dos usos: captação, consumo e lançamento. Sendo assim, o comitê gestor da bacia deverá propor limites aos 25 valores, de forma a evitar que a cobrança venha a inviabilizar setores produtivos da economia. Portanto, para facilitar a implementação da cobrança, deve-se estabelecer um período de transição, iniciando em níveis modestos. Ressalta-se que o sistema de cobrança age como um incentivo ao poluidor: quanto menos ele lança, menos paga. Ajuda também a equalizar, com maior eficiência econômica, os níveis de tratamento adotados. Para aqueles poluidores cujo tratamento é barato e simples, vale a pena oferecer altos índices de redução, e para aqueles em que o tratamento é mais oneroso, as taxas de redução tenderão a ser menores, mas sua contribuição para a arrecadação é maior; assim se combinam racionalidade, eficiência e uma melhor alocação de custos (PORTO, 2002). Ainda segundo PORTO op. cit., na grande parte dos casos, o poluidor terá de tratar seus efluentes e ainda pagar pelo remanescente lançado; ora, fica mais barato para ele se submeter ao mecanismo puro de comando-controle onde ele só tem despesas com o tratamento; isto tem feito a indústria, em todo mundo, tentar bloquear a implantação do sistema de cobrança. Diante do exposto, é interessante que o valor cobrado seja fruto de negociação entre todas as partes interessadas: administradores públicos, usuários e a sociedade, visando assim facilitar a implementação do referido instrumento. 2.1.5 – Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos A Lei nº 9.433/97 estabelece em seu artigo 25 que o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos é um sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão. O levantamento de dados precisos e idôneos sobre os corpos hídricos em nível nacional ou regional é de importância ímpar para o sucesso da aplicação efetiva da Política Nacional de Recursos Hídricos, pois as medidas de preservação e conservação da qualidade e quantidade da água a serem adotadas devem ser fundamentadas em informações consistentes e confiáveis. SOUSA JUNIOR (2004) in NEVES op. cit., propõe a hierarquização dos instrumentos de gestão começando pelo sistema de informação, dada sua relevância como subsídio para a implementação dos demais instrumentos, observando-se o seguinte ordenamento lógico-temporal: enquadramento, plano de bacia, outorga e cobrança pelo uso da água. 26 Dentro desse contexto, urge a necessidade de implementação de uma rede de monitorização em nível nacional com abrangência municipal para que se possam tomar decisões pautadas em informações confiáveis e acima de tudo de qualidade. 2.2 – Metodologias de estimativa de carga poluidora 2.2.1 – Estimativa da carga poluidora populacional No Brasil, quando se trata de determinação de dados hidráulicos, relaciona-se diretamente com o consumo de água de abastecimento e quando se trata da carga orgânica toma-se como valor padrão 54g/hab*dia-1, desde que não haja pesquisas locais que indiquem outro valor, (FERNANDES, 2000). Na Tabela 2.1 abaixo é mostrada uma série de contribuições tradicionalmente adotadas em diferentes países do nosso globo. Tabela 2.1 - Contribuição orgânica média per capita País Carga Orgânica ( g / hab.dia) Alemanha 54 E.U.A 80 Holanda 54 Índia 45 Inglaterra 60 Quênia 23 Zâmbia 36 Fonte: FERNANDES op. cit. 2.2.2 – O sistema Industrial Pollution Projection System - IPPS Diante da pouca ou nenhuma informação acerca de dados ambientaisindustriais, o departamento de infra-estrutura e meio ambiente do grupo de pesquisa do Environmental Infrastructure Agriculture Division – Policy Research Department – PRDEI, do Banco Mundial, desenvolveu o Industrial Pollution Projection System – IPPS. De acordo com HETTIGE et al. (1995), o sistema IPPS opera através de estimativa da intensidade de poluição usualmente definida como poluição por unidade de saída, valor agregado ou poluição por número de empregados. 27 O IPPS é formado pela combinação dos coeficientes dos bancos de dados do Censo Industrial dos Estados Unidos – U.S. Manufacturing Census (C.M) e U.S. Environmental Protection Agency (EPA). Tais intensidades são apresentadas por tipologia industrial, sendo identificadas pelo código de classificação industrial internacional International Standard Industrial Classification of All Economic Activities - ISIC (Rev. 2). O Censo Industrial dos Estados Unidos (C.M), mantém um banco de dados conhecido como Longitudinal Research Database (LRD) que por sua vez contém informações do censo e da Annual Survey of Manufacturing (ASM). O C.M contém informações de todos os estabelecimentos dos EUA, enquanto o ASM contém informações mais detalhadas de um subconjunto desses estabelecimentos industrias. O LRD possui informações detalhadas de aproximadamente de 200.000 indústrias. A agência ambiental americana, EPA, mantém uma base de dados de emissões de poluição considerada o maior do mundo. Para o desenvolvimento do IPPS foram utilizados: Toxics Release Inventory (TRI), Aerometric Information Retrieval System (AIRS), National Pollutant Discharge Elimination System (NPDES) e Human Health and Ecotoxicity Database (HHED). Da interação do banco de dados LRD com os vários bancos de dados da EPA, pode-se calcular a intensidade de poluição, conforme mostra a Figura 2.1. O Toxic Release Inventory (TRI) é um inventário de informações sobre a emissão anual de produtos químicos tóxicos, regidos pela lei americana “Emergence Planning and Comunity Right-to-Know-Act” (EPCRA), de 1986, que determina o fornecimento, pelas indústrias, de relatórios anuais sobre as substâncias emitidas para o ar, água ou solo. Quando o IPPS foi criado, o TRI cobria todas as instalações industriais que obedeciam aos seguintes critérios: (i) produção, importação ou processamento, de 25.000 libras ou mais, dos produtos químicos inventariados pelo TRI; (ii) envolvimento em algum tipo de atividade manufatureira; e (iii) emprego para 10 ou mais pessoas, em regime de tempo integral. O Aerometric Information Retrieval System (AIRS) é o sistema americano de gerenciamento de dados da qualidade do ar. É dividido em três subsistemas: o banco de códigos Geographic/Common Subsystem; o subsistema contendo dados de qualidade do ar ambiente, Air Quality Subsystem - AQS; e o subsistema Air Facility Subsystem - AFS. Este último contém as emissões e os dados de conformidade exigidos pelo Clean Air Act, que são fornecidos pelas instalações monitoradas pela EPA e pelas agências 28 estaduais. O AFS inclui substâncias e parâmetros adicionais em relação ao TRI, sendo os mais importantes os poluentes do ar: dióxido de enxofre (SO2), dióxido de nitrogênio (NO2), monóxido de carbono (CO), material particulado (PT), particulados finos (PM10), e compostos orgânicos voláteis (VOC). O National Pollutant Discharge Elimination System (NPDES) contém informações de automonitoramento das instalações que têm licença do NPDES para descarga de despejos na água. Tanto a licença quanto o monitoramento são regidos pelo Clean Water Act - CWA. Neste banco de dados, são informados cerca de 2.000 parâmetros, sendo que alguns deles se sobrepõem a substâncias já informadas no TRI. Alguns dos parâmetros adicionais, em relação ao TRI, são a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), os Sólidos Totais em Suspensão (STS), o pH e a Temperatura. HETTIGE et al. op. cit., afirmam que a maior dificuldade no cálculo da carga poluidora industrial americana foi a escolha da variável que refletisse a extensão ou o tamanho da atividade industrial. O volume de saída é uma ótima unidade; entretanto, as empresas adotam diferentes unidades para expressarem sua produção. Figura 2.1: Esquema explicativo da construção da metodologia de estimativa IPPS Fonte: HETTIGE et al. op. cit. Como a poluição industrial é afetada pela escala da atividade industrial, por sua composição setorial e pelos processos tecnológicos empregados na indústria, o IPPS foi construído transformando estas informações em um perfil de produção de poluentes que pode ser associado aos países, regiões e áreas urbanas. Banco de Dados do IPPS Tóxico Ar Água Dados Econômicos Censo Industrial U.S 200.000 indústrias Emissões EPA U.S 20.000 indústrias 29 De acordo com HETTIGE et al. in MORENO (2005), os coeficientes de intensidade de poluição do IPPS, construídos com dados de emissão da EPA (TRI) e dados industriais do LRD, associam a emissão de poluente com uma medida da atividade industrial. Sendo assim, tais estimativas podem, conceitualmente, ser expressas pela equação abaixo descrita: TAI EP CIP = Equação 2.1 Onde: CIP – Coeficiente de intensidade de poluição EP – Emissão de poluente TAI – Total da atividade industrial A equação 2.1 mostra, portanto, a relação entre a produção de poluentes obtida no inventário de emissão tóxica TRI para os meios ar, água e solo, e o total da atividade industrial ou a medida de produção industrial, fornecidos pelo banco de dados LRD, referente ao valor de produção, valor adicionado ou número de empregados. A metodologia IPPS possui os coeficientes de intensidade de emissão lower bound (LB), upper bound (UP), e interquartile (IQ). Os coeficientes lower bound (LB) são fruto da reunião de todas as indústrias, incluindo as que não fornecem relatórios para a EPA, por estarem abaixo do limite de emissão estipulado. Para essas indústrias, assumiu-se que as instalações têm emissão zero. As estimativas IPPS que utilizam os coeficientes LB geram resultados subestimados da emissão de poluentes, já que, nestes casos, tendo em vista a Equação 2.1, o total de emissão de poluentes é menor que o total produzido na atividade industrial. Os coeficientes upper bound (UP) foram construídos reunindo apenas as instalações que fornecem relatório de emissão para a EPA, isto é, as indústrias mais poluidoras da base de dados americana. A utilização desses coeficientes gera resultados superestimados da emissão de poluentes, já que, nestes casos, tendo em vista a Equação 2.1, o total de emissão de poluentes é maior do que o total produzido na atividade industrial. 30 O interquartile (IQ) considerou as indústrias cuja emissão estava na faixa do segundo e terceiro quartil, abandonando as demais emissões. Este critério gerou coeficientes de emissão com dados insuficientes para alguns setores industriais. As intensidades de poluição do sistema IPPS contêm um conjunto de parâmetros de poluição para ar, água e solo, que podem ser consultadas em HETTIGE et al. op. cit.: § Ar: Dióxido de enxofre (SO2), Dióxido de nitrogênio (NO2), Monóxido de carbono CO, Compostos Orgânicos Voláteis, Partículas finas (PM-10), Particulados Totais (PT); § Água: Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), Sólidos Totais em Suspensão (STS); § Tóxicos: mais de 300 poluentes listados no TRI que podem ser consultados em HETTIGE et al. (1995). § Metais: Mercúrio (Mg), Chumbo (Pb), Arsênio (As), Cromo (Cr), níquel (Ni), Cobre (Cu), Zinco (Zn) e Cádmio (Cd). 2.2.3 – Metodologia CASTAGNINO Em diversos levantamentos de cargas poluidoras ou estimativas, adotam-se padrões já conhecidos que são função do tipo de fonte. Assim, a estimativa da carga poluidora de uma determinada tipologia industrial pode ser feita a partir de fatores já determinadose disponíveis na literatura. Os dados contidos na Tabela 2.2 foram organizados por CASTAGNINO (1980), a partir de um trabalho de pesquisa intitulado Criteria and Methodology for Estimating Municipal and Industrial S/W Rations and Waste Water Quality Rations, de 1971, desenvolvido nos Estados Unidos. Esses dados foram utilizados por CASTAGNINO op. cit., para fazer uma análise comparativa entre diversas metodologias de caracterização de carga poluidora decorrente de águas residuárias industriais para a aplicação em seu trabalho Polución de Água Modelos y Control. Deste modo, o principal requisito para a utilização dos padrões utilizados por CASTAGNINO (1980), objetivando estimar a carga poluidora de uma determinada indústria é o volume de atividade, ou seja, a produção anual industrial. 31 Tabela 2.2 - Valores de alguns parâmetros de águas residuárias nos Estados Unidos Tipo de Indústria Unidade Volume de Esgoto (l/unidade) DBO5 (kg/unidade) SST (kg/unidade) Frigoríficos 500Kg (peso vivo) 5.500 6,2 6,0 Leiterias 500Kg (leite cru) 1.000 2,5 - Cervejaria Barril 1.400 0,8 0,5 Açúcar de cana Ton 14.000 2,4 - Enlatadoras (Geral): Feijão Tomate Milho Pêssego Caixa n.2 Caixa n.2 Caixa n.2 Caixa n.2 Caixa n.2 120 200 50 180 280 0,15 0,08 0,10 0,32 0,19 0,06 0,05 0,06 0,09 0,15 Matadouro de Aves 1.000 aves 25.000 11,9 7,2 Papel e polpa: Tecnologia velha Tecnologia típica Tecnologia avançada Ton. 320.000 150.000 95.000 90 60 35 360 250 120 Refinaria de Petróleo Tecnologia velha Tecnologia típica Tecnologia avançada Barril (cru) 950 380 190 0,18 0,05 0,25 - - - Têxtil 500Kg 1.700 0,5 0,2 Fibra sintética 500Kg 54.000 28 0,2 Aço: Tecnologia velha Tecnologia típica Tecnologia avançada Kg lingote 37 38 52 - - - 45 55 83 Polpa de papel Kraft Sulfito Braqueado Ton polpa 140.000 200.000 100.000 40 220 16 34 25 13 Papel (todos) Ton papel 110.000 17 27 Fonte: CASTAGNINO, 1980 in MOTA, 1995. 32 2.2.4 – Metodologia IMHOFF Um importante parâmetro caracterizador dos despejos industriais é o equivalente populacional. Ele traduz a equivalência entre o potencial poluidor de uma indústria (comumente em termos de matéria orgânica) e uma determinada população que produz essa mesma carga poluidora. Assim, quando se diz que uma indústria tem um equivalente populacional de 20.000 habitantes equivale dizer que a carga de DBO5,20 do efluente industrial corresponde à carga gerada por uma localidade com uma população de 20.000 habitantes. A fórmula para o cálculo do equivalente populacional de DBO5,20 é: DBOdecapitaperãoContribuiç indústriadaDBOdeaC PE arg .. = Equação 2.2 Onde: Carga de DBO da indústria (kg/dia) Contribuição per capita de DBO (kg/hab*dia-1) Para que a determinação do número equivalente de contribuintes seja confiável, deve-se conhecer a fonte desta vazão bem como o seu nível de produção. A partir da análise de vários bancos de dados dos Estados Unidos, a respeito de águas residuárias para algumas tipologias industriais, IMHOFF construiu um conjunto de padrões relacionados a equivalentes populacionais dando- lhes os limite inferior e superior, objetivando o cálculo da carga poluidora para o respectivo equivalente populacional. Os fatores de emissão utilizados para estimar a carga poluente potencial de DBO podem ser vistos na Tabela 2.3 a seguir. 33 Tabela 2.3 - Equivalentes populacionais para algumas atividades industriais dos Estados Unidos Tipo de Indústria Quantidade Diária Equivalentes Populacionais (EP)*1 Equivalentes Populacionais (EP)*2 Laticínio sem que ijaria mil L leite 25 - 70 30 - 80 Laticínio com queijaria mil L leite 1 rez = 45 - 230 100 - 250 Matadouro 2,5 porcos 1 t de peso em pé 20 - 200 130 - 400 70 – 200 150- 450 Curral 1 vaca 5 - 10 - Chiqueiro 1 porco 3 - Granja de galinhas 1 ave 0,12 - 0,25 0,13 – 0,25 Silo para rações 1 t ração diária total 4 – 11 200 - 650 4 - 12 Autoclave de batatas 1 t de batatas 25 - 50 - Piscicultura 100 kg de trutas 80 - Usina de açúcar 1 t beterraba 45 - 70 0,3 - 250 Maltaria 1 t de cereais 10 - 100 - Cervejaria 1000 L cerveja 150 - 350 300 – 2.000 Destilaria 1000 L cereais 2.000 – 3.500 1.500 – 2.000 Fábrica de fermento biológico 1 t de fermento 5.000 – 7.000 - Amidonaria 1 t milho ou trigo 500 - 900 800 -1.000 Indústria vinícola 1000 L vinho 1 ha de vinhedo 100 – 140 35 - 60 - Curtume 1t pele 1.000 – 3.500 1.000 – 4.000 Lanifício 1 t lã 2.000 – 4.500 2.000 – 5.000 Alvejamento de tecidos 1 t tecidos 1.000 – 3.500 250 - 350 Tinturaria com corantes sulfurados 1t tecidos 2.000 - 3.000 2.000 – 3.500 Indústria do linho 1 t de linho bruto 700 – 1.000 - Celulose ao sulfito 1 t celulose 3.500 – 5.500 4.000 – 6.000 Pasta mecânica para papel 1 t madeira 45 - 70 50 - 80 Fábrica de papel 1 t papel 200 - 900 100 - 300 Lã sintética 1 t de lã sintética 300 - 450 300 - 500 Lavanderias 1 t roupa 350 - 900 370 – 1.000 Vazamento de óleo mineral 1 t de óleo 11.000 - Aterro sanitário de lixo 1 ha de área 45 - Fonte: IMHOFF & IMHOFF, 1966. *1 Equivalentes populacionais de águas residuárias das indústrias, referidos a uma DBO5,20 de 60 g/hab*dia -1. *2 Equivalentes populacionais de águas residuárias das indústrias, referidos a uma DBO5,20 de 54 g/hab*dia -1, (MOTA, 1995) OBSERVAÇÃO: A utilização dos EP’s em projetos só tem sentido no caso de efluentes de natureza orgânica, cujo parâmetro de comparação é a DBO. 34 2.3 – Avaliação da carga máxima total diária (Total Maximum Daily Load – TMDL) O Clean Water Act – CWA é a base para a proteção da qualidade das águas dos Estados Unidos. Esta lei emprega uma variedade de ferramentas reguladoras e não reguladoras para reduzir severamente a poluição dos corpos hídricos. Nela estão contidos os requerimentos necessários para a implantação do processo de avaliação da carga poluidora, desenvolvido sob o nome de Programa TMDL. Ressalta-se que CWA é responsável pela regulamentação do programa de permissão de emissão de poluentes, o National Pollutant Discharge Elimination System – NPDES. Estas permissões devem incluir limites baseados tanto em padrões de qualidade da água quanto em tecnologias, o que for mais restritivo. O TMDL, desenvolvido pela “Enviromental Protection Agency – EPA”, a agência de proteção ambiental americana, tem por finalidade estimar a capacidade máxima diária de assimilação de um dado poluente por um corpo d’água, sem que haja comprometimento dos padrões de qualidade da água estabelecidos em conformidade com os usos designados. Considera-se, neste caso, não somente as cargas oriundas de fontes pontuais, como também aquelas provenientes de fontes difusas de poluição. Para tanto, as cargas consideradas são oriundas de fontes pontuais e difusas de poluição conforme explicita a Equação 2.3 abaixo (JARRELL,1999): ∑ ∑ ++= )(MSACDACPTMDL Equação 2.3 Onde: TMDL – Carga máxima total diária. ACP – Alocação de carga pontual. ACD – Alocação de carga difusa. MS – Margem de segurança. A alocação da carga permite relacionar o nível de redução necessário a se aplicar em cada fonte individualmente, grupo ou subgrupos de fontes poluidoras. O TDML contempla também a margem de segurança que consiste em assegurar que eventuais “erros”, insuficiência de dados ou mesmo má qualidade de dados possam tornar duvidoso o estabelecimento do TMDL. Portanto, a margem de segurança pode 35 ser entendida como um fator de segurança tendo em vista as incertezas que giram em torno dos dados. Além disso, esse parâmetro reforça o principal objetivo do TMDL que é o de assegurar aos corpos d’água qualidade compatível com os usos
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