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leman_cereja@yahoo.com.br Nas Entrelinhas da Bíblia Apresentação Pode-se definir o mundo hoje como um turbilhão de culturas, crenças e religiões em um movimento constante e contínuo de idas e vindas que afetam e marcam para sempre a vida de todos os habitantes do planeta. Misturados a esse turbilhão estão a ciência, o ateísmo e o fundamentalismo religioso, todos estes, comumente, em rota de colisão. O fundamentalismo religioso, entretanto, grande perigo traz a todas as sociedades humanas, disseminando desinformação, extremismo, chauvinismo e toda forma de preconceitos. Ocorre, que tal fundamentalismo é alimentado por interpretações errôneas das escrituras, baseadas em leituras acríticas dos textos bíblicos. Portanto, a razão de ser desta obra, salientamos, não é abalar ou injuriar a fé de ninguém, mas, pelo contrário, difundir a leitura crítica da Bíblia através da qual todos possam fortalecer sua fé no Criador. I – Introdução O planeta terra, em plena alvorada do século XXI, tem quase oito bilhões de habitantes, com seus falares, fazeres, culturas e religiões. A religião com o maior número de seguidores, segundo alguns autores, é o cristianismo, que se distende em diversos seguimentos, sendo de perto seguida pelo islamismo, hinduísmo, budismo e judaísmo, cada qual reivindicando para si a revelação exclusiva da divindade. Mas, ao que tudo indica, essa revelação da divindade não ocorreu, como fazem supor alguns escritos antigos (A Bíblia), ao longo de algum tempo para um único povo ou nação (Israel). Ela foi evolutiva, e também uma experiência subjetiva para todos os povos, pois, desde a pré-história, o homem tem sempre procurado estabelecer algum tipo de vínculo com a divindade. A divindade, ou Deus, ou Brahma, ou Nirvana, ou Jeová, dependo da fé que se professa, não possui uma definição exata, equacionada e única. É uma ideia complexa, repleta de meandros, significados, alegorias e figuras mentais que beiram o infinito. A Bíblia Sagrada, o livro mais lido de todos os tempos, ajudou em muito na construção da definição de Deus, razão, pela qual, iremos abordá-la por múltiplos vieses. mailto:leman_cereja@yahoo.com.br Vale ressaltar, entretanto, que a Bíblia também não possui uma única definição de Deus. Foram várias definições que foram construídas ao longo da história dos hebreus. Nosso objetivo, nesta humilde obra, jamais será o de esgotar o assunto – seria muita arrogância de nossa parte – mas de ajudar o leitor a entender uma pequena parte dessa complexidade chamada Deus. Por esse motivo, esta será, talvez, a única obra sobre Deus que irá terminar sem uma conclusão e sem quaisquer considerações finais de natureza teológica ou científica. II – O Monoteísmo de Israel e das Sociedades Primitivas Se para alguns teólogos, a fé na divindade iniciou na forma de monoteísmo – que pressupõe a crença em um único Deus Verdadeiro – e depois se desdobrou em politeísmo (crença em vários deuses), como se este fosse uma apostasia daquele, para outros, o homem nunca deixou de acreditar em um Deus Altíssimo, Elevado e Supremo, apesar de compartilhar da crença em diversos deuses menores (henoteísmo). Isso tem sido corroborado por vários estudiosos do sagrado, os quais com base em evidências arqueológicas e estudos antropológicos, têm afirmado que os povos primitivos, apesar de não o adorarem mais, nunca deixaram de conceber a ideia de um único Deus Criador. Ocorre que, segundo vasta literatura sobre o assunto, essas sociedades primitivas, ao passo que se foram tornando complexas, passaram a atribuir a divindade uma pluralidade de funções que, posteriormente, evoluiu para uma pluralidade de deuses. Quando as sociedades humanas eram pequenas, primitivas e menos complexas havia a ideia da existência de um único Deus Supremo, responsável por todos os fenômenos da natureza, que regulava as tarefas diárias e abençoava todos os membros da tribo. Na medida em que suas tarefas e fazeres se diversificaram e os seus clãs aumentaram em número, foram surgindo deuses especializados em funções determinadas. Dessa forma, como o homem em seu estado natural só concebia o mundo físico através do mundo espiritual, apareceram os deuses da tempestade, do trovão, da pesca, da caça, da agricultura, da navegação, da arte, do amor, da guerra, da cura, entre outros. As primeiras sociedades humanas, então, progressivamente evoluíram para o politeísmo. Mas, entranhado no seio da crença em diversos deuses, havia um monoteísmo residual, arcaico, imemorial, que nascera junto com essas populações e que, ao longo de milênios, perdera-se nas brumas do tempo. Como se vê, o monoteísmo não parece ter sido uma singularidade dos antigos hebreus, que reivindicavam para si a revelação exclusiva de Deus. Na realidade, o próprio Israel antigo não parece ter sido uma nação exclusivamente monoteísta, uma vez que é possível encontrar nos textos da própria Bíblia uma clara dicotomia entre o monoteísmo javista e o politeísmo eloísta, que perdurou durante vários séculos até o estabelecimento definitivo do culto a Jeová em substituição ao culto a Elohim. Se Israel, no momento de seu nascimento como nação adorava um único Deus e depois, ao longo da monarquia, tornou-se politeísta, como afirma a própria Bíblia, corroborada pela arqueologia com base em diversos achados, disso não se sabe absolutamente nada. Tampouco há quaisquer outras comprovações que possam apoiar tal afirmação. III – Os Antigos Deuses Hebreus Tudo o que se sabe, no entanto, é que Jeová não foi o único Deus Supremo adorado pelos antigos hebreus. Antes dele El ou Elohim, em sua forma majestática, o deus pai da cosmogonia canaanita, tinha proeminência nos cultos realizados nos antigos templos judaicos bem como nos templos de outros países de Canaã, vizinhos de Israel e de Judá. Não se sabe, porém, se El foi adorado no Templo Central da cidade de Jerusalém, supostamente construído, segundo a Bíblia, por Salomão por volta do ano de 930 a.C. Não se sabe, nem mesmo, se esse Templo Central chegou a existir naquela época tão remota. Mas, o que se sabe, é que o próprio nome Israel é um teofórico ou teonímo – como se diz em linguagem teológica – que contém a palavra El, indicando, assim, o nome do deus que deu origem ao povo hebreu. Jeová, sequer foi o segundo deus adorado pelos hebreus. Antes de Jeová e depois de El, o deus reverenciado nos cultos dos israelitas era Baal, que na mitologia de Canaã figurava no panteão divino como filho de Elohim, e era responsável por algumas funções como a tempestade e a guerra. Segundo historiadores, como Baal era o deus da guerra, ele teria sido, em tempos de conflito, adorado por todo o povo israelita e, inclusive, segundo a leitura que fizemos da própria Bíblia, pelo famoso rei Davi, fundador da dinastia davídica, cujo nome, de acordo com as escrituras, não era Davi, que possivelmente é um nome que se aproxima do significado de “Amado”, mas El Hanã, que significa “Deus da Graça”. Alguém poderá indagar como chegamos a essas conclusões. Simples, através de estudos e investigações de autores consagrados dos ramos da história e da arqueologia, mas, principalmente, de estudos e investigações dos próprios textos bíblicos. A Bíblia é um livro milenar, multifacetado, muito antigo e também muito complexo. Seus escritos são um amontoado caótico de vários textos que juntaram inúmeras tradições. Acerca dela cabe um capítulo inteiro, sobre o qual trataremos mais à frente. Além de El, Baal e Jeová, os hebreus adoravam também uma deusa chamada Asherah, que correspondia à Astarte dos antigos assírios ou Ishitar dos antigos caldeus. Asherah inicialmente foi esposa de El e mãe de Ball. Juntos, eles constituíam uma única divindade chamada de Elohim. Portanto, Elohim, tanto é a forma majestática pela qual os antigos hebreus se referiam a Deus,como também a forma plural pela qual se referiam a El, Baal e Asherah. Na tardia religião javista Asherah passou a ser adorada como esposa de Jeová. Apoiam nossa afirmação centenas de figuras de barro de deusas e inscrições encontradas em Kuntillet Ajrud, um sítio do século VIII a.C., situado a nordeste do Sinai, que sugeriam que Asherah era esposa de Jeová. Acerca disso, trataremos também mais um pouco à frente. IV – Jeová Entra Em Cena Ora, se El e Baal, que na mitologia cananéia ou canaanita, como se queira, representavam deus pai e deus filho, foram os primeiros deuses dos antigos hebreus, de onde surgiu a divindade Jeová? Para que possamos responder a essa indagação é necessário percorrermos um longo caminho no passado longínquo. Arqueólogos dizem que as divindades das primitivas religiões xamânicas, de povos caçadores/coletores que viveram há 17 mil anos, eram masculinas e suas funções mágicas estavam ligadas à caça e a pesca. Alguns milênios depois, com o advento da revolução agrícola, por volta de 5 mil anos a.C., as divindades tornaram-se femininas, vinculadas à terra que, como uma mãe, nutria e sustentava todos os seres. Por algum motivo, que não se sabe ao certo, a divindade deixou de ser feminina e voltou a ser masculina. Masculina, vulcânica e patriarcal. Historiadores falam que esse fenômeno religioso provavelmente está ligado à eclosão de atividades vulcânicas por todo o planeta – não se sabe ao certo quando todas elas ocorreram – que causaram cataclismos naturais e convulsões sociais em todas as sociedades primitivas. Na região do Mediterrâneo e do Levante, que são o foco deste livro, supõe-se que a erupção do vulcão Téra, da ilha de Santorini, que supostamente ocorreu em torno de 1.550 a.C., tenha abalado as estruturas políticas, econômicas, sociais e religiosas de vários povos mediterrânicos com impacto direto também em povos da região do Nilo, da Península Arábica e do Levante. Como a Deusa Mãe teria sido incapaz de livrar os homens do poder das erupções vulcânicas, estes passaram a adorar e a sacrificar aos deuses vulcânicos e paternos na esperança de aplacar sua fúria e ciúme. Entrementes, o sagrado feminino não morreu. Ele continuou vivo nas várias manifestações religiosas e culturais que sucederam ao aparecimento dos deuses vulcânicos e patriarcais, interagindo com estes nas diversas cosmogonias dos povos antigos, porém, deixadas em segundo plano. Jeová, provavelmente, teria sido um desses deuses vulcânicos, que estabeleceu o seu culto entre etnias que naquele tempo viviam na antiga região de Midiã, um país de relevo montanhoso que possuía vulcões, alguns deles em atividade na época de Moisés. Embora a própria Bíblia Sagrada nos dê algumas pistas, ainda hoje, permanece um mistério para a arqueologia a origem do culto ao deus Jeová. Não se sabe se esse deus Jeová veio do Mediterrâneo, ou se veio da Península Arábica, ou de qualquer outro lugar. Pode-se falar em especulações, acerca das quais passaremos a escrever a partir de agora. V – Jeová e os Povos do Mar na Região do Levante Evidências textuais extraídas da própria Bíblia apontam para o fato de que Jeová era um deus vulcânico adorado pelos antigos midianitas – lembram- se da história de Moisés que falou com Deus em uma sarça ardente no cume de uma montanha situada no território de Midiã? Seu culto talvez tivesse uma origem autóctone, ou talvez tivesse sido introduzido em Midiã por povos do mar que, por volta de 1.550 a.C., fugiram após a erupção de Santorini, ou talvez depois, por volta de 1.200 a.C., quando esses povos migraram da região do mar Egeu, pressionados por uma coligação de países supostamente liderada por príncipes troianos, após a destruição da cidade de Tróia, níveis estratigráficos VI e VII. Essa pressão bélica supostamente está relacionada à guerra causada pelos Aqueus, antigos gregos, e parece ter sido, ao que tudo indica, um contra- ataque em resposta à destruição da cidade de Tróia e também para recuperar o domínio de antigas rotas comerciais. Ao serem expulsos do Egeu pela coligação troiana os povos do mar saíram invadindo, arrasando e destruindo tudo o que havia em seu caminho. Chegaram até o Egito e Canaã. Cogita-se se Jeová estava entre eles. Este evento da invasão do Egito e de Canaã por povos do mar foi tão significativo que sinalizou o fim da idade do bronze, e a introdução, na vasta região do crescente fértil, da fundição do ferro, que, na prática da guerra, conferia superioridade bélica aqueles que detinham o conhecimento da fabricação de armas fundidas em aço, muito mais resistentes que as fabricadas em bronze. Esses misteriosos invasores aterrorizaram egípcios, hititas e outros, com suas armas e suas táticas de guerra. Segundo o historiador Marcos Davi Duarte da Cunha, em seu artigo para a NEArco, revista eletrônica de Antiguidade, P. 04: “Uma estratégia de combate que certamente foi aplicada era a de ‘formações de falanges’, tropas a pé em fileiras bem escamoteadas e perfiladas em posições que exigem disciplina e coordenação do grupo. Esta formação podia se mover e mudar seu contorno de acordo com a manobra inimiga. Se fosse um ataque de tropas a pé a formação se fechava numa muralha de escudos e fustigando os adversários com suas lanças. Se caso o ataque viesse na forma de carros de combate a falange se posicionava em forma de escaramuças em delta (ou diamante) permitindo assim que as montarias adentrassem por entre os pelotões sendo atacadas pelos lados em combate aproximado, algo mortal para os carros que eram eficientes numa batalha campal em forma de carga. Aos raros que conseguissem atravessar as impetuosas lanças nos vazios daquele ardil eram alvejados pelas setas em sua retaguarda ou atacados por batedores de flancos armados com suas espadas de aço longas contra as egípcias em curva e de bronze, algo jamais visto nos conflitos até então”. Desta feita, as superpotências do mundo antigo foram abaladas até a alma. Algumas sucumbiram ao poder dos invasores, como Hatti, país dos terríveis guerreiros hititas. Outras, como o Egito, só ao custo de muitas vidas e muito sacrifício, conseguiram derrotá-los ou expulsa-los de seu território. Fontes documentais, encontradas no Egito e no país de Hatti, afirmam que este bloco de guerra era formado por 10 etnias diferentes da região do Egeu. Arqueólogos, historiadores e a Bíblia também dizem que os filisteus, inimigos épicos dos hebreus, eram originários da ilha de Creta. Parece que eles compunham uma confraria de povos do mar invasores do Egito e de Canaã. Mas Israel, que mais ou menos nessa mesma época é citada em fontes egípcias, de onde veio? Existem fundadas suspeitas de que o povo de Israel, que se estabeleceu em Canaã por volta de 1.200 a.C., seja uma amálgama de etnias e de culturas oriundas de povos autóctones do Oriente Médio e gentes de outras regiões, tais como o Mediterrâneo, o Egeu e o Egito, daí a variedade de deuses e de cultos do antigo Israel. A Bíblia faz uma menção a Israel e à invasão do Egito por outros povos em um contexto de guerra. Mas é uma menção muito distante no tempo e muito superficial da parte de quem a escreveu. Em êxodo, capítulo 1, versículos 8, 9 e 10, ela diz: “Entrementes, se levantou novo rei sobre o Egito, que não conhecera José. Ele disse ao seu povo: Eis que o povo dos filhos de Israel é mais numeroso e mais forte do que nós. Eia, usemos de astúcia para com ele, para que não se multiplique, e seja o caso que, vindo guerra, ele se ajunte com os nossos inimigos, peleje contra nós e saia da terra”. Desse modo, com base em fontes bíblicas, arqueológicas e históricas, é possível supor a procedência dos filisteus, os quais provavelmente teriam saído da ilha de Creta ou arredores para o Egito de onde foram expulsos para Canaã. Mas em relação a Israel, que é citado nas mesmas fontes egípcias,não se pode afirmar com total certeza se era procedente do Egeu ou de outra região entre o Crescente Fértil, a Arábia e o Mediterrâneo. Paira, contudo, a dúvida de que Israel e Jeová, o temível deus de guerra dos antigos hebreus, talvez sejam oriundos de algum lugar localizado às margens do Mediterrâneo ou do Egeu. Se Israel e Jeová já caminhavam juntos nessa época ou se só vieram a se encontrar muito tempo depois, disto não se sabe absolutamente nada. Sabe-se, contudo, que o ano de 1.200 a.C. parece constituir-se em um importante marco temporal, no qual uma série de eventos se sucedeu. Segundo a arqueologia foi nessa época que aconteceram as invasões dos povos do mar. Também nesse tempo israelitas e filisteus se fixaram em Canaã. E, de acordo com a cronologia bíblica, foi por esses séculos que Moisés saiu do Egito liderando um grupo de hebreus fugidos, ou expulsos, ou trânsfugas de guerra, não se sabe ao certo, que atravessou o deserto do Sinai fixando-se em terras pertencentes à Midiã, país situado às margens do Golfo de Ácaba. Existe uma outra suspeita de que esses povos do mar, muito antes do evento conhecido como guerra mundial zero, que foi o da guerra entre gregos e troianos, como já dissemos em parágrafos anteriores, tenham se deslocado de seus países de origem até o Levante após a erupção de Santorini, por volta de 1.550 a.C., que provocou terremotos e tsunamis que destruíram inúmeras cidades costeiras ao longo do egeu e do mediterrâneo. Mas, essa suspeita ainda carece de fontes nos campos da história, da epigrafia, da iconografia e da arqueologia. VI – Jeová Era um Deus Midianita A partir deste ponto, saímos do terreno das especulações e passamos a pisar sobre chão mais firme. Em Midiã, provavelmente esses antigos hebreus liderados por Moisés entraram em contato com a fé javista. Pode-se dizer que o período em que permaneceram naquele país se constituiu em uma fase embrionária, na qual a adoração a Jeová foi cimentada nas mentes e nos corações desses nômades guerreiros. Quando partiram de Midiã em direção à Canaã, a Terra Prometida, eles levaram consigo, não só o desejo de conquistar, expropriar e subjugar outros povos, mas também sua arma de guerra mais poderosa e letal: A fé inabalável em seu deus guerreiro, Jeová. A arqueologia até agora não encontrou evidências de uma grande conquista, nos padrões que nos são apresentados pela Bíblia no livro de Josué, mas é certo que esses intrusos conseguiram fazer recuar uma boa parte da população cananéia que habitava a região do Levante, onde antes era Israel, estabelecendo-se, definitivamente, entre seus conterrâneos hebreus que haviam chegado alguns séculos atrás. Abrimos um parêntese para pedir que você imagine agora que toda a população afro-brasileira, descendente direta dos africanos trazidos da África, por algum motivo resolvesse atravessar o Atlântico, retornando ao seu continente de origem. Certamente, por fatores demográficos, sociais, culturais, linguísticos, religiosos ou políticos, essa massa humana entraria em conflito bélico direto com africanos naturais da terra, mas, depois de alguns séculos, mesclaria sua cultura, passando a compartilhar do mesmo modus vivendi. Foi o que aconteceu a esse segundo grupo de hebreus, os quais, sob Moisés, saíram do Egito, pervagando o deserto do Sinai e passando por Midiã, para reencontrarem seus outros parentes hebreus em Canaã. Assim, houve, supostamente, um encontro entre as divindades adoradas pelos hebreus, que já se encontravam em Canaã, El, Baal e Asheráh, com Jeová, que foi trazido pelos hebreus que estavam em Midiã. VII – Jeová Rumo à Supremacia Uma vez juntos e misturados, tendo uns absorvido a cultura de outros, o culto de Jeová foi introduzido em Canaã, rivalizando com o culto politeísta ao deus El, mais antigo entre o primeiro grupo de hebreus que habitavam as regiões de Israel situadas mais ao norte. Assim, o primeiro passo dos adoradores de Jeová foi introduzir sua divindade estrangeira no panteão cananeu como filho de Elohim. Mas, para isso, foi necessário fazer com que Jeová se apropriasse das funções de Baal, banindo-o do território de Israel. Assim Baal, o filho legítimo de El, foi eliminado, assumindo seu lugar Jeová, o filho adotivo. O segundo passo seria apropriar-se dos atributos de El e também renegá-lo ao esquecimento. É certo que o discurso javista foi muito mais poderoso que a antiga crença em El, pois, enquanto El era tido como um deus bom e pacífico, Jeová foi o deus que abriu o mar para que os escravos pudessem fugir do poderoso exército de Ramsés III, o maior soberano da época. Esse passo, contudo, foi mais difícil, pois o deus ancião El era muito estimado pelo povo do norte, e seu culto possuía raízes temporais profundas. A solução encontrada foi declarar que El e Jeová não eram dois deuses diferentes, mas sim um só deus. Alguma similaridade com a trindade cristã? Essa assimilação de El por Jeová aconteceu por volta da segunda metade do século VII a.C., com a reforma deuteronomista, realizada após a conquista de Israel pela Assíria, em 722 a.C., no curto reinado de Salmanaser, que ficou no poder por apenas cinco anos, tendo logo em seguida sido substituído por seu irmão Sargão II. Grande parte da população remanescente de Israel do Norte migrou para Judá, ao Sul, misturando-se com a população judaíta. E, essa mescla de gente, de culturas, crenças e cosmogonias, fez com que surgisse um culto sincrético resultante da fusão das duas divindades. Assim, Jeová, o deus guerreiro das tribos hebraicas oriundas do Egito e de Midiã, e agora situadas em Judá, ao sul de Israel, conforme veremos adiante no capítulo seguinte, progressivamente assume na cosmogonia israelita o posto de Deus Supremo, Altíssimo, Soberano, Criador do universo e mais alto e elevado que todos os outros deuses da terra. VIII – Jeová é um Touro – Da Idolatria ao Monoteísmo Entra em cena, por volta da primeira metade do século VII a.C., uma fase intermediária entre o politeísmo eloísta e o monoteísmo javista dos antigos hebreus. Essa fase chama-se henoteísmo. O henoteísmo, como já assinalamos em parágrafos anteriores, diferente do monoteísmo que supõe a existência de um único Deus Soberano, pressupõe a coexistência entre um Deus Alto e Supremo com outros deuses menores que governam o mundo ao seu lado, mas que lhe são em tudo subordinados. Os partidários de Jeová jamais teriam obtido êxito se se propusessem a expurgar El da cosmogonia israelita declarando de plano que Jeová era único Deus Soberano e que El era uma farsa. A estratégia que eles usaram foi fazer com que, aos poucos, El fosse transferindo para Jeová, seus poderes, atributos e o governo do universo. Na verdade, foi a mesma estratégia utilizada por partidários de Baal para entroniza-lo na cosmogonia ugarítica. Ambas as estratégias foram documentadas em textos antigos. A estratégia dos partidários de Baal em textos ugaríticos e a estratégia de partidários de Jeová nos textos hebraicos da Bíblia. Um desses textos hebraicos, podemos encontrar em Salmo 82, cujo conteúdo transcrevemos abaixo: Verso 1 – Salmo para Asaf. Elohim está em pé no concílio de El. No meio dos Elohim ele julga: Verso 2 – Até quando, vós defendereis e as faces dos malvados erguereis? Selah Verso 3 – Defendei o miserável e o órfão; o oprimido e o empobrecido fazei justiça! Verso 4 – Livrai o miserável e o oprimido; das mãos dos malvados tirai- os! Verso 5 – Eles não conhecem e não entendem; na escuridão eles andam. Abalam-se todos os fundamentos da terra. Verso 6 – Eu disse: Elohim sois vós e filhos de Elyon todos vós. Verso 7 – Contudo, como homens morrereis e como príncipes caireis. Verso 8 – Levanta-te, Elohim, julgue a terra. Eis! Todas as nações são tua propriedade. Dessa forma, como se por procuração, El transferiu o governo paraJeová e Jeová, após julgar todos os outros deuses, ocupou o centro da criação. Agora, entronizado em seu trono cósmico, ele mandava e desmandava sobre todos os outros deuses das nações estrangeiras e sobre todas as forças regentes do universo. Nenhuma folha caia ou nenhum fio de cabelo se perdia se não fosse pela vontade soberana de Jeová. Como vimos pela leitura do Salmo 82, a essa altura Jeová já havia eliminado seu irmão mais velho Baal e usurpado o trono cósmico de seu pai El. Jeová apropriou-se até mesmo da esposa de El, a deusa mãe Asheráh, que posteriormente seria eliminada da cosmogonia hebraica. Mas não foram apenas o trono e a esposa os únicos a serem açambarcados. A representação zoomórfica de El também passou para Jeová. El, que era uma divindade senil de cabelos brancos e doce candura, também era representado em tempos pretéritos entre o antigo povo hebreu e entre os povos canaanitas, seus contemporâneos, por um touro, da mesma forma que Jeová passou a ser adorado. Lembram-se da história do bezerro de ouro e de como Arão, irmão de Moisés a ele se referiu quando fazia seu convite público? Arão disse simplesmente: “Amanhã, haverá festa para Jeová”. Isso mesmo, Jeová era um touro, que a Bíblia pejorativamente chamou de bezerro. Posteriormente, após a queda de Israel, quando os israelitas já se haviam tornado judeus, a representação idolátrica de Jeová na forma de touro foi abolida e a história da adoração ao bezerro de ouro foi demonizada. A abolição das representações imagéticas ou idolátricas de Jeová aconteceu quase ao mesmo tempo em que os cultos a deusa mãe Asheráh, ex- esposa de El e até então esposa de Jeová, foram para sempre suprimidos da história religiosa de Israel. A explicação para essa ação levada a efeito pelo rei Josias, partidário de Jeová, orbita a esfera política. O Estado de Judá sofria pressões imperialistas de grandes potências estrangeiras e o politeísmo dessas potências dividia o povo judeu em diversas facções religiosas e políticas. Essas divisões colocavam em xeque a soberania do Estado judeu. Portanto, o rei não poderia contemporizar com os cultos a diversos deuses que dividiam a população da terra em diferentes partidos religiosos. Era necessário criar uma unidade religiosa, populacional, política e bélica. O lema a ser adotado seria: Um só Deus, um só povo e um só exército. A estratégia muito bem elaborada transformou El, de Deus Criador, Supremo e Soberano, em um substantivo, enquanto Jeová assumiu todos os seus poderes e atributos. Foi por isso que Jeová, tendo se tornado o Deus Altíssimo dos judeus, conseguiu eliminar da cosmogonia judaíta a adoração a todos os demais deuses menores, reinando a partir de então sozinho e absoluto. Mas a estratégia não deu certo por causa do exacerbado chauvinismo que isolava os judeus de outros povos e, em 565 a.C., o Estado de Judá caiu nas mãos de Nabucodonosor, rei da Babilônia, que deportou os judeus para a Mesopotâmia onde iriam ficar durante setenta longos anos. Também foi lá que os judeus, em contato com o masdeísmo e as demais crenças dos povos mesopotâmicos, aprimoraram ainda mais o seu monoteísmo e incorporaram os mitos fundadores do mundo, que encontramos no livro de Genesis e nos outros livros do Pentateuco, de acordo com uma ressignificação mais próxima de sua visão de mundo. Alguns deuses menores foram transformados em anjos a serviço de Jeová. Outros, como Baal, foram transformados em demônios, como Belzebu, que é apenas um nome originário da forma pejorativa Baal-Zebube (Baal das moscas), pela qual os judeus passaram a taxar a sua antiga divindade Baal. IX – O Fascínio da Bíblia Partindo deste ponto, passaremos a falar sobre a Bíblia Sagrada, o livro que, em toda a história da humanidade, mais influência desempenhou sobre os homens. Mas por que este livro sagrado exerce, ainda hoje, tanto poder de persuasão? Diferente dos livros védicos do hinduísmo, do Alcorão dos mulçumanos e de outras fontes literárias das grandes religiões do mundo, a Bíblia possui plausibilidade histórica e arqueológica. Isso acontece porque ela, a Bíblia, apesar de sua linguagem mítica, foi construída em cima de fatos e de personagens históricos. Sim, a Bíblia não é um simples conto de fadas cujos enredos não possuem confirmação científica. Ao contrário disso, a Bíblia é até mesmo utilizada em pesquisas arqueológicas, e muitas das cidades, lugares, povos, acontecimentos e pessoas, que até o século XVIII eram considerados por muitos críticos como historíolas sem comprovação, hoje se sabe que existiram de verdade. Como prova do que dizemos, apenas a título de exemplificação, citamos aqui um trecho do livro “A Origem de Deus”, do autor Laurence Gardner, à página 186, que diz: “Conforme narrado anteriormente, o nome de Esaú (E-as- um) foi descoberto em 1975 nas antigas tábuas de TelMardikh (a antiga cidade de Ebla) na Síria, junto a referências a Abraão (Ab-ra-mu) e Israel (Isra-Ilu), como veio a ser chamado o irmão de Esaú, Jacó, após ter seu nome mudado por Deus em Bêth-El”. Com o desenvolvimento das ciências e o aperfeiçoamento de seus métodos e instrumentos de investigação tornou-se possível descobrir a verdade histórica acerca de muitos dos acontecimentos narrados na Bíblia. Pode-se dizer que a Bíblia é constituída por vários extratos literários que mesclam fatos e lugares reais com mitos. Mas, se por um lado ela possui plausibilidade histórica e arqueológica, por outro ela também é uma fonte de imprecisões e de incompreensões. Isso acontece porque os antigos textos hebraicos que compõem a Bíblia sofreram várias modificações e acréscimos ao longo dos 15 séculos em que ela supostamente foi construída. Abrimos outro parágrafo para pedir que você imagine uma cidade com uma estrutura urbana como Jericó que, segundo os cientistas, tem quase doze mil anos de idade. Os vestígios urbanos e prediais dos assentamentos humanos dos primeiros milênios de existência da cidade foram sendo soterrados pelas estruturas urbanas dos assentamentos dos milênios seguintes. Seus palácios, seus prédios, suas casas e suas ruas foram construídos em cima de edificações mais antigas, de tal forma que as primeiras camadas urbanas desapareceram para dar lugar às camadas mais recentes. Da mesma forma, como aconteceu com Jericó e outras cidades do mundo antigo, foram erigidos os textos Bíblicos. Verso sobre verso, capítulo sobre capítulo, livro sobre livro, um trecho emendado aqui outro acolá, um trecho suprimido aqui outro acrescentado ali. Tradições e traduções sobrepostas, histórias de personagens reais que ganharam uma linguagem mítica, como Sansão, Josué, Saul, Davi e outros. Mitos, como dito acima, criados como suplementos de acontecimentos reais. A Bíblia, desde a grande reforma do rei Josias, que, por sinal, havia sucedido às reformas religiosas dos reis Josafá (870 – 848 a.C.) e Ezequias (716 – 687 a.C.), passou por pelo menos cinco revisões posteriores que mudaram sua estrutura original. A última delas é conhecida pelo nome de Septuaginta. Para entendermos esse processo é necessário falar sobre essas reformas, utilizando como fonte, inclusive, o próprio texto bíblico. X – As Reformas da Bíblia Os primeiros textos bíblicos foram supostamente produzidos no reinado de Davi, a partir do ano 1.010 a.C., por seus biógrafos oficiais e, neles, foram incorporadas várias tradições orais pelo menos cinco séculos mais antigas, que, apesar de seus aparentes erros históricos, buscavam retratar aquilo que os arqueólogos chamam de Sitz im Leben, ou seja, o contexto vital dos períodos pré-monárquicos de Israel. Nessa época, o deus que estava no auge era El, sendo que Baal era seu filho. Durante o reinado de Davi ainda não havia uma afirmação acerca da exclusividade de nenhum deus, e Jeová talvez nem fosse conhecido. É por essa razão, que Davi aparece sequestrandoos ídolos dos filisteus. Por esse mesmo motivo, o autor bíblico nos relata que dentro da casa de Davi havia um terafim, uma imagem de escultura de um deus, possivelmente Baal, tão grande que Mical, esposa de Davi, o deitou na cama para enganar os perseguidores que queriam matar Davi a mando de Saul. Parece que Davi acreditava mesmo que era um predestinado de seu deus Baal, tanto que mandou que seus biógrafos juntassem às narrativas sobre sua vida, seu reinado, suas guerras e suas façanhas, as histórias e os contos dos deuses de Israel e dos heróis nacionais do povo hebreu. Depois de seu início, sob Davi, esses escritos, quando ainda estava em curso o seu processo de construção, sofreram influências monoteístas decorrentes das reformas religiosas nos reinados dos reis Josafá e Ezequias. Mas, a primeira grande revisão, com impacto em sua estrutura original, como já se disse em capítulo anterior, foi feita por volta de 620 a.C., no reinado do rei Josias, e ficou conhecida pelo nome de deuteronomista. Foi a revisão deuteronomista que fez o sincretismo religioso entre o deus ancião El e o deus guerreiro Jeová. Os escritores deuteronomistas declararam no capítulo seis, versículo quatro, do livro de Deuteronômio – num de seus trechos mais antigos, que: “Ouve, ó Israel, Elohim e Jeová são um só Eloheinu”, que traduzido para o português e outras línguas mundiais significa: “Ouve, ó Israel, Elohim e Jeová são um só Deus”. A última grande revisão foi feita durante o reinado dos gregos. Conhecida como Septuaginta, a revisão grega teve por objetivo uniformizar as diversas tradições bíblicas conferindo aos seus escritos uma linguagem única, singular, linear – como se fosse possível. E foi esta última revisão que modificou a frase do capítulo seis, versículo quatro, do livro de Deuteronômio, para: “Ouve, ó Israel, Jeová, nosso Elohim, é o único Elohim”, que a Bíblia do padre João Ferreira de Almeida, à qual estamos habituados, traduz para: “Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor”. Quando estas reformas e revisões do texto bíblico chegaram ao seu fim, entre os séculos VI e V a.C., estavam lançadas as bases do monoteísmo judeu, que iria influenciar no nascimento das demais religiões monoteístas. Ocorre, portanto, que se alguém ler a Bíblia sem estar equipado de uma lente crítica vai entender que ela transmite, de Genesis ao Apocalipse, uma mensagem revestida de unicidade, logicidade, racionalidade, uniformidade e linearidade, que fala sobre um povo escolhido que recebeu a mensagem de um só Deus, único e verdadeiro. Porém, se você lançar mão dos instrumentos de crítica literária, de análise exegética e de hermenêutica, combinados com a leitura de livros históricos, antropológicos e arqueológicos, verá que a Bíblia não é o que parece ser ou o que teólogos e pregadores religiosos querem que você pense que ela é. A Bíblia é um livro muito diferente daquele pintado nos púlpitos das igrejas. Mas, ainda assim, ela continua sendo um livro fascinante. XI – O Sincretismo Bíblico Alguém poderia argumentar que o sincretismo entre El e Jeová ocorreu devido à similaridade de atributos das duas divindades, e que a eliminação de Baal por Jeová aconteceu por causa das heterogeneidades entre os predicados divinos de um em relação oposta ao outro. Entretanto, Baal está mais para Jeová do que Jeová para El. El era um ancião sábio e de cabelos brancos, considerado o criador de todas as coisas e pai de todos os deuses e de todos os homens. Jeová era um deus vulcânico que habitava o fogo no alto das grandes montanhas. Não era velho, era solteiro, não tinha filhos, era guerreiro. Comparar El a Jeová é o mesmo que querer traçar uma analogia entre o Brahma, dos hinduístas da Índia e o Makunaimã, dos índios Macuxi que habitam o norte do Brasil. São deuses que pertencem a visões de mundo totalmente diferentes. Mas, Jeová e Baal não eram tão diferentes assim. Tal como Jeová, Baal também não era velho e nem tinha filhos. Só que Baal acumulava algumas funções a mais que Jeová. Baal também era, além de deus da guerra, o deus das tempestades e da fertilidade. Era Baal que promovia as guerras e depois trazia a chuva que fertilizava os campos. Baal também teve um templo cósmico tal como Jeová teria alguns milênios depois. Incoerentemente, os partidários de Jeová entenderam que o deus Baal, adorado por seu ancestral Davi, não poderia ser fundido ou assimilado por Jeová, mas deveria ser banido de Israel juntamente com os demais deuses dos cananeus. E foi assim que em textos mais recentes encontramos, nos livros de Juízes, I e II Samuel, I e II Reis e I e II Crônicas, Jeová mandando destruir toda forma de adoração ao deus Baal. As personagens bíblicas, tradicionalmente consideradas como heróis nacionais, que eram adoradores de Baal, tiveram seus nomes modificados, a exemplo de Jerubaal que teve o nome mudado para Gideão, e El Hanã, que mudou para Davi. XII – Analisando o Texto Bíblico O leitor poderá dizer que nunca leu isto na Bíblia. E nós podemos afirmar que sim, já leu, mas estes detalhes passaram desapercebidos porque ele não leu a Bíblia com lentes críticas, mas apenas armado de crenças milenares, que lhe foram transmitidas nas escolas sabatinas ou dominicanas. Para comprovar tal afirmação, passemos à leitura e à interpretação de alguns trechos da Bíblia, considerados como vestígios de tradições antigas escritas antes da primeira reforma deuteronomista, mas cujo teor foi acidentalmente preservado. 1° Análise: O bezerro de ouro era o próprio Jeová. Estabelecendo para análise uma perícope a partir do capítulo 32 do livro de Êxodo, com delimitação nos versículos 4 e 5, poderemos constatar que o pecado de idolatria do povo hebreu não ocorreu em função da adoração de deuses estrangeiros, mas de uma representação idolátrica do próprio deus Jeová, de acordo com o seguinte: Êxodo 32 Versículo 4 – Este (Arão), recebendo de suas mãos, trabalhou o ouro com burril e fez dele um bezerro fundido. Então disseram: São estes, ó Israel, os teus deuses que te tiraram da terra do Egito. Versículo 5 – Arão, vendo isso, edificou um altar diante dele (do bezerro) e, apregoando, disse: Amanhã, haverá festa ao Senhor (Jeová). Pois bem, se isolarmos a frase “fez dele um bezerro fundido”, que se encontra no versículo 4 e as frases “edificou um altar diante dele” e “Amanhã, haverá festa ao Senhor”, que se acham no versículo 5, veremos que elas estão no singular e se referem, não a deuses estranhos, mas ao próprio deus Jeová. A confusão decorreu da tradução para o grego da palavra Elohim, utilizada em Êxodo para designar Deus, mas subtendida pelos tradutores como deuses. 2° Os antigos javistas (adoradores de Jeová) faziam sacrifícios humanos. Estabelecendo para análise uma perícope a partir dos versículos 31, 34, 39 e 40, do capítulo 11 de Juízes, encontramos o seguinte: Capítulo 11 Versículo 31 – Quem primeiro da porta da minha casa me sair ao encontro, voltando eu vitorioso dos filhos de Amom, esse será do Senhor, e eu o oferecerei em holocausto. Versículo 34 – Vindo, pois, Jefté a Mispa, a sua casa, saiu-lhe a filha ao seu encontro, com adufes e com danças; e era ela filha única; não tinha ele outro filho nem filha. Versículo 39 – Ao fim dos dois meses, tornou ela para seu pai, o qual lhe fez segundo o voto por ele proferido; assim ela jamais foi possuída por varão. Daqui veio o costume em Israel. Versículo 40 – de as filhas de Israel saírem por quatro dias, de ano em ano, a cantar em memória da filha de Jefté, o gileadita. Isolemos as frases “Quem primeiro da porta da minha casa me sair ao encontro, voltando eu vitorioso dos filhos de Amom, esse será do Senhor, e eu o oferecerei em holocausto”, do versículo 31, a frase “Vindo, pois, Jefté a Mispa, a sua casa, saiu-lhe a filha ao seu encontro”, do versículo 34, e a frase“Ao fim dos dois meses, tornou ela para seu pai, o qual lhe fez segundo o voto por ele proferido”, assim, veremos que Jefté, firmou o compromisso de sacrificar uma das pessoas de sua casa para Jeová e que, para sua infelicidade, a pessoa sacrificada foi sua única filha virgem. Teólogos fundamentalistas, que de acordo com suas conveniências defendem uma interpretação literal da Bíblia, usam de seus malabarismos teológicos para afirmar que o sacrifício a que a Bíblia diz, acerca da filha de Jefté, foi o sacrifício de não se casar para servir a Deus por toda a sua vida. O interessante aí é que esses teólogos, que interpretam a Bíblia ao pé da letra, quando se deparam com um trecho ou passagem, que entra em contradição com o restante das escrituras, afirmam que se trata de uma linguagem figurada. Ocorre, porém, que essa forma de serviço exclusivo à Jeová não era considerada como sacrifício, mas como devoção. Tampouco era comum, no tempo dos juízes, mulheres adotarem o celibato. Além disso, havemos de considerar a etimologia da palavra holocausto, derivada do hebraico “olah”, que significava subir a fumaça ou queimar, em referência à queima de animais sacrificados. Quando as escrituras hebraicas foram traduzidas para o grego, durante a edição da septuaginta, os tradutores usaram uma palavra aproximada que significava todo-queimado. Portanto, quando a Bíblia fala em holocausto, ela está falando em sacrifício de verdade e não em um sacrifício figurado. Isso prova que a filha de Jefté, infelizmente, foi apunhalada, morta e queimada em honra ao deus Jeová. Há de se ressaltar, ainda, que a passagem de Levítico 27:28-29 corrobora a tese dos sacrifícios humanos, pois diz: “No entanto. Nada do que alguém dedicar irremissivelmente ao Senhor, de tudo o que tem, seja homem, ou animal, ou campo da sua herança, se poderá vender, nem resgatar; toda coisa assim consagrad será santíssima ao Senhor. Ninguém que dentre os homens for dedicado irremissivelmente ao Senhor se poderá resgatar; será morto”. 3° O verdadeiro nome de Davi era El Hanã. Isolemos o versículo 19, do capítulo 21, do livro de 2 Samuel, e encontraremos o seguinte: Capítulo 21 Versículo 19 – Houve ainda, em Gobe, outra peleja contra os filisteus; e El Hanã, filho de Jaaré-Oregim, o belemita, feriu a Golias, o geteu, cuja lança tinha a haste como eixo de tecelão. Nota-se que El Hanã, assim como Davi, era natural de Belém de Judá e que também matou um gigante chamado Golias, que, por coincidência, também era geteu. A conclusão é que os dois gigantes, que tinham o mesmo nome de Golias, que eram geteus, na verdade, eram uma única pessoa, e que El Hanã, filho do belemita, era o rei Davi, de Belém de Judá. 4° Davi adorava Baal e não Jeová. Vamos estabelecer para análise uma perícope do capítulo 5, do livro de 2 Samuel, com delimitação do versículo 20. Capítulo 5 Versículo 20 – Então, veio Davi a Baal-Perazim e os derrotou ali; e disse: Rompeu o Senhor as fileiras inimigas diante de mim, como quem rompe águas. Por isso, chamou o nome daquele lugar Baal-Perazim. Isolemos deste versículo as frases “Então, veio Davi a Baal-Perazim e os derrotou ali; e disse: Rompeu o Senhor as fileiras inimigas diante de mim” e “Por isso, chamou o nome daquele lugar Baal-Perazim”. Peres, em hebraico, é o infinitivo do verbo romper, em português. Perazim é uma flexão do verbo peres. Davi disse: “Rompeu o Senhor....” e depois chamou o lugar onde seu exército desbaratou o exército filisteu de Baal-Perazim, que significa Baal rompeu. Constata-se que o deus de Davi não era Jeová, mas Baal, pois, se fosse Jeová, Davi teria chamado o lugar de Jeová-Perazim, que é Jeová rompeu e não de Baal-Perazim. Alguém poderá argumentar que os hebreus não falavam o nome de Deus e que por esse motivo Davi usou o nome Baal para se referir a Deus ao invés do nome de Jeová. Ocorre que, na época de Davi, os hebreus não tinham essa tradição de não falar o nome de Deus. Tal tradição de nunca pronunciar o nome de Jeová pertence aos séculos V e IV a.C., que é uma época muito posterior ao tempo de Davi. Isso equivale dizer que Baal foi o verdadeiro deus adorado por Davi e não Jeová, como fazem crer os reformistas javistas do tempo de Josias, que foi a reforma, a partir da qual, todas as outras divindades passaram a ser suprimidas da memória hebraica. 5° Davi, possivelmente, era manco e tinha algum problema nos olhos. Estabeleçamos para análise uma perícope a partir de 2 Samuel, Capítulo 6, versículos 6, 7 e 8. Capítulo 6 Versículo 6 – Partiu o rei com seus homens para Jerusalém, contra os jebuseus que habitavam naquela terra e que disseram a Davi: Não entrarás aqui, porque os cegos e os coxos te repelirão, como quem diz: Davi não entrará neste lugar. Versículo 7 – Porém, Davi tomou a fortaleza de Sião; esta é a cidade de Davi. Versículo 8 – Davi, naquele dia, mandou dizer: Todo o que está disposto a ferir os jebuseus suba pelo canal subterrâneo e fira os cegos e os coxos, a quem a alma de Davi aborrece. (Por isso, se diz: Nem cego nem coxo entrará na casa.) A análise exegética que fazemos é que, notadamente, pode-se perceber que o trecho da frase que diz “como quem diz: Davi não entrará neste lugar”, não pertence a fala de Davi, mas é uma interpolação feita pelo escritor de 2 Samuel para explicar a rivalidade entre Davi e os cegos e coxos. A abordagem histórica que fazemos é que Davi era um homem experimentado no palco das guerras, as quais, sabemos, através da história e da arqueologia, que eram algo insano. Totalmente insano. Os combates davam- se corpo a corpo, homem a homem, Tete à Tetê, nos quais aconteciam perfurações de facas, flechas, amputações por golpes de espadas, machados e outros instrumentos perfurocortantes, dilacerantes e contundentes; socos, cotoveladas, dedos nos olhos e até mordidas nas veias jugulares dos inimigos. A coisa era tão brutal, que dificilmente um guerreiro, que já tivesse participado de uma primeira guerra, sobreviveria a um segundo enfrentamento. Até mesmo os soberanos da antiguidade raramente participavam abertamente de muitas guerras. Josias, por exemplo, sucumbiu ao primeiro enfrentamento com o poderoso exército egípcio. Desta feita, fica difícil acreditar que Davi, tendo participado de tantas batalhas, tivesse saído de todas ileso e sem nenhum arranhão. Some-se a isso o fato da zombaria direcionada a Davi pelos antigos jebuseus que habitavam Jerusalém. É como se eles estivessem dizendo para Davi: Derrote primeiro os cegos e coxos, iguais a você, e então você poderá vir tentar nos derrotar! Isso aborreceu sobremaneira Davi, que deu ordens aos seus guerreiros mais valentes, recomendando que se esforçassem ao máximo para conquistar a fortaleza jebuséia, subjugar seus habitantes, e matar, inclusive, os cegos e coxos. Veja bem, Davi deu ordens, mas não se expôs e nem entrou nesse combate. Por quê? Talvez porque tivesse medo que a zombaria dos jebuseus se concretizasse e ele sucumbisse naquele confronto. 6° A mulher midianita de Moisés era contra a circuncisão. Vamos extrair para análise exegética um pequeno trecho do livro de Êxodo, situado em seu capítulo 4, versículos 24, 25 e 26. Capítulo 4 Versículo 24 – Estando Moisés no caminho, numa estalagem, encontrou-o o Senhor e o quis matar. Versículo 25 – Então, Zípora tomou uma pedra aguda, cortou o prepúcio de seu filho, lançou-o aos pés de Moisés e lhe disse: Sem dúvida, tu és para mim esposo sanguinário. Versículo 26 – Assim, o Senhor o deixou. Ela disse: Esposo sanguinário, por causa da circuncisão. Estranho não, Jeová atormentando Moisés e coagindo a esposa deste a circuncidar seu filho? Mais estranho ainda, é que ela não se volta com ar de reprovação contra Jeová, mas contra seu próprio esposo Moisés. Detalhe: Zípora, esposa de Moisés, era contra acircuncisão, o que prova que esse ritual de sangue não tinha aprovação unânime entre todos os adoradores de Jeová. 7° Jetro, sogro de Moisés, era sacerdote de Jeová em Midiã. Estabeleçamos para análise uma perícope a partir do capítulo 18 do livro de Êxodo, com delimitação nos versículos 1, 9, 10, 11 e 12. Capítulo 18 Versículo 1 – Ora, Jetro, sacerdote de Midiã, sogro de Moisés, ouviu todas as coisas que Deus tinha feito a Moisés e a Israel, seu povo; como o Senhor trouxera a Israel do Egito. Versículo 9 – Alegrou-se Jetro de todo o bem que o Senhor fizera a Israel, livrando-o da mão dos egípcios, Versículo 10 – e disse: Bendito seja o Senhor, que vos livrou das mãos dos egípcios e da mão de Faraó; Versículo 11 – agora, sei que o Senhor é maior que todos os deuses, porque livrou este povo de debaixo da mão dos egípcios, quando agiram arrogantemente contra o povo. Versículo 12 – Então, Jetro, sogro de Moisés, tomou holocausto e sacrifícios para Deus; e veio Arão e todos os anciãos de Israel para comerem pão com o sogro de Moisés, diante de Deus. Isolemos as frases “Ora, Jetro, sacerdote de Midiã, sogro de Moisés, ouviu todas as coisas que Deus tinha feito a Moisés e a Israel, seu povo”, do versículo 1, “Alegrou-se Jetro de todo o bem que o Senhor fizera a Israel, livrando-o da mão dos egípcios”, do versículo 9, “e disse: Bendito seja o Senhor”, do versículo 10, “agora, sei que o Senhor é maior que todos os deuses”, do versículo 11, “Então, Jetro, sogro de Moisés, tomou holocausto e sacrifícios para Deus, do versículo 12. Dignas de nota são as declarações que Jetro, sogro midianita de Moisés, fez a respeito de Jeová. Declarações próprias de um sacerdote de Jeová. No mais, somente um sacerdote de Jeová poderia tomar holocaustos e sacrifícios para Jeová. Importante ressaltar, ainda, o prestigio desse sacerdote, que fez reunirem-se ao seu redor Arão, sacerdote hebreu e toda a assembléia de anciãos hebreus, para comerem pão diante de Jeová. Tudo isso só poderia ser possível para um alto sacerdote que fosse tido em grande estima pelo povo hebreu. Está, portanto, confirmado o fato de que Jetro, cujo nome é um teonímo, ou, como queiram escrever, teofórico que contém o nome de Jeová, foi a pessoa responsável por incutir o culto javista entre os hebreus que estiveram estacionados em Midiã. Há de se observar, que antes desse contato com Jetro, Moisés era adorador de El, deus pai do panteão cananita. Sabemos disso devido ao teofórico que deu nome ao seu filho Eliézer, cujo significado é El é meu pai, ou El de meu pai. Foi Jetro quem converteu Moisés e o povo hebreu ao javismo. 8º Escritores henoteístas da Bíblia consideravam Jeová e Seth como sendo o mesmo Deus O livro de 2 Crônicas, capítulo 35, versículos 21 e 22, registra um suposto diálogo entre o Rei Josias e o Faraó Necau II. Conforme a Bíblia, Necau II partiu do Egito na intenção de guerrear contra os assírios às margens do rio Eufrates, mas foi interceptado pelo exército de Josias que se colocou como seu oponente. É aí que o diálogo acontece. Necau II, no versículo 21, através de um mensageiro, teria dito a Josias: “Que tenho eu contigo, Rei de Judá? Não é contra ti que eu subo hoje para guerrear, mas contra os assírios, e disse Deus que me apressasse; guarda- te de te opores a Deus, que é comigo, para que ele não te destrua”. Contudo, o Rei Josias não dando ouvidos a advertência do Faraó Necau II, disfarçou-se e entrou na luta, resultando desse embate a sua própria morte. Mais adiante, no versículo 22, o autor de 2 Crônicas declarou o seguinte: “E (Josias) não deu ouvidos as palavras de Necau que saíram da boca de Deus”. Estabeleçamos uma perícope do capítulo 35, do livro de 2 Crônicas, com delimitação dos versículos 21 e 22, extraindo apenas as frases nucleares. Capítulo 35 Versículo 21 - ... Que tenho eu contigo, Rei de Judá? Não é contra ti que eu subo hoje para guerrear, mas contra os assírios, e disse Deus que me apressasse; guarda-te de te opores a Deus, que é comigo, para que ele não te destrua. Versículo 22 - ... E (Josias) não deu ouvidos as palavras de Necau que saíram da boca de Deus. Isolemos as frases “e disse Deus que me apressasse; guarda-te de te opores a Deus” e “E (Josias) não deu ouvidos as palavras de Necau que saíram da boca de Deus”, chegaremos a conclusão de que o texto fala apenas de uma única divindade. Sendo assim, a dedução mais plausível, lógica e racional, que se pode extrair desse texto, é a de que Jeová e Seth eram considerados por egípcios e israelitas como sendo supostamente a mesma divindade. Ora, é sabido por diversas fontes arqueológicas e documentais que Seth, o deus do caos, da seca, da morte e da guerra, era a divindade para a qual os faraós egípcios, quando entravam em guerra, rendiam culto e adoração afim de que fossem bem-sucedidos em suas batalhas. Também é sabido que Jeová, à exemplo de Seth, era considerado como deus da guerra, tanto é que um de seus teonímos mais famosos era Jeová Sabaoth (Jeová dos Exércitos). 9º Balaão era um feiticeiro que falava com Deus. Segundo a Bíblia, em um de seus trechos conhecido pelos teólogos como “Perícope de Balaão”, Balaão era um profeta renomado em toda a Região do Levante que “ouvia as palavras de Deus”, “conhecia a ciência do Altíssimo” e “via a visão do Todo-Poderoso”. Mas, certo dia, Balaque, rei dos moabitas, mandou seus príncipes, com carregamentos cheios de ouro, prata e pedras preciosas, até as terras de Midiã para convencerem os chefes tribais midianitas a contratarem os serviços de Balaão. Balaque queria que Balaão amaldiçoasse Israel, pois temia uma invasão de israelitas em seu país. Balaão foi convencido a ir ao encontro de Balaque e, no meio do caminho, depois de espancar sua mula sem motivos por três vezes, encontrou-se com um anjo de Deus que se lhe opunha como adversário. Depois de quase matar Balaão o anjo de Deus o advertiu de que dissesse apenas aquilo que Deus colocasse em sua boca. Balaão então encontrou-se com Balaque, preparou holocaustos e encantamentos e foi ao encontro com Deus. Mas Balaão, obedecendo a Deus, não amaldiçoou Israel, antes, pelo contrário, abençoou Israel e profetizou sobre vitórias de Israel contra os povos moabita, edomita e egípcio. A Bíblia, contudo, relata mais adiante que Balaão se vendeu para ensinar aos moabitas estratégias de como fazer Israel sair da graça de Deus. Israel pecou contra Deus e Deus enviou uma praga como forma de punição pelos pecados do povo israelita. Por conta disso, Balaão teria sido morto pelo exército de Israel sob o comando de Josué. E, dessa forma, o profeta midianita Balaão, de grande renome, sobre quem as escrituras sagradas disseram em seus textos “veio sobre ele o Espírito de Deus”, passou à posteridade como sinônimo de heresia, conforme Apocalipse 2:14, que diz: “Entretanto, algumas coisas tenho contra ti; porque tens aí os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, introduzindo-os a comerem das coisas sacrificadas a ídolos e a se prostituírem”. Tais conclusões sobre o que se diz de Balaão neste tópico podem ser abstraídas da própria Bíblia nos trechos adiante mencionados, todos dos capítulos 22, 23 e 24, do livro de Números. Vejamos. a) Quanto à nacionalidade de Balaão. Números 22:4 – Por isso Moabe disse aos anciãos dos midianitas: “Agora lamberá esta congregação tudo quanto houver ao redor de nós, como o boi lambe a erva do campo”. Números 22:7 – Então foram-se os anciãos dos moabitas e os anciãos dos midianitas com o preço dos encantamentos nas suas mãos; e chegaram a Balaão, e disseram-lhe as palavras de Balaque. b) Quanto ao prestígio de Balaão. Números 22:14-15 – E levantaram-se os príncipes dos moabitas, e disseram: Balaão recusou vir conosco. Porém Balaque tornou a enviarmais príncipes, mais honrados do que aqueles. c) Quanto à autoridade profética de Balaão. Números 22:9 – E veio Deus a Balaão, e disse: Quem são estes homens que estão contigo? Números 22:12 – Então disse Deus a Balaão: Não irás com eles, nem amaldiçoarás a este povo, porquanto é bendito. Números 22:20 – Veio, pois, Deus a Balaão, de noite, e disse-lhe: Se aqueles homens te vieram chamar, levanta-te, vai com eles; todavia, farás o que eu te disser. Números 23:4 – E encontrando-se Deus com Balaão, este lhe disse: Preparei sete altares, e ofereci um novilho e um carneiro sobre cada altar. Números 23:16 – E, encontrando-se Jeová com Balaão, pôs uma palavra na sua boca, e disse: Torna para Balaque, e assim falarás. Números 24:2 – E, levantando Balaão os seus olhos, e vendo a Israel, que estava acampado segundo as suas tribos, veio sobre ele o Espírito de Deus. d) Balaão invocava Deus através de holocaustos e feitiços Números 22:7 – Então foram-se os anciãos dos moabitas e os anciãos dos midianitas com o preço dos encantamentos nas suas mãos; e chegaram a Balaão, e disseram-lhe as palavras de Balaque. Números 23:1-5 – Então Balaão disse a Balaque: Edifica-me aqui sete altares, e prepara-me aqui sete novilhos e sete carneiros. Fez, pois, Balaque como Balaão dissera; e Balaque e Balaão ofereceram um novilho e um carneiro sobre cada altar. Então Balaão disse a Balaque: Fica-te junto do teu holocausto e eu irei; porventura Jeová me sairá ao encontro, e o que me mostrar te notificarei. Então foi a um lugar alto. E encontrando-se Deus com Balaão, este lhe disse: Preparei sete altares, e ofereci um novilho e um carneiro sobre cada altar. Então Jeová pôs a palavra na boca de Balaão, e disse: Torna-te para Balaque, e assim falarás. Números 23:18;20;23 – Então proferiu a sua parábola, e disse: Levanta- te, Balaque, e ouve; inclina os teus ouvidos a mim, filho de Zipor... Eis que recebi mandado de abençoar; pois ele tem abençoado, e eu não o posso revogar... Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel; neste tempo se dirá de Jacó e de Israel: Que coisas Deus tem realizado! Números 24:1-2 – Vendo Balaão que bem parecia aos olhos de Jeová que abençoasse a Israel, não se foi esta vez como antes ao encontro dos encantamentos; mas voltou seu rosto para o deserto. E, levantando Balaão os seus olhos, e vendo a Israel, que estava acampado segundo as suas tribos, veio sobre ele o Espírito de Deus. Ora, se formos estabelecer perícopes para vários dos versículos transcritos, iremos isolar frases como “Então foram-se os anciãos dos moabitas e os anciãos dos midianitas com o preço dos encantamentos nas suas mãos”, ou “Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel”, ou então “Vendo Balaão que bem parecia aos olhos de Jeová que abençoasse a Israel, não se foi esta vez como antes ao encontro dos encantamentos”. Claro está, pela análise dessas e de outras frases da chamada “Perícope de Balaão”, que este profeta era um adivinho ou feiticeiro que, segundo a Bíblia, utilizava encantamentos, que na verdade são feitiços, para falar com Deus. E Deus respondia a Balaão. E o Espírito de Deus vinha sobre Balaão. Podemos claramente perceber a forma como ocorria a invocação da divindade. Balaão oferecia holocaustos nos altares e depois se isolava para fazer seus encantamentos e assim poder falar com Deus. A ideia de que Balaão era um adivinho ou feiticeiro encontra amparo em outra passagem bíblica, mais especificamente no livro de Josué, capítulo 13, versículo 22, que diz: “Também os filhos de Israel mataram à espada a Balaão, filho de Beor, o adivinho, com os outros que por eles foram mortos”. Quanto à etimologia ou o significado da palavra encantamento, claro está que se refere a uma forma de feitiçaria. Encantamentos são feitiços que geralmente envolvem poderes mágicos, bênçãos, maldições e adivinhações. Sendo assim, Deus era invocado por Balaão através de feitiços e isso de forma alguma limitava a ação de Deus, o seu agir na história. Podemos deduzir muitas coisas dessa passagem, inclusive que feitiços e encantos nunca foram artes demoníacas, mas, antes, uma das formas pelas quais se podia falar com Deus, porque se Deus respondia através de encantamentos significa que encantamentos não eram proibidos por Deus. Se não eram proibidos, não eram pecados. E se no passado remoto encantamentos não eram pecado por quê seriam agora? Por quê Deus decidiu proibir encantamentos? Tal proibição partiu mesmo de Deus ou dos sacerdotes que queriam monopolizar os rituais de adoração a Deus? Deus mandou matar feiticeiros e adivinhos ou foram os homens que usaram o nome de Deus para assassinar possíveis adversários? 10º Israel não foi o único povo a crer em um só Deus Ao longo de milênios Israel foi considerado o único povo a desenvolver o conceito de monoteísmo sob o signo de um único Deus Supremo. Esse reconhecimento alimentou a ideia de revelação exclusiva da divindade fortalecendo o chauvinismo, o preconceito e o extremismo judaicos. Mas, até que ponto essa ideia é verdadeira? O que a Bíblia e as suas entrelinhas dizem sobre esse assunto? A Bíblia, sem dúvida, fortalece a ideia de exclusividade, pois são muitas as passagens bíblicas que afirmam que Deus escolheu Israel para honrar um compromisso que tinha assumido com seu patriarca Abraão, considerado pelas escrituras como sendo amigo de Deus. As entrelinhas, contudo, afirmam o contrário. E são várias as passagens bíblicas que corroboram esta ideia. Vamos eleger para análise apenas o dialogo entre Jefté e o Rei amonita, por ser um trecho bíblico bastante esclarecedor sobre diversos aspectos. O autor bíblico do livro de juízes afirma em Juízes, capítulo 11, versículo 12 a 28 que: 12 Depois Jefté enviou mensageiros ao rei dos amonitas, para lhe dizerem: Que há entre mim e ti, que vieste a mim para guerrear contra a minha terra? 13 Respondeu o rei dos amonitas aos mensageiros de Jefté: É porque Israel, quando subiu do Egito, tomou a minha terra, desde o Arnom até o Jaboque e o Jordão; restitui-me, pois, agora essas terras em paz. 14 Jefté, porém, tornou a enviar mensageiros ao rei dos amonitas, 15 dizendo-lhe: Assim diz Jefté: Israel não tomou a terra de Moabe, nem a terra dos amonitas; 16 mas quando Israel subiu do Egito, andou pelo deserto até o Mar Vermelho, e depois chegou a Cades; 17 dali enviou mensageiros ao rei de Edom, a dizer-lhe: Rogo-te que me deixes passar pela tua terra. Mas o rei de Edom não lhe deu ouvidos. Então enviou ao rei de Moabe, o qual também não consentiu; e assim Israel ficou em Cades. 18 Depois andou pelo deserto e rodeou a terra de Edom e a terra de Moabe, e veio pelo lado oriental da terra de Moabe, e acampou além do Arnom; porém não entrou no território de Moabe, pois o Arnom era o limite de Moabe. 19 E Israel enviou mensageiros a Siom, rei dos amorreus, rei de Hesbom, e disse-lhe: Rogo-te que nos deixes passar pela tua terra até o meu lugar. https://bibliaportugues.com/judges/11-13.htm https://bibliaportugues.com/judges/11-14.htm https://bibliaportugues.com/judges/11-15.htm https://bibliaportugues.com/judges/11-16.htm https://bibliaportugues.com/judges/11-17.htm https://bibliaportugues.com/judges/11-18.htm https://bibliaportugues.com/judges/11-19.htm 20 Siom, porém, não se fiou de Israel para o deixar passar pelo seu território; pelo contrário, ajuntando todo o seu povo, acampou em Jaza e combateu contra Israel. 21 E o Senhor Deus de Israel entregou Siom com todo o seu povo na mão de Israel, que os feriu e se apoderou de toda a terra dos amorreus que habitavam naquela região. 22 Apoderou-se de todo o território dos amorreus, desde o Arnom até o Jaboque, e desde o deserto até o Jordão. 23 Assim o Senhor Deus de Israel desapossou os amorreus de diante doseu povo de Israel; e possuirias tu esse território? 24 Não possuirias tu o território daquele que Quemós, teu deus, desapossasse de diante de ti? assim possuiremos nós o território de todos quantos o Senhor nosso Deus desapossar de diante de nós. 25 Agora, és tu melhor do que Balaque, filho de Zipor, rei de Moabe? ousou ele jamais contender com Israel, ou lhe mover guerra? 26 Enquanto Israel habitou trezentos anos em Hesbom e nas suas vilas, em Aroer e nas suas vilas em todas as cidades que estão ao longo do Arnom, por que não as recuperaste naquele tempo? 27 Não fui eu que pequei contra ti; és tu, porém, que usas de injustiça para comigo, fazendo-me guerra. O Senhor, que é juiz, julgue hoje entre os filhos de Israel e os amonitas. 28 Contudo o rei dos amonitas não deu ouvidos à mensagem que Jefté lhe enviou. Ora, se fizermos uma análise do verso 24 poderemos constatar que Jefté, na verdade, não possuía um conceito de monoteísmo, mas de henoteísmo. Senão vejamos. Façamos uma perícope do verso 24 que diz: “Não possuirias tu o território daquele que Quemós, teu deus, desapossasse de diante de ti? assim possuiremos nós o território de todos quantos o Senhor nosso Deus desapossar de diante de nós”. Desta feita, Jefté não só está dizendo que existe outro deus além de seu deus nacional Jeová, como também está afirmando que esse deus é o deus nacional dos amonitas. https://bibliaportugues.com/judges/11-20.htm https://bibliaportugues.com/judges/11-21.htm https://bibliaportugues.com/judges/11-22.htm https://bibliaportugues.com/judges/11-23.htm https://bibliaportugues.com/judges/11-24.htm https://bibliaportugues.com/judges/11-25.htm https://bibliaportugues.com/judges/11-26.htm https://bibliaportugues.com/judges/11-27.htm https://bibliaportugues.com/judges/11-28.htm Se analisarmos outras passagens bíblicas, iremos constatar também que vários outros povos, assim como Israel, possuíam deuses nacionais. A título de exemplificação, podemos citar os vizinhos mais próximos de Israel, como os filisteus, cujo deus era Dagon. Além disso, Baal, Moloque e o próprio Quemós, eram divindades adoradas por mais de uma nação. Na pedra moabita, produzida por ordem do rei Mesha, de Moabe, é possível encontrar referência ao deus Quemós, cuja cosmogonia e sistemas de crenças e rituais não diferia muito do javismo, a crença em Jeová, deus nacional dos antigos hebreus, a partir do início do século VIII antes de Cristo. 11° Deus nunca mandou assassinar crianças (I Samuel 15) Esta, talvez seja a passagem mais polêmica da Bíblia que, ao longo de milênios, dividiu as opiniões de teólogos e demais estudiosos dos textos bíblicos, e que tem causado horror entre ateus e pessoas de outras religiões. A história das guerras entre Israel e Amaleque são bastante conhecidas e perpassam vários textos bíblicos. Em alguns desses textos Jeová tinha uma rixa com uma nação chamada Amaleque e, por conta dessa rixa, manifestou o forte desígnio de se vingar, riscando essa nação de sobre a face da terra. No primeiro livro de Samuel, capítulo 15, encontramos um suposto diálogo entre o profeta Samuel e o rei Saul, que a Bíblia situa em um contexto de guerra entre Israel e Amaleque. Leiamos o capítulo 15 do livro de Samuel, que diz: 1 Disse Samuel a Saul: Enviou-me o Senhor a ungir-te rei sobre o seu povo, sobre Israel; ouve, pois, agora as palavras do Senhor. 2 Assim diz o Senhor dos exércitos: Castigarei a Amaleque por aquilo que fez a Israel quando se lhe opôs no caminho, ae subir ele do Egito. 3 Vai, pois, agora e fere a Amaleque, e o destrói totalmente com tudo o que tiver; não o poupes, porém matarás homens e mulheres, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos. 4 Então Saul convocou o povo, e os contou em Telaim, duzentos mil homens de infantaria, e mais dez mil dos de Judá. 5 Chegando, pois, Saul à cidade de Amaleque, pôs uma emboscada no vale. https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-2.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-3.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-4.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-5.htm 6 E disse Saul aos queneus: Ide, retirai-vos, saí do meio dos amalequitas, para que eu não vos destrua juntamente com eles; porque vós usastes de misericórdia com todos os filhos de Israel, quando subiram do Egito. Retiraram- se, pois, os queneus do meio dos amalequitas. 7 Depois Saul feriu os amalequitas desde Havilá até chegar a Sur, que está defronte do Egito. 8 E tomou vivo a Agague, rei dos amalequitas, porém a todo o povo destruiu ao fio da espada. 9 Mas Saul e o povo pouparam a Agague, como também ao melhor das ovelhas, dos bois, e dos animais engordados, e aos cordeiros, e a tudo o que era bom, e não os quiseram destruir totalmente; porém a tudo o que era vil e desprezível destruíram totalmente. 10 Então veio a palavra do Senhor a Samuel, dizendo: 11 Arrependo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir, e não cumpriu as minhas palavras. Então Samuel se contristou, e clamou ao Senhor a noite toda. 12 E Samuel madrugou para encontrar-se com Saul pela manhã; e foi dito a Samuel: Já chegou Saul ao Carmelo, e eis que levantou para si numa coluna e, voltando, passou e desceu a Gilgal. 13 Veio, pois, Samuel ter com Saul, e Saul lhe disse: Bendito sejas do Senhor; já cumpri a palavra do Senhor. 14 Então perguntou Samuel: Que quer dizer, pois, este balido de ovelhas que chega aos meus ouvidos, e o mugido de bois que ouço? 15 Ao que respondeu Saul: De Amaleque os trouxeram, porque o povo guardou o melhor das ovelhas e dos bois, para os oferecer ao Senhor teu Deus; o resto, porém, destruímo-lo totalmente. 16 Então disse Samuel a Saul: Espera, e te declararei o que o Senhor me disse esta noite. Respondeu-lhe Saul: Fala. 17 Prosseguiu, pois, Samuel: Embora pequeno aos teus próprios olhos, porventura não foste feito o cabeça das tribos de Israel? O Senhor te ungiu rei sobre Israel; https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-6.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-7.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-8.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-9.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-10.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-11.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-12.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-13.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-14.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-15.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-16.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-17.htm 18 e bem assim te enviou o Senhor a este caminho, e disse: Vai, e destrói totalmente a estes pecadores, os amalequitas, e peleja contra eles, até que sejam aniquilados. 19 Por que, pois, não deste ouvidos à voz do Senhor, antes te lançaste ao despojo, e fizeste o que era mau aos olhos do Senhor? 20 Então respondeu Saul a Samuel: Pelo contrário, dei ouvidos à voz do Senhor, e caminhei no caminho pelo qual o Senhor me enviou, e trouxe a Agague, rei de Amaleque, e aos amalequitas destruí totalmente; 21 mas o povo tomou do despojo ovelhas e bois, o melhor do anátema, para o sacrificar ao Senhor teu Deus em Gilgal. 22 Samuel, porém, disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à voz do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, do que a gordura de carneiros 23 Porque a rebelião é como o pecado de adivinhação, e a obstinação é como a iniqüidade de idolatria. Porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou, a ti, para que não sejas rei. 24 Então disse Saul a Samuel: Pequei, porquanto transgredi a ordem do Senhor e as tuas palavras; porque temi ao povo, e dei ouvidos a sua voz. 25 Agora, pois, perdoa o meu pecado, e volta comigo, para que eu adore ao Senhor.26 Samuel porém disse a Saul: Não voltarei contigo; porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, e o Senhor te rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre Israel: 27 E, virando-se Samuel para se ir, Saul pegou-lhe pela orla da capa, a qual se rasgou. 28 Então Samuel lhe disse: O Senhor rasgou de ti hoje o reino de Israel, e o deu a um teu próximo, que é melhor do que tu. 29 Também aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrepende, por quanto não é homem para que se arrependa. 30 Ao que disse Saul: Pequei; honra-me, porém, agora diante dos anciãos do meu povo, e diante de Israel, e volta comigo, para que eu adore ao Senhor teu Deus. https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-18.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-19.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-20.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-21.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-22.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-23.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-24.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-25.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-26.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-27.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-28.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-29.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-30.htm 31 Então, voltando Samuel, seguiu a Saul, e Saul adorou ao Senhor. 32 Então disse Samuel: Trazei-me aqui a Agague, rei dos amalequitas. E Agague veio a ele animosamente; e disse: Certamente já passou a amargura da morte. 33 Disse, porém, Samuel: Assim como a tua espada desfilhou a mulheres, assim ficará desfilhada tua mãe entre as mulheres. E Samuel despedaçou a Agague perante o Senhor em Gilgal. 34 Então Samuel se foi a Ramá; e Saul subiu a sua casa, a Gibeá de Saul. 35 Ora, Samuel nunca mais viu a Saul até o dia da sua morte, mas Samuel teve dó de Saul. E o Senhor se arrependeu de haver posto a Saul rei sobre Israel. Agora, isolemos o verso 3, que diz: “Vai, pois, agora e fere a Amaleque, e o destrói totalmente com tudo o que tiver; não o poupes, porém matarás homens e mulheres, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos”. O resto da história todos nós sabemos. Saul guerreou contra os amalequitas, derrotou seu exército, invadiu suas aldeias e assassinou homens, mulheres, crianças de peito e até animais. Mas Deus se irou contra Saul porque ele poupou a vida do rei Agague, que foi esquartejado pelo profeta Samuel, e dos melhores bois, com os quais pretendia fazer sacrifícios a Jeová. Teólogos fundamentalistas, que defendem a interpretação literal dos textos bíblicos, afirmam que regras de moralidade não podem se aplicar a Jeová porque ele, sendo deus, está acima das leis. Também dizem que todos os inocentes assassinados em seu nome e mediante suas ordens foram compensados com a graça de sua salvação eterna; que os amalequitas foram exterminados – mesmo crianças de peito e pessoas inocentes – porque eram uma nação promíscua que poderia fazer com que os israelitas se desviassem de Jeová para adorar outros deuses. Usam de todos os argumentos e hipóteses para tentar justificar uma incongruência grave dos textos bíblicos. Não levam em consideração a dor e o sofrimento humano, e até mesmo a dor e o sofrimento de animais inocentes. Chegam ao ponto de dizer que Jeová encara a morte e o sofrimento por uma perspectiva diferente da perspectiva humana. https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-31.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-32.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-33.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-34.htm https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-35.htm Estes teólogos fundamentalistas transformam seu deus Jeová em um deus psicopata. Um ser maléfico e pretensamente superior, que pensa que porque criou a vida a pode tirar; porque fez o corpo o pode desmembrar; porque deu o folego de vida pode fazer sofrer; porque criou a alma pode causar-lhe sofrimento eterno. Além disso, sua visão de seu deus Jeová é intrinsecamente paradoxal, pois limitam sua divindade e onipotência quando não lhe dão outras opções de ação, como se a divindade estivesse sujeita a uma única forma de promover sua Justiça ou de fazer conhecer a sua grandeza. Entrementes, a própria Bíblia dá pistas em direção contrária. O apóstolo Paulo compreendendo bem certas questões, deixou registrado em Romanos 12: 19, os seguintes dizeres: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor”. Ora, se é assim como o Apóstolo diz, citando passagem do antigo testamento, que todo o mal que se fizer aos inocentes, que toda ofensa que for manejada contra os escolhidos de Deus ou contra o seu povo são objetos da vingança de Deus, por que a ofensa de Amaleque contra Israel deveria ser vingada por Saul, ou Samuel, ou Davi, ou qualquer outra personagem bíblica? Em outro trecho da Bíblia cristã, especificamente em Lucas 9:54, encontramos Jesus repreendendo seus discípulos simplesmente porque estes lhe perguntaram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir, como Elias também fez? Ora, a atitude de Cristo, o Filho de Deus, é totalmente diferente da atitude do profeta Samuel que ordenou a Saul praticar genocídio apenas para dar cumprimento a uma ordem de Moisés. No mais, se formos levar em consideração a profecia de Balaão que diz que “Amaleque era a primeira das nações”, podemos entender mais a fundo a razão pela qual as lideranças de Israel queriam tanto a destruição dos amalequitas. Talvez pelo mesmo motivo pelo qual senadores romanos clamavam pela destruição de Cartago. 12° Os hebreus nunca atravessaram o Mar Vermelho. O maior milagre de todos os tempos pode não passar de apenas um mito antigo da cosmogonia hebraica, que foi utilizado de forma a suplementar acontecimentos históricos acerca da fuga dos hebreus do Egito, senão, vejamos. Estabeleçamos uma perícope a partir do capítulo 11, do livro de Juízes, com delimitação em seus versículos 15 e 16. Capítulo 11 Versículo 15 – dizendo-lhe: Assim diz Jefté: Israel não tomou nem a terra dos moabitas nem a terra dos filhos de Amom; Versículo 16 – porque, subindo Israel do Egito, andou pelo deserto até ao mar vermelho e chegou a Cades. Isolemos as frases “Israel não tomou nem a terra dos moabitas nem a terra dos filhos de Amom”, do versículo 15, e “subindo Israel do Egito, andou pelo deserto até ao mar vermelho e chegou a Cades”, do versículo 16, chegaremos à conclusão de que nunca houve uma travessia do Mar Vermelho. A análise é a seguinte: Jefté, em resposta ao rei de Amom, fez uma longa explanação sobre as andanças de Israel pelo deserto citando vários fatos e eventos históricos. Porém, em nenhum momento Jefté faz menção de uma travessia. Na realidade, o percurso mencionado por Jefté não tornaria necessário realizar uma travessia do mar Vermelho. Isso inclusive é corroborado pela ausência de vestígios arqueológicos. É inconcebível, que uma população de aproximadamente dois milhões de israelitas, que vagaram por 40 anos pelo deserto do Sinai, não tenha deixado um único rastro de sua passagem. Nenhuma cerâmica, nenhuma construção, nenhuma mudança no solo, nenhuma alteração na paisagem, nem restos de fogueira. Nada. Simplesmente nada! E a Bíblia, em outro texto de Êxodo, continua o seu relato. Em sua fuga do Egito os hebreus evitaram seguir pela via Maris, a conhecida estrada dos filisteus, para não baterem de frente com os muros do Príncipe, que eram um conjunto de guarnições egípcias que policiavam as fronteiras com a Filistéia. Seguiram para o deserto, pelas bordas do Mar Vermelho, de onde fizeram uma inflexão em direção às fronteiras dos reinos de Edom e Moabe, conforme o relato de Jefté. A partir desse ponto dar-se-ia uma série de embates bélicos de Israel com reinos
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