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Nas Entrelinhas da Bíblia - PDF

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leman_cereja@yahoo.com.br 
 
Nas Entrelinhas da Bíblia 
 
 
Apresentação 
 
Pode-se definir o mundo hoje como um turbilhão de culturas, crenças e 
religiões em um movimento constante e contínuo de idas e vindas que afetam e 
marcam para sempre a vida de todos os habitantes do planeta. Misturados a 
esse turbilhão estão a ciência, o ateísmo e o fundamentalismo religioso, todos 
estes, comumente, em rota de colisão. 
 
O fundamentalismo religioso, entretanto, grande perigo traz a todas as 
sociedades humanas, disseminando desinformação, extremismo, chauvinismo e 
toda forma de preconceitos. 
 
Ocorre, que tal fundamentalismo é alimentado por interpretações 
errôneas das escrituras, baseadas em leituras acríticas dos textos bíblicos. 
 
Portanto, a razão de ser desta obra, salientamos, não é abalar ou injuriar 
a fé de ninguém, mas, pelo contrário, difundir a leitura crítica da Bíblia através 
da qual todos possam fortalecer sua fé no Criador. 
 
 
I – Introdução 
 
O planeta terra, em plena alvorada do século XXI, tem quase oito bilhões 
de habitantes, com seus falares, fazeres, culturas e religiões. A religião com o 
maior número de seguidores, segundo alguns autores, é o cristianismo, que se 
distende em diversos seguimentos, sendo de perto seguida pelo islamismo, 
hinduísmo, budismo e judaísmo, cada qual reivindicando para si a revelação 
exclusiva da divindade. 
 
Mas, ao que tudo indica, essa revelação da divindade não ocorreu, como 
fazem supor alguns escritos antigos (A Bíblia), ao longo de algum tempo para 
um único povo ou nação (Israel). Ela foi evolutiva, e também uma experiência 
subjetiva para todos os povos, pois, desde a pré-história, o homem tem sempre 
procurado estabelecer algum tipo de vínculo com a divindade. 
 
A divindade, ou Deus, ou Brahma, ou Nirvana, ou Jeová, dependo da fé 
que se professa, não possui uma definição exata, equacionada e única. É uma 
ideia complexa, repleta de meandros, significados, alegorias e figuras mentais 
que beiram o infinito. 
 
A Bíblia Sagrada, o livro mais lido de todos os tempos, ajudou em muito 
na construção da definição de Deus, razão, pela qual, iremos abordá-la por 
múltiplos vieses. 
 
mailto:leman_cereja@yahoo.com.br
Vale ressaltar, entretanto, que a Bíblia também não possui uma única 
definição de Deus. Foram várias definições que foram construídas ao longo da 
história dos hebreus. 
 
Nosso objetivo, nesta humilde obra, jamais será o de esgotar o assunto 
– seria muita arrogância de nossa parte – mas de ajudar o leitor a entender uma 
pequena parte dessa complexidade chamada Deus. 
 
Por esse motivo, esta será, talvez, a única obra sobre Deus que irá 
terminar sem uma conclusão e sem quaisquer considerações finais de natureza 
teológica ou científica. 
 
 
II – O Monoteísmo de Israel e das Sociedades Primitivas 
 
Se para alguns teólogos, a fé na divindade iniciou na forma de 
monoteísmo – que pressupõe a crença em um único Deus Verdadeiro – e depois 
se desdobrou em politeísmo (crença em vários deuses), como se este fosse uma 
apostasia daquele, para outros, o homem nunca deixou de acreditar em um Deus 
Altíssimo, Elevado e Supremo, apesar de compartilhar da crença em diversos 
deuses menores (henoteísmo). 
 
Isso tem sido corroborado por vários estudiosos do sagrado, os quais 
com base em evidências arqueológicas e estudos antropológicos, têm afirmado 
que os povos primitivos, apesar de não o adorarem mais, nunca deixaram de 
conceber a ideia de um único Deus Criador. 
 
Ocorre que, segundo vasta literatura sobre o assunto, essas sociedades 
primitivas, ao passo que se foram tornando complexas, passaram a atribuir a 
divindade uma pluralidade de funções que, posteriormente, evoluiu para uma 
pluralidade de deuses. 
 
Quando as sociedades humanas eram pequenas, primitivas e menos 
complexas havia a ideia da existência de um único Deus Supremo, responsável 
por todos os fenômenos da natureza, que regulava as tarefas diárias e 
abençoava todos os membros da tribo. Na medida em que suas tarefas e fazeres 
se diversificaram e os seus clãs aumentaram em número, foram surgindo deuses 
especializados em funções determinadas. 
 
Dessa forma, como o homem em seu estado natural só concebia o 
mundo físico através do mundo espiritual, apareceram os deuses da 
tempestade, do trovão, da pesca, da caça, da agricultura, da navegação, da arte, 
do amor, da guerra, da cura, entre outros. 
 
As primeiras sociedades humanas, então, progressivamente evoluíram 
para o politeísmo. Mas, entranhado no seio da crença em diversos deuses, havia 
um monoteísmo residual, arcaico, imemorial, que nascera junto com essas 
populações e que, ao longo de milênios, perdera-se nas brumas do tempo. 
 
Como se vê, o monoteísmo não parece ter sido uma singularidade dos 
antigos hebreus, que reivindicavam para si a revelação exclusiva de Deus. Na 
realidade, o próprio Israel antigo não parece ter sido uma nação exclusivamente 
monoteísta, uma vez que é possível encontrar nos textos da própria Bíblia uma 
clara dicotomia entre o monoteísmo javista e o politeísmo eloísta, que perdurou 
durante vários séculos até o estabelecimento definitivo do culto a Jeová em 
substituição ao culto a Elohim. 
 
Se Israel, no momento de seu nascimento como nação adorava um 
único Deus e depois, ao longo da monarquia, tornou-se politeísta, como afirma 
a própria Bíblia, corroborada pela arqueologia com base em diversos achados, 
disso não se sabe absolutamente nada. Tampouco há quaisquer outras 
comprovações que possam apoiar tal afirmação. 
 
III – Os Antigos Deuses Hebreus 
 
Tudo o que se sabe, no entanto, é que Jeová não foi o único Deus 
Supremo adorado pelos antigos hebreus. Antes dele El ou Elohim, em sua forma 
majestática, o deus pai da cosmogonia canaanita, tinha proeminência nos cultos 
realizados nos antigos templos judaicos bem como nos templos de outros países 
de Canaã, vizinhos de Israel e de Judá. 
 
Não se sabe, porém, se El foi adorado no Templo Central da cidade de 
Jerusalém, supostamente construído, segundo a Bíblia, por Salomão por volta 
do ano de 930 a.C. Não se sabe, nem mesmo, se esse Templo Central chegou 
a existir naquela época tão remota. 
 
Mas, o que se sabe, é que o próprio nome Israel é um teofórico ou 
teonímo – como se diz em linguagem teológica – que contém a palavra El, 
indicando, assim, o nome do deus que deu origem ao povo hebreu. 
 
Jeová, sequer foi o segundo deus adorado pelos hebreus. Antes de 
Jeová e depois de El, o deus reverenciado nos cultos dos israelitas era Baal, que 
na mitologia de Canaã figurava no panteão divino como filho de Elohim, e era 
responsável por algumas funções como a tempestade e a guerra. 
 
Segundo historiadores, como Baal era o deus da guerra, ele teria sido, 
em tempos de conflito, adorado por todo o povo israelita e, inclusive, segundo a 
leitura que fizemos da própria Bíblia, pelo famoso rei Davi, fundador da dinastia 
davídica, cujo nome, de acordo com as escrituras, não era Davi, que 
possivelmente é um nome que se aproxima do significado de “Amado”, mas El 
Hanã, que significa “Deus da Graça”. 
 
Alguém poderá indagar como chegamos a essas conclusões. Simples, 
através de estudos e investigações de autores consagrados dos ramos da 
história e da arqueologia, mas, principalmente, de estudos e investigações dos 
próprios textos bíblicos. 
 
A Bíblia é um livro milenar, multifacetado, muito antigo e também muito 
complexo. Seus escritos são um amontoado caótico de vários textos que 
juntaram inúmeras tradições. Acerca dela cabe um capítulo inteiro, sobre o qual 
trataremos mais à frente. 
 
Além de El, Baal e Jeová, os hebreus adoravam também uma deusa 
chamada Asherah, que correspondia à Astarte dos antigos assírios ou Ishitar dos 
antigos caldeus. Asherah inicialmente foi esposa de El e mãe de Ball. Juntos, 
eles constituíam uma única divindade chamada de Elohim. 
 
Portanto, Elohim, tanto é a forma majestática pela qual os antigos 
hebreus se referiam a Deus,como também a forma plural pela qual se referiam 
a El, Baal e Asherah. Na tardia religião javista Asherah passou a ser adorada 
como esposa de Jeová. 
 
Apoiam nossa afirmação centenas de figuras de barro de deusas e 
inscrições encontradas em Kuntillet Ajrud, um sítio do século VIII a.C., situado a 
nordeste do Sinai, que sugeriam que Asherah era esposa de Jeová. Acerca 
disso, trataremos também mais um pouco à frente. 
 
IV – Jeová Entra Em Cena 
 
Ora, se El e Baal, que na mitologia cananéia ou canaanita, como se 
queira, representavam deus pai e deus filho, foram os primeiros deuses dos 
antigos hebreus, de onde surgiu a divindade Jeová? 
 
Para que possamos responder a essa indagação é necessário 
percorrermos um longo caminho no passado longínquo. 
 
Arqueólogos dizem que as divindades das primitivas religiões 
xamânicas, de povos caçadores/coletores que viveram há 17 mil anos, eram 
masculinas e suas funções mágicas estavam ligadas à caça e a pesca. 
 
Alguns milênios depois, com o advento da revolução agrícola, por volta 
de 5 mil anos a.C., as divindades tornaram-se femininas, vinculadas à terra que, 
como uma mãe, nutria e sustentava todos os seres. 
 
Por algum motivo, que não se sabe ao certo, a divindade deixou de ser 
feminina e voltou a ser masculina. Masculina, vulcânica e patriarcal. 
 
Historiadores falam que esse fenômeno religioso provavelmente está 
ligado à eclosão de atividades vulcânicas por todo o planeta – não se sabe ao 
certo quando todas elas ocorreram – que causaram cataclismos naturais e 
convulsões sociais em todas as sociedades primitivas. 
 
Na região do Mediterrâneo e do Levante, que são o foco deste livro, 
supõe-se que a erupção do vulcão Téra, da ilha de Santorini, que supostamente 
ocorreu em torno de 1.550 a.C., tenha abalado as estruturas políticas, 
econômicas, sociais e religiosas de vários povos mediterrânicos com impacto 
direto também em povos da região do Nilo, da Península Arábica e do Levante. 
Como a Deusa Mãe teria sido incapaz de livrar os homens do poder das 
erupções vulcânicas, estes passaram a adorar e a sacrificar aos deuses 
vulcânicos e paternos na esperança de aplacar sua fúria e ciúme. 
 
Entrementes, o sagrado feminino não morreu. Ele continuou vivo nas 
várias manifestações religiosas e culturais que sucederam ao aparecimento dos 
deuses vulcânicos e patriarcais, interagindo com estes nas diversas 
cosmogonias dos povos antigos, porém, deixadas em segundo plano. 
 
Jeová, provavelmente, teria sido um desses deuses vulcânicos, que 
estabeleceu o seu culto entre etnias que naquele tempo viviam na antiga região 
de Midiã, um país de relevo montanhoso que possuía vulcões, alguns deles em 
atividade na época de Moisés. 
 
Embora a própria Bíblia Sagrada nos dê algumas pistas, ainda hoje, 
permanece um mistério para a arqueologia a origem do culto ao deus Jeová. 
 
Não se sabe se esse deus Jeová veio do Mediterrâneo, ou se veio da 
Península Arábica, ou de qualquer outro lugar. Pode-se falar em especulações, 
acerca das quais passaremos a escrever a partir de agora. 
 
V – Jeová e os Povos do Mar na Região do Levante 
 
Evidências textuais extraídas da própria Bíblia apontam para o fato de 
que Jeová era um deus vulcânico adorado pelos antigos midianitas – lembram-
se da história de Moisés que falou com Deus em uma sarça ardente no cume de 
uma montanha situada no território de Midiã? 
 
Seu culto talvez tivesse uma origem autóctone, ou talvez tivesse sido 
introduzido em Midiã por povos do mar que, por volta de 1.550 a.C., fugiram após 
a erupção de Santorini, ou talvez depois, por volta de 1.200 a.C., quando esses 
povos migraram da região do mar Egeu, pressionados por uma coligação de 
países supostamente liderada por príncipes troianos, após a destruição da 
cidade de Tróia, níveis estratigráficos VI e VII. 
 
Essa pressão bélica supostamente está relacionada à guerra causada 
pelos Aqueus, antigos gregos, e parece ter sido, ao que tudo indica, um contra-
ataque em resposta à destruição da cidade de Tróia e também para recuperar o 
domínio de antigas rotas comerciais. 
 
Ao serem expulsos do Egeu pela coligação troiana os povos do mar 
saíram invadindo, arrasando e destruindo tudo o que havia em seu caminho. 
Chegaram até o Egito e Canaã. Cogita-se se Jeová estava entre eles. 
 
Este evento da invasão do Egito e de Canaã por povos do mar foi tão 
significativo que sinalizou o fim da idade do bronze, e a introdução, na vasta 
região do crescente fértil, da fundição do ferro, que, na prática da guerra, conferia 
superioridade bélica aqueles que detinham o conhecimento da fabricação de 
armas fundidas em aço, muito mais resistentes que as fabricadas em bronze. 
 
Esses misteriosos invasores aterrorizaram egípcios, hititas e outros, com 
suas armas e suas táticas de guerra. Segundo o historiador Marcos Davi Duarte 
da Cunha, em seu artigo para a NEArco, revista eletrônica de Antiguidade, P. 
04: 
 
“Uma estratégia de combate que certamente foi aplicada era a 
de ‘formações de falanges’, tropas a pé em fileiras bem 
escamoteadas e perfiladas em posições que exigem disciplina 
e coordenação do grupo. Esta formação podia se mover e 
mudar seu contorno de acordo com a manobra inimiga. Se 
fosse um ataque de tropas a pé a formação se fechava numa 
muralha de escudos e fustigando os adversários com suas 
lanças. Se caso o ataque viesse na forma de carros de 
combate a falange se posicionava em forma de escaramuças 
em delta (ou diamante) permitindo assim que as montarias 
adentrassem por entre os pelotões sendo atacadas pelos 
lados em combate aproximado, algo mortal para os carros que 
eram eficientes numa batalha campal em forma de carga. Aos 
raros que conseguissem atravessar as impetuosas lanças nos 
vazios daquele ardil eram alvejados pelas setas em sua 
retaguarda ou atacados por batedores de flancos armados 
com suas espadas de aço longas contra as egípcias em curva 
e de bronze, algo jamais visto nos conflitos até então”. 
 
Desta feita, as superpotências do mundo antigo foram abaladas até a 
alma. Algumas sucumbiram ao poder dos invasores, como Hatti, país dos 
terríveis guerreiros hititas. Outras, como o Egito, só ao custo de muitas vidas e 
muito sacrifício, conseguiram derrotá-los ou expulsa-los de seu território. 
 
Fontes documentais, encontradas no Egito e no país de Hatti, afirmam 
que este bloco de guerra era formado por 10 etnias diferentes da região do Egeu. 
Arqueólogos, historiadores e a Bíblia também dizem que os filisteus, inimigos 
épicos dos hebreus, eram originários da ilha de Creta. Parece que eles 
compunham uma confraria de povos do mar invasores do Egito e de Canaã. Mas 
Israel, que mais ou menos nessa mesma época é citada em fontes egípcias, de 
onde veio? 
 
Existem fundadas suspeitas de que o povo de Israel, que se estabeleceu 
em Canaã por volta de 1.200 a.C., seja uma amálgama de etnias e de culturas 
oriundas de povos autóctones do Oriente Médio e gentes de outras regiões, tais 
como o Mediterrâneo, o Egeu e o Egito, daí a variedade de deuses e de cultos 
do antigo Israel. 
 
A Bíblia faz uma menção a Israel e à invasão do Egito por outros povos 
em um contexto de guerra. Mas é uma menção muito distante no tempo e muito 
superficial da parte de quem a escreveu. 
 
Em êxodo, capítulo 1, versículos 8, 9 e 10, ela diz: 
 
“Entrementes, se levantou novo rei sobre o Egito, que não 
conhecera José. Ele disse ao seu povo: Eis que o povo dos 
filhos de Israel é mais numeroso e mais forte do que nós. Eia, 
usemos de astúcia para com ele, para que não se multiplique, 
e seja o caso que, vindo guerra, ele se ajunte com os nossos 
inimigos, peleje contra nós e saia da terra”. 
 
Desse modo, com base em fontes bíblicas, arqueológicas e históricas, é 
possível supor a procedência dos filisteus, os quais provavelmente teriam saído 
da ilha de Creta ou arredores para o Egito de onde foram expulsos para Canaã. 
Mas em relação a Israel, que é citado nas mesmas fontes egípcias,não se pode 
afirmar com total certeza se era procedente do Egeu ou de outra região entre o 
Crescente Fértil, a Arábia e o Mediterrâneo. 
 
Paira, contudo, a dúvida de que Israel e Jeová, o temível deus de guerra 
dos antigos hebreus, talvez sejam oriundos de algum lugar localizado às 
margens do Mediterrâneo ou do Egeu. Se Israel e Jeová já caminhavam juntos 
nessa época ou se só vieram a se encontrar muito tempo depois, disto não se 
sabe absolutamente nada. 
 
Sabe-se, contudo, que o ano de 1.200 a.C. parece constituir-se em um 
importante marco temporal, no qual uma série de eventos se sucedeu. Segundo 
a arqueologia foi nessa época que aconteceram as invasões dos povos do mar. 
Também nesse tempo israelitas e filisteus se fixaram em Canaã. E, de acordo 
com a cronologia bíblica, foi por esses séculos que Moisés saiu do Egito 
liderando um grupo de hebreus fugidos, ou expulsos, ou trânsfugas de guerra, 
não se sabe ao certo, que atravessou o deserto do Sinai fixando-se em terras 
pertencentes à Midiã, país situado às margens do Golfo de Ácaba. 
 
Existe uma outra suspeita de que esses povos do mar, muito antes do 
evento conhecido como guerra mundial zero, que foi o da guerra entre gregos e 
troianos, como já dissemos em parágrafos anteriores, tenham se deslocado de 
seus países de origem até o Levante após a erupção de Santorini, por volta de 
1.550 a.C., que provocou terremotos e tsunamis que destruíram inúmeras 
cidades costeiras ao longo do egeu e do mediterrâneo. 
 
Mas, essa suspeita ainda carece de fontes nos campos da história, da 
epigrafia, da iconografia e da arqueologia. 
 
VI – Jeová Era um Deus Midianita 
 
A partir deste ponto, saímos do terreno das especulações e passamos a 
pisar sobre chão mais firme. Em Midiã, provavelmente esses antigos hebreus 
liderados por Moisés entraram em contato com a fé javista. Pode-se dizer que o 
período em que permaneceram naquele país se constituiu em uma fase 
embrionária, na qual a adoração a Jeová foi cimentada nas mentes e nos 
corações desses nômades guerreiros. 
 
Quando partiram de Midiã em direção à Canaã, a Terra Prometida, eles 
levaram consigo, não só o desejo de conquistar, expropriar e subjugar outros 
povos, mas também sua arma de guerra mais poderosa e letal: A fé inabalável 
em seu deus guerreiro, Jeová. 
 
A arqueologia até agora não encontrou evidências de uma grande 
conquista, nos padrões que nos são apresentados pela Bíblia no livro de Josué, 
mas é certo que esses intrusos conseguiram fazer recuar uma boa parte da 
população cananéia que habitava a região do Levante, onde antes era Israel, 
estabelecendo-se, definitivamente, entre seus conterrâneos hebreus que haviam 
chegado alguns séculos atrás. 
 
Abrimos um parêntese para pedir que você imagine agora que toda a 
população afro-brasileira, descendente direta dos africanos trazidos da África, 
por algum motivo resolvesse atravessar o Atlântico, retornando ao seu 
continente de origem. Certamente, por fatores demográficos, sociais, culturais, 
linguísticos, religiosos ou políticos, essa massa humana entraria em conflito 
bélico direto com africanos naturais da terra, mas, depois de alguns séculos, 
mesclaria sua cultura, passando a compartilhar do mesmo modus vivendi. 
 
Foi o que aconteceu a esse segundo grupo de hebreus, os quais, sob 
Moisés, saíram do Egito, pervagando o deserto do Sinai e passando por Midiã, 
para reencontrarem seus outros parentes hebreus em Canaã. 
 
Assim, houve, supostamente, um encontro entre as divindades adoradas 
pelos hebreus, que já se encontravam em Canaã, El, Baal e Asheráh, com 
Jeová, que foi trazido pelos hebreus que estavam em Midiã. 
 
VII – Jeová Rumo à Supremacia 
 
Uma vez juntos e misturados, tendo uns absorvido a cultura de outros, o 
culto de Jeová foi introduzido em Canaã, rivalizando com o culto politeísta ao 
deus El, mais antigo entre o primeiro grupo de hebreus que habitavam as regiões 
de Israel situadas mais ao norte. 
 
Assim, o primeiro passo dos adoradores de Jeová foi introduzir sua 
divindade estrangeira no panteão cananeu como filho de Elohim. Mas, para isso, 
foi necessário fazer com que Jeová se apropriasse das funções de Baal, 
banindo-o do território de Israel. Assim Baal, o filho legítimo de El, foi eliminado, 
assumindo seu lugar Jeová, o filho adotivo. 
 
O segundo passo seria apropriar-se dos atributos de El e também 
renegá-lo ao esquecimento. É certo que o discurso javista foi muito mais 
poderoso que a antiga crença em El, pois, enquanto El era tido como um deus 
bom e pacífico, Jeová foi o deus que abriu o mar para que os escravos pudessem 
fugir do poderoso exército de Ramsés III, o maior soberano da época. Esse 
passo, contudo, foi mais difícil, pois o deus ancião El era muito estimado pelo 
povo do norte, e seu culto possuía raízes temporais profundas. 
 
A solução encontrada foi declarar que El e Jeová não eram dois deuses 
diferentes, mas sim um só deus. Alguma similaridade com a trindade cristã? 
 
Essa assimilação de El por Jeová aconteceu por volta da segunda 
metade do século VII a.C., com a reforma deuteronomista, realizada após a 
conquista de Israel pela Assíria, em 722 a.C., no curto reinado de Salmanaser, 
que ficou no poder por apenas cinco anos, tendo logo em seguida sido 
substituído por seu irmão Sargão II. 
 
Grande parte da população remanescente de Israel do Norte migrou 
para Judá, ao Sul, misturando-se com a população judaíta. E, essa mescla de 
gente, de culturas, crenças e cosmogonias, fez com que surgisse um culto 
sincrético resultante da fusão das duas divindades. 
 
Assim, Jeová, o deus guerreiro das tribos hebraicas oriundas do Egito e 
de Midiã, e agora situadas em Judá, ao sul de Israel, conforme veremos adiante 
no capítulo seguinte, progressivamente assume na cosmogonia israelita o posto 
de Deus Supremo, Altíssimo, Soberano, Criador do universo e mais alto e 
elevado que todos os outros deuses da terra. 
 
VIII – Jeová é um Touro – Da Idolatria ao Monoteísmo 
 
Entra em cena, por volta da primeira metade do século VII a.C., uma fase 
intermediária entre o politeísmo eloísta e o monoteísmo javista dos antigos 
hebreus. Essa fase chama-se henoteísmo. O henoteísmo, como já assinalamos 
em parágrafos anteriores, diferente do monoteísmo que supõe a existência de 
um único Deus Soberano, pressupõe a coexistência entre um Deus Alto e 
Supremo com outros deuses menores que governam o mundo ao seu lado, mas 
que lhe são em tudo subordinados. 
 
Os partidários de Jeová jamais teriam obtido êxito se se propusessem a 
expurgar El da cosmogonia israelita declarando de plano que Jeová era único 
Deus Soberano e que El era uma farsa. 
 
A estratégia que eles usaram foi fazer com que, aos poucos, El fosse 
transferindo para Jeová, seus poderes, atributos e o governo do universo. 
 
Na verdade, foi a mesma estratégia utilizada por partidários de Baal para 
entroniza-lo na cosmogonia ugarítica. 
 
Ambas as estratégias foram documentadas em textos antigos. A 
estratégia dos partidários de Baal em textos ugaríticos e a estratégia de 
partidários de Jeová nos textos hebraicos da Bíblia. 
 
Um desses textos hebraicos, podemos encontrar em Salmo 82, cujo 
conteúdo transcrevemos abaixo: 
 
Verso 1 – Salmo para Asaf. Elohim está em pé no concílio de El. No meio 
dos Elohim ele julga: 
 
Verso 2 – Até quando, vós defendereis e as faces dos malvados 
erguereis? Selah 
 
Verso 3 – Defendei o miserável e o órfão; o oprimido e o empobrecido 
fazei justiça! 
 
Verso 4 – Livrai o miserável e o oprimido; das mãos dos malvados tirai-
os! 
 
Verso 5 – Eles não conhecem e não entendem; na escuridão eles 
andam. Abalam-se todos os fundamentos da terra. 
 
Verso 6 – Eu disse: Elohim sois vós e filhos de Elyon todos vós. 
 
Verso 7 – Contudo, como homens morrereis e como príncipes caireis. 
 
Verso 8 – Levanta-te, Elohim, julgue a terra. Eis! Todas as nações são 
tua propriedade. 
 
Dessa forma, como se por procuração, El transferiu o governo paraJeová e Jeová, após julgar todos os outros deuses, ocupou o centro da criação. 
Agora, entronizado em seu trono cósmico, ele mandava e desmandava sobre 
todos os outros deuses das nações estrangeiras e sobre todas as forças 
regentes do universo. Nenhuma folha caia ou nenhum fio de cabelo se perdia se 
não fosse pela vontade soberana de Jeová. 
 
Como vimos pela leitura do Salmo 82, a essa altura Jeová já havia 
eliminado seu irmão mais velho Baal e usurpado o trono cósmico de seu pai El. 
Jeová apropriou-se até mesmo da esposa de El, a deusa mãe Asheráh, que 
posteriormente seria eliminada da cosmogonia hebraica. 
 
Mas não foram apenas o trono e a esposa os únicos a serem 
açambarcados. A representação zoomórfica de El também passou para Jeová. 
 
El, que era uma divindade senil de cabelos brancos e doce candura, 
também era representado em tempos pretéritos entre o antigo povo hebreu e 
entre os povos canaanitas, seus contemporâneos, por um touro, da mesma 
forma que Jeová passou a ser adorado. Lembram-se da história do bezerro de 
ouro e de como Arão, irmão de Moisés a ele se referiu quando fazia seu convite 
público? Arão disse simplesmente: “Amanhã, haverá festa para Jeová”. 
 
Isso mesmo, Jeová era um touro, que a Bíblia pejorativamente chamou 
de bezerro. Posteriormente, após a queda de Israel, quando os israelitas já se 
haviam tornado judeus, a representação idolátrica de Jeová na forma de touro 
foi abolida e a história da adoração ao bezerro de ouro foi demonizada. 
 
A abolição das representações imagéticas ou idolátricas de Jeová 
aconteceu quase ao mesmo tempo em que os cultos a deusa mãe Asheráh, ex-
esposa de El e até então esposa de Jeová, foram para sempre suprimidos da 
história religiosa de Israel. 
 
A explicação para essa ação levada a efeito pelo rei Josias, partidário de 
Jeová, orbita a esfera política. O Estado de Judá sofria pressões imperialistas de 
grandes potências estrangeiras e o politeísmo dessas potências dividia o povo 
judeu em diversas facções religiosas e políticas. Essas divisões colocavam em 
xeque a soberania do Estado judeu. 
 
Portanto, o rei não poderia contemporizar com os cultos a diversos 
deuses que dividiam a população da terra em diferentes partidos religiosos. Era 
necessário criar uma unidade religiosa, populacional, política e bélica. O lema a 
ser adotado seria: Um só Deus, um só povo e um só exército. 
 
A estratégia muito bem elaborada transformou El, de Deus Criador, 
Supremo e Soberano, em um substantivo, enquanto Jeová assumiu todos os 
seus poderes e atributos. 
 
Foi por isso que Jeová, tendo se tornado o Deus Altíssimo dos judeus, 
conseguiu eliminar da cosmogonia judaíta a adoração a todos os demais deuses 
menores, reinando a partir de então sozinho e absoluto. 
 
Mas a estratégia não deu certo por causa do exacerbado chauvinismo 
que isolava os judeus de outros povos e, em 565 a.C., o Estado de Judá caiu 
nas mãos de Nabucodonosor, rei da Babilônia, que deportou os judeus para a 
Mesopotâmia onde iriam ficar durante setenta longos anos. 
 
Também foi lá que os judeus, em contato com o masdeísmo e as demais 
crenças dos povos mesopotâmicos, aprimoraram ainda mais o seu monoteísmo 
e incorporaram os mitos fundadores do mundo, que encontramos no livro de 
Genesis e nos outros livros do Pentateuco, de acordo com uma ressignificação 
mais próxima de sua visão de mundo. 
 
Alguns deuses menores foram transformados em anjos a serviço de 
Jeová. Outros, como Baal, foram transformados em demônios, como Belzebu, 
que é apenas um nome originário da forma pejorativa Baal-Zebube (Baal das 
moscas), pela qual os judeus passaram a taxar a sua antiga divindade Baal. 
 
IX – O Fascínio da Bíblia 
 
Partindo deste ponto, passaremos a falar sobre a Bíblia Sagrada, o livro 
que, em toda a história da humanidade, mais influência desempenhou sobre os 
homens. Mas por que este livro sagrado exerce, ainda hoje, tanto poder de 
persuasão? 
 
Diferente dos livros védicos do hinduísmo, do Alcorão dos mulçumanos 
e de outras fontes literárias das grandes religiões do mundo, a Bíblia possui 
plausibilidade histórica e arqueológica. 
 
Isso acontece porque ela, a Bíblia, apesar de sua linguagem mítica, foi 
construída em cima de fatos e de personagens históricos. Sim, a Bíblia não é um 
simples conto de fadas cujos enredos não possuem confirmação científica. Ao 
contrário disso, a Bíblia é até mesmo utilizada em pesquisas arqueológicas, e 
muitas das cidades, lugares, povos, acontecimentos e pessoas, que até o século 
XVIII eram considerados por muitos críticos como historíolas sem comprovação, 
hoje se sabe que existiram de verdade. 
 
Como prova do que dizemos, apenas a título de exemplificação, citamos 
aqui um trecho do livro “A Origem de Deus”, do autor Laurence Gardner, à página 
186, que diz: 
 
“Conforme narrado anteriormente, o nome de Esaú (E-as-
um) foi descoberto em 1975 nas antigas tábuas de 
TelMardikh (a antiga cidade de Ebla) na Síria, junto a 
referências a Abraão (Ab-ra-mu) e Israel (Isra-Ilu), como 
veio a ser chamado o irmão de Esaú, Jacó, após ter seu 
nome mudado por Deus em Bêth-El”. 
 
Com o desenvolvimento das ciências e o aperfeiçoamento de seus 
métodos e instrumentos de investigação tornou-se possível descobrir a verdade 
histórica acerca de muitos dos acontecimentos narrados na Bíblia. 
 
Pode-se dizer que a Bíblia é constituída por vários extratos literários que 
mesclam fatos e lugares reais com mitos. 
 
Mas, se por um lado ela possui plausibilidade histórica e arqueológica, 
por outro ela também é uma fonte de imprecisões e de incompreensões. 
 
Isso acontece porque os antigos textos hebraicos que compõem a Bíblia 
sofreram várias modificações e acréscimos ao longo dos 15 séculos em que ela 
supostamente foi construída. 
 
Abrimos outro parágrafo para pedir que você imagine uma cidade com 
uma estrutura urbana como Jericó que, segundo os cientistas, tem quase doze 
mil anos de idade. Os vestígios urbanos e prediais dos assentamentos humanos 
dos primeiros milênios de existência da cidade foram sendo soterrados pelas 
estruturas urbanas dos assentamentos dos milênios seguintes. Seus palácios, 
seus prédios, suas casas e suas ruas foram construídos em cima de edificações 
mais antigas, de tal forma que as primeiras camadas urbanas desapareceram 
para dar lugar às camadas mais recentes. 
 
Da mesma forma, como aconteceu com Jericó e outras cidades do 
mundo antigo, foram erigidos os textos Bíblicos. Verso sobre verso, capítulo 
sobre capítulo, livro sobre livro, um trecho emendado aqui outro acolá, um trecho 
suprimido aqui outro acrescentado ali. Tradições e traduções sobrepostas, 
histórias de personagens reais que ganharam uma linguagem mítica, como 
Sansão, Josué, Saul, Davi e outros. Mitos, como dito acima, criados como 
suplementos de acontecimentos reais. 
 
A Bíblia, desde a grande reforma do rei Josias, que, por sinal, havia 
sucedido às reformas religiosas dos reis Josafá (870 – 848 a.C.) e Ezequias (716 
– 687 a.C.), passou por pelo menos cinco revisões posteriores que mudaram sua 
estrutura original. A última delas é conhecida pelo nome de Septuaginta. Para 
entendermos esse processo é necessário falar sobre essas reformas, utilizando 
como fonte, inclusive, o próprio texto bíblico. 
 
X – As Reformas da Bíblia 
 
Os primeiros textos bíblicos foram supostamente produzidos no reinado 
de Davi, a partir do ano 1.010 a.C., por seus biógrafos oficiais e, neles, foram 
incorporadas várias tradições orais pelo menos cinco séculos mais antigas, que, 
apesar de seus aparentes erros históricos, buscavam retratar aquilo que os 
arqueólogos chamam de Sitz im Leben, ou seja, o contexto vital dos períodos 
pré-monárquicos de Israel. 
 
Nessa época, o deus que estava no auge era El, sendo que Baal era seu 
filho. Durante o reinado de Davi ainda não havia uma afirmação acerca da 
exclusividade de nenhum deus, e Jeová talvez nem fosse conhecido. É por essa 
razão, que Davi aparece sequestrandoos ídolos dos filisteus. Por esse mesmo 
motivo, o autor bíblico nos relata que dentro da casa de Davi havia um terafim, 
uma imagem de escultura de um deus, possivelmente Baal, tão grande que 
Mical, esposa de Davi, o deitou na cama para enganar os perseguidores que 
queriam matar Davi a mando de Saul. 
 
Parece que Davi acreditava mesmo que era um predestinado de seu 
deus Baal, tanto que mandou que seus biógrafos juntassem às narrativas sobre 
sua vida, seu reinado, suas guerras e suas façanhas, as histórias e os contos 
dos deuses de Israel e dos heróis nacionais do povo hebreu. 
 
Depois de seu início, sob Davi, esses escritos, quando ainda estava em 
curso o seu processo de construção, sofreram influências monoteístas 
decorrentes das reformas religiosas nos reinados dos reis Josafá e Ezequias. 
 
Mas, a primeira grande revisão, com impacto em sua estrutura original, 
como já se disse em capítulo anterior, foi feita por volta de 620 a.C., no reinado 
do rei Josias, e ficou conhecida pelo nome de deuteronomista. 
 
Foi a revisão deuteronomista que fez o sincretismo religioso entre o deus 
ancião El e o deus guerreiro Jeová. Os escritores deuteronomistas declararam 
no capítulo seis, versículo quatro, do livro de Deuteronômio – num de seus 
trechos mais antigos, que: “Ouve, ó Israel, Elohim e Jeová são um só 
Eloheinu”, que traduzido para o português e outras línguas mundiais significa: 
“Ouve, ó Israel, Elohim e Jeová são um só Deus”. 
 
A última grande revisão foi feita durante o reinado dos gregos. 
Conhecida como Septuaginta, a revisão grega teve por objetivo uniformizar as 
diversas tradições bíblicas conferindo aos seus escritos uma linguagem única, 
singular, linear – como se fosse possível. E foi esta última revisão que modificou 
a frase do capítulo seis, versículo quatro, do livro de Deuteronômio, para: “Ouve, 
ó Israel, Jeová, nosso Elohim, é o único Elohim”, que a Bíblia do padre João 
Ferreira de Almeida, à qual estamos habituados, traduz para: “Ouve, ó Israel, o 
Senhor, nosso Deus, é o único Senhor”. 
 
Quando estas reformas e revisões do texto bíblico chegaram ao seu fim, 
entre os séculos VI e V a.C., estavam lançadas as bases do monoteísmo judeu, 
que iria influenciar no nascimento das demais religiões monoteístas. 
 
Ocorre, portanto, que se alguém ler a Bíblia sem estar equipado de uma 
lente crítica vai entender que ela transmite, de Genesis ao Apocalipse, uma 
mensagem revestida de unicidade, logicidade, racionalidade, uniformidade e 
linearidade, que fala sobre um povo escolhido que recebeu a mensagem de um 
só Deus, único e verdadeiro. 
 
Porém, se você lançar mão dos instrumentos de crítica literária, de 
análise exegética e de hermenêutica, combinados com a leitura de livros 
históricos, antropológicos e arqueológicos, verá que a Bíblia não é o que parece 
ser ou o que teólogos e pregadores religiosos querem que você pense que ela 
é. A Bíblia é um livro muito diferente daquele pintado nos púlpitos das igrejas. 
Mas, ainda assim, ela continua sendo um livro fascinante. 
 
 
XI – O Sincretismo Bíblico 
 
Alguém poderia argumentar que o sincretismo entre El e Jeová ocorreu 
devido à similaridade de atributos das duas divindades, e que a eliminação de 
Baal por Jeová aconteceu por causa das heterogeneidades entre os predicados 
divinos de um em relação oposta ao outro. 
 
Entretanto, Baal está mais para Jeová do que Jeová para El. El era um 
ancião sábio e de cabelos brancos, considerado o criador de todas as coisas e 
pai de todos os deuses e de todos os homens. Jeová era um deus vulcânico que 
habitava o fogo no alto das grandes montanhas. Não era velho, era solteiro, não 
tinha filhos, era guerreiro. 
 
Comparar El a Jeová é o mesmo que querer traçar uma analogia entre 
o Brahma, dos hinduístas da Índia e o Makunaimã, dos índios Macuxi que 
habitam o norte do Brasil. São deuses que pertencem a visões de mundo 
totalmente diferentes. 
 
Mas, Jeová e Baal não eram tão diferentes assim. Tal como Jeová, Baal 
também não era velho e nem tinha filhos. Só que Baal acumulava algumas 
funções a mais que Jeová. Baal também era, além de deus da guerra, o deus 
das tempestades e da fertilidade. Era Baal que promovia as guerras e depois 
trazia a chuva que fertilizava os campos. Baal também teve um templo cósmico 
tal como Jeová teria alguns milênios depois. 
 
Incoerentemente, os partidários de Jeová entenderam que o deus Baal, 
adorado por seu ancestral Davi, não poderia ser fundido ou assimilado por 
Jeová, mas deveria ser banido de Israel juntamente com os demais deuses dos 
cananeus. E foi assim que em textos mais recentes encontramos, nos livros de 
Juízes, I e II Samuel, I e II Reis e I e II Crônicas, Jeová mandando destruir toda 
forma de adoração ao deus Baal. 
 
As personagens bíblicas, tradicionalmente consideradas como heróis 
nacionais, que eram adoradores de Baal, tiveram seus nomes modificados, a 
exemplo de Jerubaal que teve o nome mudado para Gideão, e El Hanã, que 
mudou para Davi. 
 
XII – Analisando o Texto Bíblico 
 
O leitor poderá dizer que nunca leu isto na Bíblia. E nós podemos afirmar 
que sim, já leu, mas estes detalhes passaram desapercebidos porque ele não 
leu a Bíblia com lentes críticas, mas apenas armado de crenças milenares, que 
lhe foram transmitidas nas escolas sabatinas ou dominicanas. 
 
Para comprovar tal afirmação, passemos à leitura e à interpretação de 
alguns trechos da Bíblia, considerados como vestígios de tradições antigas 
escritas antes da primeira reforma deuteronomista, mas cujo teor foi 
acidentalmente preservado. 
 
1° Análise: O bezerro de ouro era o próprio Jeová. 
 
Estabelecendo para análise uma perícope a partir do capítulo 32 do livro 
de Êxodo, com delimitação nos versículos 4 e 5, poderemos constatar que o 
pecado de idolatria do povo hebreu não ocorreu em função da adoração de 
deuses estrangeiros, mas de uma representação idolátrica do próprio deus 
Jeová, de acordo com o seguinte: 
 
Êxodo 32 
 
Versículo 4 – Este (Arão), recebendo de suas mãos, trabalhou o ouro 
com burril e fez dele um bezerro fundido. Então disseram: São estes, ó Israel, os 
teus deuses que te tiraram da terra do Egito. 
 
Versículo 5 – Arão, vendo isso, edificou um altar diante dele (do bezerro) 
e, apregoando, disse: Amanhã, haverá festa ao Senhor (Jeová). 
 
Pois bem, se isolarmos a frase “fez dele um bezerro fundido”, que se 
encontra no versículo 4 e as frases “edificou um altar diante dele” e “Amanhã, 
haverá festa ao Senhor”, que se acham no versículo 5, veremos que elas estão 
no singular e se referem, não a deuses estranhos, mas ao próprio deus Jeová. 
 
A confusão decorreu da tradução para o grego da palavra Elohim, 
utilizada em Êxodo para designar Deus, mas subtendida pelos tradutores como 
deuses. 
 
2° Os antigos javistas (adoradores de Jeová) faziam sacrifícios humanos. 
 
Estabelecendo para análise uma perícope a partir dos versículos 31, 34, 
39 e 40, do capítulo 11 de Juízes, encontramos o seguinte: 
 
Capítulo 11 
 
Versículo 31 – Quem primeiro da porta da minha casa me sair ao 
encontro, voltando eu vitorioso dos filhos de Amom, esse será do Senhor, e eu 
o oferecerei em holocausto. 
 
Versículo 34 – Vindo, pois, Jefté a Mispa, a sua casa, saiu-lhe a filha ao 
seu encontro, com adufes e com danças; e era ela filha única; não tinha ele outro 
filho nem filha. 
 
Versículo 39 – Ao fim dos dois meses, tornou ela para seu pai, o qual lhe 
fez segundo o voto por ele proferido; assim ela jamais foi possuída por varão. 
Daqui veio o costume em Israel. 
 
Versículo 40 – de as filhas de Israel saírem por quatro dias, de ano em 
ano, a cantar em memória da filha de Jefté, o gileadita. 
 
Isolemos as frases “Quem primeiro da porta da minha casa me sair ao 
encontro, voltando eu vitorioso dos filhos de Amom, esse será do Senhor, e eu 
o oferecerei em holocausto”, do versículo 31, a frase “Vindo, pois, Jefté a Mispa, 
a sua casa, saiu-lhe a filha ao seu encontro”, do versículo 34, e a frase“Ao fim 
dos dois meses, tornou ela para seu pai, o qual lhe fez segundo o voto por ele 
proferido”, assim, veremos que Jefté, firmou o compromisso de sacrificar uma 
das pessoas de sua casa para Jeová e que, para sua infelicidade, a pessoa 
sacrificada foi sua única filha virgem. 
 
Teólogos fundamentalistas, que de acordo com suas conveniências 
defendem uma interpretação literal da Bíblia, usam de seus malabarismos 
teológicos para afirmar que o sacrifício a que a Bíblia diz, acerca da filha de Jefté, 
foi o sacrifício de não se casar para servir a Deus por toda a sua vida. 
 
O interessante aí é que esses teólogos, que interpretam a Bíblia ao pé 
da letra, quando se deparam com um trecho ou passagem, que entra em 
contradição com o restante das escrituras, afirmam que se trata de uma 
linguagem figurada. 
 
Ocorre, porém, que essa forma de serviço exclusivo à Jeová não era 
considerada como sacrifício, mas como devoção. Tampouco era comum, no 
tempo dos juízes, mulheres adotarem o celibato. Além disso, havemos de 
considerar a etimologia da palavra holocausto, derivada do hebraico “olah”, que 
significava subir a fumaça ou queimar, em referência à queima de animais 
sacrificados. Quando as escrituras hebraicas foram traduzidas para o grego, 
durante a edição da septuaginta, os tradutores usaram uma palavra aproximada 
que significava todo-queimado. 
 
Portanto, quando a Bíblia fala em holocausto, ela está falando em 
sacrifício de verdade e não em um sacrifício figurado. 
 
Isso prova que a filha de Jefté, infelizmente, foi apunhalada, morta e 
queimada em honra ao deus Jeová. 
 
Há de se ressaltar, ainda, que a passagem de Levítico 27:28-29 
corrobora a tese dos sacrifícios humanos, pois diz: 
 
“No entanto. Nada do que alguém dedicar irremissivelmente ao Senhor, 
de tudo o que tem, seja homem, ou animal, ou campo da sua herança, se poderá 
vender, nem resgatar; toda coisa assim consagrad será santíssima ao Senhor. 
Ninguém que dentre os homens for dedicado irremissivelmente ao Senhor se 
poderá resgatar; será morto”. 
 
3° O verdadeiro nome de Davi era El Hanã. 
 
Isolemos o versículo 19, do capítulo 21, do livro de 2 Samuel, e 
encontraremos o seguinte: 
 
Capítulo 21 
 
Versículo 19 – Houve ainda, em Gobe, outra peleja contra os filisteus; e 
El Hanã, filho de Jaaré-Oregim, o belemita, feriu a Golias, o geteu, cuja lança 
tinha a haste como eixo de tecelão. 
 
Nota-se que El Hanã, assim como Davi, era natural de Belém de Judá e 
que também matou um gigante chamado Golias, que, por coincidência, também 
era geteu. 
 
A conclusão é que os dois gigantes, que tinham o mesmo nome de 
Golias, que eram geteus, na verdade, eram uma única pessoa, e que El Hanã, 
filho do belemita, era o rei Davi, de Belém de Judá. 
 
4° Davi adorava Baal e não Jeová. 
 
Vamos estabelecer para análise uma perícope do capítulo 5, do livro de 
2 Samuel, com delimitação do versículo 20. 
 
Capítulo 5 
 
Versículo 20 – Então, veio Davi a Baal-Perazim e os derrotou ali; e disse: 
Rompeu o Senhor as fileiras inimigas diante de mim, como quem rompe águas. 
Por isso, chamou o nome daquele lugar Baal-Perazim. 
 
Isolemos deste versículo as frases “Então, veio Davi a Baal-Perazim e 
os derrotou ali; e disse: Rompeu o Senhor as fileiras inimigas diante de mim” e 
“Por isso, chamou o nome daquele lugar Baal-Perazim”. 
 
Peres, em hebraico, é o infinitivo do verbo romper, em português. 
Perazim é uma flexão do verbo peres. Davi disse: “Rompeu o Senhor....” e depois 
chamou o lugar onde seu exército desbaratou o exército filisteu de Baal-Perazim, 
que significa Baal rompeu. 
 
Constata-se que o deus de Davi não era Jeová, mas Baal, pois, se fosse 
Jeová, Davi teria chamado o lugar de Jeová-Perazim, que é Jeová rompeu e não 
de Baal-Perazim. 
 
Alguém poderá argumentar que os hebreus não falavam o nome de 
Deus e que por esse motivo Davi usou o nome Baal para se referir a Deus ao 
invés do nome de Jeová. Ocorre que, na época de Davi, os hebreus não tinham 
essa tradição de não falar o nome de Deus. Tal tradição de nunca pronunciar o 
nome de Jeová pertence aos séculos V e IV a.C., que é uma época muito 
posterior ao tempo de Davi. 
 
Isso equivale dizer que Baal foi o verdadeiro deus adorado por Davi e 
não Jeová, como fazem crer os reformistas javistas do tempo de Josias, que foi 
a reforma, a partir da qual, todas as outras divindades passaram a ser suprimidas 
da memória hebraica. 
 
5° Davi, possivelmente, era manco e tinha algum problema nos olhos. 
 
Estabeleçamos para análise uma perícope a partir de 2 Samuel, Capítulo 
6, versículos 6, 7 e 8. 
 
Capítulo 6 
 
Versículo 6 – Partiu o rei com seus homens para Jerusalém, contra os 
jebuseus que habitavam naquela terra e que disseram a Davi: Não entrarás aqui, 
porque os cegos e os coxos te repelirão, como quem diz: Davi não entrará neste 
lugar. 
 
Versículo 7 – Porém, Davi tomou a fortaleza de Sião; esta é a cidade de 
Davi. 
 
Versículo 8 – Davi, naquele dia, mandou dizer: Todo o que está disposto 
a ferir os jebuseus suba pelo canal subterrâneo e fira os cegos e os coxos, a 
quem a alma de Davi aborrece. (Por isso, se diz: Nem cego nem coxo entrará na 
casa.) 
 
A análise exegética que fazemos é que, notadamente, pode-se perceber 
que o trecho da frase que diz “como quem diz: Davi não entrará neste lugar”, não 
pertence a fala de Davi, mas é uma interpolação feita pelo escritor de 2 Samuel 
para explicar a rivalidade entre Davi e os cegos e coxos. 
 
A abordagem histórica que fazemos é que Davi era um homem 
experimentado no palco das guerras, as quais, sabemos, através da história e 
da arqueologia, que eram algo insano. Totalmente insano. Os combates davam-
se corpo a corpo, homem a homem, Tete à Tetê, nos quais aconteciam 
perfurações de facas, flechas, amputações por golpes de espadas, machados e 
outros instrumentos perfurocortantes, dilacerantes e contundentes; socos, 
cotoveladas, dedos nos olhos e até mordidas nas veias jugulares dos inimigos. 
 
A coisa era tão brutal, que dificilmente um guerreiro, que já tivesse 
participado de uma primeira guerra, sobreviveria a um segundo enfrentamento. 
Até mesmo os soberanos da antiguidade raramente participavam abertamente 
de muitas guerras. Josias, por exemplo, sucumbiu ao primeiro enfrentamento 
com o poderoso exército egípcio. 
 
Desta feita, fica difícil acreditar que Davi, tendo participado de tantas 
batalhas, tivesse saído de todas ileso e sem nenhum arranhão. 
 
Some-se a isso o fato da zombaria direcionada a Davi pelos antigos 
jebuseus que habitavam Jerusalém. É como se eles estivessem dizendo para 
Davi: Derrote primeiro os cegos e coxos, iguais a você, e então você poderá vir 
tentar nos derrotar! 
 
Isso aborreceu sobremaneira Davi, que deu ordens aos seus guerreiros 
mais valentes, recomendando que se esforçassem ao máximo para conquistar 
a fortaleza jebuséia, subjugar seus habitantes, e matar, inclusive, os cegos e 
coxos. Veja bem, Davi deu ordens, mas não se expôs e nem entrou nesse 
combate. Por quê? Talvez porque tivesse medo que a zombaria dos jebuseus 
se concretizasse e ele sucumbisse naquele confronto. 
 
6° A mulher midianita de Moisés era contra a circuncisão. 
 
Vamos extrair para análise exegética um pequeno trecho do livro de 
Êxodo, situado em seu capítulo 4, versículos 24, 25 e 26. 
 
Capítulo 4 
 
Versículo 24 – Estando Moisés no caminho, numa estalagem, 
encontrou-o o Senhor e o quis matar. 
 
Versículo 25 – Então, Zípora tomou uma pedra aguda, cortou o prepúcio 
de seu filho, lançou-o aos pés de Moisés e lhe disse: Sem dúvida, tu és para mim 
esposo sanguinário. 
 
Versículo 26 – Assim, o Senhor o deixou. Ela disse: Esposo sanguinário, 
por causa da circuncisão. 
 
Estranho não, Jeová atormentando Moisés e coagindo a esposa deste a 
circuncidar seu filho? Mais estranho ainda, é que ela não se volta com ar de 
reprovação contra Jeová, mas contra seu próprio esposo Moisés. 
 
Detalhe: Zípora, esposa de Moisés, era contra acircuncisão, o que prova 
que esse ritual de sangue não tinha aprovação unânime entre todos os 
adoradores de Jeová. 
 
7° Jetro, sogro de Moisés, era sacerdote de Jeová em Midiã. 
 
Estabeleçamos para análise uma perícope a partir do capítulo 18 do livro 
de Êxodo, com delimitação nos versículos 1, 9, 10, 11 e 12. 
 
Capítulo 18 
 
Versículo 1 – Ora, Jetro, sacerdote de Midiã, sogro de Moisés, ouviu 
todas as coisas que Deus tinha feito a Moisés e a Israel, seu povo; como o 
Senhor trouxera a Israel do Egito. 
 
Versículo 9 – Alegrou-se Jetro de todo o bem que o Senhor fizera a 
Israel, livrando-o da mão dos egípcios, 
 
Versículo 10 – e disse: Bendito seja o Senhor, que vos livrou das mãos 
dos egípcios e da mão de Faraó; 
 
Versículo 11 – agora, sei que o Senhor é maior que todos os deuses, 
porque livrou este povo de debaixo da mão dos egípcios, quando agiram 
arrogantemente contra o povo. 
 
Versículo 12 – Então, Jetro, sogro de Moisés, tomou holocausto e 
sacrifícios para Deus; e veio Arão e todos os anciãos de Israel para comerem 
pão com o sogro de Moisés, diante de Deus. 
 
Isolemos as frases “Ora, Jetro, sacerdote de Midiã, sogro de Moisés, 
ouviu todas as coisas que Deus tinha feito a Moisés e a Israel, seu povo”, do 
versículo 1, “Alegrou-se Jetro de todo o bem que o Senhor fizera a Israel, 
livrando-o da mão dos egípcios”, do versículo 9, “e disse: Bendito seja o Senhor”, 
do versículo 10, “agora, sei que o Senhor é maior que todos os deuses”, do 
versículo 11, “Então, Jetro, sogro de Moisés, tomou holocausto e sacrifícios para 
Deus, do versículo 12. 
 
Dignas de nota são as declarações que Jetro, sogro midianita de Moisés, 
fez a respeito de Jeová. Declarações próprias de um sacerdote de Jeová. No 
mais, somente um sacerdote de Jeová poderia tomar holocaustos e sacrifícios 
para Jeová. Importante ressaltar, ainda, o prestigio desse sacerdote, que fez 
reunirem-se ao seu redor Arão, sacerdote hebreu e toda a assembléia de 
anciãos hebreus, para comerem pão diante de Jeová. Tudo isso só poderia ser 
possível para um alto sacerdote que fosse tido em grande estima pelo povo 
hebreu. 
 
Está, portanto, confirmado o fato de que Jetro, cujo nome é um teonímo, 
ou, como queiram escrever, teofórico que contém o nome de Jeová, foi a pessoa 
responsável por incutir o culto javista entre os hebreus que estiveram 
estacionados em Midiã. 
 
Há de se observar, que antes desse contato com Jetro, Moisés era 
adorador de El, deus pai do panteão cananita. Sabemos disso devido ao 
teofórico que deu nome ao seu filho Eliézer, cujo significado é El é meu pai, ou 
El de meu pai. Foi Jetro quem converteu Moisés e o povo hebreu ao javismo. 
 
8º Escritores henoteístas da Bíblia consideravam Jeová e Seth como 
sendo o mesmo Deus 
 
O livro de 2 Crônicas, capítulo 35, versículos 21 e 22, registra um 
suposto diálogo entre o Rei Josias e o Faraó Necau II. 
 
Conforme a Bíblia, Necau II partiu do Egito na intenção de guerrear 
contra os assírios às margens do rio Eufrates, mas foi interceptado pelo exército 
de Josias que se colocou como seu oponente. É aí que o diálogo acontece. 
Necau II, no versículo 21, através de um mensageiro, teria dito a Josias: “Que 
tenho eu contigo, Rei de Judá? Não é contra ti que eu subo hoje para 
guerrear, mas contra os assírios, e disse Deus que me apressasse; guarda-
te de te opores a Deus, que é comigo, para que ele não te destrua”. 
 
Contudo, o Rei Josias não dando ouvidos a advertência do Faraó Necau 
II, disfarçou-se e entrou na luta, resultando desse embate a sua própria morte. 
Mais adiante, no versículo 22, o autor de 2 Crônicas declarou o seguinte: “E 
(Josias) não deu ouvidos as palavras de Necau que saíram da boca de 
Deus”. 
 
 
Estabeleçamos uma perícope do capítulo 35, do livro de 2 Crônicas, com 
delimitação dos versículos 21 e 22, extraindo apenas as frases nucleares. 
 
Capítulo 35 
 
Versículo 21 - ... Que tenho eu contigo, Rei de Judá? Não é contra ti que 
eu subo hoje para guerrear, mas contra os assírios, e disse Deus que me 
apressasse; guarda-te de te opores a Deus, que é comigo, para que ele não te 
destrua. 
 
Versículo 22 - ... E (Josias) não deu ouvidos as palavras de Necau que 
saíram da boca de Deus. 
 
Isolemos as frases “e disse Deus que me apressasse; guarda-te de te 
opores a Deus” e “E (Josias) não deu ouvidos as palavras de Necau que saíram 
da boca de Deus”, chegaremos a conclusão de que o texto fala apenas de uma 
única divindade. 
 
Sendo assim, a dedução mais plausível, lógica e racional, que se pode 
extrair desse texto, é a de que Jeová e Seth eram considerados por egípcios e 
israelitas como sendo supostamente a mesma divindade. 
 
Ora, é sabido por diversas fontes arqueológicas e documentais que Seth, 
o deus do caos, da seca, da morte e da guerra, era a divindade para a qual os 
faraós egípcios, quando entravam em guerra, rendiam culto e adoração afim de 
que fossem bem-sucedidos em suas batalhas. Também é sabido que Jeová, à 
exemplo de Seth, era considerado como deus da guerra, tanto é que um de seus 
teonímos mais famosos era Jeová Sabaoth (Jeová dos Exércitos). 
 
9º Balaão era um feiticeiro que falava com Deus. 
 
Segundo a Bíblia, em um de seus trechos conhecido pelos teólogos 
como “Perícope de Balaão”, Balaão era um profeta renomado em toda a Região 
do Levante que “ouvia as palavras de Deus”, “conhecia a ciência do Altíssimo” e 
“via a visão do Todo-Poderoso”. Mas, certo dia, Balaque, rei dos moabitas, 
mandou seus príncipes, com carregamentos cheios de ouro, prata e pedras 
preciosas, até as terras de Midiã para convencerem os chefes tribais midianitas 
a contratarem os serviços de Balaão. 
 
Balaque queria que Balaão amaldiçoasse Israel, pois temia uma invasão 
de israelitas em seu país. Balaão foi convencido a ir ao encontro de Balaque e, 
no meio do caminho, depois de espancar sua mula sem motivos por três vezes, 
encontrou-se com um anjo de Deus que se lhe opunha como adversário. 
 
Depois de quase matar Balaão o anjo de Deus o advertiu de que 
dissesse apenas aquilo que Deus colocasse em sua boca. Balaão então 
encontrou-se com Balaque, preparou holocaustos e encantamentos e foi ao 
encontro com Deus. Mas Balaão, obedecendo a Deus, não amaldiçoou Israel, 
antes, pelo contrário, abençoou Israel e profetizou sobre vitórias de Israel contra 
os povos moabita, edomita e egípcio. 
 
A Bíblia, contudo, relata mais adiante que Balaão se vendeu para ensinar 
aos moabitas estratégias de como fazer Israel sair da graça de Deus. Israel 
pecou contra Deus e Deus enviou uma praga como forma de punição pelos 
pecados do povo israelita. Por conta disso, Balaão teria sido morto pelo exército 
de Israel sob o comando de Josué. 
 
E, dessa forma, o profeta midianita Balaão, de grande renome, sobre 
quem as escrituras sagradas disseram em seus textos “veio sobre ele o Espírito 
de Deus”, passou à posteridade como sinônimo de heresia, conforme Apocalipse 
2:14, que diz: “Entretanto, algumas coisas tenho contra ti; porque tens aí os que 
seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante 
dos filhos de Israel, introduzindo-os a comerem das coisas sacrificadas a ídolos 
e a se prostituírem”. 
 
Tais conclusões sobre o que se diz de Balaão neste tópico podem ser 
abstraídas da própria Bíblia nos trechos adiante mencionados, todos dos 
capítulos 22, 23 e 24, do livro de Números. Vejamos. 
 
a) Quanto à nacionalidade de Balaão. 
 
Números 22:4 – Por isso Moabe disse aos anciãos dos midianitas: 
“Agora lamberá esta congregação tudo quanto houver ao redor de nós, como o 
boi lambe a erva do campo”. 
 
Números 22:7 – Então foram-se os anciãos dos moabitas e os anciãos 
dos midianitas com o preço dos encantamentos nas suas mãos; e chegaram a 
Balaão, e disseram-lhe as palavras de Balaque. 
 
b) Quanto ao prestígio de Balaão. 
 
Números 22:14-15 – E levantaram-se os príncipes dos moabitas, e 
disseram: Balaão recusou vir conosco. Porém Balaque tornou a enviarmais 
príncipes, mais honrados do que aqueles. 
 
c) Quanto à autoridade profética de Balaão. 
 
Números 22:9 – E veio Deus a Balaão, e disse: Quem são estes 
homens que estão contigo? 
 
Números 22:12 – Então disse Deus a Balaão: Não irás com eles, nem 
amaldiçoarás a este povo, porquanto é bendito. 
 
Números 22:20 – Veio, pois, Deus a Balaão, de noite, e disse-lhe: Se 
aqueles homens te vieram chamar, levanta-te, vai com eles; todavia, farás o que 
eu te disser. 
 
Números 23:4 – E encontrando-se Deus com Balaão, este lhe disse: 
Preparei sete altares, e ofereci um novilho e um carneiro sobre cada altar. 
 
Números 23:16 – E, encontrando-se Jeová com Balaão, pôs uma 
palavra na sua boca, e disse: Torna para Balaque, e assim falarás. 
 
Números 24:2 – E, levantando Balaão os seus olhos, e vendo a Israel, 
que estava acampado segundo as suas tribos, veio sobre ele o Espírito de 
Deus. 
 
d) Balaão invocava Deus através de holocaustos e feitiços 
 
Números 22:7 – Então foram-se os anciãos dos moabitas e os anciãos 
dos midianitas com o preço dos encantamentos nas suas mãos; e chegaram 
a Balaão, e disseram-lhe as palavras de Balaque. 
 
Números 23:1-5 – Então Balaão disse a Balaque: Edifica-me aqui sete 
altares, e prepara-me aqui sete novilhos e sete carneiros. Fez, pois, Balaque 
como Balaão dissera; e Balaque e Balaão ofereceram um novilho e um carneiro 
sobre cada altar. Então Balaão disse a Balaque: Fica-te junto do teu holocausto 
e eu irei; porventura Jeová me sairá ao encontro, e o que me mostrar te 
notificarei. Então foi a um lugar alto. E encontrando-se Deus com Balaão, este 
lhe disse: Preparei sete altares, e ofereci um novilho e um carneiro sobre cada 
altar. Então Jeová pôs a palavra na boca de Balaão, e disse: Torna-te para 
Balaque, e assim falarás. 
 
Números 23:18;20;23 – Então proferiu a sua parábola, e disse: Levanta-
te, Balaque, e ouve; inclina os teus ouvidos a mim, filho de Zipor... Eis que recebi 
mandado de abençoar; pois ele tem abençoado, e eu não o posso revogar... 
Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel; 
neste tempo se dirá de Jacó e de Israel: Que coisas Deus tem realizado! 
 
Números 24:1-2 – Vendo Balaão que bem parecia aos olhos de Jeová 
que abençoasse a Israel, não se foi esta vez como antes ao encontro dos 
encantamentos; mas voltou seu rosto para o deserto. E, levantando Balaão os 
seus olhos, e vendo a Israel, que estava acampado segundo as suas tribos, veio 
sobre ele o Espírito de Deus. 
 
Ora, se formos estabelecer perícopes para vários dos versículos 
transcritos, iremos isolar frases como “Então foram-se os anciãos dos moabitas 
e os anciãos dos midianitas com o preço dos encantamentos nas suas mãos”, 
ou “Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel”, ou 
então “Vendo Balaão que bem parecia aos olhos de Jeová que abençoasse a 
Israel, não se foi esta vez como antes ao encontro dos encantamentos”. 
 
Claro está, pela análise dessas e de outras frases da chamada “Perícope 
de Balaão”, que este profeta era um adivinho ou feiticeiro que, segundo a Bíblia, 
utilizava encantamentos, que na verdade são feitiços, para falar com Deus. E 
Deus respondia a Balaão. E o Espírito de Deus vinha sobre Balaão. Podemos 
claramente perceber a forma como ocorria a invocação da divindade. Balaão 
oferecia holocaustos nos altares e depois se isolava para fazer seus 
encantamentos e assim poder falar com Deus. 
 
A ideia de que Balaão era um adivinho ou feiticeiro encontra amparo em 
outra passagem bíblica, mais especificamente no livro de Josué, capítulo 13, 
versículo 22, que diz: “Também os filhos de Israel mataram à espada a Balaão, 
filho de Beor, o adivinho, com os outros que por eles foram mortos”. 
 
Quanto à etimologia ou o significado da palavra encantamento, claro 
está que se refere a uma forma de feitiçaria. Encantamentos são feitiços que 
geralmente envolvem poderes mágicos, bênçãos, maldições e adivinhações. 
 
Sendo assim, Deus era invocado por Balaão através de feitiços e isso 
de forma alguma limitava a ação de Deus, o seu agir na história. 
 
Podemos deduzir muitas coisas dessa passagem, inclusive que feitiços 
e encantos nunca foram artes demoníacas, mas, antes, uma das formas pelas 
quais se podia falar com Deus, porque se Deus respondia através de 
encantamentos significa que encantamentos não eram proibidos por Deus. Se 
não eram proibidos, não eram pecados. 
 
E se no passado remoto encantamentos não eram pecado por quê 
seriam agora? Por quê Deus decidiu proibir encantamentos? Tal proibição partiu 
mesmo de Deus ou dos sacerdotes que queriam monopolizar os rituais de 
adoração a Deus? Deus mandou matar feiticeiros e adivinhos ou foram os 
homens que usaram o nome de Deus para assassinar possíveis adversários? 
 
 
10º Israel não foi o único povo a crer em um só Deus 
 
Ao longo de milênios Israel foi considerado o único povo a desenvolver 
o conceito de monoteísmo sob o signo de um único Deus Supremo. Esse 
reconhecimento alimentou a ideia de revelação exclusiva da divindade 
fortalecendo o chauvinismo, o preconceito e o extremismo judaicos. 
 
Mas, até que ponto essa ideia é verdadeira? O que a Bíblia e as suas 
entrelinhas dizem sobre esse assunto? 
 
A Bíblia, sem dúvida, fortalece a ideia de exclusividade, pois são muitas 
as passagens bíblicas que afirmam que Deus escolheu Israel para honrar um 
compromisso que tinha assumido com seu patriarca Abraão, considerado pelas 
escrituras como sendo amigo de Deus. 
 
As entrelinhas, contudo, afirmam o contrário. E são várias as passagens 
bíblicas que corroboram esta ideia. Vamos eleger para análise apenas o dialogo 
entre Jefté e o Rei amonita, por ser um trecho bíblico bastante esclarecedor 
sobre diversos aspectos. 
 
O autor bíblico do livro de juízes afirma em Juízes, capítulo 11, versículo 
12 a 28 que: 
 
12 Depois Jefté enviou mensageiros ao rei dos amonitas, para lhe 
dizerem: Que há entre mim e ti, que vieste a mim para guerrear contra a minha 
terra? 
 
13 Respondeu o rei dos amonitas aos mensageiros de Jefté: É porque 
Israel, quando subiu do Egito, tomou a minha terra, desde o Arnom até o Jaboque 
e o Jordão; restitui-me, pois, agora essas terras em paz. 
 
14 Jefté, porém, tornou a enviar mensageiros ao rei dos amonitas, 
 
15 dizendo-lhe: Assim diz Jefté: Israel não tomou a terra de Moabe, nem 
a terra dos amonitas; 
 
16 mas quando Israel subiu do Egito, andou pelo deserto até o Mar 
Vermelho, e depois chegou a Cades; 
 
17 dali enviou mensageiros ao rei de Edom, a dizer-lhe: Rogo-te que me 
deixes passar pela tua terra. Mas o rei de Edom não lhe deu ouvidos. Então 
enviou ao rei de Moabe, o qual também não consentiu; e assim Israel ficou em 
Cades. 
 
18 Depois andou pelo deserto e rodeou a terra de Edom e a terra de 
Moabe, e veio pelo lado oriental da terra de Moabe, e acampou além do Arnom; 
porém não entrou no território de Moabe, pois o Arnom era o limite de Moabe. 
 
19 E Israel enviou mensageiros a Siom, rei dos amorreus, rei de Hesbom, 
e disse-lhe: Rogo-te que nos deixes passar pela tua terra até o meu lugar. 
 
https://bibliaportugues.com/judges/11-13.htm
https://bibliaportugues.com/judges/11-14.htm
https://bibliaportugues.com/judges/11-15.htm
https://bibliaportugues.com/judges/11-16.htm
https://bibliaportugues.com/judges/11-17.htm
https://bibliaportugues.com/judges/11-18.htm
https://bibliaportugues.com/judges/11-19.htm
20 Siom, porém, não se fiou de Israel para o deixar passar pelo seu 
território; pelo contrário, ajuntando todo o seu povo, acampou em Jaza e 
combateu contra Israel. 
 
21 E o Senhor Deus de Israel entregou Siom com todo o seu povo na mão 
de Israel, que os feriu e se apoderou de toda a terra dos amorreus que habitavam 
naquela região. 
 
22 Apoderou-se de todo o território dos amorreus, desde o Arnom até o 
Jaboque, e desde o deserto até o Jordão. 
 
23 Assim o Senhor Deus de Israel desapossou os amorreus de diante doseu povo de Israel; e possuirias tu esse território? 
 
24 Não possuirias tu o território daquele que Quemós, teu deus, 
desapossasse de diante de ti? assim possuiremos nós o território de todos quantos 
o Senhor nosso Deus desapossar de diante de nós. 
 
25 Agora, és tu melhor do que Balaque, filho de Zipor, rei de Moabe? 
ousou ele jamais contender com Israel, ou lhe mover guerra? 
 
26 Enquanto Israel habitou trezentos anos em Hesbom e nas suas vilas, 
em Aroer e nas suas vilas em todas as cidades que estão ao longo do Arnom, por 
que não as recuperaste naquele tempo? 
 
27 Não fui eu que pequei contra ti; és tu, porém, que usas de injustiça 
para comigo, fazendo-me guerra. O Senhor, que é juiz, julgue hoje entre os filhos 
de Israel e os amonitas. 
 
28 Contudo o rei dos amonitas não deu ouvidos à mensagem que Jefté 
lhe enviou. 
 
Ora, se fizermos uma análise do verso 24 poderemos constatar que 
Jefté, na verdade, não possuía um conceito de monoteísmo, mas de henoteísmo. 
Senão vejamos. Façamos uma perícope do verso 24 que diz: 
 
“Não possuirias tu o território daquele que Quemós, teu deus, 
desapossasse de diante de ti? assim possuiremos nós o território de todos quantos 
o Senhor nosso Deus desapossar de diante de nós”. 
 
Desta feita, Jefté não só está dizendo que existe outro deus além de seu 
deus nacional Jeová, como também está afirmando que esse deus é o deus 
nacional dos amonitas. 
 
https://bibliaportugues.com/judges/11-20.htm
https://bibliaportugues.com/judges/11-21.htm
https://bibliaportugues.com/judges/11-22.htm
https://bibliaportugues.com/judges/11-23.htm
https://bibliaportugues.com/judges/11-24.htm
https://bibliaportugues.com/judges/11-25.htm
https://bibliaportugues.com/judges/11-26.htm
https://bibliaportugues.com/judges/11-27.htm
https://bibliaportugues.com/judges/11-28.htm
Se analisarmos outras passagens bíblicas, iremos constatar também 
que vários outros povos, assim como Israel, possuíam deuses nacionais. A título 
de exemplificação, podemos citar os vizinhos mais próximos de Israel, como os 
filisteus, cujo deus era Dagon. 
 
Além disso, Baal, Moloque e o próprio Quemós, eram divindades 
adoradas por mais de uma nação. 
 
Na pedra moabita, produzida por ordem do rei Mesha, de Moabe, é 
possível encontrar referência ao deus Quemós, cuja cosmogonia e sistemas de 
crenças e rituais não diferia muito do javismo, a crença em Jeová, deus nacional 
dos antigos hebreus, a partir do início do século VIII antes de Cristo. 
 
11° Deus nunca mandou assassinar crianças (I Samuel 15) 
 
Esta, talvez seja a passagem mais polêmica da Bíblia que, ao longo de 
milênios, dividiu as opiniões de teólogos e demais estudiosos dos textos bíblicos, 
e que tem causado horror entre ateus e pessoas de outras religiões. 
 
A história das guerras entre Israel e Amaleque são bastante conhecidas 
e perpassam vários textos bíblicos. Em alguns desses textos Jeová tinha uma 
rixa com uma nação chamada Amaleque e, por conta dessa rixa, manifestou o 
forte desígnio de se vingar, riscando essa nação de sobre a face da terra. 
 
No primeiro livro de Samuel, capítulo 15, encontramos um suposto 
diálogo entre o profeta Samuel e o rei Saul, que a Bíblia situa em um contexto 
de guerra entre Israel e Amaleque. 
 
Leiamos o capítulo 15 do livro de Samuel, que diz: 
 
1 Disse Samuel a Saul: Enviou-me o Senhor a ungir-te rei sobre o seu 
povo, sobre Israel; ouve, pois, agora as palavras do Senhor. 
 
2 Assim diz o Senhor dos exércitos: Castigarei a Amaleque por aquilo 
que fez a Israel quando se lhe opôs no caminho, ae subir ele do Egito. 
 
3 Vai, pois, agora e fere a Amaleque, e o destrói totalmente com tudo o 
que tiver; não o poupes, porém matarás homens e mulheres, meninos e crianças 
de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos. 
 
4 Então Saul convocou o povo, e os contou em Telaim, duzentos mil 
homens de infantaria, e mais dez mil dos de Judá. 
 
5 Chegando, pois, Saul à cidade de Amaleque, pôs uma emboscada no 
vale. 
 
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-2.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-3.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-4.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-5.htm
6 E disse Saul aos queneus: Ide, retirai-vos, saí do meio dos amalequitas, 
para que eu não vos destrua juntamente com eles; porque vós usastes de 
misericórdia com todos os filhos de Israel, quando subiram do Egito. Retiraram-
se, pois, os queneus do meio dos amalequitas. 
 
7 Depois Saul feriu os amalequitas desde Havilá até chegar a Sur, que 
está defronte do Egito. 
 
8 E tomou vivo a Agague, rei dos amalequitas, porém a todo o povo 
destruiu ao fio da espada. 
 
9 Mas Saul e o povo pouparam a Agague, como também ao melhor das 
ovelhas, dos bois, e dos animais engordados, e aos cordeiros, e a tudo o que era 
bom, e não os quiseram destruir totalmente; porém a tudo o que era vil e 
desprezível destruíram totalmente. 
 
10 Então veio a palavra do Senhor a Samuel, dizendo: 
 
11 Arrependo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de 
me seguir, e não cumpriu as minhas palavras. Então Samuel se contristou, e 
clamou ao Senhor a noite toda. 
 
12 E Samuel madrugou para encontrar-se com Saul pela manhã; e foi dito 
a Samuel: Já chegou Saul ao Carmelo, e eis que levantou para si numa coluna e, 
voltando, passou e desceu a Gilgal. 
 
13 Veio, pois, Samuel ter com Saul, e Saul lhe disse: Bendito sejas do 
Senhor; já cumpri a palavra do Senhor. 
 
14 Então perguntou Samuel: Que quer dizer, pois, este balido de ovelhas 
que chega aos meus ouvidos, e o mugido de bois que ouço? 
 
15 Ao que respondeu Saul: De Amaleque os trouxeram, porque o povo 
guardou o melhor das ovelhas e dos bois, para os oferecer ao Senhor teu Deus; o 
resto, porém, destruímo-lo totalmente. 
 
16 Então disse Samuel a Saul: Espera, e te declararei o que o Senhor me 
disse esta noite. Respondeu-lhe Saul: Fala. 
 
17 Prosseguiu, pois, Samuel: Embora pequeno aos teus próprios olhos, 
porventura não foste feito o cabeça das tribos de Israel? O Senhor te ungiu rei 
sobre Israel; 
 
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-6.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-7.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-8.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-9.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-10.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-11.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-12.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-13.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-14.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-15.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-16.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-17.htm
18 e bem assim te enviou o Senhor a este caminho, e disse: Vai, e destrói 
totalmente a estes pecadores, os amalequitas, e peleja contra eles, até que sejam 
aniquilados. 
 
19 Por que, pois, não deste ouvidos à voz do Senhor, antes te lançaste ao 
despojo, e fizeste o que era mau aos olhos do Senhor? 
 
20 Então respondeu Saul a Samuel: Pelo contrário, dei ouvidos à voz do 
Senhor, e caminhei no caminho pelo qual o Senhor me enviou, e trouxe a Agague, 
rei de Amaleque, e aos amalequitas destruí totalmente; 
 
21 mas o povo tomou do despojo ovelhas e bois, o melhor do anátema, 
para o sacrificar ao Senhor teu Deus em Gilgal. 
 
22 Samuel, porém, disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em 
holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à voz do Senhor? Eis que o 
obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, do que a gordura de carneiros 
 
23 Porque a rebelião é como o pecado de adivinhação, e a obstinação é 
como a iniqüidade de idolatria. Porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, ele 
também te rejeitou, a ti, para que não sejas rei. 
 
24 Então disse Saul a Samuel: Pequei, porquanto transgredi a ordem do 
Senhor e as tuas palavras; porque temi ao povo, e dei ouvidos a sua voz. 
 
25 Agora, pois, perdoa o meu pecado, e volta comigo, para que eu adore 
ao Senhor.26 Samuel porém disse a Saul: Não voltarei contigo; porquanto rejeitaste 
a palavra do Senhor, e o Senhor te rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre Israel: 
 
27 E, virando-se Samuel para se ir, Saul pegou-lhe pela orla da capa, a 
qual se rasgou. 
 
28 Então Samuel lhe disse: O Senhor rasgou de ti hoje o reino de Israel, e 
o deu a um teu próximo, que é melhor do que tu. 
 
29 Também aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrepende, 
por quanto não é homem para que se arrependa. 
 
30 Ao que disse Saul: Pequei; honra-me, porém, agora diante dos anciãos 
do meu povo, e diante de Israel, e volta comigo, para que eu adore ao Senhor teu 
Deus. 
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-18.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-19.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-20.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-21.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-22.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-23.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-24.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-25.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-26.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-27.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-28.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-29.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-30.htm
 
31 Então, voltando Samuel, seguiu a Saul, e Saul adorou ao Senhor. 
 
32 Então disse Samuel: Trazei-me aqui a Agague, rei dos amalequitas. E 
Agague veio a ele animosamente; e disse: Certamente já passou a amargura da 
morte. 
 
33 Disse, porém, Samuel: Assim como a tua espada desfilhou a mulheres, 
assim ficará desfilhada tua mãe entre as mulheres. E Samuel despedaçou a 
Agague perante o Senhor em Gilgal. 
 
34 Então Samuel se foi a Ramá; e Saul subiu a sua casa, a Gibeá de Saul. 
 
35 Ora, Samuel nunca mais viu a Saul até o dia da sua morte, mas Samuel 
teve dó de Saul. E o Senhor se arrependeu de haver posto a Saul rei sobre Israel. 
 
Agora, isolemos o verso 3, que diz: 
 
“Vai, pois, agora e fere a Amaleque, e o destrói totalmente com tudo o 
que tiver; não o poupes, porém matarás homens e mulheres, meninos e crianças 
de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos”. 
 
O resto da história todos nós sabemos. Saul guerreou contra os 
amalequitas, derrotou seu exército, invadiu suas aldeias e assassinou homens, 
mulheres, crianças de peito e até animais. 
 
Mas Deus se irou contra Saul porque ele poupou a vida do rei Agague, 
que foi esquartejado pelo profeta Samuel, e dos melhores bois, com os quais 
pretendia fazer sacrifícios a Jeová. 
 
Teólogos fundamentalistas, que defendem a interpretação literal dos 
textos bíblicos, afirmam que regras de moralidade não podem se aplicar a Jeová 
porque ele, sendo deus, está acima das leis. Também dizem que todos os 
inocentes assassinados em seu nome e mediante suas ordens foram 
compensados com a graça de sua salvação eterna; que os amalequitas foram 
exterminados – mesmo crianças de peito e pessoas inocentes – porque eram 
uma nação promíscua que poderia fazer com que os israelitas se desviassem de 
Jeová para adorar outros deuses. 
 
Usam de todos os argumentos e hipóteses para tentar justificar uma 
incongruência grave dos textos bíblicos. Não levam em consideração a dor e o 
sofrimento humano, e até mesmo a dor e o sofrimento de animais inocentes. 
 
Chegam ao ponto de dizer que Jeová encara a morte e o sofrimento por 
uma perspectiva diferente da perspectiva humana. 
 
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-31.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-32.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-33.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-34.htm
https://bibliaportugues.com/1_samuel/15-35.htm
Estes teólogos fundamentalistas transformam seu deus Jeová em um 
deus psicopata. Um ser maléfico e pretensamente superior, que pensa que 
porque criou a vida a pode tirar; porque fez o corpo o pode desmembrar; porque 
deu o folego de vida pode fazer sofrer; porque criou a alma pode causar-lhe 
sofrimento eterno. 
 
Além disso, sua visão de seu deus Jeová é intrinsecamente paradoxal, 
pois limitam sua divindade e onipotência quando não lhe dão outras opções de 
ação, como se a divindade estivesse sujeita a uma única forma de promover sua 
Justiça ou de fazer conhecer a sua grandeza. 
 
Entrementes, a própria Bíblia dá pistas em direção contrária. O apóstolo 
Paulo compreendendo bem certas questões, deixou registrado em Romanos 12: 
19, os seguintes dizeres: 
 
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, 
porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor”. 
 
Ora, se é assim como o Apóstolo diz, citando passagem do antigo 
testamento, que todo o mal que se fizer aos inocentes, que toda ofensa que for 
manejada contra os escolhidos de Deus ou contra o seu povo são objetos da 
vingança de Deus, por que a ofensa de Amaleque contra Israel deveria ser 
vingada por Saul, ou Samuel, ou Davi, ou qualquer outra personagem bíblica? 
 
Em outro trecho da Bíblia cristã, especificamente em Lucas 9:54, 
encontramos Jesus repreendendo seus discípulos simplesmente porque estes 
lhe perguntaram: 
 
“Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir, 
como Elias também fez? 
 
Ora, a atitude de Cristo, o Filho de Deus, é totalmente diferente da 
atitude do profeta Samuel que ordenou a Saul praticar genocídio apenas para 
dar cumprimento a uma ordem de Moisés. 
 
No mais, se formos levar em consideração a profecia de Balaão que diz 
que “Amaleque era a primeira das nações”, podemos entender mais a fundo a 
razão pela qual as lideranças de Israel queriam tanto a destruição dos 
amalequitas. Talvez pelo mesmo motivo pelo qual senadores romanos 
clamavam pela destruição de Cartago. 
 
12° Os hebreus nunca atravessaram o Mar Vermelho. 
 
O maior milagre de todos os tempos pode não passar de apenas um mito 
antigo da cosmogonia hebraica, que foi utilizado de forma a suplementar 
acontecimentos históricos acerca da fuga dos hebreus do Egito, senão, vejamos. 
 
Estabeleçamos uma perícope a partir do capítulo 11, do livro de Juízes, 
com delimitação em seus versículos 15 e 16. 
 
Capítulo 11 
 
Versículo 15 – dizendo-lhe: Assim diz Jefté: Israel não tomou nem a terra 
dos moabitas nem a terra dos filhos de Amom; 
 
Versículo 16 – porque, subindo Israel do Egito, andou pelo deserto até 
ao mar vermelho e chegou a Cades. 
 
Isolemos as frases “Israel não tomou nem a terra dos moabitas nem a 
terra dos filhos de Amom”, do versículo 15, e “subindo Israel do Egito, andou pelo 
deserto até ao mar vermelho e chegou a Cades”, do versículo 16, chegaremos 
à conclusão de que nunca houve uma travessia do Mar Vermelho. 
 
A análise é a seguinte: Jefté, em resposta ao rei de Amom, fez uma longa 
explanação sobre as andanças de Israel pelo deserto citando vários fatos e 
eventos históricos. Porém, em nenhum momento Jefté faz menção de uma 
travessia. Na realidade, o percurso mencionado por Jefté não tornaria 
necessário realizar uma travessia do mar Vermelho. 
 
Isso inclusive é corroborado pela ausência de vestígios arqueológicos. 
É inconcebível, que uma população de aproximadamente dois milhões de 
israelitas, que vagaram por 40 anos pelo deserto do Sinai, não tenha deixado 
um único rastro de sua passagem. Nenhuma cerâmica, nenhuma construção, 
nenhuma mudança no solo, nenhuma alteração na paisagem, nem restos de 
fogueira. Nada. Simplesmente nada! 
 
E a Bíblia, em outro texto de Êxodo, continua o seu relato. Em sua fuga 
do Egito os hebreus evitaram seguir pela via Maris, a conhecida estrada dos 
filisteus, para não baterem de frente com os muros do Príncipe, que eram um 
conjunto de guarnições egípcias que policiavam as fronteiras com a Filistéia. 
 
Seguiram para o deserto, pelas bordas do Mar Vermelho, de onde 
fizeram uma inflexão em direção às fronteiras dos reinos de Edom e Moabe, 
conforme o relato de Jefté. 
 
A partir desse ponto dar-se-ia uma série de embates bélicos de Israel 
com reinos

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