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1ª Edição |Agosto| 2014 Impressão em São Paulo/SP Educação ambiental e sustentabilidade Nadiella Monteiro Apresentação Quando se propõe a escrever sobre Educação Ambiental e Sustentabilidade, buscando o diálogo com os profissionais de saúde, um mundo de pos- sibilidades se descortina. Quais os limites, então, do tema que aqui se desenvolve? Estabelecer conceitos e definições se faz, portanto, necessário. Ainda que a delimitação cerceie, de alguma maneira, a grande riqueza contida nas palavras, ela pode ser bastante didática quando estabelece um foco para o olhar. Assim, falar de saúde não é apenas falar da “não doença”. Já, em 1978, na Declaração de Alma-Ata, a Conferência Internacional sobre Cuidados Primá- rios de Saúde enfatiza que: “a saúde - estado de completo bem-estar físico, men- tal e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade - é um direito humano fundamen- tal, e que a consecução do mais alto nível possível de saúde é a mais importante meta social mundial, cuja realização requer a ação de muitos outros setores so- ciais e econômicos, além do setor saúde.” (MS, 2013) O Escritório Regional Europeu da OMS, por sua vez, reconhece a presença de saúde, “à medida em que um indivíduo ou grupo é capaz, por um lado, de realizar aspirações e satisfazer neces- sidades e, por outro, de lidar com o meio ambiente. A saúde é, portanto, vista como um recurso para a vida diária, não o objetivo dela; abranger os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas, é um conceito positivo.” (RHS, 2013) É prática comum, entre os profissionais da área, a ação em torno da promoção da saúde, que deve antever e prevenir a necessidade da cura da doença. É também possível, de forma abrangente, falar de saúde ecossistêmica: e daí pensar o indivíduo como parte de um todo, o ambiente onde vive e se movi- menta, com o qual se relaciona e do qual se alimenta, agindo sobre ele e dele sofrendo ação. A partir do espaço interno de cada ser vivo, considerando as redes de interligação existentes nos meios intra e extracelulares e aumentando em complexidade na formação de órgãos e sistemas, até chegar às relações estabelecidas entre as comunida- des humanas, há, em todo tempo, como condição indispensável para a vida, a troca com o ambiente – notadamente quando se trata do sistema respirató- rio, mas muito grandemente executada pela pele hu- mana, o maior órgão de comunicação entre os meios interno e externo. É possível perguntar, então: Onde termina o in- divíduo e onde inicia o ambiente? Não fosse a neces- sidade didática das delimitações e definições, talvez ficasse a pergunta sem resposta exata. Como bem exemplifica Polignano et al (2012), um peixe doente vivendo no poluído rio das Velhas, pode ser tratado com eficácia ao ser retirado do seu ambiente por um espaço de tempo e ter recuperada sua condição de saúde. Mas, se for devolvido ao seu inalterado habi- tat, de nada valerá o sucesso do tratamento. De igual forma, dada a condição de íntima re- lação entre seres humanos e o ambiente – ainda que esses vivam, em sua maioria absoluta, em áreas urba- nas e forçadamente por este mesmo motivo – o cui- dado intensivo com o meio e a promoção de saúde ambiental tornam-se indispensáveis como requisitos básicos para a promoção da saúde humana. A sustentabilidade deve ser, por tudo dito, bus- cada de forma intencional, quando o objetivo é pro- mover a saúde. E ela, sustentabilidade, ainda que muito em voga nos presentes dias, também sofre da falta de consenso em relação ao que pode significar. Com toda a ampli- tude que é característica dos conceitos vivos, defini-la é preciso pelo óbvio fim didático. Seu componente de futuro é fundamental, mas precisa ser gritado em tempos de imediatismo em todos os âmbitos. Em princípio, como um tripé, a sustentabilidade deveria se ater às questões ambientais, sociais e eco- nômicas. Especialistas, hoje em dia, incluem as faces: cultural, espiritual, ética e estética como elementos de observância no cuidado com o planeta e a biosfera. A própria palavra “cuidado”, tão familiar aos profissio- nais de saúde, é buscada como a maneira necessária de promoção de um mundo sustentável. As ações imprescindíveis para promover a sus- tentabilidade e a consequente saúde – que, dada a ar- gumentação anterior, não necessitaria mais ser adje- tivada, ambiental ou humana, entendendo-se a óbvia e contingente interdependência – devem perpassar, preenchida de cuidado, a educação ambiental. É, por fim, este o principal objetivo deste livro: por meio do estabelecimento de relações entre sus- tentabilidade e saúde, promover a iniciação a uma formação necessária para que o profissional obte- nha, num primeiro momento, um olhar abrangente e crítico sobre o ambiente do qual é parte indissoci- ável e, como consequência, a possibilidade de uma ação protagonista na promoção da saúde – humana, ambiental e das relações entre estas. Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 Coordenação Geral Nelson Boni Professor Responsável Nadiella Monteiro Coordenadora Peda- gógica de Curso- EAD - Coordenação de Projetos Leandro Lousada Revisão Ortográfica Elisete Teixeira Projeto Gráfico, Dia- gramação e Capa Ana Flávia Marcheti 1º Edição: Agosto de 2014 Impressão em São Paulo/SP Educação ambiental e sustentabilidade Sumário Unidade 1 - Sustentabilidade e Saúde 1.1. O que é sustentabilidade, afinal? 1.2. Humanos, húmus e a busca pelo alimento. 1.3. O ambiente e seus elementos de promoção de saúde. 1.4. Exercícios de reflexão Referências bibliográficas . 11 . 47 Unidade 1 - Sustentabilidade e Saúde Sendo um valor em constituição, o conceito de sustentabi- lidade permanece ainda coberto de incertezas. Apesar dos variados entendimentos, no entanto, há consenso sobre o seu olhar para o futuro, a partir de pés bem apoiados na realidade presente, tocando a terra. E é a partir dela e dos demais elementos naturais, na relação primordial de alimentadora da humanidade, que se dará o princípio da percepção de um ambiente equilibrado como condição indispensável para a qualidade de vida. Esta primeira unidade propõe, portanto, a possibilidade de compreender a interdependência existente entre sus- tentabilidade e a promoção de saúde, constituindo a base do conhecimento necessário para o seu alcance. 1.1. O que é sustentabilidade, afinal? Talvez seja ela a expressão do momento. Evo- cando um misto de preocupação e esperança, tem sido utilizada das mais diversas maneiras e para os mais variados fins. Por princípio, estaria a serviço de mudanças fundamentais nas relações estabelecidas entre humanos, a natureza e os processos produti- vos, com olhos para o futuro. Como adjetivo, é palia- tiva e se prestaria a pintar de verde as mesmas velhas relações de exploração e dominação históricas da humanidade sobre o planeta Terra. Tanto o substantivo “sustentabilidade”, quanto o adjetivo “sustentável” e o seu composto deriva- do “desenvolvimento sustentável”, têm sido objetos de estudo semântico. Há importância em buscar um conceito, uma vez que o bom entendimento pode melhor direcionar a utilização do termo e as ações decorrentes. Mas, uma noção precisa, ainda, está longe de ser conhecida. Boff (2012) informa que o termo sustentabi- lidade foi extraído do campo da economia e usado, pela primeira vez, por Carl Von Carlowitz, em 1713, na publicação do livro, escrito em latim, De sylvi- cultura oeconomica (BOFF, 2012, pág. 19). Veiga (2010) por sua vez, assegura que o adjetivo sustentá- vel ganha amplitude de sentido apenas a partir dos anos 1980. Até então, “não passava de um jargão técnico usado por algumas comunidades científicas para evocar a possibilidade de um ecossistema não perder sua resiliência” (VEIGA, 2010, pág. 11). Na- quela década, começou a ser usado para qualificar o desenvolvimento e, logo em seguida, foi legitima-do no histórico ano de 1992, ainda que carregasse um misto de suspeita e rejeição, tanto pela direita1, atenta em ganhar mais espaço no liberalismo econô- mico, quanto pela esquerda2, preocupada em perder, para os problemas ambientais, o espaço reservado às questões sociais. No presente momento, segundo Veiga (2010), seu sentido gravita em torno das pouco precisas no- ções de continuidade, durabilidade ou perenidade. Pretendendo remeter à construção de futuro, mas servindo, ao mesmo tempo, a gregos e troianos, a palavra “sustentabilidade” pode estar sendo utilizada de forma metafórica para colorir de verde o que é, na verdade, cinza chumbo. Boff (2012) fazendo coro à crítica sobre a pos- 1 Posição política ou ideológica que prima pela proteção do direito individual e da propriedade privada, entendendo ser a história deter- minada pelas forças econômicas e busca pelo livre mercado. 2 Posição política ou ideológica que acredita na capacidade humana para construir uma sociedade ideal e entende que é a cultura e os gran- des homens, não as forças econômicas, os determinantes da história. Busca a coletivização e a intervenção do Estado na economia. sível banalização do termo estabelece uma distinção entre a sustentabilidade substantiva e, a versão mais usada, a sustentabilidade adjetiva. A respeito desta última, ele explica que agregar o termo a qualquer coisa sem alterar a sua natureza, sem interferir nas relações estabelecidas de produção, exploração e utilização dos recursos naturais, é uma maneira de manter o foco no lucro e na competição, acomo- dando a acepção de sustentabilidade ao sistema eco- nômico vigente. “Posso diminuir a poluição química de uma fábrica colocando filtros melhores em suas chaminés que expelem gases. Mas, a maneira pela qual a empresa se relacionada com a natureza (...) não muda”. (BOFF, 2012, pág. 9) Por sustentabilidade substantiva, aquela que nega a acomodação e produz a mudança, Boff (2012) entende a completa alteração de visão de mundo, destacando a necessidade que os humanos têm de se perceberem parte “da rede de relações, que envolve todos os seres, para o bem e para o mal” (BOFF, 2012, pág. 10). Para o teólogo, é claro e sim- ples o sentido do termo, significando, portanto, “(...) o uso racional dos recursos escassos da Terra, sem prejuízo do capital natural, mantido em condi- ções de sua reprodução e de sua coevolução, consi- derando ainda as gerações futuras que também têm direito a um planeta habitável.” “Trata-se de uma diligência que envolve um tipo de economia respeitadora dos limites de cada ecossis- tema e da própria Terra, uma sociedade que busca a equidade e a justiça social mundial e um meio am- biente suficientemente preservado que possa atender às demandas humanas atuais e futuras.” “Como se pode inferir, a sustentabilidade alcança a sociedade, a política, a cultura, a arte, a natureza, o planeta e a vida de cada pessoa. Fundamentalmen- te importa garantir as condições físico-químicas e ecológicas que sustentam a produção e a reprodução da vida e da civilização em todas as suas instâncias.” (BOFF, 2012, pág. 20) Não há, para Veiga (2010) tal clareza objetiva na definição do termo sustentabilidade e, por este motivo, ele segue aprofundando sua pesquisa. Mes- mo que tenha sido amplamente incorporado nas di- versas áreas do conhecimento, o debate a respeito do sentido do que é sustentável é responsabilidade, sobretudo, de duas disciplinas: a economia e a eco- logia. Para a última, o termo pode estar associado ao equilíbrio dos ecossistemas, à resiliência3 e muito em voga, à pegada ecológica. A economia, por sua vez, 3 Propriedade que possuem alguns materiais de acumular energia sob grande pressão e retornar ao seu formato inicial, sem sofrer defor- mações consideráveis. Na ecologia, refere-se à capacidade de retorno ao equilíbrio de um sistema que foi severamente submetido a danos. desenvolve seu argumento em duas linhas principais: a) sustentabilidade fraca, cuja condição necessária e suficiente é que cada geração deve legar a seguinte os capitais econômico, natural-ecológico e humano- -social; b) sustentabilidade forte, que afirma ser obri- gatório manter constantes, pelo menos, os serviços de capital natural. Uma variante desta segunda linha coloca o foco nos fluxos de capital e não no estoque residual a ser herdado pela geração seguinte. (VEI- GA, 2010, pág. 18) E é exatamente de fluxos que vai tratar a pers- pectiva biofísica, trazendo o conceito de entropia4, quando só pode haver sustentabilidade com a mi- nimização dos fluxos de energia e matéria que atra- vessam esse subsistema, havendo a necessidade, portanto, de desvincular os avanços sociais qualita- tivos daqueles infindáveis aumentos quantitativos da produção e do consumo. Assim, esta corrente ques- tiona a possibilidade de aliar progresso contínuo e infindável com a permanência da vida humana no planeta Terra. É Veiga (2010) ainda, que afirma que há, entre 4 Grandeza capaz de medir a irreversibilidade de um sistema, quando há grande produção de energia térmica em decorrência de trabalho; este calor resultante é pouco aproveitável, sendo facilmente dissipado. Quanto maior o fluxo de energia num sistema isolado, maior a entro- pia resultante e a consequente desorganização deste sistema. os economistas, três diferentes vertentes com respei- to à sustentabilidade. A primeira delas, convencional e claramente majoritária, defende que a recuperação ambiental só começaria a sobrepujar a degradação quando a renda per capita superasse a meta de 20 mil dólares. Logo, o melhor caminho para a sustentabili- dade seria aumentar o desempenho econômico. Um segundo pensamento, da economia ecológica, afir- ma que é necessário transitar pela condição estacio- nária, quando é provável que a qualidade de vida siga melhorando, sem expandir o subsistema econômico. Há, ainda, uma terceira via: a reconfiguração do pro- cesso produtivo, com oferta de bens e serviços, ten- deria a ganhar em ecoeficiência, desmaterializando- -se e ficando cada vez menos intensivo em produção e dissipação de energia. Jacobi (2003) reforça a visão trinitária da sus- tentabilidade quanto considera a presença impres- cindível de cálculo econômico, do aspecto biofísico e do componente sociopolítico, como formas de lei- tura do mundo e possibilidades de alteração da lógi- ca desenvolvimentista predatória, conforme mostra a Figura 1. Ou, como propõe brilhantemente Alves Sobrinho (2010), apresentando Saldiva et al (2010): “partindo destes três pressupostos, chegamos às bases das nossas tarefas imediatas e futuras: justiça social, equilíbrio ambiental, economia integradora” (SALDIVA et al, 2010, pág. 8, grifo do autor). Acres- centa Jacobi (2003) ainda, que o chamado desenvol- vimento sustentável “não se refere especificamente a um problema limita- do de adequações ecológicas de um processo social, mas a uma estratégia ou um modelo múltiplo para a sociedade, que deve levar em conta tanto a viabi- lidade econômica como a ecológica. Num sentido abrangente, a noção de desenvolvimento sustentável reporta-se à necessária redefinição das relações entre sociedade humana e natureza, e, portanto, a uma mu- dança substancial do próprio processo civilizatório, introduzindo o desafio de pensar a passagem do con- ceito para a ação. Pode-se afirmar que ainda prevalece a transcendência do enfoque sobre o desenvolvimen- to sustentável radical mais na sua capacidade de ideia força, nas suas repercussões intelectuais e no seu pa- pel articulador de discursos e de práticas atomizadas que, apesar desse caráter, tem matriz única, originada na existência de uma crise ambiental, econômica e também social.” (JACOBI, 2003, pág. 195) Para Jacobi (2006), o sentido de desenvolvimen- to sustentável deverá ser compreendido como um procedimento que cria restrições relativas à explo- ração dos recursos naturais,ao planejamento do de- senvolvimento tecnológico e ao marco institucional. Desta forma, em consonância com o pensamento da economia ecológica, ele associa sustentabilidade com a necessidade de estabelecer uma clara limita- ção nas possibilidades de crescimento. Acrescenta, ainda, a importância de que se estabeleçam iniciati- vas que considerem a participação de interlocutores e atores sociais por meio de práticas educativas, atra- vés do diálogo informado, promovendo e reforçan- do o sentimento de corresponsabilização e de for- mação de valores éticos, indispensáveis na criação de alternativas para o crescimento. (JACOBI, 2006) Acrescente-se, ainda, a concepção de Azevedo & Pelicioni (2011), a qual entende que: “(...) o desenvolvimento sustentável resgata as premissas de equidade social; de distribuição de ri- quezas; do fim da exploração dos seres humanos; da eliminação das discriminações de gênero, raça, geração ou qualquer outra; da garantia de direitos a vida, felicidade, saúde, educação, moradia, cultu- ra, emprego e envelhecimento com dignidade; da demo¬cracia plena, além da responsabilidade ecoló- gica e da participação cidadã como partes indissoci- áveis do desenvolvimento.” (AZEVEDO & PELI- CIONI, 2011, pág. 717) A ausência de uma única definição consensual não deve, entretanto, ser motivo para o não enten- dimento ou a não aceitação do sentido. É preciso lembrar o fato de ser a sustentabilidade um novo va- lor que só começou a firmar-se meio século depois da adoção, pela ONU, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Jacobi (2006) ressalta que: “As noções de desenvolvimento e direitos hu- manos representam duas ideias força que marcam a segunda metade do século XX” (JACOBI, 2006, pág. 525). O direito a um ambiente equilibrado tam- bém deve ser considerado, podendo-se comparar o conceito de desenvolvimento sustentável ao seu “nobre antepassado”, a “justiça social”. (VEIGA, 2010, pág. 13) Como tantos outros que o precederam, o valor “sustentabilidade” careceu de tempo para firmar-se como tal, como bem observa Veiga (2010): “Como dizia o pessimista Schopenhauer, toda verdade passa por três estados: primeiro é ridiculariza- da, depois violentamente combatida, e finalmente acei- ta como evidente. Com a sustentabilidade, um ciclo semelhante completou-se em três décadas”. (pág. 13) “(...) um valor nunca é uma noção que pos- sa ser bem definida, mesmo que seja unânime o re- conhecimento de situações concretas em que ele foi contrariado. É inútil, portanto, tentar defender uma determinada concepção de sustentabilidade contra os abusos inerentes ao processo de banalização da ideia. Ao contrário, o que mais interessa é chamar a atenção das pessoas para o fato de que, ao empregarem tal termo, estarão inevitavelmente lidando com o valor do amanhã.” (pág. 40) É possível compreender que, mesmo que não haja absoluto consenso a respeito do conceito, o valor sustentabilidade deve ser incorporado no dia a dia, num caminho sem volta, sob o risco de, não o fazendo, destruírem-se todas as possibilidades da humanidade continuar caminhando como sugere a bem-humorada, a Figura 2. 1.2. Humanos, húmus e a busca pelo alimento “Ontem, o homem escolhia, em torno, naquele seu quinhão de Natureza, o que lhe podia ser útil para a renovação de sua vida: espécies animais e vegetais, pe- dras, árvores, florestas, rios, feições geológicas. Esse pedaço de mundo é da Natureza toda de que ele pode dispor seu subsistema útil, seu quadro vital. Então, há descoordenação entre grupos humanos dispersos, en- quanto se reforça uma estreita cooperação entre cada grupo e o seu meio: não importa que as trevas, o tro- vão, as matas, as enchentes possam criar o medo: é o tempo do Homem amigo e da natureza amiga. As- sim, como Michelet escreveu no Tableau de La France (1833): “A natureza é atroz, o homem é atroz, mas pa- recem entender-se.” (SANTOS, 1992, pág. 96) No texto anterior, Santos (1992) reflete sobre os princípios da história do relacionamento entre huma- nidade e natureza, marcada pela “ruptura progressiva entre o homem e o entorno. Esse processo se acelera quando (...) o homem se descobre como indivíduo e inicia a mecanização do planeta, armando-se de no- vos instrumentos para tentar dominá-lo.” (SANTOS, 1992, pág. 96). O resultado deste distanciamento é visto pela artificialização do meio natural. É interessante pensar que toda a necessidade de reflexão sobre o conceito de sustentabilidade e a incorporação deste novo valor é devida diretamente a este distanciamento histórico entre humanidade e natureza. Até meados do século XVIII, quando o pensamento iluminista clareia o obscurantismo da Idade Média, a relação entre humanos e o planeta era feita menos de dominância do que de dependência. A partir do momento em que a natureza torna-se objeto de estudo científico, o distanciamento neces- sário para a observação coloca a humanidade numa posição de dominância inédita e, então, indiscutível. O ser humano, deste momento em diante, está do lado de fora e de cima da relação e, ao mesmo tem- po, no centro de tudo: é possível analisar, dominar e interferir de forma objetiva, intentando progresso contínuo e irrefletido. Até então, o estabelecimento da relação entre humanos e natureza, relatado desde os primórdios da humanidade, dava-se a partir da busca pela sobre- vivência, na dependência total do meio natural, que à humanidade oferecia abrigo e alimento. Ao mesmo tempo em que ameaçava por ser ainda insondável, era a Terra a grande provedora, da qual os humanos constituíam parte indissociável. Ou, como bem afir- mou Santos (1992), terra e humanos pareciam en- tender-se. A busca pelo alimento, que em princípio motivava os caminhares pelo planeta e a ocupação territorial, cria as condições para o surgimento da agricultura. Esta, por sua vez, representa um salto importante na história: o ser humano, antes caçador e coletor, deixa de ser apenas receptor da doadora natureza, passando a conhecer os segredos da terra e agindo nela com o intuito de produzir, de seus fru- tos, o sustento. O Iluminismo, quando se propõe a jogar luzes sobre a escuridão da Idade Média, substitui o domí- nio religioso – e com ele o que é místico na cultura – pelo domínio da razão; razão esta que Boff (2012) vai classificar como sendo instrumental-analítico- -funcional, representando o uso utilitarista, vendo a realidade de fora, objetivada e à disposição do ser humano (BOFF, 2012, pág. 44). O antropocentris- mo vem, portanto, tomar o lugar do teocentrismo e a ciência surge como única portadora da verdade. Sousa Júnior (2009), entretanto, sabiamente adver- te o desenvolvimento da ciência não foi aleatório. Pelo contrário, ela obedeceu às regras estabelecidas por duas grandes ideologias, em torno das quais se organizou o século XX: o liberalismo, representado pelo mercado, e o socialismo, tendo o Estado como máximo de sua expressão. As duas forças foram bastante eficazes, por um tempo, “para produzir as transformações sociais requeridas, mas muitas estra- tégias não levaram exatamente aos resultados pre- tendidos”. (SOUSA JUNIOR, 2009, pág. 3) Ainda que mercado e Estado sejam questiona- dos a partir da metade do século XX, os resultados do pensamento cartesiano criaram, de forma redu- cionista, a separação quase total entre humanidade e ambiente. A busca de alimento e abrigo foi pratica- mente substituída pelo lucro e pelo luxo e a antiga provedora, a natureza, é ainda objeto de exploração desmedida, estando a ciência quase inteiramente a serviço da perpetuação das relações exploratórias. Sousa Junior (2009), reforçando este pensamento, cita Boaventura de Souza Santos: “Sendo um conhecimento mínimo que fecha as por- tas a muitos outros saberes sobre o mundo, o co- nhecimento científico moderno é um conhecimento desencantado e triste que transforma a natureza num autômato, ou, como dizPrigogine, num interlocutor terrivelmente estúpido. Este aviltamento da natureza acaba por aviltar o próprio cientista na medida em que reduz o próprio diálogo experimental ao exer- cício de uma prepotência sobre a natureza. O rigor científico, porque fundado no rigor matemático, é um rigor que quantifica e que, ao quantificar, desqua- lifica um rigor que, ao objectivar os fenômenos, os objectualiza e os degrada, que, ao caracterizar os fe- nômenos, os caricaturiza”. (SANTOS, 1993, pág. 32) (SOUSA JUNIOR, 2009, pág. 3) O que se propõe, então, é uma mudança pa- radigmática: as palavras “humano” e “húmus”, que significa terra, não possuem a mesma raiz originária casualmente (figura 3). O reducionismo que criou as separações entre humanidade e ambiente, dan- do àquela o domínio irrestrito sobre este, precisa ser substituído por valores integrativos e sistêmicos. Como resultado, espera-se que a humanidade repen- se fundamentalmente as relações estabelecidas entre si e com os demais seres vivos. “A própria ideia de desenvolvimento que se mede por critérios econômicos, incluindo aqui e acolá alguns itens de desenvolvimento humano, está, no fundo, ultrapassada. Não são poucos os que comungam desta visão: não se trata mais de pensar em desen- volvimento alternativo, mas em alternativas para o desenvolvimento. E estas têm de passar por uma re- volução paradigmática, caso queiramos sobreviver e salvar nosso ensaio civilizatório. Ou, então, enfrentar o pior.” (BOFF, 2012, pág. 12) A busca pelo alimento, que impulsionou o de- senvolvimento humano, permanece. Agora, metafo- ricamente, procura-se um alimento novo que tenha o poder de restaurar o vigor da vida na Terra. E o olhar, é preciso repetir, deve estar direcionado ao fu- turo, visualizando as necessidades das próximas ge- rações e, antes disto, a sua própria viabilidade. O termo sustentabilidade é cada dia mais ba- dalado, podendo ser definido de diferentes formas, todas elas contendo, porém, o elemento essencial de futuro: a preocupação com as gerações que es- tão por vir, suas condições de existência e, primor- dialmente, sua viabilidade de vida. É preciso atentar para o processo acelerado de extinção da humani- dade, tomando o cuidado devido para evitar que o número de gerações futuras possíveis seja reduzido. (VEIGA, 2010, pág. 89) 1.3. O ambiente e seus elementos de promo- ção de saúde Quando a OMS define saúde, dentre outras coi- sas, como um estado de bem-estar social, o mundo está buscando o restabelecimento depois da Segun- da Grande Guerra. Em meio ao fim dos horrores da guerra e a nascente esperança de paz, é possível compreender que o estado de saúde vai depender das condições sociais e do ambiente, incluindo ali- mentação suficiente e saudável, atividades físicas regulares, equilíbrio emocional e mental, trabalho digno e relações pessoais satisfatórias. (RHS, 2013) Um ambiente saudável é, portanto, considerado como condição básica para a promoção de saúde, em- bora, nesta época, o conceito de sustentabilidade ainda esteja longe de ser debatido. Veiga (2010), citando Lo- velock (2006), destaca esta relação de interdependência: (...) No segundo parágrafo do livro: A vingança de Gaia, afirma ver o declínio da saúde da Terra como a preocupação mais importante, porque a vida hu- mana depende de uma Terra sadia. E vai mais longe: “Nossa preocupação com ela deve vir em primeiro lugar porque o bem-estar das massas crescentes de seres humanos exige um planeta sadio.” (VEIGA, 2010, pág. 34) Saúde haverá na medida em que as relações entre humanos e os elementos – água, terra, fogo e ar – mantiverem-se em equilíbrio. Como meios carreadores vitais – a água garante a vida desde o útero materno, o ar é o grande fornecedor de oxi- gênio, a terra é base para o provimento de energia necessária ao desenvolvimento de todo ser vivo, e o fogo, gerador de calor, garante a manutenção da vida – são, por outro lado, potenciais portadores de morte. O mesmo líquido responsável por criar as condições de proteção para a vida em gestação pode transmitir doenças, contaminar o solo e cau- sar destruição e morte nas anuais tempestades de verão. Incêndios florestais e a presença maciça de metais pesados no ar das metrópoles dificultam ou mesmo impedem a respiração, e o solo em muitos lugares, por contaminação ou completo esgota- mento, não mais cumpre seu papel na produção de alimento, base de vida. Como anteriormente dito, a constante troca entre os seres vivos e o ambiente permite supor uma tênue separação entre os meios interno e ex- terno e fica somente a critério da didática a existên- cia de uma barreira, tal qual concebemos. Na respi- ração, tanto das plantas quanto dos animais, gases são aspirados e introduzidos nos processos fisioló- gicos. Através da pele humana, o grande órgão do sentido que também é responsável pela comunica- ção com o ambiente, substâncias químicas são ab- sorvidas sem que haja seleção racional. Como bem disse Lavoisier5: “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”: humanidade e ambien- te, numa relação constante de interdependência, caminham juntos para o mesmo destino. É interessante notar como o critério saúde já ocupa espaço considerável em locais onde antes reinavam interesses estritamente econômicos. Ain- da que a grande motivação seja a sua ausência, e não a necessária promoção. A respeito do pensa- mento de Friedman (2010), Veiga (2010) reflete: 5 Químico francês, considerado o pai da química moderna, foi o primeiro cientista a enunciar o princípio da conservação da matéria. “Hoje ele avalia que a China deve estar a apenas cin- co anos da decisão de esverdear, independentemente do que façam os Estados Unidos. Crê que a China esverdeará logo, não porque milhões de chineses fo- ram persuadidos pelo filme de Al Gore, mas porque a triste realidade da vida cotidiana está convencendo seus líderes de que não há alternativa. Não se con- segue respirar aquele ar, água dos rios deixou de ser potável, não há lagos onde se possa nadar ou pescar, foram destruídas as florestas, e as mudanças climáti- cas já afetam o país com secas cada vez mais longas e tempestades de areia cada vez mais frequentes. Por isso, acha que a China esverdeará por necessidade, lembrando aos leitores que a necessidade é a mãe das invenções.” (VEIGA, 2010, pág. 107) A relação entre saúde e ambiente não é recen- te. O governo do Canadá, ainda na década de 1970, “estimulou a identifi¬cação e análise das principais causas determinantes da morbidade e mortalidade no país e como tais causas influenciavam a saúde da população” (AZEVEDO & PELICIONI, 2011, pág. 716). Foi realizada, para isto, uma pesquisa que inten- tava saber quais os princípios determinantes da rela- ção saúde/doença, cujos achados são: 60% das razões eram ambientais, direta ou indiretamente, contra 25% resultantes da alimentação e apenas 5% sofriam o im- pacto da assistência médica. “Desde então, cresceu em importância o conceito de que a saúde decorre muito mais da qualidade de vida de uma dada socie- dade, do que propriamente de ações e intervenções médicas” (POLIGNANO, 2012, pág. 28). Apesar de ainda ser a mola propulsora, mesmo que por vezes um tanto torta, do conceito de desen- volvimento sustentável, o desempenho econômico tem cedido lugar a uma nova noção de qualidade de vida. Na busca por indicadores mais confiáveis para medir esta qualidade, e fugindo um pouco dos crité- rios quantitativos e de produção que o PIB (Produto Interno Bruto) propõe, destaque tem sido dado à saú- de. Além do critério de esperança de vida ao nascer, nos países que já atingiram longevidade alta o sufi- ciente, o que deve ser considerado agora é a esperan- ça de vida “em boa saúde”. Na Alemanha, enquanto a primeira se aproxima dos 80 anos, a segunda nem chega aos 60. Em forte contraste com o Reino Unido, onde a esperança de vida, “em boa saúde”,supera os 65 anos”. (VEIGA, 2010, pág. 140) Já em 1972, no Clube de Roma, o estado doen- tio da Terra foi motivo de análise e a causa principal devidamente identificada: o padrão de desenvolvi- mento extremamente “consumista, predatório, per- dulário e totalmente sem cuidado para com os recur- sos escassos e para com a forma como tratamos os dejetos, muitos deles danosos e não assimiláveis pela natureza”. (BOFF, 2012, pág. 25). Recentemente, um relatório realizado pela co- missão formada por Joseph Stiglitz, Amartya Sen e Jean Paul Fitoussi, conhecida como a Comissão SSF, mostrou que há três problemas diferentes que de- vem ser tratados de forma interdependente, e não isolada ou fundida, considerando as distinções: de- sempenho econômico, qualidade de vida e sustenta- bilidade ambiental. O relatório propõe, dentre outras ações, medidas alternativas ao PIB para a aferição de desempenho econômico e um olhar mais aprofun- dado e subjetivo sobre o que é qualidade de vida. Reconhece, entretanto, a inevitabilidade de serem utilizados critérios objetivos, citando a saúde em pri- meiro lugar, além de condições ambientais, educa- ção, condições de trabalho e vida, influência política e governança, conexões sociais, insegurança pessoal e insegurança econômica. (VEIGA, 2010, pág. 131) Azevedo & Pelicioni (2011) acrescentam que a promoção de saúde, “(...) como um novo paradigma da Saúde Pública, é percebido como um processo orientado por uma visão de saúde que considera as diversas causas do binômio saúde-doença a partir de valores éticos de democratização, estímulo à partici¬pação popular, à equidade, às práticas intersetoriais e à promoção da sustentabilidade. Nesse contexto, a saúde é percebida como produto de um amplo es¬pectro de fatores – ambiental, físico, social, político, econômico e cultu- ral – relacionados com a qualidade de vida.” (AZE- VEDO & PELICIONI, 2011, pág. 716) Parece clara, de acordo com a exposição ante- rior, a íntima relação existente entre ambiente equi- librado e saúde e a lógica necessidade de incluir o conceito de “cuidado” nesta relação. Reconhecida a influência do Iluminismo e do domínio da razão cartesiana sobre as formas de produção e, viven- ciando as consequências do desequilíbrio resultante nos vários setores, é preciso agir no sentido de uma mudança radical de comportamento. Boff lembra que a precaução é uma forma de cuidado e, neste momento, diante do risco – iminente ou futuro – derivado das ações humanas, medidas preventivas devem ser tomadas “mesmo se algumas relações de causa e efeito não forem plenamente estabelecidas cientificamente”. (BOFF, 2012, pág. 32) Os papéis desempenhados pelo humano e pelo planeta foram diversos ao longo de sua histó- ria comum. Num primeiro momento vulnerável, o humano rapidamente aprendeu a impor-se sobre o ambiente, sujeitando-o. Mas, em nenhum instante há dominação sem risco de revés, ou ação sem reação, e o planeta tem dado sinais de que o modo de agir da humanidade não é, de forma alguma, inócuo. Em outras palavras, “a degradação pode atingir condi- ções de irreversibilidade, explicitando a impossibi- lidade de resiliência de um determinado ambiente (MENDONÇA, 2000, pág. 90)”. A manutenção da saúde humana e, muito ainda além, da vida na Terra, depende de um repensar, seguido de novas ações. Algumas delas podem ser simples, como plantar ár- vores. (Figura 4) Santos (1992) observa: “O homem se torna fator geológico, geomor- fológico, climático e a grande mudança vem do fato de que os cataclismos naturais são um incidente, um momento, enquanto hoje a ação antrópica tem efei- tos continuados, e cumulativos, graças ao modelo de vida adotado pela humanidade. Daí vêm os graves problemas de relacionamen- to entre a atual civilização material e a Natureza. Assim, o problema do espaço humano ganha, nos dias de hoje, uma dimensão que ele não havia obtido jamais antes. Em todos os tempos, a problemática da base territorial da vida humana sempre preocu- pou a sociedade. Mas, nesta fase atual da história, tais preocupações redobraram, porque os problemas também se acumularam.” (SANTOS, 1992, pág. 95) Santos (1992) observa: “O homem se torna fator geológico, geomorfológico, climático e a grande mudança vem do fato de que os cataclismos naturais são um incidente, um momento, enquanto hoje a ação antrópica tem efeitos continua- dos, e cumulativos, graças ao modelo de vida adotado pela humanidade. Daí vêm os graves problemas de relacionamento en- tre a atual civilização material e a Natureza. Assim, o problema do espaço humano ganha, nos dias de hoje, uma dimensão que ele não havia obtido jamais antes. Em todos os tempos, a problemática da base territo- rial da vida humana sempre preocupou a sociedade. Mas, nesta fase atual da história, tais preocupações redobraram, porque os problemas também se acu- mularam.” (SANTOS, 1992, pág. 95) Por esta razão, é urgente considerar o estabe- lecimento de uma nova relação de cuidado, onde é proposto outro olhar: a Terra subsiste em si mesma, é viva, auto-organizada e portadora de valor intrín- seco. A relação entre o humano e a terra não deve ser mais “meramente utilitarista, mas de pertença e de reciprocidade. Esse olhar obriga o empreendedor a desenvolver uma nova conexão para com ela, como algo a ser respeitado” (BOFF, 2012, pág. 32). Como consequência, os processos produtivos e tecnológicos deverão adequar-se a este imperativo de cuidado e res- peito devidos a todo e qualquer ser vivo (Figura 5). Exercícios de reflexão a. Com base nos conceitos de sustentabilidade adje- tiva e substantiva e partindo da realidade de merca- do, liste alguns exemplos de produtos e/ou serviços que poderiam ilustrar cada conceito. b. A linha de pensamento da Economia Ecológica apregoa que é imprescindível interromper o cres- cimento econômico para que haja sustentabilidade. Baseado nas informações do texto, justifique a sua opinião sobre este pensamento. c. Estabeleça as relações entre o pensamento ilumi- nista, o domínio da razão e o desequilíbrio ambiental. d. Qual a importância da qualidade do ambiente para a presença de saúde humana? e. Em sua opinião, dialogando com os elementos da- dos pelo conteúdo desta unidade, qual a mudança paradigmática é mais urgente? Considerações para reflexão A atual configuração do mundo, aqui incluídos, planeta e humanidade – foi construída num curto espaço de tempo, se comparado aos milhares de anos de existência humana na Terra. Tempo curto, mas suficiente para provocar mudanças tão profun- das que ainda não encontraram resposta adequada e eficaz na solução dos problemas resultantes desta transformação desenfreada. É possível, com segurança, associar as mani- festações de doenças com o desequilíbrio ambiental crescente e, desde há muito, incontrolável. Apesar de todo o avanço tecnológico, a humanidade sofre a cada dia um novo mal, provocado direta ou indireta- mente pela ação humana sobre o planeta. Toda a modificação do modo de vida ocorri- do nos últimos dois séculos e meio aconteceu em decorrência da solidificação de ideias associadas às práticas diárias. O paradigma do desenvolvimen- to econômico, por mais que tenha sido criticado e combatido, mantém-se vivo e atuante, determinan- do os cursos de vida – ou de morte. Por tudo dito, uma mudança paradigmática se faz urgentemente necessária como garantia única de viabilizar a existência futura das gerações humanas. O papel do Educador Ambiental é, por esta razão, fundamental no processo de implementação da transformação desejada, intentando influenciar posi- tivamente na formação de atores sociais mobilizados e atuantes. Concluindo, é possível dizer que a promoção da saúde dependerá, absolutamente, de uma nova visão de mundo, integrada e integradora, associando razão e ética, sabedora de que humanos e húmus, ainda, são necessariamente interdependentes e que os caminhosde um definirão, sem sombra de dúvi- da, os caminhos do outro. Referências Bibliográficas AZEVEDO, Elaine de; PELICIONI, Maria Ce- cília Focesi. Promoção da Saúde, Sustentabilidade e Agroecologia: uma discussão intersetorial. Saúde soc., São Paulo, vol. 20, n.º 3, Sept. 2011. Disponível em; <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0104-12902011000300016&lng=en& nrm=iso>. Acesso em: 08 de abril de 2013. BAPTISTA, Vinícius Ferreira. A Educação Ambien- tal para um ambiente equilibrado. Saúde & Amb. Rev., Duque de Caxias, vol.7, n.º1, págs. 01-09, jan/ jun. de 2012. Disponível em: <http://publicacoes. unigranrio.edu.br/index.php/sare/article/viewFi- le/1658/828>. Acesso em: 06 de Março de 2013. BOFF, Leonardo. 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