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EDUCACAO_AMBIENTAL_E_SUSTENTABILIDADE_UNI_1

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1ª Edição |Agosto| 2014
Impressão em São Paulo/SP
 Educação ambiental 
e sustentabilidade
Nadiella Monteiro
Apresentação
Quando se propõe a escrever sobre Educação 
Ambiental e Sustentabilidade, buscando o diálogo 
com os profissionais de saúde, um mundo de pos-
sibilidades se descortina. Quais os limites, então, do 
tema que aqui se desenvolve? Estabelecer conceitos 
e definições se faz, portanto, necessário. Ainda que 
a delimitação cerceie, de alguma maneira, a grande 
riqueza contida nas palavras, ela pode ser bastante 
didática quando estabelece um foco para o olhar.
Assim, falar de saúde não é apenas falar da “não 
doença”. Já, em 1978, na Declaração de Alma-Ata, 
a Conferência Internacional sobre Cuidados Primá-
rios de Saúde enfatiza que:
“a saúde - estado de completo bem-estar físico, men-
tal e social, e não simplesmente a ausência de doença 
ou enfermidade - é um direito humano fundamen-
tal, e que a consecução do mais alto nível possível de 
saúde é a mais importante meta social mundial, cuja 
realização requer a ação de muitos outros setores so-
ciais e econômicos, além do setor saúde.” (MS, 2013)
O Escritório Regional Europeu da OMS, por 
sua vez, reconhece a presença de saúde,
“à medida em que um indivíduo ou grupo é capaz, 
por um lado, de realizar aspirações e satisfazer neces-
sidades e, por outro, de lidar com o meio ambiente. 
A saúde é, portanto, vista como um recurso para a 
vida diária, não o objetivo dela; abranger os recursos 
sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas, é 
um conceito positivo.” (RHS, 2013)
É prática comum, entre os profissionais da área, 
a ação em torno da promoção da saúde, que deve 
antever e prevenir a necessidade da cura da doença. 
É também possível, de forma abrangente, falar de 
saúde ecossistêmica: e daí pensar o indivíduo como 
parte de um todo, o ambiente onde vive e se movi-
menta, com o qual se relaciona e do qual se alimenta, 
agindo sobre ele e dele sofrendo ação. 
A partir do espaço interno de cada ser vivo, 
considerando as redes de interligação existentes 
nos meios intra e extracelulares e aumentando em 
complexidade na formação de órgãos e sistemas, até 
chegar às relações estabelecidas entre as comunida-
des humanas, há, em todo tempo, como condição 
indispensável para a vida, a troca com o ambiente 
– notadamente quando se trata do sistema respirató-
rio, mas muito grandemente executada pela pele hu-
mana, o maior órgão de comunicação entre os meios 
interno e externo.
É possível perguntar, então: Onde termina o in-
divíduo e onde inicia o ambiente? Não fosse a neces-
sidade didática das delimitações e definições, talvez 
ficasse a pergunta sem resposta exata.
Como bem exemplifica Polignano et al (2012), um 
peixe doente vivendo no poluído rio das Velhas, pode 
ser tratado com eficácia ao ser retirado do seu ambiente 
por um espaço de tempo e ter recuperada sua condição 
de saúde. Mas, se for devolvido ao seu inalterado habi-
tat, de nada valerá o sucesso do tratamento.
De igual forma, dada a condição de íntima re-
lação entre seres humanos e o ambiente – ainda que 
esses vivam, em sua maioria absoluta, em áreas urba-
nas e forçadamente por este mesmo motivo – o cui-
dado intensivo com o meio e a promoção de saúde 
ambiental tornam-se indispensáveis como requisitos 
básicos para a promoção da saúde humana.
A sustentabilidade deve ser, por tudo dito, bus-
cada de forma intencional, quando o objetivo é pro-
mover a saúde.
E ela, sustentabilidade, ainda que muito em voga 
nos presentes dias, também sofre da falta de consenso 
em relação ao que pode significar. Com toda a ampli-
tude que é característica dos conceitos vivos, defini-la 
é preciso pelo óbvio fim didático. Seu componente 
de futuro é fundamental, mas precisa ser gritado em 
tempos de imediatismo em todos os âmbitos.
Em princípio, como um tripé, a sustentabilidade 
deveria se ater às questões ambientais, sociais e eco-
nômicas. Especialistas, hoje em dia, incluem as faces: 
cultural, espiritual, ética e estética como elementos de 
observância no cuidado com o planeta e a biosfera. A 
própria palavra “cuidado”, tão familiar aos profissio-
nais de saúde, é buscada como a maneira necessária 
de promoção de um mundo sustentável.
As ações imprescindíveis para promover a sus-
tentabilidade e a consequente saúde – que, dada a ar-
gumentação anterior, não necessitaria mais ser adje-
tivada, ambiental ou humana, entendendo-se a óbvia 
e contingente interdependência – devem perpassar, 
preenchida de cuidado, a educação ambiental.
É, por fim, este o principal objetivo deste livro: 
por meio do estabelecimento de relações entre sus-
tentabilidade e saúde, promover a iniciação a uma 
formação necessária para que o profissional obte-
nha, num primeiro momento, um olhar abrangente 
e crítico sobre o ambiente do qual é parte indissoci-
ável e, como consequência, a possibilidade de uma 
ação protagonista na promoção da saúde – humana, 
ambiental e das relações entre estas.
Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353
Coordenação Geral 
Nelson Boni
Professor Responsável
Nadiella Monteiro
Coordenadora Peda-
gógica de Curso- EAD
-
Coordenação de Projetos
Leandro Lousada
Revisão Ortográfica
Elisete Teixeira
Projeto Gráfico, Dia-
gramação e Capa
Ana Flávia Marcheti
1º Edição: Agosto de 2014
Impressão em São Paulo/SP
Educação ambiental e sustentabilidade
Sumário
Unidade 1 - Sustentabilidade e Saúde
1.1. O que é sustentabilidade, afinal?
1.2. Humanos, húmus e a busca pelo alimento.
1.3. O ambiente e seus elementos de promoção de saúde.
1.4. Exercícios de reflexão
Referências bibliográficas
. 11
. 47
Unidade 1 - 
Sustentabilidade e Saúde
Sendo um valor em constituição, o conceito de sustentabi-
lidade permanece ainda coberto de incertezas. Apesar dos 
variados entendimentos, no entanto, há consenso sobre 
o seu olhar para o futuro, a partir de pés bem apoiados 
na realidade presente, tocando a terra. E é a partir dela 
e dos demais elementos naturais, na relação primordial 
de alimentadora da humanidade, que se dará o princípio 
da percepção de um ambiente equilibrado como condição 
indispensável para a qualidade de vida. 
Esta primeira unidade propõe, portanto, a possibilidade 
de compreender a interdependência existente entre sus-
tentabilidade e a promoção de saúde, constituindo a base 
do conhecimento necessário para o seu alcance.
1.1. O que é sustentabilidade, afinal?
Talvez seja ela a expressão do momento. Evo-
cando um misto de preocupação e esperança, tem 
sido utilizada das mais diversas maneiras e para os 
mais variados fins. Por princípio, estaria a serviço de 
mudanças fundamentais nas relações estabelecidas 
entre humanos, a natureza e os processos produti-
vos, com olhos para o futuro. Como adjetivo, é palia-
tiva e se prestaria a pintar de verde as mesmas velhas 
relações de exploração e dominação históricas da 
humanidade sobre o planeta Terra. 
Tanto o substantivo “sustentabilidade”, quanto 
o adjetivo “sustentável” e o seu composto deriva-
do “desenvolvimento sustentável”, têm sido objetos 
de estudo semântico. Há importância em buscar um 
conceito, uma vez que o bom entendimento pode 
melhor direcionar a utilização do termo e as ações 
decorrentes. Mas, uma noção precisa, ainda, está 
longe de ser conhecida.
Boff (2012) informa que o termo sustentabi-
lidade foi extraído do campo da economia e usado, 
pela primeira vez, por Carl Von Carlowitz, em 1713, 
na publicação do livro, escrito em latim, De sylvi-
cultura oeconomica (BOFF, 2012, pág. 19). Veiga 
(2010) por sua vez, assegura que o adjetivo sustentá-
vel ganha amplitude de sentido apenas a partir dos 
anos 1980. Até então, “não passava de um jargão 
técnico usado por algumas comunidades científicas 
para evocar a possibilidade de um ecossistema não 
perder sua resiliência” (VEIGA, 2010, pág. 11). Na-
quela década, começou a ser usado para qualificar 
o desenvolvimento e, logo em seguida, foi legitima-do no histórico ano de 1992, ainda que carregasse 
um misto de suspeita e rejeição, tanto pela direita1, 
atenta em ganhar mais espaço no liberalismo econô-
mico, quanto pela esquerda2, preocupada em perder, 
para os problemas ambientais, o espaço reservado às 
questões sociais.
No presente momento, segundo Veiga (2010), 
seu sentido gravita em torno das pouco precisas no-
ções de continuidade, durabilidade ou perenidade. 
Pretendendo remeter à construção de futuro, mas 
servindo, ao mesmo tempo, a gregos e troianos, a 
palavra “sustentabilidade” pode estar sendo utilizada 
de forma metafórica para colorir de verde o que é, 
na verdade, cinza chumbo.
Boff (2012) fazendo coro à crítica sobre a pos-
1 Posição política ou ideológica que prima pela proteção do direito 
individual e da propriedade privada, entendendo ser a história deter-
minada pelas forças econômicas e busca pelo livre mercado.
2 Posição política ou ideológica que acredita na capacidade humana 
para construir uma sociedade ideal e entende que é a cultura e os gran-
des homens, não as forças econômicas, os determinantes da história. 
Busca a coletivização e a intervenção do Estado na economia.
sível banalização do termo estabelece uma distinção 
entre a sustentabilidade substantiva e, a versão mais 
usada, a sustentabilidade adjetiva. A respeito desta 
última, ele explica que agregar o termo a qualquer 
coisa sem alterar a sua natureza, sem interferir nas 
relações estabelecidas de produção, exploração e 
utilização dos recursos naturais, é uma maneira de 
manter o foco no lucro e na competição, acomo-
dando a acepção de sustentabilidade ao sistema eco-
nômico vigente. “Posso diminuir a poluição química 
de uma fábrica colocando filtros melhores em suas 
chaminés que expelem gases. Mas, a maneira pela 
qual a empresa se relacionada com a natureza (...) 
não muda”. (BOFF, 2012, pág. 9) 
Por sustentabilidade substantiva, aquela que 
nega a acomodação e produz a mudança, Boff 
(2012) entende a completa alteração de visão de 
mundo, destacando a necessidade que os humanos 
têm de se perceberem parte “da rede de relações, 
que envolve todos os seres, para o bem e para o mal” 
(BOFF, 2012, pág. 10). Para o teólogo, é claro e sim-
ples o sentido do termo, significando, portanto,
“(...) o uso racional dos recursos escassos da Terra, 
sem prejuízo do capital natural, mantido em condi-
ções de sua reprodução e de sua coevolução, consi-
derando ainda as gerações futuras que também têm 
direito a um planeta habitável.”
“Trata-se de uma diligência que envolve um tipo de 
economia respeitadora dos limites de cada ecossis-
tema e da própria Terra, uma sociedade que busca 
a equidade e a justiça social mundial e um meio am-
biente suficientemente preservado que possa atender 
às demandas humanas atuais e futuras.”
“Como se pode inferir, a sustentabilidade alcança a 
sociedade, a política, a cultura, a arte, a natureza, o 
planeta e a vida de cada pessoa. Fundamentalmen-
te importa garantir as condições físico-químicas e 
ecológicas que sustentam a produção e a reprodução 
da vida e da civilização em todas as suas instâncias.” 
(BOFF, 2012, pág. 20)
Não há, para Veiga (2010) tal clareza objetiva 
na definição do termo sustentabilidade e, por este 
motivo, ele segue aprofundando sua pesquisa. Mes-
mo que tenha sido amplamente incorporado nas di-
versas áreas do conhecimento, o debate a respeito 
do sentido do que é sustentável é responsabilidade, 
sobretudo, de duas disciplinas: a economia e a eco-
logia. Para a última, o termo pode estar associado ao 
equilíbrio dos ecossistemas, à resiliência3 e muito em 
voga, à pegada ecológica. A economia, por sua vez, 
3 Propriedade que possuem alguns materiais de acumular energia sob 
grande pressão e retornar ao seu formato inicial, sem sofrer defor-
mações consideráveis. Na ecologia, refere-se à capacidade de retorno 
ao equilíbrio de um sistema que foi severamente submetido a danos.
desenvolve seu argumento em duas linhas principais: 
a) sustentabilidade fraca, cuja condição necessária e 
suficiente é que cada geração deve legar a seguinte 
os capitais econômico, natural-ecológico e humano-
-social; b) sustentabilidade forte, que afirma ser obri-
gatório manter constantes, pelo menos, os serviços 
de capital natural. Uma variante desta segunda linha 
coloca o foco nos fluxos de capital e não no estoque 
residual a ser herdado pela geração seguinte. (VEI-
GA, 2010, pág. 18)
E é exatamente de fluxos que vai tratar a pers-
pectiva biofísica, trazendo o conceito de entropia4, 
quando só pode haver sustentabilidade com a mi-
nimização dos fluxos de energia e matéria que atra-
vessam esse subsistema, havendo a necessidade, 
portanto, de desvincular os avanços sociais qualita-
tivos daqueles infindáveis aumentos quantitativos da 
produção e do consumo. Assim, esta corrente ques-
tiona a possibilidade de aliar progresso contínuo e 
infindável com a permanência da vida humana no 
planeta Terra.
É Veiga (2010) ainda, que afirma que há, entre 
4 Grandeza capaz de medir a irreversibilidade de um sistema, quando 
há grande produção de energia térmica em decorrência de trabalho; 
este calor resultante é pouco aproveitável, sendo facilmente dissipado. 
Quanto maior o fluxo de energia num sistema isolado, maior a entro-
pia resultante e a consequente desorganização deste sistema.
os economistas, três diferentes vertentes com respei-
to à sustentabilidade. A primeira delas, convencional 
e claramente majoritária, defende que a recuperação 
ambiental só começaria a sobrepujar a degradação 
quando a renda per capita superasse a meta de 20 mil 
dólares. Logo, o melhor caminho para a sustentabili-
dade seria aumentar o desempenho econômico. Um 
segundo pensamento, da economia ecológica, afir-
ma que é necessário transitar pela condição estacio-
nária, quando é provável que a qualidade de vida siga 
melhorando, sem expandir o subsistema econômico. 
Há, ainda, uma terceira via: a reconfiguração do pro-
cesso produtivo, com oferta de bens e serviços, ten-
deria a ganhar em ecoeficiência, desmaterializando-
-se e ficando cada vez menos intensivo em produção 
e dissipação de energia.
Jacobi (2003) reforça a visão trinitária da sus-
tentabilidade quanto considera a presença impres-
cindível de cálculo econômico, do aspecto biofísico 
e do componente sociopolítico, como formas de lei-
tura do mundo e possibilidades de alteração da lógi-
ca desenvolvimentista predatória, conforme mostra 
a Figura 1. Ou, como propõe brilhantemente Alves 
Sobrinho (2010), apresentando Saldiva et al (2010): 
“partindo destes três pressupostos, chegamos às 
bases das nossas tarefas imediatas e futuras: justiça 
social, equilíbrio ambiental, economia integradora” 
(SALDIVA et al, 2010, pág. 8, grifo do autor). Acres-
centa Jacobi (2003) ainda, que o chamado desenvol-
vimento sustentável
“não se refere especificamente a um problema limita-
do de adequações ecológicas de um processo social, 
mas a uma estratégia ou um modelo múltiplo para 
a sociedade, que deve levar em conta tanto a viabi-
lidade econômica como a ecológica. Num sentido 
abrangente, a noção de desenvolvimento sustentável 
reporta-se à necessária redefinição das relações entre 
sociedade humana e natureza, e, portanto, a uma mu-
dança substancial do próprio processo civilizatório, 
introduzindo o desafio de pensar a passagem do con-
ceito para a ação. Pode-se afirmar que ainda prevalece 
a transcendência do enfoque sobre o desenvolvimen-
to sustentável radical mais na sua capacidade de ideia 
força, nas suas repercussões intelectuais e no seu pa-
pel articulador de discursos e de práticas atomizadas 
que, apesar desse caráter, tem matriz única, originada 
na existência de uma crise ambiental, econômica e 
também social.” (JACOBI, 2003, pág. 195)
Para Jacobi (2006), o sentido de desenvolvimen-
to sustentável deverá ser compreendido como um 
procedimento que cria restrições relativas à explo-
ração dos recursos naturais,ao planejamento do de-
senvolvimento tecnológico e ao marco institucional. 
Desta forma, em consonância com o pensamento 
da economia ecológica, ele associa sustentabilidade 
com a necessidade de estabelecer uma clara limita-
ção nas possibilidades de crescimento. Acrescenta, 
ainda, a importância de que se estabeleçam iniciati-
vas que considerem a participação de interlocutores 
e atores sociais por meio de práticas educativas, atra-
vés do diálogo informado, promovendo e reforçan-
do o sentimento de corresponsabilização e de for-
mação de valores éticos, indispensáveis na criação 
de alternativas para o crescimento. (JACOBI, 2006)
Acrescente-se, ainda, a concepção de Azevedo 
& Pelicioni (2011), a qual entende que:
“(...) o desenvolvimento sustentável resgata as 
premissas de equidade social; de distribuição de ri-
quezas; do fim da exploração dos seres humanos; 
da eliminação das discriminações de gênero, raça, 
geração ou qualquer outra; da garantia de direitos 
a vida, felicidade, saúde, educação, moradia, cultu-
ra, emprego e envelhecimento com dignidade; da 
demo¬cracia plena, além da responsabilidade ecoló-
gica e da participação cidadã como partes indissoci-
áveis do desenvolvimento.” (AZEVEDO & PELI-
CIONI, 2011, pág. 717) 
A ausência de uma única definição consensual 
não deve, entretanto, ser motivo para o não enten-
dimento ou a não aceitação do sentido. É preciso 
lembrar o fato de ser a sustentabilidade um novo va-
lor que só começou a firmar-se meio século depois 
da adoção, pela ONU, da Declaração Universal dos 
Direitos Humanos, em 1948. Jacobi (2006) ressalta 
que: “As noções de desenvolvimento e direitos hu-
manos representam duas ideias força que marcam 
a segunda metade do século XX” (JACOBI, 2006, 
pág. 525). O direito a um ambiente equilibrado tam-
bém deve ser considerado, podendo-se comparar 
o conceito de desenvolvimento sustentável ao seu 
“nobre antepassado”, a “justiça social”. (VEIGA, 
2010, pág. 13)
Como tantos outros que o precederam, o valor 
“sustentabilidade” careceu de tempo para firmar-se 
como tal, como bem observa Veiga (2010):
“Como dizia o pessimista Schopenhauer, toda 
verdade passa por três estados: primeiro é ridiculariza-
da, depois violentamente combatida, e finalmente acei-
ta como evidente. Com a sustentabilidade, um ciclo 
semelhante completou-se em três décadas”. (pág. 13)
 “(...) um valor nunca é uma noção que pos-
sa ser bem definida, mesmo que seja unânime o re-
conhecimento de situações concretas em que ele foi 
contrariado. É inútil, portanto, tentar defender uma 
determinada concepção de sustentabilidade contra os 
abusos inerentes ao processo de banalização da ideia. 
Ao contrário, o que mais interessa é chamar a atenção 
das pessoas para o fato de que, ao empregarem tal 
termo, estarão inevitavelmente lidando com o valor 
do amanhã.” (pág. 40)
É possível compreender que, mesmo que não 
haja absoluto consenso a respeito do conceito, o 
valor sustentabilidade deve ser incorporado no dia 
a dia, num caminho sem volta, sob o risco de, não 
o fazendo, destruírem-se todas as possibilidades da 
humanidade continuar caminhando como sugere a 
bem-humorada, a Figura 2.
1.2. Humanos, húmus e a busca pelo alimento
“Ontem, o homem escolhia, em torno, naquele seu 
quinhão de Natureza, o que lhe podia ser útil para a 
renovação de sua vida: espécies animais e vegetais, pe-
dras, árvores, florestas, rios, feições geológicas. Esse 
pedaço de mundo é da Natureza toda de que ele pode 
dispor seu subsistema útil, seu quadro vital. Então, há 
descoordenação entre grupos humanos dispersos, en-
quanto se reforça uma estreita cooperação entre cada 
grupo e o seu meio: não importa que as trevas, o tro-
vão, as matas, as enchentes possam criar o medo: é 
o tempo do Homem amigo e da natureza amiga. As-
sim, como Michelet escreveu no Tableau de La France 
(1833): “A natureza é atroz, o homem é atroz, mas pa-
recem entender-se.” (SANTOS, 1992, pág. 96)
No texto anterior, Santos (1992) reflete sobre os 
princípios da história do relacionamento entre huma-
nidade e natureza, marcada pela “ruptura progressiva 
entre o homem e o entorno. Esse processo se acelera 
quando (...) o homem se descobre como indivíduo e 
inicia a mecanização do planeta, armando-se de no-
vos instrumentos para tentar dominá-lo.” (SANTOS, 
1992, pág. 96). O resultado deste distanciamento é 
visto pela artificialização do meio natural. 
É interessante pensar que toda a necessidade 
de reflexão sobre o conceito de sustentabilidade e a 
incorporação deste novo valor é devida diretamente 
a este distanciamento histórico entre humanidade e 
natureza. Até meados do século XVIII, quando o 
pensamento iluminista clareia o obscurantismo da 
Idade Média, a relação entre humanos e o planeta era 
feita menos de dominância do que de dependência. 
A partir do momento em que a natureza torna-se 
objeto de estudo científico, o distanciamento neces-
sário para a observação coloca a humanidade numa 
posição de dominância inédita e, então, indiscutível. 
O ser humano, deste momento em diante, está do 
lado de fora e de cima da relação e, ao mesmo tem-
po, no centro de tudo: é possível analisar, dominar 
e interferir de forma objetiva, intentando progresso 
contínuo e irrefletido. 
Até então, o estabelecimento da relação entre 
humanos e natureza, relatado desde os primórdios 
da humanidade, dava-se a partir da busca pela sobre-
vivência, na dependência total do meio natural, que 
à humanidade oferecia abrigo e alimento. Ao mesmo 
tempo em que ameaçava por ser ainda insondável, 
era a Terra a grande provedora, da qual os humanos 
constituíam parte indissociável. Ou, como bem afir-
mou Santos (1992), terra e humanos pareciam en-
tender-se. A busca pelo alimento, que em princípio 
motivava os caminhares pelo planeta e a ocupação 
territorial, cria as condições para o surgimento da 
agricultura. Esta, por sua vez, representa um salto 
importante na história: o ser humano, antes caçador 
e coletor, deixa de ser apenas receptor da doadora 
natureza, passando a conhecer os segredos da terra 
e agindo nela com o intuito de produzir, de seus fru-
tos, o sustento.
O Iluminismo, quando se propõe a jogar luzes 
sobre a escuridão da Idade Média, substitui o domí-
nio religioso – e com ele o que é místico na cultura 
– pelo domínio da razão; razão esta que Boff (2012) 
vai classificar como sendo instrumental-analítico-
-funcional, representando o uso utilitarista, vendo a 
realidade de fora, objetivada e à disposição do ser 
humano (BOFF, 2012, pág. 44). O antropocentris-
mo vem, portanto, tomar o lugar do teocentrismo 
e a ciência surge como única portadora da verdade. 
Sousa Júnior (2009), entretanto, sabiamente adver-
te o desenvolvimento da ciência não foi aleatório. 
Pelo contrário, ela obedeceu às regras estabelecidas 
por duas grandes ideologias, em torno das quais se 
organizou o século XX: o liberalismo, representado 
pelo mercado, e o socialismo, tendo o Estado como 
máximo de sua expressão. As duas forças foram 
bastante eficazes, por um tempo, “para produzir as 
transformações sociais requeridas, mas muitas estra-
tégias não levaram exatamente aos resultados pre-
tendidos”. (SOUSA JUNIOR, 2009, pág. 3)
Ainda que mercado e Estado sejam questiona-
dos a partir da metade do século XX, os resultados 
do pensamento cartesiano criaram, de forma redu-
cionista, a separação quase total entre humanidade e 
ambiente. A busca de alimento e abrigo foi pratica-
mente substituída pelo lucro e pelo luxo e a antiga 
provedora, a natureza, é ainda objeto de exploração 
desmedida, estando a ciência quase inteiramente a 
serviço da perpetuação das relações exploratórias. 
Sousa Junior (2009), reforçando este pensamento, 
cita Boaventura de Souza Santos:
“Sendo um conhecimento mínimo que fecha as por-
tas a muitos outros saberes sobre o mundo, o co-
nhecimento científico moderno é um conhecimento 
desencantado e triste que transforma a natureza num 
autômato, ou, como dizPrigogine, num interlocutor 
terrivelmente estúpido. Este aviltamento da natureza 
acaba por aviltar o próprio cientista na medida em 
que reduz o próprio diálogo experimental ao exer-
cício de uma prepotência sobre a natureza. O rigor 
científico, porque fundado no rigor matemático, é 
um rigor que quantifica e que, ao quantificar, desqua-
lifica um rigor que, ao objectivar os fenômenos, os 
objectualiza e os degrada, que, ao caracterizar os fe-
nômenos, os caricaturiza”. (SANTOS, 1993, pág. 32) 
(SOUSA JUNIOR, 2009, pág. 3)
O que se propõe, então, é uma mudança pa-
radigmática: as palavras “humano” e “húmus”, que 
significa terra, não possuem a mesma raiz originária 
casualmente (figura 3). O reducionismo que criou 
as separações entre humanidade e ambiente, dan-
do àquela o domínio irrestrito sobre este, precisa 
ser substituído por valores integrativos e sistêmicos. 
Como resultado, espera-se que a humanidade repen-
se fundamentalmente as relações estabelecidas entre 
si e com os demais seres vivos.
“A própria ideia de desenvolvimento que se mede por 
critérios econômicos, incluindo aqui e acolá alguns 
itens de desenvolvimento humano, está, no fundo, 
ultrapassada. Não são poucos os que comungam 
desta visão: não se trata mais de pensar em desen-
volvimento alternativo, mas em alternativas para o 
desenvolvimento. E estas têm de passar por uma re-
volução paradigmática, caso queiramos sobreviver e 
salvar nosso ensaio civilizatório. Ou, então, enfrentar 
o pior.” (BOFF, 2012, pág. 12)
A busca pelo alimento, que impulsionou o de-
senvolvimento humano, permanece. Agora, metafo-
ricamente, procura-se um alimento novo que tenha 
o poder de restaurar o vigor da vida na Terra. E o 
olhar, é preciso repetir, deve estar direcionado ao fu-
turo, visualizando as necessidades das próximas ge-
rações e, antes disto, a sua própria viabilidade.
O termo sustentabilidade é cada dia mais ba-
dalado, podendo ser definido de diferentes formas, 
todas elas contendo, porém, o elemento essencial 
de futuro: a preocupação com as gerações que es-
tão por vir, suas condições de existência e, primor-
dialmente, sua viabilidade de vida. É preciso atentar 
para o processo acelerado de extinção da humani-
dade, tomando o cuidado devido para evitar que o 
número de gerações futuras possíveis seja reduzido. 
(VEIGA, 2010, pág. 89)
1.3. O ambiente e seus elementos de promo-
ção de saúde
Quando a OMS define saúde, dentre outras coi-
sas, como um estado de bem-estar social, o mundo 
está buscando o restabelecimento depois da Segun-
da Grande Guerra. Em meio ao fim dos horrores 
da guerra e a nascente esperança de paz, é possível 
compreender que o estado de saúde vai depender 
das condições sociais e do ambiente, incluindo ali-
mentação suficiente e saudável, atividades físicas 
regulares, equilíbrio emocional e mental, trabalho 
digno e relações pessoais satisfatórias. (RHS, 2013)
Um ambiente saudável é, portanto, considerado 
como condição básica para a promoção de saúde, em-
bora, nesta época, o conceito de sustentabilidade ainda 
esteja longe de ser debatido. Veiga (2010), citando Lo-
velock (2006), destaca esta relação de interdependência:
(...) No segundo parágrafo do livro: A vingança de 
Gaia, afirma ver o declínio da saúde da Terra como 
a preocupação mais importante, porque a vida hu-
mana depende de uma Terra sadia. E vai mais longe: 
“Nossa preocupação com ela deve vir em primeiro 
lugar porque o bem-estar das massas crescentes de 
seres humanos exige um planeta sadio.” (VEIGA, 
2010, pág. 34)
Saúde haverá na medida em que as relações 
entre humanos e os elementos – água, terra, fogo 
e ar – mantiverem-se em equilíbrio. Como meios 
carreadores vitais – a água garante a vida desde o 
útero materno, o ar é o grande fornecedor de oxi-
gênio, a terra é base para o provimento de energia 
necessária ao desenvolvimento de todo ser vivo, e 
o fogo, gerador de calor, garante a manutenção da 
vida – são, por outro lado, potenciais portadores 
de morte. O mesmo líquido responsável por criar 
as condições de proteção para a vida em gestação 
pode transmitir doenças, contaminar o solo e cau-
sar destruição e morte nas anuais tempestades de 
verão. Incêndios florestais e a presença maciça de 
metais pesados no ar das metrópoles dificultam ou 
mesmo impedem a respiração, e o solo em muitos 
lugares, por contaminação ou completo esgota-
mento, não mais cumpre seu papel na produção de 
alimento, base de vida.
Como anteriormente dito, a constante troca 
entre os seres vivos e o ambiente permite supor 
uma tênue separação entre os meios interno e ex-
terno e fica somente a critério da didática a existên-
cia de uma barreira, tal qual concebemos. Na respi-
ração, tanto das plantas quanto dos animais, gases 
são aspirados e introduzidos nos processos fisioló-
gicos. Através da pele humana, o grande órgão do 
sentido que também é responsável pela comunica-
ção com o ambiente, substâncias químicas são ab-
sorvidas sem que haja seleção racional. Como bem 
disse Lavoisier5: “Na Natureza nada se cria, nada se 
perde, tudo se transforma”: humanidade e ambien-
te, numa relação constante de interdependência, 
caminham juntos para o mesmo destino.
É interessante notar como o critério saúde já 
ocupa espaço considerável em locais onde antes 
reinavam interesses estritamente econômicos. Ain-
da que a grande motivação seja a sua ausência, e 
não a necessária promoção. A respeito do pensa-
mento de Friedman (2010), Veiga (2010) reflete:
5 Químico francês, considerado o pai da química moderna, foi o 
primeiro cientista a enunciar o princípio da conservação da matéria.
“Hoje ele avalia que a China deve estar a apenas cin-
co anos da decisão de esverdear, independentemente 
do que façam os Estados Unidos. Crê que a China 
esverdeará logo, não porque milhões de chineses fo-
ram persuadidos pelo filme de Al Gore, mas porque 
a triste realidade da vida cotidiana está convencendo 
seus líderes de que não há alternativa. Não se con-
segue respirar aquele ar, água dos rios deixou de ser 
potável, não há lagos onde se possa nadar ou pescar, 
foram destruídas as florestas, e as mudanças climáti-
cas já afetam o país com secas cada vez mais longas 
e tempestades de areia cada vez mais frequentes. Por 
isso, acha que a China esverdeará por necessidade, 
lembrando aos leitores que a necessidade é a mãe das 
invenções.” (VEIGA, 2010, pág. 107)
A relação entre saúde e ambiente não é recen-
te. O governo do Canadá, ainda na década de 1970, 
“estimulou a identifi¬cação e análise das principais 
causas determinantes da morbidade e mortalidade 
no país e como tais causas influenciavam a saúde da 
população” (AZEVEDO & PELICIONI, 2011, pág. 
716). Foi realizada, para isto, uma pesquisa que inten-
tava saber quais os princípios determinantes da rela-
ção saúde/doença, cujos achados são: 60% das razões 
eram ambientais, direta ou indiretamente, contra 25% 
resultantes da alimentação e apenas 5% sofriam o im-
pacto da assistência médica. “Desde então, cresceu 
em importância o conceito de que a saúde decorre 
muito mais da qualidade de vida de uma dada socie-
dade, do que propriamente de ações e intervenções 
médicas” (POLIGNANO, 2012, pág. 28). 
Apesar de ainda ser a mola propulsora, mesmo 
que por vezes um tanto torta, do conceito de desen-
volvimento sustentável, o desempenho econômico 
tem cedido lugar a uma nova noção de qualidade de 
vida. Na busca por indicadores mais confiáveis para 
medir esta qualidade, e fugindo um pouco dos crité-
rios quantitativos e de produção que o PIB (Produto 
Interno Bruto) propõe, destaque tem sido dado à saú-
de. Além do critério de esperança de vida ao nascer, 
nos países que já atingiram longevidade alta o sufi-
ciente, o que deve ser considerado agora é a esperan-
ça de vida “em boa saúde”. Na Alemanha, enquanto 
a primeira se aproxima dos 80 anos, a segunda nem 
chega aos 60. Em forte contraste com o Reino Unido, 
onde a esperança de vida, “em boa saúde”,supera os 
65 anos”. (VEIGA, 2010, pág. 140)
Já em 1972, no Clube de Roma, o estado doen-
tio da Terra foi motivo de análise e a causa principal 
devidamente identificada: o padrão de desenvolvi-
mento extremamente “consumista, predatório, per-
dulário e totalmente sem cuidado para com os recur-
sos escassos e para com a forma como tratamos os 
dejetos, muitos deles danosos e não assimiláveis pela 
natureza”. (BOFF, 2012, pág. 25).
Recentemente, um relatório realizado pela co-
missão formada por Joseph Stiglitz, Amartya Sen e 
Jean Paul Fitoussi, conhecida como a Comissão SSF, 
mostrou que há três problemas diferentes que de-
vem ser tratados de forma interdependente, e não 
isolada ou fundida, considerando as distinções: de-
sempenho econômico, qualidade de vida e sustenta-
bilidade ambiental. O relatório propõe, dentre outras 
ações, medidas alternativas ao PIB para a aferição de 
desempenho econômico e um olhar mais aprofun-
dado e subjetivo sobre o que é qualidade de vida. 
Reconhece, entretanto, a inevitabilidade de serem 
utilizados critérios objetivos, citando a saúde em pri-
meiro lugar, além de condições ambientais, educa-
ção, condições de trabalho e vida, influência política 
e governança, conexões sociais, insegurança pessoal 
e insegurança econômica. (VEIGA, 2010, pág. 131)
Azevedo & Pelicioni (2011) acrescentam que a 
promoção de saúde,
“(...) como um novo paradigma da Saúde Pública, 
é percebido como um processo orientado por uma 
visão de saúde que considera as diversas causas do 
binômio saúde-doença a partir de valores éticos de 
democratização, estímulo à partici¬pação popular, à 
equidade, às práticas intersetoriais e à promoção da 
sustentabilidade. Nesse contexto, a saúde é percebida 
como produto de um amplo es¬pectro de fatores – 
ambiental, físico, social, político, econômico e cultu-
ral – relacionados com a qualidade de vida.” (AZE-
VEDO & PELICIONI, 2011, pág. 716)
Parece clara, de acordo com a exposição ante-
rior, a íntima relação existente entre ambiente equi-
librado e saúde e a lógica necessidade de incluir o 
conceito de “cuidado” nesta relação. Reconhecida 
a influência do Iluminismo e do domínio da razão 
cartesiana sobre as formas de produção e, viven-
ciando as consequências do desequilíbrio resultante 
nos vários setores, é preciso agir no sentido de uma 
mudança radical de comportamento. Boff lembra 
que a precaução é uma forma de cuidado e, neste 
momento, diante do risco – iminente ou futuro – 
derivado das ações humanas, medidas preventivas 
devem ser tomadas “mesmo se algumas relações de 
causa e efeito não forem plenamente estabelecidas 
cientificamente”. (BOFF, 2012, pág. 32)
Os papéis desempenhados pelo humano e 
pelo planeta foram diversos ao longo de sua histó-
ria comum. Num primeiro momento vulnerável, o 
humano rapidamente aprendeu a impor-se sobre o 
ambiente, sujeitando-o. Mas, em nenhum instante há 
dominação sem risco de revés, ou ação sem reação, 
e o planeta tem dado sinais de que o modo de agir 
da humanidade não é, de forma alguma, inócuo. Em 
outras palavras, “a degradação pode atingir condi-
ções de irreversibilidade, explicitando a impossibi-
lidade de resiliência de um determinado ambiente 
(MENDONÇA, 2000, pág. 90)”. A manutenção da 
saúde humana e, muito ainda além, da vida na Terra, 
depende de um repensar, seguido de novas ações. 
Algumas delas podem ser simples, como plantar ár-
vores. (Figura 4)
Santos (1992) observa:
“O homem se torna fator geológico, geomor-
fológico, climático e a grande mudança vem do fato 
de que os cataclismos naturais são um incidente, um 
momento, enquanto hoje a ação antrópica tem efei-
tos continuados, e cumulativos, graças ao modelo de 
vida adotado pela humanidade. 
Daí vêm os graves problemas de relacionamen-
to entre a atual civilização material e a Natureza. 
Assim, o problema do espaço humano ganha, nos 
dias de hoje, uma dimensão que ele não havia obtido 
jamais antes. Em todos os tempos, a problemática 
da base territorial da vida humana sempre preocu-
pou a sociedade. Mas, nesta fase atual da história, 
tais preocupações redobraram, porque os problemas 
também se acumularam.” (SANTOS, 1992, pág. 95)
Santos (1992) observa:
“O homem se torna fator geológico, geomorfológico, 
climático e a grande mudança vem do fato de que os 
cataclismos naturais são um incidente, um momento, 
enquanto hoje a ação antrópica tem efeitos continua-
dos, e cumulativos, graças ao modelo de vida adotado 
pela humanidade. 
Daí vêm os graves problemas de relacionamento en-
tre a atual civilização material e a Natureza. Assim, o 
problema do espaço humano ganha, nos dias de hoje, 
uma dimensão que ele não havia obtido jamais antes. 
Em todos os tempos, a problemática da base territo-
rial da vida humana sempre preocupou a sociedade. 
Mas, nesta fase atual da história, tais preocupações 
redobraram, porque os problemas também se acu-
mularam.” (SANTOS, 1992, pág. 95)
Por esta razão, é urgente considerar o estabe-
lecimento de uma nova relação de cuidado, onde é 
proposto outro olhar: a Terra subsiste em si mesma, 
é viva, auto-organizada e portadora de valor intrín-
seco. A relação entre o humano e a terra não deve 
ser mais “meramente utilitarista, mas de pertença e 
de reciprocidade. Esse olhar obriga o empreendedor 
a desenvolver uma nova conexão para com ela, como 
algo a ser respeitado” (BOFF, 2012, pág. 32). Como 
consequência, os processos produtivos e tecnológicos 
deverão adequar-se a este imperativo de cuidado e res-
peito devidos a todo e qualquer ser vivo (Figura 5).
Exercícios de reflexão
a. Com base nos conceitos de sustentabilidade adje-
tiva e substantiva e partindo da realidade de merca-
do, liste alguns exemplos de produtos e/ou serviços 
que poderiam ilustrar cada conceito.
b. A linha de pensamento da Economia Ecológica 
apregoa que é imprescindível interromper o cres-
cimento econômico para que haja sustentabilidade. 
Baseado nas informações do texto, justifique a sua 
opinião sobre este pensamento.
c. Estabeleça as relações entre o pensamento ilumi-
nista, o domínio da razão e o desequilíbrio ambiental.
d. Qual a importância da qualidade do ambiente para 
a presença de saúde humana?
e. Em sua opinião, dialogando com os elementos da-
dos pelo conteúdo desta unidade, qual a mudança 
paradigmática é mais urgente?
 
Considerações para reflexão
A atual configuração do mundo, aqui incluídos, 
planeta e humanidade – foi construída num curto 
espaço de tempo, se comparado aos milhares de 
anos de existência humana na Terra. Tempo curto, 
mas suficiente para provocar mudanças tão profun-
das que ainda não encontraram resposta adequada 
e eficaz na solução dos problemas resultantes desta 
transformação desenfreada.
É possível, com segurança, associar as mani-
festações de doenças com o desequilíbrio ambiental 
crescente e, desde há muito, incontrolável. Apesar 
de todo o avanço tecnológico, a humanidade sofre a 
cada dia um novo mal, provocado direta ou indireta-
mente pela ação humana sobre o planeta.
Toda a modificação do modo de vida ocorri-
do nos últimos dois séculos e meio aconteceu em 
decorrência da solidificação de ideias associadas às 
práticas diárias. O paradigma do desenvolvimen-
to econômico, por mais que tenha sido criticado e 
combatido, mantém-se vivo e atuante, determinan-
do os cursos de vida – ou de morte.
Por tudo dito, uma mudança paradigmática se 
faz urgentemente necessária como garantia única de 
viabilizar a existência futura das gerações humanas. 
O papel do Educador Ambiental é, por esta razão, 
fundamental no processo de implementação da 
transformação desejada, intentando influenciar posi-
tivamente na formação de atores sociais mobilizados 
e atuantes.
Concluindo, é possível dizer que a promoção 
da saúde dependerá, absolutamente, de uma nova 
visão de mundo, integrada e integradora, associando 
razão e ética, sabedora de que humanos e húmus, 
ainda, são necessariamente interdependentes e que 
os caminhosde um definirão, sem sombra de dúvi-
da, os caminhos do outro.
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