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39 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE Unidade II 5 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) O SUS é um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo. Proporciona o acesso universal ao sistema público de saúde no país, sem discriminação, ao atender cerca de 190 milhões de brasileiros potencialmente usuários e 150 milhões que dependem exclusivamente desse sistema. O sistema público de saúde do Brasil engloba a atenção integral à saúde, e não somente os cuidados assistenciais, e é um direito de todos os brasileiros, desde a gestação. Suas ações têm foco na saúde com qualidade de vida. Os princípios fundamentais que norteiam a ação do SUS são a universalização, a equidade e a integralidade. • Universalização: diz respeito ao direito de cidadania de todas as pessoas. Cabe ao Estado assegurar esse direito, sendo que o acesso às ações e serviços deve ser garantido a todos os cidadãos brasileiros, independentemente de sexo, raça, ocupação, ou outras características sociais ou pessoais. • Equidade: objetiva diminuir as desigualdades. Mesmo que todos os cidadãos tenham direito aos serviços, as pessoas não são iguais e, por isso, têm necessidades distintas. Ou seja, equidade significa tratar desigualmente os desiguais e investir mais onde a carência é maior. • Integralidade: considera as pessoas como um todo, ao atender a todas as suas necessidades e promover a saúde social. Engloba não só a integração de ações referentes à promoção da saúde, à prevenção de doenças, ao tratamento e à reabilitação, como também a articulação da saúde com outras políticas públicas, a fim de assegurar uma atuação intersetorial entre as diferentes áreas que tenham repercussão na saúde e na qualidade de vida dos indivíduos. Lembrete Segundo a OMS, saúde é um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não simplesmente ausência de doença. 5.1 Lei Orgânica da Saúde e criação do SUS A Lei Orgânica da Saúde (LOS) é o conjunto de duas leis federais (Lei n. 8.080 e Lei n. 8.142/90) editadas para disciplinar legalmente a proteção e a defesa da saúde. São leis nacionais que têm o caráter de norma geral, contêm diretrizes e os limites que devem ser respeitados pela União, pelos estados e 40 Unidade II pelos municípios ao elaborarem suas próprias normas para garantir, em seus respectivos territórios, o direito à saúde para seus povos. A LOS é, portanto, destinada a esclarecer o papel das esferas do governo na proteção e defesa da saúde, orientando suas respectivas atuações para garantir o cuidado da saúde. A Lei n. 8.080/90 consolida as discussões trazidas pela 8ª Conferência Nacional de Saúde, que aconteceu logo no início do processo de redemocratização, em 1986, e pela CF/88, ao tratar das condições de promoção, proteção e recuperação da saúde, organização e funcionamento dos serviços correspondentes, e discorre sobre o estabelecimento do SUS. Segundo a lei: Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. § 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. Art. 3º Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do país, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. [...] Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo poder público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS). § 1º Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições públicas federais, estaduais e municipais de controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamentos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para saúde. § 2º A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de Saúde (SUS), em caráter complementar. 41 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE Lembrete A 8ª Conferência Nacional de Saúde aconteceu em 1986 e foi um marco na discussão da reforma sanitária no Brasil. Entende-se, assim, que a rede do SUS é amplamente distribuída e abrange tanto ações quanto serviços de saúde, de modo a englobar a atenção básica, os serviços de urgência e emergência, a atenção hospitalar, as ações e serviços das vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental e a assistência farmacêutica. Estão incluídas no SUS as instituições públicas federais, estaduais e municipais de controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamentos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para a saúde. A Lei n. 8.142/90, por sua vez, dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e condiciona o recebimento de recursos financeiros à existência do Conselho Municipal de Saúde funcionando de acordo com a legislação. De acordo com a lei, a participação da comunidade na gestão do SUS se dá por meio das conferências e Conselhos de Saúde. Ambos são paritários, pois os usuários têm direito à metade dos representantes, e sua organização e funcionamento são definidos em regimento próprio aprovado pelo Conselho. Falaremos mais sobre essas instituições adiante. 5.2 Organização do SUS Entende-se que a saúde não é apenas a ausência de doença, mas também a qualidade de vida decorrente de políticas públicas que promovam a redução de desigualdades regionais e o desenvolvimento econômico e social. Assim, o SUS, em conjunto com as demais políticas, deve atuar na promoção da saúde, na prevenção de ocorrência de agravos e na recuperação dos doentes. Os princípios organizativos do SUS foram desenhados de forma a concretizar seus ideais, por meio da: • Participação popular: faz referência à defesa da participação da sociedade civil na elaboração, fiscalização e implementação da política pública de saúde. A população teve um papel importante no processo de elaboração do SUS e, justamente por isso, um dos princípios visa garantir a continuidade dessa participação por meio da criação dos conselhos e da realização das conferências de saúde. Tais espaços são destinados ao controle e avaliação das políticas de saúde, assim como à formulação de novas estratégias. • Descentralização e comando único: dispõe sobre a distribuição de poderes e responsabilidades entre os três níveis de governo (municipal, estadual e federal), de modo a oferecer um melhor serviço de saúde. No SUS, essa responsabilidade deve ser descentralizada até o nível municipal, ou seja, o objetivo é que o município tenha condições técnicas, gerenciais, administrativas e financeiras para oferecer os devidos serviços. O princípio da descentralização resulta em outro princípio: o do mando único. O mando único permite a soberania de cada esfera do governo para tomar decisões, desde que sejam respeitados os princípios gerais e a participação social. Cabe 42 Unidade II ressaltar que a política pública de saúde deve se dar de maneira descentralizada, privilegiando o planejamento da esfera local, sem, com isso, desobrigar os estados e o Governo Federal. • Hierarquização: determina que os serviços de saúde sejam estruturados de maneira que haja uma ordenação de prestação de acordo com as demandas apresentadas. • Regionalização: busca uma articulação entre a rede de serviços de uma determinada região, por compreender que a situação de saúde de uma população está ligada diretamente às suas condições de vida, bem como articular a rede de serviços de saúde existente. Cabe ressaltar que o diálogo entre hierarquização e regionalização possibilita o princípio da integralidade, já que, dentro de uma determinada área geográfica,os serviços de saúde devem ser organizados conforme níveis crescentes de complexidade. Isso garante a articulação entre os serviços existentes dentro dessa região de forma a cobrir os diferentes graus de necessidade da população. A hierarquia da saúde pública no Brasil existe para garantir funcionamento adequado dos serviços de saúde no âmbito do SUS. Essa classificação é feita de acordo com a complexidade do caso a ser atendido e é dividida em quatro níveis: • Atenção básica: também chamada de atenção primária, engloba os atendimentos e ações de promoção, prevenção e recuperação do estado da saúde. Contempla consultas, vacinação e outras ações. Os atendimentos a famílias também se encaixam aqui, como gestão materna, saúde da criança e do adolescente, e da pessoa idosa. • Atenção secundária: estágio em que alguma doença já foi identificada e há uma demanda de acompanhamento especializado de oftalmologistas e cardiologistas, por exemplo, nas clínicas de saúde. • Atenção terciária: ou alta complexidade, envolve o oferecimento de serviços e procedimentos de alta especialização, destinados a pacientes com quadros mais graves, que precisam ser internados para melhor acompanhamento (por exemplo, nas Unidades de Tratamento Intensivo – UTI). • Reabilitação: seria uma quarta fase para casos em que o paciente teve alta, mas ainda demanda um acompanhamento posterior – como fisioterapia, por exemplo. Com base nessa classificação, o SUS definiu as unidades de atendimento de saúde e quais casos cada uma delas pode e deve atender. As principais são: • Posto de saúde: presta assistência à população de uma determinada área (por exemplo, um bairro), com agendamentos de consultas ou não. O atendimento é realizado por profissionais da saúde como enfermeiros e auxiliares e pode, ou não, contar com a presença de um médico. • Unidade Básica de Saúde (UBS): realiza atendimentos de atenção básica e integral, como curativos. Os atendimentos englobam especialidades fundamentais, podendo também oferecer 43 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE serviços odontológicos. A assistência deve ser permanente e prestada por médicos generalistas ou especialistas nas áreas oferecidas – o que pode variar de uma UBS para outra. Além dos médicos, os enfermeiros também desempenham um papel fundamental. • Unidade de pronto atendimento (UPA): consiste em unidade de urgência e emergência aberta 24 horas, por contar com mais recursos do que um posto de saúde. É capacitada a atender serviços de média a alta complexidade, como casos de pressão alta, infarto, fraturas ou derrame. Na UPA, é o grau de emergência que define a ordem dos atendimentos. • Hospital (incluindo os hospitais universitários): destinado ao atendimento dos casos de atenção terciária. Geralmente os pacientes são encaminhados ao hospital pelos níveis anteriores, ou ainda em ambulância. Por contar com maior quantidade de recursos tecnológicos, também são responsáveis por atendimento clínico geral em diversas especialidades. Os hospitais atendem casos de enfermidades que ameacem a vida dos pacientes – como câncer – e realizam cirurgias, entre várias outras funções. Além dos estabelecimentos destacados anteriormente, outros ainda integram a rede de atendimento do SUS, como os Caps, os hemocentros, os laboratórios — onde são realizados exames — e os institutos de pesquisa, tais como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde. Entre tais serviços, as farmácias merecem destaque. É nesses estabelecimentos em que acontece a distribuição de medicamentos básicos e essenciais – por meio do Programa Farmácia Popular – que também engloba redes privadas de farmácias parceiras – e medicamentos excepcionais, geralmente de alto custo, considerados essenciais pela Política Nacional de Assistência Farmacêutica. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) também é de grande importância para o funcionamento das complexas políticas públicas de saúde. Cabe a esse serviço chegar rapidamente às vítimas em situação de urgência e emergência, como aquelas envolvidas em acidentes de trânsito. Ele consiste em um serviço pré-hospitalar que faz a conexão entre as vítimas e os recursos necessários para um atendimento completo. 5.3 Sistema de governança do SUS A gestão das ações e dos serviços de saúde deve ser solidária e participativa entre os três entes da federação: a União, os estados e os municípios. O SUS é financiado pelos recursos do orçamento da previdência social, dos entes federativos e de outras fontes. A integralidade do atendimento é garantida pela descentralização da sua gestão, que permite a adequação das políticas públicas às necessidades de cada ente, e também pela participação da comunidade. Para que o SUS tenha êxito, é necessário que tenha governança. O Decreto n. 7.508/2011 dispõe sobre a organização do SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, de 44 Unidade II modo que haja transparência entre os entes federativos. Segundo o decreto, é na rede de atenção básica à saúde que se inicia e se completa a integralidade da assistência. Carvalho (2012), ao comparar a estrutura organizacional do SUS com as políticas públicas de saúde que o antecederam, afirma que: O serviço público de saúde passa a ser organizado, formalmente, com um sistema único. Quer isto significar que não mais haverá a difusa administração da matéria na esfera da União (que implicava, por absurdo, na existência de dois ministérios e um sem-número de órgãos federais atuando no setor), nem a dispersão e superposição de órgãos e atribuições em esfera estadual e municipal. Sendo único, o sistema deverá possuir um específico modelo de relações entre o todo (o que dá unidade ao conjunto de órgãos, sujeitos a atribuições) e as partes que o integram (CARVALHO, 2012, p. 817). Essa dinâmica política no processo de regionalização da saúde resulta em processos decisórios compartilhados em um contexto democrático e em uma realidade plural. Nesse contexto, deve-se enfatizar que as diferentes instâncias, apesar de tudo, mantêm a autonomia. Assim, configura-se o SUS em um modelo de governança colaborativa – que pode ser definida como um conjunto de instrumentos que permitem a coordenação dos atores envolvidos nas redes de atenção à saúde (ROTH et al., 2012). No SUS, a responsabilidade pela saúde deve ser descentralizada desde a esfera federal até o município, ou seja, devem ser fornecidas ao município condições gerenciais, técnicas, administrativas e financeiras para exercer essa função. Para que valha o princípio da descentralização, existe a concepção constitucional do mando único, em que cada esfera de governo é autônoma e soberana nas suas decisões e atividades, respeitando os princípios gerais e a participação da sociedade. O artigo 15 da Lei Orgânica do SUS (Lei n. 8.080/90) explicita a necessidade de diálogo entre as diferentes instâncias quando afirma que tanto a União quanto os estados, o Distrito Federal e os municípios devem exercer, em seu âmbito administrativo, as seguintes atribuições: I - definição das instâncias e mecanismos de controle, avaliação e de fiscalização das ações e serviços de saúde; II - administração dos recursos orçamentários e financeiros destinados, em cada ano, à saúde; III - acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de saúde da população e das condições ambientais; IV - organização e coordenação do sistema de informação de saúde; V - elaboração de normas técnicas e estabelecimento de padrões de qualidade e parâmetros de custos que caracterizam a assistência à saúde; 45 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE VI - elaboração de normas técnicas e estabelecimento de padrões de qualidade para promoção da saúde do trabalhador; VII - participação de formulação da política e da execução das ações de saneamento básico e colaboração na proteção e recuperação do meio ambiente; VIII - elaboração e atualização periódica do plano de saúde; IX - participaçãona formulação e na execução da política de formação e desenvolvimento de recursos humanos para a saúde; X - elaboração da proposta orçamentária do Sistema Único de Saúde (SUS), de conformidade com o plano de saúde; XI - elaboração de normas para regular as atividades de serviços privados de saúde, tendo em vista a sua relevância pública; XII - realização de operações externas de natureza financeira de interesse da saúde, autorizadas pelo Senado Federal; XIII - para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transitórias, decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de epidemias, a autoridade competente da esfera administrativa correspondente poderá requisitar bens e serviços, tanto de pessoas naturais como de jurídicas, sendo-lhes assegurada justa indenização; XIV - implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados; XV - propor a celebração de convênios, acordos e protocolos internacionais relativos à saúde, saneamento e meio ambiente; XVI - elaborar normas técnico-científicas de promoção, proteção e recuperação da saúde; XVII - promover articulação com os órgãos de fiscalização do exercício profissional e outras entidades representativas da sociedade civil para a definição e controle dos padrões éticos para pesquisa, ações e serviços de saúde; XVIII - promover a articulação da política e dos planos de saúde; XIX - realizar pesquisas e estudos na área de saúde; 46 Unidade II XX - definir as instâncias e mecanismos de controle e fiscalização inerentes ao poder de polícia sanitária; XXI - fomentar, coordenar e executar programas e projetos estratégicos e de atendimento emergencial (BRASIL, 1990b). Cada uma das três esferas de governo deve agir em concurso e de forma solidária, uma suplementando a outra. No entanto, para que o serviço público de saúde se torne eficiente e eficaz, no cumprimento de sua finalidade, é preciso organizar a distribuição das competências para sua execução, de forma proporcional, fazendo com que cada ente fique responsável por uma parcela de poder que possa realmente ser exercido. A Emenda Constitucional n. 29, de 13 de setembro de 2000, possibilita a intervenção da União nos estados e no Distrito Federal no caso de não ser aplicado o mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações de serviços de saúde no âmbito do SUS. As esferas federal, estadual e municipal dialogam por meio das seguintes instituições, que estruturam o SUS: • Ministério da Saúde: é um gestor federal do SUS que formula, normatiza, fiscaliza, monitora e avalia políticas e ações, em articulação com o Conselho Nacional de Saúde (CNS). Atua no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) para pactuar o Plano Nacional de Saúde. Integram sua estrutura: Fiocruz, Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), Instituto Nacional do Câncer (Inca), Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) e oito hospitais federais. • Secretaria Estadual de Saúde (SES): participa da formulação das políticas e ações de saúde, presta apoio aos municípios em articulação com o conselho estadual e participa da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para aprovar e implementar o plano estadual de saúde. • Secretaria Municipal de Saúde (SMS): planeja, organiza, controla, avalia e executa as ações e serviços de saúde em articulação com o conselho municipal e a esfera estadual para aprovar e implantar o plano municipal de saúde. • Conselhos de Saúde: são um espaço de controle social que conta com a participação da sociedade civil. Estruturados como órgãos colegiados compostos por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, os Conselhos de Saúde atuam na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância municipal, estadual ou federal. Tratam, inclusive, dos aspectos econômicos e financeiros das políticas públicas. As decisões de cada conselho são homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo. Cabe a cada um definir o número de membros, que obedecerá à seguinte composição: 50% de entidades e movimentos representativos de usuários; 25% de entidades representativas 47 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE dos trabalhadores da área de saúde; e 25% de representação de governo e prestadores de serviços privados conveniados, ou sem fins lucrativos. • Comissão Intergestores Tripartite (CIT): foro de negociação e pactuação entre gestores federal, estadual e municipal, quanto aos aspectos operacionais do SUS. • Comissão Intergestores Bipartite (CIB): foro de negociação e pactuação entre gestores estadual e municipal, quanto aos aspectos operacionais do SUS • Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass): entidade representativa dos entes estaduais e do Distrito Federal na CIT para tratar de matérias referentes à saúde. • Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems): entidade representativa dos entes municipais na CIT para tratar de matérias referentes à saúde. • Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems): reconhecidos como entidades que representam os entes municipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes à saúde, desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na forma que dispuserem seus estatutos. Os Conselhos de Saúde são essenciais na governança do SUS, uma vez que buscam participar da discussão das políticas de saúde de maneira independente do governo, embora façam parte da estrutura do Estado. São órgãos colegiados em que se manifestam, com maior ou menor representatividade, os interesses dos diferentes segmentos sociais, de maneira a possibilitar a negociação de propostas que pretendem direcionar os recursos para prioridades diferentes. Temas como orçamento da saúde, relação com o setor privado, organização de serviços, política de recursos humanos, epidemiologia, saneamento básico, ações de vigilância à saúde e tantos outros devem ser discutidos de forma organizada nos Conselhos. O fundamental é que estejam articulados ao enfrentamento dos problemas sociais, priorizados no processo de planejamento participativo, uma vez que exigem respostas concretas e imediatas do SUS. As diretrizes de elaboração e a aprovação do plano municipal de saúde são de responsabilidade dos conselheiros, visando compatibilizar o diagnóstico epidemiológico com as prioridades, metas e recursos disponíveis. O orçamento deve ser traduzido em suas intenções de gastos para que todos os compreendam, e o controle sobre o Fundo Municipal de Saúde deve identificar se as prioridades estão de fato orientando a destinação dos recursos. 5.4 Programas e serviços do SUS O SUS é estruturado por meio de diferentes programas. Alguns exemplos são o Estratégia Saúde da Família (ESF), como foco na atenção primária; o Programa Saúde na Escola, que objetiva a assistência à saúde às crianças e adolescentes que frequentam as escolas públicas; o Programa Melhor Casa, que visa ao acompanhamento das doenças crônicas; o Programa Farmácia Popular, que visa à distribuição de medicamentos, sem custos, para a população; o Programa de Prevenção e Controle do HIV/Aids; 48 Unidade II o Sistema Nacional de Doação e Transplante de Órgãos; e os Centros de Atenção Psicossocial (Caps). A seguir vamos aprender mais sobre esses programas. É importante salientar que desde 2011 o Decreto n. 7.508 institui o Mapa da Saúde. Trata-se de uma ferramenta que contêm informações de vários indicadores em saúde, e descreve a distribuição dos recursos humanos, das ações e dos serviços de saúde ofertados pelo SUS, pela rede conveniada e pela iniciativa privada. O Mapa da Saúde facilita o acesso, o monitoramento e a análisedas informações da saúde, e permite aos gestores a avaliação, o planejamento e a execução de programas de saúde. Assim, constitui uma importante ferramenta para o direcionamento dos programas que estudaremos a seguir, de acordo com as necessidades de cada comunidade. Saiba mais Para saber mais sobre o Decreto n. 7.508/2011 acesse o site: BRASIL. Decreto n. 7.508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, e dá outras providências. Brasília, 2011. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/ decreto/D7508.htm. Acesso em: 23 set. 2020. 5.4.1 Estratégia Saúde da Família (ESF) O Programa Saúde da Família (PSF), atualmente conhecido como Estratégia Saúde da Família (ESF), foi implantado no Brasil pelo Ministério da Saúde, em 1994. Trata-se de uma estratégia para a organização da atenção básica, no âmbito do SUS, que dispõe de recursos específicos para seu custeio. A partir do estabelecimento desse programa, a família passa a ser o foco da atenção no ambiente em que vive, o que permite uma compreensão ampliada do processo de saúde/doença. O objetivo é a reversão do modelo assistencial vigente até então, no qual predominava o atendimento emergencial ao doente, na maioria das vezes em grandes hospitais, para um modelo focado na atenção primária, mas que também é robusto o suficiente para tocar ações de recuperação e de reabilitação dos agravos mais frequentes. Para muitas famílias, a ESF serve como porta de entrada do SUS. Trata-se de um importante instrumento, de responsabilidade da esfera municipal, realizado especialmente nas áreas consideradas de risco. A proposta primordial do programa é a de proporcionar assistência universal, concretizada e integral, de extenso contato com a população, tanto na unidade de saúde como também em todas as residências, de modo a interagir com as principais necessidades da população, identificar os fatores de risco a que a comunidade está exposta e intervir de modo adequado. 49 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE Apesar das dificuldades, muitas vezes estruturais, as equipes de atendimento da ESF visitam as famílias, efetuam o seu cadastro e as acompanham mensalmente, o que possibilita o controle de doenças crônicas nesses territórios e contorna a dificuldade de acesso às consultas com especialistas e aos exames específicos. Além disso, atuam em relação às medidas de prevenção e de diagnóstico precoce, orientando casos de tuberculose, hanseníase etc. Ao visitar as famílias em suas comunidades, as equipes conseguem identificar problemas muitas vezes de ordem social, que requerem atenção de outros segmentos da sociedade, por exemplo a precariedade do saneamento básico e moradia inadequada. A ESF é organizada em equipes multiprofissionais. Cada uma deve ser responsável por, no máximo, 4 mil pessoas de uma determinada área, que passam a ter corresponsabilidade no cuidado com a saúde. As equipes de saúde da família devem ser constituídas, no mínimo, pelos seguintes profissionais: • Médico: presta atendimento de programas específicos e de ambulatório desses programas, além de atendimento por meio de visitas domiciliares, bem como fornece educação básica. • Enfermeiro: presta serviços específicos e de organização da equipe, bem como supervisiona o atendimento da unidade, intermedeia assuntos entre os agentes comunitários de saúde e o médico. • Técnico ou auxiliar de enfermagem: organiza o atendimento na unidade, faz os curativos e cumpre outros encargos de serviço inerentes à sua área. • Agentes comunitários de saúde (ACS): em número de seis a oito por equipe, preferencialmente moradores da área atendida, vão às casas para cadastrar os moradores/famílias, levantando problemas, pesquisando, orientando, ensinando e aprendendo com a população. Segundo o Ministério da Saúde, o número de ACS em cada equipe deve ser suficiente para cobrir 100% da população cadastrada, com um máximo de 750 pessoas por agente. São admitidos, no máximo, 12 ACS por equipe (BRASIL, 1999). A ESF pode ainda contar com profissionais de saúde bucal: • Cirurgião-dentista: profissional de saúde capacitado na área de odontologia. • Técnico em saúde bucal: realiza o acolhimento do paciente nos serviços de saúde bucal; a manutenção e a conservação dos equipamentos odontológicos; a remoção do biofilme e as fotografias e tomadas de uso odontológicos; a limpeza e a antissepsia do campo operatório, antes e após atos cirúrgicos; e as medidas de biossegurança de produtos e resíduos odontológicos. Oferece também apoio e educação permanente aos auxiliares de saúde bucal e aos agentes comunitários de saúde. • Auxiliar em saúde bucal: realiza a limpeza, a assepsia, a desinfecção e a esterilização do instrumental, dos equipamentos odontológicos e do ambiente de trabalho. Processa o filme radiográfico, seleciona moldeiras e prepara modelos em gesso (BRASIL, 2011d). 50 Unidade II Observação Na ESF o trabalho em equipe prevê a interação constante e intensa de trabalhadores de diferentes categorias e com diversidade de conhecimentos e habilidades, a fim de proporcionar o cuidado integral ao indivíduo. São atribuições de todos os profissionais que integram a ESF: • Participar do processo de territorialização, a partir da identificação das situações de risco e de vulnerabilidade, da realização da busca ativa e do cadastro das famílias. • Participar do diagnóstico de saúde do grupo populacional da área adstrita de maneira interdisciplinar, com reuniões sistemáticas, organizadas de forma compartilhada, para planejamento e avaliação das ações. • Executar, de acordo com a qualificação de cada profissional, os procedimentos de vigilância à saúde e de vigilância epidemiológica, nos diversos ciclos da vida. • Notificar doenças e agravos de notificação compulsória. • Garantir a continuidade do tratamento. • Promover a saúde por meio da educação sanitária. • Promover ações intersetoriais e parcerias com organizações formais e informais existentes na comunidade para o enfrentamento conjunto dos problemas. • Discutir de forma permanente, junto à equipe e à comunidade, o conceito de cidadania, enfatizando os direitos de saúde e as bases legais que os legitimam. • Incentivar a formação e/ou participação ativa nos conselhos locais de saúde e no Conselho Municipal de Saúde. À equipe de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários podem se somar outros profissionais, a depender das necessidades de cada comunidade. Esses profissionais constituem o Nasf e oferecem apoio aos profissionais da ESF. Podem constituir o Nasf: Médico Acupunturista; Assistente Social; Profissional/Professor de Educação Física; Farmacêutico; Fisioterapeuta; Fonoaudiólogo; Médico Ginecologista/ Obstetra; Médico Homeopata; Nutricionista; Médico Pediatra; Psicólogo; Médico Psiquiatra; Terapeuta Ocupacional; Médico Geriatra; Médico Internista (clínica médica); Médico do Trabalho; Médico Veterinário; profissional com formação em arte e educação (arte-educador); e profissional 51 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de saúde com pós-graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente em uma dessas áreas (BRASIL, 2011d). Os números mostram a grandiosidade da ESF. Em 2015, essa estratégia apresentava-se instalada em 4.222 municípios, com 10.788 equipes ativas, envolvendo cerca de 86 mil profissionais no Brasil, e tem prestado cobertura assistencial a aproximadamente 30 milhões de brasileiros. Tanto no discurso oficial quanto em nossas observações feitas a partir da prática cotidiana, o trabalho das equipes da ESF vem favorecendo a confiança entre o usuário e o profissional (BRASIL, 2015a). Para que seja estabelecida essa relação de confiança, os trabalhos da ESF foram estruturados a partir doacolhimento, de modo a humanizar a assistência e disponibilizar um espaço para atenção a necessidades mais imediatas. Essa humanização baseia-se no trabalho multiprofissional, não centrado na figura do médico, e busca compartilhar com o usuário informações sobre a organização do seu processo de trabalho. É importante salientar que a ESF também apresenta um importante papel na formação e capacitação de recursos humanos para a saúde. Afinal, para efetivar a ESF como modelo assistencial, é necessário força de trabalho especializada e disposta a enfrentar os desafios que a implementação da estratégia impõe. Os trabalhos de educação se dão pela estruturação dos polos de capacitação, formação e educação em PSF, estruturados por meio de parcerias entre instituições de ensino e os serviços de saúde. Em 21 de outubro de 2011, por meio da Portaria MS/GM n. 2.488, aprovou-se a Política Nacional de Atenção Básica, que estabeleceu a revisão de diretrizes e normas para a organização da atenção básica, para a ESF e para o Programa de Agentes Comunitários de Saúde. A estrutura da ESF e do Nasf, como já discutida anteriormente, é resultado da aplicação dessa portaria. Lembrete Atenção básica é o conjunto de ações que dão consistência ao conceito de vigilância em saúde, referencial que articula conhecimentos da epidemiologia, do planejamento e das ciências sociais em saúde para redefinir as práticas em saúde e, assim, garantir a integralidade do cuidado. A ESF e a Rede de Atenção à Saúde A Portaria n. 2.488/2011 estabelece a Rede de Atenção à Saúde (RAS), um arranjo organizativo que possibilita a atuação da ESF e o direcionamento dos cidadãos para os serviços de saúde adequados. É formada pelo conjunto de serviços e equipamentos de saúde em um determinado território. As ações da RAS devem respeitar a singularidade de cada região, ou seja, devem ser voltadas para atender as necessidades da população de cada espaço regional singular. A elaboração das 52 Unidade II estratégias deve ser realizada mediante planejamento, gestão e financiamentos intergovernamentais e também corporativos, por meio do estabelecimento de parcerias público-privadas. Os fluxos de atendimento nos diversos níveis de atenção devem ser definidos na RAS, a fim de se obter a integralidade do cuidado. Nesse contexto, a atenção primária, papel primordial da ESF, ganha destaque. As UBS são os espaços físicos que consolidam a atuação da ESF. São constituídas de consultórios médicos e de enfermagem e, muitas vezes, também de consultório odontológico. Além disso, possuem salas de acolhimento, procedimento, vacina, inalação, coleta de material biológico, curativo, observação, administração e gerência, além de áreas de recepção, arquivos, dispensação e armazenagem de medicamentos. Essas unidades estão presentes tanto em áreas que não adotam a ESF – de modo a acolher, no máximo, 18 mil habitantes – quanto em áreas que dispõem de equipes de saúde da família – de modo a acolher, no máximo, 12 mil habitantes. Isso significa que cada UBS deve ter, no mínimo, três equipes de saúde para cobrir a totalidade da população. Assim, parece que se firma a concepção do acolhimento como um processo, que faz sentido quando a ele se articulam os aspectos organizacionais das UBS. 5.4.2 Programa Saúde na Escola O Programa Saúde na Escola (PSE), instituído pelo Decreto n. 6.286, de 5 de dezembro de 2007, também está previsto na Portaria n. 2.488/2011. Trata-se de uma iniciativa intersetorial entre os Ministérios da Saúde e da Educação, com o objetivo de realizar a atenção integral (promoção, prevenção, diagnóstico e recuperação da saúde e formação) à saúde de crianças, adolescentes e jovens do ensino público básico, no âmbito das escolas e unidades básicas de saúde. O PSE é realizado por meio de ações de: I - avaliação clínica e psicossocial que objetivam identificar necessidades de saúde e garantir a atenção integral às mesmas na rede de atenção à saúde; II - promoção e prevenção que articulem práticas de formação, educativas e de saúde visando a promoção da alimentação saudável, a promoção de práticas corporais e atividades físicas nas escolas, a educação para a saúde sexual e reprodutiva, a prevenção ao uso de álcool, tabaco e outras drogas, a promoção da cultura de paz e prevenção das violências, a promoção da saúde ambiental e desenvolvimento sustentável; e III - educação permanente para qualificação da atuação dos profissionais da educação e da saúde e formação de jovens (BRASIL, 2011d). 53 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE 5.4.3 Programa Melhor Casa Em outubro de 2011, no contexto da redefinição da atenção domiciliar no SUS, foi lançado o Programa Melhor em Casa (PMC). Esse programa é voltado para o atendimento de pessoas com necessidade de reabilitação motora, idosos, pacientes crônicos sem agravamento ou em situação pós-cirúrgica que terão assistência multiprofissional gratuita em seus lares, com cuidados mais próximos da família (BRASIL, 2012). Para o sucesso da atenção domiciliar, é fundamental que o profissional da saúde compreenda a família que está recebendo esse cuidado, sua estrutura e funcionalidade. A abordagem familiar domiciliar permite o conhecimento da família sobre as possíveis disfuncionalidades que prejudicam o bem-estar biopsicossocial de seus membros. No domicílio, algumas questões são importantes para garantir a assistência adequada ao ente familiar que necessita de cuidados. Por exemplo, para uma pessoa com diabetes descompensado, os profissionais da assistência domiciliar podem estabelecer contato com todos os membros da família e visualizar in loco seus hábitos alimentares (BRASIL, 2013a). Assim, a família passa a ocupar um lugar ativo no cuidado e na recuperação dos indivíduos que constituem seu núcleo familiar. Vale ressaltar que o cuidado aqui referido não é entendido como um nível de atenção do sistema, nem como um procedimento simplificado, mas como uma ação integral. De acordo com o Caderno de atenção domiciliar (BRASIL, 2013a), o PMC possibilita: • Atendimento qualificado visando à humanização da atenção à saúde. • Redução dos períodos de internação hospitalar, viabilizando a disponibilização de leitos hospitalares e sua melhor ocupação. • Redução da demanda por atendimento hospitalar. • Otimização dos custos, ou seja, oferta o mesmo cuidado utilizando menos recursos e com graus elevados de satisfação do usuário. • Diminuição da lotação das portas de urgência. • Preservação dos vínculos familiares. • Ampliação da autonomia dos usuários e familiares para o cuidado com a saúde. 54 Unidade II Território Estabelecimento de vínculo e corresponsabilidade entre população - serviço - equipe Reconhecimento da população do terrítório Conhecimento (diagnóstico) do ambiente social e físico Estabelecimento de relações (fluxos e referências) entre os serviços da Rede de Serviços da Saúde (RAS) Demarcação de limites das áreas de atuação Figura 2 – Características da atenção domiciliar Segundo a Portaria n. 963/2013, cada equipe profissional é referência para cerca de 100 mil pessoas e deve estar integrada com a atenção básica, e os serviços de urgência e emergência. Essa portaria ainda define que a atenção domiciliar deve acontecer em três modalidades distintas (AD1, AD2 e AD3) e deve estar organizada em todos os munícipios, de forma isolada ou por meio de agrupamentos municipais pactuados previamente na Comissão Intergestores Bipartite (CIB) e, quando houver, na Comissão Intergestores Regionais (CIR). A regulamentação da atenção domiciliar segue as diretrizes estabelecidas no artigo 5º da portaria: • Ser estruturada na perspectiva das redes de atenção à saúde, tendo a atenção básica como ordenadora do cuidado e da ação territorial. • Estar incorporada ao sistema de regulação, articulando-se com os outros pontos de atenção à saúde e com serviços de retaguarda. • Ser estruturada de acordo com os princípios de ampliação do acesso,acolhimento, equidade, humanização e integralidade da assistência. • Estar inserida nas linhas de cuidado por meio de práticas clínicas cuidadoras baseadas nas necessidades do usuário, reduzindo a fragmentação da assistência. 55 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE • Adotar modelo de atenção centrado no trabalho de equipes multiprofissionais e interdisciplinares. • Estimular a participação ativa dos profissionais de saúde envolvidos, do usuário, da família e do cuidador (BRASIL, 2013b). As três modalidades de atenção domiciliar (AD1, AD2 e AD3) apresentam as seguintes características: • Atenção Domiciliar 1 (AD1): destina-se a pessoas com problemas de saúde controlados ou compensados, que apresentam dificuldade (ou impossibilidade) de se locomoverem até a UBS e que necessitam de cuidados com menor frequência e menor aporte e recursos dos serviços de saúde. • Atenção Domiciliar 2 (AD2): destina-se a pessoas que apresentam dificuldade (ou impossibilidade) de se locomoverem até a UBS e que apresentam problemas de saúde que exigem cuidados mais frequentes e complexos do que está indicado na AD1, além de demandarem recursos de saúde e acompanhamento contínuos, inclusive de diferentes serviços da rede de atenção. Inclui a realização de curativos complexos e drenagem de abscesso; o monitoramento frequente de sinais vitais, quando necessário; a coleta de amostras biológicas de exames de laboratório de menor complexidade; a adaptação do usuário e/ou cuidador ao uso do dispositivo de traqueostomia; a adaptação do usuário ao uso de órteses/próteses; a adaptação de usuários ao uso de sondas e ostomias; o acompanhamento domiciliar em pós-operatório; a reabilitação de pessoas com deficiência permanente ou transitória, que necessitem de atendimento contínuo até apresentarem condições de frequentarem outros serviços de reabilitação; o uso de aspirador de vias aéreas para higiene brônquica; o acompanhamento de ganho ponderal de recém-nascidos de baixo peso; a atenção nutricional permanente ou transitória; os cuidados paliativos; e a administração de medicação endovenosa, muscular ou subcutânea, por tempo preestabelecido. • Atenção Domiciliar 3 (AD3): destina-se a pessoas com problemas de saúde e dificuldade ou impossibilidade física de locomoção até a UBS, com necessidade de maior frequência de cuidado, recursos de saúde, acompanhamento contínuo e uso de equipamentos. Considera-se a existência de pelo menos uma das situações admitidas como critério de inclusão para cuidados na modalidade AD2 somada à necessidade do uso de, no mínimo, um dos seguintes equipamentos/procedimentos: suporte ventilatório não invasivo; pressão positiva contínua nas vias aéreas; pressão aérea positiva por dois níveis; diálise peritoneal; e paracentese. Aqui será garantido transporte sanitário e retaguarda para as unidades assistenciais de funcionamento 24 horas, definidas previamente como referência para o usuário, nos casos de intercorrências. A AD1 é de responsabilidade das equipes de atenção básica, por meio de visitas regulares ao domicílio, com frequência, no mínimo, mensal. Essas equipes podem ser apoiadas pelas equipes dos Nasf e pelos ambulatórios de especialidades e de reabilitação. Para a modalidade AD2 e AD3, são instituídas equipes multiprofissionais de atenção domiciliar (Emad) e equipes multiprofissionais de apoio (Emap). É importante destacar que as três modalidades de oferta da assistência domiciliar não são excludentes, elas se complementam na perspectiva da integralidade da atenção. Por isso, é importante organizar os 56 Unidade II serviços de forma que, ao se esgotar a capacidade de atuação da AD1, haja serviços de AD2 e AD3 habilitados e articulados para a continuidade do cuidado. Segundo a Portaria n. 963/2013, cada equipe é referência para cerca de 100 mil pessoas e deve estar integrada com a atenção básica e os serviços de urgência e emergência. 5.4.4 Programa Nacional de Imunização O Programa Nacional de Imunização (PNI) do Brasil é um caso de sucesso reconhecido internacionalmente. Por meio desse programa algumas doenças como varíola e poliomielite foram erradicadas. Somado a isso, foram reduzidos casos de morte em decorrência de doenças como sarampo, rubéola, tétano, difteria e coqueluche. O Brasil oferece gratuitamente todas as vacinas recomendadas pela OMS, são mais de 300 milhões de doses anuais aplicadas na população. O programa tem como um de seus princípios a inclusão social, por isso as vacinas são oferecidas a toda a população, sem qualquer tipo de distinção. As aplicações são realizadas conforme o calendário de imunização e situação epidemiológica, e diferem para cada etapa da vida. Além daquelas que devem ser tomadas por toda a população, há as específicas para gestantes, povos indígenas e pessoas que tem como destino de viagem lugares onde há risco de alguma doença específica. A implementação de sucesso do PNI e seus critérios são considerados na incorporação de novas vacinas, o que proporciona ao Brasil oferecê-las gratuitamente e de forma sustentável para a população brasileira. Por meio de parcerias para o desenvolvimento produtivo (PDP), fortaleceu-se o complexo industrial nacional na área das vacinas, o que gerou autossuficiência da produção desses insumos estratégicos para o SUS e sustentabilidade para o PNI. 5.4.5 Programa Farmácia Popular do Brasil Criado em 2004, o programa tem como objetivo fornecer à população medicamentos considerados essenciais e hoje funciona com farmácias comerciais que se credenciam ao programa. Os medicamentos oferecidos de forma gratuita são para o tratamento de hipertensão, diabetes e asma. Para outros medicamentos, são oferecidos descontos. É o caso do tratamento de hiperlipidemias, rinite, Parkinson, osteoporose e glaucoma. Também há a possibilidade de subsídios na compra de anticoncepcionais e fraldas geriátricas. Atualmente, quase 900 medicamentos são fornecidos sem custo e distribuídos pelo SUS. Eles estão descritos na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename). O objetivo do programa é ampliar o acesso da população aos medicamentos considerados essenciais, oferecendo-os a preços reduzidos. Eles são adquiridos pela Fiocruz, em laboratórios farmacêuticos públicos ou do setor privado. A Fiocruz disponibiliza os medicamentos às farmácias populares sem 57 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE custo, onde são vendidos em farmácias próprias ou da iniciativa privada. O comprador deve informar o CPF para o Datasus (sistema de informática do SUS) no ato da compra. A redução de preços na farmácia popular do Brasil é possível graças à isenção de impostos e a aplicação de subsídios por parte do governo. Em média, os medicamentos são vendidos com preços 85% menores do que nas farmácias comuns. As prefeituras municipais recebem uma verba do Ministério da Saúde para montarem a estrutura física da farmácia. Após a inauguração, recebem outro auxílio para contratação de funcionários para o atendimento. 5.4.6 Programa de Prevenção e Controle do HIV/Aids O Brasil é referência mundial no controle da epidemia de HIV e desde 1996 distribui gratuitamente os medicamentos antirretrovirais, indispensáveis para o controle da infecção. O SUS tem exclusividade no oferecimento da terapia medicamentosa (de alto custo) para essa doença. Existem também diversos programas, como campanhas educativas e distribuição de preservativos, que visam à prevenção da infecção pelo HIV. Além de oferecer os medicamentos para o tratamento da infecção dos indivíduos já infectados, o SUS ainda oferece duas formas de prevenção importantes do HIV/Aids: • Profilaxia pré-exposição (PrEP): visa ao fornecimento de medicamentos antirretrovirais para pessoas não infectadas pelo vírus, mas pertencentes a grupos de risco, por exemplo homens que fazem sexo com outros homens, pessoas transexuais, trabalhadores do sexo e casais sorodiscordantes (quando um deles está infectado, mas o outro não). • Profilaxia pós-exposição (PEP): essamedida tem como objetivo prevenir a infecção pelo HIV após exposição ao risco. É efetiva, na maioria dos casos, até 72 horas após o contato com o vírus, e é importante para evitar a infecção decorrente de casos de violência sexual, relações sexuais desprotegidas, acidentes com instrumentos perfurocortantes ou contato com material biológico. 5.4.7 Sistema nacional de doação e transplante de órgãos O Brasil tem o maior programa público de transplante de órgãos no mundo. Aproximadamente 87% de todos os transplantes no país são feitos no âmbito do SUS, exclusivamente com recursos públicos. Os pacientes que necessitam de um transplante são organizados em uma lista única, na Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado, que integra o Sistema Nacional de Transplantes. A Rede de Doação de Medula Óssea (Redome) foi criada em 1993 e é o maior banco de medula óssea financiado com recursos exclusivamente públicos. O banco de doadores do Brasil está articulado com bancos internacionais e as chances de um paciente conseguir a doação de medula é de mais de 50%. 58 Unidade II Quando um paciente precisa de transplante de medula óssea, a equipe da Redome procura em sua base de dados por doadores compatíveis e entra em contato para confirmar interesse e disponibilidade. Caso o doador confirme interesse, é dado início ao procedimento, que envolve a retirada de uma fração da medula óssea do doador e transplante no receptor. A Redome é organizada em torno dos hemocentros, que também são de responsabilidade do SUS. 5.4.8 Rede de Atenção Psicossocial (Raps) A Rede de Atenção Psicossocial (Raps) é um modelo de atenção voltada a pessoas que possuem transtornos mentais cuja severidade e/ou persistência justifiquem sua permanência num dispositivo de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor de vida. Também acolhe indivíduos que sofrem em decorrência do uso de álcool e de drogas. A rede funciona a partir do acesso aos Caps e da promoção dos direitos baseados na convivência dessas pessoas em sociedade. Os Caps são locais comunitários e abertos de atenção diária, que substituem o modelo de asilo e recolhimento, valorizam a inserção social dessas pessoas por meio do trabalho, do lazer e do fortalecimento de laços com a comunidade e com a família, e possibilitam o exercício dos direitos civis. Suas principais ações são: • Prestar atendimento em regime de atenção diária. • Gerenciar os projetos terapêuticos, de maneira a oferecer cuidado clínico eficiente e personalizado. • Promover a inserção social dos usuários por meio de ações intersetoriais que envolvam educação, trabalho, esporte, cultura e lazer, montando estratégias conjuntas de enfrentamento dos problemas. • Organizar a rede de serviços de saúde mental de seu território. • Dar suporte e supervisionar a atenção à saúde mental na rede básica, ESF e Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs). • Regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental de sua área. • Coordenar junto ao gestor local as atividades de supervisão de unidades hospitalares psiquiátricas que atuem no seu território. • Manter atualizada a listagem dos pacientes de sua região que utilizam medicamentos para a saúde mental. A Portaria GM n. 336/2002 regulamenta o funcionamento dos Caps. Segundo ela, os Caps são constituídos de três modalidades de serviços, denominados Caps I, Caps II e Caps III. As três modalidades de serviços cumprem a mesma função no atendimento público, que consiste na assistência a pacientes com transtornos mentais severos e persistentes em regime de tratamento intensivo, semi-intensivo e não intensivo. A diferença é a capacidade de atendimento, que tem relação com o território em que 59 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE estão inseridos (Caps I: em municípios de 20 mil a 70 mil habitantes; Caps II: em municípios de 70 mil a 200 mil habitantes; e Caps III: em municípios acima de 200 mil habitantes). Ainda de acordo com a Portaria n. 336/2002, a assistência prestada ao paciente nos Caps I, II e III inclui as seguintes atividades: • Atendimento individual, que inclui terapêutica medicamentosa, psicoterapia, orientação etc. • Atendimento em grupos, que inclui psicoterapia, grupos operativos, atividades de suporte social etc. • Atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de nível superior ou nível médio. • Visitas domiciliares. • Atendimento à família. • Atividades comunitárias enfocando a integração do paciente na comunidade e sua inserção familiar e social. O Caps III é o único que prevê acolhimento noturno, nos feriados e finais de semana, com, no máximo, cinco leitos, para eventual repouso e/ou observação. A equipe multiprofissional que trabalha em cada categoria do Caps deve ser constituída dos seguintes profissionais, segundo a Portaria n. 336/2002 (BRASIL, 2002b): • Médico com formação em saúde mental (Caps I) ou psiquiatra (Caps II e III). • Enfermeiro que, para a atuação nos Caps II e III, deve ter especialização em saúde mental. • Profissionais de nível superior entre as seguintes categorias profissionais: psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico. • Profissionais de nível médio, como técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão. 5.4.9 Programas de vigilância em saúde Segundo o Ministério da Saúde, a vigilância em saúde é o setor que atua na prevenção e no controle de doenças transmissíveis, pela vigilância de fatores de risco para as doenças crônicas não transmissíveis, pela saúde ambiental e do trabalhador e também pela análise de situação de saúde da população brasileira. Para alcançar esses objetivos, os profissionais que integram essa área realizam a coleta, consolidação e publicação de dados referentes à saúde da população, a fim de possibilitar o planejamento e a 60 Unidade II implementação de medidas de saúde pública que visam à proteção da saúde, à prevenção e ao controle de riscos, agravos e doenças, e à promoção da saúde. A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) tem um importante papel nesse contexto, pois coordena os programas de prevenção e controle de doenças transmissíveis, por exemplo o HIV/Aids, a dengue, a malária, as hepatites virais, a leishmaniose, a hanseníase e a tuberculose. Também faz parte do escopo da SVS: o estabelecimento do PNI; a investigação dos surtos de doenças; a coordenação da rede nacional de laboratórios de saúde pública; a gestão de sistemas de informação de mortalidade, agravos de notificação obrigatória e nascidos vivos; a realização de inquéritos de fatores de risco; a coordenação de doenças e agravos não transmissíveis; e a análise de situação de saúde, que inclui as investigações e inquéritos sobre fatores de risco de doenças não transmissíveis, entre outras ações. 5.5 Participação da iniciativa privada na assistência à saúde: saúde complementar e saúde suplementar A Lei Orgânica do SUS prevê que o setor privado contratado e conveniado também possa prestar serviços ao SUS. Quando contratado, deve atuar como se fosse público, cumprindo as mesmas normas do serviço público. A regulamentação da participação dos serviços privados no SUS está presente em normas operacionais básicas (NOB) específicas. A Lei n. 11.079/2004 institui normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública. Esse texto explica detalhadamente as regras que envolvem o uso das parcerias público-privadas, entendidas como contratos firmados entre os setores público e privado, nos quais este, mediante pagamento, presta determinado serviço àquele. Saiba mais A Lei n. 11.079/2004 pode ser consultada no site a seguir: BRASIL. Lei n. 11.079, de 30 de dezembro de 2004. Institui normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública. Brasília, 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/Lei/L11079.htm. Acesso em: 5 jul. 2020. Na prática, a relação entre as iniciativas públicas e privadas é concretizada por meio de contratos e/ou convênios firmados entre a pessoa jurídica e a comissão tripartite que compreende a União, os estados e os municípios, e é pautada nos termos do artigo 199 da Constituição Federal, que dá preferência às entidades filantrópicas e às sem fins lucrativos. Para entendermos como se organiza a interlocução entre os sistemas públicos e privados de saúde no Brasil, precisamos primeiro compreender o conceito de saúde complementar. 61 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE Como o nome já diz, saúde complementar é um complemento aos serviços do SUS. Embora determinados procedimentos sejam realizados por instituições de saúde privada, são considerados ações do setor de saúde pública, devido à existência do contrato ou convênio entre ambas. No que concerne à participação complementar da iniciativa privada na saúde, vale dizer que o Estado brasileiro ainda não possui as condições necessárias para cumprir integralmente o seu dever de garantir a saúde da população. Faltam hospitais, laboratórios, clínicas médicas, entre outros elementos que demonstram a carência de estrutura básica para o atendimento universal da população. Resta, assim, ao Estado, por meio da União, dos estados e dos municípios, utilizar-se de parceiros privados para a consecução dos seus objetivos constitucionais. Ao firmar convênios e contratos com diversas pessoas jurídicas de direito privado que realizam ações e serviços de saúde, o Estado as insere no âmbito das ações e serviços públicos de saúde, igualando-as àquelas prestadas diretamente por seus órgãos e entidades. Por firmarem contratos ou convênios com o SUS, integram esse sistema e submetem-se a todas as suas diretrizes, princípios e objetivos, notadamente a gratuidade, integralidade e universalidade. Assim, os hospitais, as clínicas, os laboratórios, as organizações não governamentais, as organizações sociais de interesse público, enfim, todo o conjunto de pessoas jurídicas de direito privado que tiver firmado contrato ou convênio com os órgãos e entidades que compõem o SUS serão consideradas, para todos os fins, instituições-organismos do SUS. Exemplo de aplicação Vejamos um exemplo de atividades de saúde complementar. Um paciente do SUS precisa fazer um procedimento médico de alta complexidade que a instituição de saúde da rede própria do Estado não comporta. Qual é a próxima etapa? O paciente será encaminhado a um hospital da rede privada que tenha convênio com o SUS para realizar o procedimento, que será custeado pelo governo. A saúde suplementar, por sua vez, é o setor que abriga os serviços privados de saúde prestados exclusivamente na esfera privada. Representa uma relação jurídica entre prestador de serviço privado de saúde e consumidor, organizada por meio de planos de saúde, conforme previsto nas Leis n. 9.961/2000 e 9.656/98. Na saúde suplementar, as ações e serviços desenvolvidos não possuem vínculo com o SUS, exceto, obviamente, os vínculos advindos das normas jurídicas emanadas dos órgãos de regulação do sistema (Ministério da Saúde, Secretarias de Saúde, Anvisa, ANS, entre outros). A ANS, órgão regulador da saúde suplementar no Brasil, vem normatizando o setor para que este passe a cumprir a sua função social da forma mais harmônica possível com os princípios e diretrizes do SUS, mas ainda há muito a caminhar. 62 Unidade II A Lei n. 9.961/2000 criou a ANS e definiu a sua finalidade, estrutura, atribuições, receita, natureza e vinculação ao Ministério da Saúde. A regulação exercida pela agência possui papel fundamental no cumprimento das políticas determinadas pelo Estado e sua função legal é gerencial (técnica), de controle e fiscalização sobre os entes regulados no setor de saúde suplementar. A ANS tem, nos termos da lei, por finalidade institucional promover a defesa do interesse público na assistência suplementar à saúde, ao regular as operadoras setoriais, inclusive quanto às suas relações com prestadores e consumidores, o que contribui para o desenvolvimento das ações de saúde no Brasil. O órgão tem autonomia administrativa, financeira e política, expressa por uma arrecadação própria e tem suas decisões baseadas em uma diretoria colegiada cujos membros têm mandato definido em lei, sendo que suas resoluções têm poder legal. Essa agência normatiza as relações existentes entre as operadoras de planos privados de assistência à saúde e seus respectivos beneficiários, e atribui direitos de ingresso no mercado (função legislativa), fiscaliza os serviços prestados (função executiva), determina condutas específicas e aplica sanções, após o devido processo legal, inclusive com a retirada de operadoras do setor regulado (função judiciária). Evidencia-se, então, que a regulação no setor da saúde ocorre para proteger os cidadãos/ consumidores das falhas existentes no mercado. Assim, a regulação visa corrigir ineficiências do mercado, estabelecendo regras entre consumidores e empresas/operadoras de planos de saúde. A figura a seguir mostra um infográfico para melhor compreender a importância de uma boa gestão e distribuição financeira da verba para as políticas sociais no caso da saúde: Figura 3 63 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE 6 ANÁLISE CRÍTICA DA SITUAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL 6.1 Situação da saúde pública no âmbito da seguridade social É indiscutível que, a partir de 1988, tivemos avanços significativos no reconhecimento de direitos sociais, mas ainda é grande a distância entre as determinações constitucionais e o efetivo exercício desses direitos para grande parte da população brasileira. Assim como os demais direitos a prestações positivas por parte do Estado, o direito à saúde também sofre com problemas para sua efetivação. A saúde no Brasil encontra-se ainda em um nível muito aquém do aceitável para garantir e efetivar o direito à vida, com a dignidade assegurada ao ser humano, princípio consagrado no texto constitucional. Deparamo-nos, ao longo da história, com muitas barreiras, e consideramos como normais muitas injustiças, inclusive por não ocorrer suficiente mobilização da população no sentido de cobrar do Estado sua responsabilidade quanto à implementação de direitos já formalizados. Por vezes, tomam-se direitos como se fossem favores que alcançamos ao longo do tempo, porém os que temos foram a duras penas conquistados. É necessário examinar a aplicabilidade imediata do direito à saúde. Apesar de o artigo 196 da Constituição Federal determinar que a saúde é direito de todos e dever do Estado, muitas pessoas acabam tendo que recorrer à Justiça para conseguir ter acesso a medicamentos e tratamentos que deveriam ser ofertados pelo sistema público de saúde. Nessa lista também estão incluídos aqueles que pagam por planos de saúde e no momento em que mais precisam dele acabam ficando sem auxílio. Em um contexto de agudas desigualdades sociais, pobreza estrutural e fortes relações informais de trabalho, o modelo de saúde pública brasileiro, que fica entre o seguro e a assistência, deixa sem acesso aos direitos da seguridade social uma parcela enorme da população. Isso mostra que a implementação da seguridade social no Brasil ainda não aconteceu de maneira efetiva. Para piorar esse quadro, os princípios originais do texto legal — universidade, equivalência e equidade — vêm sendo violados ao longo dos anos, como resultado da implementação do recente modelo neoliberal, que se mostra impeditivo ao estabelecimento de políticas públicas universais. As primeiras reformas da seguridade social começaram já no início da década de 1990, período de profunda crise econômica. Nesse momento, o Estado passou por uma reformatação para se adaptar à lógica capitalista. Essas reformas, ou contrarreformas, como chama Boschetti (2009), foram na contramão do que propôs o plano de seguridade social. Ganham destaque as contrarreformas da previdênciade 1998, 2002 e 2003, que evidenciaram a previdência social como o principal alvo das ações de desmantelamento que o Estado promoveu no sentido de restringir direitos. Boschetti (2009) aponta três caminhos que levaram ao desmonte da seguridade social: as contrarreformas, a fragilização dos espaços de participação e controle democrático, e o desvio de dinheiro do orçamento da seguridade social por meio de desvinculação das receitas da união (DRU). 64 Unidade II As contrarreformas, especialmente as previdenciárias, começaram no governo de Fernando Henrique Cardoso e seguiram até o governo Lula. Essas medidas dificultaram o acesso à aposentadoria, aumentaram o tempo de contribuição do trabalhador e incentivaram as privatizações, bem como os fundos de pensão privados. Assim, o Estado acabou por aproximar a política de previdência ainda mais da lógica securitária, que se caracteriza por limitar seu acesso à contribuição. A política de saúde, única política universal do tripé da seguridade social, sofreu cortes no orçamento, o que precarizou as condições de trabalho e reduziu a capacidade de atendimento ao mínimo. A política de assistência social, por sua vez, continua seletiva e criteriosa em sua abrangência, e permanece exclusiva à população que se encontra em situação de risco e/ou vulnerabilidade social. O segundo caminho rumo ao desmonte é a “fragilização dos espaços de participação e controle democrático” (BOSCHETTI, 2009, p. 13). Isso significa que conselhos e conferências, como espaços deliberativos, não estão funcionando em consonância com o planejado na CF/88. Esses espaços de participação popular, fiscalização e controle democrático são fortemente atacados pelas intervenções antipopulares do neoliberalismo. Mudanças na Constituição Federal levaram, por exemplo, o Conselho Nacional de Seguridade Social e os conselhos locais de previdência social à extinção temporária. Por fim, o último caminho para o desmonte da seguridade social apresentado por Boschetti (2009) é o desvio de dinheiro do orçamento da seguridade social por meio de DRU. Nesse caso, ocorre uma perversa alquimia que transforma os recursos destinados ao financiamento da seguridade social em recursos fiscais para a composição do superávit primário e, por consequência, a sua utilização em pagamento de juros da dívida (SALVADOR, 2007). O dinheiro desviado pela DRU — forma legal de desvio da política de seguridade social — representou, em 2007, 65% do superávit primário. No período entre 2000 e 2007 foram desviados, dessa mesma forma, R$ 278,4 bilhões para o orçamento fiscal (SALVADOR, 2017). O dinheiro que originalmente deveria pertencer à seguridade social é usado para pagar juros da dívida, despesas com servidores públicos e investimento em infraestrutura dos Estados. A princípio, a base de financiamento da seguridade social era diversificada, com contribuições baseadas no lucro e no faturamento das empresas, além da contribuição de empregadores e empregados. Mas essa base de financiamento mudou e agora a seguridade social é majoritariamente financiada pela contribuição dos trabalhadores (BOSCHETTI, 2009). O valor que seria da contribuição calculada a partir do lucro (CSLL) e faturamento (Cofins) foi incorporado ao preço das mercadorias, pesando sobre os consumidores o papel de financiador da seguridade social (BOSCHETTI, 2009). Observação A seguridade social é financiada, em parte, por seus próprios usuários, seja por contribuição sob folha de pagamento ou, ainda, pela via do consumo. 65 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE As mudanças a cargo dessa reforma previdenciária geram consequências lamentáveis: Sob o argumento de simplificar o nosso sistema tributário, a proposta acaba com as contribuições sociais sobre o lucro e faturamento e deforma o Orçamento da Seguridade Social, pondo fim ao seu modelo de pluralidade de fontes exclusivas. A consequência natural desse desmonte é um enorme risco aos direitos sociais, novamente sob orientação liberal (MUSSE; SANTOS; VAZ, 2008, p. 12). 6.2 Financiamento do SUS O Fundo Nacional da Saúde vem repassando para os estados e municípios valores muitas vezes insuficientes para financiar as ações pertinentes aos três níveis de atenção. Com isso, o SUS fica cada vez mais defasado em infraestrutura e capacitação, o que causa a insatisfação da população em relação à saúde pública. Saiba mais Os valores despendidos pelo Fundo Nacional de Saúde para financiar os programas do SUS podem ser consultados no site do Ministério da Saúde: https://consultafns.saude.gov.br A verba para a gestão do SUS que compreende a rede técnica responsável pela manutenção do SUS, pelo banco de dados, pela marcação de consultas, pela logística de operações e procedimentos, entre outros elementos, foi a que sofreu os maiores cortes quando comparamos os valores repassados no período de 2009 a 2019. Isso dificulta em muito o acesso dos usuários às consultas e exames diagnósticos oferecidos pela rede e a efetivação das políticas públicas. 350.000.000,00 300.000.000,00 250.000.000,00 200.000.000,00 150.000.000,00 100.000.000,00 50.000.000,00 0,00 2009 2012 20152010 2013 2016 20182011 2014 Ano Va lo re s b ru to s ( R$ ) 2017 2019 Figura 4 – Repasses do Fundo Nacional de Saúde para a gestão do SUS 66 Unidade II A atenção básica e os procedimentos de média e alta complexidade tiveram um incremento no valor dos repasses durante o período de 2009 a 2019. No entanto, não foi suficiente para garantir o atendimento universal, um dos preceitos do SUS. No âmbito da atenção básica, isso significa que muitas comunidades carentes, principalmente no interior do Brasil, permanecem sem a atenção primária à saúde, que é a principal porta de entrada do SUS. Uma das maiores verbas repassadas aos estados e municípios é sobre os atendimentos de média e alta complexidade. Os procedimentos incluídos nesse nível de atenção são muito custosos, pois exigem tecnologias e insumos caros – que muitas vezes são importados de outros países –, além de necessitarem de uma infraestrutura muito bem consolidada nos hospitais. O gráfico da figura a seguir mostra que entre 2009 e 2019 houve um aumento nesse tipo de investimento, porém de maneira ainda insuficiente para cobrir toda a população. Considerando-se a inflação do período, chegamos à conclusão de que o incremento, na realidade, não foi tão significativo quanto aparenta, frente às inovações do segmento que, muitas vezes, não foram incorporadas à estrutura do SUS. 60.000.000.000,00 50.000.000.000,00 40.000.000.000,00 30.000.000.000,00 20.000.000.000,00 10.000.000.000,00 0,00 2009 2012 20152010 2013 2016 20182011 2014 Ano Va lo re s b ru to s ( R$ ) 2017 2019 Atenção básica Média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar Figura 5 – Repasses do Fundo Nacional de Saúde para a atenção básica e para os procedimentos de média e alta complexidade ambulatorial Em relação à assistência farmacêutica e à vigilância em saúde, os repasses apresentam variações significativas quando comparamos dois ou mais anos consecutivos, o que impede o estabelecimento de políticas de médio e longo prazo. 67 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE 3.500.000.000,00 3.000.000.000,00 2.500.000.000,00 2.000.000.000,00 1.500.000.000,00 1.000.000.000,00 500.000.000,00 0,00 2009 2012 20152010 2013 2016 20182011 2014 Ano Va lo re s b ru to s ( R$ ) 2017 2019 Assistência farmacéutica Vigilância em saúde Figura 6 – Repasses do Fundo Nacional de Saúde para a assistência farmacêutica e vigilância em saúde Muitos pesquisadores e especialistas na área têm se debruçado sobre o tema a fim de verificar os principais gargalos do SUS, e há certa unanimidade em relação a dois aspectos: o sistema ser mal gerenciado e o financiamento ser insuficiente para que a saúde seja eficiente em seu atendimento à população. O que acontece na prática é que os estados e municípios possuem grandes responsabilidades em relação aos atendimentosem seu território, porém não recebem recursos suficientes para isso. Também é muito comum constatar a incapacidade de municípios pequenos em estabelecer e gerenciar seus sistemas de atendimento. Como o município é responsável pela atenção básica, que pode resolver cerca de 85% dos problemas de saúde, as deficiências nesse nível podem comprometer em grande medida a qualidade da saúde da população. Outro agravante é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n. 241, aprovada em 2016, que limita os gastos públicos em saúde ao valor do ano anterior, corrigido pela inflação. A PEC n. 241/2016 parte do pressuposto de que os atuais problemas econômicos são decorrentes do excesso de gastos públicos com a sociedade. Com esse diagnóstico, cria-se um clima alarmista que justificaria a contenção de programas sociais e iniciativas redistributivas das últimas décadas, responsáveis pela redução, ainda que limitada, da enorme desigualdade social que a sociedade brasileira ainda enfrenta. O envio da PEC n. 241/2016 ao Congresso Nacional, designando o chamado novo regime fiscal, representa e consolida a tese de que a forma exclusiva de enfrentar a crise fiscal é o corte de gastos sociais e, portanto, a restrição de direitos, mantendo ao mesmo tempo intocado o questionamento sobre a dívida pública e seu regime de juros que representam, estes sim, a razão maior do comprometimento do orçamento da União. 68 Unidade II Por meio dos artigos 101 a 105 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, proposto pela PEC n. 241, criou-se um teto orçamentário definido pela inflação do período, que retira a progressividade dos direitos sociais e a autonomia da sociedade brasileira e do Congresso Nacional de ajustar o gasto público às dimensões de suas prioridades e estratégias de desenvolvimento econômico e social, o que fere o ordenamento da CF/88. A PEC n. 241 prevê que até 2036 o orçamento seja acrescido apenas da variação inflacionária (IPCA) sobre o valor de 2016. Considerando a prática corrente, que transforma os pisos fixados em lei para despesas de saúde e educação em tetos, isso significa que mesmo que a receita e o produto interno bruto (PIB) cresçam acima da inflação, não haverá aumento de recursos para essas áreas e, consequentemente, a gestão financeira na saúde terá mais agravo. Saiba mais Para saber mais sobre a PEC n. 241 e os impactos sobre os direitos sociais, a saúde e a vida, leia a nota técnica a seguir: VIEIRA, F. S.; BENEVIDES, R. P. S. Os impactos do novo regime fiscal para o financiamento do sistema único de saúde e para a efetivação do direito à saúde no Brasil. Brasília: Ipea, 2016. Disponível em: https://www.ipea. gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=28589. Acesso em: 21 set. 2020. Resumo O SUS é um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo e engloba a atenção integral à saúde, exercida nos três níveis de atenção de modo a promover a saúde com qualidade de vida. Os princípios fundamentais que norteiam a ação do SUS são: universalização (direito de todos os cidadãos); equidade (diminuição das desigualdades); e integralidade (considera a pessoa como um todo e promove a saúde social). O atendimento, no SUS, acontece por meio dos postos de saúde, das UBS, das UPAs, dos hospitais, dos Caps, do Samu e até mesmo na casa do indivíduo, mediante a aplicação de programas específicos. Os principais programas do SUS são: ESF, como foco na atenção primária; Programa Saúde na Escola, que objetiva a assistência à saúde às crianças e adolescentes que frequentam as escolas públicas; Programa 69 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE Melhor Casa, que visa ao acompanhamento das doenças crônicas; Programa Farmácia Popular, que pretende distribuir medicamentos, sem custos, para a população; Programa de Prevenção e Controle do HIV/Aids; Sistema Nacional de Doação e Transplante de Órgãos; e Caps. No SUS, a responsabilidade pela saúde deve ser descentralizada desde a esfera federal até o município, ou seja, devem ser fornecidas ao município condições gerenciais, técnicas, administrativas e financeiras para exercer essa função. Para que valha o princípio da descentralização, existe a concepção constitucional do mando único, em que cada esfera de governo é autônoma e soberana nas suas decisões e atividades, respeitando os princípios gerais e a participação da sociedade. Vários empecilhos vêm dificultando o estabelecimento das políticas do SUS. O Fundo Nacional da Saúde repassa para os estados e municípios valores muitas vezes insuficientes para financiar as ações pertinentes aos três níveis de atenção. Com isso, o SUS fica cada vez mais defasado em infraestrutura e capacitação, o que causa a insatisfação da população em relação à saúde pública. Assim, o princípio da universalidade não é atingido, o que coloca em risco a vida de muitos cidadãos. Exercícios Questão 1. A integralidade do atendimento oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é garantida pela descentralização da sua gestão, que permite a adequação das políticas públicas às necessidades de cada ente federativo, e, também, pela participação da comunidade. Em relação à governança do SUS, analise as afirmativas a seguir e assinale a alternativa correta. I – As Comissões Intergestores Tripartite e Bipartite são o foro de negociação e de pactuação entre gestores das esferas federal, estadual e municipal, quanto aos aspectos operacionais do SUS. Uma de suas funções é articular políticas e programas de interesse para a saúde, cuja execução envolva diretamente áreas não compreendidas no âmbito do SUS. II – Os Conselhos de Saúde são órgãos colegiados nos quais se manifestam os interesses dos diferentes segmentos sociais, de maneira a possibilitar a negociação de propostas que pretendem direcionar os recursos para prioridades diferentes. III – Embora a governança do SUS preveja participação dos três entes federativos, a tomada de decisão é centralizada na esfera federal, que tem prioridade na discussão do orçamento da saúde, da relação com o setor privado e da política de recursos humanos. 70 Unidade II São corretas as afirmativas: A) I e II, apenas. B) II e III, apenas. C) I e III, apenas. D) II, apenas. E) I, II e III. Resposta correta: alternativa A. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: a Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, afirma, em seus artigos 12 e 13, o que segue: Art. 12. Serão criadas comissões intersetoriais de âmbito nacional, subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde, integradas pelos Ministérios e órgãos competentes e por entidades representativas da sociedade civil. Parágrafo único. As comissões intersetoriais terão a finalidade de articular políticas e programas de interesse para a saúde, cuja execução envolva áreas não compreendidas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Art. 13. A articulação das políticas e programas, a cargo das comissões intersetoriais, abrangerá, em especial, as seguintes atividades: I – alimentação e nutrição; II – saneamento e meio ambiente; III – vigilância sanitária e farmacoepidemiologia; IV – recursos humanos; V – ciência e tecnologia; e VI – saúde do trabalhador. 71 POLÍTICA SETORIAL - SAÚDE II – Afirmativa correta. Justificativa: para tratar de matérias referentes à saúde, o que inclui o direcionamento dos recursos para os diferentes projetos, são instituídos diferentes conselhos no âmbito da governança do SUS: • Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass): é a entidade representativa dos entes estaduais e do Distrito Federal na Comissão Intergestores Tripartite (CIT). • Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems): é a entidade representativa dos entes municipais na CIT. • Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems): são entidades que representam os entes municipais e estão vinculados institucionalmente ao Conasems, na forma que dispuserem seus estatutos. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: no SUS,
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