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Análise Estética: Um comparativo entre os diretores Stanley Kubrick e Steven Spielberg

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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING
Gabriel de Freitas Lima, Amanda Camargo de Araújo, Alex Ferreira Mascarenhas, Brendha Lerita Endlich de Olivera, Julia Pinheiro Lima
ANÁLISE ESTÉTICA DE STANLEY KUBRICK E STEVEN SPIELBERG
São Paulo
2019
Gabriel de Freitas Lima, Amanda Camargo de Araújo, Alex Ferreira Mascarenhas, Brendha Lerita Endlich de Olivera, Julia Pinheiro Lima
ANÁLISE ESTÉTICA DE STANLEY KUBRICK E STEVEN SPIELBERG
Trabalho referente a disciplina Linguagem, estética e gêneros do AV da Escola Superior de Propaganda e Marketing, como parte das exigências para a obtenção de nota no primeiro semestre.
Orientador: Flavia Stawski
São Paulo
2019
RESUMO
Neste trabalho, talvez estejamos falando de dois dos maiores diretores de todos os tempos. Kubrick, pela sua autoria em todos os trabalhos e perfeccionismo de suas obras, e Spielberg pela criação de uma fórmula cinematográfica mercadológica quase infalível. Ambos com estética e linguagens próprias inesquecíveis, perfeitos da direção à edição. Abordamos suas características diante de seus filmes que escolhemos e os conflitamos e os assemelhamos ao mesmo tempo.
Palvras-chave: Stanley Kubrick, Steven Spielberg, linguagem, estética, cinema, enredo, Tubarão 2001 - Uma Odisseia no Espaço, O Iluminado, Nascido Para Matar, O Resgate do Soldado Ryan, ET - O Extraterrestre
 
ABSTRACT
This paper concernes two of the greatest directors of all time. Kubrick with his signature work and perfectionism and Spielberg the creator of the perfect balance between marketing and content. Both with their own unique aesthetics and languages. Perfect from direction to editing. These paper approaches their work based of films that were selected based on how they could be explored when comparing both artists.
Keywords: Stanley Kubrick, Steven Spielberg, language, aesthetics, film, storyline, Shark 2001 - A Space Odyssey, The Illuminated, Born To Kill, Private Rescue Ryan, ET - The Extraterrestrial
Sumário
1. APRESENTAÇÃO	5
2. STANLEY KUBRICK	5
2.1 Vida pessoal.	5
2.2 Carreira.	6
2.3 Filmografia	8
2.4 Influências	8
3. STEVEN SPIELBERG	8
3.1 Vida Pessoal.	8
3.2 Carreira.	9
3.3 Filmografia	10
3.4 Influências.	12
4. ANÁLISE ESTÉTICA STANLEY KUBRICK	12
4.1 Visão geral.	12
4.2 2001: Uma Odisseia no Espaço	13
4.3 O Iluminado	15
4.4 Nascido para Matar	18
5. ANÁLISE ESTÉTICA STEVEN SPIELBERG	20
5.1 Visão geral	20
5.2 Tubarão	21
5.3 E.T. o Extraterrestre	24
5.4 Resgate do soldado Ryan	25
6. ANÁLISE COMPARTIVA DE STANLEY KUBRICK X STEVEN SPIELBERG	28
6.1 Semelhanças	28
6.2 Diferenças	29
7. CONCLUSÃO	30
8. REFERÊNCIAS	31
1. APRESENTAÇÃO
Por que Stanley Kubrick e Steven Spielberg?
Nós selecionamos os dois diretores porque, além de sermos grandes fãs dos seus trabalhos, tínhamos imenso interesse em analisar como Kubrick usa a estética a favor de suas histórias e construção de personagens, e como Spielberg trouxe filmes tão icônicos e inovadores. Ambos são responsáveis por projetos aclamados tanto pelo público quanto pela crítica, e conversam entre si. Principalmente nas obras de Spielberg, onde podemos encontrar diversas referências aos trabalhos de Stanley Kubrick. 
Spielberg tem em seu currículo uma extensa lista de filmes, que nos dava a liberdade de selecionar aqueles que conversavam melhor com Kubrick, que apesar de não ter uma filmografia tão ampla, consegue formar uma personalidade forte, criando uma marca que está presente em todas as suas obras. 
A escolha não foi somente positiva, já que tivemos dificuldade de separar entretenimento e análise ao selecionarmos filmes que já faziam parte da nossa trajetória como amantes do cinema. Encontramos dificuldade em escolher apenas 3 filmes de cada, mas ao observarmos com atenção as características principais de cada um, concluímos que as melhores opções eram: Tubarão, E.T., O Resgate do Soldado Ryan (Spielberg) e O Iluminado, Nascido para Matar e 2001 – Uma Odisseia no Espaço (Kubrick), além de A.I., que utilizamos como referência e comparativo, já que Kubrick começou e Spielberg finalizou a obra.
Stanley Kubrick dirigiu 13 filmes ao longo de sua carreira, sempre abusando do perfeccionismo, da simetria e da paleta de cores para criar uma ambientação única que define e completa suas narrativas. O diretor usa a estética como parte fundamental de suas histórias, tornando seus diálogos, em alguns momentos, até mesmo secundários.
Steven Spielberg dirigiu 58 filmes, incluindo curtas, documentários e episódios de televisão, e trouxe clássicos atemporais para o mundo, inovando e mudando a história do cinema. Suas obras têm como principal característica a aproximação do telespectador com os personagens, criando um vínculo inigualável e marcante que justifica sua fama. 
Por isso, nosso grupo optou pelos dois diretores para a realização desse trabalho. 
2. STANLEY KUBRICK
2.1 Vida pessoal.
Stanley Kubrick nasceu em 26 de julho de 1928, no Bronx, Nova York, e veio de família judia. Casou-se três vezes em sua vida. Sua primeira mulher financiou seu primeiro longa-metragem, “Medo e Desejo”. A segunda, apareceu como dançarina em uma de suas obras, “A Morte Passou por Perto” e a terceira, aparece no filme “Glória Feita de Sangue” e desenhou todas as obras de arte de “Laranja Mecânica” e “Olhos Bem Fechados”. Sua filha Vivian Kubrick também não ficou de fora dos seus trabalhos, participando aos 8 anos de idade do filme “2001: Uma Odisseia no Espaço”, com 15 anos em “Barry Lyndon”, com 20 anos em “O Iluminado” como figurante e em seguida operou a câmera em “Nascido para Matar”. Além disso, fez um documentário sobre o Making Off de “O Iluminado”. Stanley Kubrick não gostava de dar entrevistas, mas apareceu na produção de Vivian. Morreu antes de terminar sua última obra mas deixou seu legado para todos os amantes do cinema.
Figura 1. Stanley Kubrick segurando uma câmera.
2.2 Carreira.
Apesar de ter dirigido apenas 13 longas-metragens em seus setenta anos de vida, conseguiu conquistar enorme respeito do público e da crítica. Kubrick começou sua carreira com 17 anos, como fotógrafo da Revista Look. Em 1951, iniciou sua carreira cinematográfica com “O dia da Luta”, um documentário em curta-metragem sobre um boxeador. Em 1953 já dirigia e produzia “Medo e Desejo”, seu primeiro longa-metragem, que foi pouco visto pelo público.
A ascensão ao nível dos grandes cineastas foi iniciada três anos depois, em “O Grande Golpe”, e em 1957, com “Glória Feita de Sangue”, um filme de guerra estrelado por Kirk Douglas, no qual Kubrick recebeu aplausos da crítica. Em 1960 o diretor lançava Spartacus, que originalmente seria dirigido por Anthony Mann, retirado da produção por causa de desentendimentos com Kirk Douglas, ator principal e produtor executivo do filme. “Spartacus” foi uma megaprodução, com o maior número de figurantes até então em um longa-metragem. O filme arrecadou U$60 milhões de dólares e venceu quatro categorias no Oscar. 
Em 1962, dirigiu “Lolita”, seu primeiro trabalho fora dos Estados Unidos. O filme, apesar de levantar polêmicas até hoje, se tornou um clássico do cinema e foi inclusive indicado ao Oscar de roteiro adaptado. 
Em 1968, finalmente nasce “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, que rendeu ao diretor seu primeiro e único prêmio no Oscar por melhores efeitos visuais. Em seguida, veio “Laranja Mecânica”, uma das obras mais polêmicas e violentas da história do cinema. Apesar das controvérsias, o filme foi indicado a quatro categorias no Oscar, incluindo a de melhor diretor.
Em 1980, “O Iluminado”, o primeiro filme de terror do diretor. Kubrick expôs um total de 390.000 metros de película (mais da metade da distância entre o Rio de Janeiro e São Paulo) para um filme com 142 minutos de duração (2.800 metros). Ou seja, uma média de 102 takes por plano do filme, enquanto a média normal é 10 takes por plano.
Em 1987, Kubrick faz seu terceiro filme de guerra, “Nascido Para Matar”, mas sua preocupação com a perfeição o prejudicou, pois Oliver Stone lançava Platoon, um filme com ideia muitosemelhante que chegou um ano antes ao mercado. 
Em 7 de março de 1999, Stanley faleceu de ataque cardíaco, antes mesmo da conclusão de seu último filme “De Olhos Bem Fechados”, do qual não chegou a participar da pós-produção. 
Figura 2. Retrato Stanley Kubrick.
2.3 Filmografia
1951 – “O Dia da Luta” (curta-metragem)
1953 - “Medo e Desejo”
1953 – “The Seafarers” (curta-metragem)
1955 – “A Morte Passou por Perto”
1956 – “O Grande Golpe”
1957 – “Glória Feita de Sangue”
1960 – “Spartacus”
1962 – “Lolita”
1964 – “Dr. Fantástico”
1968 – “2001: Uma Odisseia no Espaço”
1971 – “Laranja Mecânica”
1975 – “Barry Lyndon”
1980 – “O Iluminado” 
1987 – “Nascido para Matar”
1999 – “De Olhos Bem Fechados”
2.4 Influências
Kubrick tem como duas de suas maiores influências o diretor alemão Max Ophüls e o diretor russo Serguei Eisenstein. Tanto Ophüls quanto Kubrick se basearam em obras de Arthur Schnitzler para produzir seus filmes. Max Ophüls adaptou “A Ronda” em “La Ronde” (1950), enquanto Kubrick adaptou “Breve Romance de Sonho” em “De Olhos Bem Fechados”. Kubrick busca em Ophüls algumas de suas maiores características, como a simetria, a música clássica, a utilização de flashbacks dentro de outros flashbacks e alguns movimentos de câmera (travelling). Já com Serguei Eisenstein, Kubrick compartilha a paixão pela edição. Eisenstein faz parte da vanguarda russa e influenciou fortemente a montagem, com suas obras inovadoras como “A Greve” (1925), “O Encouraçado Potemkin” (1925) e “Outubro” (1927). 
3. STEVEN SPIELBERG
3.1 Vida Pessoal.
Steven Spielberg nasceu no dia 18 de dezembro de 1946, em Cincinnati, mas passou a sua vida morando em Phoenix. Atualmente tem 72 anos, é casado com Kate Capshaw e possui 7 filhos. Usando uma câmera Super 8, ele fazia muitos filmes caseiros com seus irmãos e amigos. Seu primeiro filme se chama “Fuga do Inferno”, e ele o fez com 13 anos usando sua câmera pessoal. Acabou vencendo um concurso de curta metragem com o filme. Em 1963 fez sua estreia profissional com o curta chamado “Amblin”, que foi exibido no festival de filmes de Atlanta e premiado em festivais importantes como o festival de Veneza. 
Figura 3. Retrato Steven Spielberg.
3.2 Carreira.
Seu primeiro longa-metragem foi “Encurralado” (1972), e apesar do filme ter sido produzido para televisão, ele fez tanto sucesso que passou nos cinemas. Em 1975 fez um dos seus maiores sucessos, “Tubarão”, um Blockbuster que ganhou diversos prêmios e recordes na época. Foi assim que se tornou mundialmente famoso. Em seguida, dirigiu outros clássicos como “E.T. – O Extraterrestre” (1982), “Indiana Jones e o Templo da Perdição” (1984), “Jurassic Park” (1997), entre outros. Sua filmografia conta com diversos blockbusters e filmes que se tornaram referência na história do cinema. Spielberg é o diretor com mais filmes da lista de 100 melhores diretores de todos os tempos feita pela American Film Institute, e já venceu dois Oscars de melhor diretor pelos filmes “A Lista de Schindler” e “O Resgate do Soldado Ryan”. Foi um dos co-fundadores da Dreamworks Studios, em 1994, e ainda hoje produz muitos filmes. Além disso, antes de 1992, a Universal Studios criou um complexo enorme, gastando milhões de dólares, para ser usado pelo diretor e sua produtora como escritório. Todas as maiores ideias e os filmes que ele produziu e dirigiu desde então foram feitos lá, e são até hoje. O diretor e a Universal têm uma parceria longa. Grande parte dos filmes de Spielberg foram produzidos em parceria com a Universal, que inclusive construiu brinquedos dos filmes mais icônicos do diretor em seus parques temáticos de Orlando (Tubarão e E.T.). 
Na sua extensa lista de sucessos, também aparecem filmes como “Prenda-me se for capaz”, “Minority Report”, “Guerra dos Mundos”, “Lincoln” e “Ponte dos Espiões”. Steven Spielberg também é muito reconhecido como produtor. No seu currículo de produtor aparecem franquias como “Homens de Preto” e “Transformers”. Em 10 de janeiro 2002, ganhou sua estrela na Calçada da Fama em Los Angeles. 
Figura 3. Retrato Steven Spielberg em 1999 com os dois Oscars que recebeu por O Resgate do Soldado Ryan.
3.3 Filmografia
1972 – “Encurralado”
1974 – “Louca escapada”
1975 – “Tubarão”
1977 – “Contatos imediatos de terceiro grau”
1979 – “1941 – Uma Guerra Muito Louca”
1981 – “Os Caçadores da Arca Perdida”
1982 – “ET – O Extraterrestre”
1984 – “Indiana Jones e o Templo da Perdição”
1985 – “A Cor Púrpura”
1987 – “Império do Sol”
1989 – “Indiana Jones e a Última Cruzada”
1989 – “Além da Eternidade”
1991 – “Hook- A Volta do Capitão Gancho”
1997 – “Jurassic Park”
1993 – “A lista de Schindler”
1997 – “Jurassic Park: O Mundo Perdido”
1997 – “Amistad”
1998 – “O Resgate do soldado Ryan”
2001 – “AI- Inteligência Artificial”
2002 – “Minority Report - A Nova Lei”
2002 – “Prenda-me se For Capaz”
2004 – “O Terminal”
2005 – “Guerra dos Mundos”
2005 – “Munique”
2008 – “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”
2011 – “As Aventuras de Tintin”
2011 – “Cavalo de Guerra”
2012 – “Lincoln”
2015 – “Ponte dos Espiões”
2016 – “O Bom Gigante Amigo”
2017 – “The Post - A Guerra Secreta”
2018 – “Jogador N°1”
3.4 Influências.
Três das maiores referências de Steven Spielberg são Alfred Hitchcock, Walt Disney e, sem dúvidas, Stanley Kubrick. Spielberg sempre foi fascinado por Hitchcock, referenciando seu estilo em filmes como “Minority Report: A Nova Lei” e “Ponte dos Espiões”, e até mesmo fazendo referência ao famoso dolly zoom reverso de “Vertigo” em “Tubarão”. As impressões digitais de Alfred Hitchcock estão em muitos momentos marcantes das obras de Spielberg – como na sequência da fuga de Indiana Jones em “Os Caçadores da Arca Perdida” que foi inspirada na cena de “Intriga Internacional” (1959) de Hitchcock.
Mas é “Os Pássaros” que teve talvez tenha o maior impacto na filmografia de Spielberg. O conto de uma cidade litorânea idílica aterrorizado em plena luz do dia por uma ameaça natural, claramente inspirou a história de “Tubarão”. 
A clara influência de Walt Disney nas obras de Spielberg já foi enfatizada pelo próprio diretor em entrevistas, que usou a história de Pinóquio como inspiração para suas obras, como por exemplo “E.T. – O Extraterrestre” e “A.I. - Inteligência Artificial”. A história de A.I. foi inicialmente desenvolvida por Kubrick, sendo posteriormente assumida e finalizada por Spielberg. Os dois diretores eram amigos, o que talvez explique a grande influência de Stanley Kubrick na vida e carreira de Spielberg. 
Kubrick sempre foi reconhecido pela atenção aos detalhes e perfeccionismo, coisa que Spielberg sempre admirou e almejou trazer para dentro de suas obras. Spielberg também se inspirou em Kubrick em relação a utilização de tecnologias avançadas em seus filmes, para representar de um jeito mais fiel a realidade. Além disso, Kubrick trabalhava com vários gêneros diferentes, o que inspirou Spielberg a trabalhar com diversos temas. Como por exemplo terror, ficção científica, guerra, entre outros.
4. ANÁLISE ESTÉTICA STANLEY KUBRICK
4.1 Visão geral.
Apesar de possuir em seu portifólio obras singulares, os trabalhos de Kubrick possuem muitas semelhanças entre eles que caracterizam o diretor. A primeira e mais perceptível é o recorrente uso de um único ponto de fuga, com isso Kubrick torna suas imagens perfeitamente simétricas e seus planos centralizados, criando profundidade, quase como se obrigando o telespectador a imergir na obra.
Essa imagem perfeita é normalmente contraposta com cenas fortes ou polêmicas, causando um conflito interno em quem está assistindo. Essa dualidade entre grotesco e belo é muito bem utilizada pelo diretor em filmes como “Laranja Mecânica” e “O Iluminado”, que apresentam a violência através de quadros tão bem estruturados, que provocam em quem assiste dois sentimentos contrários e tornam a experiência ainda mais angustiante.
Outro aspecto dos filmes do diretor são os diálogos simplórios e quase sempre monótonos, que servem apenas como acessório das imagens e do som de suas obras. O próprio diretor já afirmou que a linguagemverbal é escassa e subjetiva, não sendo o suficiente para passar as mensagens propostas por seus filmes.
A falta de diálogos que concretizem os questionamentos trazidos pelas obras são o que fazem os filmes de Kubrick tão reflexivos e cheios de teorias criadas pelo seu público para tentar descobrir o que o diretor estava tentando expressar, até porque Kubrick se recusa a explicar seus projetos, pois acredita que suas obras são independentes e, se tivesse algo para ser explicado, isso já teria sido colocado no filme.
Kubrick é calculista e apresenta em suas obras um mundo frio e distante da realidade, dando sempre preferência para narrativas que ocorrem em um tempo distinto ou em uma distopia. Seus filmes são labirintos que, acompanhados de trilhas absurdamente desenvolvidas, confundem e causam angústia em seu público.
4.2 2001: Uma Odisseia no Espaço
Uma estrutura preta, denominada monolito, fornece uma conexão entre o passado e o futuro. Baseado no livro de ficção científica do autor Arthur C. Clarke titulado “A sentinela”, o filme narra a missão do Dr. David Bowman e outros astronautas que foram enviados para uma misteriosa missão, acompanhados pela HAL 9000, uma Inteligência Artificial que começa a se comportar de maneira estranha, levando a um tenso confronto entre homem e máquina que resulta em uma viagem alucinante no espaço e tempo. 
Figura 5. Cartaz de “2001 – Uma Odisseia no Espaço”.
O filme é dividido em capítulos que contam uma narrativa cíclica, onde o começo e o fim se relacionam na ideia de evolução humana. Isso fica claro na cena introdutória onde vemos os macacos que deram origem à raça humana e na cena final onde somos apresentados a um feto espacial. 
Em ambas as cenas, o monolito tem papel fundamental, entretanto, seus propósitos e origem são desconhecidos. São várias as teorias que tentam explicar sua função, algumas acreditam que esse representa uma divindade, outras que a estrutura seja proveniente de uma inteligência extraterrestre ou apenas uma representação física do desenvolvimento humano no decorrer dos séculos. Nenhuma dessas suposições foi confirmada pelo diretor.
Apesar da temática evolutiva, o ser humano é apresentado como nada além de um grão de areia em um deserto: pequeno e insignificante diante do universo exposto por Kubrick. O homem, além de ter escassa representatividade, tem sua performance reduzida ao papel de astronauta em hibernação, já a tecnologia tem seu papel elevado através do HAL 9000, um computador que se torna protagonista. HAL 9000 é símbolo da tecnologia, enquanto David é da humanidade; apesar disso, Kubrick brinca a nossa percepção, criando um contexto onde as atitudes do computador são mais humanas que a do próprio homem.
Assim como em outras películas, Kubrick abusa de simetria e imagens contemplativas, que acompanhadas de uma trilha sonora muito bem estruturada, tornam o filme uma verdadeira obra de arte. Utilizando majoritariamente planos gerais e planos detalhe, o diretor cria um contraste entre a atemporal grandeza do universo e a efêmera e ínfima presença do homem.
De acordo com a estética do diretor, a imagem é soberana da palavra, por isso, os diálogos são quase inexistentes e as suas poucas aparições não agregam informações às já expressas na fotografia.
Figura 6 e 7. Paletas de cores “2001 – Uma Odisseia no Espaço”.
O som fala mais do que os diálogos, já que no filme, cenas ambientadas dentro da nave possuem ruídos angustiantes, que são contrapostos com as cenas externas onde a música e o silêncio enchem o vazio do espaço.
A imagem e a música se complementam, as naves dançam ao som das composições do Strauss, enquanto os movimentos de câmera acompanham o protagonista com vários travellings e panorâmicas num espaço geométrico com cores sólidas e achatadas. O sentimento transmitido pelo filme é de monotonia e distância, até mesmo o figurino dos personagens expressa essa frieza, sendo sempre formal e bem arrumado. Os únicos momentos destoantes são o início e o fim do filme que manifestam caos através de cores escuras e avermelhadas. O filme é lento e com poucos cortes, para representar o fato de se passar no espaço e a única sequência “rápida” é a viagem psicodélica do David, no terceiro ato.
Não poderia faltar a exibição do labirinto, característico das obras de Kubrick, nem a dualidade entre o caos e a razão. Podemos ver o labirinto na estrutura da nave e no próprio título do filme, já que “Odisseia” remete ao poema épico de Homero, sobre uma viagem labiríntica no Mar Mediterrâneo. Ao mesmo tempo, podemos encontrar a dualidade no personagem HAL 9000, que representa o ápice da lógica racional, mas perde o controle tornando-se caótico nas ações (comete assassinatos) e nas suas palavras, quando no leito de morte, fala como uma criança. 
Kubrick era amante da tecnologia e por essa razão esse filme ainda hoje é extraordinariamente inovador, a ciência envolvida na construção da história foi embasada e a ambientação sci-fi criada por ele continua sendo referência. 
4.3 O Iluminado
Kubrick tem como suas principais características o elevado nível de perfeccionismo, a simetria e os labirintos. Os três aspectos aparecem fortes em “O Iluminado”, que conta a história de Jack Torrance. O personagem se muda com a sua família para o hotel Overlook na esperança de curar o seu bloqueio criativo, enquanto trabalha no isolado inverno do Colorado. A solidão e os aspectos místicos do hotel, fazem com que Jack se entregue à loucura e seja consumido por um desejo sobrenatural de assassinar sua mulher e seu filho. Como de costume, Kubrick trabalha com o desenvolvimento da insanidade em um de seus protagonistas, coisa que fica clara em outras de suas obras como “Laranja Mecânica” e “Nascido para Matar”. Para dar força à sua narrativa, o diretor usa a estética a seu favor, conversando com o telespectador através da geometria, da simetria e das cores. Quando Danny anda de triciclo pelos corredores, além do uso claro do labirinto, em que o próprio hotel se transforma em um, podemos observar como a simetria e a geometria trazem ao espectador a sensação de medo e terror. Kubrick usa durante todo o filme linhas retas em momentos de perigo, e linhas curvas em momentos de segurança. O diretor resgata a perspectiva da pintura renascentista com pontos de fuga, através de linhas que se direcionam para um único ponto, com o objetivo de trazer a tridimensionalidade a partir de imagens bidimensionais. Além disso, essa técnica induz a audiência a focar no ponto de fuga, trazendo um certo desconforto e suspense, como por exemplo na cena das gêmeas no corredor. 
Figura 8. Cartaz de “O Iluminado”.
Para intensificar a tensão, Kubrick abusa do zoom in e zoom out, imergindo mais ainda o público na narrativa. Combinando isso com a ausência de diálogo e a música tensa, o diretor cria um momento íntimo e tenso entre o personagem e o espectador. Além desses métodos, o movimento de câmera travelling é muito utilizado por Stanley Kubrick para trazer a sensação de que estamos caminhando junto com os personagens, técnica utilizada praticamente no filme inteiro. Para realizar isso, usou a steadicam pela primeira vez na história do cinema. Para enfatizar as mudanças de ambiente entre paisagem e interior do hotel, sempre utiliza da fusão de cenas, fazendo uma transição limpa e agradável. Os diálogos geralmente são monótonos, atonais e até mesmo irrelevantes para a trama. 
Outra forma com que Kubrick conversa com a audiência é através das cores, principalmente verde e vermelho, cores que só entram em destaque a partir do momento em que Jack e sua família se mudam para o hotel Overlook. Quando Wendy e Danny entram no labirinto, por exemplo, eles estão vestidos de vermelho em contraste com o verde das plantas. No início, Jack aparece sempre usando cores neutras, como o terno cinza que ele usa em sua entrevista de emprego. Depois que a família chega no hotel, e os primeiros indícios da crescente loucura de Jack ficam evidentes, os tons de vermelho se tornam cada vez mais presentes, inclusiveno seu figurino - o marcante suéter vinho. Kubrick trabalha muito com o excesso de vermelho, laranja, marrom e alguns destaques em verde. 
Figura 9. Paleta de cores de “O Iluminado”.
Mas um dos artifícios mais interessantes que o diretor utiliza em “O Iluminado”, é com certeza o uso dos espelhos. Conseguimos observar a feição dos personagens através dos espelhos, com jogos de câmera e posicionamento. A ideia é que tudo o que vemos no espelho é uma representação deturpada da realidade, como por exemplo quando Danny conversa com seu amigo imaginário Tony pelo espelho do banheiro, ou quando a mulher do quarto 237 se revela uma idosa com aparência aterrorizante.
Figura 10. Cena de “O Iluminado”.
4.4 Nascido para Matar
Baseado no romance “The Short Timers”, de Gustav Hasford, o filme “Nascido para Matar” conta a trajetória de um soldado batizado de Joker pelo sargento linha-dura Hartman, suporta os rigores do treinamento básico e tenta ajudar o ridicularizado colega Gomer Pyle. Hartman emprega métodos abusivos para transformar seus recrutas em verdadeiras máquinas de guerra. Gomer Pyle não aguenta a pressão, mas Joker se forma no Corpo de Fuzileiros Navais e é enviado para o Vietnã como jornalista, cobrindo e, eventualmente, participando da sangrenta Batalha de Hué.
O filme já se inicia com uma cena icônica, que mostra todos os personagens tendo seus cabelos raspados para o recrutamento militar ao som da música “Hello Vietnam”, cantada por Johnny Wright, que basicamente resume toda a narrativa. A canção inicialmente romantiza a partida para o Vietnã, mas aos poucos adiciona os temas anti-guerra e termina contrária ao propósito da batalha.
Figura 11. Cartaz de ”Nascido Para Matar”.
O filme é claramente dividido em duas partes, na primeira ocorre o recrutamento dos soldados e a segunda narra o que se passa logo depois no Vietnã. No primeiro ato seguimos o protagonista Gomer Pyle em seus dias de treinamento, mas somos surpreendidos com seu suicídio. Até então acreditávamos que Joker, o narrador, era apenas um personagem secundário, mas a partir da metade do segundo ato, quando todos os soldados chegam ao local da batalha, ele se torna o verdadeiro protagonista. Nenhum dos personagens é chamado pelo seu nome, são usados apenas apelidos, como se a guerra criasse uma nova personalidade para eles. 
 Figura 12. Paleta de cores de “Nascido Para Matar”.
 O filme inteiro expressa, a partir das falas repetitivas do sargento Hartman, o amadurecimento e o tornar-se homem e o fato que, matar é o ponto de virada para atingir esses objetivos. Isso fica claro pois eles são obrigados a escrever “born to kill” em seus capacetes, frase que dá nome ao filme. Na versão original, o título da película é ”Full Metal Jacket” e é referido a um tipo de munição. Isso também faz parte da narrativa, porque existe um momento onde o sargento compara as armas às amantes dos soldados. Hartman usa uma linguagem vulgar, sexual e caótica durante todo o filme, essa decisão foi feita para criar um contraste com a vida rígida, geométrica e meticulosa do militar. 
O personagem Gomer Pyle chega a um ponto de crise, onde sua imaturidade o afeta, e ele se torna incapaz de cooperar com a vida militar; e por esse motivo, ele enlouquece, mata Hartman, e se mata logo em seguida. Kubrick, com isso, queria nos mostrar que matar não resulta em hombridade. Uma das cenas finais, também demonstra isso, quando Joker encontra o atirador que assassinou diversos companheiros de guerra, o mata, mesmo essa sendo apenas uma jovem menina, que já estava à beira da morte, suplicando por sua vida.
Na última cena, podemos ver essa reflexão do diretor sobre o suposto amadurecimento do homem. Na volta para casa os soldados acreditam ser triunfantes nessa busca, mas retornam cantando a música do Mickey Mouse.
A primeira parte do filme possui cortes frenéticos e planos simétricos para representar a vida corrida e rígida dos soldados em treinamento, o que não se mantém no segundo momento, onde estes se sentem perdidos no campo de batalha, com cenas caóticas concretizadas pelo uso da câmera na mão. Assim, a fotografia não destoa das outras obras do diretor, que usa a simetria e a técnica de movimento de câmera para dar seu tom à obra.
A direção de arte é muito detalhada, os figurinos, cenários e objetos de cena são fiéis a realidade dentro de um local militar e posteriormente da guerra, apesar do diretor se limitar a um estúdio. As cores que predominam são verde e branco, em contraste com o vermelho do sangue, que aparece poucas vezes, mas sempre de maneira traumática. Por fim, a trilha, assim como em todos os outros filmes do Kubrick, é muito importante, apesar de ser uma das poucas vezes em que ele se apropria de músicas faladas. 
 Figura 13. Cena de “Nascido Para Matar”.
5. ANÁLISE ESTÉTICA STEVEN SPIELBERG
5.1 Visão geral
Ao se tratar deste diretor, suas características estéticas são conhecidas como uma receita de bolo, encaixada em todos os seus projetos, mas que resulta em filmes únicos e originais.
A famosa Spielberg face é uma artimanha utilizada pelo diretor onde se é aplicado um close up ou zoom no rosto de um personagem, que está reagindo a algo ainda não apresentado em câmera, um bom exemplo é a introdução dos dinossauros em Jurassic Park. 
Além disso, as músicas, essenciais para a ambientação de seus filmes, são marcantes e emotivas, quase sempre compostas por seu amigo John Willians. Ele é capaz de criar e guiar emoções em seus telespectadores, sendo referência nesse quesito. Isso é dado graças a inserção de personagens aparentemente normais, em situações e histórias extraordinárias, tornando suas narrativas empáticas.
Suas obras acompanham sempre assuntos que remetem a infância, e como esse período é mágico e cheio de intrigas. Analisando como a vida adulta e a perda da essência juvenil fazem o mundo se tornar um lugar sombrio. O diretor afirma que os problemas familiares e conflitos paternos recorrentes em seus filmes são inspirados em sua vida pessoal e acredita que esse papel deve ser honrado e merecido por todos os personagens que representam a figura de um pai em seus projetos.
Um aspecto importante das suas narrativas é a sobrevivência dos protagonistas quando confrontados por uma situação perigosa ou ruim. A mensagem passada é que vale a pena lutar pela vida e preservá-la, como demostrado em “A Lista de Schindler”.
A Técnica fotográfica Reflection Shot serve de apoio para fazer repensar as motivações de suas personas, além de fazer questionar suas ações. Outro método é o Spielberg oner, um plano sequência tão natural que se torna quase imperceptível. A luz também é usada de maneira original, onde normalmente o desconhecido é representado pela escuridão, Spielberg inova fazendo exatamente o contrário, o sobrenatural é nítido, em luzes claras, criando um senso de beleza e indagação.
5.2 Tubarão
Em 1975 conhecemos o filme que criou a expressão blockbuster, o filme evento “de verão” nos EUA e um novo modelo de exploração do cinema de entretenimento. Modelo esse que, de maneira mais vulgar e diluída, perdura até hoje. Tubarão é atemporal em sua tensão e suspense utilizando o poder da sugestão ao máximo.
A subjetividade já nos dá cara de início quando mesmo sabendo o que iria acontecer com a jovem mergulhando ao pôr-do-sol, não se pode fazer nada além de roer as unhas e ver o sangue se espalhando em um mar escuro e sombrio. Em seguida, somos apresentados a Amity, uma ilha muito procurada para o destino turístico de verão pelas suas praias e ritmo calmo de vida. Brody, um chefe de polícia que acaba de assumir o posto, vive na pequena ilha e, depois do acontecimento inicial do filme, tenta fechar as praias preocupado com a segurança do local. Entretanto, o prefeito Larry Vaughnd o impede a favor de manter a economia em alta com os turistas que visitam o local. Um novo ataque faz com que o prefeito ceda à Brody e feche as praias até que o tubarão seja derrotado, e, poucas horas depois do bloqueio das praias, um tubarão é encontrado emorto. O oceanógrafo Hooper não acredita que este seja o tubarão em questão e, após um biópsia, eles confirmam o erro. Em seguida, o caçador de tubarões Quint, junto a Brody e Hooper, sai pelo mar da Costa de Amity afim de finalmente acabar com a grande fera, e após uma sequência de batalhas entre o barco, os membros dele e o tubarão, o animal termina sendo explodido, não sem antes atacar Quint, que acaba morto. 
Figura 14. Cartaz de “Tubarão”.
Muito da “fórmula fílmica” dos filmes atuais são provenientes de filmes do Spielberg, como “Tubarão”. Essa marca simples, mas muito genial do diretor e está na maioria de seus trabalhos, sem deixar de lado um bom enredo e fotografia.
Como de costume nos filmes de Spielberg, em “Tubarão” o que menos se vê mais aterroriza, usando a subjetividade em ótimo momento para esconder os problemas técnicos da grande fera, o medo do desconhecido junto com uma trilha sonora simples, porém memorável, fazendo com que esses elementos potencializem a tensão. Desde o controle de sua paleta de cores e do uso inteligente do design de som, até a impecável sensação de ritmo trazida pela trilha sonora, Spielberg utiliza de suas armas principais para criar o clima do filme, como movimentos de câmera, o Dolly Zoom, e a edição.
Figura 15. Paleta de cores de “Tubarão”.
Como exemplo de movimento de câmera pode-se citar a cena do navio à deriva no mar na espera do tubarão. Neste momento, o movimento de câmera contrapõe os movimentos do barco nos fazendo mergulhar na sensação de enjoo do deslocamento do corpo flutuando. No início do filme, vemos um exemplo de câmera na mão que é marca do longa “Tubarão”. Na cena da perseguição do homem bêbado com a jovem, enquanto os dois correm pra a praia e retiram suas roupas, a câmera os persegue. A sensação de velocidade da cena é elevada devido ao contraste com a cerca que está no fundo da cena. Spielberg descreve “Tubarão” como “o filme com câmera na mão mais caro já feito”, já que o uso exacerbado deste tipo de técnica no segundo ato em diante dá sentimento e características esperadas por um diretor tão aclamado.
Citando o Dolly Zoom, temos a famosa e clássica cena do Brody sentado na cadeira de praia, onde o rosto do protagonista se aproxima e o fundo se destoa dando a sensação de distância e foco ao mesmo tempo. Essa cena foi um renascimento desse efeito, uma clara referência a Vertigo de Hitchcock. 
Figura 16. Cena onde se utiliza da técnica Dolly Zoom em “Tubarão”.
O ritmo das sequências individuais é impressionante, mas também o ritmo de todo o filme, que flui entre a comédia, tensão e o suspense, escolha editorial muito bem pensada. Vez após vez, “Tubarão” usa transições que intencionalmente atrapalham, como se deixassem a plateia no limite. Citando novamente o início do filme, onde enquanto a moça é abocanhada pelo tubarão no mar e grita exaustivamente, a cena é pausada com um corte do jovem desmaiado na beira do mar com o som dos gritos bem ao fundo, observamos bem essa escolha de ritmo que o diretor faz. Além de servir como quebra da cena de ação para não ficar cansativa, aumenta a tensão ao voltar para a cena da garota desesperada. Ao fim, temos um take só com o som do mar enquanto o jovem segue desmaiado terminando em aterrorizante tranquilidade.
5.3 E.T. o Extraterrestre
Spielberg traz em quase todos os seus projetos um grande enfoque na infância e juventude, apresentando pessoas ordinárias em situações extraordinárias. Em sua obra “E.T. - O Extraterrestre”, isso fica representado pela inocência de Elliott, que faz amizade com um pequeno alienígena inofensivo que está perdido em nosso planeta. Ele mantém a criatura em segredo e ambos criam um laço forte e até mesmo sobrenatural. 
Com o uso majoritário de plano geral, Spielberg traz a sensação de que somos pequenos em relação ao universo, introduzindo o espectador na história e enfatizando o desconhecido através da luz. Grande parte do filme é filmado por ângulos baixos, para trazer ao público a visão de uma criança. Além da mãe de Elliott, não vemos nenhum adulto em cena até o último ato. Isso tudo combinado com a atmosfera mágica do filme, e envolto por uma trilha sonora simples e cativante, com músicas instrumentais épicas, imerge a audiência em uma história fantasiosa e que traz, inclusive, uma sensação de nostalgia da infância.
 Figura 17. Cartaz de “E.T. – O Extraterrestre”.
O forte laço entre as crianças e o E.T., marcado e simbolizado pela inocência, se revela principalmente através da falta de diálogo entre eles, já que a criatura não fala nenhuma língua terrestre. Mesmo assim, eles estabelecem uma conexão e conseguem se comunicar nas entrelinhas. 
Um dos focos de Spielberg, inspirado por Kubrick, foi o uso da tecnologia à frente de seu tempo. O diretor estava tão comprometido com a autenticidade da engenharia que contratou Henry Feinberg, um especialista em ciência, para criar um comunicador funcional para o E.T. usar. Naquela época, isso era extremamente revolucionário. A veracidade era tão importante para Spielberg, que o diretor contratou médicos reais para interpretar os enfermeiros que cuidam do E.T. e de Elliott. Ademais, escolheu gravar o longa em ordem cronológica para que a reação das crianças na partida do E.T. fosse a mais autêntica possível. 
Figura 18. Paleta de cores de “E.T. – O Extraterrestre”.
Spielberg escreveu o roteiro de E.T. enquanto ainda estava no set de “Caçadores da Arca Perdida”, inspirado pela sua própria experiência de quando leu Pinóquio ainda criança. Por diversos momentos da história, Spielberg se preocupa menos com a ficção científica e mais com a experiência vista dos olhos de Elliott. 
Em E.T., assim como em “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, Spielberg abre caminhos para novos mundos, além de iluminar nosso conhecimento do lugar-comum. Em ambos os filmes, o mais importante é menos o que vemos e mais o que não podemos ver.
5.4 Resgate do soldado Ryan 
O filme se passa em junho de 1944, começando no dia D e acompanhando as forças americanas em seu avanço pela França ocupada pelos Nazistas. O capitão John H. Miller e seu esquadrão de sete homens são enviados em uma missão dentro das linhas inimigas para resgatar um único soldado, Ryan, que é o último sobrevivente de seus irmãos falecidos em batalha. Essa sendo uma política real adotada pelo governo Norte Americano após o falecimento dos cinco irmãos Sullivan, que serviam juntos no pacífico do Sul.
Figura 19. Cartaz de “O Resgate do Soldado Ryan”.
O filme abre com uma das cenas mais realistas e brutais de toda a história do cinema, o ataque à praia de Omaha, o dia D. Dês da cena de abertura somos jogados no meio do caos, a câmera tremida nos barcos, os soldados vomitando e com as mãos tremidas, alguns chorando ou rezando.
Quando o barco chega nas margens, todos que estavam na frente morrem em uma chuva de aço vinda das posições alemãs. O filme então começa a acompanhar o capitão Miller em sua desesperada luta por sobrevivência em meio daquele inferno.
Essa é considerada uma das cenas mais realistas de todos os tempos, Spielberg usa de diversos fatores para causar isso no telespectador durante o a cena e o filme todo, câmera tremida, violência brutal, sons desorientastes, entre outros. 
Figura 20. Cena de “O Resgate do Soldado Ryan”.
Toda a sequência foi gravada em 15 dias, utilizando cerca de 15 mil pessoas que ajudaram na produção e atuação, incluindo cerca de mil reservistas do exército irlandês que foram contratados como figurantes para representar de uma forma fiel os soldados. 
Mais de três mil uniformes autênticos foram criados para serem utilizados pelo filme, Joana Johnston e sua equipe até encontrarem a empresa que fez as botas originais durante a segunda guerra, e encomendou cerca de três mil pares. 
O capitão Dale Dye dos fuzileiros americanos foi contratado como conselheiro militar para o filme, e fez com que os atores passassem por um período de treinamento extremamente similar aos utilizados na vida real. De acordo com Tom Hanks e Spielberg, Dale foi essencialpara a pré-produção do filme.
Diferente da maioria dos seus filmes, Spielberg não fez um storyboard do filme, ao invés disso ele queria uma filmagem mais orgânica e inspirado na ação, acompanhando os soldados em meio aos tiroteios. Ele fez tudo isso para ter uma reação mais real, assim resultando no telespectador sendo colocado em meio ao caos da guerra. 
As mortes apresentadas no filme não são heroicas ou glamurosas, soldados afogando por causa do peso dos seus próprios equipamentos ou morrendo sem sentido são comuns pelo filme, mostrando uma realidade da guerra que não era comum na época.
Januz Kaminski ajudou Spielberg com o visual do filme, para obterem o visual low tech e pouquíssimo saturado, eles removeram as lentes protetoras das câmeras, e utilizaram o diafragma em 45 e 90 graus, assim diminuindo a exposição do filme. Assim tirando blurs criados por movimentos e fazendo as explosões mais ameaçadoras, as partículas de chuva e terra ficam mais aparentes e realistas. 
As armas e os blanks usados para causar os impactos da munição estavam conectados, sempre que o gatilho era puxado o blank explodia, desta forma necessitando um trabalho de dublês muito bem organizado.
A falta de música faz uma gritante diferença dos outros filmes do Spielberg, ao invés de uma inspiradora música tema o filme permanece apenas com os sons da guerra pela sua maioria. Tiros, explosões, gritos e xingamentos fazem parte do cotidiano do filme. Assim trazendo um estilo artesanal para as cenas. 
Figura 21. Cena de “O Resgate do Soldado Ryan”.
Uma ideia de Gary Rydstrom, o designer de som do filme, foi de momentos em que o personagem do Tom Hanks passa pelo Shellshock que afeta soldados da vida real, ele vê o caos da guerra com sons distorcidos. 
Mais de mil bonecos realistas foram criados e preparados para parecerem soldados falecidos. Além disso, a maioria dos soldados feridos que não possuem membros são amputados reais, que apenas passaram por um processo de maquiagem ao redor dos membros.
6. ANÁLISE COMPARTIVA DE STANLEY KUBRICK X STEVEN SPIELBERG
6.1 Semelhanças
Analisando ambos os diretores com riqueza de detalhes, nota-se o quanto Kubrick serviu de inspiração para Spielberg. O primeiro e talvez mais marcante aspecto é o uso da tecnologia a favor de suas obras. Ambos os diretores estiveram sempre à frente de seu tempo, inovando e marcando a história do cinema. Tanto Spielberg quanto Kubrick sempre deram grande importância à trilha sonora, inovações tecnológicas e à imersão do telespectador em suas narrativas, usando diversas técnicas para aproximar personagem e público. Além disso, os dois sempre exploraram diversos gêneros ao longo de suas trajetórias, transitando desde o terror, até a ficção científica e filmes de guerra. 
O ponto de intersecção entre os dois diretores, se deu na produção de “A.I – Inteligência Artificial”, obra já mencionada no início do trabalho. Foi nesse filme que Spielberg mais referenciou e homenageou Kubrick, com diversas cenas praticamente idênticas à takes icônicos, como por exemplo a fuga de carro e a dança de “Singing in the Rain” de Alex em “Laranja Mecânica”, a cena de Danny andando de triciclo nos corredores do hotel Overlook, referências ao espaço como em “2001: A Odisseia no Espaço”, entre outros. 
Outro momento icônico em que Spielberg homenageou Kubrick, foi no seu trabalho mais recente, “Jogador Nº 1”, onde o universo de “O Iluminado” é inserido no jogo que serve de tema para o filme. O cenário marcante do Hotel Overlook, a cena do banheiro e a icônica cena do banho de sangue, são claramente reproduzidos no longa. 
6.2 Diferenças
Uma das principais diferenças entre os dois diretores está no desenrolar das narrativas. Stanley Kubrick se empenha em deixar questões em aberto, provocar questionamentos e abrir o final para interpretações enquanto Spielberg opta por entregar a resposta e o “final feliz”, criando um desfecho satisfatório para seus filmes. Enquanto Kubrick representa os perdedores, Spielberg traz os heróis e o sucesso, mesmo em momentos inimagináveis, como por exemplo em “A Lista de Schindler”.
Além disso, os dois utilizam técnicas análogas para entregar ideias divergentes, usando os mesmos métodos para fins completamente opostos.
Enquanto os filmes de Kubrick trazem um viés autoral, os de Spielberg trazem, além disso, uma visão mercadológica, com os famosos blockbusters.
Optamos pelos dois diretores pelo fato de navegarem em diversos gêneros, mas analisando suas obras, percebemos que ambos abordam temas similares de formas completamente diferentes. A ficção científica de Spielberg, pouco dialoga com a de Kubrick, e o mesmo acontece no terror e nos outros gêneros abordados.
Assistir um filme de Kubrick, traz a sensação constante de angústia, dúvida, e um grande incômodo, que não se resolve no final. Enquanto com Spielberg, acompanhamos aventuras que, mesmo quando não abordam temas felizes ou heroicos, não trazem esse mesmo sentimento.
7. CONCLUSÃO
No decorrer do trabalho, percebemos que a análise estética traz uma percepção aprofundada de obras que já faziam parte da nossa experiência cinematográfica. Além de perceber que existem diversas maneiras de contar uma história através de cores, movimentos de câmera, enquadramentos e sons. A partir deste trabalho obtemos uma visão diferente e muito mais ampla das obras aqui tratadas, e pudemos observar como dois diretores que trouxeram filmes tão diferentes em termos narrativos, têm estéticas e métodos semelhantes. Foi uma experiência esclarecedora e trabalhosa, mas nos fez observar os filmes com um novo olhar. 
8. REFERÊNCIAS
STANLEY KUBRICK Disponível em: <http://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-520/biografia/.>.Acesso em: 28 out. 2019
A GENIALIDADE POR TRÁS DOS ENQUADRAMENTOS DE KUBRICK Disponível em: < http://jornalismojunior.com.br/a-genialidade-por-tras-dos-enquadramentos-de-kubrick/.>.Acesso em: 28 out. 2019
TECHNIQUE OF TENSION: THE ZOOM SHOTS OF STANLEY KUBRICK Disponível em: <https://www.google.com.br/amp/s/filmschoolrejects.com/watch-technique-of-tension-the-zoom-shots-of-stanley-kubrick-abb546ac4ab9/%3famp>. Acesso em: 28 out. 2019
Shots by Steven Spielberg and Stanley Kubrick, Side-by-Side. Disponível em: <https://gizmodo.com/shots-by-steven-spielberg-and-stanley-kubrick-side-by-1787712848>. Acesso em: 28 out. 2019
STANLEY KUBRICK Disponível em: <https://www.melhoresfilmes.com.br/diretores/stanley-kubrick>. Acesso em: 28 out. 2019
KUBRICK Disponível em: < https://kubrick.life/>. Acesso em: 28 out. 2019
STEVEN SPIELBERG Disponível em: <https://www.imdb.com/name/nm0000229/>. Acesso em: 28 out. 2019
STEVEN SPIELBERG Disponível em: <https://www.britannica.com/biography/Steven-Spielberg>. Acesso em: 28 out. 2019
STEVEN SPIELBERG Disponível em: <https://www.biography.com/filmmaker/steven-spielberg>. Acesso em: 28 out. 2019
#225 STEVEN SPIELBERG Disponível em: <https://www.forbes.com/profile/steven-spielberg/#33cca88b228a>. Acesso em: 28 out. 2019
STEVEN SPIELBERG Disponível em: <https://amblin.com/steven-spielberg/>. Acesso em: 28 out. 2019
STEVEN SPIELBERG Disponível em: <>. Acesso em: 28 out. 2019
STEVEN SPIELBERG Disponível em: <>. Acesso em: 28 out. 2019
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