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João Vitor Freire – MEDUNIME 2019.2 INTRODUÇÃO A GERIATRIA TERMOS E DEFINIÇÕES Senescência ou senectude e senilidade: Senescência é definida como o envelhecimento compreendido como um processo natural, de diminuição progressiva da reserva funcional dos indivíduos o que, em condições normais, não costuma provocar qualquer problema. Já a senilidade é cracterizada como o processo de envelhecimento em condições de sobrecarga (doenças, acidentes e estresse emocional) compreendidas como uma condição patológica que requeira assistência. A distinção entre senescência ou senectude, que resulta do somatório de alterações orgânicas, funcionais e psicológicas próprias do envelhecimento normal, e senilidade, que é caracterizada por modificações determinadas por afecções que frequentemente acometem a pessoa idosa, é, por vezes, extremamente difícil. Geriatria: É a especialidade médica que se integra na área da Gerontologia com o instrumental específico para atender aos objetivos da promoção da saúde, da prevenção e do tratamento das doenças, da reabilitação funcional e dos cuidados paliativos. Abrange desde a promoção de um envelhecer saudável até o tratamento e a reabilitação do idoso. Geriatra é o médico que se especializou no cuidado de pessoas idosas. Ele se torna especialista após ter feito residência médica credenciada pela Comissão Nacional de Residência Médica e/ou ter sido aprovado no concurso para obtenção do Título de Especialista em Geriatria da SBGG/AMB. Gerontologia: É o estudo do envelhecimento nos aspectos – biológicos, psicológicos, sociais e outros. Os profissionais da Gerontologia têm formação diversificada, interagem entre si e com os geriatras. Compreende um campo científico e profissional dedicado às questões multidimensionais do envelhecimento e da velhice, tendo por objetivo a descrição e a explicação do processo de envelhecimento nos seus mais variados aspectos. É, por esta natureza, multi e interdisciplinar. Na área profissional, visa a prevenção e a intervenção para garantir a melhor qualidade de vida possível dos idosos até o momento final da sua vida. O especialista em gerontologia é o profissional com formação de nível superior nas diversas áreas do conhecimento (Psicologia, Serviço Social, Nutrição, Terapia Ocupacional, Direito etc), titulado pela SBGG, apto para lidar com questões do envelhecimento e da velhice, com um olhar interdisciplinar a partir da sua área original de conhecimento. Podem atuar: Na prevenção: propõe intervenções que se antecipem aos problemas mais comuns que afetam os idosos e orienta a criação de condições adequadas para um envelhecimento com qualidade. Na ambientação: orienta a criação de condições ambientais para uma vida com qualidade na velhice, focando os mais variados espaços por onde circulam ou vivem pessoas idosas. Na reabilitação: propõe intervenções quando ocorreram perdas que são resgatáveis e, quando irreversíveis, orienta a criação de condições individuais e ambientais para uma vida digna. Nos cuidados paliativos: propõe intervenções quando ocorrem doenças progressivas e irreversíveis, abrangendo aspectos físicos, psíquicos, sociais e espirituais, com atenção estendida aos familiares, visando o maior bem-estar possível e a dignidade do idoso até a sua morte. Idade cronológica, biológica, psicológica e social: A idade cronológica refere-se somente ao número de anos que tem decorrido desde o nascimento da pessoa, portanto não é um índice de desenvolvimento biológico, psicológico e social, pois ela por si só não causa o desenvolvimento. A idade biológica é definida pelas modificações corporais e mentais que ocorrem ao longo do processo de desenvolvimento e caracterizam o processo de envelhecimento humano, que pode ser compreendido como um processo que se inicia antes do nascimento do indivíduo e se estende por toda a existência humana. As mudanças e as perdas fazem parte do envelhecimento. O limite de idade entre o indivíduo adulto e o idoso é 65 anos para as nações desenvolvidas e 60 anos para os países em desenvolvimento. É importante assinalar o conceito de idade funcional, que possui estreita relação com a idade biológica, e que pode ser definida como grau de conservação do nível de capacidade adaptativa em comparação com a idade cronológica. O conceito de idade psicológica, à semelhança do significado da idade biológica, refere-se à relação que existe entre a idade cronológica e as capacidades, tais como percepção, aprendizagem e memória, as quais prenunciam o potencial de funcionamento futuro do indivíduo. Paralelamente, a idade psicológica tem sido relacionada também com o senso subjetivo de idade, isto é, como cada pessoa avalia a presença de marcadores biológicos, sociais e psicológicos do envelhecimento, comparando-se com outros indivíduos de mesma idade. A idade social é definida pela obtenção de hábitos e status social pelo indivíduo para o preenchimento de muitos papéis sociais ou expectativas em relação às pessoas de sua idade, em sua cultura e em seu grupo social. Um indivíduo pode ser mais velho ou mais jovem dependendo de como ele se comporta dentro de uma classificação esperada para sua idade em uma sociedade ou cultura particular. A medida da idade social é composta por performances individuais de papéis sociais e envolve características como tipo de vestimenta, hábitos e linguagem, bem como respeito social por parte de outras pessoas em posição de liderança. Autonomia e independência: Define-se autonomia como a capacidade de decisão, de comando; e independência como a capacidade de realizar algo com seus próprios meios. Vários significados são encontrados na literatura, além dos dois citados, e que podem tornar mais fácil a compreensão e a importância do tema. Evans (1984) chama de autonomia o estado de ser capaz de estabelecer e seguir suas próprias regras, e diz que, para um idoso, a autonomia é mais útil que a independência como um objetivo global, pois pode ser restaurada por completo, mesmo quando o indivíduo continua dependente. Assim, uma senhora com fratura do colo do fêmur, que ficou restrita a uma cadeira de rodas, poderá exercer sua autonomia, apesar de não ser totalmente independente. Independência e dependência são conceitos ou estados que só podem existir em relação a alguma outra coisa. Na mesma pessoa é possível identificar, por exemplo, independência financeira e dependência afetiva. Wilkin (1990) conceitua dependência como sendo um estado no qual um indivíduo confia em outro (ou em outros) para ajudá-lo a alcançar necessidades previamente reconhecidas. Essas definições e tantas outras transmitem a impressão de que a dependência sempre se refere a uma relação social. Ela, portanto, não é um atributo individual, mas sim de um indivíduo em relação a outros. Idosos jovens, idosos velhos e idosos mais velhos: O termo idosos jovens geralmente se refere a pessoas de 65 a 74 anos, que costumam estar ativas, cheias de vida e vigorosas. Os idosos velhos, de 75 a 84 anos, e os idosos mais velhos, de 85 anos ou mais, são aqueles que têm maior tendência para a fraqueza e para a enfermidade, e podem ter dificuldade para desempenhar algumas atividades da vida diária. Embora esta categorização seja bastante usual, cada vez mais as pesquisas revelam que o processo de envelhecimento é uma experiência heterogênea, vivida como uma experiência individual. Algumas pessoas, aos 60 anos, já apresentam alguma incapacidade; outras estão cheias de vida e energia aos 85 anos. João Vitor Freire – MEDUNIME 2019.2 AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA A avaliação geriátrica ampla (AGA) geralmente inclui a avaliação do paciente em vários domínios, sendo mais comumente incluídos o físico (médico), o mental, o social, o funcional e o ambiental. A condiçãofuncional do paciente com idade avançada é um dos parâmetros mais importantes da avaliação geriátrica. O termo funcional é usado em seu sentido estrito, cujo significado é a habilidade do idoso de funcionar na arena da vida diária. A evidência de declínio funcional faz pressupor a existência de doença ligada ao quadro e que, algumas vezes, não está diagnosticada, decorrente, em geral, das manifestações clínicas atípicas inerentes a essa faixa etária, constituindo um desafio à prática clínica. Para facilitar a avaliação geriátrica, são usados instrumentos capazes de detectar sinais de demência, delirium, depressão, efeitos colaterais medicamentosos, fragilidade, déficits visuais e auditivos etc., bem como de grandes síndromes geriátricas e perda do equilíbrio e da capacidade funcional. Esses instrumentos também são úteis para predizer prognóstico, tolerabilidade ao tratamento e riscos de morte e incapacidade. O conjunto dos instrumentos de avaliação – procedimentos, regras e técnicas – tem como meta avaliar o idoso de forma global. Com a identificação das condições funcionais do paciente, associadas ou não às doenças crônicas e às síndromes geriátricas, é possível desenvolver um plano adequado de intervenção que vise não só ao tratamento das doenças diagnosticadas como também retardar o aparecimento de incapacidades, amenizá-las ou mesmo revertê-las. A AGA é um processo diagnóstico multidimensional, geralmente interdisciplinar, para determinar as deficiências, incapacidades e desvantagens do idoso e planejar o seu cuidado e assistência a médio e longo prazos, tanto do ponto de vista médico como psicossocial e: funcional. A diferença da AGA para um atendimento médico habitual é que ela prioriza o estado funcional e a qualidade de vida, utilizando instrumentos de avaliação (testes, índices e escalas), facilitando a comunicação entre os membros da equipe interdisciplinar e a comparação evolutiva. É utilizada preferencialmente nos idosos frágeis e portadores de multimorbidades. A AGA é também conhecida como avaliação geriátrica multidimensional (AGM) ou avaliação geriátrica global (AGG) e é considerada o padrão-ouro para a avaliação de idosos, ou seja, é chamada de “coração e alma da medicina geriátrica”. Os seus objetivos principais são realizar um diagnóstico global e desenvolver um plano de tratamento e reabilitação, gerenciando os recursos necessários para as intervenções terapêuticas e reabilitatórias. Se uma avaliação médica padrão obtém bons resultados em uma população de não idosos, os resultados tendem a falhar na detecção dos problemas prevalentes na população idosa. Esses desafios referem-se, principalmente, às síndromes geriátricas e às doenças inaparentes com manifestações atípicas, cuja identificação é fundamental para a adequação terapêutica e para a prevenção da incapacidade nessa população. Ela faz parte do exame clínico do idoso, sendo fundamental nos pacientes portadores de multimorbidades e em uso de vários medicamentos. A avaliação clínica detalhada faz parte desse processo, devendo ser fundamentada em uma anamnese criteriosa e com peculiaridades que são indispensáveis à boa comunicação entre o médico e o paciente. Resumindo, a AGA é processo diagnóstico multidimensional que tem como meta determinar as condições médicas, funcionais e psicossociais do idoso e como objetivo desenvolver um plano global de tratamento e acompanhamento a médio e longo prazos. Benefícios da AGA: Complementa a avaliação clínica tradicional e melhora a precisão diagnóstica Define se há diminuições da capacidade e limitações das atividades, sejam elas de causa motora mental ou psíquica Detecta problemas médicos inaparentes Identifica o risco de declínio funcional Avalia os riscos nutricionais Identifica riscos de iatrogenia Prediz desfechos desfavoráveis, como mortalidade, perda funcional e fragilização Orienta para as medidas de preservação e restauração da saúde Define os parâmetros de acompanhamento do paciente Direciona para as modificações e adaptações ambientais Define critérios para hospitalização e institucionalização. Vários estudos confirmam os benefícios da AGA. Dentre eles, encontram-se maior precisão diagnóstica; melhora do estado funcional e mental; melhora do humor; redução da mortalidade; diminuição de internação hospitalar e de institucionalização; diminuição da necessidade de assistência domiciliar; redução do uso medicamentos e da iatrogenia; diminuição do uso e dos custos do sistema de saúde; além de maior satisfação com o atendimento. A AGA também é útil nas unidades de emergência. Os autores sugerem que a AGA tem potencial para identificar os idosos atendidos na emergência com maiores risco de ficarem hospitalizados bem como de serem readmitidos logo após a alta. Os princípios e processos da AGA têm sido gradativamente incorporados a outras especialidades médicas, incluindo a oncologia, cardiologia e ortopedia. Entretanto, elas, à exceção da oncologia, têm utilizado os dados obtidos na AGA mais como índices prognósticos do que para planejamento de cuidado. As evidências, no entanto, têm demostrado que a AGA só é eficaz se existir um processo de identificação dos idosos que realmente possam se beneficiar de sua aplicação, a avaliação resultar em um plano de cuidado, e o plano de cuidado for implementado, preferencialmente, por equipe interdisciplinar. Para lidar com a complexidade dos problemas desses idosos, o profissional necessita coletar, organizar e usar adequadamente, de forma sistemática e com objetivos definidos, uma vasta gama de informações clínicas e funcionais relevantes. Por isso, a AGA tem que ser completa de modo a permitir um diagnóstico funcional e a identificação dos indivíduos em risco e estruturada para que possa servir para acompanhamento da evolução do paciente e para avaliar prognóstico. Entretanto, não pode ser extensa e precisa ter custo razoável. Ela tem uma estrutura que pode variar dependendo da expertise da equipe que a aplica e do local onde é realizada. Entretanto, apesar dessa variação, tem características constantes como o fato de ser sempre multidimensional, utilizar instrumentos padronizados para avaliar todos os fatores que interferem na saúde do idoso, e de avaliar no mínimo as quatro principais dimensões, que são a capacidade funcional, as condições médicas, o funcionamento social e a saúde mental. Os parâmetros avaliados pela AGA são: Equilíbrio, mobilidade e risco de quedas Função cognitiva Condições emocionais Deficiências sensoriais Capacidade funcional Estado e risco nutricional Condições socioambientais Polifarmácia e medicações inapropriadas Comorbidades e multimorbidade Outros. João Vitor Freire – MEDUNIME 2019.2 Cabe ressaltar que o profissional só utilizará as escalas que envolvam o problema específico identificado na avaliação rápida. Como exemplo: se o profissional detectar problemas cognitivos após a realização do teste rápido (falar três objetos que a pessoa deverá repeti-los após 3 minutos) e na incapacidade de repeti-los o profissional deve aplicar o Mini Exame do Estado Mental – MEEM. Caso o profissional permaneça em dúvida ele poderá utilizar como complemento o teste do desenho do relógio e o teste de fluência verbal por categorias semânticas. Ainda há a possibilidade combinar o MEEM com o Questionário de Pfeffer - indica uma maior especificidade para a medida de declínio cognitivo mais grave. Equilíbrio, mobilidade e risco de quedas Get up and Go (Teste de levantar e andar) → o paciente levantando-se de uma cadeira reta e com encosto, caminhando três metros, voltando, após girar 180o, para o mesmo local e tornando a sentar-se. Com isso, é possível avaliar o equilíbrio do paciente sentado,o equilíbrio durante a marcha e a transferência. A interpretação deste teste é a seguinte: (1) normalidade; (2) anormalidade leve; (3) anormalidade média; (4) anormalidade moderada; (5) anormalidade grave. Sendo que escore de 3 e mais pontos indica risco aumentado de quedas. Timed Get up and Go (Teste de levantar e andar cronometrado) → É uma variante do teste anterior, que além de avaliar os itens relacionados, mede o tempo de realização da tarefa. A interpretação é a seguinte: menor ou igual a 10 s – independente, sem alterações; entre 11 e 20 s – independente em transferências básicas, baixo risco de quedas; maior ou igual a 20 s – dependente em várias atividades de vida diária e na mobilidade, alto risco de quedas. Teste de equilíbrio e marcha (Tinetti ou Performance Oriented Mobility Assessment – POMA Brasil) → Quanto menor a pontuação maior o problema. Pontuação menor que 19 indica risco 5 vezes maior de quedas. A pontuação máxima é 28 (16 de equilíbrio e 12 de marcha). - Itens avaliados do equilíbrio: equilíbrio sentado, levantado, tentativas de levantar, assim que levanta (primeiros 5s), equilíbrio em pé, teste dos 3 tempos de olhos abertos e depois de olhos fechados (empurra o esterno do paciente de pés juntos), equilíbrio girando 360º, sentado. - Itens avaliados da marcha: Início da marcha, comprimento e altura dos passos, simetria dos passos, continuidade dos passos, direção, tronco, distância dos tornozelos. Avaliação de Sarcopenia → O desempenho muscular é avaliado principalmente pela velocidade da marcha e pelo teste do levantar e andar cronometrado (Timed Get up ad Go) e a força muscular é avaliada principalmente pela força de preensão palma. Funções cognitivas Sugere-se para uma primeira avaliação a realização do teste rápido, que consiste em solicitar à pessoa idosa que repita o nome dos objetos: Mesa, Maçã e Dinheiro. Após 3 minutos, pedir que os fale novamente. Se for incapaz de repeti-los, há necessidade de uma investigação mais aprofundada. O Mini Exame do Estado Mental (MEEM) → é uma das escalas mais comuns para avaliar o estado cognitivo, por sua rapidez e facilidade de aplicação. Pontuação total = 30 pontos. As notas de corte sugeridas são: Analfabetos = 19. 1 a 3 anos de escolaridade = 23. 4 a 7 anos de escolaridade = 24. > 7 anos de escolaridade = 28. Desenho do Relógio → avalia as funções executivas, memória, habilidades visuoconstrutivas, abstração e compreensão verbal. Solicite ao indivíduo que desenhe um relógio com todos os números e os ponteiros marcando 2:45 (duas horas e 45 min). Teste de Fluência Verbal por Categorias Semânticas → avalia predominante a linguagem e a memória semântica, além da função executiva. Trata-se de teste com notas de corte definidas pela escolaridade. Solicita-se ao paciente relacionar o maior número de itens de uma categoria semântica (p. ex., frutas, animais) ou fonêmica (palavras que se iniciam com determinada letra) em um minuto. Em nosso meio, utiliza-se mais frequentemente a categoria semântica nomeando animais/minuto. A interpretação é a contagem do número de itens, excluindo as repetições, as oposições regulares de gênero (p. ex., gato/gata computa apenas 1 e boi/vaca computa 2). O normal para indivíduos com escolaridade menor que 8 anos é de no mínimo 9 itens e para indivíduos com escolaridade de oito e mais anos é de no mínimo 13 itens. Questionário Pfeffer (QPAF – Questionário Pfeffer de Avaliação Funcional) → É uma escala de 11 questões aplicada ao acompanhante ou cuidador da pessoa idosa discorrendo sobre a capacidade desse em desempenhar determinadas funções. As respostas seguem um padrão: sim é capaz (0); nunca o fez, mas poderia fazer agora (0); com alguma dificuldade, mas faz (1); nunca fez e teria dificuldade agora (1); necessita de ajuda (2); não é capaz (3). A pontuação de seis ou mais sugere maior dependência. A pontuação máxima é igual a 33 pontos. Quanto mais elevado o escore maior a dependência de assistência. Condições emocionais Geriatric Depression Scale (GDS) ou Escala Geriátrica de Depressão → A GDS é utilizada para rastreio de quadros depressivos em idosos, pois nesta faixa etária as manifestações são muito atípicas. Ela é de fácil aplicação e o paciente tem que replicar questões com resposta dicotômica sim/não. A versão original é de 30 questões, mas há versões de 15 e menos. A versão de 15 itens é a mais utilizada em nosso meio, tendo sido validada em nosso país. É bom lembrar que eles têm caráter de rastreio e não de diagnóstico.Uma pontuação entre 0 e 5 se considera normal, 6 a 10 indica depressão leve e 11 a 15 depressão severa. Deficiências Sensoriais Visão → Cerca de 90% das pessoas idosas necessitam do uso de lentes corretivas para enxergar adequadamente. Ao avaliar essa função, pergunte à pessoa idosa se ela sente dificuldade ao ler, assistir televisão, dirigir ou para executar qualquer outra atividade da vida cotidiana. Aqueles que responderem afirmativamente devem ser avaliados com o uso do Cartão de Jaeger. Audição → Cerca de um terço das pessoas idosas referem algum grau de declínio na acuidade auditiva. A presbiacusia - perda progressiva da capacidade de diferenciar os sons de alta frequência – é uma das causas mais comuns relacionadas a essa queixa. Muitas vezes, o idoso pode não perceber essa perda e, por essa razão, não referi-la. Para auxiliar nessa verificação pode-se utilizar o “teste do sussurro”. Capacidade Funcional Importante definir: Atividades de Vida Diária (AVD) são as relacionadas ao autocuidado e que, no caso de limitação de desempenho, normalmente requerem a presença de um cuidador para auxiliar a pessoa idosa a desempenhá-las. São elas: • Alimentar-se • Banhar-se • Vestir-se • Mobilizar-se • Deambular • Ir ao banheiro • João Vitor Freire – MEDUNIME 2019.2 Manter controle sobre suas necessidades fisiológicas. Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD) são as relacionadas à participação do idoso em seu entorno social e indicam a capacidade de um indivíduo em levar uma vida independente dentro da comunidade. São elas: • Utilizar meios de transporte • Manipular medicamentos • Realizar compras • Utilizar o telefone • Preparar refeições • Cuidar das próprias finanças. Escala de Katz (INDEX DE INDEPENDÊNCIA NAS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA DE KATZ) → Observa as AVDs. As escalas utilizadas baseiam-se em informações dos pacientes e dos cuidadores e devem ser simples e de rápida avaliação, podendo ser utilizadas por todos os membros da equipe interdisciplinar. As escalas mais utilizadas para avaliação das atividades básicas de vida diária (ABVD) no nosso meio são a Escala de Katz e o Índice de Barthel. A Escala de Katz está incluída na maioria das avaliações multidimensionais. Sua elaboração é baseada na conclusão de que a perda funcional segue um padrão igual de declínio, isto é, primeiro se perde a capacidade de banhar-se, seguida pela incapacidade de vestir-se, transferir-se e alimentar-se e, quando há recuperação, ela ocorre em ordem inversa. Esta escala, tem a grande limitação de não avaliar o item deambulação. Apresenta adaptação transcultural para o Brasil, o que facilita o seu uso de forma adequada em nosso meio. Avalia a independência no desempenho de seis funções (banho, vestir-se, ir ao banheiro, transferência, continência e alimentação) classificando as pessoas idosas como independentes ou dependentes. Classificação varia de A ou 0 (independentes para todas) até G ou 6 (dependente para todas). Índice de Barthel → Observa as AVDs. Avalia dez funções: banhar-se, vestir-se, promover higiene, usar o vaso sanitário, transferir-se da cama para cadeira e vice-versa, manter continências fecal e urinária, capacidade para alimentar-se,deambular e subir e descer escadas. Essa escala permite ainda uma gradação mais ampla na classificação da dependência, indo desde a dependência total (0 ponto) até independência máxima (100 pontos). Foi validada no Brasil para idosos em atendimento ambulatorial. Interpretação: < 20 pontos: dependência total 20 a 35 pontos: dependência grave; 40 a 55 pontos: dependência moderada; 60 a 95 pontos: dependência leve. Escala de Lawton → Observa as AIVDs. A escala de Lawton é uma das mais utilizadas para avaliação das AIVD. A pontuação máxima é de 27 pontos, correspondendo à maior independência, enquanto a pontuação mínima de 9 pontos relaciona-se à maior dependência. Em algumas circunstâncias, deve ser relevada a incapacidade de uma pessoa realizar tarefas para as quais não tenha habilidade, como cozinhar, por exemplo, prejudicando a análise de sua independência. Esta escala não está validada em nosso meio. As questões 4 (preparar refeições) a 7 (lavar e passar roupa) podem ter variações conforme o sexo e podem ser adaptadas para atividades como subir escadas ou cuidar do jardim. MIF – Medida de Independência Funcional → Observa AVDs e AIVDs. A MIF verifica o desempenho (funcionalidade motora e cognitiva) da pessoa idosa para a realização de um conjunto de 18 tarefas, referentes às subescalas de autocuidados, controle esfincteriano, transferências, locomoção, comunicação e cognição social. Diferentemente das outras escalas de avaliação funcional, a MIF consegue quantificar de forma mais objetiva a necessidade de ajuda ou a dependência parcial, o que facilita a elaboração do projeto terapêutico. Cada item pode ser classificado em uma escala de graus de dependência de 7 níveis, sendo o valor 1 correspondente à dependência total e o valor 7 correspondente à normalidade na realização de tarefas de forma independente. O nível de independência funcional segundo a MIF é classificado da seguinte forma: Independência completa (7 - INDEPENDÊNCIA COMPLETA - Todas as tarefas descritas que constituem a atividade em questão são realizadas em segurança, sem modificação, sem ajuda técnica e em tempo razoável.), Independência modificada (6 - INDEPENDÊNCIA MODIFICADA - A atividade requer uma ajuda técnica, adaptação, prótese ou órtese, um tempo de realização demasiado elevado, ou não pode ser realizada em condições de segurança suficientes), Supervisão, estímulo ou preparo (5 - SUPERVISÃO OU PREPARAÇÃO – A pessoa só necessita de um controle, ou uma presença, ou uma sugestão, ou um encorajamento, sem contato físico. Ou ainda o ajudante (a ajuda) arranja ou prepara os objetos necessários ou coloca-lhe a órtese ou prótese (ajuda técnica)), Assistência mínima (4 - ASSISTÊNCIA MÍNIMA - O contato é puramente “tátil’, com uma ajuda leve, a pessoa realiza a maior parte do esforço), Assistência moderada (3 - ASSISTÊNCIA MODERADA – A pessoa requer mais que um contato leve, uma ajuda mais moderada, realiza um pouco da metade do esforço requerido para a atividade), Assistência máxima (2 - ASSISTÊNCIA MÁXIMA - A pessoa desenvolve menos da metade do esforço requerido, necessitando de ajuda ampla ou máxima, mas ainda realiza algum esforço que ajuda no desempenho da atividade) Dependência total (1 - DEPENDÊNCIA COMPLETA – A pessoa efetua menos da metade do esforço requerido para a atividade. Uma ajuda máxima ou total é requerida, sem a qual a atividade não pode ser realizada. ASSISTÊNCIA TOTAL – A pessoa efetua esforço mínimo, necessitando de ajuda total para desempenhar as atividades). Estado e risco nutricional A Miniavaliação Nutricional (MAN), de Guigoz et al. (1994), foi o primeiro e é ainda o único instrumento validado para avaliação nutricional especificamente do idoso. O objetivo da MAN é avaliar o risco de desnutrição para poder intervir quando necessário. Inclui 18 itens, atingindo um escore máximo de 30 pontos, sendo que entre 17 e 23,5 há risco de desnutrição; abaixo de 17, caracteriza desnutrição; e, acima de 24, considera-se bom o estado nutricional. As perguntas são sobre medidas antropométricas, como peso, altura, perda de peso, informações dietéticas, referentes à alimentação, informações sobre estilo de vida, medicação, além da autopercepção sobre o estado de saúde. As medidas antropométricas fazem parte da avaliação nutricional. O IMC Apesar de ter limitações para uso na população idosa, devido às alterações na composição corporal com o processo de envelhecimento, é muito utilizado para avaliação da composição corporal de idosos. Não há consenso sobre quais os pontos de corte ideais para esta população, se os parâmetros definidos pela Organização Mundial da Saúde ou os valores definidos por Lipschitz (1994): baixo peso ≤ 22 kg/m2, eutrofia 22 a 27 kg/m2 e obesidade ≥ 27 kg/m2. Estes têm sido os valores mais aceitos para população idosa. Condições Socioambientais Esta talvez seja a dimensão mais complexa e difícil de ser quantificada, provavelmente pela heterogeneidade dos seus componentes. Devem ser avaliadas as relações e as atividades sociais, os recursos disponíveis de suporte (social, familiar e financeiro), sabendo com que tipo de ajuda o idoso pode contar, caso necessite. Esses fatores influenciam diretamente o planejamento terapêutico. A ausência de João Vitor Freire – MEDUNIME 2019.2 suporte social adequado ao idoso piora as condições de saúde, reduz capacidade funcional, portanto faz-se necessária a avaliação adequada desse item. Deve-se perguntar sobre sua vida social e utilizar o Apgar da família e dos amigos. → Pontue a escala para os familiares e para os amigos separado. Escore: < 3 pontos: acentuada disfunção nas relações familiares e de amizade: 4 a 6 pontos: moderada disfunção nas relações familiares e de amizade; > 6 pontos: disfunção leve ou ausente. Outros aspectos que devem ser avaliados são as necessidades especiais e a adaptação do ambiente. A residência do idoso deve ser adaptada às suas limitações, de forma a preservar ou recuperar a independência, além de evitar quedas e todas as suas consequências. Importante avaliar se o cuidador é um cuidador formal ou informal, se é capacitado e bem treinado e principalmente se apresenta estresse, pois cuidador não capacitado e não treinado e/ou estressado não conseguirá manter um bom padrão de atendimento ao idoso com consequências na sua saúde e qualidade de vida. A sexualidade da pessoa idosa também deve integrar a avaliação da mesma. Estudos mostram que 74% dos homens e 56% das mulheres casadas mantêm vida sexual ativa após os 60 anos. A identificação de disfunção nessa área pode ser indicativa de problemas psicológicos, fisiológicos ou ambos. Devem fazer parte da avaliação sistemática das pessoas idosas sexualmente ativas a investigação de doenças sexualmente transmissíveis/AIDS. Polifarmácia e Medicamentos inapropriados A polifarmácia, muitas vezes, não é errada. É até necessária, porém não deixa de ser uma situação de risco, pois existe uma relação direta entre o número de medicamentos usados e o risco de eventos adversos, incluindo aqueles mais graves com óbito. Existem listas validadas, com recomendações baseadas em evidências, de medicamentos considerados inapropriados para idosos. As mais usadas são os critérios de Beers, da Sociedade Americana de Geriatra, e o critério STOPP/START. Na última versão dos critérios de Beers, atualizada em 2015, a AGS apresentou também uma lista de alternativas aos medicamentos de alto risco para idosos e as interações fármaco-doença potencialmente danosas. O critério STOPP/START discute o que os autores chamam de prescrição potencialmente inapropriada, a qual engloba os medicamentos potencialmente inapropriados (STOPP) e as potenciais omissões prescritórias (START). Essa últimarefere-se aos medicamentos que, se omitidos, poderiam causar danos e que algumas vezes não são prescritos para idosos por medo de efeitos adversos, como é o caso de antiagregantes e estatinas na doença arterial coronariana. A melhor forma de se obter a relação das medicações utilizadas, prescritas ou não, é fazer um inventário medicamentoso, também conhecido como “teste da sacola de remédios” (no agendamento solicite que ele traga uma sacola com todos os medicamentos que usa > mostre cada um pergunte a posologia, tempo que usa e para que foi indicado > pergunte se usou outros medicamentos no último mês e se mudou algum dosagem recentemente > pergunte sobre medicação injetável, tópica ou aerosóis, fitoterápicos e sobre automedicação > insistir sobre uso de analgésicos, anti-inflamatórios, sedativos e hipinótios, antigripais e antialérgicos > (...). A avaliação dos medicamentos somada aos demais parâmetros avaliados na AGA tem grande importância para nortear o que se convencionou chamar de “desprescrição”, ou seja, o processo sistemático de identificação e descontinuação de medicamentos nas situações nas quais os danos existentes ou potenciais suplantam os benefícios existentes ou potenciais, dentro do contexto dos objetivos de cuidado individual de cada paciente, do seu estado funcional, expectativa de vida, valores e preferências. Comorbidades e Multimorbidades Da mesma forma que a lista de medicamentos usados, a lista de doenças deve ser obtida durante a anamnese no exame clínico tradicional do qual a AGA não deve ser dissociada. Índices de comorbidades, no entanto, não são simplesmente lista de doenças, mas escalas nas quais o paciente recebe ponto por cada doença que apresente e essa pontuação é relacionada a prognósticos, principalmente a risco de morte. Um dos mais utilizados é o Índice de Comorbidade de Charlson (ICC) que inclui 19 condições clínicas selecionadas, registradas como diagnóstico secundário, por seu poder de associação à mortalidade. As condições clínicas mais frequentes na coorte de pacientes estudados foram incluídas na escala, sendo estabelecidos pesos para cada uma delas, a partir dos valores dos riscos relativos de mortalidade em 1 ano na população estudada. Posteriormente, os próprios Charlson et al. validaram a escala acrescendo um ponto para cada década acima dos 50 anos, sendo esse valor somado ao escore obtido na escala de Charlson original. Eles concluíram que a escala combinada era um bom preditor do prognóstico e ela passou a ser chamada de Índice ComorbidadeIdade de Charlson (ICIC). Apesar de muito utilizado no Brasil em vários estudos de mortalidade hospitalar, não existe nenhum estudo de validação no país. Escore: mortalidade em 1 ano – 0 ponto (12%); 1 a 2 pontos (26%); 3 a 4 pontos (52%); ≥ 5 pontos (85%). Psiu!!! Caiu no TBL de LPI!! * As escalas de avaliação de risco de quedas são ferramentas que atribuem valores numéricos a diversos fatores de risco. O somatório destes fatores prediz se o doente tem um risco de queda baixo, médio ou elevado. * Existem diversos estudos descritivos de avaliação do risco de queda, mas apenas cinco instrumentos foram testados quanto à forma como predizem as quedas. Dentre esses instrumentos temos a Escala de Quedas de Morse. * A Escala de Depressão Geriátrica (EDG) é composta por perguntas fáceis de serem entendidas e possui pequena variação nas possibilidades de respostas (sim/não), pode ser auto aplicada ou aplicada por um entrevistador treinado, demandando de cinco a 15 minutos para a sua aplicação. * A medida de independência funcional é um instrumento que avalia e quantifica o desempenho do idoso na realização de tarefas referentes às funções motoras e cognitivas.
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