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O tempo não para_ Ou para no Brasil_ Pergunte ao Captopril

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS 
FACULDADE DE FARMÁCIA (FF/UFG) 
 
 
 
 
 
ANDRÉ LUIZ RIBEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
O tempo não para? Ou para no Brasil? Pergunte ao Captopril 
Química Farmacêutica Medicinal (QFM) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GOIÂNIA 
07 de Dezembro de 2020 
 
Medicamentos de ação no SRAA (Sistema Renina Angiotensina Aldosterona), agem 
como anti-hipertensivos e são amplamente usados na contemporaneidade como padrão 
ouro no manejo e tratamento da hipertensão. O captopril, um inibidor da Enzima Conversora 
de Angiotensina (ECA), é exemplar de grande sucesso devido a sua eficácia, segurança e 
poucos efeitos adversos, descoberto de forma bastante curiosa aqui no Brasil e os frutos 
dessa descoberta permite a reflexão sobre os efeitos da desvalorização da ciência brasileira 
por parte da administração governamental e do Estado. 
Sérgio Ferreira, brasileiro, em 1963 publicou um artigo sobre uma substância hoje 
conhecida como potencializador de bradicinina, ou BPF (​Bradykinin potentiating factor​) 
presente no veneno da cobra jararaca (​Bothrops jararaca​) , endêmica no Brasil. Realizou 1
grande parte dos seus estudos sob orientação de Mauro Rocha e Silva (1910-1983), 
descobridor da Bradicinina em 1948. Juntos, descobriram a relação estrutura atividade do 
BPF em inibir a conversão de angiotensina I para angiotensina II. Quando Sérgio publicou o 
trabalho, em 1963, não obteve financiamento, seja pela iniciativa pública ou privada. Quem 
sintetizou o Captopril e o colocou à venda em todas as farmácias foi um laboratório 
norte-americano, que agora detém a patente. A Folha de São Paulo (2002), aponta que o 
Brasil não investiu em seu “ouro verde” ao referenciar a riqueza da fauna e flora brasileira e 
potencial transformação em produtos farmacêuticos. 
Não obstante, é importante ressaltar que a gênese do Captopril se dá a partir do 
isolamento de um veneno de jararaca, cobra endêmica ao território brasileiro, país esse de 
tamanho continental e detentor de uma rica biodiversidade o que se traduz diretamente em 
potencial tecnológico no que tange a exploração consciente dessa biodiversidade em prol de 
produção, planejamento e síntese de novos fármacos, cosméticos e outras tecnologias. A 
despeito de tanta riqueza, o que se percebe a partir da ótica dos últimos governos os quais 
administraram o Brasil não fora nada além de descaso para com a ciência, pesquisa e 
biodiversidade brasileira, comportamento evidenciado todos os dias através do explícito 
descaso para com as universidades públicas, progressivo desmatamento, da transformação 
do país em um grande exportador de ​commodities​, e principalmente na defesa de uma 
bancada ruralista, representada por uma elite minoritária - onde menos de 1% das 
propriedades agrícolas detém quase metade da área rural no país . 2
1 Sérgio Ferreira: do veneno da jararaca ao captopril. Disponível em: 
<​http://hospitaldocoracao.com.br/wp-content/uploads/2016/01/S%C3%89RGIO-FERREIRA.pdf​>. 
Acesso em 07 de Dezembro de 2020. 
2 Oxfam. São Paulo. Brasil. Disponível em: 
<​https://www.oxfam.org.br/publicacao/menos-de-1-das-propriedades-agricolas-e-dona-de-quase-meta
de-da-area-rural-brasileira/#:~:text=A%20partir%20da%20an%C3%A1lise%20dos,a%20superf%C3%
ADcie%20agr%C3%ADcola%20da%20regi%C3%A3o​.>Acesso em 07 de Dezembro de 2020. 
http://hospitaldocoracao.com.br/wp-content/uploads/2016/01/S%C3%89RGIO-FERREIRA.pdf
https://www.oxfam.org.br/publicacao/menos-de-1-das-propriedades-agricolas-e-dona-de-quase-metade-da-area-rural-brasileira/#:~:text=A%20partir%20da%20an%C3%A1lise%20dos,a%20superf%C3%ADcie%20agr%C3%ADcola%20da%20regi%C3%A3o
https://www.oxfam.org.br/publicacao/menos-de-1-das-propriedades-agricolas-e-dona-de-quase-metade-da-area-rural-brasileira/#:~:text=A%20partir%20da%20an%C3%A1lise%20dos,a%20superf%C3%ADcie%20agr%C3%ADcola%20da%20regi%C3%A3o
https://www.oxfam.org.br/publicacao/menos-de-1-das-propriedades-agricolas-e-dona-de-quase-metade-da-area-rural-brasileira/#:~:text=A%20partir%20da%20an%C3%A1lise%20dos,a%20superf%C3%ADcie%20agr%C3%ADcola%20da%20regi%C3%A3o
 
Assim sendo, como mencionado no primeiro parágrafo deste texto, é importante a 
reflexão sobre os efeitos da desvalorização da ciência brasileira para que situações como 
essas, um fármaco primariamente desenvolvido no Brasil cuja patente se dá nos Estados 
Unidos, não ocorra novamente. O lucro obtido através do desenvolvimento e 
comercialização do fármaco Captopril atinge a casa dos 5 bilhões de dólares no ano de 
2002 . É lamentável que apesar de décadas depois da evidenciação das consequências da 3
não valorização do potencial biotecnológico brasileiro, o país ainda se encontre num 
verdadeiro regresso. A despeito da pandemia de COVID-19, o que idealmente atiçaria o 
interesse público e privado para o desenvolvimento de novas terapêuticas e vacinas, 
mostra-se o real oposto: um desgoverno despreparado para administração da saúde 
pública, educação e economia. É lamentável reconhecer que, ainda, o Brasil se encontra no 
ano de 1963, quando Sérgio Ferreira publicou seu trabalho. 
3 Brasil não investe em seu “ouro verde”. Folha de São Paulo. Publicado em 08 de Abril de 2002. 
Disponível em: <​https://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/imprescindivel/dia/gd080402.htm​>. 
Acesso em 07 de Dezembro de 2020. 
https://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/imprescindivel/dia/gd080402.htm

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