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Eco-arte com crianças

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Prévia do material em texto

Sumário
Prefácio à edição brasileira
Prefácio à edição dinamarquesa
Nós construímos espaço para a brincadeira, para a poesia
O tapete de argila
Barro dissolvido
Carvão no papelão
Imagens �lutuantes
Caixa corpo
Aerodesenhos
Nós trabalhamos ao ar livre e utilizamos a energia da própria natureza
O vento também quer brincar
Armadilha para o ar da �loresta
A pintura do vento
Mágica na água da chuva
Cabides de vento
O vento sabe ler
Caçadores de sol
Buracos vivos
Nós utilizamos materiais usados
Cobertores de jornal
Rolos de jornais
Encaixe as peças
Caixas de papelão e jornais no quintal
Máquina de desenho
Olho mágico
Folhas secas e Jørgen & Lars
Nós utilizamos materiais não convencionais
Um pouco de tudo na loja do campo
Lápis de argila
Exposição de papel manteiga usado
Desenhos invisíveis na neve
A roda da sorte artística
Colagem corporal
Galhos falantes e água da chuva
O que estamos pensando?
Nós utilizamos aquilo que está bem ao nosso redor
Caixas de papelão com areia
As meias de vento
A arte do equilíbrio
A arte do equilíbrio com caixas de papelão
A arte do equilíbrio com galhos
A arte do equilíbrio com latas
A arte do equilíbrio com cabides
Nós deixamos o local sem nenhum rastro de destruição
Tubos de papelão no bosque
Um passeio com sacolas de papel usadas
Caixas velhas com buracos
Cobertores velhos
Papelão sobre folhas
Passeando com jornais
A arte do equilíbrio no limite e velhos achados
Arte como ação
Sobre a autora
Créditos
PREFÁCIO
À EDIÇÃO BRASILEIRA
Sobre os mundos possíveis
- Olha lá embaixo. As coisas estão pequenas porque elas são de mentira. Quando o avião ficar perto do
chão, as coisas se transformame ficam de verdade.
- É? E nós somos de verdade ou de mentira quando
estamos aqui em cima?
- Nós somos de verdade. A gente só seria de mentira
se estivesse voando em um pássaro azul.
Enquanto lia a tradução desta terceira obra de Anna Marie que chega para o
público brasileiro, me distraía com a conversa de duas meninas que viajavam na
poltrona da frente. Elas, talvez com 5 ou 6 anos, discutiam sobre o mundo de
verdade e o mundo de mentira. A conversa se estendia enquanto uma explicava
para a outra que árvores de verdade são grandes, cheirosas e fazem sombra.
Uma delas, por sua vez, interpelava com perguntas curiosas, afirmando que
coisas pequenas, como as formigas e as borboletas, não poderiam ser de
mentira. No fim, as duas pareciam concordar e concluir que elas poderiam
decidir sobre quando as coisas são de verdade e quando as coisas são de
mentira.
A minha felicidade por presenciar esta cena com Eco-Arte para crianças em mãos
justifica as escolhas que fiz para a escrita deste prefácio, a começar por destacar
uma qualidade singular de Anna Marie em acolher o universo das crianças. Cada
pequena história desta obra não diz apenas sobre arte – natureza – crianças, fala
sobre a postura de um adulto interessado nas poéticas dos meninos e meninas,
que se aventuram em descobrir modos de transformar as materialidades, os
espaços e o tempo. Conseguir evidenciar os mundos invisíveis das crianças
através de generosas palavras e imagens me faz lembrar do que Calvino, em seu
livro “Mundo Escrito e Mundo Não Escrito”, aborda sobre a fronteira entre o que é
possível transformar em palavras e o que não é, justificando então que
“escrevemos para que o mundo não escrito possa exprimir-se por meio de nós”.
Seja pela disponibilidade em inventar palavras com as crianças, seja pela opção
de utilizar frases curtas despreocupadas com os cânones da narrativa, Anna
Marie parece comungar da ideia de que nós, adultos, podemos estar mais
atentos e abertos para os modos como as crianças reinventam o mundo. Além
disso, acaba por nos sugerir uma maneira emotiva de narrar, algo que me deixa
profundamente emocionado ao ler e ver suas pequenas histórias com os
meninos e meninas.
O leitor mais atento poderá perceber que Anna Marie está nos convidando a
re�letir sobre os meios pelos quais estamos educando para a arte, mas também
para a conexão com o mundo. Seu jeito peculiar de propor algo para as crianças é
aquele que - buscando o sentido etimológico da palavra - chamaria de religião,
do latim, religare. A artista parece querer religar as crianças com a natureza,
colocando-as diante da responsabilidade de estabelecer novos modos de estar e
relacionar-se com o nosso entorno.
A potente ideia de mundo com a qual ela parece compartilhar se assemelha à
que Melich indica como “mundo na qual se vive, não que se pensa que se vive”.
Por isso, acredito serem qualidades da experiência desta artista a inteireza, a
proximidade, a curiosidade e a esperança.
Inteira pela sua forma de ver as crianças mas também por propor seu ateliê com
as crianças e não somente para as crianças. Creio que isso denote uma
abordagem diferente para compartilhar mundos possíveis. Talvez pela sua
inteireza nas relações com cada uma das crianças que vemos neste livro é que
temos a possibilidade de nos sentir integrados aos contextos apresentados por
ela.
Esta relação da arte com as crianças causa um duplo sentido à ideia de
proximidade que aqui entendo: ela reaproxima cada criança com os espaços,
com a natureza, com a vida e faz esse movimento de maneira próxima das
crianças e da natureza, ao eleger materialidades que se encontram disponíveis
para serem transformadas nas mãos de cada criança.
Nesse sentido, é sua curiosidade que a transforma em uma arqueóloga das
materialidades, que extrai de cada material o possível para ser utilizado como
matéria prima para a criação das crianças. A própria artista dirá que seus
materiais são simples. Eu diria que precisaríamos revisitar esta ideia. Existe uma
complexidade, um mistério naquilo que Anna Marie elege para oferecer para as
crianças, algo a que ela consegue dar um grande valor ao compartilhar as
criações feitas pelas próprias crianças.
Por fim, a artista não deixa de compartilhar os diversos momentos de surpresas
que outros adultos, possivelmente educadores, têm ao ver as reações das
crianças a partir de suas propostas. Para mim, isso está na ordem da esperança.
Esperança como alguém que confia nas crianças a capacidade de fazer algo, de
agir sobre o mundo, de estar envolvido em suas escolhas e em seus projetos
pessoais.
Acredito que, retomando o problema posto pelas duas meninas, Anna Marie
propõem experiências em um mundo de verdade, mas aberto e receptivo aos
mundos de mentira que cada criança carrega consigo para inaugurar, então,
mundos possíveis. Essa talvez seja uma das formas de, junto com cada menino e
menina, podermos nos aventurar. Essa talvez seja a minha esperança para que os
leitores deste livro possam também se sentir tocados para se reconectar com a
vida que pulsa nos pátios e praças das escolas, cidades e casas. Que possam
garantir o direito das crianças de viver suas infâncias pintadas pelo pó da terra e
perfumadas pelos cheiros das folhas.
Paulo Fochi,
em um outono especial pelas folhas que caem para pintar o chão.
PREFÁCIO
À EDIÇÃO DINAMARQUESA
Buster, um menino de 2 anos de idade, e eu voltamos de mãos dadas da creche
para a casa.
Buster olha para o alto em direção ao céu azul escuro, típico das tardes de
inverno na Dinamarca,
“… não consigo alcançar…”, ele diz,
enquanto estica o seu pequenino braço em direção ao céu na tentativa de
agarrá-lo.
A lua nos mostra o seu brilho mais intenso.
Nesse instante, me dou conta de que estou aqui,
com um menininho de 2 anos,
como que ancorados ao planeta em que vivemos.
Como eu posso - trabalhando com crianças e a expressão artística - contribuir
para a preservação deste planeta?
Algumas semanas antes desta situação com Buster, tão significativa quanto
poética, estou eu sentada num Café em Atenas conversando com Mimis, meu
amigo grego.
Mimis conta que muitas das palavras que usamos no nosso cotidiano têm
origem grega.
“Tomemos como exemplo a palavra ecologia. Eco vem do grego oikos, que
significa casa. A palavra logos significa estudo sobre algo. Portanto, a união
dessas duas palavras nos questiona como nós mantemos a nossacasa. Como
buscamos e promovemos o equilíbrio. Se nós usamos ou não mais do que é
necessário.”
A história com Buster aliada à história com Mimis deu o título: ECO-ARTE com
CRIANÇAS.
Todas as vezes que trabalhamos com crianças e arte, para um melhor e mais
ecológico modo de desenvolver as atividades, nós devemos necessariamente
re�letir sobre os seis dogmas a seguir:
1) Nós construímos espaço para a brincadeira, para a poesia.
A pesquisa artística
2) Nós trabalhamos ao ar livre e utilizamos a energia da própria natureza
O vento, o sol, a chuva como ferramentas no processo criativo
3) Nós utilizamos materiais usados
O descartado é renovado e utilizado novamente
4) Nós utilizamos materiais não convencionais
A produção sustentável
5) Nós utilizamos aquilo que está bem ao nosso redor
As muitas possibilidades do lugar, as relações físicas e sensoriais incluídas na interação
entre as crianças, os adultos e aquilo que
trouxemos conosco
6) Nós deixamos o local sem nenhum rastro de destruição
A consciência entre o que é material e o que é lixo
Não temos outra escolha a não ser esta perspectiva ecológica como motivação,
cada um dentro de sua área de atuação.
Quando agimos, temos também a necessidade de sentir esperança.
Posicionamo-nos e trabalhamos diante da constante inquietude sobre a situação
de nosso planeta.
A atividade artística e a brincadeira são partes do mesmo.
Entremos a fundo nesse conceito.
A arte está neste exato momento.
As crianças são muito boas para isso. Ouça o que elas têm a dizer!
Esqueça as formalidades e o desejo de sucesso.
Remova as camadas superficiais da aparência.
De que se trata a arte, no fundo?
“Talvez seja muito complexo o modo como trabalhamos a arte com crianças”, diz
Trine em um dia em que estávamos saindo com as crianças pequenas. Trine
continua: “Eu consigo ver e entender agora que o seu jeito de fazer as coisas de
modo mais simples faz com que muito mais aconteça.”
É exatamente isso que eu procuro junto das crianças. Simples impulsos que
contêm todas as possibilidades e questionamentos.
É como acontece em um corriqueiro diálogo, onde muitas vezes uma pequena
palavra se desenvolve, se expande, e no curso da conversa - sem nos darmos
conta disso - nós estamos, de repente, falando de outra coisa completamente
diferente.
Em uma conversa com Erik Sigsgaard, eu digo, especulando: “O que devo fazer
agora? Isto está muito confuso? As crianças, como de costume, sempre
encontram algum sentido nas coisas. Eles simplesmente me acompanham.
Juntos desbravamos novos caminhos.”
Erik Sigsgaard: “Sim, e os outros te acompanham porque eles também estão à
procura. É justamente conquistar esta simplicidade em expressar-se que leva
mais tempo.”
O abstrato e as grandes perguntas, todas as possibilidades, se encontram na
simplicidade.
Ouvi um músico de jazz uma vez dizer: “Nós tocamos juntos. Não sabemos se o
que tocamos é jazz ou não. Apenas tocamos.”
Exatamente isso eu também poderia dizer: “Nós criamos juntos, crianças e
adultos. Não sabemos se o que criamos é arte. Apenas criamos algo juntos.”
A arte é uma ferramenta maravilhosa para se explorar o mundo.
Em “ECO-ARTE com CRIANÇAS” é expandido o conceito de arte no contexto do
trabalho coletivo entre crianças e adultos, e tem dado um resultado efetivo para
as muitas oportunidades de se trabalhar artisticamente com as crianças de um
modo ecologicamente responsável.
Mergulhemos na “ECO-ARTE” – não custa nada.
Nós gostamos mesmo é de brincar e explorar juntos.
Anna Marie Holm
Os lenhadores derrubaram muitas árvores nos últimos tempos, formando uma
clareira no lugar em que estamos hoje. O que sobrou das árvores cortadas se
parece com pequenas mesas.
Nós fazemos rolinhos com diferentes pedaços de argila e depois os achatamos,
batendo-os com toda a força contra as nossas “mesas”.
É um bom lugar em que estamos hoje.
Do topo das árvores ouvimos um tímido cantar dos pássaros, ainda um pouco
congelados.
Estão em uma sacola, alguns sapatos grandes e velhos, que iriam para o lixo.
Enquanto estamos em pé em torno do chão coberto de barro, o qual chamo de
tapete de argila, eu conto para as crianças sobre uma moça que conheci, que
havia encontrado um tapete de barro como esse em um pasto, onde as vacas
passeavam pra lá e pra cá. Ela observou que de vez em quando uma ou outra
vaca passavam por cima do barro.
Na manhã seguinte, ela foi até lá para ver. Era lindo aquele monte de “pés de
vacas”. As crianças riam.
Olhamos para os sapatos. Vamos provar?
Um dos meninos começa com os enormes sapatos masculinos. Eles deixam
pegadas gigantescas.
Algumas meninas calçam os sapatos de princesa.
“Agora dá pra ver que uma princesa passou por aqui”.
Muita diversão com as velhas pantufas, que escapam rápido dos pés das
crianças, já calçados com as botas de inverno.
“A pantufa quase não deixa rastros.”
É melhor caminhar com as grandes e escorregadias sandálias número 44. Algo
começa a tomar forma.
Há muito dinamismo em torno do tapete de argila.
Muitas das crianças, a essa altura, obviamente já estão com os dedos cheios de
barro. É difícil deixar de tocar a argila. Rapidamente, uma infinidade de coisas
começam a ser modeladas.
Karl, Nikolaj e Rasmus, por um longo tempo, desenrolam um conto cheio de
fantasia com as figuras de argila, que a todo momento se transformam. Os
troncos e os galhos das árvores também estão na brincadeira. Uma família de
ratos que começa a escalar. Um vovô também aparece, mas ele é muito pesado e
acaba indo ao chão. A vovó vem para ajudá-lo. Mas que azar, justo agora ela
quebra os braços.
Argila e crianças juntos na �loresta é fantástico.
“Agora eu fiz um charuto”; “Não, agora é um guidão de uma moto”; “Agora é um
papagaio”.
Karl encontra uma “mesa” livre, onde há espaço para que ele modele um trator
de argila com rodas pequenas e grandes e até escapamento.
Ao redor do resto do tapete, há o tempo todo alguma atividade. Um ramo
cortado é enterrado na lama.
Rasmus faz uma folha de jornal, um skate, um rocambole de argila. Tudo é
colocado sobre os galhos.
A natureza brinca junto com as crianças, os adultos e a argila.
O TAPETE DE ARGILA
BARRO DISSOLVIDO
Temos muitas garrafas usadas em circulação. Para as crianças da creche temos
hoje uma variedade de garrafas. Cada uma delas cheias de areia, terra, raízes ou
pedras, preenchidas com água. Imediatamente funciona como ímã sobre as
crianças e os adultos.
“É gostoso sentar junto com as crianças pequenas e ver os diferentes materiais da
natureza nas garrafas”, diz a sorridente Malene.
Há uma garrafa com água e restos de jornal a �lutuar. Certamente o jornal vai se
desintegrar. É muito bom esse processo. As crianças começam a colocar
pedacinhos de argila dentro. A argila se dissolve lentamente. Usamos argila
também para outros experimentos. Trabalhar com argila ao ar livre é
maravilhoso. A ceramista japonesa Mayuko dispõe enfileirados vários pedaços
de argila, espeta um pequeno galho em cada um deles e encontra materiais
leves, que podem ser colocados sobre os galhos. Ela pesquisa o peso e a leveza.
Conceitos fundamentais da Escultura. É também isso que as crianças da creche
fazem. Espetam pauzinhos na argila. Anne, junto com a pequena Amalie, saem
em busca de folhas caídas. Elas amarram as folhas secas nos galhos que são
agitadas pela brisa suave.
Maria, de 2 anos e meio, espeta argila em cada uma das extremidades de uma
vara. Ela a transforma em um cavalo. Boa descoberta. Em seguida, Maria usa a
mesma vara como uma barra para levantamento de peso. O experimento vira
uma brincadeira. É exatamente isso que deve ser.
Muitas garrafas estão agora na caixa de areia. Mal piscamos os olhos e elas já
foram pegas por uma ou outra criança. As garrafas são roladas, agitadas,
atiradas, tombadas ou transportadas de um lugar para outro.
Há uma pequena camada de neve que caiu durante a noite.
Todas as crianças estão despertas e cheias de energia logo cedo pela manhã.
Todo mundo pra fora! – “ebaaaaa!”
As atividades externas incluem também as condições climáticas, pois o espaçoonde estamos nunca é o mesmo.
Hoje o nosso “tapete” está todo branco.
É ótimo estar aqui fora com todas as crianças e as caixas de papelão espalhadas
por toda parte.
Caixas de papelão de todos os tamanhos que se possa imaginar.
Temos também uns bons pedaços de carvão. Alguns deles são bem grossos.
O carvão pode sempre ser utilizado de forma dramática e as crianças logo
descobrem como utilizá-los.
Algumas meninas começam com um desenho de traços bem finos no fundo das
caixas pequenas.
Em seguida, elas escolhem as caixas maiores.
Outras crianças vão entrando nas caixas à medida que desenham.
Mikkel está completamente imerso na proposta. Começa imediatamente a
desenhar uma grande banheira.
Ele desenha tanto do lado de dentro quanto do lado de fora da caixa.
Logo ao lado está Rasmus, com outra caixa bem grande: “Estou desenhando uma
prisão para o meu irmão mais velho”.
Fica evidente o quanto os dois meninos estão empolgados com a possibilidade
de usar o desenho em grandes dimensões.
Margit brinca junto com o seu irmão menor. O pequeno Mathias, de 3 anos,
desfruta ao desenhar em uma caixa comprida. Ele desenha tanto no fundo
quanto por todos os lados da caixa. Mais tarde, ela se transforma em um barco a
navegar pela neve.
CARVÃO NO PAPELÃO
Uma outra caixa é transformada em um carro, onde algumas das crianças
pequenas e Margit dão um passeio.
Os desenhos parecem estar vivos. É o máximo!
Algumas crianças correm em torno do parquinho. Eles estão livres aqui fora.
A riqueza de ideias continua.
Uma caixa desenhada é usada como um vestido de gala. “Opa! – ele caiu. Estou
sem roupa”, rindo, diz Mathilde.
Alguns aviões bem grandes passam voando no céu e, imediatamente, muitas
das caixas pequenas são convertidas em binóculos.
Dorthe abre o fundo de uma das caixas e nós, abaixadas, olhamos através dela
com uma espécie de luneta gigante.
Isso nos dá uma ideia: “As Caixas Observadoras de Céu”.
Um outro dia podemos fazer várias dessas.
IMAGENS FLUTUANTES
Hoje é a chuva que vem nos visitar. Essa é a deixa para experimentar espalhar
pelo gramado diferentes pratos, garrafas e tigelas velhas de uma loja de usados.
Enquanto eles vão se enchendo de água, recolhemos alguns pauzinhos, folhas
secas e penas. Será que eles se movimentam na superfície da água?
De repente, chega o vento. Uma peninha dança alegremente sobre a água.
As crianças param para ver a peninha dançarina. Camilla diz: “É nítido como as
crianças se surpreendem quando algo de mágico aparece”.
Nós seguimos com os nossos experimentos. Na creche é muito fácil utilizar a
“pesquisa” como tema. Os pequenos são certamente os mais maravilhados
durante o processo. Eles parecem que nunca se cansam e a curiosidade deles é o
que nos leva adiante.
Pintura sobre o papel molhado é uma técnica japonesa antiga. Colocamos
pedaços de papelão ou pedaços planos de madeira sobre a superfície da água.
Eles �lutuam. Sobre eles, colocamos uma folha de papel. As crianças descobrem
rápido como molhar o papel. Eles balançam à medida que são pintados com as
aquarelas, justamente porque não temos a tradicional mesa rígida dando apoio
para a nossa pintura, e assim as coisas se tornam muito mais atraentes. Rikke, de
2 anos, se agacha na grama macia. Ela se equilibra ao mesmo tempo em que
acompanha o ritmo da imagem �lutuante. Deixar que haja a interferência do
movimento da água no resultado da pintura é um aspecto da arte japonesa.
Rikke esta compenetrada nisso há mais de uma hora. Os adultos percebem que
quando nós trabalhamos com os processos artísticos na creche, as crianças se
esquecem dos brinquedos de plástico com os quais estão habituadas a brincar.
Camilla: “Pense quão pouco é necessário para romper os padrões com a
aquarela. Só precisamos sair aqui fora, trazer alguns potes velhos, e tudo
colabora”.
Tobias descobre o céu re�letido na superfície da água dentro de um prato
descartável. Ele toca a superfície e descobre que a imagem re�letida se
transforma. Curioso, ele repete o gesto algumas vezes.
Nós devemos, a todo momento, nos perguntar o que realmente é a experiência
artística.
CAIXA CORPO
Arrastamos as caixas de papelão ao redor dos bancos, feitos com troncos de
árvores, lugar onde algumas vezes no inverno se acendem as fogueiras. O lugar é
rodeado de árvores e arbustos. No chão, terra e grama. As crianças estão
empolgadíssimas, cheia de ideias. Mikkel dirige o carro de capô comprido que
ele mesmo logo constrói. Outras crianças começam a pintar com aquarela. Eu
lhes mostro o truque de prender o pincel com fita adesiva a um longo galho que
encontramos no chão. Os pincéis de repente estão todos modificados e muito
mais divertidos de se pintar com eles. A ideia evolui: “Podemos pintar lá dentro,
no fundo da caixa”.
O longo pincel alcança longe.
Laura e Mira estão juntas em uma grande caixa. Elas construíram uma pintura-
esconderijo.
Maria pula em uma caixa pequena. Ela se valeu das possibilidades motoras que
o corpo nos oferece. É desafiador. Uma outra menina se fecha em uma caixa,
onde estão apenas alguns buracos que servem para a ventilação. Enquanto
Maria está dentro da caixa, os demais pintam o lado de fora. É uma super
atividade. As meninas se revezam dentro da caixa. Eles vão todos juntos,
arrastando-se pelo chão. Isso é arte corporal. Arte Contemporânea, onde a ação
sustenta a obra. As crianças tem um enorme potencial. Nós continuamos com os
pais que pouco a pouco vão chegando. “O melhor que você nos ensinou, Anna
Marie”, diz contente o diretor Jørgen, “é que as atividades não tem propriamente
um começo e muito menos um final. Assim é muito mais espontâneo. É genial!”.
AERODESENHOS
Aerodesenhos. O que significa isso?
Christo�fer nos lembra de que um dia penduramos um pincel em um galho e
deixamos o vento movimentar o pincel.
“Podemos também desenhar no ar?”
Philip desenha algo com gestos grandes e amplos. Rapidamente Christo�fer
desenha um trator: “Veja! As rodas!”.
Estamos no bom caminho.
Todos adivinham rápido o desenho de um animal que faço no ar. “Uma
tartaruga?”. “Não!”. “Um elefante?”. “Isso mesmo!”.
Temos um amontoado de galhos de árvore que podem nos servir para construir
molduras e desenhar os nossos aerodesenhos dentro delas.
Rapidamente estão muitas molduras espalhadas pelo gramado. Galhos grandes
para os grandes “papéis de ar”. Sentamo-nos a desenhar no ar em grupos que
foram se formando ao acaso.
“Consegue ver o que eu desenhei?” Adivinhamos os desenhos uns dos outros.
“Apagamos” e recomeçamos. Novos desenhos.
“Venha aqui ver. Adivinha o que eu desenhei?”.
Podemos fazer todos os desenhos que quisermos e disso nascem ótimas e
divertidas conversas.
“Qual é o maior aerodesenho que conseguimos fazer?”
As meninas vão logo construindo uma gigantesca moldura.
“Nunca tentamos num papel tão grande assim”.
Josefine, Emma e Laura são muito ativas. A possibilidade de construir uma
enorme folha de papel de ar é muito inspiradora. Elas trabalham em conjunto
em torno dos galhos, revezando na disposição, em linha, dos galhos sobre a
grama. “Segue todo o caminho até aqui...”, “... então segue toda essa linha até o
alto do morro”. As esquinas do papel se encontram enquanto outros galhos
derrubados pelo vento são buscados. A construção do papel de ar já é, em si
mesma, uma proveitosa parte do processo.
Assim que as meninas chegam ao topo do morro, elas descem correndo: “Temos
um rolo enorme de papel”. Todas experimentam e logo outros chegam para
participar da montanha-russa de papel invisível.
Josefine, Emma e Laura se instalam dentro do aerodesenho, que agora se
transformou num avião.
“Aqui estão as asas”. Elas correm ao redor do avião. “No avião também tem
banheiros”.
Três pequenos ambientes se formam com os galhos. Um aerodesenho vivo.
É muito inventivo.
A arte e a brincadeira em perfeita harmonia.
Algo que somente as crianças conseguem fazer tão bem.
Para terminar, recolhemos todos os galhos. Podemos usá-los na fogueira de São
João daqui a uns dias.
O VENTO TAMBÉM QUER BRINCAR
O parquinho da creche não tem uma delimitação exata.
Juntospodemos descer correndo em direção a um grande morro gramado.
As crianças pequenas adoram correr.
Com fita adesiva, juntamos papel de seda nos galhos de uma árvore.
O papel produz bastante ruído quando as crianças e os adultos correm.
Enorme alegria!
Subimos o morro outra vez, e então, morro abaixo com o quebradiço som do
papel ao vento.
O vento está bem como o queríamos, um vento suave, que agora terá algo
divertido para sacudir.
Na mochila, eu coloquei uns sacos de papel de padaria.
O vento deve e quer ser explorado.
Enchemos os sacos com ar, o que faz logo com que as crianças comecem a correr
atrás deles.
Podemos voar com uma sacola dessas nas mãos?
O vento brinca junto conosco.
Penduramos os papéis nos galhos da parte mais baixa das árvores.
Pura pesquisa poética, tendo o vento como ferramenta artística e lúdica.
ARMADILHA PARA O AR DA FLORESTA
“Pode-se aprisionar o ar da �loresta?”
Vamos até as árvores de faia – uma espécie típica dos países europeus, ideal para
a proposta do dia - no alto do monte na pequena �loresta.
Não poderíamos ser mais premiados com o clima de hoje: vento e céu aberto.
Eu juntei algumas sacolas de papel e, com elas, aprisionamos o ar da �loresta
fechando com barbante, assim o vento não pode escapar.
As enormes e desfolhadas árvores são perfeitas para pendurar os sacos. As
sacolas de pão foram juntadas durante algum tempo. Elas vêm de padarias
espalhadas por todo o país, de leste a oeste, desde Holstebro até padarias de
Copenhague.
São de diversos tamanhos e cores. Niels Emil enche a sacola azul-turquesa com
bastante ar.
Sara corre ao redor junto com um pequeno grupo de crianças. Eles prenderam
suas sacolas em um galho caído, como se fosse uma rede para caçar borboletas,
e aprisionaram o ar da �loresta.
As árvores de faia são fantásticas para escalar. Subimos e penduramos nos
galhos as sacolas cheias do ar da �loresta.
O vento é um presente hoje. Podemos ouvi-lo nas copas das árvores.
A PINTURA DO VENTO
“Vocês já viram do que o vento é capaz?”. Trago na minha mochila alguns pincéis,
barbante e um pouco de aquarela diluída. Colocamos uma sacola de papel
branca no chão abaixo de uma árvore. Olivia pega um galho caído e coloca sobre
a sacola para que não saia voando. Com fita adesiva, prendemos o barbante ao
pincel e amarramos então o barbante em um galho bem firme.
Rapidamente alguém exclama: “Ele está pintando!”. É o vento movimentando o
barbante.
Mikkel: “Agora ele pinta a letra A”. Christo�fer: “Não, isso é uma montanha”. O
pincel dança com o vento e vai deixando o seu rastro. A performance do pincel
pintor é tão divertida que as crianças quase não conseguem esperar pelo
próximo sopro de vento. Eles mesmos começam a colaborar, assoprando contra
o barbante. As sacolas pintadas pelo vento são penduradas então nas árvores.
O artista japonês Rikou é conhecido por pendurar pequenas canetas em todo o
tipo de galhos e posicionar logo abaixo uma de folha de papel.
O vento empurra os galhos quando ele tem vontade. “Temos que ouvir a
natureza”, diz Rikou. “Se não a ouvirmos, ela se enfurece”.
Há alguns que escalam, outros que brincam. Niels Emil quer coletar mais ar da
�loresta.
Todos gostam de estar ao redor das árvores.
Enquanto as crianças continuam a ajudar o vento a pintar, eu escuto um menino
dizer:
“Essa sacola é para o meu avô. Ele morreu”.
Um outro menino: ”Ele está no céu?”
“Não, ele foi pra debaixo da terra”.
“É hoje que vamos fazer mágica?”
As crianças chegam correndo, contentes e demonstrando muita expectativa.
Dorthe contou para as crianças, enquanto elas comiam as frutas da hora do
lanche, que Anna Marie tinha um feitiço para nos mostrar.
Tem chovido há muitos dias.
Daquelas chuvas pra valer.
Pareceu-me uma boa ideia colocar bacias e panelas para recolher a água da
chuva, pois podemos usar a água da chuva para algum experimento artístico.
Os rumores chegam ao fim: É hora de feitiçaria.
As crianças estão inacreditavelmente curiosas. Elas formam uma roda em torno
de uma vasilha usada, cheia de água da chuva.
Eu recorto rapidamente uma figura que se parece a um boneco de cabelos
espetados, com braços e pernas bem gordas.
O segredo do truque está em dobrar o pedaço de papel: braços, pernas e cabelos
do boneco, todos dobrados para o centro da figura. Cuidadosamente coloco a
dobradura para �lutuar na superfície da água... E então: “Abracadabra!”. Antes
mesmo que eu tivesse terminado as minhas palavras mágicas, Theis grita: “Olha!
Ele mexeu os braços!”. Sim, e logo são as pernas que ganham vida. É realmente
uma experiência mágica. As crianças se empolgam com o truque que
aprenderam. Muitos já planejavam os seus truques para realizá-los quando
chegassem em casa.
“Abracadabra!” Eles mal conseguem esperar para tentar.
Faz bastante frio para os nossos dedos quando usamos a tesoura, por isso hoje a
atividade se concentrou mais em apenas dobrar os cantos dos papéis e vê-los se
abrir.
Precisamos ter um pouco de paciência se um pedaço grande for dobrado sobre
outro, ou se usamos um papel grosso (embalagens finas também podem ser
usadas). “Eu espero”, diz Toke, enquanto ele se ajoelha no gramado com os
braços sob o queixo. Ele fica contente quando vê que o feitiço está dando certo.
Eles vão abrir sempre.
Em um outro dia, faremos isso diretamente nas enormes poças d´água do
parquinho. Nós estamos sempre preparados para um número de mágica.
MÁGICA NA ÁGUA DA CHUVA
CABIDES DE VENTO
O artista japonês Rikuo Ueda me contou que existem mais de 2.000 palavras em
japonês para nominar o vento.
“Mais de 2.000 palavras...!?” Eu comecei a pensar nas palavras que temos:
vento... tempestade... uhn... brisa...furacão. Não temos tantas palavras assim na
minha língua.
Hoje temos um vento forte na encosta do nosso pequeno bosque. As crianças
estão ao redor das grandes árvores. É como se as árvores fossem uma mãe
protetora, com os seus enormes e numerosos braços de galhos, onde as crianças
podem se dependurar.
Mas é o vento que queremos por à prova. Eu tenho comigo alguns cabides velhos
e tiras de jornais.
Nós temos que dar abrigo uns para os outros, enquanto pregamos com fita crepe
as tiras de papel nos cabides.
As tiras de jornais se agitam muito rapidamente, cheias de vontade, quando as
crianças começam a correr com os cabides.
O vento é um presente no dia de hoje. Algumas meninas descobrem rápido uma
brincadeira: Lærke e seu cabide de vento são um dragão feroz a perseguir Laura.
Findada a perseguição, elas se sentam juntas em um grande toco de madeira.
Agora o cabide de vento é usado como um objeto de cabeleireiro. Lærke
experimenta pentear o cabelo de Laura com as tiras de jornal.
É fascinante quando, em seguida, pouco a pouco, muitos dos cabides de vento
são pendurados nas árvores.
Um som único: chacoalha, chacoalha, chacoalha. Um barulhinho muito gostoso.
Quando está na hora das crianças pegarem suas lancheiras, nós nos mudamos
para um lugar onde o vento não está tão forte.
Levamos os cabides junto.
“De onde o vento sopra?”
O VENTO SABE LER
Em um passeio na �loresta, em dia de vento, pode ser muito bom ter consigo
alguns livros.
Assim o vento pode ler...!
Justamente hoje estou preparada para o vento. Nós podemos “ver” o vento nas
árvores, antes mesmo de sairmos.
Eu coloco alguns livros no chão inclinado, onde o vento possa chegar.
Nikolaj e Andrea ficam completamente encantados quando veem que o livro é
folheado sozinho, por causa do vento.
Alguns livros são melhores que outros, e as páginas não devem ser muito
pesadas para que o vento consiga virá-las.
As crianças estão muito envolvidas com esse truque do vento. Eles se ajoelham
ao lado dos livros e esperam...!
De repente o livro é folheado.
Entre as crianças, surge uma bonita conversa sobre as imagens que aparecem ao
acaso nas páginas viradas pelo vento.
Experimente!
Pura poesia de vento.
CAÇADORES DE SOL
A meteorologia prometeu sol para o dia de hoje.
Que maravilha! Eu acabo de encontrar no porão um globo espelhado, daqueles
de discoteca, que já não tem mais uso. Normalmente relacionamos o globo dediscoteca com lugares escuros. Mas também é super divertido usá-lo em lugares
iluminados, para capturar alguns raios de sol.
“É possível caçar os raios do sol?”
Nós penduramos o globo em uma castanheira. Eu trouxe também alguns
globinhos extras para pendurar nos pinheiros. Os caixotes de plástico da escola
de educação infantil são utilizados como uma espécie de plataforma.
Obviamente, se queremos pegar os raios do sol, temos que alcançar alto.
Encontramos alguns galhos espalhados no chão. Eu mostro para as crianças
como é fácil fazer um caçador de sol. Um galho com um pedaço de papel, ou
papelão, grudados com fita crepe.
“Agora eu posso, quando o sol brilhar”.
“Agora eu posso também”. As crianças estão ansiosas para saber quando é o
momento certo para a captura.
“É agora?”
A próxima mágica acontece.
“Mas como vamos pegá-lo?”
As crianças viram e giram os caçadores de sol e, de repente, o sol está lá. Eles
descobrem como posicionar o caçador de sol do lado certo. As crianças,
evidentemente, estão fascinadas. Nós adultos também estamos.
Damos uma volta debaixo da luz do sol sem poder olhar para os raios.
“Podemos levar os caçadores de sol para casa?” Naturalmente que todos podem.
Encontramos alguns pacotes de café vazios, que tem revestimento metálico. Nós
os abrimos.
“Podemos usar isso para pegar o sol?” Vamos tentar. Magnus é muito curioso e
juntos testamos. Sucesso! O pacote de café re�lete a luz no caçador de sol.
Lembre-se de guardar o máximo possível de coisas que tenha uma superfície
re�letora. Magnus consegue uma tampa bonita de uma lata de chocolates que
nos dá uma forma muito interessante no caçador de sol.
Estamos todos num campo de pesquisa artística. De repente me ocorre que é a
busca que nos une, pois nos ocupamos de algo em comum e reconhecemo-nos
por meio dessa ação.
Simples materiais que nos permitem fazer grandes perguntas.
BURACOS VIVOS
Hoje temos sol e vento. Bem do que precisamos para brincar com os buracos de
luz.
Nós penduramos no varal todas as coisas compridas que temos. Velhos papéis
de parede, cortinas usadas, tiras enormes de um rolo de papelão ondulado.
O varal ao redor da caixa de areia é ótimo para construir diferentes ambientes.
Nós recortamos alguns buracos nas longas tiras de papel ou tecido. Com a ajuda
do sol, podemos ver os furos projetados na caixa de areia. Eles se movimentam
com o vento.
Os pequenos da creche tentam agarrar os buracos de luz.
Em outros buracos, experimentamos o que poderia passar através deles.
Pauzinhos, areia, pedra.
Um incentivo à curiosidade parece o melhor caminho para começar: o que
conseguimos passar pelos buracos?
Chegam a todo o momento os pequenos curiosos. Nós intercambiamos coisas
diferentes pelos buracos.
Mas de qual buraco isso saiu?
Cortamos dois buracos em um papel de presente usado. Rikke quer muito pegar
os buracos de sol.
Anna entra na brincadeira com a pequenina, segurando e movimentando o
papel. Rikke começa a fazer um barulho a cada vez que consegue “pegar” a luz
projetada.
A cada momento um som diferente, inspirado pelo movimento.
Uma linda performance. Poderia ser um espetáculo em qualquer teatro do
mundo.
É tão grandioso estar junto com nossos pequeninos.
Inesquecíveis buracos vivos.
COBERTORES DE JORNAL
Os primeiros dias de outono são sempre encantadores. Nós absorvemos o sol, a
brisa suave e a bela visão dos brotos verdes nas árvores.
No bosque, perto da escola, há uma grande concentração de arvores. Nós
amarramos cordas de varal entre elas.
Eu juntei com fita adesiva algumas páginas de jornal, dando a elas o tamanho de
um cobertor.
“Nossa!”, diz um menino, “onde você conseguiu um jornal tão grande assim?”
Nós penduramos o cobertor nos varais que fizemos.
Cheias de alegria, correm as crianças de um lado para o outro entre as páginas
gigantes, que se movimentam no vento suave.
Temos aqui muitas tesouras que nos permitem fazer essa grande oficina de
recorte na �loresta.
O critério de escolha entre as crianças é completamente diversificado. Algumas
olham as imagens e cortam ao redor delas, enquanto outras cortam grandes
formas. Rapidamente as formas vão sendo destacadas das enormes páginas de
jornal.
Recortes nas dimensões do corpo e com a ajuda do corpo: eles levantam, se
esticam para alcançar as páginas, ajoelham, rodopiam.
No centro, entre os cobertores de jornais, temos duas velhas capas para
edredons, como se fossem fronhas gigantescas. Combinamos de recolher todos
os pedaços de jornal cortados e colocar dentro das capas.
Ouve-se que eles conversam entre si.
“Olha aqui! O pai do Mikkel está no jornal”. Todos correm para ver.
Christo�fer encontra uma foto de um porco que fuma. Niels Emil recorta
cuidadosamente a forma de um navio.
Sara encontra a receita de uma sopa. Outros, no centro, sentados juntos, dão
continuidade aos recortes. As enormes páginas de jornal são progressivamente
transformadas em pequenos pedaços presos ao varal. O resto virou um macio
“cobertor-�lorestal-com-recheio-de-jornal”. Nossas histórias estão agora dentro
da capa para edredom. Deitamos-nos sobre elas e desfrutamos da vista,
admirando o balanço da copa das árvores.
ROLOS DE JORNAIS
Todo o gramado atrás dos galpões está fascinantemente enlameado.
Neve derretida seguida de chuva só podia resultar nisso e logo pela manhã.
Estamos contentes em poder ocupar toda essa área.
Temos juntado jornal por um longo período. Nós os enrolamos e prendemos
com fita crepe em volta.
Isso é um precioso material de construção. A quantidade vai aumentando. Mais e
mais jornal, rolos e rolos.
O gramado está encharcado demais para construir algo sobre ele. Nós buscamos
algumas caixas de papelão que sobraram da última vez.
Funcionam muito bem como alicerces.
Os meninos são os primeiros a começar. Eles conhecem o método de construção,
mas a surpresa vem quando eles dão conta de que os rolos de jornais são de
diferentes espessuras. Exigem concentração para equilibrá-los. Trabalho coletivo.
Justamente o que esse material desafiador proporciona.
É maravilhoso estar aqui!
Eles constroem sem parar, e de repente já não há mais jornais. Então, nós
conseguimos mais alguns. As crianças mesmas descobrem como conseguir mais
materiais.
Uma bela dinâmica num gramado grudento num dia úmido de fevereiro.
Nada de vento. Esse é o clima ideal para a nossa construção.
Os pequenos de 3 anos constroem artisticamente e brincam ao mesmo tempo.
Margit: “Como as crianças estão felizes por você tê-los trazidos aqui fora. Aqui as
crianças se sentem livres e incorporam a brincadeira, por isso eles se envolvem
tanto ao ponto de não conseguirem mais parar.”
Dois meninos grandes vão além. Mais e mais alicerces são acrescentados à
brincadeira. A construção de rolos de jornais prossegue. É realmente muito
criativo, uma descoberta. Estou muito entusiasmada e quase que não posso me
conter de tanta alegria.
Anne se desafia a cada momento em construir a torre mais alta.
Theis descobre a construção em forma de pirâmide. “Pirâmides como no Egito”,
diz Anne.
Theis: “Quando eu era bebê, vi uma torre muito alta. Minha mãe me mostrou
uma torre de uma igreja.”
Anne e Theis são agora os últimos que restaram no gramado.
Eles constroem juntos com quase todos os rolos de jornais que temos e mal
conseguem parar. Faz muito sentido para eles.
A arte como maneira de estar juntos.
A brincadeira com os rolos de jornais não tem limites.
ENCAIXE AS PEÇAS
Brincadeiras nas caixas de papelão com as crianças da creche.
Quando um dia me sentei para brincar junto com uma criança pequena com um
daqueles “encaixe as peças no cubo”, com triângulos, quadrados e círculos,
percebi quanto o desafio é rapidamente superado.
Podemos encontrar um outro tipo de “encaixe as peças”?
A previsão do tempo diz: “Amanhã fará um frio daqueles”.
Não é um grande problema, pois a atividade de hoje faz com que não nos
importemos com isso.
“Eu adoro as caixas de papelão”, comemora Siline em uma brincadeira bem
agitada com Lærke.
Temos uma montanha de caixas de papelão no fundo do parquinho.
Eu começo a recortarumas formas orgânicas. Umas folhas caídas no chão me
inspiram a recortar a forma de folha.
Siline: “Você também pode fazer uma banana.”
Lana, mais tarde : “Você também pode fazer um �loco de neve”
Logo temos muitas formas de papelão espalhadas por aí. É um desafio
tremendo encontrar as caixas onde as formas se encaixam.
As crianças de 4 anos começam ajudando os pequeninos da creche. Mas elas
logo se esquecem, porque lhes parece mais divertido engatinhar para dentro e
para fora através das formas que eu cortei nas caixas. É tudo muito dinâmico.
As bochechas das crianças e dos adultos ficam cada vez mais vermelhas por
causa do frio. Chega a dar um pouquinho de pena, mas tudo bem, elas estão
acostumadas. As professoras tentam experimentar se os seus pés entram pelos
buracos menores das caixas.
Diversão e bagunça num dia frio.
Eles correm por toda parte. Algumas crianças encontram galhos e os usam para
bater nas caixas.
Toke está empolgado com a forma de coração. Grande alegria quando ele
encontra o buraco na caixa onde o coração se encaixa.
Caixas grandes e pequenas, todas trazidas de muitas casas diferentes.
Alguns meninos experimentam ver quantas caixas pequenas cabem dentro de
uma caixa grande.
As crianças da creche começam a entrar nas caixas e a olhar através dos buracos.
Um novo jogo de encaixe: encaixar-se a si mesmo dentro delas.
Naturalmente.
CAIXAS DE PAPELÃO E JORNAIS NO QUINTAL
Muitos pais chegaram com caixas de papelão enormes. Com o crescimento das
compras via internet, sobram constantemente embalagens de papelão. A escola
fica muito contente em recebê-las.
Em uma empolgante manhã de inverno, a lua aparece como se fosse um queijo
brilhante envolvida no céu azul escuro límpido. Estamos certos de que teremos
um dia bonito hoje.
As crianças chegam arrastando as caixas grandes por todo o caminho,
atravessando o parquinho até o fundo do jardim, voltado para o leste. Bem ali é o
nosso lugar hoje. Desejamos ver o sol raiar através das caixas.
São os meninos que arrastam as caixas. Eles começam logo a engatinhar pra
dentro e pra fora delas.
Dorthe traz a cola, e eu, jornais velhos. Pincéis largos para a cola. Colagem com
papelão? Acho uma ótima ideia. O tamanho grande das caixas chama a atenção
tanto dos meninos quanto das meninas.
Elas se tornam logo uma caixa só de meninos e uma caixa só de meninas. A cola
é espalhada pelas paredes das caixas enquanto muitas imagens divertidas são
encontradas nos jornais. Automaticamente elas são colocadas, criando novas
composições, de maneira surpreendente. As caixas são viradas. Colagem do lado
de dentro e do lado de fora. Muito trabalho coletivo.
Alguns meninos escalam as traves de futebol, assim eles podem colar no topo
das caixas. Todos estão muito engajados. A cada momento surgem novas ideias
dentro da caixa. No teto, naturalmente deve também haver colagem. “Também
aqui no chão”, ouve-se um grito. O tempo voa. Muitas crianças nessa manhã
ensolarada de janeiro. Há suficientes caixas de papelão e jornais para todos.
Colagem de materiais que foram descartados.
Encontramo-nos aqui fora a recontar e a renovar as experiências artísticas.
MÁQUINA DE DESENHO
Mesmo com a temperatura negativa, as crianças devem sair para respirar ar
fresco.
Encontramos um lugar no parquinho um pouco mais abrigado.
Um dos pais da escola consegue caixas enormes de papelão com
facilidade.
As caixas me inspiraram a ideia de uma máquina de desenhos.
As crianças fazem uma verdadeira festa quando as caixas são montadas.
“Agora eu vou cortar uma pequena fresta aqui, assim os desenhos podem entrar
e sair das caixas”.
A disputa para entrar primeiro na caixa é grande.
“Não dá para entrar”, dizem as crianças. Corto então uma porta na lateral da
caixa. Eles mal podem esperar.
O clima frio nos da uma energia extra, tanto assim que logo ninguém reclama
mais dele. Faz bastante frio, mas o curioso é que justamente o frio ajuda a
aquecer os motores das nossas máquinas.
Há muita curiosidade e descoberta, tanto com os meninos quanto com as
meninas.
Juntos, definimos um “código sonoro” que serve para encomendar os desenhos.
Quando se bate forte nas máquinas, é um desenho grande que se pede. Uma
batida fraquinha significa um desenho pequeno. Um arranhão na caixa é carta
branca para que “a máquina” decida. Usamos sobras de diversos tipos de papel
vindos de uma gráfica.
Conseguimos ouvir o trabalho coletivo acontecendo dentro da caixa.
As crianças que esperam pulam de alegria quando, de repente, sai um desenho
novo pela fresta.
Eles são bons em revezar entre quem desenha e quem espera pelo desenho.
Conversas divertidíssimas dentro e fora da caixa.
“Nós queremos continuar a brincadeira das máquinas de desenhos...”
Naturalmente. Brincadeira sem fim.
OLHO MÁGICO
A alegre Signe diz: “Eu posso ver pra frente e pra trás”. Todos riem. Prendemos
com fita adesiva galhos derrubados pelo vento em CD´s usados. Quando
olhamos pelo buraco redondo, enxergamos o que está à frente. Mas ao mesmo
tempo conseguimos ver o que esta atrás quando olhamos na superfície
espelhada dos CD´s.
“Eu estou espiando você”, diz Laura, “ninguém sabe para que estamos usando os
CDs. É um segredo”.
Logo estão muitas crianças a espiarem os adultos e uns aos outros.
“Conseguimos ver tudo no parquinho”, relatam para mim Mathias e Anders,
cheios de satisfação.
Um pouco de improviso, estou eu abaixo de uma grande árvore no parquinho.
Essa é a oficina do dia.
Mais adiante encontramos muitos CD´s descartados, que são um convite para
que ganhem um modo novo de serem utilizados. O artista danoislandês Olafur
Eliasson nos inspira a ver de um outro modo. Ele fez, por exemplo, uma
interessante bicicleta com espelhos nas rodas. Conseguíamos ver então uma
espécie de assemblage da paisagem, como que partes selecionadas e
fragmentadas do mundo. Dessa maneira, nossos olhos veem o conhecido de
uma maneira nova.
As crianças correm em cadeia, uns atrás dos outros, com os CD´s atados aos
galhos encontrados, em diversos tamanhos e espessuras. Outras crianças andam
nas bicicletas da escola. Vários na mesma bicicleta, como que em um desfile.
“Eu vi você!”, exclama Mikkel.
Quando as crianças descobrem o “olho duplo”, é muito divertido entrar na
descoberta.
Quando a mãe da Sara chega para buscá-la, ela logo conta como foi a
experiência. Sara vai embora de mãos dadas com a mãe, enquanto segura na
outra mão o seu “olho mágico”, como ela mesma o batizou.
FOLHAS SECAS E JØRGEN & LARS
Andamos sobre uma camada de folhas secas que se formou na pequena �loresta.
Claro que devemos usar as folhas para algo.
O artista Peter Land, da Mixed Media, tem trabalhado muito com figuras
humanas, com braços e pernas com extensões. Eu quase caí em uma das suas
exposições ao tropeçar numas dessas longas pernas.
Essa foi a inspiração para correr a uma loja de roupas usadas. Os brechós por
aqui já não sabem mais o que fazer com a enorme quantidade de roupa que têm
recebido.
Em pouco tempo é possível alongar uma calça com as pernas de outra calça, e da
mesma forma uma camisa.
Meias velhas viram pés, e luvas velhas viram mãos. Um galho seco e uma
camiseta velha se transformam em uma cabeça.
As crianças estão curiosas, e também animadas, quando os bonecos ainda
planos surgem da minha bolsa.
Como chove um pouco, as folhas estão úmidas, mas assim mesmo elas logo são
usadas para preencher braços, pernas e barriga.
As crianças não param de falar.
É tudo muito dinâmico:
“Ele não está gordo o suficiente”, “Onde estão os seus ossos?”, “O que será que ele
comeu?”, “Vem aqui me ajudar a segurar a perna dele”. Um belo trabalho em
equipe.
“Como eles se chamam?”
Imediatamente surgem os nomes dos pais das crianças.
O pai do Asgerse chama Jørgen e os pais de quatro crianças tem o mesmo nome,
Lars.
Assim, Jørgen e Lars pouco a pouco ficam mais e mais cheios. As meninas
escolhem trabalhar com Lars, e elas são muito rápidas.
As crianças começam a competir: surge o time das meninas e o time dos
meninos. Quem será que conseguirá terminar primeiro?
O clima frio e úmido é sempreum estímulo energético, e por outro lado a
agitação se faz até necessária, pois assim é possível manter-se aquecido.
Sara decide aproveitar Jørgen e Lars para explicar os tamanhos:
grande, medio e pequeno. São necessárias três meninas para chegar ao tamanho
dos bonecos.
“Será que eles conseguem subir na árvore?” Enquanto as crianças escalam as
árvores, os bonecos ficam encostados lado a lado.
Novamente um belo esforço em equipe ao carregar os bonecos de folhas de volta
para continuar a brincadeira na escola.
Sete crianças são necessárias só para carregar o Jørgen.
Um turbilhão no bosque.
UM POUCO DE TUDO NA LOJA DO CAMPO
Frequentemente acontece que se tem um pouco de tudo no armário: um pouco
de argila, uma pilha de retalhos de cartolina, um pacote de carvão, aquarelas,
tesouras e pincéis. Se, além disso, ainda tivermos guardadas algumas sacolas de
compras, temos a combinação perfeita para a loja no campo.
Temos um telefone velho, e logo alguém diz: “Nossa, minha vó tem um
igualzinho a esse!”
Mal acabo de colocar dois telefones sobre dois troncos de árvores cortados e um
outro sobre uma caixa de maçãs, que o campo se transforma na loja.
Em pouco tempo as crianças decidem quem será o vendedor e quem será o
cliente, apesar de ambos papéis serem envolventes. O que interessa é que os
pedidos comecem a ser feitos.
O telefone não pára de tocar, e os pedidos chegam:
“Eu gostaria de pedir um leão marinho” “... um jumento” “... um vestido vermelho”.
Na nossa loja temos de tudo, tudo pode ser criado. Podemos desenhar, cortar,
formar com argila ou pintando com aquarela (a água que usamos é chuva
guardada numa garrafa PET). E os materiais são simples e as crianças os usam
com muito carinho e cuidado. Todos estão de bom humor.
Continuam os pedidos: “Hamburger.... ah, e já ia me esquecendo, um
refrigerante também”. Rapidamente tudo é providenciado. Matilde ao telefone:
“Gostaria de pedir umas jóias”. Os pedidos são entregues nas sacolas de compras
e assim toda a criatividade se manifesta no trânsito ativo entre a loja e os
clientes. Philip e Emil trabalham intensamente.
De repente diz Nana: “Poderíamos vender obras de arte também”. Em seguida ela
faz uma pintura com aquarelas e pendura num galho perto da caixa de maçãs.
Sara está animada e diz: “Com certeza temos que ter uma loja assim pronta para
nossos passeios”.
LÁPIS DE ARGILA
Um rolinho de argila pinta surpreendentemente bem.
Argila seca rápido.
Assim como uma caneta dos velhos tempos, precisa ser umedecida
constantemente.
Foi ideia do William.
Colocamos a argila à disposição e um balde de água para enxaguar as mãos.
Em pouco tempo a água está bem turva e William decide jogar uns pedacinhos
de argila dentro do balde. Eu tento jogar um pouco desta água num pedaço de
papelão para ver se o tinge, mas fica quase imperceptível. Então William sugere
pescar os pedaços de argila e isso sim é uma boa ideia. Vemos o belo traço que a
argila molhada faz e isso inspira as outras crianças.
Zaccarias mergulha a ponta do seu “lápis de argila” no balde e faz um traço, e
logo de volta para o balde. Ele repete este método por um bom tempo.
Julie diz: “Estou desenhando minha mãe. Não, é você! Olha só o seu rabo de
cavalo”.
É possível desenhar com argila. Isto é pesquisa de materiais. A ideia do lápis de
argila não estava no programa do dia.
As pedagogas brincam junto com as crianças, pois sabemos que quando nos
atrevemos a fugir do tema do dia, é aí que o novo aparece.
E hoje temos tempo para isso.
EXPOSIÇÃO DE PAPEL MANTEIGA USADO
Puxando uma corda de varal em várias direções, por todo o jardim, cria-se um
ateliê ao ar livre.
Simples, mas tudo indica que bastante inspirador, pois as crianças logo ocupam
todo o espaço.
Já há algum tempo estamos coletando papel manteiga usado por meio de um
comunicado para os pais.
Ouvimos sempre dos pais: “Mas... vocês querem papel manteiga usado?”
Isso mesmo.
Marcas de pãezinhos, enroladinhos, bolachas.
“Neste daqui fizeram pizza”.
“Aqui eram bolachinhas”.
Essas marcas põem tudo em movimento.
Todos os tipos de giz podem ser usados no papel manteiga e muita conversa
durante todo o processo.
O céu está totalmente aberto depois de uma noite fria, e o vento fresco envolve
todo o jardim.
O vento faz o papel manteiga sacudir, tira dele um som peculiar.
“Esse barulho parece a gente comendo bolo”, diz uma menina, que volta a ouvir
com atenção o som do vento.
É bem divertido também usar os prendedores de roupa para pendurar os papéis
no varal.
“Agora o vento parou”. De repente tudo fica em silêncio. E subitamente o vento
sopra.
A descoberta do ritmo da natureza se faz evidente.
Todo o papel manteiga é utilizado, e parece como se estivéssemos sendo
carregados pela energia do dia.
Quando estamos fora não se pode dizer que o processo parou,
porque é simplesmente delicioso estarmos juntos.
Para os meninos, é também uma experiência estranha isso de se deixar levar
pelas marcas no papel manteiga.
Dorthe vai buscar as caixas de papelão que usamos da última vez no jardim.
Aquarela é muito bom para papelão.
Enquanto isso, os papéis manteiga seguem a balançar livremente pelas cordas
de varal puxados por toda parte.
DESENHOS INVISÍVEIS NA NEVE
O sol ilumina intensamente o tapete de neve que se formou.
Encontramos um velho varal de chão e o levamos para fora.
Aqui poderemos pendurar os pequenos desenhos com aquarela e formar uma
bela instalação artística.
Desenhos invisíveis são o ponto de partida.
Desenhamos primeiro com uma espécie de giz de cera transparente. Onde está o
desenho? Voilà. Com a aquarela, o desenho surge.
Todos nós conhecemos a técnica.
Mas ao ar livre, tudo fica melhor e diferente.
É quase impossível parar esta brincadeira tão divertida que é fazer surgir
imagens.
Sempre guardo sacos de papel grandes
e hoje temos muitas crianças conosco.
Todos os materiais são usados, e pintar dentro dos sacos é muito divertido
quando se está ao ar livre.
É preciso levantar-se e esticar-se bem para alcançar o fundo do saco.
Algumas crianças estão sentadas na neve em pequenos grupos, outras sozinhas.
As pedagogas logo percebem quantas das crianças estão participando nas
diferentes propostas.
Mas ninguém se dá conta do grande número de crianças, porque ao ar livre há
lugar para todos.
Mais uma vez uma manhã agradável no jardim.
A RODA DA SORTE ARTÍSTICA
Recentemente houve um acontecimento na escola de educação infantil que
deixou as crianças bastante curiosas: um adulto precisou trocar a roda da sua
bicicleta e deixou a roda velha no parquinho. Uma roda em movimento é sempre
atraente.
O que podemos fazer com uma roda velha?
Uma roda da sorte artística, claro.
Desenhamos um círculo grande por volta da roda e a dividimos em algumas
fatias.
Em cada fatia colocamos uma ideia artística que pode ser desenhada ou algum
objeto pode ser colocado para representar a atividade. Muitas abordagens
podem ser feitas dependendo da necessidade e dos recursos.
Hoje temos alternativas divertidas.
Podem-se “ganhar” dez lápis de cor amarrados com uma fita crepe e assim
desenhar dez linhas de uma vez só.
Outra ideia é puxar uma pedra de um saco e inventar toda uma história.
Ou então desenhar uma imagem secreta dentro de um saco de papel, pintar
com uma escova de dente, fazer algo com argila ou com carvão.
As opções são infinitas.
Os adultos estão certos que continuarão com a atividade de “roda da sorte
artística”.
Vemos que todas as crianças estão interessadas. Algumas delas conseguem
completar as seis propostas e as meninas são as mais empenhadas hoje.
Sempre há algo de atraente no acaso. Qual será a atividade que vai sair pra mim?
Essa expectativa também faz parte do processo.
A roda gira sem parar e estamos todos a sua volta.
“Pois é, uma coisa tão simples, e assim mesmo com tantas possibilidades”, diz o
professor Martin.
O formato redondo da roda cria mesmo uma boa convivência.
COLAGEM CORPORAL
Colagem com as crianças de um a dois anos. Tempo sem vento, o que significa
que poderemos despejar sobre o gramado todos os restos de papelde presente,
jornais e papel colorido que temos guardados sem nos preocupar de que tudo
seja levado.
Levei comigo um paletó comprado numa loja de roupas usadas. Vesti-o e sentei-
me num caixote.v
As crianças maiores começam, com a ajuda dos adultos, a colar os pedaços de
papel na minha roupa enquanto os menores se divertem experimentando as
possibilidades do material disponível, jogando e rasgando. O que podemos fazer
com papel?
Em pouco tempo, as crianças maiores conseguem a cola e o papel.
Andreas, de dois anos, preocupado, pergunta: “Você ainda consegue andar?”
Andreas está bastante empenhado em que eu tenha pedaços colados por toda
minha volta e preenche mais um buraco. Ele não pára de falar durante todo o
processo, e vejo que ele está muito envolvido tanto com a atividade quanto com
o seu desenvolvimento da fala. Ele fica uma hora e meia sem parar de fazer uma
coisa ou a outra, e logo se torna um mestre em colagem.
Pouco a pouco, os pequeninos também se aproximam para participar da
colagem. Marie descobre um bolso no paletó e logo o preenche com papel. O
fascinante de estar junto aos menores num processo criativo é que eles não
racionalizam o trabalho em si.
Andreas dá uma resposta certeira de como manter-se vivo com a arte, e meu
coração bate forte ao contemplar sua atitude.
GALHOS FALANTES E ÁGUA DA CHUVA
A previsão do tempo indica que choverá durante a noite e
por isso colocamos panelas e travessas no jardim para juntar toda a água e
vemos que foi possível acumular muito.
O suficiente ao menos para que as crianças brinquem com aquarelas na região
do bosque.
Quando saímos logo cedo ainda está garoando.
Podemos fazer galhos falantes.
Galhos falantes? O que será isso? Estas crianças já são grandes o suficiente para
conhecer balões de fala das revistas em quadrinhos e por isso recortamos vários
balões de fala de papel.
Antes de sair de casa, desenhei em um dos balões, acompanhada pelo meu gato,
árvores sem folhas num dia de chuva.
Seguro o balão perto da boca e as crianças logo começam a dar risada, e claro,
eles também fazem suas criações com a ajuda dos adultos. Estamos juntos por
um longo tempo em que conversas surgem sobre cabanas, o sol, borboletas e
outras belas composições. Gustav e Philip percebem que a bandeira nacional
está hasteada na entrada do parque e tem a ideia de fazer balões de fala de
bandeiras: a sueca, a norueguesa, a finlandesa, a dinamarquesa, a francesa. Eles
também sabem desenhar a bandeira alemã e a japonesa e a todo momento
voltam com mais uma bandeira e colocam em frente das nossas bocas. “Qual é o
som da Finlândia? e no Japão?” Quanta diversão!
Enquanto os balões secam, saímos a caça de galhos caídos sob o chão do
bosque. Por sorte agora encontram-se muitos, pois as árvores foram podadas há
pouco. As crianças encontram galhos de todos os tipos: grandes e pequenos,
com e sem folhas secas, tortos e retos. Galhos falantes personalizados.
O QUE ESTAMOS PENSANDO?
Um dia decidimos fazer balões de pensamento. Doze meninos cheios de energia
participam do passeio ao bosque e eles conhecem bem os balões de
pensamento. Trouxemos giz de cera e alguns balões de pensamento vazios.
Todos estão felizes no bosque correndo para lá e para cá.
“Ai, minhas pernas estão cansadas”, diz Mathias.
Então nos juntamos em volta de uma árvore enorme e percebemos que aqui é
um bom lugar para pensar.
Os balões de pensamentos parecem nuvens, dizem os meninos.
Nisso, todos ficam em silêncio.
Os meninos e nós, os adultos, começamos a pensar.
Está tudo tão silencioso que William diz “Consigo ouvir um carro”, e o som dele
está realmente muito distante.
Incrível que ele o tenha escutado. Pensamentos como forma de convivência.
Parece que todos nós estamos aproveitando essa liberdade que se experimenta
ao desenhar em paz tudo aquilo que se pensa.
Os meninos se encontram com seus balões de pensamento e contam uns aos
outros o que cada um pensou.
“De onde vêm os pensamentos?”, pergunta alguém ao colocarmos os balões
junto à cabeça. Assim iniciamos uma longa conversa.
Niels anda segurando seus balão de pensamento. Ele desenhou um ônibus e diz
sorrindo “Vamos buscar o meu pai no ponto de ônibus”.
CAIXAS DE PAPELÃO COM AREIA
Desde que vi uns baldes no chão sendo usados como base para uma escultura
em Berlin, essa imagem ficou gravada na minha mente.
Uma possibilidade para a creche.
A enorme caixa de areia é um lugar incrível.
As caixas que os pais nos trouxeram são distribuídas e começamos a enchê-las
com areia.
Os pequeninos do berçário põem-se a fazer o mesmo.
Cada vez que estou com crianças pequenas penso na importância das nossas
ações e palavras quando estamos com elas, afinal, elas nos imitam em tudo.
Encaixamos galhos dentro das caixas e como há uma leve brisa pensamos que
será uma boa ideia colar umas folhas de papel com fita adesiva.
Será que conseguiremos acertar o pincel na folha trêmula?
As crianças se divertem com a proposta e logo todos os galhos tem uma folha na
ponta. Usamos aquarelas aproveitando água da chuva. As caixas que ficaram
vazias são viradas. Olhe lá dentro. Pinte o fundo. As caixas são viradas
novamente e se transformam em mesas. Sobre a mesa podemos fazer criações
com areia e assim o tempo todo há novas relações em andamento em volta das
caixas. Camila conta que as caixas ficam a disposição das crianças o tempo todo
e que eles sempre encontram novas brincadeiras. Só são recolhidas quando a
chuva começa a dissolver o papelão.
Isso mesmo. Como uma linda música que ora está, ora desaparece. Resta apenas
a lembrança.
AS MEIAS DE VENTO
“Meias de vento, o que é isso?”, pergunta Anna enquanto mexo na minha bolsa
depois de ter dito que eu trouxera meias de vento comigo. Ela me ajuda a puxar
as meias-calças para fora.
Elas dançam e se mexem livremente com o vento assim que saem da bolsa.
“Sim, elas são meias de vento”, grita Anna alegre e surpresa.
Estamos numa pequena área com algumas poucas árvores, mas as crianças
dizem que é a �loresta.
Agora já se notam novamente as folhas escuras que antes estavam cobertas pela
neve.
Tentamos enfiar as folhas nas meias. Será que elas ainda conseguem dançar?
Sim, ainda estão belas, então continuamos a preenchê-las com mais folhas.
Muitas das crianças perguntam, curiosas:
“Você trouxe mais meias de vento?”.
Sim, há ainda muitas meias na minha bolsa. Pais e professoras procuram nas
suas gavetas por meias com fios puxados e isso é inevitável que aconteça. Por
isso, sempre teremos meias de sobra.
Em pouco tempo vemos a “�loresta” cheia de crianças. O sol está brilhando, e a
brisa suave nos envolve. Melhor impossível.
Mikkel e Theis estão enchendo as meias com folhas. Mal podem esperar para
pendurá-las no varal que fizemos puxando a corda pelo jardim.
“Parecem as pernas da minha mãe”, diz Mikkel ao ver as meias balançando ao
vento. Os dois meninos pensam em fazer um espetáculo circense: dança em
círculos, jogar as pernas da meia sobre o varal e andar na corda bamba,
palhaçadas.
E como fico feliz. Crianças interagindo com a obra.
O tempo todo surgem crianças com meias de vento cheias de folhas.
Toke e Mathilde se ajudam, andando juntas pelo terreno buscando outros
recheios: grama seca, pequenos pedaços de galhos quebrados, capulhos vazios.
As meias também são atraentes ao toque.
O varal está quase todo preenchido.
“Olha, elas estão dançando juntas”, diz Thilde que, por um bom tempo, ficou
admirando as meias e imitando o seu movimento ao vento.
Ritmo artístico em plena terça-feira.
A ARTE DO EQUILÍBRIO
Minha tradutora chinesa chama-se Poca. Ela parece um pouco a Pocahontas. Ela
é uma menina doce de uma província ao norte da China, mas o futuro dos jovens
está nas cidades. Poca segue seu caminho para Beijing porque ela era muito boa
em falar inglês. Agora ela conseguiu o trabalho de me seguir a todos os meus
workshops com as incríveis crianças chinesas, um projeto em parceria com a
Embaixada da Dinamarca na China.
Poca e eu nos damos muito bem. Ela traduz tudo para mim e, às vezes, ficamos
muito cansadas após os workshops.Nem sempre nos lembramos de trazer
alguns petiscos conosco.
Um dia, Poca aparece com uma sacola de uma pequena loja, e nela há muitas
embalagens brilhantes. O pacotinho redondo cor de rosa é especial: “Eu quero te
mostrar o desenho na embalagem redonda”, diz Poca. O desenho mostra um
homem chinês que está equilibrando dois cestos em uma vara longa sobre um
dos seus ombros. Poca explica que era assim que as coisas eram feitas antes na
China, tudo muito mais simples. Fica claro para mim que ela está imaginando a
vida no campo, apesar de estar no meio da metrópole agitada, com guindastes e
avenidas por toda parte.
Trago a embalagem de volta comigo para a Dinamarca, pois sinto que há algo de
especial que não posso esquecer sobre ela.
Algo especial que deve ser experimentado.
Vai se tornar “A Arte do Equilíbrio” em múltiplas versões.
A ARTE DO EQUILÍBRIO COM CAIXAS DE PAPELÃO
Crianças de três, quatro e cinco anos saem ao jardim vestindo sua roupa de neve.
É o mês de fevereiro e durante a noite nevou, cobrindo o chão com uma leve
camada de neve. No entanto, não está ventando nem frio, então o clima está
perfeito para sair.v
“O Ateliê Móvel” é uma mala de viagem velha cheia de caixas de papelão de
todos os tipos e sacos plásticos. Não se trata de comprar primeiro algo, mas ao
contrário, buscar coisas e analisar como podem ser usadas num contexto
artístico.
Achamos alguns galhos e logo as crianças começam a encher as caixas com neve.
Eles escavam fervorosamente. Quanta neve será que cabe em cada caixa? Nós,
adultos, ajudamos a prender cordas e fios de metal às caixas. Tentamos levantá-
las para ver qual é a mais pesada e então as prendemos nas extremidades dos
galhos.
Um dos meninos mais velhos é o primeiro a tentar colocar um dos galhos sobre o
ombro. Quando consegue equilibrá-lo, ele se sente feliz e orgulhoso. Ele anda
para frente, para trás, em círculos mantendo sempre o equilíbrio.
As outras crianças rapidamente entendem o sistema
e assim, todas as caixas e sacolas são usadas.
O ponto de equilíbrio é algo que se sente quando ouvimos o nosso corpo.
É incrível presenciar cada vez que uma criança o encontra. Língua dentro da
boca, olhando fixamente para frente. Isto é concentração.
Há um travesseiro na mala.
Será que o travesseiro é mais leve que a neve?
Peso e leveza.
Todos não param de falar e as crianças se inspiram mutuamente.
Algumas meninas encontram uma lata para bolachas e a preenchem com neve.
Elas se perguntam em que ponto de um pau, encontrado por elas, devem
colocar a lata para encontrar o equilíbrio.
Será que podemos colocar bem na pontinha? Há muitas perguntas.
As perguntas são postas em prática.
Eles se ajudam.
Eles se imitam.
Os pequenos tentam entender do que se trata, mas são justamente eles os que
encontram a relação com o mundo da forma mais surpreendente e poética.
Sofie encontra uma pequena tábua e a coloca sobre o braço até encontrar o
equilíbrio. Quanto se pode andar com a tábua no braço sem cair?
Ela tenta inúmeras vezes.
É o experimento deles.
Nós, adultos, lhes damos apenas um ponto de partida.
São as crianças que desenvolvem este ponto, pois é no desenvolvimento que o
novo é criado, e que deve ser provado.
Nós fazemos deste lugar “algo” que, à primeira vista, não era nada.
Era apenas neve, galhos e tábuas.
Nós o colocamos a nosso serviço, unindo àquilo que tínhamos na mala.
A ARTE DO EQUILÍBRIO COM GALHOS
Nesta época do ano, todas as árvores são podadas
e os galhos ficam jogados por todo o chão dos parques, bosques e �lorestas.
Então, a hora é agora para brincar com todos estes galhos.
Equilibrar os galhos é o ponto de partida deste dia. Juntos encontramos um bom
lugar no pequeno bosque perto da escola de educação infantil, com muitas
árvores jovens protegidas do forte vento de fevereiro.
Começo a pendurar alguns dos galhos soltos aos galhos ainda fixos às árvores.
“Será que conseguimos equilibrar os galhos?”
Antes havíamos recolhido algumas pinhas que também haviam caído na última
tempestade.
Uma pinha do lado de cá…. então, devemos colocar outra do lado de lá. “Olha,
formou uma balança”, diz Mathias, “eu já vi isso na televisão”.
“Eu também”, diz Philip.
Rapidamente vira um desafio: mais e mais galhos e pinhas são penduradas, e o
interessante é cada
A ARTE DO EQUILÍBRIO COM LATAS
O brilho dos �locos de neve. Céu aberto. Geada da manhã.
Somos inspirados por tudo isso, e essa energia nos envolve.
Podemos encontrar a energia deste lugar?
Vemos um lugar quase vazio, mas onde o sol aquece a neve.
Abramos a mala. Havíamos até esquecido de quantas latas e embalagens
estavam guardadas, empilhadas lá no depósito.
Dorthe também busca algumas caixas de papelão cheias de outras embalagens
de papel.
Após dois segundos em que empilhou três ou quatro coisas, uma sobre a outra,
logo vejo que as crianças se põe em movimento.
Latas grandes.
Latas pequenas.
Caixas de pasta de dente.
Grandes caixas de papelão.
Como eles podem se equilibrar um sobre o outro?
É um imenso desafio de equilíbrio e sensibilidade.
Sensibilidade para com os materiais.
Liso com liso.
Papelão molhado com plástico escorregadio.
Formas redondas, formas quadradas.
Imitação da beleza.
É uma combinação entre o contraste dos materiais e o desafio do trabalho
coletivo. Poder ouvir e aceitar a opinião e as ações do outro.
Os pequenos constroem suas torres. Trouxe bolas comigo. Será que podemos
atingir as torres? Será que podemos reconstruí-las?
Elas sempre serão reconstruídas de uma forma nova.
A energia do lugar hoje se manifesta, por exemplo, pela neve que cai sobre o
metal e logo derrete.
Fica molhado ou escorregadio.
À nossa volta encontramos alguns baldes e tábuas que também podem ser
utilizadas,
mas o material essencial do lugar é a neve,
isso de poder fixar uma lata à ela.
E o sol, afinal estamos ao ar livre.
De repente, percebem Mathilde e Marie que suas torres estão formando
sombras. Cada vez que colocam um item novo, a forma da sua sombra muda.
Agora o empolgante é não apenas encontrar o equilíbrio, mas também fazer
uma sombra divertida.
Construir sombras.
“As nossas torres estão do mesmo tamanho agora”
“Parecem dois pés quebrados”
“Parece um pássaro também”
Mathilde e Marie trabalham juntas.
“Agora coloca este balde”
“Vou colocar a lata de chocolate em cima”
Meu ponto de partida é a arte, mas é o lugar que nos tem muito mais a oferecer.
A ARTE DO EQUILÍBRIO COM CABIDES
Mas que sorte!
Um céu matinal de inverno espetacular, um pouco rosa no início e sem vento.
Pouco a pouco, a luz se intensifica e a neve no jardim começa a brilhar.
Combinamos que este é o lugar para hoje e começamos a nos preparar.
Trouxemos nossa mala e o resto será aquilo que encontrarmos por perto.
Há várias pequenas árvores e arbustos próximos ao lugar, mas é a grande árvore
de maçãs de inverno, com seus galhos espaçados, que chama nossa atenção.
Começo lentamente a pendurar os cabides que estão na mala e me sinto
inspirada em ver as crianças se aproximarem, tão lindos, vestindo suas roupas de
neve. Logo percebem a proposta de pendurar algo nos cabides, mantendo o
equilíbrio deles.
Isso é arte de móbile.
É a percepção dos materiais: peso e leveza… Onde no cabide devemos colocar as
coisas?
O pequeno Toke e Anne Sofie, ambos com três anos, chegam por último. E não
param um segundo. Eles colocam neve em todas as latas, baldes e jarras que as
crianças maiores haviam pendurado. Eles trocam de pá dependendo do
tamanho do buraco em que devem preencher de neve. Eles não conseguem
parar e estão como que hipnotizados pelos divertidos móbiles e a estranha
combinação de materiais: velhos itens de cozinha, fuês e pincéis pendurados em
equilíbrio na arvore.
A neve branca cobre o local e é um material a ser trabalhado, impossível ignorar.
Quanto será que a neve pesa?
Em um dos cabides está um sapato de mulher cor de rosa e Toke diz: “Eu quero
experimentá-lo” e anda com ele na mão. Então combinamos que o sapato vai
voltar para dentro e ser experimentado lá.
No processo do trabalho usamos a linguagem e as crianças se ajudam.Na verdade, quando nosso ponto de partida é a arte, podemos tocar todos os
pontos mais importantes do desenvolvimento: o corpo, as relações sociais, a
linguagem, o reconhecimento, a natureza e a cultura.
TUBOS DE PAPELÃO NO BOSQUE
Está chovendo. Chuva de verão.
Apesar de ser de manhã, o bosque parece escuro.
Os pequenos seguram nossas mãos,
mas não andamos muito longe,
apenas até a primeira árvore com copas mais largas para oferecer um pouco de
abrigo.
De uma sacola, começo a tirar tubos de papelão de todos os tamanhos que pude
juntar.
Tubos de papelão grandes, médios, pequenos, compridos, curtos.
Rapidamente, as crianças pegam cada um o seu e nós, adultos, ajudamos. Será
que podemos enfiar neles alguns galhos? Tentamos com galhos gordos,
molhados, curtos e longos.
Muitas possibilidades.
Penduramos os tubos nos galhos mais baixos da árvore a fim de que as crianças
menores da creche os possam alcançar.
Eles então começam a jogar coisas dentro dos tubos e elas caem por baixo.
Folhas, terra. Experimentação.
Arte é pesquisa constante.
Aprendemos com ela.
Sempre há segredos escondidos nos materiais, mais até do que podemos
imaginar ou estamos acostumados. As crianças são tão boas em descobrir tantos
desses segredos. O que se pode fazer com isto? Ah, os tubos também podem ser
usados como binóculos.
UM PASSEIO COM SACOLAS DE PAPEL USADAS
Alguns dias depois, vamos com o mesmo grupo de crianças para um passeio,
desta vez com o sol brilhando.
O bosque está claro e podemos ficar numa parte iluminada onde a grama
silvestre é alta.
Eu juntei sacolas de papel,
uma para cada criança, e
eles gostaram de carregar cada um a sua.
O que podemos encontrar?
Grama, claro.
Buster encontra uma pena também.
As crianças começam a vasculhar a sacola umas das outras e este processo dura
um longo tempo. Somente mais tarde é que tiramos os lápis de dentro da
mochila que trouxemos.
Um banco se transforma numa pequena mesa e logo as crianças começam a
desenhar nas sacolas,
alguns fora e outros dentro.
A energia no ar está deliciosa.
Sempre se trata da atmosfera do lugar.
Trine diz: “Talvez nós façamos as coisas criativas de forma muito complicada com
as crianças. Empenhamo-nos demais em direcioná-los do nosso jeito.”
Exatamente.
Qual a maneira mais simples de trabalharmos com crianças num contexto
artístico?
É no simples que encontramos todas as respostas.
Não há como nos escondermos, tudo é revelado.
As crianças podem nos ajudar e é justamente esse o sentido de fazermos as
coisas com elas.
CAIXAS VELHAS COM BURACOS
É impressionante a quantidade de embalagens que usamos.
Maravilhosas caixas são jogadas fora diariamente, uma atrás da outra.
Caixas coloridas, verdes, vermelhas.
Pequenas, grandes, alongadas, planas.
Juntamos algumas e fizemos dois buracos em cada uma.
Encontramos uma linda clareira no bosque
e começamos a empilhar as caixas levando em conta suas diferenças.
Será que dá para olhar dentro da caixa pelos buracos?
Quais são as possibilidades lá dentro?
As torres coloridas no meio do bosque ficam lindas.
As caixas são distribuídas, e a diversão agora é em encontrar coisas
surpreendentes com que preenchê-las. Fechamos as caixas novamente e
desafiamos os outros a adivinhar o que há dentro delas.
As caixas são colocadas em diversos lugares, e as crianças, em grupos, tentam
descobrir o que há no seu interior.
Fazemos buracos na tampa para que o sol possa entrar e revelar o seu conteúdo.
Outros voltam a construir torres.
Eles ficam na ponta dos pés para ver dentro das caixas do topo e deitam de
barriga para espiar nas caixas da base.
É sempre bom ter uma caixa com buracos consigo. Em caso de encontrarmos
algo pelo caminho…
COBERTORES VELHOS
Um dia vamos até o lugar para fazer piqueniques e fogueiras.
Levei um cobertor usado, que cortei em vários pedaços, e um velho lençol
colorido.
Também tenho outros objetos misteriosos na minha bolsa.
Coisas com formatos estranhos que podem ser descobertos ao tocá-los, sem que
os vejamos.
É justamente esse o desafio de hoje: cobrir, sentir, adivinhar.
Rapidamente, as crianças começam a explorar as possibilidades. O que podemos
encontrar? Todos usam suas pequenas mantas e tentamos adivinhar as coisas
dos outros.
Surgem esculturas.
Marcas nas formas: suave, duro, angular, esburacado.
No caminho de volta, algumas crianças continuam tentando cobrir aquilo que
está disponível: tocos de árvore, pinhas, galhos, palha. Qual o seu formato? Qual
a sua textura?
O que é arte?
Arte é a vida, ela leva em si todas as perguntas.
Ela tem uma multiplicidade, uma ambiguidade.
E é nesse lugar que estamos quando nos encontramos juntos ao ar livre.
PAPELÃO SOBRE FOLHAS
Algumas horas antes, estivemos na �loresta, típica no mês de novembro muito
frio e chuva violenta por todo o país. Amanhã, certamente as últimas folhas que
ainda resistem nas copas das árvores cairão.
Hoje mesmo, elas já estão por um triz. As crianças se dão conta que muitas
folhas estão faltando.
Nós nos jogamos ao chão, cobertos pelo enorme “tapete” formado pelas folhas
das árvores do lugar.
Em uma sacola, tenho diversos pedaços de papelão, cortados nas mais diferentes
formas e tamanhos. Eu tomo um pedaço de papelão e começo a abanar as
folhas, produzindo contra elas uma leve brisa.
As crianças experimentam o mesmo.
O desafio está só começando.
As crianças encontram uma nova brincadeira com as folhas e o papelão.
Sara diz: “As crianças se acostumaram às coisas já predeterminadas. Elas já
conhecem de antemão para que serve, em teoria, cada material”
Aqui, as possibilidades são muito mais abrangentes. São necessários apenas
alguns minutos para que se deem conta disso.
Nós ficamos verdadeiramente impressionados com as tentativas e as ideias que
surgiram nesta tarde.
Podemos cortar uma grande árvore com um pedaço de papelão? Um papelão
machado.
Podemos pescar um pedaço de papelão? Um papelão peixe.
Um papelão sacola para folhas.
Um papelão com sinal de pare.
Um papelão presente para um irmãozinho doente.
Um papelão buraco.
Um papelão cama.
Papelão televisão...
Os meninos se sentam em torno de uma árvore e assistem a diferentes
programas de TV em um pedaço de papelão.
As meninas decoram a casa.
Eu tenho comigo um rolo de fita crepe. É uma boa ajuda para compor com os
pedaços de papelão.
Quanto mais simples for o nosso ponto de partida, maiores serão as descobertas.
Maravilhas da simplicidade.
Passadas algumas semanas, saímos com o mesmo grupo carregando nossa “TV
de tela plana”.
Agora a paisagem está toda coberta pela neve. O melhor para as crianças é a
cabana feita de troncos de madeira. Nós damos cambalhotas com os pedaços de
papelão. As crianças assistem às suas TV´s de papelão dentro da cabana. Outras
crianças descobrem que um pedaço de papelão dobrado serve como fôrma para
fazer tijolos de neve para construir algo. É uma ótima descoberta.
PASSEANDO COM JORNAIS
A simplicidade é muitas vezes o maior desafio.
É possível sair para um passeio levando apenas uma pilha de jornais velhos e
ainda assim construir algo?
O tempo está chuvoso hoje. O pensamento imediato de um adulto seria: “E
agora? Não vai dar certo fazer aquilo que planejamos.” As crianças não. Estão
muito felizes de sair na chuva.
É nossa força motriz e alegria contagiante. Então vamos lá!
Encontramos um lugar.
Com esse tempo chuvoso assim, tento encontrar um lugar um pouco abrigado.
A cabana de madeira, a 200 metros da escola, é o lugar escolhido. No caminho
até lá, vamos recolhendo alguns galhos. Pegamos algumas páginas de jornais,
rasgamos e, com fita adesiva, grudamos aos galhos.
E a chuva continua.
Algumas crianças correm com os seus galhos com pedaços de jornais
pendurados.
Outras procuram abrigar-se dentro da cabana e começam a pendurar cortinas de
jornal nas aberturas. Páginas de jornal também são pregadas com fita nas
paredes. As crianças falam o tempo todo. E como falam!
Brincando com as crianças, Maja fecha sua própria boca com um pedaço de fita
adesiva. As crianças se divertem e fazem o mesmo. Agora ficou bem difícil de

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