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Filosofia (Apostila)

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Introdução à Filosofi a
BACHAREL EM TEOLOGIA
Educação à Distância
2017
1ª Edição
Faculdade Refi dim
[ Diretor Geral ]
Dr. Claiton Ivan Pommerening
[ Coordenador de Educação à Distância ] 
Me. Valdinei Ramos Gandra
[ Coordenador de Pesquisa ] 
Dr. Fernando Albano
[ Coordenador de TI ] 
Everton de Borba
[ Tutor Interno ] 
Orlando Afonso Gunlanda
[ Coordenadora de Extensão ] 
Me. Andrea Nogueira dos Santos
[ Secretária Acadêmica ] 
Me. Andrea Nogueira dos Santos
[ Gestão Financeira ] 
Stela Rubiana Maccari
[ Equipe de Pesquisa ] 
Dr. Fernando Albano
Dr. Osiel Lourenço de Carvalho
Paulo André Ribas Corrêa
Ficha Técnica
[ Conteúdo ]
Equipe de Pesquisa
[ Colaboração ]
Joel Haroldo Baade
[ Revisão ]
Carla Albano Lanza
[ Diagramação ]
Everton de Borba
Introdução à Filosofi a
Sumário
UNIDADE I: 
A REFLEXÃO FILOSÓFICA 
Tópico 01 - A questão da verdade, 09
Tópico 02 - O ato de Filosofar, 21
Tópico 03 - Instrumentos do pensar, 35
UNIDADE II: 
CORRENTES FILOSÓFICAS DA MODERNIDADE
Tópico 01 - Filosofi a Moderna: 
 do Racionalismo ao Empirismo, 45
Tópico 01 - Filosofi a Moderna: de Kant à Comte, 55
UNIDADE III: 
CORRENTES FILOSÓFICAS CONTEMPORÂNEAS
Tópico 01 - Filosofi a Contemporânea: 
 do Pragmatismo à teoria da Ação Comunicativa, 69
Tópico 02 - Pensamento Filosófi co no Brasil, 79
4 | Introdução à Filosofi a
Introdução à Filosofi a
Apresentação
Prezado(a) estudante, 
Esta disciplina Introdução à Filosofi a quer proporcionar 
o contato com o desenvolvimento do pensamento fi losófi co 
ocidental, possibilitar o contato com as grandes transformações 
do pensamento humano. Assim, o propósito desta Apostila é que 
você, estudante, tenha condições de perceber como o saber e a 
atitude fi losófi ca é resultado da produção humana, e, de como 
são infl uenciados pelos conhecimentos que lhe são anteriores 
e, igualmente, infl uenciam as produções posteriores. Por 
exemplo, veremos como as teorias platônicas e aristotélicas são 
incorporadas ao pensamento cristão dos pensadores da Idade 
Média.
Por outro lado, veremos também que muitas vezes o saber 
fi losófi co é resultado da negação do pensamento que lhe antecede, 
como fruto de novas conjunturas e mudanças em todas as esferas 
da sociedade, tal como ocorreu na passagem da Idade Média para 
a Modernidade.
Finalmente, ocupar-se com a fi losofi a é trilhar um caminho 
de aventura pelas descobertas do pensamento humano; é 
fazer experiência de amor pelo saber, e treinar o intelecto para 
questionar sempre. Enfi m, é desenvolver uma atitude fi losófi ca, 
de crítica e de investigação diante das grandes questões que 
inquietam a humanidade ao longo dos séculos. 
Vamos iniciar a aventura? 
Equipe de Pesquisa
6 | Introdução à Filosofi a
A REFLEXÃO 
FILOSÓFICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade você será capaz de: 
• Conhecer as origens do pensamento fi losófi co grego a 
 partir de seu ambiente histórico, cultural e político. 
• Compreender a busca e a natureza principal da Filosofi a.
• Ter contato com os principais pensadores da Grécia Antiga 
 e conhecer suas principais atitudes fi losófi cas. 
• Ampliar a rede de conceitos e paradigmas orientadores 
 da história da Filosofi a Ocidental. 
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos e, no fi nal de cada um 
deles, você terá um resumo do tópico e um conjunto de questões as 
quais servirão de suporte para o seu aprendizado e memorização 
dos conteúdos da unidade.
Tópico 1 – A questão da verdade; 
Tópico 2 – O ato de fi losofar; 
Tópico 3 – Instrumentos do pensar.
 Unidade I
8 | Introdução à Filosofi a
Introdução à Filosofi a | 9
Tópico 01
A questão da verdade
Introdução 
A busca pelo sentido da vida e a compreensão das causas 
últimas das coisas, desde muito cedo, levou o ser humano a 
questionar-se sobre a verdade. 
Defi nir o que é o homem? De onde ele vem? Para onde ele vai? 
Por qual razão ele existe? São, em média, as grandes perguntas 
que têm colocado a humanidade em constante movimento. 
Um dos caminhos mediante o qual essas questões são pensadas 
é o caminho da Filosofi a. Nestes termos, a Filosofi a se apresentou, 
pelo menos na sua versão grega, como um conjunto de indagações 
sobre a vida, a política, a ética, a moral e, em instância primordial, 
a verdade. 
Seguindo essa linha de questionamento, este tópico tem por 
objetivo apresentar algumas defi nições a respeito do conceito 
de verdade sob a perspectiva dos fi lósofos da antiga Grécia. Ao 
fi nal do tópico, será disponibilizado um conjunto de questões que 
servirão de suporte para relembrar o conteúdo estudado. 
Bons estudos! 
Unidade I
UNIDADE I - A Refl exão Filosófi ca
10 | Introdução à Filosofi a
1. O QUE É A FILOSOFIA? 
Filosofi a é uma palavra de origem grega e signifi ca literalmente 
“amigo da sabedoria” (philos sophias). Existe a ideia de que o 
termo foi inventado por Pitágoras (570 a 495 a.C.), que certa vez, 
ouvindo alguém chamá-lo de sábio e considerando este nome 
muito elevado para si mesmo, pediu que o chamassem apenas de 
fi lósofo, isto é, amigo da sabedoria (MONDIN, 1981). 
De modo geral, a Filosofi a é um conhecimento, uma forma de 
saber que, como tal, tem uma esfera própria de competência, sobre 
a qual procura adquirir informações válidas, precisas e ordenadas 
(MONDIN, 1981, p. 7). O grande problema imposto à Filosofi a sempre 
foi a pergunta sobre qual a sua esfera de competência. Em outras 
palavras, diríamos: qual é o objeto de estudo da Filosofi a? 
As ciências experimentais apresentam um objeto específi co 
de seu estudo. Elas se ocupam em estudar detalhadamente 
um determinado objeto, descrevendo suas características, sua 
funcionalidade, prevendo suas potencialidades, etc. Sabemos, por 
exemplo, que a Botânica estuda as plantas, a Geografi a, os lugares, 
a História, os fatos, a Medicina, a saúde/doença, a Matemática, as 
relações numéricas, etc. Diante disso, você pode se questionar: o 
que estuda então a Filosofi a? 
Essa pergunta sempre teve controvérsias quanto a sua 
resposta. No entanto, no dizer dos fi lósofos, ela estuda todas as 
coisas (MONDIN, 1981, p. 7). Na obra Metafísica, Livro I, o fi lósofo 
Aristóteles afi rma que a fi losofi a estuda “as causas últimas de 
todas as coisas”. Várias outras defi nições foram feitas para a 
Filosofi a: 
Cícero defi ne a Filosofi a como o estudo das causas humanas 
e divinas das coisas. Descartes afi rma que a Filosofi a ensina a 
raciocinar bem; Hegel entende-a como o saber absoluto; para 
Whitehead, o papel da Filosofi a é o de fornecer uma explicação 
orgânica do universo (MONDIN, 1981, p. 7-8). 
Em todas as tentativas de se estabelecer a natureza e o 
objeto de estudo da Filosofi a, fi ca evidente que a preocupação 
pelo fi m último do homem, o valor do conhecimento, o estudo 
da linguagem, do ser, da história, da política, da arte, da cultura, 
da moral e da ética, são as principais ocupações de uma refl exão 
fi losófi ca, sendo, portanto, seu campo de competências. 
Assim, concorda-se com a consideração de Mondin (1981) de que 
a Filosofi a realmente estuda tudo. Para justifi car essa afi rmação, 
Mondin apresenta duas teses: 
Em primeiro lugar, porque todas as coisas podem ser examinadas 
no nível científi co e também no fi losófi co. Assim, os homens, os 
animais, as plantas, a matéria, estudados por muitas ciências 
FILOSOFIA E SUA 
ORIGEM HISTÓRICA
[DICA DE VÍDEO]
Assista ao vídeo do Prof. Anderson 
explicando de modo simples e claro o 
signifi cado da Filosofi a e sua origem 
histórica. 
Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=_rOdtWb9BdQ>. 
Acesso em 31 mai. 2017. 
TÓPICO 01 - A questão da verdade
Introdução à Filosofi a | 11
e sob diversos pontos de vista, podem ser objeto também da 
indagação fi losófi ca. [...] Em segundo lugar, porque, enquanto 
as ciências estudam esta ou aquela dimensão da realidade, 
a Filosofi a estuda o todo, a totalidade, o universo tomado 
globalmente (MONDIN,1981, p. 7-8). 
Nesse sentido, os primeiros fi lósofos da Grécia Clássica (séculos 
V ao século IV a.C.), tiveram particular contribuição na formação 
do pensamento fi losófi co grego, posteriormente ocidental, 
formulando conceitos que se tornaram centrais para a formulação 
de um saber fi losófi co-científi co até os nossos dias. Segundo 
Marilena Chauí (2000), estes conceitos são: a physis (natureza), a 
causalidade, a arqué (elemento primordial), o cosmo, o logos e o 
caráter crítico. 
Existem ainda duas características que dão um caráter próprio 
e específi co ao saber fi losófi co: o método e o seu objetivo. 
 
O método não é o da simples verifi cação, nem o da descrição 
mais ou menos fantasiosa, nem o da experimentação. O primeiro 
é próprio do conhecimento comum; o segundo da poesia e da 
mitologia; o terceiro, da ciência. A Filosofi a tem um método 
diferente, o da justifi cação lógica, racional (MONDIN, 1981, p. 8). 
NOTA IMPORTANTE
Das coisas estudadas pela Filosofi a, ela deseja oferecer uma 
explicação conclusiva e, para consegui-la, serve-se somente da 
razão, daquilo que os gregos chamaram logos. 
 
Quanto ao objetivo, a Filosofi a não busca fi ns práticos e não 
tem interesses externos como a ciência, a arte, a religião e a 
técnica, as quais, de um modo ou de outro, sempre têm em vista 
alguma satisfação ou alguma vantagem. A fi losofi a tem como único 
objetivo o conhecimento; ela procura a verdade pela verdade, 
prescindido de eventuais utilizações práticas. 
1.1 Mito e Filosofi a 
As principais perguntas sobre a vida humana podem ser 
respondidas sob diferentes perspectivas: mítica, científi ca e 
fi losófi ca. As respostas míticas, geralmente, são explicações, 
podendo contentar a fantasia, embora seu conteúdo aponte 
verdades sobre a realidade. 
As respostas científi cas por sua vez, ocupam-se em averiguar os 
fatos, compreendê-los de modo objetivo a partir da racionalização 
e experimentação. Já as respostas fi losófi cas, propõem-se em 
oferecer explicações completas de todas as coisas, do conjunto, 
do todo. 
GRÉCIA CLÁSSICA
[IMAGEM] 
Acrópole de Atenas foi construída 
entre os anos de 450 a 330 a.C. Era um 
dos símbolos da cultura grega clássica. 
O nome signifi ca literalmente cidade 
do topo. 
Disponível em: <http://www.guiageo-
grecia.com/acropolis.htm>. Acesso em: 
31 mai. 2017.
A GRANDE PREOCUPAÇÃO 
DA FILOSOFIA
[DICA DE VÍDEO] 
Assista ao vídeo do professor Mario 
Sergio Cortella no canal da livraria 
Saraiva. O referido professor explica 
de modo simples e claro a grande 
preocupação da Filosofi a.
Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=3oxP-wjI4lE>. Acesso 
em: 31 mai. 2017. 
MITO
[GLOSSÁRIO] 
Narrativa lendária, pertencente 
à tradição cultural de um povo, 
explicando através do apelo 
ao sobrenatural, ao divino e ao 
misterioso, a origem do universo, o 
funcionamento da natureza e a origem 
e os valores básicos do próprio povo.
(JAPIASSPÚ; MARCONDES, 1996, p. 183). 
12 | Introdução à Filosofi a
A humanidade primitiva orientava sua busca pelo conhecimento 
dos fatos da realidade nas respostas míticas. Quando se 
questionava, por exemplo, sobre a origem das chuvas, os gregos 
antigos respondiam que era devido à cólera de Júpiter. O sopro do 
vento estava associado à fúria de Éolo. A beleza estava associada à 
Afrodite. Nas outras culturas, tais como medo-persas, babilônicas, 
egípcias e as antigas civilizações, as explicações sobre a fertilidade, 
a natureza, a vida e a morte, as relações políticas, a origem das 
guerras e outros temas, estavam sempre associadas a explicações 
míticas. 
Logo, o mito é uma forma de saber cuja função principal era 
possibilitar um determinado conhecimento sobre algo. Dessa 
forma, ele teve e, ainda tem sua funcionalidade para determinados 
povos. Em muitos casos, a opção pela via mítica acaba sendo a 
escolha de um determinado grupo ou indivíduo, na forma como 
se coloca diante das questões da realidade. 
Segundo Mondin (1981), existem duas interpretações para os 
mitos: mito-verdade e mito-fábula. No mito-verdade, acontece 
uma representação fantasiosa pretendendo exprimir uma verdade. 
Já no mito-fábula, existe uma narração imaginosa sem nenhuma 
pretensão teórica. São representações fantasiosas sem terem a 
força de serem tidas como verdades puras.
NOTA IMPORTANTE
A partir do começo do século XX, vários estudiosos da história 
das religiões (Mircea Eliade), da Psicologia (Sigmund Freud), da 
Filosofi a (Martin Heidegger), da Antropologia (Lévi-Strauss), da 
Teologia (Rudolf Bultmann) começaram a apoiar a interpretação 
mito-verdade, argumentando que a humanidade primitiva, embora 
não podendo dar uma explicação racional e metódica do universo, 
deve ter procurado explicar para si mesma fenômenos como a vida, 
a morte, o bem, o mal, etc. Fenômenos esses que atraem a atenção 
de qualquer observador, mesmo sendo dotado de pouca instrução 
(MONDIN, 1981, p. 10). 
 
Para a fi lósofa brasileira Marilene Chauí (2003), as lendas e 
narrativas míticas não são produtos de um único autor ou autores, 
porém partem da tradição cultural e folclórica de um povo. Sua 
origem cronológica é indeterminada e sua forma de transmissão 
é basicamente oral. Mesmo poetas como Homero com a Ilíada e 
Odisseia (séc. IX a.C.) e Hesíodo (séc. VIII a.C.) com a Teogonia, 
os quais são as principais fontes dos mitos gregos, na verdade 
não são obras originais desses autores. São apenas indivíduos 
a registrar poeticamente lendas recolhidas das tradições dos 
diversos povos, os quais sucessivamente ocuparam a Grécia desde 
o período arcaico (1500 a.C.).
Entretanto, apesar de sua validade, logo no século V a.C., com 
o crescimento do pensamento fi losófi co grego, os primeiros 
fi lósofos começaram a considerar os mitos como simples fábulas 
UNIDADE I - A Refl exão Filosófi ca
REPRESENTAÇÃO DO MODO DE 
VIDA DOS POVOS PRIMITIVOS
[IMAGEM]
MARILENA CHAUÍ
[QUEM?]
Marilena Chauí é uma das fi lósofas 
brasileiras de renome. Nasceu em 
São Paulo, no ano de 1941. Atua como 
professora universitária. Suas refl exões 
estão relacionadas à Política, Ética, 
Moral e História da Filosofi a. 
ILÍADA E ODISSEIA 
[IMAGEM]
Os poemas Odisseia e Ilíada são 
considerados os dois principais 
poemas da Antiga Grécia. Atribui-se a 
Homero a autoria dos poemas entre 
600 a 400 a.C. 
Introdução à Filosofi a | 13
cuja função é distorcer o caminho da verdade. De igual forma, os 
padres da Igreja na era cristã, os escolásticos e a maior parte dos 
fi lósofos modernos não entenderam a via mítica como caminho 
seguro para o conhecimento da verdade. 
Apesar da contribuição do mito, não devemos compará-lo 
ao saber fi losófi co. O mito segue o caminho da representação 
fantástica, a imaginação poética, a intuição de analogias, sugeridas 
pela experiência sensível. Por sua vez, a Filosofi a trabalha só com 
a razão, com o rigor lógico, com o espírito crítico, com motivações 
racionais, com argumentações rigorosas, baseadas em princípios 
cujo valor foi prévia e fi rmemente estabelecido de forma explícita 
(MONDIN, 1981). 
1.2 A religião grega e a Filosofi a 
O fi lósofo moderno Auguste Comte (1798-1857) separou a história 
do desenvolvimento da humanidade em três estágios: teológico, 
fi losófi co e positivo ou científi co. O estágio teológico tem a ver com 
a dimensão religiosa na forma como o ser humano se relaciona 
e conhece o mundo. O estágio fi losófi co se caracteriza pela via 
metafísica de conhecer a realidade. Por fi m, o estágio positivo ou 
científi co relaciona-se com a maneira positivo-objetiva pela qual 
se constrói o conhecimento da realidade. 
Seguindo essa classifi cação, Religião e Filosofi a por muito 
tempo andaram juntas, principalmente na Idade Média, contudo, 
antes do surgimento da Filosofi a grega, os gregos tinham uma 
forma religiosa de relacionar-se com o mundo. Sua religião se 
dividia de duas formas: a religião pública e a religião dos mistérios. 
Religião pública: teve sua mais bela expressão em Homero. 
Elaé hierofânica, antropomórfi ca e naturalista. Essa forma de 
religião via qualquer evento na natureza como uma manifestação 
do divino: tudo o que acontece é obra dos deuses. Todos os 
fenômenos naturais são provocados pelos deuses os quais 
interferem diretamente no curso da vida na terra. 
A religião pública era de caráter antropomórfi co pelo fato de 
que os deuses da religião natural não são mais do que homens 
ampliados e idealizados. Eles são projeções quantitativamente 
superiores dos seres humanos. Por isso, a religião pública grega é 
certamente uma forma de religião naturalista (MONDIN, 1981). Por 
essa razão, a religião pública dos gregos não afi rmava conteúdos 
de santidade ou qualquer separação da vida, visto que a vida é 
essencialmente a grande religião. 
Nota importante
Segundo a perspectiva da religião púbica, o que a divindade exige 
do homem “não é a mudança íntima de seu modo de pensar, nem a 
luta contra suas tendências naturais e seus impulsos; ao contrário, 
TÓPICO 01 - A questão da verdade
PRIMEIROS FILÓSOFOS
[PARA REFLETIR]
A preocupação dos primeiros fi lósofos 
é explicar a realidade, detendo-se 
especialmente à tarefa de analisar a 
multiplicidade do real. Nesse esforço, 
afastam-se completamente das 
narrativas míticas, segundo as quais 
a realidade é fruto da vontade dos 
deuses.
HIEROFÂNICA
[PARA REFLETIR]
Aparecimento ou manifestação 
reveladora do sagrado. 
JAPIASSPÚ; MARCONDES, 1996, p. 20,83.
ANTROPOMORFISMO
[PARA REFLETIR]
Forma de linguagem que atribui 
aos deuses comportamentos e 
pensamentos característicos dos seres 
humanos.
JAPIASSPÚ; MARCONDES, 1996, p. 20,83.
POSEIDON
[SAIBA MAIS]
Poseidon, também conhecido como 
Netuno para os romanos, era um 
grande rei dos mares, um homem 
muito forte, com barbas e sempre 
representado com seu tridente na 
mão e às vezes com um golfi nho. Era 
fi lho de Cronos, deus do tempo, e da 
deusa da fertilidade Réia. Sua casa era 
no fundo do mar e com seu tridente 
causava maremotos, tremores, além de 
fazer brotar água do solo.
14 | Introdução à Filosofi a
UNIDADE I - A Refl exão Filosófi ca
tudo o que para o homem é natural vale diante da divindade como 
legítimo; o homem mais divino é aquele que cultiva com o máximo 
empenho suas forças humanas; e o cumprimento do dever religioso 
consiste essencialmente nisto: que o homem faça em honra da 
divindade, o que é conforme a sua própria natureza” (MONDIN, 
1981, p. 12-13). 
O fato de ser uma religião natural e não revelada, os gregos 
não tinham livros sagrados ou textos tidos como revelação 
divina. Por conta disso, não existiam manuais doutrinários ou 
dogmáticos entre os gregos, nem haviam sacerdotes encarregados 
para guardar algum dogma. Esse caráter da religião pública dos 
gregos possibilitava a mais “ampla liberdade à especulação 
fi losófi ca” (MONDIN, 1981, p. 13). O surgimento da Filosofi a entre 
os gregos ocorreu devido à liberdade especulativa, a qual não era 
determinada por algum dogma ou instituição religiosa superior. 
Religião dos mistérios: atingiu o seu maior brilho na Grécia 
justamente quando a Filosofi a começava a fl orescer. Os pontos 
mais importantes dessa religião eram: 
a) No homem reside um princípio divino, um demônio 
(daimônion), unido a um corpo por causa de uma culpa original; 
b) Esse demônio é imortal e, por isso, não morre com o corpo, 
mas deve passar por uma série de reencarnações até expiar 
completamente a culpa; 
c) A vida da religião dos mistérios, com suas práticas 
de purifi cação, é a única a poder colocar fi m ao ciclo de 
reencarnações; 
d) Quem vive a vida misteriosa, depois desta existência, no 
estado de felicidade perfeita, ao passo que quem vive outro 
tipo de vida será condenado a ulteriores reencarnações. 
Nota importante
Como se vê, a diferença principal entre a religião pública e a dos 
mistérios diz respeito às relações entre a alma e o corpo. Enquanto 
a religião pública tem uma concepção unitária do corpo e da alma, 
a dos mistérios professa uma concepção dualista. Na religião 
pública, como observamos, não se impõe nenhuma ascese, mas se 
encoraja o pleno desenvolvimento e a plena satisfação de qualquer 
capacidade, força e paixão. Na religião dos mistérios, ao contrário, 
impõe-se uma ascese muito rigorosa. 
As duas formas de conceber a religião tiveram implicações 
concretas nas formulações éticas, morais, antropológicas e 
políticas da Grécia. A imortalidade da alma, a condenação do 
prazer, o culto da virtude, etc., de fi lósofos como Pitágoras, 
Sócrates, Platão, Zenão, Plotino, são infl uências diretas da religião 
do mistério e suas propostas de ascese. Esse é um dos aspectos 
que aponta a importância da religião pública e do mistério no 
desenvolvimento da Filosofi a. 
O PENSADOR
[IMAGEM]
Esta imagem representa a postura 
fi losófi ca da Grécia Antiga. 
Introdução à Filosofi a | 15
TÓPICO 01 - A questão da verdade
TIRINHA
[IMAGEM]
O mito acessa a via fantástico-poética 
e religiosa. A fi losofi a acessa a vida do 
logos e da razão. 
GRÉCIA ANTIGA
[DICA DE VÍDEO]
Conheça um pouco mais do império 
grego assistindo o documentário 
“Construindo império: Grécia antiga”. 
Acesse o endereço abaixo: Disponível 
em: <https://www.youtube.com/
watch?v=Febtekz030M>. 
Acesso em: 05 jun. 2017.
A grande relação entre mito e Filosofi a está na proposta de 
indagação. Ambos são formas de perguntar sobre a existência. 
Entretanto, a diferença está no caminho trilhado. O mito acessa 
a via fantástico-poética e religiosa. A Filosofi a acessa a vida do 
logos e da razão. Assim, a diferença entre o discurso de Hesíodo 
e Homero diante de Tales, por exemplo, é a mudança da forma de 
buscar a verdade: a partir de Tales, a busca da verdade passou 
a ser pela via do logos, pela via da razão. É nesse sentido que 
falamos da passagem do mito para a Filosofi a. 
2. A BUSCA PELA VERDADE
Na Grécia antiga, pode-se identifi car vários pensadores a 
ocuparem-se com a temática da concepção do conhecimento, 
tentando identifi car limites e possibilidades para a produção da 
verdade, como fruto do pensamento humano. Evidentemente, 
não é possível referir todos os fi lósofos que se ocuparam com 
a temática, desse modo selecionamos aqueles que julgamos 
poderem contribuir mais signifi cativamente para a discussão 
sobre a construção fi losófi ca e as suas interfaces com a refl exão 
teológica.
Seguindo a periodização da fi losofi a grega, classifi cando 
tradicionalmente os fi lósofos em pré-socráticos, socráticos e pós-
socráticos, optamos, também, seguir esse esquema. Apesar das 
diferenças existentes entre os grupos de fi lósofos, as correntes de 
seus pensamentos e suas hipóteses, a busca pela verdade era a 
principal preocupação da época. Filosofar era em primeiro lugar 
se ocupar com a busca da verdade. 
Para a Filosofi a, a verdade tem a ver com “o saber que se percebe 
como sendo mais relevante relativo a coisas mais fundamentais, 
embora não diretamente úteis [...] do ponto de vista empírico” 
(REZANDE, 1998, p. 13). Embora não haja um consenso na defi nição 
do que seja a verdade, há, porém, uma hipótese de que a verdade 
é o caminho esclarecedor da vida e a torna mais bela em todos 
os seus sentidos. Por conseguinte, os fi lósofos ocupavam-se com 
a busca da verdade ou pelo menos estabelecer os caminhos para 
acessá-la. 
Chauí (2000) certifi ca ser a Filosofi a não um conjunto de ideias 
e de sistemas que possamos apreender automaticamente, nem 
é um passeio turístico pelas paisagens intelectuais, todavia uma 
decisão ou deliberação orientada por um valor: a verdade. É o 
desejo do verdadeiro que move a Filosofi a e suscita fi losofi as.
 
Nota importante 
Afi rmar ser a verdade um valor signifi ca: o verdadeiro confere às 
coisas, aos seres humanos, ao mundo um sentido que não teriam 
se fossem considerados indiferentes à verdade e à falsidade. 
16 | Introdução à Filosofi a
UNIDADE I - A Refl exão Filosófi ca
INCERTEZA
[IMAGEM]
Essa imagem representa a incerteza 
causada pela existênciade várias 
outras possibilidades.
BUSCA PELA VERDADE
[PARA REFLETIR]
O desejo da verdade aparece muito 
cedo nos seres humanos como desejo 
de confi ar nas coisas e nas pessoas; 
de acreditar que as coisas são 
exatamente tais como as percebemos 
e o que as pessoas nos dizem é digno 
de confi ança e crédito. Ao mesmo 
tempo, nossa vida cotidiana é feita de 
pequenas e grandes decepções e, por 
isso, desde cedo, vemos as crianças 
perguntarem aos adultos se tal ou 
qual coisa “é de verdade ou é de 
mentira”.. 
Podemos apontar que a busca da verdade se depara com dois 
obstáculos: a ignorância e a incerteza. Em geral, o estado de 
ignorância se mantém em nós enquanto as crenças e opiniões, 
que possuímos para viver e agir no mundo, conservem-se como 
efi cazes e úteis, de modo a não termos motivo algum para duvidar 
delas, nenhum motivo para desconfi ar delas e, consequentemente, 
achamos que sabemos tudo o que há para saber (CHAUI, 2000). 
Por outro lado, a incerteza é diferente da ignorância porque, na 
incerteza, descobrimos o quanto somos ignorantes, que nossas 
crenças e opiniões parecem não dar conta da realidade, que há 
falhas naquilo em que acreditamos e que, durante muito tempo, 
serviu-nos como referência para pensar e agir. Na incerteza, não 
sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer em certas 
situações ou diante de certas coisas, pessoas, fatos, etc. Temos 
dúvidas, fi camos cheios de perplexidade e somos tomados pela 
insegurança. 
Segundo Resende (1998), essa perplexidade está na origem 
da Filosofi a, pois é ela a conduzir o ser humano à refl exão e à 
busca pela verdade. Platão e Aristóteles indicaram com precisão 
a experiência que, para eles, o que dá origem ao pensar fi losófi co 
é o que os gregos chamavam de “thauma”, espanto, admiração ou 
perplexidade. 
A busca pela verdade começa quando algo causa perplexidade 
e provoca admiração. Entender as causas últimas das coisas 
geradoras da perplexidade, admiração, espanto é buscar pela 
verdade, pelo seu sentido último, pela sua causalidade. Nesse 
viés, verdade e Filosofi a estão intimamente ligadas na medida em 
que uma é a substância da outra. 
Nota importante
Em nossa sociedade, é muito difícil despertar nas pessoas o desejo 
de buscar a verdade. Pode parecer paradoxal que assim seja, pois 
parecemos viver numa sociedade que acredita nas ciências, que 
luta por escolas, que recebe durante 24 horas diárias informações 
vindas de jornais, rádios e televisões, que possui editoras, livrarias, 
bibliotecas, museus, salas de cinema e de teatro, vídeos, fotografi as 
e computadores (CHAUÍ, 2000, p. 18). 
 
Dessa maneira, a Filosofi a Grega parece ter surgido quando, 
por uma série de fatores complexos, os quais não podemos aqui 
desenvolver, as repostas dadas pelo mito a certas questões não 
satisfi zeram mais a certas mentes, particularmente exigentes, de 
um povo, sobretudo curioso e passível de se espantar.
Introdução à Filosofi a | 17
TÓPICO 01 - A questão da verdade
LEITURA COMPLEMENTAR
A questão da verdade na Filosofi a
Maurílio José de Oliveira Camello
Não haveremos de insistir na necessidade existencial da 
verdade, matriz e fonte de todas as necessidades, como de todos 
os esforços para solucioná-las. Além disso, a verdade e sua 
necessidade existem muito antes de as podermos defi nir e com a 
amplitude da qual não teríamos condição alguma de determinar. 
Um exemplo notável está aos olhos de todos. A recente crise 
econômica mundial é o resultado de uma “verdade” de gestão 
fi nanceira que descobriu, apesar de todos os cálculos e projeções, 
uma fi cção ou mentira, desencadeando por todo o mundo um 
terremoto de que ainda não conhecemos todas as consequências. 
Que razões teriam presidido a essas formas de vida econômica, 
política, social, mostradas atualmente de forma tão fragilizadas, 
líquidas e descartáveis? Elas se enraízam certamente no ethos 
da Modernidade, construído à base de concepções idealistas 
da Verdade, cujos nomes nos são bem conhecidos: idealismo-
racionalismo, pragmatismo, relativismo, niilismo, devendo-se 
acrescentar o voluntarismo e a hermenêutica, que também têm 
sua pretensão de verdade. Kant não é, certamente, o pai geral de 
todas essas tendências, mas é quem “desnaturalizou” com mais 
radicalidade a antiga e venerável noção da verdade-adequação, 
oriunda de Aristóteles.
No entanto, talvez devamos recuar até Descartes, para o qual, 
como é muito sabido, a ordem de fundamentação da Filosofi a 
inicia-se na mente, e não na natureza das coisas. Pretende 
construir seu sistema tendo por base uma verdade absolutamente 
indubitável: Eu penso, logo sou (Cogito, ergo sum). Ele analisa essa 
ideia-base em suas características constitutivas, para admitir 
como verdadeira qualquer ideia semelhante àquela. “As coisas 
que concebemos clara e distintamente são todas verdadeiras”, vai 
escrever na quarta parte do Discurso de Método. Na realidade, 
essa proposição dependerá de outra que afi rme (ou postule) a 
existência de Deus e sua absoluta e essencial veracidade. Vale 
dizer, que o critério de verdade das proposições, além da verdade 
do cogito, está suspenso à existência de Deus, que é veraz e 
não pode nos enganar. Percebe-se assim, como o pensamento 
cartesiano gira em torno de si mesmo e, de certo modo, se vê 
obrigado a apelar para algo objetivo e que, entretanto, é sempre 
subjetivo. Clareza e distinção de ideias são condições ou critérios 
de verdade, porém esses não são a verdade, e não permitem à 
consciência sair do seu radical isolamento subjetivo.
Também em Kant, a verdade não tem mais seu fundamento 
nas coisas, com referência às quais um juízo da inteligência se 
18 | Introdução à Filosofi a
UNIDADE I - A Refl exão Filosófi ca
estabelece na divisão ou composição, entretanto é uma pura 
relação imanente da inteligência. Na Lógica, vai defi nir a verdade 
formal como a concordância do conhecimento consigo mesmo e 
na Crítica da Razão Pura, entende a verdade como a concordância 
do conhecimento com seu objeto, ou, melhor dizendo, o acordo 
do juízo com as leis imanentes da razão. 
É sempre verdade o fato de Kant não se afastar da relação 
gnosiológica essencial entre o sujeito e o objeto-termo, contudo, 
ao confundir esse com o conhecimento em si não contraditório, 
terá assim uma verdade totalmente imanente ao sujeito. Se há 
um problema nessa concepção é que a mens mensurans deverá 
aceitar juízos contraditórios simultaneamente verdadeiros; não se 
teria por outro lado um critério válido de verdade, o entendimento 
sempre seria verdadeiro e, por fi m, não teriam cabimento hipóteses 
e suposições. 
Acrescente-se que a coerência do pensamento é condição 
de possibilidade do próprio pensamento, todavia não se há de 
entender como verdade. Uma proposição pode ser coerente e falsa, 
ao mesmo tempo, exigindo, de qualquer modo, a comprovação 
empírica para se saber de sua falsidade ou de sua veracidade. 
Se a verdade kantiana é uma correspondência fechada entre o 
conhecimento e seu objeto, a verdade no pragmatismo, em mais 
de um aspecto, àquela se liga, não fosse pela supremacia que 
em ambas se dá à razão prática sobre a teórica. No pragmatismo, 
porém, a ênfase recai sobre a experiência decisiva sobre a 
funcionalidade de uma teoria e, portanto, sobre sua verdade. Não 
se há de negar a importância do pragmatismo nas assim chamadas 
verdades morais. No entanto, o pragmatismo não sabe bem o que 
fazer com as verdades evidentes, com os primeiros princípios, as 
verdades matemáticas, o conhecimento abstrato. 
O caminho eclético é com frequência o escolhido, na escolha 
dos critérios, propondo-se um conjunto de regras para harmonizar, 
purifi car ou eliminar nos vários sistemas. Não se acha com clareza 
o critério para tal escolha, podendo muito bem deparar-se com 
teorias incompatíveis. 
Na Filosofi a Contemporânea, não está ausente a preocupação 
com a verdade, entretanto o foco se centra na questão 
epistemológica, sem o pano de fundo ontológico e ético.São 
rediscutidas as tendências até aqui esboçadas, mas para se ver 
o que delas se pode aproveitar, se há algo a aproveitar-se, nos 
processos e nos resultados da ciência. 
CAMELLO, J. O. Maurílio. A questão da verdade na fi losofi a. Theoria: Revista 
Eletrônica de Filosofi a, vol. 1, 2009. 
Disponível em: <http://www.theoria.com.br/edicao0109/A_questao_da_verdade_
na_Filosofi a.pdf>. Acesso em: 26 mai. 2017. 
Introdução à Filosofi a | 19
TÓPICO 01 - A questão da verdade
RESUMO DO TÓPICO
Nesse tópico você aprendeu que: 
• Filosofi a é uma palavra de origem grega a qual signifi ca 
literalmente “amigo da sabedoria”.
• Das coisas que a Filosofi a estuda, ela deseja oferecer uma 
explicação conclusiva e, para consegui-la, serve-se somente 
da razão, daquilo que os gregos chamaram logos. 
• A Filosofi a Grega parece ter surgido quando as repostas 
dadas pelo mito a certas questões não satisfi zeram mais 
a certas mentes particularmente exigentes de um povo, 
sobretudo curioso e passível de se espantar.
 
20 | Introdução à Filosofi a
UNIDADE I - A Refl exão Filosófi ca
Introdução à Filosofi a | 21
Tópico 02
O ato de Filosofar
(Principais correntes 
fi losófi cas ocidentais)
Introdução 
Neste segundo tópico, você estudará questões relacionadas à 
atitude fi losófi ca. Para tanto, é necessário conhecer os principais 
pensadores da Filosofi a Grega antiga e suas perspectivas fi losófi cas. 
O objetivo do tópico é apresentar as condições necessárias para 
a atitude fi losófi ca; o que é o ato fi losófi co e qual sua natureza; 
e, apontar algumas implicações da atitude fi losófi ca no que diz 
respeito às questões éticas e políticas. 
No fi nal do tópico será disponibilizado um conjunto de questões 
que servirão para relembrar o conteúdo estudado, bem como 
uma leitura complementar, servindo-lhe de suporte para acessar 
outros textos sobre essa temática. 
Bons estudos! 
Unidade I
UNIDADE I - A Refl exão Filosófi ca
22 | Introdução à Filosofi a
1. O ATO DE FILOSOFAR
Inicialmente, é necessário lembrar que os fi lósofos não se 
apresentavam necessariamente como sábios, antes, apreciavam 
serem chamados de “amantes da sabedoria”. Segundo Rezende 
(1998), o fi lósofo torna-se amante do seu próprio espanto, sendo 
a experiência o fator que o joga na atividade da busca do saber, 
que é o objeto de seu amor. 
O (a) fi lósofo (a) é aquele (a) que chega diante das questões do 
cotidiano, das situações comuns e provoca questionamentos sobre 
elas, propõe olhares, aponta caminhos que, na maior parte das 
vezes, não são comuns à maioria. Em última instância, podemos 
afi rmar que a base da atitude fi losófi ca é a busca pela verdade. 
Sem o interesse pela causa última das coisas e seus sentidos, não 
se pode fazer Filosofi a. 
Nota importante
A atitude de indagação, da problematização e da busca pelos 
sentidos das coisas, provoca certo tipo de estar, de ver e ouvir. 
Em última instância, essa é a condição necessária para a atitude 
fi losófi ca. 
Na Grécia antiga, podem-se identifi car vários pensadores que 
desenvolveram a atitude fi losófi ca tentando identifi car limites 
e possibilidades para a produção da verdade. Evidentemente, 
não será possível referir todos os fi lósofos que se ocuparam 
com a temática, de modo a selecionarmos aqueles que julgamos 
poderem contribuir mais signifi cativamente para a compreensão 
do que seja o ato fi losófi co. Seguindo a periodização da Filosofi a 
Grega, a qual tradicionalmente classifi ca os fi lósofos em pré-
socráticos, socráticos e pós-socráticos, optamos também por 
seguir esse esquema.
1.1 O pensamento pré-socrático
Entre os fi lósofos pré-socrático, escolhemos dois que 
representam duas posições ou atitudes fi losófi cas antagônicas. 
De um lado, temos Heráclito, defensor da ideia de que a realidade 
está em constante transformação; por outro lado, encontramos 
Parmênides, o qual afi rmava justamente o contrário: a realidade é 
marcada pela constância, pela imutabilidade.
Heráclito viveu entre 544 e 484 a.C. na região onde atualmente 
está localizada a Turquia. O seu pensamento foi marcado pela 
observação de que a realidade está em constante mudança. 
Podemos dizer que ele queria compreender a realidade em seu 
devir, ou seja, como ela constantemente vem a ser. O mundo não é 
estático, mas está se transformando o tempo todo, logo, o princípio 
regente da realidade deve ser condizente a essa mudança. 
HERÁCLITO
[QUEM?]
Heráclito nasceu em 544 a.C., na cidade 
de Éfeso e, morreu no ano 484 a.C. na 
mesma cidade. 
TÓPICO 02 - O ato de Filosofar
Introdução à Filosofi a | 23
Ao observar um rio, por exemplo, podia observar que ele 
não parava de fl uir. A água se deslocava ininterruptamente em 
direção ao oceano e novas águas brotavam nas nascentes ou 
eram acumuladas pelas chuvas. Heráclito afi rmava não poder nos 
banhar duas vezes no mesmo rio (ARANHA; MARTINS, 2003). Da 
mesma forma, se observarmos o mundo ao nosso redor, veremos 
a sua transformação o tempo inteiro. As cidades em que vivemos 
não param de crescer, dia após dia, novas casas, edifícios, ruas e 
avenidas são construídas. 
A nossa maneira de pensar muda com o tempo; se hoje 
pensamos de uma determinada maneira, as experiências da vida 
fazem com que as nossas convicções sejam alteradas e acabamos 
adotando novos discursos, defendendo novas ideias. Embora 
nunca seremos inéditos, hoje já não somos os mesmos em relação 
a ontem. Também amanhã não seremos os mesmos, contudo já 
teremos nos tornado outra pessoa. A leitura dessa apostila, por 
exemplo, está nos mudando. 
Nota importante 
Por tudo isso, Heráclito estava convencido de que “tudo fl ui”, 
ou seja, tudo muda. Assim, o conhecimento verdadeiro é o que 
consegue captar a mudança da realidade. A explicação da realidade 
não pode ser estática, mas deve estar norteada pela fl uidez da 
realidade. Portanto, para Heráclito, o princípio do conhecimento é 
a mudança (ARANHA; MARTINS, 2003).
Outro fi lósofo desse período foi Parmênides, que viveu entre 540 
e 470 a.C. na região da atual Itália, defendia a ideia da imobilidade 
do ser. Ele foi um ostensivo crítico da fi losofi a de Heráclito e o 
seu pensamento infl uenciou de maneira muito signifi cativa a 
história do conhecimento no ocidente. Para Parmênides, não era 
concebível a ideia de que as coisas estão em constante mudança, 
de que elas poderiam ser algo agora e, mais tarde, deixar de ser 
(ARANHA; MARTINS, 2003).
De fato, se pararmos para observar a realidade, em muitos 
sentidos, também teremos a percepção de que as coisas não 
mudam realmente. Embora possam parecer mudar aos nossos 
sentidos, no fundo, permanecem as mesmas. Pense no exemplo 
da política em nosso país. Entra ano e sai ano e tudo parece 
permanecer igual. Se analisarmos notícias de jornais do fi nal do 
século XIX, podemos encontrar muitas notícias sobre corrupção e 
um anseio por mudança. Atualmente, analisando os jornais que 
circulam em nossas cidades, constataremos que nada realmente 
mudou, mesmo que as pessoas sejam outras. Interessante 
observar que, em alguns casos, até os sobrenomes das pessoas 
envolvidas são os mesmos.
Logo, podemos também dar razão a Parmênides ao afi rmar que 
MUDANÇAS
[PARA REFLETIR]
Se deixarmos de ver um lugar por 
algum tempo que seja, e depois 
voltarmos a esse lugar, logo nos 
daremos conta da quantidade de 
mudanças processadas. Da mesma 
forma como o mundo material se 
transforma, também as pessoas 
mudam, adotando novos cortes de 
cabelo, novos jeitos de se vestir; a 
sua aparência muda com o passar 
dos anos, a pele fi ca mais fl ácida, 
emagrecemos e engordamos.
PARMÊNIDES
[QUEM?]
Parmênides ou Parménides de Eleia 
(cidade localizada na costa sul da 
Magna Grécia) foi um fi lósofo grego, 
supostamente de uma família rica. 
Seus primeiros contatos fi losófi cos 
foram com a escola pitagórica, 
especialmente com Ameinias.
COMPORTAMENTO
[PARA REFLETIR]
Experiências semelhantes podemos 
fazer em relação aos comportamentos 
das pessoas.Quantas dizem mudar de 
vida depois de terem cometido alguma 
falta grave, mas, quando nos damos 
conta, estão fazendo as mesmas 
coisas, cometendo os mesmos erros. 
Quantos fi lhos dizem querer ser 
totalmente diferentes de seus pais, 
especialmente em relação à violência 
e alcoolismo, todavia, se assim o 
fosse, não deveria haver mais casos 
de agressão e consumo excessivo de 
álcool.
24 | Introdução à Filosofi a
as coisas não mudam realmente. Como explicar então as mudanças 
na realidade percebidas pelos nossos sentidos? Segundo o fi lósofo, 
elas se limitam ao mundo sensível, à percepção que temos da 
realidade, e não a sua essência. Somente o mundo inteligível, o 
qual é acessado pela nossa razão, é o mundo verdadeiro.
Nota importante: 
Das ideias de Parmênides surgiu a convicção de que a realidade 
do mundo corresponde ao pensamento humano ou, em outras 
palavras: tudo o que o ser humano é capaz de elaborar através do 
uso da razão é real e, consequentemente, verdadeiro. 
Mais tarde, Aristóteles apenas aprofundará essa ideia, 
colocando a lógica como critério para a identidade entre a razão 
e a realidade.
1.2 Período Socrático 
O período socrático é assim denominado devido à atuação do 
fi lósofo Sócrates, em razão principalmente da profundidade e 
abrangência da sua fi losofi a. Porém nessa época também atuaram 
uma série de fi lósofos chamados de Sofi stas, bem como Sócrates, 
Platão, discípulo de Sócrates, e Aristóteles, que foi discípulo de 
Platão.
No período socrático, houve uma mudança muito signifi cativa 
na atitude fi losófi ca em relação ao conhecimento. Ocorreu o 
deslocamento de uma ênfase nas questões da natureza para uma 
abordagem antropológica. 
Nota importante
Antes, os fi lósofos estavam preocupados em explicar as causas e 
leis do mundo natural; no período clássico ou socrático, passaram 
a perguntar pelo papel do ser humano no mundo, as condições de 
produção do conhecimento e os fatores que podem impedi-lo. 
1.2.1 Sofi stas
A atuação dos sofi stas destoa bastante da refl exão dos fi lósofos 
pré-socráticos. Isso se deve em boa medida porque os seus 
interesses são distintos. A atuação dos chamados sofi stas ocorre 
no período áureo da cultura grega, no século V a.C. 
Em Atenas passou a existir uma intensa atividade artística e 
cultural nesse período, caracterizando-se também pelo auge da 
democracia. Ainda que as questões da natureza aparecessem nas 
refl exões fi losófi cas, o foco se tornou cada vez mais o próprio ser 
humano, ou seja, a fi losofi a assumiu gradativamente um enfoque 
antropológico, envolvendo questões de ordem moral e política 
(ARANHA; MARTINS, 2003, p. 120).
UNIDADE I - A Refl exão Filosófi ca
REFLEXÃO TEOLÓGICA 
[SAIBA MAIS]
Os dois princípios apresentados, “tudo 
fl ui” e “o ser é imóvel”, infl uenciaram 
e ainda infl uenciam a Teologia até os 
dias de hoje. A refl exão teológica que 
é mais norteada pelo pensamento 
de Heráclito, segundo o qual tudo 
muda, estará propensa a buscar 
constantemente a atualização da 
mensagem evangélica para os dias 
atuais, pois reconhece a mutabilidade 
do mundo e a necessidade de 
adequação da mensagem cristã aos 
novos desafi os da sociedade. Ela será 
uma teologia mais inovadora, disposta 
a mudar conforme os novos desafi os. 
Já a Teologia norteada pela ideia de 
imutabilidade do ser de Parmênides 
será mais conservadora, insistindo na 
perenidade da mensagem evangélica. 
Esta será uma postura mais dogmática 
e pouco aberta a mudanças, pois a 
mudança poderá ser vista como a 
possibilidade de perda da essência da 
mensagem.
Introdução à Filosofi a | 25
Os sofi stas surgiram em resposta aos novos desafi os trazidos 
pelo desenvolvimento das cidades e do comércio para a Grécia. 
Antes, a sociedade era regida por uma elite proprietária de terras 
e do poder militar. Essa classe baseava a educação dos seus fi lhos 
no modelo dos heróis mitológicos, especifi camente dos guerreiros 
belos e bons. 
A beleza se caracterizava pelo corpo escultural formado pelos 
exercícios físicos, pela ginástica, pela dança e pelos jogos de 
guerra. O ser bom era defi nido a partir das leituras de Homero 
e Hesíodo, por exemplo, que descreviam as características dos 
heróis, cujas virtudes eram admiradas pelos deuses, sendo a 
principal delas a coragem diante da morte na guerra. 
A coragem aparece como importante elemento na luta de Heitor 
e Aquiles, contada por Homero e retratada no cinema através do 
fi lme “Tróia”. Conforme Chaui (2008, p. 40), “a virtude era a aretê 
(palavra grega que signifi ca ‘excelência e superioridade’), própria 
dos melhores, ou, em grego, dos aristoi.” Daí deriva a palavra 
aristocracia, signifi cando o governo dos melhores.
Quando se desenvolveram as cidades e o comércio, surgiu 
também uma nova classe social rica a qual estava igualmente 
interessada em ter infl uência política. Assim, desenvolveu-se a 
democracia grega, pela qual essa participação se tornou possível. 
As decisões concernentes à vida na cidade passaram a ser 
tomadas na praça pública, a Ágora. Das reuniões na praça pública 
participavam todos os cidadãos, expondo as suas ideias de modo 
a convencer os demais dos seus pontos de vista. 
O modelo de educação aristocrático já não atendia mais às 
novas necessidades, por isso surgiu um novo modelo de educação, 
protagonizado pelos sofi stas. 
Nota importante
Os sofi stas eram membros da nova classe social procurando 
ampliar a sua infl uência política, podendo ser concretizada a 
partir dos debates na praça pública. Era preciso que houvesse 
conhecimento e argumentos para tais discussões. Assim, os 
sofi stas se tornaram os primeiros educadores, pois contribuíram 
para a sistematização dos conhecimentos de tal forma a poderem 
formar o cidadão que faz a sua voz ser ouvida na Ágora. Eles dão 
uma contribuição fundamental para a sistematização do ensino ao 
formarem um currículo de estudos: gramática, retórica, dialética, 
aritmética, geometria, astronomia e música (CHAUI, 2008, p. 40).
Os sofi stas se tornaram especialistas em retórica, que é a arte 
da argumentação. Na medida em que se dispõem a ensinar os 
fi lhos da nova classe rica, os sofi stas iniciam os jovens na arte 
da retórica. Ao mesmo tempo, considerando o aspecto bastante 
prático de sua refl exão, sendo a preocupação com as discussões 
TÓPICO 02 - O ato de Filosofar
SOFISTAS
[SAIBA MAIS]
O termo “sofi sta” tem sua origem 
no idioma grego, a partir da palavra 
“sophistes”, derivada de “sophia” 
e “sophos”, signifi cando sabedoria 
e sábio respectivamente. O termo 
foi utilizado para descrever alguém 
habilidoso em uma determinada 
atividade. Com o tempo a palavra 
passou a designar a sabedoria nos 
assuntos tipicamente humanos, em 
oposição aos assuntos da natureza, 
até chegar a designar um tipo 
específi co de profi ssional, o sofi sta. 
JAPIASSPÚ; MARCONDES, 1996, p. 90. 
26 | Introdução à Filosofi a
UNIDADE I - A Refl exão Filosófi ca
na praça pública, eles acabam por elaborar o ideal teórico da 
democracia. Os cidadãos da nova classe rica tiveram especial 
interesse nesse assunto, pois ele se contrapõe diretamente aos 
interesses da velha aristocracia rural (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 
120).
Com os sofi stas, o conhecimento passou por um primeiro 
momento de sistematização, isso porque eles estavam convencidos 
de que ele era abrangente demais para ser assimilado de uma 
só vez. Essa foi a nova atitude fi losófi ca gerada pelos sofi stas. Tal 
atitude dos sofi stas teve implicações diretas na vida política da 
Grécia. 
1.2.2 Sócrates 
Como já vimos no ponto anterior, Sócrates não simpatizava com 
os sofi stas. Em primeiro lugar, pelo fato de eles cobrarem pelo 
ensino que ministravam; também porque Sócrates não aceitava 
a possibilidade de se defender qualquer ideia somente para que 
se pudesse ganhar um debate em praça pública. O fi lósofo estava 
convicto de que somente a verdade deveria ser defendida. E, antes 
de querer convencer os outros de alguma ideia, cada umdeveria 
primeiro conhecer a si mesmo. 
Por outro lado, Sócrates concordava com os sofi stas quando 
eles afi rmavam que a educação aristocrática já não atendia mais 
às necessidades da cidade. Era preciso, então, a criação de um 
novo modelo educacional, mais adequado aos novos tempos 
(CHAUÍ, 2008, p. 41). 
Sócrates viveu aproximadamente entre os anos 470 e 399 a.C., 
em Atenas, e não deixou testemunho escrito. Tudo o que sabemos 
sobre ele foi transmitido por dois de seus discípulos, Xenofontes e 
Platão. Platão apresenta Sócrates como um homem andante pelas 
ruas de Atenas, fazendo perguntas às pessoas, principalmente 
aquelas que discursavam em praça pública. 
Sócrates perguntava sobre os valores que os gregos 
consideravam fundamentais para a sua sociedade, tais como a 
coragem, a virtude, o amor, a honestidade, a amizade e a verdade. 
Para a sua surpresa, as pessoas sempre lhe respondiam com 
exemplos, às quais retrucava dizendo não estar interessado nos 
exemplos e sim queria saber o que é o amor, a amizade, etc. A 
atitude de Sócrates causava embaraço; as pessoas se sentiam 
constrangidas e percebiam não ter as respostas para as perguntas 
do fi lósofo (CHAUI, 2008, p. 41).
Aranha e Martins (2003, p. 121) ressaltam que, ao adotar esses 
procedimentos, Sócrates lançou mão de um método próprio de 
refl exão fi losófi ca, chamado de ironia e maiêutica. Ironia é um 
verbo grego usado para “perguntar” e maiêutica signifi ca “parto”. 
O método socrático teria sido assim denominado em homenagem 
SOFISTAS
[SAIBA MAIS]
Através de sua atuação, os 
sofi stas contribuíram ainda para 
a profi ssionalização da educação, 
pois muitos deles cobravam pelos 
serviços prestados. Essa prática lhes 
rendeu muitas críticas, como as feitas, 
por exemplo, por Sócrates, que os 
acusava de “prostituição”. Segundo o 
fi lósofo, o conhecimento não poderia 
ser vendido. No entanto, conforme 
alerta Aranha e Martins (2003), mesmo 
que alguns sofi stas poderiam ser 
chamados de “mercenários do saber”, 
isso de modo algum pode ser aplicado 
a todos eles. Os sofi stas deixaram 
uma contribuição muito valiosa para 
a fi losofi a posterior e, certamente, 
podem ser considerados entre os 
precursores dos modernos estudos da 
linguagem, que incluem a linguística, 
jornalismo, marketing e outros.
SÓCRATES
[QUEM?]
Sócrates foi creditado por seu 
discípulo Platão como o responsável 
por levar a fi losofi a em uma direção 
mais ética e política. Foi um dos 
fi lósofos de tamanha relevância que 
a história dos fi lósofos da Grécia 
clássica é dividida em pré-socrático e 
pós-socrático. 
Introdução à Filosofi a | 27
TÓPICO 02 - O ato de Filosofar
“SÓ SEI QUE NADA SEI”
[SAIBA MAIS]
O pensamento Socrático é muitas 
vezes identifi cado com a famosa 
afi rmação “Só sei que nada sei”. 
Em outras palavras signifi ca que 
Sócrates não se considerava uma 
pessoa arrogante, pois tinha 
consciência de que não era possível 
conhecer tudo. Essencial para a 
refl exão fi losófi ca é a capacidade de 
perguntar, de querer saber coisas 
novas. Quando alguém pensa já 
saber tudo, que já está pronta, 
então não há mais necessidade de 
aprendizado e também de refl exão, 
muito menos de fi losofi a. Portanto, 
o fi lósofo considerava a humildade 
como elemento essencial da pessoa 
que quer ser sábia. O sábio sabe 
reconhecer os seus próprios limites 
e não hesita em admitir não ser 
dono da verdade, não possuir todas 
as respostas. Quando Sócrates fazia 
perguntas às pessoas até lhes mostrar 
que aquilo em que acreditavam ser 
a verdade não era realmente algo 
consistente, não queria dizer que ele 
mesmo possuía todas as respostas
PLATÃO
[QUEM?]
Um dos principais fi lósofos da 
antiguidade. Sua obra “A República” é 
uma de suas obras mais estudadas na 
tradição fi losófi ca ocidental.
à mãe de Sócrates, a qual era parteira. Enquanto ela ajudava as 
pessoas a vir à luz, o fi lho era um parteiro de ideias.
Sócrates introduziu na fi losofi a a necessidade de se fazer uma 
diferença entre aquilo que se apresenta aos nossos olhos, aquilo 
que assimilamos através dos nossos sentidos, e as essências das 
coisas. Ele não queria apenas saber a opinião dos cidadãos de 
Atenas sobre determinado assunto, entretanto estava disposto a 
procurar o conceito que oferecesse o acesso à própria verdade. 
Essa busca da verdade tem uma enorme força social e política, 
pois faz as pessoas perguntarem pelo real sentido do que está a 
sua volta. 
Por essa razão, Sócrates logo passou a ser visto como um 
perigo pelos poderosos de Atenas e considerado alguém que 
estava corrompendo a juventude com as suas ideias. Ele foi levado 
perante a assembleia da cidade e foi julgado culpado, sendo 
obrigado a tomar veneno, a cicuta. Sócrates não se defendeu das 
acusações, dizendo não as aceitar. Também não abriria mão de 
suas ideias e da liberdade de pensar e, dessa forma, preferiria a 
morte (CHAUI, 2003, p. 42).
1.2.3 Platão 
Platão foi discípulo de Sócrates, como vimos acima, e 
desenvolveu o pensamento do seu mestre. Muitas vezes, é difícil 
saber onde termina o pensamento de Sócrates e em que ponto 
começa o de Platão. Platão viveu em Atenas entre os anos de 428 
e 347 a.C., onde fundou uma escola chamada Academia. 
Platão desenvolve o famoso mito da caverna onde irá esboçar 
uma nova atitude fi losófi ca quanto à busca do conhecimento. No 
mito, Platão faz uma diferença entre o mundo sensível, aquele 
percebido pelos sentidos dos prisioneiros como sombras refl etidas 
na parede e o mundo real ou essencial. A realidade, para aquelas 
pessoas que nunca haviam experimentado algo diferente, era 
um mundo de sombras e de ecos. Imaginar outro mundo, onde 
houvesse outras condições de luminosidade, de cores, de cheiros 
e formas era algo que poderia ser comparado à loucura. Quem 
ousasse mencionar algo assim poderia ser ridicularizado.
Nota importante 
A principal característica do pensamento de Platão é a dualidade 
entre o mundo ideal, ou das ideias, e o mundo sensível. O seu 
esforço maior foi o de tentar realizar a síntese entre os pensamentos 
opostos de Parmênides e Heráclito. O primeiro, como estudo no 
ponto sobre os fi lósofos pré-socráticos, defendia a imutabilidade 
do ser; enquanto o segundo ressaltava a existência de um mundo 
em constante transformação. 
Por conseguinte, Sócrates e Platão foram sérios críticos dos 
sofi stas, que aceitavam como verdadeiros os conhecimentos 
28 | Introdução à Filosofi a
UNIDADE I - A Refl exão Filosófi ca
REALIDADE
[PARA REFLETIR]
Para Platão, as conclusões de 
Heráclito decorriam da experiência 
que fazemos com os nossos sentidos, 
mas que seriam enganosas. O fi lósofo 
ilustra isso no mito da caverna ao 
ressaltar que a vivência em diferentes 
ambientes leva à formação de 
diferentes concepções da realidade. A 
vivência na prisão da caverna durante 
toda a vida levou aquelas pessoas 
a acreditarem que o seu mundo, a 
realidade, era o que estava diante 
dos seus olhos. A verdade eram as 
sombras projetadas na parede. A 
possibilidade de sair daquele lugar e 
experimentar a existência de outras 
formas de realidade, provocaria uma 
mudança na concepção de mundo. 
Os sentidos nos oferecem novos 
parâmetros para a compreensão 
do mundo. Porém, o que Platão 
quer justamente mostrar é que não 
há garantia de que, o que vemos, 
corresponde efetivamente à realidade. 
Assim, segundo Platão, os nossos 
sentidos nos enganam e a verdade 
deveria residir em outra esfera, que 
não a do mundo sensível. Nesse 
sentido, tanto o pensamento socrático 
como o de Platão ressaltam que o 
verdadeiro conhecimento não está na 
experiência sensível, mas na essência 
das coisas, que pode ser alcançada 
mediante o uso da inteligência. O 
mundo inteligível, da razão, é o que 
corresponde à verdade.
formados pela experiência sensível. Segundo os fi lósofos, as 
experiências sensoriais formam a mera opinião, ou dóxa em 
grego, que poderia variar de pessoa para pessoa, de acordo com 
cada circunstância particular.A preocupação da Filosofi a, por 
sua vez, deveria ser com o conhecimento verdadeiro, alcançável 
unicamente pelo pensamento (CHAUI, 2008).
Veja, agora, como a atitude fi losófi ca de Sócrates e Platão foi 
desenvolvida pelo fi lósofo Aristóteles. 
1.2.4 Aristóteles
 
O tempo de atuação de Aristóteles é caracterizado na história 
da Filosofi a como período sistemático. Isso se deve ao fato de 
que os fi lósofos tiveram um papel fundamental na organização e 
sistematização do pensamento fi losófi co desenvolvido até então 
e, ainda, ao seu aprofundamento. 
Devemos a Aristóteles a organização do pensamento lógico 
através do qual elabora uma explicação da realidade a partir do 
princípio de causalidade. Para ele, todas as coisas têm uma causa, 
podendo ser estudada e compreendida. 
Se Platão apenas tentou realizar a síntese entre os pensamentos 
de Parmênides e Heráclito, Aristóteles funde defi nitivamente 
essas duas grandes proposições fi losófi cas em um único sistema. 
Para superar a dicotomia platônica, a teoria aristotélica está 
fundamentada em três distinções fundamentais: substância-
essência-acidente; ato-potência; forma-matéria (ARANHA; 
MARTINS, 2003, p. 123). 
Vejamos a seguir de que forma Aristóteles propôs uma nova 
explicação da realidade a partir desses conceitos.
Segundo Aristóteles, toda a realidade é composta de substância, 
pois essa dá a dimensão de concreticidade à realidade. Para ele, 
a substância é “aquilo que é em si mesmo”. Toda substância, por 
sua vez, possui atributos, podendo ser ou não essenciais. Se os 
atributos da substância não são essenciais, então eles podem 
ser chamados de acidentais. Se os atributos essenciais faltam a 
uma determinada substância, ela não poderia ser considerada 
o que é. Vamos pensar em um exemplo para tornar a distinção 
de substância, essência e acidente feita por Aristóteles mais 
compreensível. 
Uma das perguntas movedoras da refl exão fi losófi ca de 
Aristóteles foi: de que modo os seres humanos se tornaram 
diferentes uns dos outros? Para resolver essa questão, Aristóteles 
recorre às noções de matéria e forma. A matéria é aquilo de 
que todas as coisas são feitas. Esse conceito é muito próximo à 
concepção que a física moderna tem de matéria. A característica 
da matéria é a indeterminação. Desse modo, um amontoado de 
Introdução à Filosofi a | 29
TÓPICO 02 - O ato de Filosofar
células não constitui um ser humano; nem tampouco uma porção 
de granito pode ser considerada uma estátua. Para que a matéria 
seja considerada algo, é preciso que ela adquira forma. A matéria 
tem a forma apenas potencialmente. Várias células podem tornar-
se um ser humano, mas não necessariamente. Do mesmo modo, 
uma semente possui a forma de árvore como potencial, assim 
como uma pedra pode vir a ser uma estátua.
A matéria é a parte constante e imutável da realidade e, por 
esse viés, engloba as conclusões a que chegou Parmênides, de 
que o mundo é imutável. Já com a noção de forma, Aristóteles nos 
remete ao pensamento de Heráclito, o qual privilegiou a mudança 
como elemento constitutivo da realidade e do mundo. 
Contudo, ainda é preciso entender como Aristóteles concebia 
a transformação da matéria para que ela viesse a adquirir uma 
forma determinada. Segundo o fi lósofo, como já referimos acima, 
toda a matéria tem a forma em potência. Quando a matéria 
adquiriu uma forma determinada, então ele dizia haver chegado 
ao ato (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 123). O ato é a forma adquirida. 
No exemplo do ser humano tomado acima, a matéria são as 
células logo após a fecundação do óvulo pelo espermatozoide. 
Essas células têm a forma humana somente em potencial. O ato é 
o ser humano formado. 
Nota importante
Segundo Aranha e Martins (2003, p. 124), para explicar o movimento de 
passagem da potência ao ato, Aristóteles recorre à teoria das quatro 
causas:
a) A causa material: é aquilo de que uma coisa é feita. Ela é determinante, 
pois de um monte de pedras não se pode esperar um ser humano. Mas 
as pedras podem ser transformadas em uma estátua.
b) A causa efi ciente: é aquilo com que a coisa é feita. Para que as 
pedras virem esculturas, é preciso haver um escultor.
c) A causa formal: é aquilo que a coisa vai ser. No caso das pedras, a 
estátua é a causa formal, especifi camente a imagem feita na mente 
do escultor. Quando ele vê a pedra, ele já é capaz de imaginar em seu 
lugar a estátua pronta.
d) A causa fi nal: é aquilo para o qual a coisa é feita. A estátua pode ter 
a fi nalidade de servir de decoração ou homenagear alguma pessoa 
importante.
Desse modo, com uma única teoria, Aristóteles foi capaz de 
reunir os pensamentos de Parmênides e Heráclito e superar 
o mundo separado das ideias proposto por Platão. O sistema 
aristotélico contempla ao mesmo tempo a imutabilidade do mundo 
e as mudanças. Com Aristóteles, concretiza-se defi nitivamente 
a mudança na mentalidade da antiguidade de uma esfera 
sobrenatural e mítica para uma mentalidade racional e orientada 
exclusivamente para a esfera imanente. Não era mais necessária a 
recorrência à transcendência para explicar o cotidiano.
 
ARISTÓTELES
[QUEM?]
Aristóteles viveu entre os anos de 384 
e 322 a.C. Ele frequentou a academia 
de Platão e a sua fi delidade ao mestre 
é relativa. O fi lósofo desenvolveu o 
pensamento de Platão e o aprofundou, 
mas também foi divergente em muitos 
aspectos. Entre os principais aspectos 
críticos estava a compreensão de 
um mundo separado das ideias. 
Aristóteles não achava ser possível 
conceber a realidade em duas 
esferas completamente distintas, 
independentes uma da outra.
RACIONALIDADE
[PARA REFLETIR]
Aranha e Martins (2003, p. 123) 
propõem que imaginemos um ser 
humano, podendo ser considerado 
como uma substância individual. 
Para que possamos considerar essa 
substância um ser humano e não 
outra coisa qualquer, é preciso que 
a substância tenha alguns atributos 
essenciais. Na história da Filosofi a, 
a característica essencial do ser 
humano sempre foi considerada 
a racionalidade. Então, se não 
houver racionalidade, não podemos 
considerar uma substância como 
um ser humano. Por outro lado, há 
vários atributos no ser humano que 
não são essenciais para que ele seja 
considerado como tal. Se uma pessoa 
for velha, nova, obesa ou magra, ou 
então tiver cabelos longos ou nem ao 
menos tiver cabelo, isso não faz com 
que ela deixe de ser um ser humano.
30 | Introdução à Filosofi a
UNIDADE I - A Refl exão Filosófi ca
2. A NATUREZA DO ATO FILOSÓFICO 
Durante a leitura do primeiro subtópico dessa aula, você deve 
ter se questionado sobre a natureza do ato fi losófi co ou em última 
instância da própria Filosofi a. Essa pergunta tem sido feita por 
vários pensadores ao longo da história. Podemos pensar 
a natureza do ato fi losófi co a partir da compreensão de que a 
natureza de alguma coisa é a sua essência, aquilo que a faz ser e 
funcionar daquele modo específi co. 
Dessa forma, depois de ter lido os principais pensadores da 
antiga Grécia e conhecer de modo geral a organização de sua 
atitude fi losófi ca, vale agora o questionamento sobre o ser do 
pensamento fi losófi co, a natureza própria da Filosofi a. 
Assim, imagine se alguém tomasse uma decisão muito estranha 
e começasse a fazer perguntas inesperadas. Em vez de “que horas 
são?” ou “que dia é hoje?”, perguntasse: O que é o tempo? Em vez 
de dizer “está sonhando” ou “fi cou maluca”, quisesse saber: O que 
é o sonho? A loucura? A razão? 
Caso essa pessoa fosse substituindo sucessivamente suas 
perguntas, suas afi rmações por outras: “Onde há fumaça, há fogo”, 
ou “não saia na chuva para não fi car resfriado”, por: O que é causa? 
O que é efeito?; “seja objetivo”, ou “eles são muito subjetivos”, por: 
O que é a objetividade? O que é a subjetividade?; “Esta casa é mais 
bonita do que a outra”, por: O que é “mais”? O Que é “menos”? O 
que é o belo? Em vez de gritar “mentiroso!”, questionasse: O que 
é a verdade? O que é o falso? O que é o erro? O que é a mentira? 
Quandoexiste verdade e por quê? Quando existe ilusão e por quê? 
Se, em vez de falar na subjetividade dos namorados, inquirisse: O 
que é o amor? O que é o desejo? O que são os sentimentos? 
Se, em lugar de discorrer tranquilamente sobre “maior” e 
“menor” ou “claro” e “escuro”, resolvesse investigar: O que é a 
quantidade? O que é a qualidade? E se, em vez de afi rmar gostar 
de alguém porque possui as mesmas ideias, os mesmos gostos, 
as mesmas preferências e os mesmos valores, preferisse analisar: 
O que é um valor? O que é um valor moral? O que é um valor 
artístico? O que é a moral? O que é a vontade? O que é a liberdade? 
Alguém que tomasse essa decisão estaria tomando distância 
da vida cotidiana e de si mesmo; teria passado a indagar o que 
são as crenças e os sentimentos que alimentam, silenciosamente, 
nossa existência. Ao tomar essa distância, estaria interrogando a 
si mesmo, desejando conhecer por que cremos no que cremos, 
por que sentimos o que sentimos e o que nos mobiliza enquanto 
pessoas humanas.
Nota importante 
A natureza da fi losofi a está na própria natureza do humano. O 
Introdução à Filosofi a | 31
TÓPICO 02 - O ato de Filosofar
ser humano é caracterizado pela busca de sentido, pela produção 
de instrumentos simbólicos para se relacionar com a natureza e 
transformação da mesma. Esses aspectos colocam o homem em 
constante movimento fazendo com que as perguntas à vida e à 
realidade que se transformam sejam constantes. A natureza própria 
da Filosofi a é: acompanhar o movimento humano e relacioná-lo 
com a experiência concreta da realidade. 
A natureza da fi losofi a é a atitude de querer saber sobre tudo o 
que acontece. Enquanto existir no homem essa curiosidade então 
sempre existirá Filosofi a, pois essa é a sua natureza: questionar 
a realidade e a existência com o propósito de melhor conhecê-
la. Além disso, faz parte da natureza da fi losofi a conhecer causas 
últimas da moral, ética, política, religião e tudo quanto o ser 
humano produz para organizar sua vida. Por essa razão, atitude 
fi losófi ca acaba sendo a condição própria do ser humano. 
LEITURA COMPLEMENTAR
A natureza do Filósofo
Emilia Maria Mendonça de Morais
Se na tradição pré-socrática a concepção de phýsis aparece 
tanto associada à superação do mito e da intervenção divina, 
quanto à afi rmação de um princípio material ou imanente ao 
cosmos, quando transposta para “A República” e à defi nição do 
fi lósofo, essa noção ressurgirá vinculada à psykhé.
Apesar da concepção tripartite da alma, apresentada por 
Sócrates no livro IV do diálogo, incluir o desejo e as carências 
fi siológicas (em marcante diferença com a oposição dicotômica 
entre corpo e alma do Fédon), a natureza do fi lósofo não se 
subordina a nada orgânico ou fi siológico. Desprendida da 
materialidade, conforma-se ao pensamento e permanece atada 
ao divino cujo apelo integra verdade e justiça. Divina seria, então, 
a própria fi losofi a: o maior benefício concedido pelos deuses à 
raça dos mortais, segundo o Timeu; assim como o método que 
a defi ne, a dialética, fora um presente dos deuses aos humanos, 
segundo o Filebo. 
Falar dessa natureza do fi lósofo, por conseguinte, pressupõe 
abordar a natureza mesma da fi losofi a. No caso de um fi lósofo 
grego antigo e, mais particularmente, de Platão, fi losofi a e vida 
estão tão imbricadas, sobretudo se levarmos em conta o registro 
do testemunho socrático, tornando-se quase impossível distingui-
las. 
A primeira imagem delineada do fi lósofo nos escritos de 
Platão é a do próprio personagem Sócrates, visando sempre a 
32 | Introdução à Filosofi a
UNIDADE I - A Refl exão Filosófi ca
uma sabedoria deslocada do solo do prestígio público, seja pelo 
modo despojado como vive, seja pela direção à qual orienta seu 
pensamento, construindo, assim, um discurso desafi nado do que 
se costuma ouvir no âmbito da pólis. 
Aquele que se consagra à Filosofi a não apenas vive à parte 
das inquietações que movem seus concidadãos, mas dirige-se 
aos mesmos por meio de interpelações, soando-lhes sempre 
tão singulares quanto excêntricas. Desde os primeiros passos da 
Apologia, o personagem do fi lósofo chama a atenção para a sua 
fala estranha aos tribunais, tal como um idioleto, antes mesmo de 
discorrer sobre a sua vida desvinculada das ocupações políticas 
e dos interesses particulares – que a prática política se atenha 
ao particular e não à justiça, esse é o distintivo da pólis cujos 
governantes mantêm-se distanciados do exercício da fi losofi a. 
Ressonâncias desse estranhamento, reencontramos no Górgias 
e no Teeteto. No diálogo com Polo, consagrado ao exame da 
oratória, Sócrates relembra que provocou risos por sua inabilidade 
quando fora convocado a exercer na Assembléia as funções da 
pritania. Segundo Cálicles, o mais infl amado porta-voz da retórica 
sofi sta, por toda a sua atenção à fi losofi a e inapetência para lidar 
com os assuntos práticos da pólis, Sócrates fi ndaria por habitar 
uma casa vazia. Na encenação dos diálogos, a lição do colóquio 
dramático do Fédon: viver e refl etir à margem do burburinho da 
agorá decorre da atribuição primeira e permanente de todos 
aqueles que se consagram à fi losofi a; mirar para além do visível, 
atar a alma ao invisível e, assim, sondar o eterno e o divino. 
Durante o seu processo, Sócrates reconhecera seus vínculos 
diretos com Apolo, o deus que, por meio da resposta à consulta 
de Querofonte ao oráculo de Delfos, levara-o a fazer da fi losofi a 
um exercício aberto e público; desde então, o exame de si mesmo 
passou a ter seu lado reverso e complementar: o exame dos 
pretensos sábios da pólis. 
O Sofi sta, diálogo tardio, ainda pode ser lembrado como um 
dos vários exemplos de que, para Platão, em uma vida pautada 
pela fi losofi a não se fi rmariam rupturas nem mesmo distâncias 
instransponíveis entre a práxis e a theoría orientada à esfera do 
suprassensível. Reconstruindo os parâmetros teóricos da hipótese 
das Formas inteligíveis, o diálogo começa com o elogio do fi lósofo 
e termina com o menosprezo do próprio sofi sta. 
Em seu prólogo, Teodoro afi rma ser o Estrangeiro de Eléia um 
fi lósofo, não um deus, mas um ser divino, como seriam todos os 
fi lósofos. Sócrates mostra-se de acordo, porém adverte-lhe que 
o gênero divino não é fácil de defi nir por revestir-se de múltiplas 
aparências entre os humanos; embora os fi lósofos enxerguem as 
multidões e a vida dos homens das alturas em que se mantêm, 
podem ser confundidos com políticos ou até mesmos com sofi stas. 
Introdução à Filosofi a | 33
TÓPICO 02 - O ato de Filosofar
RESUMO DO TÓPICO
Nesse tópico você aprendeu que: 
• O (a) fi lósofo (a) é aquele (a) que chega diante das 
questões do cotidiano, das situações comuns e provoca 
questionamentos sobre elas; propõe olhares, aponta 
caminhos que, na maior parte das vezes, não são comuns à 
maioria. 
• A Filosofi a Grega tradicionalmente classifi ca os fi lósofos 
em pré-socráticos, socráticos e pós-socráticos. Os 
representantes do período pré-socrático são Heráclito e 
Parmênides; do socrático fazem parte os sofi stas, Sócrates, 
Platão e Aristóteles. Os demais fi lósofos posteriores a esses 
são considerados os pós-socráticos. 
• A natureza da fi losofi a é a atitude de querer saber sobre 
tudo o que acontece. Enquanto existir no homem essa 
curiosidade então sempre existirá fi losofi a, pois essa é a 
sua natureza: questionar a realidade e a existência com o 
propósito de melhor conhecê-la. 
Depois da longa discussão, da reconstrução da questão do ser a 
partir dos gêneros supremos e da noção de alteridade ontológica, 
o diálogo se encerra com a sentença que reduz a sofística a uma 
mera arte imitativa a qual, ao fomentar contradições no terreno 
das opiniões, apenas produz simulacros e ilusões; por isso seus 
porta-vozes pertenceriam a uma raça apenas humana, de nenhum 
modo divina. Platão aborda tanto a natureza do fi lósofo quanto a 
atividade fi losófi ca por proposições afi rmativas, mas tambémpor 
justaposições construídas através de negativas – ora adverte-nos 
sobre o que o fi lósofo e a fi losofi a não podem deixar de ser, ora 
sobre o que não podem ser. No alvo das negações, invariavelmente, 
estão os sofi stas e a sofística. É assim no Protágoras, no Górgias, 
no Fedro, na República, no Teeteto e no próprio Sofi sta. A distinção 
talvez mais marcante e recorrente seja justo a que acabamos 
de ressaltar: a vida e o pensar do fi lósofo concernem ao divino 
e à prática dos sofi stas, isso diz respeito apenas ao humano, ou 
melhor, ao mundano.
MORAIS, M. M. Emilia. A natureza do Filósofo. Kriterion, Belo Horizonte, nº 122, 
Dez./2010, p. 473-488. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/kr/v51n122/09.pdf>. Acesso em: 31 mai. 
2017. 
34 | Introdução à Filosofi a
UNIDADE I - A Refl exão Filosófi ca
Introdução à Filosofi a | 35
Tópico 03
Instrumentos do pensar
Introdução 
Neste tópico estudaremos alguns instrumentos do pensar. 
O objetivo principal desta aula é estudar a lógica como um 
importante instrumento para a organização das nossas ideias de 
forma rigorosa, de modo que as nossas conclusões sobre os fatos 
sejam adequadas e mantenham certa coerência. 
Tradicionalmente, os manuais introdutórios à Filosofi a dividem 
esse tópico em duas partes: a primeira diz respeito à lógica 
aristotélica como um instrumento de pensamento, e, a segunda 
parte diz respeito à lógica simbólica. Deste modo, dividiremos 
nossa aula em duas partes principais, apresentando em cada 
uma delas os princípios fundamentais para a organização de um 
discurso lógico.
Bons estudos! 
Unidade I
UNIDADE I - A Refl exão Filosófi ca
36 | Introdução à Filosofi a
1. A LÓGICA ARISTOTÉLICA 
Tanto os sofi stas quanto Platão se ocuparam com a questão da 
lógica. No entanto, foi Aristóteles (séc. IV a.C.), na obra Analíticos, 
quem produziu uma refl exão ampliada e rigorosa sobre a questão 
da lógica, de modo que sua sistematização se tornou base inicial 
para as discussões acerca da lógica nos períodos posteriores da 
história da Filosofi a. 
Na obra “Analíticos”, Aristóteles fez uma análise do pensamento 
nas suas partes integrantes. Em conformidade com Aranha e 
Martins (2003), essa e outras obras formam denominadas mais 
tarde Órganon, signifi cando “instrumento” para se proceder 
corretamente no pensamento. O próprio Aristóteles não utilizou a 
palavra lógica, ela apareceu mais tarde. 
A partir de Aristóteles, são classifi cadas duas subdivisões da 
lógica: a lógica formal e a lógica material. 
• A lógica formal: estabelece a forma correta das operações 
do pensamento. Se as regras forem aplicadas adequadamente, a 
construção do pensamento ou a formulação da argumentação é 
considerada válida. 
• A lógica material: refere-se à aplicação das operações 
do pensamento segundo a matéria ou natureza dos objetos, 
pretendendo conhecer ou formular argumentação sobre eles. 
Nota importante
Enquanto a lógica formal se ocupa com a estrutura do pensamento, 
a lógica material investiga a adequação do raciocínio à realidade. 
É também chamada metodologia, e como tal, procura o método 
próprio de cada ciência. 
Aristóteles formulou os primeiros princípios para a 
argumentação lógica. Esses princípios se inter-relacionam, sendo 
que um está na base do outro. São eles: o princípio da não-
contradição, o princípio de identidade e o princípio do terceiro 
excluído. 
É assim que Aristóteles formula na Metafísica o princípio 
de não-contradição: “É impossível que o mesmo (o mesmo 
determinante) convenha e não convenha ao mesmo tempo 
e sob o mesmo aspecto”. Isso signifi ca que duas proposições 
contraditórias não podem ser verdadeiras, que não é possível 
afi rmar e negar simultaneamente a mesma coisa, isto é, 
nenhum enunciado pode ser verdadeiro e falso ao mesmo 
tempo (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 101). 
LÓGICA
[GLOSSÁRIO]
Etimologicamente, a palavra lógica 
vem do grego logos, que signifi ca 
“palavra”, “expressão”, “pensamento”, 
“conceito”, “discurso”, “razão”. Podemos 
defi ni-la como o estudo dos métodos 
e princípios da argumentação. Ou, 
então, como a investigação das 
condições em que a conclusão de 
um argumento se segue de suas 
premissas. Por exemplo: Toda estrela 
brilha com luz própria. Ora, nenhum 
planeta brilha com luz própria. Logo, 
nenhum planeta é estrela. 
(ARANHA; MARTINS, 2003, p. 100-101). 
TÓPICO 03 - Instrumentos do pensar
Introdução à Filosofi a | 37
1.1 Proposição e Argumento
Dentro da lógica não interessam os aspectos psicológicos de um 
discurso. O que interessa na formulação lógica de um pensamento 
é a sua argumentação. É sob a argumentação que se fi xa a análise 
lógica. 
O argumento é um discurso em que se encadeiam proposições 
de modo a chegar a uma conclusão. A proposição é tudo o 
que pode ser afi rmado ou negado. Por exemplo, “todo cão é 
mamífero ou então “animal não é vegetal”. Nesse exemplo, há três 
proposições em que a última, a conclusão, deriva logicamente das 
duas anteriores, chamadas premissas ou antecedentes. 
A passagem das premissas para a conclusão corresponde à 
inferência. Acontece um processo de pensamento pelo qual, tendo 
certas proposições, chagamos a uma determinada conclusão. 
Nesse momento, tal como afi rmam Aranha e Martins (2003) cabe 
ao lógico examinar a forma da inferência, a concatenação existente 
entre os diversos enunciados, a fi m de verifi car se é válido chegar 
à determinada conclusão. 
Nota importante
De modo geral, podemos afi rmar que a lógica se ocupa em analisar 
se as estruturas das inferências de uma determinada argumentação 
são inválidas ou válidas. Esse é o objetivo da lógica aristotélica e, 
portanto, da análise de um determinado pensamento. 
1.2 Validade e Verdade
Podemos dizer das proposições que elas são verdadeiras ou 
falsas. Todavia, quando nos referimos à argumentação dizemos 
que são válidos ou inválidos. Nesse sentido, uma proposição 
é verdadeira quando corresponde ao fato que expressa. Já o 
argumento só é considerado válido quando sua conclusão é 
resultado de suas premissas. 
No que diz respeito aos tipos de argumentação, tradicionalmente 
dividem-se em dois tipos: argumentos dedutivos e argumentos 
indutivos. Além dos argumentos dedutivos e indutivos, temos 
também as Falácias. Essas se caracterizam por ser um raciocínio 
incorreto, embora tenham a aparência de correção. É conhecida 
também como sofi sma ou paralogismo. As falácias podem ser 
formais, quando contrariam as regras do raciocínio correto, ou 
não-formais, quando os erros decorrem de inadvertência ou falta 
de atenção. 
INFERÊNCIA
[GLOSSÁRIO]
Inferência vem do latim infere que tem 
a ideia de levar para.
DEDUÇÃO
[GLOSSÁRIO]
Dedução: em um argumento dedutivo 
correto a conclusão é inferida 
necessariamente das premissas. Ou 
seja, o que está dito na conclusão 
é extraído das premissas, pois na 
verdade já está implícito nelas. 
INDUÇÃO
[GLOSSÁRIO]
Indução: é uma argumentação pela 
qual, a partir de diversos dados 
singulares constatados, chegamos 
a proposições universais. Nesse 
tipo de argumentação ocorre uma 
generalização indutiva. 
ANALOGIA
[GLOSSÁRIO]
Analogia: é um caso de indução. 
Signifi ca literalmente um raciocínio 
por semelhança. É uma indução 
parcial ou imperfeita, na qual 
passamos de um ou de alguns fatos 
singulares a uma outra enunciação 
singular ou particular, inferida em 
virtude da comparação entre objetos 
que, embora diferentes, apresentam 
pontos semelhantes. 
38 | Introdução à Filosofi a
2. A LÓGICA SIMBÓLICA
Uma das questões que preocupava os lógicos foi a ambiguidade 
das línguas e seu forte caráter emocional. Na perspectiva dos 
lógicos, desde Aristóteles em diante, a língua pode inferir 
conotações inviabilizando o correto raciocínio. Por essa razão, os 
lógicos criaram aquela que é conhecida como lógica simbólica ou 
linguagem artifi cial.
Nota importante
A lógica simbólica ou matemática não difere da clássica em 
essência, mas distingue-se dela de maneira notável, na medida

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