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FAVENI FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE CONSULTORIA E CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL HEYDER DE SOUZA CASTRO OLIVEIRA ESTUDO BIBLIOGRÁFICO SOBRE O DESEMPENHO AMBIENTAL DA REUTILIZAÇÃO DA BORRACHA MOÍDA DE PNEUS INSERVÍVEIS COMO INSUMO NAS OBRAS DE PAVIMENTAÇÃO PIRIPIRI 2020 ESTUDO BIBLIOGRÁFICO SOBRE O DESEMPENHO AMBIENTAL DA REUTILIZAÇÃO DA BORRACHA MOÍDA DE PNEUS INSERVÍVEIS COMO INSUMO NAS OBRAS DE PAVIMENTAÇÃO. Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho. Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de violação aos direitos autorais. RESUMO- O presente artigo trata-se de um estudo bibliográfico acerca do desempenho ambiental no processo de reutilização de borracha de pneus inservíveis no asfalto. Devido à degradação do meio ambiente e ameaça à saúde pública decorrentes da destinação inadequada de pneus, é importante investigar alternativas de reutilização desses pneus que mitiguem estes impactos adversos. Realizou-se uma revisão de literatura, utilizando bancos de dados da SCIELO, GOOGLE ACADÊMICO, PERIODICOS CAPES, resoluções do CONAMA e dados da ANIP. Diante do estudo realizado verificou- se que o asfalto borracha surge como uma alternativa viável diante de tais adversidades e apresenta vantagens nos contextos econômico, técnico e ambiental. PALAVRAS-CHAVE: Desempenho ambientais. Asfalto-Borracha. Custo benefício INTRODUÇÃO A infraestrutura rodoviária brasileira exerce um papel importante no desenvolvimento socioeconômico de uma determinada região influenciando diretamente na qualidade do transporte de pessoas e cargas. A boa infraestrutura de um sistema rodoviário pode ser traduzida tanto conforto e bem estar dos usuários deste modal como na redução dos custos de frete, já que a otimização das condições de rolamento das rodovias impacta positivamente no sistema logístico nacional. Com o crescente volume de tráfego e consequentemente o aumento das solicitações de cargas nos pavimentos, a busca por materiais mais nobres é imperativa do ponto de vista de resistência e durabilidade. O crescimento da frota nacional de veículos vem estimulando o consumo de pneus no Brasil, porém, o descarte inadequado destes pneus inservíveis na natureza evidencia um enorme problema tanto na ótica do meio ambiente como no âmbito da saúde pública, tendo em vista que estes pneumáticos levam anos para se degradar na natureza e são potenciais criadouros de mosquitos transmissores de doenças. Por outro lado, a baixa eficiência dos materiais betuminosos referentes à durabilidade e ao desgaste também tem sido um problema cada vez mais notório do ponto de vista técnico e que demandam intervenções constantes no pavimento. Dados da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) revelam o crescimento continuo do consumo de pneus nos últimos anos de acordo com os dez fabricantes conveniados a esta associação. Em 2015 foram produzidos cerca de 68,6 milhões de unidades, que representa um aumento de 26% em 10 anos (se comparado com 2006). As categorias de pneus mais produzidas foram os de passeios (55%), motos (21,3%), camioneta (12,9%) e carga (10%). Perante o crescimento da frota de veículos anualmente no país e consequentemente o aumento da quantidade de pneus descartados, objetivou-se realizar um estudo bibliográfico a fim de informar sobre os benefícios da incorporação da borracha, oriunda dos pneumáticos inservíveis, no ligante asfáltico utilizado nas obras de pavimentação. A incorporação do pó destes pneus no cimento asfáltico de petróleo vem sendo uma solução viável para tais problemas, podendo apresentar tanto uma redução expressiva do volume desse resíduo, como uma melhoria significativa nas propriedades do asfalto. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Legislação No Brasil, a Resolução Conama 416, de 30 de setembro de 2009, que dispõe sobre a prevenção à degradação ambiental ocasionada por pneus inservíveis e sua disposição ambientalmente adequada, estabelece que os fabricantes e importadores de pneus novos, com peso unitário superior a 2,0 Kg (dois quilos), ficam obrigados a coletar e dar destinação adequada aos pneus inservíveis existentes no território nacional. A destinação ambientalmente adequada de pneus inservíveis é definida pela Resolução nº 416 (2009, p.2), como: Procedimentos técnicos em que os pneus são descaracterizados de sua forma inicial, e que seus elementos constituintes são reaproveitados, reciclado ou reprocessados por outra técnica admitida pelos órgãos ambientais competentes, observando a legislação vigente e normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde publica e à segurança, e a minimizar os impactos ambientais adversos. As empresas fabricantes e importadoras de pneumáticos novos devem preencher dois relatórios disponíveis no CTF (Cadastro Técnico Federal). No primeiro, informam suas atividades de produção, importação, exportação e envios de pneus às montadoras de veículos novos, indicando a Nomenclatura Comercial do Mercosul (NCM) e as quantidades em quilogramas e unidades. No segundo, cadastram as informações referentes aos pontos de coleta implementados (IBAMA, 2015). Esta mesma resolução normatiza que os fabricantes e importadores devem implantar pontos de coletas nos municípios com mais de 100.000 habitantes, ou terceirizar esse serviço desde que defina no seu plano de gerenciamento. Existe obrigatoriedade aos estabelecimentos comerciais de recebimento e armazenamento temporário de pneus inservíveis. No ato da troca, a empresa que os comercializam deve receber os pneus usados entregues por seus clientes, sem benefícios para estes, o estabelecimento deve, portanto, adotar procedimentos que controlem a origem e destino de pneus. A Tabela 01 apresenta, na linha superior, a meta de destinação brasileira calculada para o ano de 2014, que corresponde ao somatório das metas individuais para os fabricantes e importadores de pneus novos. Na linha inferior, é apresentada a quantidade efetiva de pneus destinados para cumprimento da meta nacional, representado pelo saldo de destinação. TABELA 01– Meta e saldo de destinação nacional (2014) 558.064,34 toneladas 544.695,39 toneladas Meta de Destinação Nacional Quantidade Destinada FONTE: CTF/IBAMA Conforme se pode observar na tabela 01, a meta de destinação nacional de pneus no ano de 2014 não foi atingida, representando um total de 2,5% dos pneus inservíveis não destinados corretamente, no período compreendido entre janeiro e dezembro de 2014. 2.2 Reutilização e reciclagem de pneus A destinação final dos pneus retrata um problema de difícil solução, pois são resíduos que ocupam volume expressivo e que precisam ser armazenados em condições adequadas para evitar riscos de incêndio e proliferação de mosquitos e roedores transmissores de doenças. A disposição final em aterros sanitários se torna inviável, pois os pneus inteiros apresentam baixa compressibilidade e degradação muito lenta (BERTOLLO; FERNANDES; SCHALCH, 2002). Para Specht (2004), os pneumáticos quando inservíveis acarretam uma série de problemas: são de degradação lenta, incomodamente perceptíveis e volumosos, necessitando de condições apropriadas de armazenamento e deposição. Segundo a classificaçãode resíduos vigente no Brasil (ABNT/NBR 10004), o pneu é considerado resíduo classe III(resíduos inertes). A colocação de pneus sem uso em aterros sanitários não tem se mostrado uma boa solução, uma vez que o material é praticamente incompressível e de lenta degradação, quando comparado aos resíduos aso quais os aterros sanitários municipais se destinam. Outro fato importante a ser considerado é a possibilidade de incêndio, visto o grande poder energético dos pneus. Diante dos problemas decorrentes da dificuldade de reaproveitamento desses resíduos de pneus e a degradação que estes apresentam ao meio ambiente, faz-se necessário buscar alternativas responsáveis de reutilização destes pneumáticos. Oda & Fernandes (2000) afirma que a incorporação destes pneus em obras de pavimentação, além de expressarem uma redução significativa dos problemas, impactam positivamente sobre a qualidade dos pavimentos asfálticos. 2.3 Asfalto borracha 2.3.1 Características do asfalto borracha Existem dois métodos de incorporação da borracha moída de pneus nas misturas asfálticas. No processo úmido são adicionadas partículas finas de borracha ao cimento asfáltico, produzindo um novo tipo de ligante denominado asfalto-borracha. No processo seco, partículas de borracha substituem parte dos agregados pétreos na mistura. Após a adição do ligante, formam um produto denominado concreto asfáltico modificado com adição de borracha (BERTOLLO; FERNANDES; SCHALCH, 2002). 2.3.1.1 Processo seco No processo seco, os fragmentos de borracha são previamente adicionados em substituição a um determinado percentual de agregado mineral, antes do acréscimo do ligante asfáltico, conforme mostra a figura 01. Neste processo, as áreas das partículas de borracha são maiores do que as empregadas no processo úmido, funcionando como um material inerte na mistura (NETTO; REIS 2012). FIGURA 1: Ilustração de misturas com partículas sólidas de borracha. FONTE: TAKALLOU E HICKS (1988). As interações entre o ligante e os fragmentos de borracha que ocorrem no processo seco dependem da granulometria. Borracha com grande superfície específica provoca aumento na área de contato, beneficiando as reações entre esses elementos durante curtos intervalos de tempo e com baixas temperaturas, em relação ao processo úmido (DANTAS NETO, 2004). Salini (2000) explica que o processo seco (do inglês “dry process”) pode ser usado para misturas asfálticas a quente, sejam elas do tipo aberta ou fechada. Ele não pode ser usado em outros tipos de pavimentos, como misturas asfálticas a frio, fechamento de trincas ou tratamentos superficiais. 2.3.1.2 Processo úmido O processo úmido consiste da mistura de cimento asfáltico e borracha moída (5 a 25% do peso total de ligante - asfalto mais borracha) a uma temperatura elevada (150 a 200oC), durante um determinado período de tempo (20 a 120 min). Essa mistura é classificada como uma reação e forma um composto chamado asfalto-borracha (asphalt-rubber), com propriedades reológicas diferentes do ligante original, podendo ainda ser incorporados aditivos para ajustar a viscosidade da mistura (ODA, 2000). As variações do processo úmido divergem pelo local de produção e estocagem. Enquanto o método terminal blend caracteriza-se pela produção do ligante em distribuidoras de produtos asfálticos, podendo ser estocado por longos períodos, o continuous blend consiste na produção em usina de asfalto, onde são produzidas as misturas à quente, para utilização imediata, não permitindo estocagem por períodos de tempo maiores que algumas horas (NETTO; REIS, 2012). No processo úmido o ligante deve ser beneficiado em temperaturas elevadas por agitação em alto cisalhamento, promovendo assim a desvulcanização e despolimerização da borracha e, consequentemente, melhor relação entre o ligante convencional e a borracha, que resultam em um produto final mais viscoso (ODA, 2000). No método terminal blend, as alterações química, física e reológica ocorrem por meio de fusão entre os elementos constituintes. O procedimento é realizado por meio da digestão térmica e movimentação mecânica nos moinhos de cisalhamento, onde o resultado será um ligante alterado estável e uniforme, de tal forma que mesmo durante o armazenamento os seus componentes não se separam (BALAGUER, 2012). No método continuous blend o resultado esperado é o amolecimento e inchamento da borracha, através da absorção dos óleos aromáticos do ligante convencional pelas cadeias de polímero da borracha moída, gerando um ligante menos estável (FONTES, 2009). Conforme explicita a literatura, ambos os métodos, via úmida e seca, apresentam melhorias no desempenho do pavimento, sendo que essa melhoria torna-se mais consistente no método úmido, pois há alteração mais efetiva nas propriedades reológicas do asfalto. 2.3.2 Vantagens do asfalto borracha Cury et al (2009) explica que a química contida na borracha retarda a oxidação do asfalto, prevenindo-o de se tornar quebradiço. Por causa da maior flexibilidade, o asfalto emborrachado resiste e reduz a quantidade de rachaduras. Rachaduras permitem a infiltração de água que age nas camadas inferiores da via criando buracos e a deterioração da superfície. Para Oda & Fernades Jr. (2000) são vários os benefícios previstos em detrimento da incorporação de borracha de pneus inservíveis em obras de pavimentação. Merecem destaque: Redução do envelhecimento: a presença de antioxidantes e carbono na borracha dos pneus que é incorporada o cimento asfáltico proporciona uma redução do envelhecimento por oxidação; Aumento da flexibilidade: misturas asfálticas com o ligante asfalto-borracha são mais flexíveis que as misturas asfálticas convencionais (Stephens, 1982; Takallou e Hicks, 1988; McQuillen et al., 1988), em virtude da maior concentração de elastômeros na borracha de pneus; Aumento do ponto de amolecimento: a adição de borracha faz provoca o aumento do ponto de amolecimento do ligante asfalto-borracha em relação ao do ligante convencional (Salter e Mat, 1990), o que se traduz ao aumento da resistência ao acúmulo de deformação permanente nas trilhas de rodas; Redução da susceptibilidade térmica: o uso de um ligante asfáltico modificado com borracha proporciona misturas asfálticas mais resistentes às variações de temperatura, ou seja, tanto o desempenho a baixas quanto a altas temperaturas são melhores quando comparados com pavimentos construídos com ligante asfáltico convencional (Heiztman, 1992, Ruth et al., 1997). Zanzotto (2006) também pontua algumas vantagens das misturas asfálticas modificadas com a incorporação de borracha reciclada de pneus: Aumento da durabilidade; Melhor controle da propagação prematura de trincas; Diminuição das fissuras por fadiga; Melhor aderência dos veículos ao pavimento; Redução no nível de ruído provocado pelo atrito pneu-pavimento. 2.3.3 Desvantagens do asfalto borracha araújo (2015) realizou um estudo de caso e observou que uma das desvantagens do asfalto borracha estava na dificuldade de manter a temperatura ideal de trabalho, sendo necessário um maior controle de qualidade, o que demanda um aumento no custo de produção quando produzido em escala real. Segundo Bernucci (2007), como desvantagem construtiva, altos teores de borracha levam a altas viscosidades, que comprometem a trabalhabilidade da mistura asfáltica. Além disso, pode-se destacar que as temperaturas de usinagem são pouco maiores em relação ao asfalto convencional. (GRECA, 2005). 2.3.4 Aspectos econômicos do asfalto borracha O asfalto borracha pode oneroso quando comparado ao asfalto convencional, devido a sua fabricação exigir temperaturas mais elevadas no controle tecnológico para que esse material mantenha-se nas características de projeto são mais trabalhosasaumentando o custo de operação (GRECA, 2009). Em um estudo realizado por GRECA (2009), observou-se um trecho revestido com uma camada de asfalto borracha de 3,5cm de espessura, camada essa que possui a mesma resistência e estabilidade que um trecho de asfalto convencional de 5 cm de espessura. Nestas condições, Segundo GRECA (2009), observou-se que houve um consumo de 26.250 toneladas de asfalto convencional e 18.375 toneladas de asfalto borracha. O custo de usinagem e aplicação e também o custo de asfalto no CBUQ do asfalto borracha foram de 15 a 20% maiores que o asfalto convencional. GRECA (2009) mostra ainda que se gasta menos quantidade de massa de asfalto borracha do que o asfalto convencional para o mesmo trecho de pavimento, tornando o custo final do pavimento revestido com asfalto borracha menor. Sanches, Grandini e Baierle (2012) em seus estudos levantaram os seguintes custos com execução e manutenção de pavimentos com asfalto convencional e asfalto borracha, conforme explicita as figuras 2, 3 e 4, considerando os gastos dos asfaltos borracha e convencional iguais: 1) Execução de pavimento em asfalto convencional com preparo de base: R$ 46,66/m² 2) Execução de pavimento em asfalto-borracha com preparo de base: R$ 77,22/m² 3) Manutenção em asfalto convencional: R$ 47,11/m² 4) Manutenção em asfalto convencional: R$ 6,73/m² FIGURA 2: Custo de Execução. FONTE: SANCHES; GRANDINI; BAIERLE (2012). Analisando os dados, é fácil observar que o custo de execução do asfalto borracha é maior. Percentualmente, um valor 65,49% maior (SANCHES; GRANDINI; BAIERLE, 2012). Sanches, Grandini e Baierle (2012) também realizaram um estudo acerca da necessidade de manutenção de dois trechos de um pavimento localizado em Curitiba, um constituído com o ligante asfalto borracha e o outro com asfalto convencional, onde foi feita uma análise das condições nos dois trechos deste pavimento após 7 anos de uso e deduziu-se os seguintes custos com manutenção conforme mostra o gráfico 2. FIGURA 3: Custo de Manutenção. FONTE: SANCHES; GRANDINI; BAIERLE (2012). Comparando somente os valores de manutenção, fica clara a diferença entre o reparo do CAP-50/70 e o AB8 (SANCHES; GRANDINI; BAIERLE, 2012). Contudo Sanches, Grandini e Baierle (2012) apontam que para se ter um valor confiável de comparação é necessário somar os dois custos, de manutenção e execução. Sendo assim: 1) Manutenção+Execução AB8: R$6,73/m² + R$77,22/m² = R$83,95/m² 2) Manutenção+Execução CAP-50/70: R$47,11/m² + R$46,66/m² = R$93,77/m² FIGURA 4: Custo de Manutenção + Execução. FONTE: SANCHES; GRANDINI; BAIERLE (2012). Somando-se a execução e a manutenção tem-se um custo 11,69% maior para o asfalto convencional neste período de 7 anos (SANCHES; GRANDINI; BAIERLE, 2012). Estudos realizados por Cury et al (2009) no contexto econômico mostram que esta alternativa de pavimento inicialmente não é bem aceita devido a uma expectativa prévia de altos custos de implantação do sistema. Por outro lado, Cury et al (2009) também denota que boa parte do custo da produção do asfalto borracha está associado à logística ligada a obtenção da borracha resultante do processo de reciclagem, e que mesmo apresentando um custo inicial mais elevado, em comparação com o asfalto convencional, este custo é compensado devido a uma redução significativa nos gastos com manutenção do pavimento. Cury et al (2009) mostra ainda que uma rodovia com aplicação de asfalto borracha foi acompanhada durante nove anos e que ela apresentou excelente desempenho, não apresentando deformações plásticas excessivas nem fissuras. Nas Figuras 5 e 6, a seguir estão apresentados, comparativamente, os custos de manutenção nos trechos com e sem asfalto borracha e percentuais de fissuras. FIGURA 5: Custos de manutenção com e sem asfalto emborrachado. FONTE: CURY et al (2009). FIGURA 5: Rachaduras em um período de dez anos com e sem asfalto emborrachado. FONTE: CURY et al (2009). 3. METODOLOGIA O presente trabalho caracteriza-se como estudo teórico-descritivo, com finalidade de analisar o processo de reciclagem de pneus inservíveis como insumo em obras de pavimentação. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica constituída por consulta a dissertações, teses, revistas científicas, revistas técnicas especializadas e artigos de congressos, onde estes documentos científicos foram extraídos nas bases de dados da Scielo, Google Acadêmico e periódicos da Capes, bem como informações e resoluções no Ministério do Meio Ambiente e da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos, com o intuito de identificar os benefícios da reutilização de pneus inservíveis como agente modificador de material asfáltico. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES As pesquisas realizadas sobre o asfalto borracha se alinham no sentido de apontar uma série de vantagens auferidas pela incorporação da borracha de pneus inservíveis no ligante asfáltico. No âmbito do meio ambiente, o uso do asfalto borracha tem se mostrado uma solução viável, já que o volume de pneus a serem reutilizados apresenta uma escala maior de reaproveitamento em confronto com as outras alternativas de reciclagem destes resíduos e apontam uma solução para o problema da baixa compressibilidade dos pneus nos aterros sanitários assim como também denotam o enobrecimento das características asfalto. Os resultados de Oda & Fernandes (2000), Specht(2004), Takallou (2003), Souza et al (1999) que desenvolveram estudos sobre da modificação do ligante asfáltico com borracha de pneus, corroboram e apontam uma significativa evolução nas propriedades do asfalto, através de análises e ensaios de caracterização do CAP modificado com estes resíduos de pneus. Abaixo mostra-se um quadro resumo das pesquisas realizadas sobre asfalto borracha pelos principais autores da literatura específica, no qual explicita as considerações experimentais de cada autor a respeito das variáveis de mistura nos experimentos realizados em laboratório. Quadro 01 – valores encontrados na literatura a respeito das variáveis de mistura REFERÊNCIA TEOR DE BORRACHA(%) TEMPO DE MISTURA(min) TEMPEATURA DA MISTURA(°C) TIPO DE LIGANTE LUCIANO PIVOTO SPECTH (2004) 6 a 18 30 a 60 160 a 200 CAP 20 TAKALLOU et al. (2003) 15 a 20 45 160 a 204 AR - 400 AR - 4000 SOUZA et al. (1999) 20 60 180 30/35 pen ODA E FERNANDES Jr. (2000) 6 a 24 30 160 a 170 CAP 20 Fonte: Autoria própria Os autores supracitados no Quadro 01 realizaram ensaios de caracterização do ligante asfáltico modificado com borracha de pneus inservíveis nas condições mostradas no referido quadro. É importante salientar a positividades dos resultados obtidos através dos ensaios de caraterização. Dentre os ensaios realizados destacam- se os ensaios de ponto de fulgor, ponto de amolecimento, ensaio de penetração e retorno elástico. O quadro 02 mostra uma síntese dos resultados obtidos por estes autores sobre a caracterização do ligante modificado com borracha de pneus: Quadro 02 – Resultados encontrados dos ensaios de caracterização do asfalto modificado REFERÊNCIA LUCIANO PIVOTO SPECTH (2004) TAKALLOU et al. (1997) SOUZA et al. (1999) ODA e FERNANDES Jr. (2000) PONTO DE FULGOR CRESCE COM O AUMENTO DO TEOR DE BORRACHA CRESCE COM O AUMENTO DO TEOR DE BORRACHA CRESCE COM O AUMENTO DO TEOR DE BORRACHA CRESCE COM O AUMENTO DO TEOR DE BORRACHA PONTO DE AMOLECIMENTO CRESCE COM O AUMENTO DO TEOR DE BORRACHA CRESCE COM O AUMENTO DO TEOR DE BORRACHA CRESCE COM O AUMENTO DO TEOR DE BORRACHA CRESCE COM O AUMENTO DO TEOR DE BORRACHA PENETRAÇÃO DIMINUI COM O AUMENTO DO TEORDE BORRACHA DIMINUI COM O AUMENTO DO TEOR DE BORRACHA DIMINUI COM O AUMENTO DO TEOR DE BORRACHA DIMINUI COM O AUMENTO DO TEOR DE BORRACHA RETORNO ELÁSTICO CRESCE COM O AUMENTO DO TEOR DE BORRACHA CRESCE COM O AUMENTO DO TEOR DE BORRACHA CRESCE COM O AUMENTO DO TEOR DE BORRACHA CRESCE COM O AUMENTO DO TEOR DE BORRACHA Fonte: Autoria própria É fácil notar a concordância dos resultados obtidos pelos autores referidos no quadro 02, onde, de maneira geral, pôde-se constatar: O ponto de amolecimento aumenta com o teor de borracha utilizada, sendo um indicativo de melhoria da resistência à deformação permanente das misturas asfálticas modificadas com borracha; A incorporação da borracha torna o ligante mais viscoso, consequentemente diminui o valor da penetração na mistura e essa redução da penetração é diretamente proporcional ao teor de borracha no ligante; A adição de borracha eleva o valor do ponto de fulgor; O retorno elástico aumenta com o do teor de borracha incorporado ao ligante. É importante ressaltar que mesmo com a diminuição da penetração explicitado no quadro 02, Oda e Fernandes Jr. (2000) constatou que esta redução da penetração acontece somente a partir do teor de 18% de borracha incorporada ao ligante asfáltico. Oda e Fernandes Jr. (2000) também verificou o aumento do ponto de fulgor para os percentuais de 6%, 12% e 18%, diminuindo para um teor a partir de 24%. A diminuição dos custos referentes à conservação e manutenção do pavimento modificado com borracha é reflexo da melhoria das propriedades do concreto asfáltico. Propriedades estas que estão relacionadas diretamente com os aumentos da durabilidade e da resistência ao acúmulo de deformação permanente. Pôde-se verificar nos gráficos 1, 2 e 3 nos trabalhos de Sanches, Grandini e Baierle (2012), que o asfalto borracha é economicamente viável e apesar de ser mais oneroso na execução, os custos com manutenção são significativamente menores com a utilização do asfalto modificado com borracha em comparação com o asfalto convencional. No estudo de Cury et al (2009) pôde-se constatar também os elevados custos na implantação do asfalto borracha, porem os gastos com manutenção são significativamente menores e consequentemente diminui o custo final da obra de pavimentação. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do levantamento bibliográfico desta pesquisa, mostrou-se que os pneus quando destinados de forma inadequada podem expressar uma enorme ameaça tanto para a qualidade do meio ambiente quanto para a saúde pública. Através dos estudos de Oda & Fernandes (2000), Specht (2004), Takallou (2003), Souza et al (1999) evidenciou-se os benefícios do ponto de vista técnico da inserção da borracha de pneus nos ligantes asfálticos. Dentre os quais se destacam o aumento da durabilidade e da resistência a deformações permanentes. Balizado pelas pesquisas de Sanches, Grandini e Baierle (2012) e Cury et al (2009) pôde-se destacar a vantagem econômica na manutenção de pavimentos modificados com borracha de pneus, reduzindo o custos ao longo da vida útil da rodovia. A pesquisa realizada mostrou que a reutilização de pneus no asfalto é uma alternativa sustentável e mostrou resultados satisfatórios nos contextos ambiental, técnico e econômico. Finalmente, este artigo teve o mérito de discutir analisar incorporação de pneus nas misturas asfálticas e consequentemente apontar os benefícios técnicos, a vantagem econômica e o enorme apelo ambiental que esta alternativa propõe. Neste sentido espera-se que este estudo subsidie outras pesquisas mais aprofundadas no tema e que provoque incentivo ao uso do asfalto borracha na realidade brasileira. 6. REFERÊNCIAS ANIP Agencia Nacional da indústria de pneumáticos. Pneus destinados. Disponível em: <http://www.reciclanip.org.br/v3/>. Acesso em: 30 novembro. 2016. Araújo, D. H. Análise comparativa do asfalto borracha com o asfalto convencional e o asfalto com adição de polímeros / Diones Henrique Araújo. – 2015. Disponível em: <http://bibliotecadigital.uniformg.edu.br:21015/jspui/bitstream/123456789/296/1/TCC_Di onesHenriqueAraujo.pdf>. Acesso em 09 Dez 2015. BALAGUER, M. (2012). Avaliação estrutural de um pavimento flexível executado em Asfalto- Borracha, elaborado pelo Processo de Produção Contínua em Usina. 193p. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado em Engenharia de Transportes, Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro. BENTO, A. (2012, Maio). 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