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192 REVISTA DA OAB OLINDA Ano I, Vol 02, N. 1, 2019. ISSN: 8504-6057 AÇÃO CAUTELAR E TUTELA ANTECIPADA NO PROCESSO DO TRABALHO: SIMILITUDES E DISTINÇÕES PRECAUTIONARY ACTION AND EARLY GUARANTEE IN THE WORK PROCESS: SIMILITUDES AND DISTINCTIONS João de Castro Barreto Neto1 Narciso Barbosa da Silva Junior2 RESUMO Historicamente a morosidade da prestação jurisdicional do Estado tem sido elemento caracterizador do nosso deficiente sistema nacional de Justiça. A dinâmica social brasileira, com o agravamento das condições sociais, impulsionada pelas conquistas cidadãs da Constituição Federal de 1988, influenciou um considerável aumento do número de demandas em Tribunais de todo país. Com efeito, as gastas regras processuais existentes não foram, por si só, suficientes para responder à altura os anseios e perspectivas dos cidadãos. Não bastaram a agilidade e a instrumentalidade do processo cautelar e a provisoriedade de sua medida antecipatória, a liminar. Por essa razão, novas fórmulas processuais foram estudadas, até que, por disposição da Lei. n.º 8.952/94, foi alterado o art. 273 do CPC para possibilitar, com conteúdo satisfativo, a antecipação da tutela jurisdicional no processo cognitivo. Palavras-chave: Ação Cautelar; Tutela Antecipada; Processo do trabalho. ABSTRACT Historically, the slowness of the State's jurisdictional provision has been a characteristic element of our deficient national justice system. Brazilian social dynamics, with the worsening of social conditions, driven by the citizen conquests of the Federal Constitution of 1988, influenced a considerable increase in the number of demands in Courts throughout the country. Indeed, the worn out existing procedural rules were not, in themselves, sufficient to respond to citizens' wishes and perspectives. The agility and instrumentality of the precautionary process and the provisionality of its preliminary measure, the preliminary injunction, were not enough. For this reason, new procedural formulas were studied, until, by the provision of Law. Nº 8.952 / 94, art. 273 of the CPC to enable, with satisfactory content, the anticipation of judicial protection in the cognitive process. Keyword: Cautionary action; Anticipated Guardianship; Work process. 1 Graduado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Graduado em Administração de Empresa pela Universidade de Pernambuco (UPE). Especialista em Direito do Trabalho pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Pós-graduado em Direito Sindical e Coletivo da Escola Superior da Magistratura da 6ª Região/PE. Vice-presidente da Academia de Letras Jurídicas de Olinda (ALJO). Presidente da Comissão de Direito Sindical da OAB/Olinda. Mestrando pela Faculdade Damas. Advogado. E-mail: advjcastro@gmail.com 2 Pós-graduando em Direito Publico pela Faculdade Novo Horizonte; Bacharel em Direito pelo Instituto de Ensino Superior de Olinda. Advogado. 193 REVISTA DA OAB OLINDA Ano I, Vol 02, N. 1, 2019. ISSN: 8504-6057 1 INTRODUÇÃO O presente estudo visa comparar a natureza cautelar da ação com o instituto da antecipação de tutela, apontando seus elementos de aparência e conseqüentes distinções, abrangendo a aplicabilidade de ambos na dinâmica processual trabalhista. Tecnicamente o processo cautelar foi criado - ressalvados casos específicos - para garantir a eficácia do processo propriamente dito, ou seja, de modo que o tempo não inviabilizasse ou prejudicasse sua efetivação. Destarte, vinha sendo utilizado, em face da demora judicial da prestação da jurisdição, como fonte de defesa do próprio direito material. Era a maneira encontrada pela sociedade para driblar a lentidão excessivamente desgastante do processo cognitivo, este sim verdadeiramente adequado à defesa do direito material. Entretanto, havia, como de fato ainda há, situações específicas em que a demora da prestação jurisdicional não inviabilizava o processo, mas prejudicava o exercício do direito substantivo. Eram em casos como estes que se observava a impropriedade do uso de ações cautelares, porquanto ainda fosse o único meio de defesa do cidadão ante a ineficiência do exaustivo processo de conhecimento. Mesmo porque, a bem da verdade, o uso de medidas antecipatórias tutelares já existia no cenário jurídico brasileiro, mas restringia-se a casos excepcionalíssimos como, por exemplo, liminares em remédios constitucionais (mandados de segurança, de injunção, habeas corpus e habeas data), em ações civis públicas, ações específicas da seara cível e, no processo do trabalho, ressaltando-se, como exemplo, o caso de aplicação do comando do art. 659, inciso IX, da CLT, isto é, quando da concessão de liminar impediente de transferência de empregado por violação da regra do art. 469 da citada consolidação, dentre outros. 2 AÇÃO CAUTELAR E TUTELA ANTECIPADA A inadequação do uso genérico das ações cautelares e a necessidade de se estabelecer um meio capaz de garantir o acautelamento de direitos materiais ainda no curso da cognição, por sua vez, foram fundamentais à previsão legal do instituto da antecipação de tutela. Observe-se que tal previsão legal não visou substituir, tampouco confrontar com o processo cautelar. Ao contrário, a este associou-se para melhorar a dinâmica processual e possibilitar 194 REVISTA DA OAB OLINDA Ano I, Vol 02, N. 1, 2019. ISSN: 8504-6057 ao caso demandado a aplicação do remédio jurídico ideal. Consequentemente, como bem afirmaram os professores Luiz Otávio Linhares Renault e Márcio Túlio Viana3, "as cautelares voltaram a servir, apenas, de instrumento do instrumento, como acontecia em sua origem. E as medidas antecipatórias passaram a ter regulação própria, perdendo, ao mesmo tempo, sua excepcionalidade". O instituto tutelar suso mencionado é relativamente novo no ordenamento jurídico pátrio, mas já vem sendo utilizado, com sucesso, há algum tempo, em inúmeros estados soberanos. Não remonta, porém, ao antigo direito romano (como as primeiras medidas cautelares), visto ser providência jurídica moderna, conseqüência que é dos idênticos fatores que permitiram sua viabilização no Brasil. Se por um lado o CPC brasileiro acolhe o processo cautelar em todo Livro III, resguardando e ressalvando o poder geral de cautela do juiz no art. 798, ao instituto da antecipação de tutela destinou apenas o comando do art. 273 (Livro I), que trata do processo de conhecimento. Ainda assim, é plena sua aceitação no mundo jurídico pátrio, ao ponto de hoje ser apontada não apenas como uma das mais significativas inovações processuais dos últimos anos, como também uma das mais importantes e veementes medidas de defesa da cidadania. Afinal, como afirma o professor Nicolò Trocker4, “um processo que perdura por longo tempo transforma-se também em um cômodo instrumento de ameaça e pressão, uma arma formidável nas mãos dos mais fortes para ditar ao adversário as condições de rendição”. 3 SIMILITUDES E DISTINÇÕES Por certo que há semelhança entre ações cautelares e medidas antecipatórias de tutela, porquanto ambas procuram garantir uma prestação jurisdicional rápida e eficaz. Contudo, acreditamos ser esta a única aparência significativa entre os dois institutos, uma vez que, como já afirmamos em linhas anteriores, possuem naturezas distintas e objetivam interesses diversos: as primeiras, a garantia da eficácia do processo; as demais, a satisfatividade antecipada do direito material pleiteado. 3 RENAULT, Luiz Otávio Linhares e VIANA, Márcio Túlio. Antecipação da Tutela. O que há de novo em Processo do Trabalho - Homenagem a Wilson Carneiro Vidigal. São Paulo: LTr Edit. 1997, p. 88. 4 apud FLORINDO, Valdir. Tutela antecipatória: um direito de cidadania. Revista Gênesis, p. 502. Curitiba: Gênesis Edit. 8(46): 501-103, outubro/96. 195REVISTA DA OAB OLINDA Ano I, Vol 02, N. 1, 2019. ISSN: 8504-6057 Ocorre que em relação aos pressupostos de concessibilidade de ambas as medidas há também elementos de subjetividade capazes de confundi-las umas e outras. É que são essenciais à cautela os requisitos do fumus boni juris e do periculum in mora. À sua antecipação, pelo menos a aparência de ambos deve ser prognosticada. Por sua vez, o art. 273 do CPC estabeleceu que à concessão parcial ou total antecipada da tutela são necessários a existência da prova inequívoca, o convencimento do juiz acerca da verossimilhança das alegações do autor, e desde que havendo fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação5 ou ficando caracterizado o abuso do direito de defesa ou manifesto propósito protelatório do réu6 . Foi o professor Marcelo Lima Guerra7 quem pontuou, no nosso entendimento, o eixo de toda confusão jurídica acerca da polêmica semelhança entre ação cautelar e antecipação de tutela. Para ele, a hipótese de concessão de antecipação de tutela do inciso I do art. 273, ou seja, desde que haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, constitui-se em prestação de tutela cautelar, pois intenta a garantia da efetividade plena da decisão final, o que é comum a todas as demais medidas cautelares antecipadas, sobretudo aquelas que José Inácio Botelho de Mesquita8 classifica como obrigatórias e permitidas, em que a satisfação do direito só é possível em tempo inferior ao do processo, por cautelarem, seqüencialmente, direitos de impossível e difícil reparação. Por certo que houve descuido do legislador ao elaborar o comando processual suso. Por isso, é compreensível a celeuma jurídica sobre a identidade física entre os dois instrumentos antecipatórios. Entretanto, uma interpretação legal não pode ser apenas literal e individualizada, de modo que, estudando-se o contexto geral do art. 272, há como se verificar a completa distinção de propósitos entre tutela antecipada e ação cautelar. Observe-se que o inciso II do art. 273 do CPC, ao enunciar "fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu", estabeleceu uma nova modalidade de concessão antecipatória tutelar no ordenamento jurídico pátrio, fundada sobre a necessidade de se coibir práticas impúrias de atuação processual, de finalidade repressiva, quase sancional. Ademais, para efeito de dissociação prática e teórica dos dois institutos, ressalte-se que 5 Vide CPC, art. 273, inciso I. 6 Vide CPC, art. 273, inciso II. 7 GUERRA, Marcelo Lima. Estudos sobre o processo cautelar. São Paulo: Malheiros, 1995, p 98. 8 apud DIAS, Carlos Alberto da Costa. Liminares: poder discricionário ou vinculado? Revista de Processo, p. 309. São Paulo: RT Edit., 85, pp. 303–310. 196 REVISTA DA OAB OLINDA Ano I, Vol 02, N. 1, 2019. ISSN: 8504-6057 a tutela do art. 272 do CPC constitui procedimento a ser evocado nos autos principais do processo ordinário, ao passo que a ação cautelar é autônoma e deve ser ajuizada em autos apartados da ação principal. O objeto da ação cautelar é a garantia do processo, daí sua instrumentalidade. Sua sentença não influencia a sentença da ação principal, a menos que haja reconhecimento prescricional ou decadencial, quando faz coisa julgada formal e material. A seu turno, por possuir conteúdo de satisfatividade, a decisão da antecipação de tutela pode influenciar a sentença da ação principal. A sentença que julga ação cautelar é recorrível. A decisão que defere ou indefere pedido de antecipação de tutela é interlocutória e só é atacável mediante interposição de agravo de instrumento ou, em se tratando de processo trabalhista, mandado de segurança, desde que preenchidos seus requisitos de admissibilidade. Às distinções supra destacadas acrescente-se a inteligente constatação do professor Francisco Gérson Marques de Lima9, segundo a qual, a maior prova de diferenciação entre tutela antecipada e ação cautelar está na Lei. n.º 7.347/85 que prevê expressamente o uso dos dois institutos na ação civil pública: primeiro, a antecipação meritória via liminar do art. 12, que nada mais é do que antecipação de tutela no próprio corpo da ação; segundo, a providência cautelar à mesma, autônoma e instrumental do processo principal ação civil pública (art. 4.º), acatando-se, por consequência, a liminar cautelatória do art. 804 do CPC. 4 APLICAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO A exemplo da doutrina majoritária somos pela tese de que inexiste qualquer elemento impeditivo de aplicação instrumental da tutela antecipada no processo do trabalho. Em contraposição aos que ousam defender a incompatibilidade com este ramo processual especializado devido a alegação da suposta sumariedade do rito, informe-se-lhes que o processo do trabalho não é de rito sumário e, sim, de rito ordinário. E sendo ordinário, ainda que especial, bem se lhe aplica, subsidiariamente, a antecipação de tutela, por força dos comandos do art. 769 da CLT. 9 LIMA, Francisco Gérson Marques de. A Tutela Antecipada Trabalhista. Texto extraído da Dissertação de Mestrado em Direito pela UFC. Fortaleza: 1997. 197 REVISTA DA OAB OLINDA Ano I, Vol 02, N. 1, 2019. ISSN: 8504-6057 É verdade que mais por compatibilidade das regras processuais civis com as trabalhistas do que por omissão propriamente dita, uma vez que a CLT já previa, excepcionalmente, a aplicação da antecipação do mérito no processo cognitivo. De toda sorte, isso não vem ao caso, afinal, o instituto da antecipação de tutela não apenas não entra em descordo com as normas trabalhistas, como se adequa perfeitamente aos seus princípios de celeridade e informalidade processual. Ora, se até mesmo a rigidez da lei civil acata o instituto antecipatório, o que dirá da lei trabalhista que tende a ser mais flexível e social! É nesse sentido que esclarecem os professores Márcio Túlio Viana e Luiz Otávio Linhares Renault10: "Como dizíamos, há perfeita compatibilidade entre a regra que antecipa a tutela e os princípios que norteiam o processo do trabalho. Por duas razões, pelo menos: 1) o processo reflete, necessariamente, o direito material. E o direito material do trabalho é todo ele voltado à proteção do empregado. Ora: o empregado é quase sempre o autor na ação. E a antecipação da tutela vem ao encontro dos interesses do autor. 2) Um dos maiores problemas da norma jurídica trabalhista é o da sua eficácia. Leis, temos à farta, mas não são cumpridas. A antecipação da tutela aumenta a eficácia da regra de direito material." Em valioso estudo acerca do tema concluiu o professor Jorge Pinheiro Castelo11: "(...) tendo a legislação ofertado um instrumento para a correção do maior mal da Justiça, que é a morosidade, através da eficiente e efetiva utilização da tutela antecipada no processo trabalhista, não é concebível que os operadores do direito mantenham uma mentalidade superada que impeça que a antecipação da tutela se transforme num instrumento que não apenas garanta a constitucionalidade do sistema processual trabalhista e a satisfação para aqueles que militam na Justiça do Trabalho, mas que, certamente, terá uma importância simbólica muito maior para o funcionamento das relações de trabalho, na medida que os destinatários da prestação jurisdicional e toda sociedade passarem a acreditar que a Justiça do Trabalho voltou a ser uma Justiça extremamente célere quando se depara com situações de urgência ou de evidência com abuso do direito de defesa e procedimento protelatório". Veja-se, portanto, que não há o que dizer acerca da viabilidade da utilização da tutela antecipada no direito do trabalho. Polêmica tem se constituído sobre em quais tipos de obrigação é a mesma cabível. Divide-se a doutrina em duas correntes: a que acredita que a incidência recai sobre 10 RENAULT,Luiz Otávio Linhares e VIANA, Márcio Túlio, ob. cit., pp. 88/89. 11 CASTELO, Jorge Pinheiro. Tutela antecipada e obrigação de fazer no Processo do Trabalho - A Difícil caminhada em direção à modernidade e à efetividade. Revista LTr. São Paulo: LTr Edit. 63(8), p. 1028, agosto/99. 198 REVISTA DA OAB OLINDA Ano I, Vol 02, N. 1, 2019. ISSN: 8504-6057 as obrigações de dar, fazer e não fazer, e a que defende que a incidência é apenas sobre as obrigações de dar. Somos partidários do uso generalizado do instituto antecipatório tutelar sobre todas as modalidades de obrigações, mesmo a despeito das luzes do professor Manoel Antônio Teixeira Filho12 que defende o uso antecipatório tutelar do art. 273 do CPC para as obrigações de dar, conquanto as antecipações meritórias em obrigações de fazer e não fazer disciplinar-se-ão pelo comando do art. 461, § 3.º, do mesmo código. É o caso, por exemplo, da reintegração do empregado estável. Data venia o lúcido convencimento do renomado jurista, acreditamos que ambos os dispositivos do CPC (arts. 273 e 461, § 3.º) prestam à reintegração do aludido empregado. No mesmo sentindo nosso é o pensamento do professor Sérgio Torres Teixeira13 que entende que o instituto do art. 273 do CPC é mais amplo que o do art. 461, § 3.º, pois aplica-se a todos os casos cognitivos, em detrimento do outro de aplicação específica às obrigações de fazer e não fazer. Para o magistrado pernambucano "ambos, entretanto, servem para combater a nocividade da mora processual, e, destarte, apresentam-se como formidáveis remédios contra os efeitos negativos da demora da prestação jurisdicional que aflige a Justiça do Trabalho. Como conseqüência, podem e devem, quando preenchidos os requisitos específicos, servir para efetivar a reintegração provisória dentro do processo trabalhista". De qualquer maneira, haja vista não sermos os detentores da razão, sempre sobressair-se-ão palavras do professor Teixeira Filho14: "Se, na prática, houver equívoco na indicação do fulcro legal do pedido, isso não deverá causar, no processo do trabalho, nenhum prejuízo ao autor, pois o juízo, numa invocação analógica e elogiável do princípio da fungibilidade (que é característico dos recursos), deverá apreciar o pedido incorreto como se o correto fosse - e conceder, ou não, a tutela imediata (antecipação ou liminar)". Também complexa é a polêmica acerca do órgão competente para antecipar a tutela no processo trabalhista, se o Juiz Presidente da Junta ou o Colegiado. Neste tópico, aliamo-nos à corrente que compreende que é do Juiz Presidente a competência para antecipar a tutela, mais uma vez, data venia a insofismável 12 TEIXEIRA FILHO, Manuel Antônio. Antecipação da Tutela. Curso de Processo do Trabalho - Perguntas e Respostas sobre Assuntos Polêmicos em Opúsculos Específicos, n.º 2. São Paulo: Ltr Edit., 1996, pp. 34-36. 13 TEIXEIRA, Sérgio Torres. Admissibilidade da Reintegração Provisória à Luz das Novas Alterações no Código de Processo Civil. Revista Ltr, p. 189. São Paulo: LTr Edit., 60 (2): 189, fevereiro/96. 14 TEIXEIRA FILHO, Manuel Antônio, ob. cit., p. 35. 199 REVISTA DA OAB OLINDA Ano I, Vol 02, N. 1, 2019. ISSN: 8504-6057 inteligência do professor Manoel Antônio Teixeira Filho15, que defende posicionamento contrário. No mesmo sentido do nosso parecer é o posicionamento do professor Francisco Gérson Marques de Lima16 que aduz que todas as modalidades de liminares (em cautelares satisfativas jurisdicionais ou administrativas, em ações civis públicas, em mandados de segurança, em embargos de terceiro e na hipóteses do art. 659, IX e X, da CLT) são de competência do Juiz Presidente da Junta. Ressalva, inclusive, a recente averbação do inciso X do art. 659 da CLT, advinda da Lei 9.270/96, como possível reflexo oriundo da tutela antecipatória dos arts. 273 e 461, § 3.º, do CPC. Acrescentamos aos argumentos supra mencionados que, a despeito das disposições dos arts. 659, IX e X, e demais citados da CLT - que remetem ao Juiz Presidente a competência para despachar medidas liminares -, ainda há o comando do art. 667 da CLT, que dispõe sobre a competência do Juiz Classista, e não prevê, para este, qualquer tipo de intervenção em despacho liminar. Ao contrário, estabelece, na alínea "b", claramente, que a este compete "votar nos julgamentos dos feitos e nas matérias de ordem interna do Tribunal, submetidas às suas deliberações". Entretanto, o despacho de antecipação de tutela adianta os efeitos da eventual decisão, mas não é sentença. É por isso que a lei prevê a possibilidade de sua revogação ou modificação a qualquer tempo (§ 4.º, art. 273, CPC). É também por esse motivo que não há porque se falar em julgamento para o caso. Trata-se, tão-somente, de decisão interlocutória, atacável, no processo civil, mediante interposição de agravo de instrumento e, no processo do trabalho, através da impetração de mandado de segurança, desde que preenchidos seus requisitos de admissibilidade. A propósito, ensina-nos o professor Marcelo Lima Guerra17 que, em apenas um caso, a medida antecipatória da tutela não poderá ser revogada ou modificada a qualquer título. É quando da aplicação da tutela antecipatória fundada na disposição do inciso II, do art. 273 do CPC, pois reveste-se de conteúdo sancional ante uma atitude de desonestidade processual. 15 __________. , ob. cit., pp. 13-15. 16 LIMA, Francisco Gérson Marques de, ob. cit. 17 GUERRA, Marcelo Lima, ob. cit. p. 110. 200 REVISTA DA OAB OLINDA Ano I, Vol 02, N. 1, 2019. ISSN: 8504-6057 No caso de desobediência da ordem de cumprimento da tutela antecipatória, o jurista acredita ser cabível a aplicação de multa, afinal, como bem averbou o professor Estêvão Mallet, "se o juiz, na ordem de antecipação de tutela, mandar pagar, e a empresa não paga, a despeito de ter dinheiro, comete o crime de desobediência, porque a ordem do juiz não é nunca emitida para ser cumprida se isso for conveniente ou for do alvedrio da empresa"18. Entretanto, no entendimento do digníssimo professor e magistrado trabalhista da 7.ª Região, por tratar-se de condenação acessória, a multa deverá ser desconsiderada caso não se configure, em ulterior decisão, o direito alegado. Distanciamo-nos do autor neste ponto, pois acreditamos que em caso de desobediência à ordem judicial de cumprimento de tutela antecipatória, mesmo que a decisão meritória venha albergar os interesses do descumpridor, a aplicação da multa não pode nem deve ser desconsiderada. É que, nesse caso, a multa não tem ligação direta com o resultado do mérito da ação principal, e, sim, com uma desobediência a uma diligência judicial. É a situação, por exemplo, do descumprimento de ordem judicial que visa aplicar os efeitos da antecipação de tutela fundamentada no art. 659, X, da CLT, para reintegrar o dirigente portador de estabilidade sindical. Ora, no caso de descumprimento de toda ordem de reintegração, além dos valores relativos ao salário do empregado despedido, a boa doutrina19 entende que também são devidas as cifras referentes a aplicação da multa por desobediência do art. 729 da CLT, que, embora aluda a decisão passada em julgada e valores-de-referência (regionais), deve ser interpretada extensivamente como de 3/5 a 3 salários mínimos por dia e para decisão reintegratória de qualquer natureza, provisória ou definitiva. Em se tratando de persistência do descumprimento de ordem de reintegração de dirigente sindical, ainda caberá ação indenizatória do sindicato, para ressarcimento dos danos morais e/ou materiais provocados à categoria, uma vez que o afastamento do dirigente do emprego acarreta prejuízos ao grupo todo e não apenas ao indivíduo demitido e sua família. Ressalte-se, mais uma vez, que em sendo invalidada a reintegração em sentença demérito, em nenhum caso deverá ser desconsiderada a multa judicial, e tampouco os salários recebidos deverão ser devolvidos, vez que já foram pagos com o suor da contraprestação do serviço. 18 apud RENAULT, Luiz Otávio Linhares e VIANA, Márcio Túlio, ob. cit. p. 91. 19 É a posição, p. ex., de RENAULT, Luiz Otávio Linhares e VIANA, Márcio Túlio, ob. cit., p. 92. 201 REVISTA DA OAB OLINDA Ano I, Vol 02, N. 1, 2019. ISSN: 8504-6057 5 CONCLUSÃO Em sede das afirmações supra destacadas concluímos que a utilização do mecanismo antecipatório tutelar no processo do trabalho é de inteira importância para a agilização da prestação jurisdicional. Incitamos os operadores jurídicos do país, mormente os que militam na Justiça do Trabalho, para que assegurem a aplicabilidade do instituto de antecipação tutelar, deixando às suas reais necessidades os procedimentos cautelares. É somente assim que poderemos desenvolver um trabalho profícuo tendo em vista a eficácia plena do processo e a dignificação do exercício da cidadania do povo. REFERÊNCIAS BARROS, Alice Monteiro. Tutela antecipada no processo do trabalho. Revista Gênesis. Curitiba: Gênesis Edit. 8(46): 473-503, outubro/96. CASTELO, Jorge Pinheiro. Tutela antecipada de obrigação de fazer no processo do trabalho - A difícil caminhada em direção à modernidade e à efetividade. Revista Ltr. São Paulo: LTr Edit. 63(8): 1015-1028, agosto/99. DIAS, Carlos Alberto da Costa. Liminares: poder discricionário ou vinculado? Revista de Processo. São Paulo: RT Edit., 85, pp. 303– 310. DINAMARCO, Cândido Rangel. A Reforma do Código de Processo Civil. 2.ª ed., São Paulo: Malheiros, 1995. FLORINDO, Valdir. Tutela antecipatória: um direito de cidadania. Revista Gênesis. Curitiba: Gênesis Edit. 8(46): 501-103, outubro/96. GUERRA, Marcelo Lima. Estudos sobre o Processo Cautelar. São Paulo: Malheiros, 1995. LIMA, Francisco Gérson Marques de. A Tutela Antecipatória Trabalhista. Texto extraído da Dissertação de Mestrado em Direito pela UFC. Fortaleza, 1997. MARINONI, Luiz Guilherme. A tutela antecipatória na reforma do Código de Processo Civil. Texto distribuído em sala de aula. Fortaleza: novembro/99. MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 6.ª ed. São Paulo: Atlas, 1997. ___________. Medidas Cautelares no Processo do Trabalho. Coleção Temas de Direito Público, n.º 5. São Paulo: Malheiros, 1996. 202 REVISTA DA OAB OLINDA Ano I, Vol 02, N. 1, 2019. ISSN: 8504-6057 RENAULT, Luiz Otávio Linhares e VIANA, Márcio Túlio e. Antecipação da Tutela. O que há de novo em Processo do Trabalho - Homenagem a Wilson Carneiro Vidigal. São Paulo: LTr Edit., 1997. SANTOS, Ernane Fidelis dos. Novos Perfis do Processo Civil Brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 1996. SILVA, Paulo Renato Fernandes. É possível antecipar a tutela na sentença de mérito?. Revista LTr. 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