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REVISTA DA OAB OLINDA 
Ano I, Vol 02, N. 1, 2019. ISSN: 8504-6057 
AÇÃO CAUTELAR E TUTELA ANTECIPADA NO PROCESSO DO 
TRABALHO: SIMILITUDES E DISTINÇÕES 
PRECAUTIONARY ACTION AND EARLY GUARANTEE IN THE WORK PROCESS: 
SIMILITUDES AND DISTINCTIONS 
 
João de Castro Barreto Neto1 
Narciso Barbosa da Silva Junior2 
 
RESUMO 
Historicamente a morosidade da prestação jurisdicional do Estado tem sido elemento 
caracterizador do nosso deficiente sistema nacional de Justiça. A dinâmica social brasileira, com 
o agravamento das condições sociais, impulsionada pelas conquistas cidadãs da Constituição 
Federal de 1988, influenciou um considerável aumento do número de demandas em Tribunais de 
todo país. Com efeito, as gastas regras processuais existentes não foram, por si só, suficientes 
para responder à altura os anseios e perspectivas dos cidadãos. Não bastaram a agilidade e a 
instrumentalidade do processo cautelar e a provisoriedade de sua medida antecipatória, a liminar. 
Por essa razão, novas fórmulas processuais foram estudadas, até que, por disposição da Lei. n.º 
8.952/94, foi alterado o art. 273 do CPC para possibilitar, com conteúdo satisfativo, a antecipação 
da tutela jurisdicional no processo cognitivo. 
 
Palavras-chave: Ação Cautelar; Tutela Antecipada; Processo do trabalho. 
 
ABSTRACT 
Historically, the slowness of the State's jurisdictional provision has been a characteristic element of our 
deficient national justice system. Brazilian social dynamics, with the worsening of social conditions, 
driven by the citizen conquests of the Federal Constitution of 1988, influenced a considerable increase 
in the number of demands in Courts throughout the country. Indeed, the worn out existing procedural 
rules were not, in themselves, sufficient to respond to citizens' wishes and perspectives. The agility and 
instrumentality of the precautionary process and the provisionality of its preliminary measure, the 
preliminary injunction, were not enough. For this reason, new procedural formulas were studied, until, 
by the provision of Law. Nº 8.952 / 94, art. 273 of the CPC to enable, with satisfactory content, the 
anticipation of judicial protection in the cognitive process. 
 
Keyword: Cautionary action; Anticipated Guardianship; Work process. 
 
 
 
 
 
 
1 Graduado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Graduado em Administração 
de Empresa pela Universidade de Pernambuco (UPE). Especialista em Direito do Trabalho pela 
Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Pós-graduado em Direito Sindical e Coletivo da Escola 
Superior da Magistratura da 6ª Região/PE. Vice-presidente da Academia de Letras Jurídicas de Olinda 
(ALJO). Presidente da Comissão de Direito Sindical da OAB/Olinda. Mestrando pela Faculdade Damas. 
Advogado. E-mail: advjcastro@gmail.com 
2 Pós-graduando em Direito Publico pela Faculdade Novo Horizonte; Bacharel em Direito pelo Instituto de 
Ensino Superior de Olinda. Advogado. 
 
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1 INTRODUÇÃO 
 
O presente estudo visa comparar a natureza cautelar da ação com o instituto da 
antecipação de tutela, apontando seus elementos de aparência e conseqüentes distinções, 
abrangendo a aplicabilidade de ambos na dinâmica processual trabalhista. 
 
Tecnicamente o processo cautelar foi criado - ressalvados casos específicos - para 
garantir a eficácia do processo propriamente dito, ou seja, de modo que o tempo não 
inviabilizasse ou prejudicasse sua efetivação. Destarte, vinha sendo utilizado, em face da 
demora judicial da prestação da jurisdição, como fonte de defesa do próprio direito material. 
Era a maneira encontrada pela sociedade para driblar a lentidão excessivamente 
desgastante do processo cognitivo, este sim verdadeiramente adequado à defesa do direito 
material. 
Entretanto, havia, como de fato ainda há, situações específicas em que a demora da 
prestação jurisdicional não inviabilizava o processo, mas prejudicava o exercício do direito 
substantivo. Eram em casos como estes que se observava a impropriedade do uso de ações 
cautelares, porquanto ainda fosse o único meio de defesa do cidadão ante a ineficiência do 
exaustivo processo de conhecimento. Mesmo porque, a bem da verdade, o uso de medidas 
antecipatórias tutelares já existia no cenário jurídico brasileiro, mas restringia-se a casos 
excepcionalíssimos como, por exemplo, liminares em remédios constitucionais (mandados 
de segurança, de injunção, habeas corpus e habeas data), em ações civis públicas, ações 
específicas da seara cível e, no processo do trabalho, ressaltando-se, como exemplo, o caso 
de aplicação do comando do art. 659, inciso IX, da CLT, isto é, quando da concessão de 
liminar impediente de transferência de empregado por violação da regra do art. 469 da citada 
consolidação, dentre outros. 
 
 
2 AÇÃO CAUTELAR E TUTELA ANTECIPADA 
 
A inadequação do uso genérico das ações cautelares e a necessidade de se estabelecer 
um meio capaz de garantir o acautelamento de direitos materiais ainda no curso da cognição, 
por sua vez, foram fundamentais à previsão legal do instituto da antecipação de tutela. 
Observe-se que tal previsão legal não visou substituir, tampouco confrontar com o processo 
cautelar. Ao contrário, a este associou-se para melhorar a dinâmica processual e possibilitar 
 
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ao caso demandado a aplicação do remédio jurídico ideal. 
Consequentemente, como bem afirmaram os professores Luiz Otávio Linhares 
Renault e Márcio Túlio Viana3, 
"as cautelares voltaram a servir, apenas, de instrumento do instrumento, 
como acontecia em sua origem. E as medidas antecipatórias passaram a ter 
regulação própria, perdendo, ao mesmo tempo, sua excepcionalidade". 
 
O instituto tutelar suso mencionado é relativamente novo no ordenamento jurídico 
pátrio, mas já vem sendo utilizado, com sucesso, há algum tempo, em inúmeros estados 
soberanos. Não remonta, porém, ao antigo direito romano (como as primeiras medidas 
cautelares), visto ser providência jurídica moderna, conseqüência que é dos idênticos 
fatores que permitiram sua viabilização no Brasil. 
Se por um lado o CPC brasileiro acolhe o processo cautelar em todo Livro III, 
resguardando e ressalvando o poder geral de cautela do juiz no art. 798, ao instituto da 
antecipação de tutela destinou apenas o comando do art. 273 (Livro I), que trata do 
processo de conhecimento. Ainda assim, é plena sua aceitação no mundo jurídico pátrio, 
ao ponto de hoje ser apontada não apenas como uma das mais significativas inovações 
processuais dos últimos anos, como também uma das mais importantes e veementes 
medidas de defesa da cidadania. Afinal, como afirma o professor Nicolò Trocker4, 
“um processo que perdura por longo tempo transforma-se 
também em um cômodo instrumento de ameaça e pressão, uma 
arma formidável nas mãos dos mais fortes para ditar ao 
adversário as condições de rendição”. 
 
 
3 SIMILITUDES E DISTINÇÕES 
 
Por certo que há semelhança entre ações cautelares e medidas antecipatórias de 
tutela, porquanto ambas procuram garantir uma prestação jurisdicional rápida e eficaz. 
Contudo, acreditamos ser esta a única aparência significativa entre os dois institutos, uma 
vez que, como já afirmamos em linhas anteriores, possuem naturezas distintas e 
objetivam interesses diversos: as primeiras, a garantia da eficácia do processo; as demais, 
a satisfatividade antecipada do direito material pleiteado. 
 
3 RENAULT, Luiz Otávio Linhares e VIANA, Márcio Túlio. Antecipação da Tutela. O que há de 
novo em Processo do Trabalho - Homenagem a Wilson Carneiro Vidigal. São Paulo: LTr Edit. 1997, p. 
88. 
4 apud FLORINDO, Valdir. Tutela antecipatória: um direito de cidadania. Revista Gênesis, p. 502. 
Curitiba: Gênesis Edit. 8(46): 501-103, outubro/96. 
 
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Ocorre que em relação aos pressupostos de concessibilidade de ambas as medidas 
há também elementos de subjetividade capazes de confundi-las umas e outras. 
 É que são essenciais à cautela os requisitos do fumus boni juris e do periculum in 
mora. À sua antecipação, pelo menos a aparência de ambos deve ser prognosticada. 
Por sua vez, o art. 273 do CPC estabeleceu que à concessão parcial ou total 
antecipada da tutela são necessários a existência da prova inequívoca, o convencimento 
do juiz acerca da verossimilhança das alegações do autor, e desde que havendo fundado 
receio de dano irreparável ou de difícil reparação5 ou ficando caracterizado o 
abuso do direito de defesa ou manifesto propósito protelatório do réu6 . 
 Foi o professor Marcelo Lima Guerra7 quem pontuou, no nosso entendimento, o eixo de 
toda confusão jurídica acerca da polêmica semelhança entre ação cautelar e antecipação de tutela. 
Para ele, a hipótese de concessão de antecipação de tutela do inciso I do art. 273, ou seja, 
desde que haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, constitui-se em 
prestação de tutela cautelar, pois intenta a garantia da efetividade plena da decisão final, o que é 
comum a todas as demais medidas cautelares antecipadas, sobretudo aquelas que José Inácio 
Botelho de Mesquita8 classifica como obrigatórias e permitidas, em que a satisfação do direito só é 
possível em tempo inferior ao do processo, por cautelarem, seqüencialmente, direitos de impossível 
e difícil reparação. 
 Por certo que houve descuido do legislador ao elaborar o comando processual 
suso. Por isso, é compreensível a celeuma jurídica sobre a identidade física entre os dois 
instrumentos antecipatórios. 
Entretanto, uma interpretação legal não pode ser apenas literal e individualizada, de 
modo que, estudando-se o contexto geral do art. 272, há como se verificar a completa distinção 
de propósitos entre tutela antecipada e ação cautelar. 
Observe-se que o inciso II do art. 273 do CPC, ao enunciar "fique caracterizado o abuso 
de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu", estabeleceu uma nova 
modalidade de concessão antecipatória tutelar no ordenamento jurídico pátrio, fundada sobre 
a necessidade de se coibir práticas impúrias de atuação processual, de finalidade repressiva, 
quase sancional. 
Ademais, para efeito de dissociação prática e teórica dos dois institutos, ressalte-se que 
 
5 Vide CPC, art. 273, inciso I. 
6 Vide CPC, art. 273, inciso II. 
7 GUERRA, Marcelo Lima. Estudos sobre o processo cautelar. São Paulo: Malheiros, 1995, p 98. 
8 apud DIAS, Carlos Alberto da Costa. Liminares: poder discricionário ou vinculado? Revista de 
Processo, p. 309. São Paulo: RT Edit., 85, pp. 303–310. 
 
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a tutela do art. 272 do CPC constitui procedimento a ser evocado nos autos principais do 
processo ordinário, ao passo que a ação cautelar é autônoma e deve ser ajuizada em autos 
apartados da ação principal. 
 
O objeto da ação cautelar é a garantia do processo, daí sua instrumentalidade. Sua 
sentença não influencia a sentença da ação principal, a menos que haja reconhecimento 
prescricional ou decadencial, quando faz coisa julgada formal e material. A seu turno, 
por possuir conteúdo de satisfatividade, a decisão da antecipação de tutela pode 
influenciar a sentença da ação principal. 
A sentença que julga ação cautelar é recorrível. A decisão que defere ou indefere 
pedido de antecipação de tutela é interlocutória e só é atacável mediante interposição de 
agravo de instrumento ou, em se tratando de processo trabalhista, mandado de segurança, 
desde que preenchidos seus requisitos de admissibilidade. 
Às distinções supra destacadas acrescente-se a inteligente constatação do professor 
Francisco Gérson Marques de Lima9, segundo a qual, a maior prova de diferenciação 
entre tutela antecipada e ação cautelar está na Lei. n.º 7.347/85 que prevê expressamente 
o uso dos dois institutos na ação civil pública: primeiro, a antecipação meritória via 
liminar do art. 12, que nada mais é do que antecipação de tutela no próprio corpo da ação; 
segundo, a providência cautelar à mesma, autônoma e instrumental do processo principal 
ação civil pública (art. 4.º), acatando-se, por consequência, a liminar cautelatória do art. 
804 do CPC. 
 
 
4 APLICAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO 
 
A exemplo da doutrina majoritária somos pela tese de que inexiste qualquer elemento 
impeditivo de aplicação instrumental da tutela antecipada no processo do trabalho. Em 
contraposição aos que ousam defender a incompatibilidade com este ramo processual 
especializado devido a alegação da suposta sumariedade do rito, informe-se-lhes que o 
processo do trabalho não é de rito sumário e, sim, de rito ordinário. E sendo ordinário, ainda 
que especial, bem se lhe aplica, subsidiariamente, a antecipação de tutela, por força dos 
comandos do art. 769 da CLT. 
 
9 LIMA, Francisco Gérson Marques de. A Tutela Antecipada Trabalhista. Texto extraído da 
Dissertação de Mestrado em Direito pela UFC. Fortaleza: 1997. 
 
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É verdade que mais por compatibilidade das regras processuais civis com as 
trabalhistas do que por omissão propriamente dita, uma vez que a CLT já previa, 
excepcionalmente, a aplicação da antecipação do mérito no processo cognitivo. De toda 
sorte, isso não vem ao caso, afinal, o instituto da antecipação de tutela não apenas não entra 
em descordo com as normas trabalhistas, como se adequa perfeitamente aos seus princípios 
de celeridade e informalidade processual. 
Ora, se até mesmo a rigidez da lei civil acata o instituto antecipatório, o que dirá da 
lei trabalhista que tende a ser mais flexível e social! 
É nesse sentido que esclarecem os professores Márcio Túlio Viana e Luiz Otávio 
Linhares Renault10: 
"Como dizíamos, há perfeita compatibilidade entre a regra que antecipa 
a tutela e os princípios que norteiam o processo do trabalho. Por duas 
razões, pelo menos: 
1) o processo reflete, necessariamente, o direito material. E o direito 
material do trabalho é todo ele voltado à proteção do empregado. Ora: 
o empregado é quase sempre o autor na ação. E a antecipação da tutela 
vem ao encontro dos interesses do autor. 
2) Um dos maiores problemas da norma jurídica trabalhista é o da sua 
eficácia. Leis, temos à farta, mas não são cumpridas. A antecipação da 
tutela aumenta a eficácia da regra de direito material." 
 
Em valioso estudo acerca do tema concluiu o professor Jorge Pinheiro Castelo11: 
 "(...) tendo a legislação ofertado um instrumento para a correção do 
maior mal da Justiça, que é a morosidade, através da eficiente e efetiva 
utilização da tutela antecipada no processo trabalhista, não é concebível 
que os operadores do direito mantenham uma mentalidade superada 
que impeça que a antecipação da tutela se transforme num instrumento 
que não apenas garanta a constitucionalidade do sistema processual 
trabalhista e a satisfação para aqueles que militam na Justiça do 
Trabalho, mas que, certamente, terá uma importância simbólica muito 
maior para o funcionamento das relações de trabalho, na medida que os 
destinatários da prestação jurisdicional e toda sociedade passarem a 
acreditar que a Justiça do Trabalho voltou a ser uma Justiça 
extremamente célere quando se depara com situações de urgência ou 
de evidência com abuso do direito de defesa e procedimento 
protelatório". 
 
Veja-se, portanto, que não há o que dizer acerca da viabilidade da utilização da 
tutela antecipada no direito do trabalho. Polêmica tem se constituído sobre em quais tipos 
de obrigação é a mesma cabível. 
Divide-se a doutrina em duas correntes: a que acredita que a incidência recai sobre 
 
10 RENAULT,Luiz Otávio Linhares e VIANA, Márcio Túlio, ob. cit., pp. 88/89. 
11 CASTELO, Jorge Pinheiro. Tutela antecipada e obrigação de fazer no Processo do Trabalho - A 
Difícil caminhada em direção à modernidade e à efetividade. Revista LTr. São Paulo: LTr Edit. 63(8), p. 
1028, agosto/99. 
 
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as obrigações de dar, fazer e não fazer, e a que defende que a incidência é apenas sobre 
as obrigações de dar. 
Somos partidários do uso generalizado do instituto antecipatório tutelar sobre todas 
as modalidades de obrigações, mesmo a despeito das luzes do professor Manoel Antônio 
Teixeira Filho12 que defende o uso antecipatório tutelar do art. 273 do CPC para 
as obrigações de dar, conquanto as antecipações meritórias em obrigações de fazer 
e não fazer disciplinar-se-ão pelo comando do art. 461, § 3.º, do mesmo código. É o caso, 
por exemplo, da reintegração do empregado estável. 
 Data venia o lúcido convencimento do renomado jurista, acreditamos que ambos 
os dispositivos do CPC (arts. 273 e 461, § 3.º) prestam à reintegração do aludido 
empregado. No mesmo sentindo nosso é o pensamento do professor Sérgio Torres 
Teixeira13 que entende que o instituto do art. 273 do CPC é mais amplo que o do art. 461, 
§ 3.º, pois aplica-se a todos os casos cognitivos, em detrimento do outro de aplicação 
específica às obrigações de fazer e não fazer. Para o magistrado pernambucano 
"ambos, entretanto, servem para combater a nocividade da mora 
processual, e, destarte, apresentam-se como formidáveis remédios 
contra os efeitos negativos da demora da prestação jurisdicional que 
aflige a Justiça do Trabalho. Como conseqüência, podem e devem, 
quando preenchidos os requisitos específicos, servir para efetivar a 
reintegração provisória dentro do processo trabalhista". 
 
De qualquer maneira, haja vista não sermos os detentores da razão, sempre 
sobressair-se-ão palavras do professor Teixeira Filho14: 
"Se, na prática, houver equívoco na indicação do fulcro legal do pedido, 
isso não deverá causar, no processo do trabalho, nenhum prejuízo ao 
autor, pois o juízo, numa invocação analógica e elogiável do princípio 
da fungibilidade (que é característico dos recursos), deverá apreciar o 
pedido incorreto como se o correto fosse - e conceder, ou não, a tutela 
imediata (antecipação ou liminar)". 
 
Também complexa é a polêmica acerca do órgão competente para antecipar a 
tutela no processo trabalhista, se o Juiz Presidente da Junta ou o Colegiado. Neste 
tópico, aliamo-nos à corrente que compreende que é do Juiz Presidente a 
competência para antecipar a tutela, mais uma vez, data venia a insofismável 
 
12 TEIXEIRA FILHO, Manuel Antônio. Antecipação da Tutela. Curso de Processo do Trabalho - 
Perguntas e Respostas sobre Assuntos Polêmicos em Opúsculos Específicos, n.º 2. São Paulo: Ltr Edit., 
1996, pp. 34-36. 
13 TEIXEIRA, Sérgio Torres. Admissibilidade da Reintegração Provisória à Luz das Novas 
Alterações no Código de Processo Civil. Revista Ltr, p. 189. São Paulo: LTr Edit., 60 (2): 189, fevereiro/96. 
14 TEIXEIRA FILHO, Manuel Antônio, ob. cit., p. 35. 
 
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inteligência do professor Manoel Antônio Teixeira Filho15, que defende 
posicionamento contrário. 
No mesmo sentido do nosso parecer é o posicionamento do professor 
Francisco Gérson Marques de Lima16 que aduz que todas as modalidades de 
liminares (em cautelares satisfativas jurisdicionais ou administrativas, em ações 
civis públicas, em mandados de segurança, em embargos de terceiro e na hipóteses 
do art. 659, IX e X, da CLT) são de competência do Juiz Presidente da Junta. 
Ressalva, inclusive, a recente averbação do inciso X do art. 659 da CLT, advinda da 
Lei 9.270/96, como possível reflexo oriundo da tutela antecipatória dos arts. 273 e 
461, § 3.º, do CPC. 
Acrescentamos aos argumentos supra mencionados que, a despeito das disposições 
dos arts. 659, IX e X, e demais citados da CLT - que remetem ao Juiz Presidente a 
competência para despachar medidas liminares -, ainda há o comando do art. 667 da CLT, 
que dispõe sobre a competência do Juiz Classista, e não prevê, para este, qualquer tipo 
de intervenção em despacho liminar. Ao contrário, estabelece, na alínea "b", claramente, 
que a este compete "votar nos julgamentos dos feitos e nas matérias de ordem interna do 
Tribunal, submetidas às suas deliberações". 
Entretanto, o despacho de antecipação de tutela adianta os efeitos da eventual 
decisão, mas não é sentença. É por isso que a lei prevê a possibilidade de sua revogação 
ou modificação a qualquer tempo (§ 4.º, art. 273, CPC). É também por esse motivo que 
não há porque se falar em julgamento para o caso. 
Trata-se, tão-somente, de decisão interlocutória, atacável, no processo civil, 
mediante interposição de agravo de instrumento e, no processo do trabalho, através da 
impetração de mandado de segurança, desde que preenchidos seus requisitos de 
admissibilidade. 
 A propósito, ensina-nos o professor Marcelo Lima Guerra17 que, em apenas um 
caso, a medida antecipatória da tutela não poderá ser revogada ou modificada a qualquer 
título. É quando da aplicação da tutela antecipatória fundada na disposição do inciso II, 
do art. 273 do CPC, pois reveste-se de conteúdo sancional ante uma atitude de 
desonestidade processual. 
 
 
15 __________. , ob. cit., pp. 13-15. 
16 LIMA, Francisco Gérson Marques de, ob. cit. 
17 GUERRA, Marcelo Lima, ob. cit. p. 110. 
 
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No caso de desobediência da ordem de cumprimento da tutela antecipatória, o 
jurista acredita ser cabível a aplicação de multa, afinal, como bem averbou o professor 
Estêvão Mallet, 
"se o juiz, na ordem de antecipação de tutela, mandar pagar, e a 
empresa não paga, a despeito de ter dinheiro, comete o crime de 
desobediência, porque a ordem do juiz não é nunca emitida para 
ser cumprida se isso for conveniente ou for do alvedrio da 
empresa"18. 
 
Entretanto, no entendimento do digníssimo professor e magistrado trabalhista da 
7.ª Região, por tratar-se de condenação acessória, a multa deverá ser desconsiderada caso 
não se configure, em ulterior decisão, o direito alegado. 
Distanciamo-nos do autor neste ponto, pois acreditamos que em caso de desobediência 
à ordem judicial de cumprimento de tutela antecipatória, mesmo que a decisão meritória 
venha albergar os interesses do descumpridor, a aplicação da multa não pode nem deve ser 
desconsiderada. É que, nesse caso, a multa não tem ligação direta com o resultado do mérito 
da ação principal, e, sim, com uma desobediência a uma diligência judicial. 
É a situação, por exemplo, do descumprimento de ordem judicial que visa aplicar os 
efeitos da antecipação de tutela fundamentada no art. 659, X, da CLT, para reintegrar o 
dirigente portador de estabilidade sindical. 
 Ora, no caso de descumprimento de toda ordem de reintegração, além dos valores 
relativos ao salário do empregado despedido, a boa doutrina19 entende que também são 
devidas as cifras referentes a aplicação da multa por desobediência do art. 729 da CLT, que, 
embora aluda a decisão passada em julgada e valores-de-referência (regionais), deve ser 
interpretada extensivamente como de 3/5 a 3 salários mínimos por dia e para decisão 
reintegratória de qualquer natureza, provisória ou definitiva. Em se tratando de persistência 
do descumprimento de ordem de reintegração de dirigente sindical, ainda caberá ação 
indenizatória do sindicato, para ressarcimento dos danos morais e/ou materiais provocados à 
categoria, uma vez que o afastamento do dirigente do emprego acarreta prejuízos ao grupo 
todo e não apenas ao indivíduo demitido e sua família. 
Ressalte-se, mais uma vez, que em sendo invalidada a reintegração em sentença demérito, em nenhum caso deverá ser desconsiderada a multa judicial, e tampouco os salários 
recebidos deverão ser devolvidos, vez que já foram pagos com o suor da contraprestação do serviço. 
 
 
18 apud RENAULT, Luiz Otávio Linhares e VIANA, Márcio Túlio, ob. cit. p. 91. 
19 É a posição, p. ex., de RENAULT, Luiz Otávio Linhares e VIANA, Márcio Túlio, ob. cit., p. 92. 
 
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5 CONCLUSÃO 
 
Em sede das afirmações supra destacadas concluímos que a utilização do mecanismo 
antecipatório tutelar no processo do trabalho é de inteira importância para a agilização da 
prestação jurisdicional. 
Incitamos os operadores jurídicos do país, mormente os que militam na Justiça do 
Trabalho, para que assegurem a aplicabilidade do instituto de antecipação tutelar, deixando 
às suas reais necessidades os procedimentos cautelares. 
É somente assim que poderemos desenvolver um trabalho profícuo tendo em vista a 
eficácia plena do processo e a dignificação do exercício da cidadania do povo. 
 
 
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