Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1Educação Ambiental Universidade Federal de Uberlândia Curso de Pedagogia a Distância EDUCAÇÃO AMBIENTAL Iara Vieira Guimarães 2 Educação Ambiental EDUCAÇÃO AMBIENTAL GUIMARÃES, Iara Vieira. Educação ambiental. Coleção Pedagogia a Distância UFU/UAB. Uberlândia-MG: Universidade Federal de Uberlândia, Universidade Aberta do Brasil, 2020. 30p A Autora Iara Vieira Guimarães é professora de Educação Ambiental e Metodologia do Ensino de História e Geografia na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atua o Programa de Pós-Graduação em Educação (Linha de Pesquisa Saberes e Práticas Educativas - PPGED/UFU), orientando pesquisas de mestrado e doutorado. Possui graduação em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (1992), mestrado em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (1998) e doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (2006). Realizou estágio de pós-doutorado na Universidade Federal Fluminense (2015). Integra a coordenação do Grupo de Pesquisa Formação Docente, Saberes e Práticas de Ensino de História e Geografia - GEPEGH. Possui experiência na área de educação e desenvolve trabalhos de ensino, pesquisa e extensão com ênfase em ensino e aprendizagem, Educação Ambiental, metodologias e práticas pedagógicas, formação de professores e artefatos midiáticos. 3Educação Ambiental PRESIDENTE DA REPÚBLICA Jair Messias Bolsonaro MINISTRO DA EDUCAÇÃO Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL DIRETORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA/CAPES Carlos Cezar Modernel Lenuzza REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU Valder Steffen Junior VICE-REITOR Orlando César Mantese DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Vinicius Silva Pereira REPRESENTANTE UAB/UFU Maria Teresa Menezes Freitas SUPLENTE UAB/UFU Aléxia Pádua Franco DIRETORA DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED - UFU Geovana Ferreira Melo CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA COORDENADORA DO CURSO Maria Irene Miranda PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO Aldecí Cacique Calixto “O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 - (Portaria CAPES 206/2018) 4 Educação Ambiental CONSELHO EDITORIAL Aléxia Pádua Franco – UFU Carlos Rinaldi – UFTM Carmem Lúcia Brancaglion Passos – UFScar Célia Zorzo Barcelos – UFU Diva Souza Silva – UFU Eucidio Arruda Pimenta – UFMG Ivete Martins Pinto – FURG João Frederico Costa Azevedo Meyer – UNICAMP Maria Irene Miranda – UFU Marisa Pinheiro Mourão – UFU REVISORA Carina Diniz Nascimento 5Educação Ambiental Sumário FIGURAS 6 INFORMAÇÕES 7 INTRODUÇÃO 8 SUMÁRIO QUINZENAL 10 Módulo 1 – O que é o Meio Ambiente? 10 I - INTRODUÇÃO 10 II – TEXTO BÁSICO 11 1.1. Para compreender o meio ambiente 11 III - SÍNTESE DO MÓDULO 12 IV - REFERÊNCIAS 13 SUMÁRIO QUINZENAL 14 Módulo 2 – Educação Ambiental: Delineamentos 14 I - INTRODUÇÃO 14 II – TEXTO BÁSICO 15 2.1. Marcos legais da Educação Ambiental 15 2.2. Diferentes maneiras de pensar a Educação Ambiental 18 III - SÍNTESE DO MÓDULO 19 IV - REFERÊNCIAS 20 SUMÁRIO QUINZENAL 21 Módulo 3 – Educação Ambiental: Interdisciplinaridade e Transversalidade 21 I - INTRODUÇÃO 21 II – TEXTO BÁSICO 22 3.1. A produção do conhecimento sobre seres humanos e natureza 22 3.2. A Educação Ambiental na organização curricular da Escola 22 III - SÍNTESE DO MÓDULO 25 IV - REFERÊNCIAS 26 SUMÁRIO QUINZENAL 27 Módulo 4 – Práticas Educativas em Educação Ambiental 27 I - INTRODUÇÃO 27 II – TEXTO BÁSICO 28 4.1. Analisando propostas de Educação Ambiental 28 III - SÍNTESE DO MÓDULO 29 IV - REFERÊNCIAS 30 SUMÁRIO 6Educação Ambiental FIGURAS Figuras FIGURA 1: Banho de cachoeira 10 FIGURA 2: Planeta Terra 11 FIGURA 3: Livro Prosperidade sem crescimento 12 FIGURA 4: Rio Guaropé - Amazônia 14 FIGURA 5: Educação Ambiental - Linha do Tempo 15 FIGURA 6: Educação Ambiental - Principios 17 FIGURA 7: Livro Diálogos de Saberes e Fazeres 18 FIGURA 8: Rede 21 FIGURA 9: A Ciência sob a ótica da poesia, Manoel de Barros 22 FIGURA 10: Mão colorida 27 FIGURA 11: Livro Meio Ambiente em Cena 29 7Educação Ambiental Prezado(a) aluno(a), Ao longo deste guia impresso você encontrará alguns “ícones” que lhe ajudará a identificar as atividades. Fique atento ao significado de cada um deles, isso facilitará a sua leitura e seus estudos. Destacamos alguns termos no texto do Guia cujos sentidos serão importantes para sua compreensão. Para permitir sua iniciativa e pesquisa não criamos um glossário, mas se houver dificuldade interaja no Fórum de Dúvidas. INFORMAÇÕES 8 Educação Ambiental INTRODUÇÃO Vamos iniciar nossos estudos de Educação Ambiental analisando o que envolve atualmente a discussão sobre meio ambiente, a sociedade, a política e a educação escolar. Por que será que os problemas ambientais estão presentes de modo tão intenso no nosso cotidiano? Você sabe o que significa meio ambiente? O que vem a ser a chamada crise ambiental? Quais são os maiores desafios ambientais da atualidade? Como construir práticas pedagógicas significativas em educação ambiental? Essas importantes questões serão tratadas nesse guia. Espero que você estude com dedicação e aguce sua compreensão para as possibilidades de fazer uma educação ambiental vigorosa nos espaços escolares e nas diversas possibilidades de atuação do pedagogo. Ao longo das atividades do curso será possível compreender que a Educação Ambiental é fundamental para a formação do professor da Educação Básica. O domínio e a reflexão sobre as temáticas relacionadas ao meio ambiente e a formação da cidadania são basilares para garantir a participação social efetiva, bem como para a compreensão dos fatores de ordem social e histórica que fundam a atual crise ambiental vivida em escala planetária. Assim, estudar e compreender a história, os documentos e o aparato legal, os conteúdos e metodologias próprias da Educação Ambiental são fatores pertinentes para a formação pedagógica e política dos docentes que atuarão na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. Saliento a necessidade de você realizar todas as atividades propostas, assistir os vídeos indicados, fazer as leituras sugeridas, etc. Esses materiais são fundamentais para a compreensão dos conteúdos e o fazer prático dos docentes com a educação ambiental. Nossos objetivos principais são: Objetivo Geral Discutir os aspectos essenciais para tratar, sob o ponto de vista pedagógico e da pesquisa, a Educação Ambiental no contexto da educação escolar. Objetivos Específicos 1. Analisar o conceito de meio ambiente. 2. Compreender os principais fatores que corroboram para o entendimento do meio ambiente na sociedade contemporânea. 3. Refletir sobre a importância da Educação Ambiental na contemporaneidade. 4. Analisar os pressupostos históricos e teórico-metodológicos que orientam a Educação Ambiental. 5. Caracterizar as diferentes abordagens teóricas e metodológicas recorrentes no debate acadêmico e nas práticas de Educação Ambiental. 6. Analisar a Educação Ambiental como uma proposta interdisciplinar e transversal nas práticas educativas escolares. 7. Compreender a articulação entre a pesquisa e o ensino na reflexão sobre projetos, estudos e práticas pedagógicas envolvendo a Educação Ambiental. 8. Construir propostas metodológicas de Educação Ambiental para a Educação Básica. 9Educação Ambiental Para atingir esses objetivos organizamos o guia em quatro módulos, correspondentes às quatro semanas de estudo: MODULO 1: O QUE É MEIO AMBIENTE? MÓDULO 2: EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DELINEAMENTOS MÓDULO 3: EDUCAÇÃO AMBIENTAL: INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSVERSALIDADE MÓDULO 4: PRÁTICAS EDUCATIVAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL Como você pode observar temos um interessante caminho a percorrer nesse curso. Boa jornada! 10Educação Ambiental Módulo 1 – O que é o Meio Ambiente? SUMÁRIO QUINZENAL ‘‘ Não somos apenas naturezanem tampouco somos apenas cultura, educação, cognoscitividade. Por isso, crescer, entre nós, é uma experiência atravessada pela biologia, pela psicologia, pela cultura, pela história, pela educação, pela política, pela estética, pela ética. “ Paulo Freire FIGURA 1: Banho de cachoeira FONTE: https://pixabay.com/pt/photos/o-homem-em-cachoeira-cachoeira-2150164/ Objetivos do Módulo: 1. Analisar o conceito de meio ambiente. 2. Compreender os principais fatores que corroboram para o entendimento do meio ambiente na sociedade contemporânea. Neste módulo você vai estudar o que significa meio ambiente. Esse conceito é importante e implicará em uma compreensão mais assertiva de todas as outras unidades de estudo. Por isso leia os textos, analise as imagens e faça todas as atividades sugeridas. Bom estudo! I - INTRODUÇÃO https://pixabay.com/pt/photos/o-homem-em-cachoeira-cachoeira-2150164/ 11 Educação Ambiental II – TEXTO BÁSICO Nosso planeta pode ser comparado a uma astronave, deslocando-se a 100.000 km/h pelo espaço sideral, sem possibilidade de parada para reabastecimento, mas dispondo de um eficiente sistema de aproveitamento de energia solar e de reciclagem de matéria. Atualmente, a astronave possui ar, água e comida suficientes para manter seus passageiros. No entanto, tendo em vista o crescimento exponencial do número de passageiros e a ausência de portos para reabastecimento, pode-se vislumbrar, a médio e longo prazo, sérios problemas para a manutenção da população. (MILLER, 1985) PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Ambiente (Meio Ambiente). In: Roseli Salete Caldart; Isabel Brasil Pereira; Paulo R. R. Alentejano; Gaudêncio Frigotto. (Org.). Dicionário de Educação do Campo. Rio de Janeiro/São Paulo: Fiocruz e Expressão Popular, 2012, p. 94-103. FIGURA 2: Planeta Terra FONTE: https://pixabay.com/pt/photos/terra-planeta-azul-globo-planeta-11015/ 1.1. Para compreender o meio ambiente Vamos iniciar nossos estudos de Educação Ambiental analisando o que envolve atualmente a discussão sobre meio ambiente. Observe a imagem e o excerto a seguir: Veja a atividade 2 no Moodle. Pensar na capacidade do planeta para a manutenção da vida é um fator essencial para compreendermos o que significa meio ambiente. Vamos seguir nessa investigação. Texto para estudo e aprofundamento Acesse o endereço eletrônico: http://www.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/l191.pdf Nesse endereço você vai encontrar o livro “Dicionário da Educação do Campo”. O texto que nos interessa no referido livro é o intitulado “Ambiente (meio ambiente)”, de Carlos Valter Porto Gonçalves, que está localizado nas páginas 94-103. Veja a referência completa a seguir e leia o texto com atenção https://pixabay.com/pt/photos/terra-planeta-azul-globo-planeta-11015/ http://www.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/l191.pdf 12 Educação Ambiental A noção de meio ambiente não recobre somente a natureza, ainda menos a fauna e a flora somente. Este termo designa as relações de interdependência que existem entre o homem, as sociedades e os componentes físicos, químicos, bióticos do meio e integra também seus aspectos econômicos, sociais e culturais. (EYRET, 1999) Não existe meio ambiente diferente de meio, o entorno das sociedades como um dado essencial da vida humana. O que hoje se chamam agravos ao meio ambiente, na realidade, não são outra coisa senão agravos ao meio de vida do homem, isto é, ao meio visto em sua integralidade. (..) O meio ambiente, que - como já dissemos e vale insistir- nada mais é que o meio de vida do homem, constituído, na sociedade contemporânea, como um meio técnico-científico-informacional. (SANTOS, 2006, p. 6) Nesse livro Tim Jackson fornece uma visão verossímil de como a sociedade humana poderia florescer – dentro dos limites ecológicos de um Planeta finito. Para as economias avançadas do Ocidente, a prosperidade sem crescimento não é um sonho utópico. É uma necessidade financeira e ecológica. Tornar esta visão realidade é, nada menos, que o desafio mais urgente de nossos tempos. JAKSON, Tim. Prosperidade sem crescimento: vida boa em um planeta finito. São Paulo: Editora Planeta Sustentável, 2013. Veja a atividade 3 no Moodle. FIGURA 3: Livro Prosperidade sem crescimento III - SÍNTESE DO MÓDULO Nessa unidade estudamos o conceito de meio ambiente. Vimos que meio ambiente não diz respeito apenas a natureza, mas ao homem e ao espaço construído pelo homem. Portanto, meio ambiente está relacionado a interdependência entre os fatores antrópicos e a natureza, é o meio de vida do homem e das outras espécies e todas as suas interdependências. A partir dos anos 1960 o debate acerca do meio ambiente passa a estar relacionado ao desenvolvimento das sociedades, passa a ser também político e social. Questiona-se a ideia de separação homem/natureza e da concepção de natureza como recurso natural para servir aos seres humanos. A crise ambiental vivida na contemporaneidade confere desafios importantes para o modo de produção do espaço, da vida e do futuro da humanidade. Implica também em repensar o papel da natureza na vida humana e as interações recíprocas entre as sociedades e natureza, e o próprio ser humano como natureza. 13Educação Ambiental IV - REFERÊNCIAS EYRET, Y. Géo-environnement. Paris: Sedes, 1999. JAKSON, Tim. Prosperidade sem crescimento: vida boa em um planeta finito. São Paulo: Editora Planeta Sustentável, 2013. MILLER, G.T. Living in the Environment. California: Wadsworth Pub. Inc., 1985. PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Ambiente (Meio Ambiente). In: Roseli Salete Caldart; Isabel Brasil Pereira; Paulo R. R. Alentejano; Gaudêncio Frigotto. (Org.). Dicionário de Educação do Campo. Rio de Janeiro/São Paulo: Fiocruz e Expressão Popular, 2012, p. 94-103. SANTOS, Milton. A Questão do Meio Ambiente: Desafios para a Construção de uma Perspectiva Transdisciplinar. Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente, v.1, n.1, 2006. 14Educação Ambiental Módulo 2 – Educação Ambiental: Delineamentos SUMÁRIO QUINZENAL FIGURA 4: Rio Guaropé - Amazônia FONTE: https://pixabay.com/pt/photos/rio-guapor%C3%A9-amaz%C3%B4nia-natureza-1841419/ Objetivos do Módulo: 1. Refletir sobre a importância da Educação Ambiental na contemporaneidade. 2. Analisar os pressupostos históricos e teórico-metodológicos que orientam a Educação Ambiental. 3. Caracterizar as diferentes abordagens teóricas e metodológicas recorrentes no debate acadêmico e nas práticas de Educação Ambiental. Nesse módulo vamos estudar o que é a Educação ambiental, a sua importância, o seu papel na sociedade contemporânea e, também, as tendências teórico-metodológicas que orientam esse campo do saber. Para isso será muito importante o seu envolvimento e mobilização para o estudo dos textos e a resolução das atividades propostas. Vamos lá! I - INTRODUÇÃO https://pixabay.com/pt/photos/rio-guapor%C3%A9-amaz%C3%B4nia-natureza-1841419/ 15 Educação Ambiental 2.1. Marcos legais da Educação Ambiental A Educação Ambiental começa a ganhar forma e destaque em âmbito internacional a partir da década de 1960. De lá até os dias atuais foram realizados vários eventos e criados uma série de documentos que fundamentam a Educação Ambiental. No caso do Brasil, a década de 1980 marca a formulação dos marcos legais sobre a Educação Ambiental. Vamos conhecer alguns deles? Observe com a figura seguinte. II – TEXTO BÁSICO FIGURA 5: Educação Ambiental - Linha do Tempo FONTE: BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Educação ambiental em unidades de conservação. Brasília: MMA/Instituto Chico Mendes/ WWF, 2016, p. 24. A figura nos mostra que toda a discussão ambiental tem início nos anos 1960 em âmbito internacional. Para a educação ambiental a Conferência de Tibilisi sobre Educação Ambiental foi um marco importante. No Brasil, em 1981, ocorreu a criação da lei que define a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA - lei no. 6.938) que contém o seguinte artigo: Art. 2º - A Política Nacionaldo Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: (...). 16 Educação Ambiental X - educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. (BRASIL, 1981). Por sua vez, ainda na década de 1980, a Constituição Federal do Brasil promulgada em 1988 declara: Artigo 225: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. Em 1999, vários após a criação da Política Nacional do Meio ambiente, para garantir um direito constitucional, o Congresso Nacional aprova a lei no. 9.795 /99 que cria a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Essa lei delibera: Art. 1º Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Art. 2º A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. Art. 5º São objetivos fundamentais da educação ambiental: I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos. II - a garantia de democratização das informações ambientais; III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social. IV- o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V- o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade VI- o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia; VII- o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. Outro documento que merece destaque na trajetória histórica de institucionalização da Educação Ambiental no Brasil é a resolução nº 2, de 15 de junho de 2012, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Dessa resolução dois artigos merecem evidência: Art. 3º A Educação Ambiental visa à construção de conhecimentos, ao desenvolvimento de habilidades, atitudes e valores sociais, ao cuidado com a comunidade de vida, a justiça e a equidade socioambiental, e a proteção do meio ambiente natural e construído. Art. 6º A Educação Ambiental deve adotar uma abordagem que considere a interface entre a natureza, a socio cultural, a produção, o trabalho, o consumo, superando a visão despolitizada, acrítica, ingênua e naturalista ainda muito presente na prática pedagógica das instituições de ensino. 17Educação Ambiental Podemos observar que os objetivos da educação ambiental são estruturados na legislação ambiental e também nas deliberações que tratam da educação do ensino formal, destacando a participação, a formação de valores e a construção da cidadania por meio da proteção ao meio ambiente. Vamos refletir sobre um documento que trata dos princípios da educação para uma sociedade preocupada com o meio em que vive. Paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) ocorreram vários eventos, dentre eles o Fórum Global das ONGs. Este Fórum elaborou o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, que foi assinado por pessoas de diferentes partes do mundo como um compromisso com o reconhecimento da importância da educação, da equidade e ação social para a construção de uma vida com prospera e ambientalmente justa e sustentável. Esse tratado estabeleceu 16 princípios a serem observados: FIGURA 6: Educação Ambiental - Principios FONTE: Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Disponível em: http://estatico.cnpq.br/portal/premios/2018/pjc/assets/pdf/webaulas/web-04/tratado_ jornada_por.pdf Refletir sobre os princípios e os objetivos que regem a Educação Ambiental é importante para que você como profissional da educação construa um processo crítico e propositivo nas escolas e fora delas, na educação formal e não formal. http://estatico.cnpq.br/portal/premios/2018/pjc/assets/pdf/webaulas/web-04/tratado_jornada_por.pdf http://estatico.cnpq.br/portal/premios/2018/pjc/assets/pdf/webaulas/web-04/tratado_jornada_por.pdf 18 Educação Ambiental 2.2. Diferentes maneiras de pensar a Educação Ambiental Texto de estudo e aprofundamento Para você compreender as tendências teórico-metodológicas da Educação acesse o endereço eletrônico a seguir: http://www.scielo.br/pdf/asoc/v17n1/v17n1a03.pdf Nesse Link você acessará o artigo: Veja também a atividade 6 no Moodle. LAYRARGUES, Philippe Pomier e LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. As macrotendências político- pedagógicas da educação ambiental brasileira. Ambiente e Sociedade. 2014, vol.17, n.1, pp.23-40. A publicação resgata e socializa conhecimentos, saberes, fazeres e valores de pessoas que construíram e constroem a história da Educação Ambiental brasileira, promovendo também um diálogo de saberes intrageracional, atingindo assim três importantes objetivos: Apoiar a formação da juventude, sujeitos multiplicadores e professores educadores ambientais, bem como vivências comunitárias ou experiências em educação popular, extensão universitária, além da pesquisa e a produção do saber; Promover o intercâmbio de pesquisas e de pesquisadores, de materiais educativos e recursos inovadores para a implementação da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e nas práticas sociais; Debater mecanismos que promovam maior pertencimento, participação democrática, divulgação, intercâmbio e avaliação das experiências e práticas no campo socioambiental no país. GUERRA, Antônio Fernando Silveira e FIGUEIREDO, Mara Lúcia (Org.). Diálogos de saberes e fazeres: uma releitura dos 25 anos da trajetória da educação ambiental brasileira. São José: ICEP, 2017. FIGURA 7: Livro Diálogos de Saberes e Fazeres http://www.scielo.br/pdf/asoc/v17n1/v17n1a03.pdf 19Educação Ambiental III - SÍNTESE DO MÓDULO Nesta unidade você estudou sobre as diferentes vertentes da Educação Ambiental. A Educação Ambiental é importante para imaginarmos a reversão dos fatores que estão na base da crise ambiental que marca a história humana no século XXI. Assim, a Educação Ambiental pode se assentar em uma mudança da cultura e da implementação de uma ética ecológica, de hábitos mais equilibrados em relação ao meio ambiente. Mas ela pode ir além disso, adotando um compromisso com a análise das condições sociais, das desigualdades que afligem as populações mais pobres e desfavorecidas, que vivem todas as vicissitudes das disparidades de renda, do acesso a saúde, a educação, a moradia eum ambiente seguro e equilibrado. A Educação Ambiental está assentada no terreno político na medida em que atua nas relações entre os humanos e, também, entre os humanos e a natureza. Para além da implementação de hábitos cotidianos preocupados com o meio ambiente é necessário discutir os acordos e dissensos coletivos que envolvem as relações humanas no mundo contemporâneo. A geração e divisão da riqueza, os custos e os riscos ambientais, as desigualdades, os conflitos ambientais, os desastres ambientais, o consumismo, etc. Todos esses fatores são objeto de preocupação da Educação Ambiental a ser desenvolvida nos espaços escolares. 20 Educação Ambiental IV - REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 03 jan. 2019. BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em: 04 jan. 2019. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 06 fev. 2019. BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L9795.htm>. Acesso em: 12 jan. 2018. BRASIL. Conselho Nacional de Educação; Conselho Pleno. Resolução nº 2, de 15 de junho de 2012. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/ dmdocuments/rcp002_12.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2018. BRASIL. Conselho Nacional de Educação; Conselho Pleno. Resolução nº 2, de 1º de julho de 2015. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rcp002_15.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2019. BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Educação ambiental em unidades de conservação. Brasília: MMA/ Instituto Chico Mendes/ WWF, 2016. LAYRARGUES, Philippe Pomier e LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. As macrotendências político-pedagógicas da educação ambiental brasileira. Ambiente e Sociedade.. 2014, vol.17, n.1, pp.23-40. ISSN 1809-4422. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rcp002_12.pdf http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rcp002_12.pdf http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rcp002_15.pdf 21Educação Ambiental Módulo 3 – Educação Ambiental: Interdisciplinaridade e Transversalidade SUMÁRIO QUINZENAL FIGURA 8: Rede FONTE: https://pixabay.com/pt/photos/crian%C3%A7a-meninos-bola-futebol-1426135/ Objetivo do Módulo: Analisar a Educação Ambiental como uma proposta interdisciplinar e transversal nas práticas educativas escolares. Vamos dar sequência aos nossos estudos de Educação Ambiental estudando neste módulo a questão da disciplinaridade, da interdisciplinaridade e da transversalidade. Essa questão é importante para que você possa compreender qual o papel da Educação Ambiental no currículo, na escola e na própria ciência. I - INTRODUÇÃO https://pixabay.com/pt/photos/crian%C3%A7a-meninos-bola-futebol-1426135/ 22 Educação Ambiental 3.1. A produção do conhecimento sobre seres humanos e natureza Para iniciarmos o nosso diálogo assista com muita atenção o vídeo: Acesse o vídeo A natureza e seus fragmentos – Ocupação Manoel de Barros (2019) no endereço eletrônico: https://www.youtube.com/watch?v=_I6bFXLWLIg II – TEXTO BÁSICO FIGURA 9: A Ciência sob a ótica da poesia, Manoel de Barros FONTE: https://serrapilheira.org/a-ciencia-sob-a-otica-da-poesia/ “Na fonte da poesia de Manoel de Barros existe uma relação de promiscuidade com a natureza – tanto a das palavras quanto a das plantas e dos bichos (inclusive os humanos, sobretudo os rasteiros). No entanto, o mundo que lemos nos versos do poeta parece filtrado por um olhar infantil, desacostumado: brincando com os termos e as normas da língua, Manoel ia derrubando as paredes entre espécies, gêneros, famílias, reinos. “Desaprender oito horas por dia ensina os princípios”, escreveu ele em O Livro das Ignorãças (1993). Como, então, um cientista lê os versos do autor? As diferentes formas de encarar a natureza – e de se encantar com ela – se excluem? Neste vídeo, a questão é pensada por quatro biólogos: Bruss Lima, que estuda as atividades cerebrais de primatas não humanos; Carlos Hotta, cujas pesquisas se concentram no relógio biológico das plantas; Hugo Aguilaniu, especialista em genética do envelhecimento e diretor-presidente do Instituto Serrapilheira; e Nurit Bensusan, que atua no campo das políticas públicas para a conservação da biodiversidade e escreve livros dedicados à popularização das ciências. Depoimentos gravados entre outubro e novembro de 2018, em São Paulo/SP e no Rio de Janeiro/RJ.” (Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=_I6bFXLWLIg) Veja também a atividade 8 no Moodle. 3.2. A Educação Ambiental na organização curricular da Escola Para compreendermos melhor a relação entre o processo de disciplinarização na ciência e na educação leia o texto a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=_I6bFXLWLIg https://serrapilheira.org/a-ciencia-sob-a-otica-da-poesia/ https://www.youtube.com/watch?v=_I6bFXLWLIg https://www.youtube.com/watch?v=_I6bFXLWLIg 23Educação Ambiental Disciplinarização da Ciência Conhecemos o processo histórico de constituição das diferentes ciências. Com a criação do método científico moderno, naqueles campos de saberes em que indivíduos já vinham há séculos “especulando” ou mesmo “experimentando” com o objetivo de produzir um conhecimento dito “verdadeiro”, o recorte de um objeto definido possibilitou a emergência de uma disciplina. Assim se deu com a física: as especulações produzidas desde a Antiguidade grega, as experimentações ainda não totalmente metódicas de um Galileu, por exemplo, ao se encontrarem com o método, produziram uma nova forma de olhar o real, buscando a significação última de suas leis fundamentais. Processo semelhante aconteceria com a química, com a biologia e com os demais campos do saber. A disciplinarização está, pois, na origem da constituição da ciência tal como a conhecemos hoje. Mas essa ramificação, essa capilarização, não é exclusiva da ciência; em certa medida, podemos afirmar que ela é a tendência básica de todo o saber humano. Sendo a realidade múltipla, o intelecto humano, em seu afã de conhecimento, sempre procurou abarcá-la. Num primeiro momento, a tentativa – bastante pretensiosa, diga-se de passagem, foi a de abarcar a realidade como una, compreendendo-a num saber de totalidade. Assim foi e tem sido com a religião, assim foi e tem sido com as filosofias de cunho metafísico. Mas mesmo aí aos poucos se foi percebendo que essa realidade era mesmo multifacetada, e mesmo que pudesse ser abarcada como totalidade, ela mostraria nuanças e distinções. Começam aí, nessa Antiguidade da qual nem ao menos podemos precisar o momento, os empreendimentos de compartimentalização do real, de forma que ele pudesse ir sendo conhecido por partes, rumo a uma compreensão total. Quando examinamos, por exemplo, a vasta obra de Aristóteles, percebemos que ele foi talvez o primeiro grande enciclopedista a procurarabarcar como distintos os vários gêneros de saberes humanos, buscando sua articulação. Vale destacar aqui que a palavra enciclopédia deriva do grego e indica um conhecimento circular (a forma perfeita da totalidade) da Paidéia, isto é, da cultura. Com o desenvolvimento da ciência moderna, torna-se cada vez mais difícil (e virtualmente impossível) que alguém possa dedicar-se a todos os campos de saberes, visando a uma compreensão total do real, dada a quantidade e a complexidade de saberes que vão sendo produzidos. Emerge então a especialização. A ciência moderna autonomiza-se e especializa-se em torno de seu objeto. Ele é o foco central do qual depende sua identidade. E cada vez mais o cientista se volta para seu objeto, tornado autônomo, sem preocupar-se com o que está a sua volta. Mas se a especialização potencializa o conhecimento do objeto, por outro lado ela acaba por isolar esse objeto, e isso de certa forma o mutila. De modo alegoricamente provocativo, Nietzsche (1998, p. 295) afirmou: “todo o especialista tem a sua corcunda. Um livro erudito também espelha sempre uma alma que se tornou tortuosa: todo o ofício força o homem a entortar-se”. Talvez pudéssemos aproveitar essa provocação e afirmar que todo cientista moderno possui sua corcunda; cada um a sua maneira debruça-se única e exclusivamente sobre um objeto, perdendo a dimensão de sua relação com os demais. O desenvolvimento da ciência do século XVII ao século XX foi magnífico, seja em termos de velocidade, quantidade ou complexidade. A compartimentalização e a especialização possibilitaram que cada área do saber, fechada em sua autonomia, crescesse de maneira talvez inimaginável, não fôssemos nós testemunhas oculares do fato. Parece haver no conhecimento humano em geral, e no científico em particular, algo que o impulsiona para um crescimento cada vez mais acelerado, que não prevê limites. Na obra Os desafios da racionalidade, o filósofo Jean Ladrière afirma que a ciência, embora seja uma criação humana para responder às suas necessidades cotidianas, para resolver os problemas com os quais nos defrontamos diuturnamente, parece ganhar autonomia, afastando-se da vida humana e de seu cotidiano. Afirma Ladrière que a ciência é animada por uma lógica interna que a leva a querer sempre saber mais, não importando os limites e as consequências desse conhecimento. Em 24 Educação Ambiental lugar de a ciência ser um instrumento humano em sua lida diária, é o humano que passa a ser um instrumento da ciência, para que ela evolua sempre mais, para que o conhecimento seja cada vez mais aprofundado e abrangente. Em suma, a ciência deixa de dizer respeito à vida humana e passa a agir como um organismo autônomo, segundo a lógica de que o que importa é o saber pelo saber. Na segunda metade do século XIX, Nietzsche, um dos primeiros filósofos a afirmar a multiplicidade da vida e do mundo, já apresentava uma postura essencialmente crítica dessa empresa científica. O filósofo alemão foi talvez o primeiro crítico do positivismo (e provavelmente o mais ácido dos críticos), num momento em que o positivismo dominava corações e mentes da Europa e do Novo Mundo. Para esse filósofo, a ciência deve tratar da vida humana; o conhecimento só faz sentido quando trata da vida. Daí sua proposta de uma gaia ciência, de um saber alegre, não perdido na sisudez irrefletida do saber pelo saber. Na perspectiva crítica do filósofo alemão, a ciência nem nos torna mais íntimos de Deus, nem possibilita um conhecimento útil e inocente acima de qualquer suspeita. Ao contrário, a ciência responde a interesses, não poucas vezes escusos, e sua ânsia do saber pelo saber leva-a para longe da vida humana, muitas vezes estando a serviço da extinção de vidas humanas. O saber pelo saber, que compartimenta o mundo para saber “cada vez mais sobre cada vez menos”, não atende aos interesses humanos. De forma que, já em Nietzsche, encontramos uma forte crítica à disciplinaridade da ciência. Disciplinarização da Educação Não tenho dúvidas de que a disciplinarização pedagógica nada mais é que um reflexo, uma continuidade, uma decorrência da disciplinarização epistemológica. No campo da pedagogia moderna, a compartimentalização e a autonomização da ciência vão encontrar espaço e ganhar ainda mais terreno. A pedagogia moderna desenvolveu-se animada por aquela “vontade de verdade”, para usar o conceito de Nietzsche, que levou ao método científico e à autonomização das ciências; e segue, ainda hoje, balizada por uma “vontade de ser ciência”, fiel ao mais puro espírito positivo do século XIX. No contexto da cientificidade da pedagogia, a organização curricular encontrou terreno fértil na disciplinarização. O modelo arbóreo ou radicular de capilarização do conhecimento científico serviu muito bem de planta para a fixação dos currículos escolares. A especialização dos saberes permitiu a especialização dos professores, do material didático e do espaço pedagógico. A fragmentação dos saberes permitiu o fracionamento do tempo escolar em aulas estanques. E tudo isso possibilitou que o processo pedagógico pudesse passar pelo crivo de um rígido controle, que pôde, por sua vez, dar à pedagogia a ilusão de que logrou êxito em seu afã de se constituir como ciência. No currículo disciplinar, tudo pode ser controlado: o que o aluno aprende, como aprende, com que velocidade o processo acontece e assim por diante. Tudo pode ser avaliado: o desempenho do aluno, a “produtividade” do professor, a eficácia dos materiais didáticos, etc. Da mesma forma, todo o processo pode ser metrificado, e o desempenho do aluno traduzido numa nota, às vezes com requintes de fragmentação incorporados no número de casas decimais. O currículo disciplinar atende, assim, aos requisitos básicos de uma pedagogia moderna forjada sob o signo da disciplinaridade científica. Fonte: BRASIL, Ministério da Educação. Ciclo de palestras sobre meio ambiente / Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: MEC ; SEF, 2001. 56 p. (Palestra de: GALLO, Silvio. Transversalidade e meio ambiente. p. 15 e 16) Veja também a atividade 9 no Moodle. 25Educação Ambiental De acordo com a lei a Educação ambiental não deve ser tratada como uma disciplina no currículo. Sua presença deve ser garantida em todas as instituições escolares de maneira interdisciplinar. Pesquise o que a legislação vigente sobre o caráter interdisciplinar da Educação Ambiental. Acesse as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, publicadas em 2012, no seguinte endereço eletrônico: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rcp002_12.pdf Leia com a atenção o documento. Veja também a atividade 10 no Moodle. III - SÍNTESE DO MÓDULO Nessa unidade de estudo analisamos que a Educação Ambiental não se constitui em uma disciplina na educação básica, mas como uma proposta integrada, interdisciplinar e transversal, ou seja, trabalhada pelos diferentes campos disciplinares da escolarização. A Educação Ambiental deve fazer parte do projeto pedagógico da escola e permear a pratica educativa dos diferentes docentes, por meio de um trabalho sistemático e contínuo visando a formação dos estudantes e a atuação cidadã e preocupada com o meio ambiente. http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rcp002_12.pdf 26 Educação Ambiental IV - REFERÊNCIAS GALLO, Silvio. Transversalidade e meio ambiente. Ciclo de Palestras sobre Meio Ambiente - Programa Conheça a Educação, Cibec/Inep- MEC/SEF/COEA, 2001. BRASIL. Conselho Nacional de Educação; Conselho Pleno. Resolução nº 2, de 15 de junho de 2012. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/ dmdocuments/rcp002_12.pdf>. http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rcp002_12.pdf http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rcp002_12.pdf 27Educação Ambiental Módulo 4 – Práticas Educativas em Educação Ambiental SUMÁRIO QUINZENAL FIGURA 10: Mão colorida FONTE: https://pixabay.com/pt/photos/colorido-cinco-dedos-crian%C3%A7a-dedos-4043742/Objetivos do Módulo: 1. Compreender a articulação entre a pesquisa e o ensino na reflexão sobre projetos, estudos e práticas pedagógicas envolvendo a Educação Ambiental. 2. Construir propostas metodológicas de Educação Ambiental para a Educação Básica. Anteriormente, no módulo 3, estudamos que seria muito redutor vincular a Educação Ambiental a um único componente curricular. A prática em Educação ambiental integra a formação interdisciplinar dos estudantes para que seja possível ampliar a análise sobre a vida humana no meio ambiente. Mas como pensar uma Educação Ambiental interdisciplinar e transversal? Esse é um desafio! Nessa unidade vamos estudar possíveis práticas em Educação Ambiental. Você vai conhecer e produzir diferentes materiais que podem ser usados na elaboração de propostas mobilizadoras em Educação ambiental. I - INTRODUÇÃO https://pixabay.com/pt/photos/colorido-cinco-dedos-crian%C3%A7a-dedos-4043742/ 28 Educação Ambiental 4.1. Analisando propostas de Educação Ambiental II – TEXTO BÁSICO Pense e responda. Quais são as questões ambientais mais importantes que devem ser trabalhadas na escola atualmente? Sabemos que cabe à educação escolar a formação das crianças, dos jovens e, também, dos adultos em nossa sociedade. Esse trabalho de formação envolve o acolhimento, a reflexão, e o direcionamento para um futuro que pode ser melhor ou pior do que hoje experimentamos no mundo. Assim, a escola tem um papel dos mais importantes a ser desempenhado quando pensamos em meio ambiente. Quanto mais as práticas educativas forem comprometidas com a formação para um mundo melhor e mais justo, melhor será para os estudantes e para todos nós que já vivemos ou que ainda vão viver no planeta Terra. Pensar nas questões ambientais implica eleger uma série de temas e práticas que podem ser trabalhados nos espaços escolares. Vamos pensar em alguns desses temas? Consumo, água, energia, resíduos sólidos, desmatamento, moda e o “fast fashion”, mobilidade urbana, pobreza e justiça ambiental, enchentes, os impactos da agricultura, mudanças climáticas, ativismo ambiental, catástrofes ambientais... São muitos os temas que podem ser desenvolvidos. Alguns temas são mais globais e outros estão na ordem do cotidiano e do lugar de habitação dos estudantes. O cuidado com o espaço escolar, por exemplo, é um interessante tema para ser trabalhado em Educação ambiental, a limpeza das ruas, a justiça ambiental na cidade em que moram, etc. Há um grande elenco de temas que podem mobilizar os alunos para refletirem sobre meio ambiente. Não podemos esquecer que, em uma perspectiva crítica, a Educação Ambiental envolve um trabalho de formação de valores, do repensar de atitudes, mas também é um processo educativo eminentemente político, que visa o desenvolvimento nos educandos de uma consciência crítica acerca das instituições, atores e fatores sociais geradores de riscos e os respectivos conflitos socioambientais. Busca uma estratégia pedagógica de enfrentamento de tais conflitos a partir de meios coletivos de exercício da cidadania, pautados na criação de demandas por políticas públicas participativas conforme requer a gestão ambiental democrática. (LAYRARGUES, 2002, p. 159) Para compreender o que pode ser feito na escola, você deverá conhecer e analisar duas propostas de Educação Ambiental. Vamos lá! Acesse o seguinte endereço eletrônico: https://smastr16.blob.core.windows.net/cea/2014/11/2-ECOCIDA SaD%C3%83O.pdf Nesse endereço eletrônico você acessará a seguinte publicação: https://smastr16.blob.core.windows.net/cea/2014/11/2-ECOCIDA SaD%C3%83O.pdf 29Educação Ambiental SÃO PAULO (ESTADO), Secretaria do Meio ambiente/Coordenadoria de Educação ambiental. Ecocidadão. Denise Scabin Pereira e Regina Brito Ferreira. 3ª edição. São Paulo: SMA/CEA, 2012. BARROS, V. A. ; TOZONI-REIS, M. F. C. . Reinventando o ambiente: educação ambiental na educação infantil. Cadernos de Educação (UFPel), v. 34, p. 153-182, 2009. Veja também a atividade 12 no Moodle. Acesse o seguinte endereço eletrônico: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/view/1638/1521 Nesse endereço eletrônico você acessará a seguinte publicação: Veja também a atividade 13 no Moodle. O livro Meio ambiente em cena, propõem uma reflexão crítica sobre diferentes questões ambientais por meio de um diálogo com produções cinematográficas. Destinado a educadores, os textos apresentam análises que são acompanhadas de proposições didáticas, complementando as reflexões teóricas de cada texto. É uma proposta voltada para a formação continuada dos professores inseridos no Ensino Fundamental que, a partir deste material, poderão ampliar o leque de possibilidades na abordagem da problemática ambiental e contribuir para uma formação reflexiva dos estudantes com os quais têm contato. Adriana Angélica Ferreira; Eliano de Souza M. Freitas. (Org.). Meio ambiente em cena. 1ed.Belo Horizonte: RHJ, 2012. FIGURA 11: Livro Meio Ambiente em Cena III - SÍNTESE DO MÓDULO Nesse módulo você refletiu sobre práticas pedagógicas interdisciplinares de Educação Ambiental na escola. Aprendeu sobre o que pode ser feito para realizar propostas que sejam produtivas e instigantes para os estudantes e também para os professores. https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/view/1638/1521 30 Educação Ambiental IV - REFERÊNCIAS BARROZO, Luciana Aranda e Sanchez, Celso. Educação Ambiental crítica, interculturalidade e justiça ambiental entrelaçando possibilidades. Anais do VIII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental Rio de Janeiro, 19 a 22 de julho de 2015. Disponível em: http://epea.tmp.br/epea2015_anais/pdfs/plenary/139.pdf LAYRARGUES, P.P. A crise ambiental e suas implicações na educação. In: QUINTAS, J.S. (Org.) Pensando e praticando a educação ambiental na gestão do meio ambiente. 2 a edição. Brasília: IBAMA. p. 159-196. 2002. FERREIRA, A. A. FREITAS, E de S. M. (Org.). Meio ambiente em cena. 1ed. Belo Horizonte: RHJ, 2012 http://epea.tmp.br/epea2015_anais/pdfs/plenary/139.pdf
Compartilhar