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RESENHA Fracasso escolar

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FACULDADE CATÓLICA SALESIANA
PSICOLOGIA 
RESENHA CRÍTICA DO LIVRO PRODUÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR – ESTÁGIO EM PSICOLOGIA ESCOLAR
FLORA CESCHIN CELJAR
 MACAÉ
 2020
	O livro “A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia” foi escrito por Maria Helena Souza Patto e publicado em 1987. É separado pela introdução, seguindo para a primeira parte “O fracasso escolar como objeto de estudo” e pelo capítulo 1, denominado “Raízes históricas das concepções sobre o fracasso escolar: o triunfo de uma classe e sua visão de mundo”, da página 32 até 75.	 					A autora traz em seu texto uma análise, e ao mesmo tempo uma crítica, do fracasso escolar no Brasil e sobre os processos de desenvolvimento e qualidade do aprendizado. Apesar de Maria Helena escrever na década de 80, olhando para aquele contexto político, econômico, social e educacional específico, sua análise se aplica ainda no ano de 2020. 		Quais condições favorecem ou prejudicam uma criança dentro de uma escola? O que leva a evasão ou a baixa qualidade de ensino? Por que, segundo pesquisas, a maior parte das crianças matriculadas na rede pública do país estão no 1º ano do ensino médio? Na página 28, discute sobre como na década de 70 houve um aumento no número populacional das crianças, causando uma falsa impressão de que o governo investiu em mais vagas na educação. Na prática, afirma que os dados no geral mostram que as promessas políticas de desenvolvimento e qualidade do ensino não são efetivas, logo, ainda permanecem em uma condição de promessa e sonho. 				Nas páginas seguintes, aborda sobre uma grande parte das pesquisas na área, erroneamente, não costumam ouvir as crianças como sujeitos principais dos estudos, mesmo quando estes são voltados para a própria vivência delas na escola. Os sujeitos priorizados são, no geral, pais e professores, tendo nesse ínterim, registros de pesquisas voltadas para o interesse de estudar menores infratores, que mesmo soando como forma de condenação também serviram como contribuição ao conhecimento dessas crianças e adolescentes.											Atenta, por essas razões, para a importância de se repensar o modo de produzir ciência em uma área tão vasta, que mantém suas raízes em questões históricas complexas, bem como repensar a forma com a qual os resultados são divulgados para evitar análises distorcidas da realidade. 									Considerando que o alto índice de reprovação e evasão escolar está diretamente ligada ao processo histórico e político do país, Maria Helena analisa alguns pontos essenciais. Das páginas 37 até 40, explica como a crise econômica somada a insatisfação popular levou a transição da produção feudal para produção capitalista, deixando os antigos artesãos e camponeses sem suas condições de produtores independentes, que ocupavam e cultivavam terrenos. Essa atual condição insustentável, os levou a categoria de trabalhador assalariado, até então inexistente, levando a formar posteriormente a categoria dos trabalhadores da indústria e as populações pobres das cidades.			“À medida que o capitalista ia acionando diversos mecanismos técnicos e políticos que garantissem o aumento do lucro e a acumulação do capital, a situação do proletariado ia se deteriorando progressivamente” afirma Maria Helena (1987, pg. 40). Essa transformação trouxe, portanto, mudanças para a sociedade moderna, não só para com a realidade social e econômica da população como um todo, como também nas relações interpessoais, nas relações de trabalho e nos investimentos do governo.				Para Foucault, a sociedade atual constrói instituições de modelação, de disciplinarização de corpos. Segundo Foucault, alguns dos exemplos dessas instituições seriam as escolas, consideradas por ele instituição de sequestro que produz corpos docilizados, isso é, disciplinados, produtivos. Por essa lógica, todos são convocados a um padrão de normatização, em que formas de sentir e amar são reproduzidos como forma de controle da subjetividade.										Em concordância com Foucault, Bauman afirma que esse mesmo processo agravou os sofrimentos dos indivíduos, nos tornando mais individualistas, ansiosos e depressivos, e, ainda, fez surgir doenças psicossociais ocupacionais até então inexistentes. 	Partindo de uma perspectiva sócio-histórica, com base na ideia de que o trabalho era a principal forma do homem garantir a sua liberdade, Karl Marx percebeu que o sistema capitalista mercantilizava todas as relações por meio de um processo de alienação no qual o trabalhador perde o sentido da sua atividade, retirando sua produção de um sentido próprio e individual, para um caráter externo a ele. Isso é, este se caracteriza como uma alienação da própria atividade do trabalho. 							Sobre isso, Maria Helena aponta que “a atividade vital consciente do homem é que o distingue da atividade vital dos animais” (1987, pg. 41) e, nesse sentido, “em suas funções especificamente humanas, o trabalhador animaliza-se; no exercício de suas funções animais, humaniza-se.” (pg. 41). Marx, nessa circunstância, levanta uma reflexão sobre como o fazer de um trabalhador pode trazer mais sofrimento e angústia do que de fato realização pessoal, visto que ele não se reconhece no que produz.				A partir de uma falsa propaganda da burguesia liberal, de uma sociedade justa e igualitária, que a própria burguesia acreditou mais tarde ser a “porta voz” do povo (Maria Hlelena Souza Patto, 1987). Dessa ideia, instituiu-se mecanismos sociais para garantir o apoio da população, por meio de eleição com participação popular e imprensa livre, por exemplo. Nesse mesmo contexto e indo na contramão do que se propagava pela burguesia, a pobreza ainda crescia e era a realidade de boa parte dos trabalhadores. Junto a ela, segundo a autora, aparece o discurso meritocrático entrelaçado com o aumento da individualidade. A meritocracia nesse momento é posta como forma estratégica de esconder os reais problemas e, assim, culpabilizar as crianças e suas famílias de que a reprovação ou a falta da educação eram culpa delas mesmas. 					Levando em conta o sistema capitalista que cada vez mais suga energia, tempo e a subjetividade do trabalhador; se levarmos em consideração as crises econômicas recorrentes; além disso, o alto desemprego e a absurda desigualdade social e econômica presente ainda hoje, fica evidente que boa parte dessa culpa é sim de quem está no governo. Leis são pensadas e elaboradas, por esse mesmo governo, para assegurar que todos tenham as mínimas condições de existência. 							A meritocracia opera, na realidade, como uma narrativa injusta, orquestrada para ampliar e, pior, justificar a desigualdade social e econômica. A lógica meritocrática, quando utilizada por alguém com boa condição financeira, tem intenção de depositar nos considerados "inferiores" (mais pobres) a culpa pelos seus próprios fracassos e, muitas vezes, de esconder seus privilégios; quando empregada por uma pessoa antes pobre e agora com melhor condição financeira, recai sobre uma conhecida problemática: a alienação. Também usada como ferramenta da elite para firmar o sentido da "capacidade individual" ou "esforço individual" em detrimento da equidade de oportunidades.		No mais, a autora, na página 48, explica que a adequação dessa nova classe de trabalhadores com essas novas condições de trabalho “era resolvida através de outros meios que não a escolarização” (1987). Nesse período, se inicia um processo de tomar todo o tempo do trabalhador em tempo de trabalho, sobre isso Marx afirma que esse controle passou a ser um símbolo do domínio sobre o indivíduo. 					Para conseguir isso, Maria Helena diz: “as medidas [...] de capacitação da classe trabalhadora incluíam impor uma disciplina rígida no ambiente de trabalho, pagar pouco ao operário para forçá-lo a trabalhar sem descanso, recorrer a uma mão de obra mais dócil [...]” (1987, pg. 49). Nessas circunstâncias, a partir da falsa propagação da burguesia, não havia uma política educacional eficaz, sendo na realidade um projeto liberalde política nacionalista, logo, a escola é considerada, afirma a autora, uma instituição “redentora da humanidade”, mesmo incluindo apenas um grupo da burguesia. 					Seguindo nessa lógica, Patto possibilita com esse texto uma reflexão sobre como o fracasso escolar é provocado, na verdade, pela própria conjuntura história, pelo contexto econômico e social, e que não é culpa daqueles cuja educação estrategicamente não alcança.											
Referência Bibliográfica 
Patto, M. H. S. (1987). A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e
Rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo.

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