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Deutsche Gesellschaft für
Technische Zusammenarbeit GmbH
OS CATADORES E TRIADORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS
DOCUMENTAÇÃO DO PRIMEIRO ENCONTRO INTERNACIONAL
SÃO SEBASTIÃO, SP – BRASIL – 23 A 26 DE SETEMBRO 2000
Maio 2001
I
OS CATADORES E TRIADORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS
DOCUMENTAÇÃO DO PRIMEIRO ENCONTRO INTERNACIONAL
23 a 26 de Setembro 2000
São Sebastião, SP – Brasil
Organizadores:
Dra. Anna Lúcia Florisbela dos Santos
Eng. Fábio Cidrin Gama Alves
Maio 2001
-
II
INDICE
Agradecimentos 1
Prefácio 2
A. Desenvolvimento do Encontro dos Catadores, Triadores e Técnicos 4
1. Introdução e Objetivos 4
2.1 Breve apresentação 6
2.2 Dinâmicas aplicadas no Encontro 9
3. Desenvolvimento do Encontro de Catadores eTriadores 13
3.1 Apresentação individual dos desenhos e das expectativas 13
3.2 Apresentação das Experiências 18
3.2.1 Praia Grande (São Paulo) 18
3.2.2 CORPEL (São Paulo) 20
3.2.3 Associação de Catadores (São Bernardo do Campo) 27
3.2.4 COOPEMAPE (Embu) 28
3.2.5 COOPAMARE (São Paulo) 30
3.2.6 COOPERLIMPA (Diadema) 33
3.2.7 Boa Vista (Glicério) 34
3.2.8 Associação dos Carapirás (Macapá) 35
3.2.9 Catanduva 35
3.2.10 ARESP (Florianópolis) 36
3.2.11 COPERSSUSS (São Sebastião) 37
3.2.12 Ilhabela (núcleo da COPERSSUS) 39
3.2.13 Porto Alegre 40
3.2.14 COPERCICLA (Santo André) 42
3.2.15 Cooperativa dos Coletores comunitários cidade Limpa (Santo
André) 42
3.3 Visita ao pátio de sucata de São Sebastião 43
3.4 Trabalhos em Grupo 44
3.5 Plenária de Domingo 46
3.6 Entrevistas com catadores e triadores 48
III
3.6.1 Entrevista com a Márcia Braga da Coorpel: 49
3.6.2 Entrevista com Eduardo Ferreira (COOPAMARE) 50
4. Apresentação das Experiências dos Técnicos 52
4.1 Apresentações dos Técnicos 52
4.1.1 Porto Alegre 52
4.1.2 Santa Catarina 53
4.1.3 Embu 56
4.1.4 Ilhabela 57
4.1.5 Curitiba 58
4.1.6 Rosário, Argentina 63
4.1.7 México 65
4.1.8 São Sebastião 65
4.2 Contribuições e Propostas 66
4.3 Para ser refletido 68
4.4 Resultados das Discussões Desenvolvidas nos Grupos 70
4.4.1 Apresentação dos técnicos que já trabalham com alguma
cooperativa ou associação 70
4.4.2 Apresentação dos técnicos que não estão vinculados a
cooperativa ou associação 71
B. COMPLEMENTO SOBRE O SETOR INFORMAL NA GESTÃO DE RESIDUO
SOLIDO 73
1. O Setor Informal de Resíduos Sólidos no Brasil 73
2. Minimização de resíduos e inclusão social 76
3. Os catadores e a Educação Ambiental 82
4. Projeto Recicla Jovem! 87
5. Situación del Sector Informal en el Manejo de Residuos en Rosario,
Argentina 89
5.1 Introducción 89
5.2 Organización de la Gestión de Residuos en la Ciudad de Rosario 90
5.2.1 Gestión formal de residuos 90
IV
5.2.2 Gestión informal de residuos 91
5.3 Caracterización de los Cirujas que actúan en el Microcentro de la Ciudad 94
5.4. El mercado de los materiales reciclables 95
5.5 Intentos de Formalización de las Actividades del Sector Informal 96
6. Situación actual de los Resiudos Sólidos en el Estado de México 100
6.1 Introducción 100
6.2 Manejo de Residuos Sólidos Municipales (RSM) 101
6.3 Organización del Sector Informal en el Reciclaje 102
7. El Sector Informal en la Gestión de Residuos Sólidos Municipales en
México 105
7.1 Antecedentes 105
7.2 La situación del Sector Informal en el manejo de residuos sólidos
municipales 105
7.3 Las Estructuras 106
7.3.1 Los actores 106
7.3.2 Las relaciones socio-políticas con el sector 109
7.4 El Involucramiento del Sector Informal en la gestión de residuos sólidos
municipales 111
8. Perigos da Formalização das Atividades Catador e Triador 113
9. Conclusão 118
Anexo 1: Programa e Objetivos do Encontro 122
Anexo 2: Documentação produzidos pelos participantes. 125
Anexo 3: Desenhos elaborados pelos participantes no encontro 142
Anexo 4: Lista dos participantes 144
Anexo 5: Registro fotográfico 149
1
Agradecimentos
Agradecemos a todos os catadores, triadores, técnicos e outros participantes pelo interesse
demonstrado durante as discussões realizadas no encontro ocorrido de 24 a 26 de setembro
de 2000 em São Sebastião, SP-Brasil.
Especialmente agradecemos a GTZ através do projeto regional “Tratamento Mecanico-
Biológico de Resíduos Sólidos”, responsável Eng. Elke Hüttner; do “Proyecto Residuos
Rosário”, responsável Eng. Anja Wucke e do projeto de “Apoyo a la Gestión de Residuos
Sólidos no Estado do México”, responsável Dr. Günther Wehenpohl, que através dos
referidos projetos se obteve apoio financeiro para a realização do evento e para a publicação
do presente trabalho.
Especial agradecimento ao Município de São Sebastião que na pessoa do Prefeito Dr. João
Augusto Siqueira1, dispensou total apoio a realização do evento.
Agradecemos a PETROBRÁS que cedeu seu Auditório para a realização dos trabalhos.
Aproveitamos também para agradecer a boa acolhida que os participantes tiveram nos
seguintes estabelecimentos: Restaurante Sete Mares, Pousada Beira da Prainha, Pousada
da Sesmaria e Praia Grande Chalés e Camping.
Nossos agradecimentos vão também ao Valter Silva por sua moderação, a Roberta Stumpf,
Pilar Cunha, Alziro Gregório e Nyeise Martins pelo apoio logístico.
Os organizadores
 
1 Prefeito de São Sebastião na data do evento.
2
Prefácio
No Brasil como em outros países em desenvolvimento revela-se cada vez mais uma
preocupação crescente com os precários padrões de deposição de resíduos sólidos
existentes, muitas vezes devido as poucas experiências no setor, ao baixo nível de know-
how e à falta de recursos. Nas principais cidades brasileiras, por exemplo, aproximadamente
76% dos resíduos domiciliares são depositados à céu aberto, sem qualquer medida de
segurança, causando danos irreversíveis aos recursos naturais como à água e ao solo e
ameaçando a saúde da população.
Porém para atingir um melhoramento sustentável na gestão de resíduos, são precisos
conceitos e soluções técnicas, que sejam econômicos, ecologicamente corretos e que se
integrem às realidades socio-econômicas locais.
Em maio 2000 foi inaugurada a central de Tratamento Mecânico-Biológico (TMB) de resíduos
em São Sebastião, SP, realizada através uma cooperação entre o projeto setorial
“Possibilidades de TMB de resíduos sólidos” da GTZ – Deutsche Gesellschaft für Technische
Zusammenarbeit mbH (Agência Alemã de Cooperação Técnica), a Prefeitura Municipal de
São Sebastião e a empresa alemã FABER Serviço Ltd.. Com a instalação desta aplicação-
piloto estão examinadas as características de capacidade técnicas e econômicas de uma
tecnologia de pré-tratamento de resíduos ainda desconhecida no Brasil, que é considerado
simples e econômica e com a qual podem ser diminuídos significativamente a poluição do
meio- -ambiente.
Entendemos que a simples disposição de soluções técnicas não é suficiente para resolver a
questão dos resíduos sólidos. Os fatores e efeitos socio-econômicos têm que ser
considerados para se ter uma gestão completa dos resíduos sólidos.
No Brasil, estima-se que mais que 250.000 pessoas vivem do lixo, catando materiais
recicláveis nas ruas e nos lixões, em péssimas condições de vida. Este grupo de pessoas é
fortemente afetado pelos efeitos negativos de uma disposição descontrolada e
desorganizada e pelas péssimas condições de higiene. Importante considerar que, o
trabalho dos catadores chega a desviar quantidades consideráveis de materiais recicláveis
dos lixões: só na cidade de São Paulo, eles catam aproximadamente 500 t por dia de
materiais à serem reciclados.
A mudança no funcionamento dos depósitos, como no caso da implantação do TMB de
resíduos, deveria prever também uma mudança nas estruturas socio-economica dos
envolvidos, que na maioria das vezes são trabalhadores informais. Será necessário planejar
uma maneira para formalizar o trabalho valioso dos catadores, reintegrar este grupo
3
marginalizado na sociedade e para surtir efeitos positivos no tocante às possibilidades de
renda através da venda dos materiais coletados e também o que é importante no tocante às
condiçõesde trabalho sob as quais o lixo tem sido catado e separado.
Partindo se dessa premissa, foi elaborado um estudo socio-economico pelo projeto setorial
da GTZ, avaliando os efeitos da instalação do TMB de resíduos sólidos sobre o setor
informal e sua integração na gestão formal de resíduos. Um dos resultados do estudo do
referido projeto é o apoio de uma existente cooperativa em São Sebastião com o objetivo de
facilitar sua gestão autonoma e auto-sustentável. Como conseqüência, a GTZ está apoiando
a formação de um núcleo da cooperativa no município vizinho da Ilhabela.
Em outros municípios no Brasil como em projetos da GTZ em outros países de América
Latina, tanto a problemática do setor informal na gestão de resíduos quanto as estratégias
para a solução são similares. Mas na maioria das vezes se trata de experiências ainda
isoladas e pouco consolidadas, confrontando de uma certa forma dificuldades parecidas na
gestão e na auto-sustentabilidade das organizações de catadores.
A fim de incentivar a troca de experiências entre as diversas cooperativas, associações,
técnicos e outros atores no setor da gestão de resíduos, para estabelecer um melhor fluxo
de informações entre os diversos projetos, a GTZ organizou um encontro de intercambio ao
nível internacional, realizado nos dias 23 a 26 de setembro 2000 em São Sebastião. O
encontro contou com uma participação ampla nacional e interamericana de projetos, dos
quais dois projetos de gerenciamento de resíduos da GTZ, de Rosário, Argentina e do
Estado do Mexico, México.
O presente “livro dos catadores e triadores” contém uma documentação deste evento e os
resultados elaborados pelos participantes no evento.
Esperamos que este evento tal como sua documentação contribuam ao amadurecimento
das estratégias para a formalização das atividades desenvolvidas pelo setor informal na
gestão de resíduos sólidos e para a criação de uma rede de informação e intercâmbio
sustentável para os interessados.
Stefan Helming
Abtl.-Leiter OE 44 (Diretor do departamento 44 “Gestão ambiental, água, energia e transporte”)
GTZ – Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit mbH
4
A. Desenvolvimento do Encontro dos Catadores, Triadores e Técnicos
1. Introdução e Objetivos
A razão principal da existência e mesmo do crescimento da atividade de catação nos lixões
de cidades pelo mundo a fora é para muitos uma necessidade extrema de pobreza. Grande
parte dessas pessoas estão de fato revirando as latas de lixo e os próprios lixões a procura
de algo aproveitável inclusive para comer.
Mas em vários países, e o Brasil é um deles, a maior parte das pessoas que trabalham nos
lixões ou nas ruas coletam principalmente materiais que possam revender considerando
essa atividade como um trabalho que permite sustentar suas famílias. Os principais
materiais que estão buscando são diferentes tipos de plásticos, vidro, metais e
principalmente papel e papelão.
Apesar da responsabilidade outorgada aos municípios pela Constituição Brasileira, de
garantir a gestão dos resíduos sólidos, cuidando para que os resíduos sólidos não
prejudiquem o meio ambiente, o Brasil conta com poucos aterros sanitários que de fato
obedecem a legislação sobre o meio-ambiente (impermeabilização do solo, drenagem dos
gazes, tratamento dos efluentes líquidos percolados, etc.). São poucos os municípios que
contam com coleta seletiva e ou algum tipo de tratamento de seus resíduos. São os
catadores, com seu trabalho informal , que diminuem consideravelmente centenas de
toneladas de papel, plástico, metal e outros dos lixões, materiais estes que podem ser
reutilizados ou reciclados, representando para os catadores e triadores uma fonte de renda
não desprezável, e que com sua atividade abastecem muitas fábricas de matéria-prima, além
de proporcionar a sociedade o uso dos aterros e lixões por mais tempo.
A maior parte dos catadores trabalham isolados e não conseguem bons preços para seus
materiais. São normalmente “explorados” pelos sucateiros – compradores desses materiais,
que revendem para as fábricas com grandes margens de lucros.
São Sebastião comemorou 10 anos de coleta seletiva, implantando o Tratamento Mecânico
Biológico no município. Junto ao apoio da GTZ implantou-se a cooperativa de triadores com
núcleos no centro e ao sul do município.
No intuito de amadurecer a experiência da criação da cooperativa e buscando soluções para
os diversos problemas que aparecem no cotidiano dos triadores, a GTZ e a Prefeitura de
São Sebastião em parceria, proporcionaram um encontro com os catadores, triadores e
técnicos que trabalham na área. O encontro poderia ser de grande interesse para todos os
que estão envolvidos com essa atividade.
5
Foram apresentados no encontro 16 experiências por cooperados ou associados, além de
diversos técnicos envolvidos diretamente com as experiências ou interessados na questão
da Gestão Integral dos Resíduos Sólidos Urbanos. No final desta publicação segue a lista
dos participantes (anexo 4).
O encontro foi organizado para ocorrer em duas etapas: nos primeros dois dias os trabalhos
foram direcionados aos catadores e triadores, que através da metodologia descrita a seguir
(ver capítulo A 2 e anexo 1), interagiram trocando experiências e trazendo a tona suas
realidades e dificuldades do dia a dia.
Nos dos dias seguintes, os técnicos apresentaram brevemente suas experiências e
continuaram com uma discussão sistematizada sobre ao questões abordadas pelos
catadores e triadores (anexo 2).
O interesse do evento foi proporcionar aos participantes um momento de reflexão e
participação ativa com outros companheiros, apesar que, no caso dos catadores e triadores
separam e comercializam materiais recicláveis, trabalham em situações diferentes (lixões,
ruas ou galpões).
As apresentações no evento permitiram aos técnicos a possibilidade de realizar frutíferas
discussões sobre as atividades dos catadores e triadores. Esta oportunidade serviu também
para a reflexão sobre a sua própria ação técnica.
Na parte B encontra-se uma série de textos elaborados por técnicos levantando diferentes
questões do trabalho informal no setor de resíduos sólidos.
A presente documentação contem textos em portugues e espanhol conforme as
contribuições dos participantes.
6
2. Metodologia do Encontro - uma reflexão
Valter José da Silva2
“Não tem nada melhor do que ser catador de papel. Faz bem para o meio ambiente. O
encontro possibilitará a união dos homens que trabalham com o lixo. Convido a todos a
levantar essa bandeira a dos catadores de papel.“ Eduardo (COOPAMARE)
“Quero ajuda para o núcleo que está sendo criado na Ilha Bela Antes éramos lixeiros, hoje
somos triadores.“ Jucélio (Ilhabela)
2.1 Breve apresentação
Quando recebi o convite para participar do “I Encontro de Cooperativas/associações de
Triadores de Material Reciclável“, como facilitador, reagi com um misto de “medo“ e atração.
Pois até então minha relação com os catadores era informal, ou então, de parcerias pontuais
(no caso da COPAMARE), ou ainda encontrando com eles pelas ruas de São Paulo. Após a
realização do encontro e os resultados produzidos por ele, tanto os relativos aos objetivos
quanto à dimensão subjetiva e afetiva, me deixam felizes, pois os catadores/triadores se
colocaram, produziram conteúdos, interagiram trabalhando em grupo e individualmente.
Enfrentaram desafios pessoais quando tinham que falar para um número razoável de
pessoas e outras experiências.
Um dos produtos do encontro são os exercícios realizados pelos participantes de vivências
que os levaram a pensar, analisar e discutir apesar de estórias de vidas sofridas, marcadas
pela violência e tantas formas de exclusão social. Os participantes, atores sociais de todo
encontro, revelaram seu potencial criativo/critico.
Este texto busca compartilhar como foi construída a metodologia do encontro.
Reciclando:
A palavra método remete a “caminho para chegar a um fim; maneira de dizer, de fazer, de
ensinar uma coisa, ordem, arranjo, coordenação, programa, processo, técnica..“Metodologia
significa “conjunto de métodos e técnicas de um campo particular.”
Antes de comentar a metodologia utilizada no encontro é preciso ater-nos à algumas
questões, primeira que a metodologia não está desvinculada de um projeto ou de um
planejamento. Mesmo que este projeto seja de uma dimensão maior do que as atividades
 
2 Pedagogo e Gerente de Educação e Mobilização do SEMASA, (Município de Santo André).
7
desenvolvidas no evento. Porém as atividades fortalecem o planejamento. É preciso saber o
que se quer. Ou seja, quais são os objetivos gerais e específicos e como a metodologia os
fortalecerá. Nesse sentido, foi discutido com os organizadores da parte da Prefeitura de São
Sebastião e da GTZ também participou dessa discussão o representante da GTZ -México.
Era necessário conhecer o contexto onde estaria desenvolvendo o trabalho. Este momento é
muito importante podemos chamá-lo de diagnóstico e ele orienta o processo de criação da
metodologia.
Ora, considerar a metodologia pressupondo o que está escrito acima não a restringe. Assim
como há metodologias que podem desenvolver-se descoladas de objetivos amplos ou de
projetos, servindo como instrumentos para atingir resultados imediatos no grupo ou para um
indivíduo, com início, um meio e um fim.
A metodologia desvinculada de um projeto maior é neutra não influenciando os objetivos dos
sujeitos que estão utilizando-a? A realização do diagnóstico é um pressuposto de sucesso
dos resultados? Respondendo essas questões digo que não existe neutralidade quando se
aplica um conjunto de técnicas com fins pré-determinados. Além dessa questão quem facilita
o processo possui concepções de mundo e de ser humano que norteia a forma de pensar e
de se relacionar. Com relação ao diagnóstico este é um pressuposto fundamental para que
os resultados sejam alcançados, se obterá sucesso ou não, com certeza que com um
diagnóstico bem realizado a probabilidade de sucesso é maior.
O diagnóstico contribui para auxiliar o desempenho do facilitador, pois com as informações
sobre o grupo ele „navega nas águas“ do evento com mais segurança e respeita a todos
ajudando-os a identificar onde estão e para onde querem seguir. Contribuir, orientar, ajudar
os participantes a encontrar os caminhos e reconhecer os passos que estão deixando
marcados no chão da história do evento. Eis como entendo o papel do facilitador e da
metodologia.
Com estas considerações colocadas podemos prosseguir. Outra questão fundamental é
clarear alguns princípios que orientam o desenvolvimento das metodologias que apliquei e
as dinâmicas utilizadas no encontro. Estes princípios contribuem para aprofundar aspectos
importantes e necessários no desenvolvimento de habilidades sociais como ouvir, falar,
refletir em grupo e o desenvolvimento individual.
Abaixo coloco algumas noções que auxiliam na construção de metodologias que consideram
o desenvolvimento do grupo e do indivíduo no grupo.
A participação possibilita que os participantes vivenciem situações que exigem envolvimento
e comprometimento. No entanto, esse comprometimento, está relacionado a participação
dos atores nos processos de tomada de decisão, de execução e de planejamento das
atividades relacionadas aos objetivos e metas das atividade.
8
A criatividade contribui para diminuir as resistências ao novo, além de criar espaços onde as
atividades possam ser repensadas, avaliadas e aperfeiçoadas. Todos podem criar,
desenhar, falar, fazer assim sentem-se produtivos, realizadores. Os desenhos e as
dinâmicas, utilizadas no encontro e outras, vem contribuir no estimulo da alta estima dos
indivíduos e dos grupos (anexo 3).
A espontaneidade contribui para que o processo criativo flua no ambiente de trabalho,
contribuindo para um melhor desempenho dos participantes e de suas responsabilidades. No
entanto, a manifestação do ato espontâneo, quando vivenciado de forma adequado contribui
para o amadurecimento do grupo. E de forma inadequada ele passa a ser absorvido como
um ato agressivo, de invasão do espaço do outro, falso ou dissimulado. De forma adequada
o grupo vai criando espaços onde o diálogo construtivo vai sendo fortalecido no cotidiano,
onde as opiniões são expressas com franqueza e respeito, facilitando, assim, os processos
qualitativos nas relações pessoais no ambiente de trabalho contemplando os processos de
desenvolvimento pessoal e profissional.
A característica processual nos coloca dispostos a melhorar nossas relações nos ambientes
onde vivemos, considerando o ensino – aprendizagem, ou seja, estou sempre aprendendo
nas relações que estabeleço, mesmo que sejam conflituosas. Estou em um contínuo
processo de mudança, de transformação, onde aprendo quem é o outro e o que sou eu, e
porque estamos juntos neste momento. No entanto a transformação esperada (tanto minha
quanto do outro) não ocorre como se fosse um passe de mágica. É preciso registrar as
intenções e ações que são os dados para avaliar e rever a prática, fortalecendo assim, os
processos facilitadores e potencializadores de mudanças. Nesse princípio é preciso fazer as
seguintes perguntas: Onde estamos? Como estamos? O que queremos mudar? O que
podemos mudar? Qual o caminho que vamos utilizar para colocar em prática as mudanças?
Assim, o processamento das informações e os mecanismo de comunicação/divulgação são
fundamentais para construir quem somos (papel social da organização, papel dos
participantes), com quem nos relacionamos (atores internos- outras papéis, atores externos –
outras organizações, fornecedores e compradores e etc.). Essa consciência contribui para o
planejamento das diversas relações estabelecidas pela organização. Essa clareza
explicitada de forma saudável contribui para fortalecimento de parcerias na realização da
missão da organização integrado-a à um projeto maior. E é contínua...processual. Como
alcançar determinados resultados com os participantes garantido a efetividade do processo
desenvolvido? Penso que a questão da participação é fundamental, ela envolve as pessoas
nos diversos níveis do trabalho, buscando garantir o comprometimento dos participantes com
os resultados. Um dos meios utilizados para alcançar a participação do grupo foi o uso de
desenhos, onde fora solicitado que eles colocassem como se sentiam. Assim, através do
simbolismo, eles expressam o que estavam sentindo e o que estavam pensando.
9
• Eles produziram símbolos que representavam a vidas, o cotidiano, os valores e a visão de
mundo deles. E são esses símbolos, compartilhados no grupo, produto do grupo,
conteúdo do grupo que são analisados e relacionados, por quem está facilitando, com
objetivos de curto, médio e longo prazo do “Encontro“. O grupo sujeito do “Encontro“, por
características próprias, tem exacerbado a cultura do imediatismo, pois precisam atender
rapidamente necessidades para sobreviverem, como onde dormir, alimentar-se e etc. A
reflexão sobre objetivos de médio e longo prazo torna-se um desafio para os triadores,
técnicos e todos que compartilham com o eles. A metodologia buscou contribuir para esse
processo de construção da identidade e do autodesenvolvimento do grupo a partir dos
indivíduos.
O desenvolvimento de atividades em grupo levou em consideração os indivíduos que os
constituem. Buscando criar espaços de expressão de toda a diversidade contida, pronta para
ser compartilhada, reconhecendo os esforços para se alcançar objetivos comuns.
Considerou os indivíduos em toda sua complexidade e integridade, seu pensar, sentir e
desejar. O aprendizado se deu através do fazer. O aprender- fazendo, como meio,
instrumento, essência do processo em desenvolvimento. No processo tudo e todos tinham
sentido a importância no esforço coletivo de construir o projeto comum a partir da integração
dos projetos individuais à este projeto comum.
Através das dinâmicas o grupo exercitou habilidades diversas, como, concentração,
cooperação, solidariedade, espírito de liderança, coordenação, flexibilização e planejamento.
Foramidentificados processos existentes e inter-relações do negócio com aqueles que o
desenvolve.
• A metodologia tem importância fundamental mo desenvolvimento de projetos e de
planejamento. Pois ela que integra, liga, aproxima, possibilita o envolvimento e o
compromisso dos participantes. Pode ter resultados contrário, pois pode instituir a não
participação e o não compromisso.
Refletir sobre a questão metodológica leva-me a pensar sobre quais o valores que
fundamentam nossas metodologias?; quais são os paradigmas que estão sustentando e
orientando o caminho das nossas ações? Enfrentar essas questões de coração e mente
aberta possibilitará a construção de metodologias mais humanas possibilitando que os
resultados sejam alcançados por um número cada vez maior de pessoas, desde da
concepção dos planos, sua execução e aperfeiçoamento.
2.2 Dinâmicas aplicadas no Encontro
• Dinâmica inicial: Relaxamento
Objetivo: Despertar os participantes aquecendo-os para as atividade da oficina:
10
Desenvolvimento: Solicita-se que os participantes fiquem de pé e inicia uma série de
movimentos que seguem a seguinte ordem: pés, pernas, quadris, barriga, braços, pescoço,
cabeça e coluna.
• Dinâmicas de integração
Objetivo: Integrar o grupo aquecendo-o para a execução das diversas atividades. Também
contribui para facilitar a absorção do conteúdo pois os participantes ficam desinibidos e
sentem-se a vontade para falar, discutir e refletir expressando suas idéias.
• As Dinâmicas utilizadas para integrar:
Do caçador:
Objetivo: Integrar o grupo
Desenvolvimento: São três personagens. Um caçador, um leão e uma velhinha.
Os participantes são divididos em dois grupos e cada grupo escolhe uma personagem. A
escolha se dá sem um grupo saber o que o outro escolheu. Os grupos são postos em fileira
e de costas para o outro grupo. O coordenador conta até três e os grupos viram e fazem
pontos segundo o seguintes critérios: se o caçador matar a velhinha ponto para a velhinha;
se o leão comer a velhinha ponto para o leão e se o caçador matar o leão ponto para o
caçador. Repete a brincadeira três vezes e quem fizer mais pontos ganha a brincadeira.
A Banda:
Objetivo: Integrar o grupo criando um ritmo comum.
Desenvolvimento: Canta a música fazendo, com as mãos, os gestos representando os
instrumentos.
Letra da música:
Um homem andando pela mata tocando um Violão - Ding Ding Ding Don
O outro acompanhava tocando seu Piston Pororó Pororó
Bis; Ding, Ding, Ding, Ding, Ding Don Pororó, Pororó, Pororó
Um homem andando pela mata tocando seu tambor Tarará, Tarará
O outro acompanhava tocando Acordeon Nheco, Nheco, Nheco, Nheco
Bis; Tarará, Tarará, Tarará Nheco, Nheco, Nheco, Nheco
11
Bibliografía
ANDREOLA, Balduíno A. (1996):
Dinâmica de Grupo: Jogo da Vida e Didática do Futuro. Editora Vozes, Petrópolis
BOAL, Augusto (1991):
Teatro do Oprimido e outras Poéticas Políticas. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro
BOS, Alexander (1986):
Desafios para uma Pedagogia Social. Editora Antroposófica, São Paulo
NN (1994):
Doze Dragões em Luta Contra Iniciativas Sociais. Editora Antroposófica, São Paulo
NN (1990):
Nada A Ver Comigo? A Sociedade como reflexo do Próprio Interior. Associação Pedagógica
Micael, Florianópolis
BRANDÃO, Carlos Rodrigues (org.) (1986):
Pesquisa Participante. Editora Brasiliense, São Paulo 1986
FRITZEN, José Silvino (1995):
Exercícios Práticos de Dinâmica de Grupo – volume1 e 2. Editora Vozes, Petrópolis
GAYOTTO, Maria Leonor et alii (1985):
Líder de Mudança e Grupo Operativo. Editora Vozes, Petrópolis
GTZ, Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (1993):
Participação e o Exemplo de Dakar – Temas para Discussão. Convênio MIR/SDR/SUDENE-
IICA-GTZ/Projeto PAPP: Capacitação, Recife (tradução: Markus Brose)
NN (1993):
Planejamento de Projeto Orientado por Objetivos – Método ZOPP – Guia para Aplicação.
Convênio MIR/SDR/SUDENE-IICA-GTZ/Projeto PAPP: Capacitação, Recife
NN (1993):
Introdução à Moderação e ao Método ZOPP. Convênio MIR/SDR/SUDENE-IICA-GTZ/Projeto
PAPP: Capacitação, Recife
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Editora, Campinas
MORENO, Jacob Lévy (1997):
Psicodrama. Editora Cultrix, São Paulo
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PEREIRA, William Cesar C. (1995):
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YOZO, Ronaldo Y. K. (1996):
100 Jogos para Grupos – Uma Abordagem Psicodramática para Grupos. Ágora, São Paulo
13
3. Desenvolvimento do Encontro de Catadores eTriadores
Logo após a uma simples cerimonia com a presença da esposa do Prefeito Sra. Priscila
Siqueira e do Secretário do Meio Ambiente, Sr. Eduardo Hipólito do Rego3, os organizadores
(Anna Lúcia F. dos Santos e Fábio Cidrin Gama Alves) depois de cumprimentar os
participantes e dar algumas informações sobre a organização do encontro e a utilização do
espaço cedido pela PETROBRAS, passou-se a direção dos trabalhos aos moderadores (Valter
Silva e Roberta Stumpf). A moderação explicou a forma de trabalho e iniciou-se as
apresentações, seguidas do comentário de um desenho (anexo 3) que cada participante
deveria ter feito.
3.1 Apresentação individual dos desenhos e das expectativas
Neste momento os participantes: catadores, triadores e técnicos, apresentaram-se (nome e
entidade) e teceram comentários sobre os desenhos nos quais deveriam estar representadas
suas expectativas em relação ao encontro - alguns dos desenhos apresentados estarão no
Anexo 3.
Sandra Olmedilha (São Bernardo do Campo): “Acredito que o encontro possibilitará “subir
mais um degrau“. Espero adquirir novas idéias que possam melhorar o nosso trabalho”.
Antônio Alves da Cruz.. (Praia Grande): “Espero adquirir experiência e levá-la à
cooperativa, o que em muito acrescentará para obter união e segurança no trabalho
realizado por nos”.
Elizabete Oliveira Pereira (Embu): “Pretendo com o encontro unir mais os cooperados, e se
for preciso, começar tudo de novo“.
Regina Siqueira da Silva (Embu): Coordena a coleta e a cooperativa deste município.
“Minha expectativa é que com o encontro todos possam trocar experiências. Pretendo
também buscar estrutura e união para o nosso trabalho”.
José Roberto Marques da Silva (São Paulo - COOPAMARE): “Quero tirar proveito do
encontro para levar novas idéias para a nossa cooperativa”.
José da Guia dos Santos (São Bernardo do Campo): “Desejo conhecer as experiências,
que estão aqui. O encontro vai fazer a vida ficar mais colorida, com mais luz”.
 
3 Secretario de Meio Ambiente e Urbanismo
14
Dalva Pinheiro de Almeida Pagani (São Bernardo do Campo): “Quero vencer as
dificuldades que encontro junto aos ‘catadores’. Desejo que o futuro seja mais verde e sem
detrito espalhado”.
Afonso Plaza (São Paulo / Santo André): “Pretendo ouvir e aprender com todos os
participantes, para transmitir as informações a outras pessoas interessadas no assunto.
Marta dos Santos (São Sebastião): “Desejo aprender e transmitir para os demais
cooperados o que aprendendi aqui, além de fazer novas amizades”.
Elton Ferreira dos Santos (Formiga) (São Sebastião): “Quando eu comecei a triar 10 anos
atrás, nao pude imaginar um encontro desse tipo com pessoas de outros estados e até de
outros países para falar da questão do lixo. Quero que o encontro integre todos os triadores
para que estes possam crescer“.
Danilo De Castro (São Sebastião):“... me interessa buscar novas caminhos, e fazer
parcerias com outras cooperativas e, assim, unir os cooperados. No que se refere à questão
ambiental, desejo diminuir o volume do lixo nos aterros”.
Silvana Fátima Borges Chagas (Catanduva): “Quero crescer...”.
José Aparecido Vieira (Catanduva): “Desejo apresentar o nosso trabalho”.
Thyrza Pires (Florianópolis): “Acredito que o encontro é uma grande luz para quem trabalha
com lixo... que é nosso sustento. Desejo a união do grupo de trabalho em Santa Catarina”.
Henrique Dias Pereira (São Paulo-Glicério): “Espero a união e o crescimento das pessoas
que trabalham com lixo. Agradeço desde já o carinho de todos”.
Joaquim Lisboa (Glicério): É catador e separador. “...preocupa-me muito união do grupo e
quero transmitir ‘coisas’ (apreeendida no encontro) para os colegas e administradores”.
Maria Geralda Candida (São Bernardo): “Vou levar coisas boas daqui para os
companheiros de trabalho. Nosso trabalho é alimento para a nossa família“.
Hector Aguillar (México): “Quero um meio ambiente mais saudável para nossos filhos”.
Edivaldo de Souza Ideltrudes (Macapá): “Tenho grande expectativa ... vou apresentar a
cooperativa de Macapá, conhecida como Associação dos Carapirás. Quero fazer amizades e
melhorar a vida da ‘gente’ da Associação e criar uma "fábrica mais forte“.
Eduardo Ferreira de Paula (SP - COOPAMARE): “...Para mim não tem nada melhor do que
ser catador de papel. Minha atividade faz bem para o meio ambiente. ... O encontro
15
possibilitará a união dos homens que trabalham com o lixo. Convido a todos a levantar essa
bandeira”.
Márcia Braga (CORPEL): “Busco a união dos cooperados. Nós só estamos unidos agora!“
Desejo a troca experiências. Todos precisamos da ajuda governamental, ... precisamos
construir algo sólido com a ajuda de Deus e a união de todo.”.
Nivaldo Ferreira (Praia Grande): “União e troca de experiências são minhas expectativas
quanto ao encontro.”
Gilnair Alvez Pereira de Lima (Diadema): “Deveria haver mais encontros como esse para
os ‘recicladores’ precisamos conscientizar os outros”.
Amenaídes José dos Santos (Ilhabela): “Desejo a união de todos, desejo trocar
experiências e crescer... lixo tem importância, é lucro para mim“.
Leonilda Dias da Luz (Florianópolis): “Quero apreender o que não sei para melhora o
futuro”.
Zelita Mendes (Florianópolis): “Quero um galpão para todos (triadores e ou catadores)”.
Luis Ocaña (México): “Devemos evitar desmatamento através da reciclagem. Desejo
conhecer as experiências aqui para levá-las para o México e conscientizar meus irmãos”.
Günther Wehenpohl (Mexico-GTZ): “O trabalho dos cooperados deve ser reconhecido pelas
autoridades. Desejo levar informações sobre as experiências brasileiras ao México”.
Patrícia Blauth: (São Paulo): “Desejo união”.
Alziro Gregório (Niterói, RJ): “Sou técnico de gestão de cooperativa, principalmente de
cooperativas de triagem. Meu desenho registra nossas pegadas, nosso caminho. Uma
ampulheta marcando o tempo que estamos aqui. Construindo algo concreto. Pessoas
observando. Uma casa, e formigas trabalhando, que são um exemplo de trabalho feito em
cooperação. O ato da cooperação e solidariedade deve ser, se possível feito diariamente”.
Lauro Victor Nobre Martin (São Gonçalo, RJ): “Sou paisagista, represento a RECICLAR,
que esta em fase de implantação. Para mim esse momento é muito vivo. Com certeza eu
vou levar uma bagagem muito rica para São Gonçalo. Nosso encontro propicia uma troca de
informações e de experiências que são fundamentais para que a gente possa ter uma visão
maior de todo esse processo. Meu desenho tentar representar: ... essa teia vai se formando,
vai se erradiando, não só apenas do Brasil, mas em toda a América Latina para que agente
possa ter realmente essa presença global. O circulo representa a unidade que é
fundamental, o calor humano. O meio ambiente não é só a questão física, biológica e geo-
16
química. Ele é uma questão contextual - o amor. Com amor a gente gera tudo que a gente
precisa para o equilíbrio do planeta”.
Silvana dos Santos (São Sebastião - COOPERSUSS): “Eu desenhei uma lâmpada, para a
troca de idéias e para que se abra novos horizontes para que possamos fazer a reciclagem
cada vez melhor e deixar de poluir o meio ambiente para que nossas crianças tenham um
futuro melhor.
Onésimo Reyes Martines (México): “trabajo para el gobierno estatal dentro de la área
ecológica. Mi dibujo es muy sencillo, deseo que el hombre viva con la naturaleza, se
conserve con el sol, el aire, el agua. Aun que tenemos que hacer un recorrido pero que sea
conjuntamente para llegar aun arriba. Por un bien estar común natural. En este encuentro
espero tomar las experiencia que tenen aquí los catadores para asesora las gente en México
que viven en condiciones muy precarias, espero sacar lo mejor para poder difundir aya en
México. Ansío pela buena calidad de vida”.
Rosana das Graças Braz (EMBU): “No meu desenho apresento o galpão onde a gente
trabalha. Minha expectativa é que possamos melhorar nossa cooperativa como as de todos
que estão aqui. Desejo trocar idéias”.
Jucélio Alves soares (Ilhabela): “Gostaria de ter ajuda para o núcleo que esta sendo criado
na Ilhabella ... antes nos eramos lixeiros, hoje somos triadores”.
Clarisse Aparecida Romão (Ilhabela): “Quero conhecer pessoas e viver novas
experiências”.
Luciana Rodrigues (São Sebastião): “Quero luz, tranqüilidade e união para todos que fazem
este trabalho”.
Nyelse Eliane Trench Martins (Nane) (São Sebastião - CORPESUSS): “Meu desenho, é
um mundo dentro de um coração. Os elementos da natureza, Gostaria de apresentar a
consciência que todos nos deveríamos ter. Desejo que todos tenham consciência e se
sensibilizem em relação ao planeta”.
Magali Pacheco (São Sebastião): “Nós da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e
Assistência Social atuamos junto da Secretaria do Meio Ambiente e Urbanismo na
montagem da cooperativa e no desenvolvimento atual desse novo trabalho, que era
associação e agora é cooperativa. Meu desenho eu coloquei o homem no centro (nos), tentei
usar os quatro elementos da natureza, tentando harmonizar, a árvore e a terra – um campo
fértil para as nossa idéias, que sejam plantadas e possam germinar e dêem flores, frutos e
uma ação muito forte – o sol, que traga vida, não adianta ficar só sentados ou ficar só
falando, temos que sair e por as idéias em ação, fazer acontecer. A água simbolizando toda
17
a parte emocional, que não é o emocional todo choroso, é um emocional que faça crescer e
que possa dar um empurrão na hora que se precisa. Com jeitinho e com o amor que a gente
tem, nos devemos tentar fazer as pessoas entender as questões. Desejo que com o nosso
encontro abra os nossos olhos, os olhos dos cooperados e dos profissionais técnicos para
que tenham compreensão e paciência – o homem buscando harmonia e para que a gente
saia daqui, pelo menos mais organizados e mais completos. Desejo harmonia entre os
homens e a natureza. Que o encontro abra nossos olhos, mas com afeto”.
Roberta Stumpf (São Sebastião): “Não trabalho com lixo, sou professora de história e estou
aqui para ajudar na organização deste encontro. O que eu espero desse encontro é a união
das pessoas que estou conhecendo hoje e que trabalham com uma coisa tão importante. Eu
reconheço essa importância e procuro colaborar como cidadã separando o lixo na minha
casa. No meu desenho a apresentação desse grande olho é que espero que vocês
consigam a atenção, que vocês merecem. Espero que a importância do trabalho dos
triadores seja reconhecida por todos”.
Valter Silva (São Paulo): Trabalho na Prefeitura de Santo André – Serviço Municipal de
Saneamento Ambiental (esgoto e coleta de lixo). Sou pedagogo. Estou fazendo o mestrado
na USP na área de Cultura Organizacional. Tenho uma experiência com comunidades de
base e com pastoral de favela. Meu desenho são vários caminhos tem o centro que é a vida,
neste caminho tem várias pessoas passando e que se cruzam em algum momento. O
encontro para mi esta sendoisso: esta sendo o momento no caminho de cada organização
de cada cooperativa e de cada pessoa que esta aqui. Nos estávamos em nossos caminhos e
de repente nos fizemos um pequeno desvio para nos encontrarmos aqui em SS. Hoje esta
sendo o centro de todos os nossos caminhos. Minha expectativa é que possamos voltar aos
nossos caminhos sabendo que existem outros vários caminhos e que não devemos perder
as esperanças, quando vemos que os nossos caminhos não estão dando certo, não
devemos pensar que não tem mais jeito. Devemos lembrar dos outros caminhos, a
experiência de um outro (caminho) que esta dando certo, talvez isso possa ajudarmos.
Podemos nos corresponder, podemos trocar experiências e assim podemos nos fortalecer.
Assim podemos enxergar os diversos caminhos e as diversas experiências. Desejo aprender
e abrir caminhos com a troca de experiências”.
Anna Lúcia Florisbela dos Santos – (México): “Minha expectativa é que todos ao sair do
encontro, sintam-se fortalecidos. Eu desenhei essa corrente não para prender, mas sim para
unir - São Sebastião, Ilhabela, São Paulo, a região sul , todo o Brasil, México, os
representantes da Argentina que estará chegando amanha, a Alemanha através da GTZ que
esta financiando parte desse encontro, enfim desejo a união de todo o mundo. 
Para demonstrar a importância da nossa atividade enquanto catadores – vamos pensar se
os catadores deixarem de trabalhar, como ficaria esse mundo? Nos temos uma missão como
já foi dito de abelhinhas ou de formigas de organizar. Como economista eu gostaria de estar
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na luta com todos aqui para ajudar fazer dessa atividade, muitas vezes desprezada, uma
profissão reconhecida como categoria de trabalho”.
Fábio Cidrin (São Sebastião): “Minha expectativa do encontro é que as pessoas enxerguem
as outras pessoas que estão com elas nesse caminho. Enxergando essas pessoas para que
elas tenham as outras todas dentro do coração e para que as ações sejam de fraternidades,
de cooperativismo, de ajuda, de união para que todos cresçam. A gente sozinho não faz
nada, mas juntos nos podemos transformar o mundo. Espero que hoje a gente comece uma
grande união, uma grande rede para fortalecer esse setor que é muito importante, como já
muitos disseram e que a gente cresça e apareça”.
3.2 Apresentação das Experiências4
3.2.1 Praia Grande (São Paulo)
Antonio Alves da Cruz e Nivaldo Ferreira
Nossa experiência existe há um ano e a 4 meses. Temos um centro de triagem - com 8
repartições equipadas com box e tela.
Nivaldo, um dos integrantes da associação fez a apresentação da experiência. Ele trabalha
no lixão há 18 anos:
Eu era comprador lá dentro do lixão, como surgiu essa coisa de meio ambiente e de fechar o
lixão.(...) Olha, o lixão esta dentro da cidade. A prefeitura juntou psicólogos e vieram falar
com a gente para incentivar nossa organização e ajudar a gente sair do lixão. No início a
gente não queria sair e pensamos mesmo em enfrentar a polícia. Lá dentro tinham 203
pessoas trabalhando.
A Prefeitura fez o cadastramento desse pessoal. Depois veio a proposta de fazer uma
espécie de uma cooperativa. Eles disseram: vai ter um galpão e uma parte do lixo vai para lá
(para o galpão). E a prefeitura vai organizar a atividade. De fato a prefeitura botou lá as
máquinas, e os caminhões para levar o lixo que nos separamos. Neste meio tempo veio o
pessoal da USP. Uns (catadores) participavam outros não, achavam que era trabalho da
prefeitura (...). Eu disse então vocês ficam aí, nós vamos. Tivemos lá toda a semana em
reuniões e aulas. Quando terminamos a fase de aulas e partimos para parte de trabalho; aí
os outros disseram: nos também queremos participar. Mas já era tarde. Fomos até
ameaçados por aqueles que no princípio não quiseram participar.(...) além de alguns
conflitos entre os próprios cooperados.
 
4 As presentações foram transcritas por Roberta Stumpf e Pilar Cunha
19
É uma coisa extraordinária formar uma cooperativa. Mas foi uma luta grande. Fizemos uma
gincana na rua para as pessoas ajudarem a separar o lixo. Fizemos primeiro no bairro nobre
da cidade trabalhamos de porta em porta. A inauguração foi também uma coisa
extraordinária com o apoio de muita gente. A cooperativa incentiva a gente. Nos recebemos
muitas doações e a psicóloga vem toda a semana conversar com a gente. Agora nos temos
mais esperança na vida para agente continuar. É uma luta, mas vale a pena. A caba também
por ser um divertimento. A gente convive bem e ri muito. Depois das eleições nos temos
planejado trabalhar com outros bairros. Para que os caminhões não levem todo o lixo para o
aterro. Eles (técnicos da prefeitura e da USP) nos ajudaram no início, mas agora nos
precisamos de mais material. O curso com o projeto foi previsto para 2 anos, e já passou um.
Dos fundadores somos 20, mas trabalham no momento 27 (cooperados). Tem mais pessoas
que querem entrar, mas temos que esperar a outra grande reunião. Entre nos não existe
separação, pode ser o presidente ou diretores, sentamos todos juntos, não há separação.
Eu falo isso por que eu faço parte de uma religião. Veja bem, nos tivemos uma festa, então
fizeram uma mesa especial para uns convidados (com comida especial). Eu larguei eles pra
lá Depois me chamaram. Eu disse mesmo que eu não gosto dessas coisas separadas.
Já na cooperativa nos somos todos iguais. Pois é dentro da cooperativa não tem diferença o
ordenado é um só. Por exemplo para vir participar aqui. Eu fui escolhido por meio de
votação. Pode ser que na próxima seja escolhido outros.
Apoio nos temos de muita gente. Mas o problema que temos é que o lixo que esta chegando
da coleta, só da para ser trabalhado apenas um dia (4° feira), assim mesmo só meio período.
Tenho a esperança que os outros bairros separem também que é para se poder ter mais
materiais. Na verdade o dinheiro é ainda muito pouco. Aí nos temos que ir para uma parte do
aterro continuar a catar nos outros dias da semana. Só não no domingo. Os associados tem
interesse de trabalhar no galpão todos os dias para não subir para o lixão. Mas acaba tendo
que subir por que o dinheiro não é suficiente. Na associação o dinheiro é rateado de forma
igual, descontando apenas se alguém faltou ao trabalho. No lixão cada um trabalha por si.
Olha eu posso falar para vocês, não existe lixão que não tenha coisa boa (...) tem uma
mocinha lá que achou 800 Reais, nunca mais voltou no lixo...
Na verdade a coisa melhor do mundo seria se a cooperativa de fato funcionar, pois lá se tem
o apoio de todo mundo. Lá a gente trabalha de luva, temos uniforme, que é patrocinado,
vamos fazer crachás para poder identificar todos os cooperados que trabalham lá, estamos
querendo oficializar tudo direitinho.
20
Mas no momento só trabalhamos nas quarta-feiras até o meio-dia. Nos demais dias da
semana trabalhamos no lixão. Na verdade, na verdade todos da cooperativa continuam a
trabalhar no lixão. Desejam trabalhar na cooperativa, mas só se for todos os dias da semana.
A Prefeitura de Praia Grande faz coleta seletiva só duas vezes por semana, em um único
bairro; é muito pouco material.
3.2.2 CORPEL (São Paulo)
Márcia Braga (CORPEL)
Exposição de Márcia, cooperada, que fez questão de esclarecer que desde que nasceu, há
31 anos, é catadora de papel.
Como eu disse a vocês, tenho 31 anos na rua pegando papel, agora ficou no ar. Minha mãe
tem 35 anos na rua pegando papel. Quando ela me ganhou estava no centro da cidade e eu
fui criada dentro de uma caixinha de papelão. Tenho 31 anos e esses anos todos catando
papel. Ela (a mãe) criou 14 filhos próprios, mais 4 filhos do meu pai e 5 netos. Tudo isso com
dinheiro do papel. Ela comprou dois terrenos, um caminhão e uma perua e fez um depósito
lá mesmo em Itaim Paulista . Essa atividade tem ajudado bastante por que outro serviço esta
difícil.
(Márcia fala de duas diferentes experiências: da cooperativa e da catação que faz sozinha).
A cooperativa está no centro da cidade. Lá somos no momento 23 sócios, destes 15 puxam
carrinho . Acooperativa começou com o apoio do Centro Gaspar Garcia – dos direitos
humanos e de pequenas causas. O Sr. Luiz começou com os moradores de rua. Começou
ajudando o pessoal do centro da cidade. Ele via muitas vezes eu e minha mãe, às vezes até
tomando chuva, por que às vezes a gente trabalhava até tarde e não dava nem tempo para ir
para casa. Ai ajuntávamos umas caixas de papelão e dormíamos na cidade mesmo. Aí ele
conversou com minha mãe se ela não queria entrar em um grupo para fazer uma
associação. Então ela disse que iria tentar. Ela passou a participar das reuniões. Ela tentou
organizar esse grupo já mais de 5 anos. Ela entrou em contato como os outros (catadores).
Mas quando ela entrou neste grupo eu disse para ela. Que então eu não ia mais trabalhar
com ela. Nesse tempo então que eu fui trabalhar em casa de família. Mas eu me lembro que
eu trabalhava em casa de família, mas quando eu saia do serviço eu ia sempre para a rua
catar um pouco de papel. Mesmo por que o dinheiro de casa de família não dava (para
viver). O grupo como cooperativa já tem 2 anos, que esta organizado.
La dentro nem todos os associados puxam carrinho. Com carrinho são umas 15 pessoas. Os
outros trabalham dentro do balcão. Na cooperativa é assim. Uma pessoa sai para rua com
carrinho trás duas ou três viagem e bota no canto e fica uma outra pessoa separando esse
21
material, esses são sócios entre si. Lá não ganham todos iguais. O que trabalha mais ganha
mais. Quem trabalha menos ganha menos. A produção é individual.
Foi perguntado: Qual é a participação que vocês tem para com a cooperativa. Vocês
contribuem para o fundo de reserva? Fundo de assistência técnica, social e educacional? As
despesas administrativas como é rateada entre vocês?
O terreno é pago por uma entidade internacional que apoia o grupo, junto com Luiz, tudo que
nos pesamos ali dentro, nos pagamos 10% desse montante, que é para ajudar na água e na
luz. Por exemplo se acontecer um acidente com alguém, é necessário ter um dinheirinho lá
de reserva dos cooperados que é para ajudar aquela pessoa acidentada. Os técnicos que
trabalham com a gente são pagos pelo Centro Gaspar Garcia.
Continuando, no meu caso, eu tenho meu carrinho. Eu busco o meu papel, eu mesmo que
separo. Depois fora da cooperativa eu ainda trabalho na coleta de 16:30 até às 20 horas, por
que já estou acostumada. Catar papel pode render muito dinheiro.
Na cooperativa eu tenho 1 ano e 4 meses. Neste tempo eu já consegui comprar 3
instrumentos de sopro. O mais barato eu paguei 600 Reais. E quero comprar outro, melhor
ainda. Eu vivo sozinha. Dependo de mim mesma. Pago aluguel. Mas eu estou guardando
dinheiro para comprar o meu apartamento, depois eu quero alugar ele, e aí sim quero
construir a minha casa.
Como funciona com a venda? O material é pesado e registrado individualmente. O Material
que chega à cooperativa é aquele que foi coletado individualmente pelos cooperados. É
pesado e marca-se por peso o que é de cada cooperado. É feito uma planilha do movimento.
Mas depois de triado é novamente pesado. Nos finais de semana a gente soma tudo o que
foi produzido ou pesado. Depois agente junta tudo para ser vendido. A gente liga para o
rapaz vir com a caçamba buscar o material. Mas cada um tem sua produção já registrada.
Os 10% do que foi vendido é destinado ao pagamento da água, da luz, além de ir para o
fundo de reserva.
Uma outra ajuda, que a gente tem e assim mesmo com muito sacrifício é a do Banco (um
banco Internacional) que nos dá o papel higiênico. Por que os outros papéis eles já dão para
outro grupo reciclar.
Olha gente, esse papel higiênico é usado, e é reciclável. Nos vendemos ele a 20 centavos o
quilo. Eles juntam para gente, só que aí vem também o plástico da embalagem do papel
higiênico, que agente ainda tem que tirar. Por isso tem que ir também para a esteira para ser
separado de alguns outros materiais.
22
Para o papel higiênico nos só temos uma pessoa que compra.
Como eu já disse, o espaço não é nosso, se paga o aluguel, os carrinhos eles mandam
fazer, a roupa (avental, boné, luvas, etc.) eles mandam fazer ou compram. Mas essas ajudas
não são da prefeitura. A cooperativa não tem ainda uma prensa, só esteira. Nos catamos na
rua. Esse trabalho não é fácil, por que além do esforço físico, tem dia que tem papel tem dia
que não tem, por isso necessitamos ainda dessas ajudas.
Nos pagamos o INSS, mas eu sei que estamos atrasados em fazer os pagamentos. Esse
grupo de apoio foi com a gente no banco abrir uma conta, nos orienta para não gastar o
dinheiro todo de uma vez. Dão conselhos, muitos ainda moram na rua. Eles orientam sobre
moradia eles vem como pode fazer para consegui uma casa. Dentro da cooperativa se faz
também um trabalho social.
Obs.: A questão do papel higiênico gerou uma grande polemica. Principalmente sobre a
questão higiênica da atividade.
Thyrza: Vocês vendem papel higiênico? Que horror isso é um absurdo! (...)
Anna Lúcia: Gente, se tem alguém querendo comprar esse papel, por que não vender?
Günthe r: Acho que importante como foi dito, não deixar um material que tem um mercado,
deixando no momento a questão da saúde fora, seja o papel higiênico ou um outro material
qualquer como as folhas de plástico, que as vezes podem estar contaminadas, que tão
pouco tem um bom preço no mercado como o PET. Acho que é importante não deixar um
para dar oportunidade só para o outro. É necessário ver tudo que tem mercado. O aspecto
do papel higiênico é um problema higiênico, sem dúvida. Mas é um problema que se
encontra em qualquer lixão. Não é só quando se coleta o papel separado. Todos os lixões
por que é costume daqui da AL e menos em Europa, o papel higiênico não vai para o vaso,
vai para um cesto ao lado, que vão para os lixões onde tem centenas de pessoas
trabalhando. Eu acho que de fato isso não deveria ser reciclado de jeito nenhum. Por que é
um ponto contaminante. Mas temos que estar consciente, que há muitos outros pontos
contaminantes dentro dos lixões, além do papel higiênico outros como o senhor falou, que
são muitos produtos com contaminação química que as vezes os que trabalham ali, nem se
sabe que esta contaminado.
Thyrza: Quando a gente começou a nossa experiência em Florianópolis, ficamos meses ou
mesmo anos, trabalhando a questão da higiene (...) trabalhando com pessoas que não
tinham conhecimento (...). São pessoas que não conhecem como funciona a reciclagem, são
pessoas que não conhecem a contaminação. Eu trabalho com saúde pública. Eu acho
importantíssimo também a gente ter essa consciência. Quando se fala em educação e em
cooperado. Nos (os técnicos) temos que ensinar isso para eles, que a gente esta tirando eles
23
dos lixões, a gente esta querendo dar melhores condições de trabalho para eles. Eu acho
que não é esse o melhor caminho. Se o Banco ... ou outros bancos fazem essa oferta deve
ser por falta de conhecimento e não por má fé. Acho importante que nos ensinemos a todos,
que isso não se deve fazer.
No Hospital Universitário em Florianópolis aconteceu um fenômeno muito estranho. Durante
um ano as mulheres, que freqüentava a Universidade tiveram crises – infecções urinárias e
genitais, que nunca se tinha percebido. Eram alunas, funcionárias e professoras. Foi uma
coisa assustadora que mereceu uma atenção especial. O Hospital Universitário tinha assim
muitas consultas. Se fez uma pesquisa para descobrir o que estava acontecendo. Era uma
partilha de papel higiênico e papel toalha, que havia sido comprado pela universidade, que
contaminou grande parte das mulheres. (...) A partir daí a universidade não comprou mais
aquele papel pardinho, só compra o papel branqueado que leva cloro (...). Hoje já existem
vários trabalhos na linha de saúde pública, que mostra que grande parte das infecções
hospitalares que não consegue tratar é por culpa do papel toalha. Não se usa mais no
hospital o papel toalha, porque sabem que são de papel reciclado, que causa toda essa
contaminação. Se nos queremos elevar o nível de nosso trabalho, a gente tem que termuito
cuidado. Temos que ensinar a população que isso é perigoso para a saúde, quem gostaria
de ficar doente por causa de uma porcaria de um papel higiênico? Eu acho que a gente tem
outros lixos muito mais valiosos para que os catadores busquem outras formas de qualidade
de vida muito melhor.
Um cooperado:. Em nossa cooperativa não entra o papel higiênico para ser triado.
Valter: Gostaria de chamar a atenção que nos temos diferença muito grandes de
experiências. A experiência citada, que com orgulho ganha essa doação do banco. Esse é
um mercado em construção (de materiais recicláveis), e com certeza tem muitas coisas a ser
aperfeiçoada. Temos que considerar as diferenças no nível de organizações aqui
apresentada. Uns já tem uns anos de experiências e outros estão começando agora.
Temos que considerar que as experiências são diferenciadas. Nos queremos contribuir e
buscar soluções. Nos vamos buscar os resultados encima das apresentações dos grupos e
das apresentações dos técnicos, tentando fazer uma junção entre essas duas coisas. Por
que eu percebo que há uma distancia grande entre o que os técnicos e a percepção dos
técnicos com uma formação mais apurada com a percepção dos grupos. Temos que
entender que algumas apresentações mostram a questão sobre a percepção de
sobrevivência, no entanto houve apresentações que já estão em outro nível inclusive
aperfeiçoando e diversificando as atividades do grupo. Esses já podem dizer o que querem e
o que não querem. Há passos anteriores ou talvez juntos, mas que precisam ser dados. É
legal que a gente possa possa estar olhando essas diferenças. A experiência aqui é rica, nos
temos a questão da falta da informação, tem a importância do passar a informação no
24
sentido de estar ensinando, tem a questão da própria cooperativa, grupos que não são
grupos (coeso) são indivíduos que coletam.
Fábio: Eu queria ressaltar que todos nós, principalmente os técnicos, nós trabalhamos com
resíduos. Quando a gente trabalha com resíduos a gente tem que estar pensando sempre
para onde vai esse resíduo. Existe uma legislação ambiental que define como você vai
dispor o resíduo orgânico, por exemplo. Existe uma grande oportunidade das cooperativas
prestarem serviços de retiradas de materiais nos grandes geradores. É uma oportunidade
que tem que ser trabalhada, pois acho que pode dar muito recursos para a cooperativa. A
gente tem que tomar cuidado de não estar sendo usado por grupos ou grandes geradores,
que querem só reduzir seus custos de disposição final. Nos sabemos por exemplo que em
São Paulo há empresas, empresas mesmo com caminhões e tudo, que retiram resíduos em
shopping e jogam no primeiro terreno baldio que encontram. Ou seja, não fazem a
disposição adequada. Então a gente tem que tomar cuidado para não estar incorrendo em
erros. No caso do orgânico, mesmo que seja dado para lavagem de porcos, existe todo um
código sanitário que tem que ser visto e respeitado. Tem que aproximar das cooperativas um
pouco da legislação existente para que elas não entrem em uma armadilha, pois amanhã ou
depois isso pode ser (transformado) numa grande crítica, que elas podem estar recebendo.
Elas estarão entrando no mercado e vão estar fornecendo como exemplo lavagem para
porcos onde poderão estar atingindo a saúde pública, ou no caso do papel higiênico,
podendo gerar problemas de saúde pública. Temos que orientar as cooperativas sobre
legislação para que elas não cometam crimes ambientais. Pode acontecer também que o
produto não sirva e tenha que ser jogado no aterro. De repente se tem que pagar para fazer
isso. O que vai custar mais do que o gerador pagou para a cooperativa receber o referido
material (...).
Regina: É fundamental o que o Fábio falou e isso reforça o que a gente pensa – a educação
é fundamental para qualquer tipo de empreendimento de formação associativista ou
cooperativista. Eu queria colocar que há muitas empresas e instituições que fazem proposta
indescente para os catadores por falta de respeito a eles. É importante a educação
ambiental, social e política. Se a gente quer trabalhar com categoria de trabalho, nos temos
que começar a valorizar esses pontos para podermos valorizar a eles. Acho que nos não
podemos nos sujeitar a qualquer tipo de comércio. Se é só porque tem mercado, então
vamos vender órgãos. Só a visão econômica é muito perigosa.
Outra coisa, quando falamos de cooperativismo e associativismo, existe um preceito social e
político. A empresa ela vai dar lucro para uma pessoa só ou dois, três associados dessa
empresa, não para todas as pessoas que estão trabalhando. No cooperativismo ela tem o
preceito social e político, que esta repensando o modo de produção. Por isso eu fico meio
em dúvida em relação as empresas. Em Jundiaí existia uma cooperativa de coletores e
triadores e transformou-se em empresa. Até eu gostaria de fazer uma visita para ver como
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esta funcionando. Os técnicos falaram – olha, que ótimo aumentou a produção. Mas e a
qualidade de vida do trabalhador? Eu pergunto quem é que vai ganhar com isso? A gente
tem que estar muito atento a essas questões, tanto sociais, ambientais e todos os
empreendimentos – acho que isso que é o salto qualitativo, sempre ligado ao modelo
sustentável, questão das relações humanas mais afetivas (...).
Günther: Também para completar o que o Fábio disse. Por um lado tem as indústrias que
querem se livrar de suas basuras (lixo) até papel higiênico etc. Muitas vezes também querem
livrar dos resíduos perigosos, que vão também para os lixões de forma ilegal. Eles usam
também muitas vezes os catadores para se livrar destes materiais, que pode ser o caso
desse papel higiênico. Mas por outro lado tem que ser visto principalmente as indústrias que
compram esse material. Elas devem ser controladas e isso não é o trabalho dos catadores e
sim das administrações responsáveis pelos resíduos sólidos e do Estado. Eles é que devem
fiscalizar essas questões para não aparecer esses tipos problemas. Os sucateiros e as
indústrias recicladoras devem ser controlados para cumprirem as leis existentes.
Pólita: Revendo o que foi visto no grupo dos técnicos, que as ações não devem ser vista só
pelos aspectos econômicos e nem tão pouco somente pelo aspeto social, que é uma
tendência dentro do cooperativismo, mas que a gente não se esqueça do fator ambiental. Só
para lembrar, o papel higiênico e o papel toalha é um dos resíduos mais biodegradáveis que
a gente tem, que a gente produz. Por isso também não se justifica (ser reciclado).
Eduardo: Ainda sobre o papel higiênico em SP seja cooperativa ou os catadores que ainda
não estão organizados – tem aqueles caminhões estabelecidos, que compete em
desigualdade com a gente que trabalha com carrocinha. As vezes o catador acaba pegando
esse papel higiênico por que não tem outro papel para ele, por que aqueles caminhões
grandões já estão pegando tudo. Na verdade na verdade, nos os cooperativistas estamos
nas mãos dos aparistas, que são os atravessadores, então nos temos que fazer o que eles
querem. Como não tem papel na rua as vezes o catador é forçado a pegar esse papel, seja
ele da cooperativa seja ele individual, isso é o que acontece em SP, infelizmente.
Franscisco Lisboa :Eu sou prova do efeito desses caminhões grandes. Eu recolhia papel
numa firma (no prédio do metrô) numa faixa de 250 kg por dia , papel branco, boa qualidade.
Minha carroça quebrou um dia. Eles passaram e viram aquela quantidade de papel. No dia
seguinte fui buscar e o moço que guardava o papel para mim me disse, que o pessoal da
firma fez um contrato de 6 meses com o do caminhão para buscarem o papel desse prédio,
eu perdi, né...
Anna Lúcia: Para mim a questão da cooperativa, sociedade e empresa todas três podem
ser possibilidades válidas de trabalho de catação ou de triagem. A empresa não é um bicho
de 7 cabeças. Não é a empresa em si que explora. O sistema é que explora. Numa
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cooperativa onde o trabalho não é bem feito, pode ser que os cooperados sejam também
explorados. Neste ramo até agora quemesta fazendo o grande lucro? Não são os
transportadores e as próprias indústrias recicladoras? Com certeza não são as cooperativas
ou associações. Enquanto a nossa mão de obra de catar e triar continuam sendo mal
remuneradas. Nos continuaremos sendo explorados. Quem faz os grandes lucros não somos
nós – seja cooperativa, sociedade ou mesmo as pequenas empresas. Temos que refletir
muito sobre isso.
Hoje em dia se ouve com frequência mais e mais empresas falarem da possibilidade dos
empregados participarem dos lucros das empresas. Por que não organizarmos também
empresas no ramo? Elas podem ser empresas com mais consciência em relação aos seus
trabalhadores. Quão sérios estamos de fato contra as empresas? Se pensamos um pouco
mais onde nos compramos nossos alimentos, nossos sapatos, nossas roupas, nossos
móveis e eletrodomésticos, etc.? Com poucas exceções são todas de empresas, sejam
formais ou informais. Nós não temos que ter medo das empresas.(...).
Não é questão só do dinheiro. „... então vamos vender órgãos“ ou assaltar um banco. Para
mim o importante é sair da informalidade seja como cooperativa, sociedade ou empresa. É
fundamental que o cooperado, o associado ou o trabalhador tenha garantido os seus direitos
– tratamento de saúde, aposentadoria, férias, etc.
Eva: Eu quero dizer que nós trabalhamos também com atravessador ainda por que a
cooperativa já é legalizada, mas não tem endereço. O local que nos ocupamos é ainda da
Prefeitura. Apesar de nos trabalharmos com atravessador nos temos consciência que o
papel higiênico não deve ir no meio dos outros papéis. Isso aí nos cuidamos bastante para
que o papel higiênico não contamine o outro.
Anna Lúcia: Afinal, porque no Brasil ou em vários países da América Latina não se põem o
papel higiênico diretamente no vaso sanitário?
Günther: Porque normalmente o diâmetro das tubulações internas nas casas são bastante
pequenas e por isso causam entupimentos freqüentes.
Patrícia: É que neste caso se estará transformando um resíduo em outro. Quer dizer o que é
lixo esta virando esgoto. Você pode colocar no vaso desde que o teu sistema de tratamento
de esgoto esteje dimensionado para isso (...). É aquela velha história: as pessoas perguntam
– não é legal usar aquele „tuine“, aquele que você bota na pia da cozinha e tritura e todo o
teu lixo vai embora? Na Califórnia teve uma febre disso. Todo mundo instalou na pia de
casa. Foi tão grande a carga orgânica, que houve uma poluição marinha, que destruiu
grande parte da flora e fauna da costa da Califórnia. Não é transformar uma coisa em outra,
se tem que considerar todo um dimensionamento. Se a gente queima o lixo, vem logo a
poluição atmosférica (...).
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3.2.3 Associação de Catadores (São Bernardo do Campo)
José da Guia dos Santos e Maria Geralda Candida
Na realidade nossa Associação ainda não tem nome, mas já foram capacitados 47 pessoas
com apoio da Prefeitura de São Bernardo. Organizamos catadores do lixão do bairro do
Alvarenga. Isso iniciou mais ou menos a 3 anos atras com o trabalho das assistentes sociais.
Nos ajudaram com documentação do pessoal. Muita gente não tinha nenhum documento de
identidade. Nos deram cesta básica, reforço alimentar, uniforme e material escolar para as
crianças dos catadores. Deram também outros cursos profissionalizantes como corte e
costura, manicura, pintura em tecidos e outros cursos. Realizaram palestra sobre vários
assuntos. Deram uma sala para alfabetização de adultos. Há mais ou menos um ano
começamos a conversar sobre a formação de associação de catadores, fizemos cursos, e
participamos de palestras sobre o associalismo e cooperativismo. Visitamos várias
associações e cooperativas com o objetivo de conhecer o trabalho e trocarmos experiências.
No momento estamos fazendo um curso na área de reciclagem. Realizado pelo SEBRAE. A
nossa expectativa é de iniciar o trabalho da coleta seletiva para triar e comercializar o
material vindo da coleta seletiva.
O processo de formação da associação mesmo já dura um ano. A diretoria da associação
tem um mês, pretendemos iniciar os trabalho em novembro de 2000;
Esperamos que com o trabalho em conjunto na associação teremos melhores condições de
realizar o nosso trabalho com segurança. Além disso, queremos melhorar a nossa
remuneração e a condição de vida de nossa família e ter um futuro melhor.
Nos temos recebido ajuda para termos o lugar (galpão), o equipamento para o nosso
trabalho. E principalmente que estão implantando a coleta seletiva. Nos também estamos
distribuindo os cartões para ensinar o pessoal a separar o lixo na casa. Vai ter o caminhão,
nos não vamos ter mais que puxar carrinho. Tudo isso tem melhorado a nossa vida. Eles
estão ajudando também com a questão da habitação, por enquanto esta ainda na conversa.
Mas eu acho que assim que sair mesmo a associação da gente, vai estar mais garantido
esta questão.
Eu mesmo trabalho com lixo já fazem 20 anos. Trabalhamos todos no lixão, os 47, tem só 3
pessoas que não trabalhavam antes no lixo, mas estão querendo entrar nosso grupo.
Enquanto não abre mesmo, cada um se vira como pode a maioria tem catado na rua, por
que o Lixão esta fechado mesmo. Eu acredito que vai ser melhor com a associação por que
nos vamos ganhar melhor. Não vai ser melhor só para mim, mas para todos eles.
Eu acho que nos vamos ganhar mais, trabalhar menos, vamos ter mais segurança. A gente
que trabalha no meio do lixo vive um grande problema, muitos estão descalço, não tem bota,
trabalha com a mão, mete a mão em caco de vidro ou em agulha de injeção. E o grande
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problema lá (lixão) é que a gente esta nas mão do atravessador. Acontece que o
atravessador por exemplo, se o alumínio esta a dois Reais, ele só paga mesmo só um real.
Na associação você tem condição de fazer um serviço bem feito, você pode fornecer um
material de primeira. Aí você tem nome no mercado, quanto mais você vender um produto
melhor, mais nome você vai ter. Então mais lucro você vai ter, vai ganhar mais. Eu falo
assim, que vai ser melhor pra nos, mas não só pra nos de São Bernardo. Pra todos nós que
somos catadores e estamos querendo se organizar. Acho bom ser associado, é melhor
trabalhar assim. Por que trabalhar no lixo ou mesmo como carrilheiro na rua, assim que nem
eu. Eu trabalho na rua individualmente. Sou explorado geralmente. Sou explorado mesmo.
Acho que trabalhando junto vai dar mais lucro pra gente.
Nos não temos ainda nenhum apoio para a saúde. Se eu me acidentar, tenho que ir para o
pronto socorro por minha conta mesmo. Mas quando tivermos trabalhando mesmo, aí sim vai
ter um apoio para saúde pela Prefeitura.
Prefeitura cedeu o terreno, máquinas e está implantando a coleta seletiva nos bairros de São
Bernardo. Caberá nos os associados divulgar a coleta distribuindo panfletos nas casas.
3.2.4 COOPEMAPE (Embu)
Rosana das Graças Braz e Elizabete de Oliveira Pereira
Começaram expondo um vídeo.
Desde 1997 a cooperativa está legalizada. Nos somos 20 pessoas, mas um saiu agora e tem
um doente. Nos estamos pagando para ele. Nos começamos a pagar o INSS, tem apenas
um ano. (tem problema de muita rotatividade sai e entra muitos cooperados). Tem muita
gente querendo entrar na cooperativa. Mas a prioridade é para aqueles que trabalham no
Lixão, mas tem gente que trabalha no Lixão e não quer voltar para a cooperativa. Sendo
assim nos permitimos que entre outros mesmo sem experiência com o lixo. Neste caso tem 3
meses para aprender e se adaptar ao trabalho. Muitos que saíram foi porque não
acreditaram no trabalho organizado.
A prefeitura arrumou 3 meses de experiência trouxe o pessoal como frente de trabalho,
ganhando pela Prefeitura, até a gente ter o nosso próprio dinheiro. Enquanto isso nos
coletamos na rua e o que rende desse trabalho vamos colocamos no banco até termos uma
media para poder ter dessa atividade o nosso próprio salário. Muitos não acreditaram que o
trabalho ia da certo e saíram. Agora muitos deles querem voltar.
Nos não recebemos salários. A partilha do que foi gerado, nos não dizemos salário,chamamos de contraparte, é dividido igual. É coletado o mês inteiro a gente vai vendendo
conforme vai chegando o material e vamos depositando no banco. No final do mês depois de
pagar uma divida de 5 mil Reais – que corresponde aos custos dos uniformes, equipamentos
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e outros. Nos pagamos 900 Reais de INSS de todo o mundo, por que se deixar para cada
um pagar o seu eles não pagam mesmo e vai ser mal para todo mundo enquanto
cooperativa. O que sobra é divido em partes iguais, descontando é claro alguma falta. A
Prefeitura fornece uma cesta básica para cada um, mas se alguém faltar 3 dias ao mês
perde o direito da cesta. No lixão já não pode mais ninguém entrar. Tem até policia na
entrada.
Nos temos presidente, diretores, estatuto e regimento interno escrito. Nos temos o nosso
escritório no Meio Ambiente (Secretaria), nossos documentos ficam lá. Temos uma pessoa
para administrar.
Se alguém quer entrar para a cooperativa. Deve preencher uma ficha e ficar esperando a
diretoria reunir e ver se aprova. Não dá para começar de imediato, por que há muitos
pedidos. Nos temos bastante serviço, mas pouco espaço, não dá para admitir todos que
querem entrar.
Há o apoio também da Prefeitura para o que tange a educação ambiental. Para as pessoas
que trazem material. Nos damos um tique e eles podem trocar por mudas na Secretaria do
Meio Ambiente.
Nos começamos o trabalho as 7 horas da manhã. Dois caminhões com dois motoristas
pagos pela Prefeitura. A coleta é feita com a colaboração de 3 cooperados. Que recolhem 30
ton. dia. Tiramos cerca de 180 a 200 Reais por mês. A SEBRAE orienta os catadores para
administrar a cooperativa.
O grupo tem problemas com o caminhão. Pois esse quando esta com defeito a Prefeitura
não substitui. Isso significa que ficamos sem material para ser trabalhado. Nosso sonho é ter
um caminhão próprio. No fundo há uma insegurança – além do transporte e do local que
estamos utilizando, nunca se sabe como vai ser o futuro. Nós sabemos que as coisas não
são de fato da cooperativa.
Como associados eles se sentem "trabalhadores“.
Cooperativa tem um convênio com a Prefeitura. Cooperados são autônomos e pagam INSS;
Problemas? O galpão é muito pequeno, e ainda não tem eletricidade.
Secretaria do Meio Ambiente propôs a união entre a cooperativa e os carrinheiros, não dá
certo por que acabam concorrendo entre si.
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3.2.5 COOPAMARE (São Paulo)
Eduardo de Paula e José Roberto
A COOPAMARE nasceu de uma experiência com os grupos de moradores de rua. Em São
Paulo na Rua dos Estudantes.
Na rua moram e trabalham muita gente. São pessoas honestas. Tem os catadores de papel,
tem os que guardam carros, tem os que trabalham de marmiteiro e que também moram na
rua. No
Glitério tem uma comunidade – Comunidade dos Moradores de Rua. Todos os anos eles
promoviam uma festa (Missão do povo da rua). Uma vez se reuniram para preparar a festa,
cada um tinha que dar uma ajuda. Os catadores neste ano arrumaram um lugar e pouco a
pouco ajuntaram papel vender e comprar as coisas para ajudar na festa. Se realizou a festa.
O grupo de catadores foi o que melhor se reuniu. Viram que a idéia de se reunir deu certo. O
grupo ficou otimista e perguntaram-se por que não continuar, se deu certo? Eles fizeram
varias reuniões. Em 1982 o Prefeito de SP era Jânio Quadro. Era um problema, talvez aqui
alguém lembra-se, que o Jânio dizia que o lixo era dele e não deixava ninguém trabalhar
com o lixo. Ele tirava do trabalhador a carrocinha. Também foi um tempo difícil, mas se
batalhava.
Em1986 fundou-se Associação dos Catadores de Papel. Em 14.05.1989 nasceu a
COOPAMARE com a ajuda de NGO. Em 1990 mudamos lá para Pinheiros, onde ainda
estamos até hoje.
Objetivos da COOPAMARE:
• prestar serviço ao catador,
• propor um ganho maior possível aos catadores,
• oferecer cursos de capacitação,
• garantir condições sanitárias adequadas no local de trabalho,
• dar uniforme aos catadores,
• conseguir lugar para guardar os carrinho
Proposta para o futuro:
Muitos de nós queremos fazer o supletivo. Estamos querendo juntar todas as cooperativas
para formar uma cooperativa de segundo grau, por que estamos ainda nas mãos do
atravessador. Nos também queremos vender o nosso material diretamente para as fábricas.
E temos que nos preparar para isso.
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Intervenção da Regina:
“Sobre a Federação das cooperativas. – Nos estamos trabalhando nisso a CORPEL, a
COOPAMARE, Coopemape e a São Francisco, Glicério. Nos estamos nos articulando para a
formação da cooperativa de segundo grau. A gente esta também trabalhando depois do
encontro que se deu em Belo Horizonte da Asmare de catadores e de materiais
reaproveitáveis, nos estamos fazendo contatos com os catadores de rua, catadores de Lixão
para estar fortalecendo a movimento para transformar a atividade em categoria de trabalho.
Em um segundo momento estaremos falando com desempregados que queiram trabalhar
com o lixo. Já existe o comitê metropolitano (SP) onde a COOPAMARE e a Copamape já
estão conversando também Santo André e São Bernardo. Nos queremos fazer uma
mobilização Nacional para que na semana do Meio Ambiente chegar até em Brasília e
reivindicar, já esta acontecendo várias coisas de articulações”.
Nos somos 342 associados e 81 cooperados. A diferença é que, para ser cooperado ele tem
que passar primeiro por um estágio na associação. Ele deve entender primeiro o que é o
cooperativismo. Se tem que ser sócio e depois de um processo torna-se cooperado.
Temos a Coleta Seletiva e Cidadania com o patrocínio da Globo (TV). Esse patrocínio é
durante um ano. Tem uma coordenadora, um operador, um motorista, e outros gastos. Nos
esperamos que depois de um ano nos poderemos levar a coleta seletiva com os nossos
próprios pés. No início nos vamos trabalhar com os condomínios.
Fora dos sócios e cooperado tem ainda umas 80 pessoas que são moradores de rua e que
passam com freqüência por lá para vender material, normalmente latinhas. Esse material é
pago na hora, mas tem um preço um pouco mais baixo, por que não pertencem a
cooperativa. Mas nós estamos tentando fazer um trabalho com eles também, para que no
futuro quem queira passe a ser sócio e mais tarde cooperados. O objetivo nosso é que esse
pessoal sejam vinculados a cooperativa.
A direção da cooperativa é formada por conselho administrativo presidente, tesoureiro e
secretário; o conselho fiscal, há quatro vogais. Na ausência de algum esses podem assumir.
Sou presidente, mas não tomo nenhuma decisão sozinho. Salvo um caso de emergência.
Até para tirar um cooperado, eu tenho que falar com a diretoria administrativa, discutir o
assunto. Mas nem a diretoria administrativa pode decidir por exemplo tirar a pessoa
problemática. O assunto tem que ir para uma discussão na assembléia.
Temos parcerias com Colégio Santa Cruz, Colégio Santa Maria – aqui temos um trabalho
com as crianças de 9 e 10 anos, nos explicamos sobre nossas vidas, falamos da reciclagem,
eles visitam a cooperativa. Temos parceria com a PUC (Universidade Católica). Temos uma
parceria com uma indústria, com Cata Vidro, com Centro de Saúde da Barra Funda – para
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que as pessoas da cooperativa ou mesmo moradores de rua que através da gente vai lá
possam fazer algum tratamento se necessitar.
Para ser cooperado tem que pagar o INSS. O cooperado próprio deve pagar. Mas mesmo
assim eu acredito que 80% dos cooperados não pagam. Talvez como o Embu faz seria
melhor, por um motivo de responsabilidade e aprendizado para o cooperado. Seria bom que
o projeto retire a parcela do INSS e faça o pagamento de todos juntos. Essa é uma boa
idéia.
Temos um fundo de lazer. Quando fazemos o balanço geral, que é anual, se há sobra nos
deixamos para a cooperativa para imprevistos e para comprar equipamentos. Também
cobramos 10% na balança, que é para cobrir gastos administrativos (água, luz, gastos com a
kombi e o caminhão que nos temos). Nossos gastos são muito altos e esse 10% não cobre
tudo, por isso as doações que recebemos são usadas para cobrir esses gastos também. Por
exemplo nos temos

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