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Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit GmbH OS CATADORES E TRIADORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOCUMENTAÇÃO DO PRIMEIRO ENCONTRO INTERNACIONAL SÃO SEBASTIÃO, SP – BRASIL – 23 A 26 DE SETEMBRO 2000 Maio 2001 I OS CATADORES E TRIADORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOCUMENTAÇÃO DO PRIMEIRO ENCONTRO INTERNACIONAL 23 a 26 de Setembro 2000 São Sebastião, SP – Brasil Organizadores: Dra. Anna Lúcia Florisbela dos Santos Eng. Fábio Cidrin Gama Alves Maio 2001 - II INDICE Agradecimentos 1 Prefácio 2 A. Desenvolvimento do Encontro dos Catadores, Triadores e Técnicos 4 1. Introdução e Objetivos 4 2.1 Breve apresentação 6 2.2 Dinâmicas aplicadas no Encontro 9 3. Desenvolvimento do Encontro de Catadores eTriadores 13 3.1 Apresentação individual dos desenhos e das expectativas 13 3.2 Apresentação das Experiências 18 3.2.1 Praia Grande (São Paulo) 18 3.2.2 CORPEL (São Paulo) 20 3.2.3 Associação de Catadores (São Bernardo do Campo) 27 3.2.4 COOPEMAPE (Embu) 28 3.2.5 COOPAMARE (São Paulo) 30 3.2.6 COOPERLIMPA (Diadema) 33 3.2.7 Boa Vista (Glicério) 34 3.2.8 Associação dos Carapirás (Macapá) 35 3.2.9 Catanduva 35 3.2.10 ARESP (Florianópolis) 36 3.2.11 COPERSSUSS (São Sebastião) 37 3.2.12 Ilhabela (núcleo da COPERSSUS) 39 3.2.13 Porto Alegre 40 3.2.14 COPERCICLA (Santo André) 42 3.2.15 Cooperativa dos Coletores comunitários cidade Limpa (Santo André) 42 3.3 Visita ao pátio de sucata de São Sebastião 43 3.4 Trabalhos em Grupo 44 3.5 Plenária de Domingo 46 3.6 Entrevistas com catadores e triadores 48 III 3.6.1 Entrevista com a Márcia Braga da Coorpel: 49 3.6.2 Entrevista com Eduardo Ferreira (COOPAMARE) 50 4. Apresentação das Experiências dos Técnicos 52 4.1 Apresentações dos Técnicos 52 4.1.1 Porto Alegre 52 4.1.2 Santa Catarina 53 4.1.3 Embu 56 4.1.4 Ilhabela 57 4.1.5 Curitiba 58 4.1.6 Rosário, Argentina 63 4.1.7 México 65 4.1.8 São Sebastião 65 4.2 Contribuições e Propostas 66 4.3 Para ser refletido 68 4.4 Resultados das Discussões Desenvolvidas nos Grupos 70 4.4.1 Apresentação dos técnicos que já trabalham com alguma cooperativa ou associação 70 4.4.2 Apresentação dos técnicos que não estão vinculados a cooperativa ou associação 71 B. COMPLEMENTO SOBRE O SETOR INFORMAL NA GESTÃO DE RESIDUO SOLIDO 73 1. O Setor Informal de Resíduos Sólidos no Brasil 73 2. Minimização de resíduos e inclusão social 76 3. Os catadores e a Educação Ambiental 82 4. Projeto Recicla Jovem! 87 5. Situación del Sector Informal en el Manejo de Residuos en Rosario, Argentina 89 5.1 Introducción 89 5.2 Organización de la Gestión de Residuos en la Ciudad de Rosario 90 5.2.1 Gestión formal de residuos 90 IV 5.2.2 Gestión informal de residuos 91 5.3 Caracterización de los Cirujas que actúan en el Microcentro de la Ciudad 94 5.4. El mercado de los materiales reciclables 95 5.5 Intentos de Formalización de las Actividades del Sector Informal 96 6. Situación actual de los Resiudos Sólidos en el Estado de México 100 6.1 Introducción 100 6.2 Manejo de Residuos Sólidos Municipales (RSM) 101 6.3 Organización del Sector Informal en el Reciclaje 102 7. El Sector Informal en la Gestión de Residuos Sólidos Municipales en México 105 7.1 Antecedentes 105 7.2 La situación del Sector Informal en el manejo de residuos sólidos municipales 105 7.3 Las Estructuras 106 7.3.1 Los actores 106 7.3.2 Las relaciones socio-políticas con el sector 109 7.4 El Involucramiento del Sector Informal en la gestión de residuos sólidos municipales 111 8. Perigos da Formalização das Atividades Catador e Triador 113 9. Conclusão 118 Anexo 1: Programa e Objetivos do Encontro 122 Anexo 2: Documentação produzidos pelos participantes. 125 Anexo 3: Desenhos elaborados pelos participantes no encontro 142 Anexo 4: Lista dos participantes 144 Anexo 5: Registro fotográfico 149 1 Agradecimentos Agradecemos a todos os catadores, triadores, técnicos e outros participantes pelo interesse demonstrado durante as discussões realizadas no encontro ocorrido de 24 a 26 de setembro de 2000 em São Sebastião, SP-Brasil. Especialmente agradecemos a GTZ através do projeto regional “Tratamento Mecanico- Biológico de Resíduos Sólidos”, responsável Eng. Elke Hüttner; do “Proyecto Residuos Rosário”, responsável Eng. Anja Wucke e do projeto de “Apoyo a la Gestión de Residuos Sólidos no Estado do México”, responsável Dr. Günther Wehenpohl, que através dos referidos projetos se obteve apoio financeiro para a realização do evento e para a publicação do presente trabalho. Especial agradecimento ao Município de São Sebastião que na pessoa do Prefeito Dr. João Augusto Siqueira1, dispensou total apoio a realização do evento. Agradecemos a PETROBRÁS que cedeu seu Auditório para a realização dos trabalhos. Aproveitamos também para agradecer a boa acolhida que os participantes tiveram nos seguintes estabelecimentos: Restaurante Sete Mares, Pousada Beira da Prainha, Pousada da Sesmaria e Praia Grande Chalés e Camping. Nossos agradecimentos vão também ao Valter Silva por sua moderação, a Roberta Stumpf, Pilar Cunha, Alziro Gregório e Nyeise Martins pelo apoio logístico. Os organizadores 1 Prefeito de São Sebastião na data do evento. 2 Prefácio No Brasil como em outros países em desenvolvimento revela-se cada vez mais uma preocupação crescente com os precários padrões de deposição de resíduos sólidos existentes, muitas vezes devido as poucas experiências no setor, ao baixo nível de know- how e à falta de recursos. Nas principais cidades brasileiras, por exemplo, aproximadamente 76% dos resíduos domiciliares são depositados à céu aberto, sem qualquer medida de segurança, causando danos irreversíveis aos recursos naturais como à água e ao solo e ameaçando a saúde da população. Porém para atingir um melhoramento sustentável na gestão de resíduos, são precisos conceitos e soluções técnicas, que sejam econômicos, ecologicamente corretos e que se integrem às realidades socio-econômicas locais. Em maio 2000 foi inaugurada a central de Tratamento Mecânico-Biológico (TMB) de resíduos em São Sebastião, SP, realizada através uma cooperação entre o projeto setorial “Possibilidades de TMB de resíduos sólidos” da GTZ – Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit mbH (Agência Alemã de Cooperação Técnica), a Prefeitura Municipal de São Sebastião e a empresa alemã FABER Serviço Ltd.. Com a instalação desta aplicação- piloto estão examinadas as características de capacidade técnicas e econômicas de uma tecnologia de pré-tratamento de resíduos ainda desconhecida no Brasil, que é considerado simples e econômica e com a qual podem ser diminuídos significativamente a poluição do meio- -ambiente. Entendemos que a simples disposição de soluções técnicas não é suficiente para resolver a questão dos resíduos sólidos. Os fatores e efeitos socio-econômicos têm que ser considerados para se ter uma gestão completa dos resíduos sólidos. No Brasil, estima-se que mais que 250.000 pessoas vivem do lixo, catando materiais recicláveis nas ruas e nos lixões, em péssimas condições de vida. Este grupo de pessoas é fortemente afetado pelos efeitos negativos de uma disposição descontrolada e desorganizada e pelas péssimas condições de higiene. Importante considerar que, o trabalho dos catadores chega a desviar quantidades consideráveis de materiais recicláveis dos lixões: só na cidade de São Paulo, eles catam aproximadamente 500 t por dia de materiais à serem reciclados. A mudança no funcionamento dos depósitos, como no caso da implantação do TMB de resíduos, deveria prever também uma mudança nas estruturas socio-economica dos envolvidos, que na maioria das vezes são trabalhadores informais. Será necessário planejar uma maneira para formalizar o trabalho valioso dos catadores, reintegrar este grupo 3 marginalizado na sociedade e para surtir efeitos positivos no tocante às possibilidades de renda através da venda dos materiais coletados e também o que é importante no tocante às condiçõesde trabalho sob as quais o lixo tem sido catado e separado. Partindo se dessa premissa, foi elaborado um estudo socio-economico pelo projeto setorial da GTZ, avaliando os efeitos da instalação do TMB de resíduos sólidos sobre o setor informal e sua integração na gestão formal de resíduos. Um dos resultados do estudo do referido projeto é o apoio de uma existente cooperativa em São Sebastião com o objetivo de facilitar sua gestão autonoma e auto-sustentável. Como conseqüência, a GTZ está apoiando a formação de um núcleo da cooperativa no município vizinho da Ilhabela. Em outros municípios no Brasil como em projetos da GTZ em outros países de América Latina, tanto a problemática do setor informal na gestão de resíduos quanto as estratégias para a solução são similares. Mas na maioria das vezes se trata de experiências ainda isoladas e pouco consolidadas, confrontando de uma certa forma dificuldades parecidas na gestão e na auto-sustentabilidade das organizações de catadores. A fim de incentivar a troca de experiências entre as diversas cooperativas, associações, técnicos e outros atores no setor da gestão de resíduos, para estabelecer um melhor fluxo de informações entre os diversos projetos, a GTZ organizou um encontro de intercambio ao nível internacional, realizado nos dias 23 a 26 de setembro 2000 em São Sebastião. O encontro contou com uma participação ampla nacional e interamericana de projetos, dos quais dois projetos de gerenciamento de resíduos da GTZ, de Rosário, Argentina e do Estado do Mexico, México. O presente “livro dos catadores e triadores” contém uma documentação deste evento e os resultados elaborados pelos participantes no evento. Esperamos que este evento tal como sua documentação contribuam ao amadurecimento das estratégias para a formalização das atividades desenvolvidas pelo setor informal na gestão de resíduos sólidos e para a criação de uma rede de informação e intercâmbio sustentável para os interessados. Stefan Helming Abtl.-Leiter OE 44 (Diretor do departamento 44 “Gestão ambiental, água, energia e transporte”) GTZ – Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit mbH 4 A. Desenvolvimento do Encontro dos Catadores, Triadores e Técnicos 1. Introdução e Objetivos A razão principal da existência e mesmo do crescimento da atividade de catação nos lixões de cidades pelo mundo a fora é para muitos uma necessidade extrema de pobreza. Grande parte dessas pessoas estão de fato revirando as latas de lixo e os próprios lixões a procura de algo aproveitável inclusive para comer. Mas em vários países, e o Brasil é um deles, a maior parte das pessoas que trabalham nos lixões ou nas ruas coletam principalmente materiais que possam revender considerando essa atividade como um trabalho que permite sustentar suas famílias. Os principais materiais que estão buscando são diferentes tipos de plásticos, vidro, metais e principalmente papel e papelão. Apesar da responsabilidade outorgada aos municípios pela Constituição Brasileira, de garantir a gestão dos resíduos sólidos, cuidando para que os resíduos sólidos não prejudiquem o meio ambiente, o Brasil conta com poucos aterros sanitários que de fato obedecem a legislação sobre o meio-ambiente (impermeabilização do solo, drenagem dos gazes, tratamento dos efluentes líquidos percolados, etc.). São poucos os municípios que contam com coleta seletiva e ou algum tipo de tratamento de seus resíduos. São os catadores, com seu trabalho informal , que diminuem consideravelmente centenas de toneladas de papel, plástico, metal e outros dos lixões, materiais estes que podem ser reutilizados ou reciclados, representando para os catadores e triadores uma fonte de renda não desprezável, e que com sua atividade abastecem muitas fábricas de matéria-prima, além de proporcionar a sociedade o uso dos aterros e lixões por mais tempo. A maior parte dos catadores trabalham isolados e não conseguem bons preços para seus materiais. São normalmente “explorados” pelos sucateiros – compradores desses materiais, que revendem para as fábricas com grandes margens de lucros. São Sebastião comemorou 10 anos de coleta seletiva, implantando o Tratamento Mecânico Biológico no município. Junto ao apoio da GTZ implantou-se a cooperativa de triadores com núcleos no centro e ao sul do município. No intuito de amadurecer a experiência da criação da cooperativa e buscando soluções para os diversos problemas que aparecem no cotidiano dos triadores, a GTZ e a Prefeitura de São Sebastião em parceria, proporcionaram um encontro com os catadores, triadores e técnicos que trabalham na área. O encontro poderia ser de grande interesse para todos os que estão envolvidos com essa atividade. 5 Foram apresentados no encontro 16 experiências por cooperados ou associados, além de diversos técnicos envolvidos diretamente com as experiências ou interessados na questão da Gestão Integral dos Resíduos Sólidos Urbanos. No final desta publicação segue a lista dos participantes (anexo 4). O encontro foi organizado para ocorrer em duas etapas: nos primeros dois dias os trabalhos foram direcionados aos catadores e triadores, que através da metodologia descrita a seguir (ver capítulo A 2 e anexo 1), interagiram trocando experiências e trazendo a tona suas realidades e dificuldades do dia a dia. Nos dos dias seguintes, os técnicos apresentaram brevemente suas experiências e continuaram com uma discussão sistematizada sobre ao questões abordadas pelos catadores e triadores (anexo 2). O interesse do evento foi proporcionar aos participantes um momento de reflexão e participação ativa com outros companheiros, apesar que, no caso dos catadores e triadores separam e comercializam materiais recicláveis, trabalham em situações diferentes (lixões, ruas ou galpões). As apresentações no evento permitiram aos técnicos a possibilidade de realizar frutíferas discussões sobre as atividades dos catadores e triadores. Esta oportunidade serviu também para a reflexão sobre a sua própria ação técnica. Na parte B encontra-se uma série de textos elaborados por técnicos levantando diferentes questões do trabalho informal no setor de resíduos sólidos. A presente documentação contem textos em portugues e espanhol conforme as contribuições dos participantes. 6 2. Metodologia do Encontro - uma reflexão Valter José da Silva2 “Não tem nada melhor do que ser catador de papel. Faz bem para o meio ambiente. O encontro possibilitará a união dos homens que trabalham com o lixo. Convido a todos a levantar essa bandeira a dos catadores de papel.“ Eduardo (COOPAMARE) “Quero ajuda para o núcleo que está sendo criado na Ilha Bela Antes éramos lixeiros, hoje somos triadores.“ Jucélio (Ilhabela) 2.1 Breve apresentação Quando recebi o convite para participar do “I Encontro de Cooperativas/associações de Triadores de Material Reciclável“, como facilitador, reagi com um misto de “medo“ e atração. Pois até então minha relação com os catadores era informal, ou então, de parcerias pontuais (no caso da COPAMARE), ou ainda encontrando com eles pelas ruas de São Paulo. Após a realização do encontro e os resultados produzidos por ele, tanto os relativos aos objetivos quanto à dimensão subjetiva e afetiva, me deixam felizes, pois os catadores/triadores se colocaram, produziram conteúdos, interagiram trabalhando em grupo e individualmente. Enfrentaram desafios pessoais quando tinham que falar para um número razoável de pessoas e outras experiências. Um dos produtos do encontro são os exercícios realizados pelos participantes de vivências que os levaram a pensar, analisar e discutir apesar de estórias de vidas sofridas, marcadas pela violência e tantas formas de exclusão social. Os participantes, atores sociais de todo encontro, revelaram seu potencial criativo/critico. Este texto busca compartilhar como foi construída a metodologia do encontro. Reciclando: A palavra método remete a “caminho para chegar a um fim; maneira de dizer, de fazer, de ensinar uma coisa, ordem, arranjo, coordenação, programa, processo, técnica..“Metodologia significa “conjunto de métodos e técnicas de um campo particular.” Antes de comentar a metodologia utilizada no encontro é preciso ater-nos à algumas questões, primeira que a metodologia não está desvinculada de um projeto ou de um planejamento. Mesmo que este projeto seja de uma dimensão maior do que as atividades 2 Pedagogo e Gerente de Educação e Mobilização do SEMASA, (Município de Santo André). 7 desenvolvidas no evento. Porém as atividades fortalecem o planejamento. É preciso saber o que se quer. Ou seja, quais são os objetivos gerais e específicos e como a metodologia os fortalecerá. Nesse sentido, foi discutido com os organizadores da parte da Prefeitura de São Sebastião e da GTZ também participou dessa discussão o representante da GTZ -México. Era necessário conhecer o contexto onde estaria desenvolvendo o trabalho. Este momento é muito importante podemos chamá-lo de diagnóstico e ele orienta o processo de criação da metodologia. Ora, considerar a metodologia pressupondo o que está escrito acima não a restringe. Assim como há metodologias que podem desenvolver-se descoladas de objetivos amplos ou de projetos, servindo como instrumentos para atingir resultados imediatos no grupo ou para um indivíduo, com início, um meio e um fim. A metodologia desvinculada de um projeto maior é neutra não influenciando os objetivos dos sujeitos que estão utilizando-a? A realização do diagnóstico é um pressuposto de sucesso dos resultados? Respondendo essas questões digo que não existe neutralidade quando se aplica um conjunto de técnicas com fins pré-determinados. Além dessa questão quem facilita o processo possui concepções de mundo e de ser humano que norteia a forma de pensar e de se relacionar. Com relação ao diagnóstico este é um pressuposto fundamental para que os resultados sejam alcançados, se obterá sucesso ou não, com certeza que com um diagnóstico bem realizado a probabilidade de sucesso é maior. O diagnóstico contribui para auxiliar o desempenho do facilitador, pois com as informações sobre o grupo ele „navega nas águas“ do evento com mais segurança e respeita a todos ajudando-os a identificar onde estão e para onde querem seguir. Contribuir, orientar, ajudar os participantes a encontrar os caminhos e reconhecer os passos que estão deixando marcados no chão da história do evento. Eis como entendo o papel do facilitador e da metodologia. Com estas considerações colocadas podemos prosseguir. Outra questão fundamental é clarear alguns princípios que orientam o desenvolvimento das metodologias que apliquei e as dinâmicas utilizadas no encontro. Estes princípios contribuem para aprofundar aspectos importantes e necessários no desenvolvimento de habilidades sociais como ouvir, falar, refletir em grupo e o desenvolvimento individual. Abaixo coloco algumas noções que auxiliam na construção de metodologias que consideram o desenvolvimento do grupo e do indivíduo no grupo. A participação possibilita que os participantes vivenciem situações que exigem envolvimento e comprometimento. No entanto, esse comprometimento, está relacionado a participação dos atores nos processos de tomada de decisão, de execução e de planejamento das atividades relacionadas aos objetivos e metas das atividade. 8 A criatividade contribui para diminuir as resistências ao novo, além de criar espaços onde as atividades possam ser repensadas, avaliadas e aperfeiçoadas. Todos podem criar, desenhar, falar, fazer assim sentem-se produtivos, realizadores. Os desenhos e as dinâmicas, utilizadas no encontro e outras, vem contribuir no estimulo da alta estima dos indivíduos e dos grupos (anexo 3). A espontaneidade contribui para que o processo criativo flua no ambiente de trabalho, contribuindo para um melhor desempenho dos participantes e de suas responsabilidades. No entanto, a manifestação do ato espontâneo, quando vivenciado de forma adequado contribui para o amadurecimento do grupo. E de forma inadequada ele passa a ser absorvido como um ato agressivo, de invasão do espaço do outro, falso ou dissimulado. De forma adequada o grupo vai criando espaços onde o diálogo construtivo vai sendo fortalecido no cotidiano, onde as opiniões são expressas com franqueza e respeito, facilitando, assim, os processos qualitativos nas relações pessoais no ambiente de trabalho contemplando os processos de desenvolvimento pessoal e profissional. A característica processual nos coloca dispostos a melhorar nossas relações nos ambientes onde vivemos, considerando o ensino – aprendizagem, ou seja, estou sempre aprendendo nas relações que estabeleço, mesmo que sejam conflituosas. Estou em um contínuo processo de mudança, de transformação, onde aprendo quem é o outro e o que sou eu, e porque estamos juntos neste momento. No entanto a transformação esperada (tanto minha quanto do outro) não ocorre como se fosse um passe de mágica. É preciso registrar as intenções e ações que são os dados para avaliar e rever a prática, fortalecendo assim, os processos facilitadores e potencializadores de mudanças. Nesse princípio é preciso fazer as seguintes perguntas: Onde estamos? Como estamos? O que queremos mudar? O que podemos mudar? Qual o caminho que vamos utilizar para colocar em prática as mudanças? Assim, o processamento das informações e os mecanismo de comunicação/divulgação são fundamentais para construir quem somos (papel social da organização, papel dos participantes), com quem nos relacionamos (atores internos- outras papéis, atores externos – outras organizações, fornecedores e compradores e etc.). Essa consciência contribui para o planejamento das diversas relações estabelecidas pela organização. Essa clareza explicitada de forma saudável contribui para fortalecimento de parcerias na realização da missão da organização integrado-a à um projeto maior. E é contínua...processual. Como alcançar determinados resultados com os participantes garantido a efetividade do processo desenvolvido? Penso que a questão da participação é fundamental, ela envolve as pessoas nos diversos níveis do trabalho, buscando garantir o comprometimento dos participantes com os resultados. Um dos meios utilizados para alcançar a participação do grupo foi o uso de desenhos, onde fora solicitado que eles colocassem como se sentiam. Assim, através do simbolismo, eles expressam o que estavam sentindo e o que estavam pensando. 9 • Eles produziram símbolos que representavam a vidas, o cotidiano, os valores e a visão de mundo deles. E são esses símbolos, compartilhados no grupo, produto do grupo, conteúdo do grupo que são analisados e relacionados, por quem está facilitando, com objetivos de curto, médio e longo prazo do “Encontro“. O grupo sujeito do “Encontro“, por características próprias, tem exacerbado a cultura do imediatismo, pois precisam atender rapidamente necessidades para sobreviverem, como onde dormir, alimentar-se e etc. A reflexão sobre objetivos de médio e longo prazo torna-se um desafio para os triadores, técnicos e todos que compartilham com o eles. A metodologia buscou contribuir para esse processo de construção da identidade e do autodesenvolvimento do grupo a partir dos indivíduos. O desenvolvimento de atividades em grupo levou em consideração os indivíduos que os constituem. Buscando criar espaços de expressão de toda a diversidade contida, pronta para ser compartilhada, reconhecendo os esforços para se alcançar objetivos comuns. Considerou os indivíduos em toda sua complexidade e integridade, seu pensar, sentir e desejar. O aprendizado se deu através do fazer. O aprender- fazendo, como meio, instrumento, essência do processo em desenvolvimento. No processo tudo e todos tinham sentido a importância no esforço coletivo de construir o projeto comum a partir da integração dos projetos individuais à este projeto comum. Através das dinâmicas o grupo exercitou habilidades diversas, como, concentração, cooperação, solidariedade, espírito de liderança, coordenação, flexibilização e planejamento. Foramidentificados processos existentes e inter-relações do negócio com aqueles que o desenvolve. • A metodologia tem importância fundamental mo desenvolvimento de projetos e de planejamento. Pois ela que integra, liga, aproxima, possibilita o envolvimento e o compromisso dos participantes. Pode ter resultados contrário, pois pode instituir a não participação e o não compromisso. Refletir sobre a questão metodológica leva-me a pensar sobre quais o valores que fundamentam nossas metodologias?; quais são os paradigmas que estão sustentando e orientando o caminho das nossas ações? Enfrentar essas questões de coração e mente aberta possibilitará a construção de metodologias mais humanas possibilitando que os resultados sejam alcançados por um número cada vez maior de pessoas, desde da concepção dos planos, sua execução e aperfeiçoamento. 2.2 Dinâmicas aplicadas no Encontro • Dinâmica inicial: Relaxamento Objetivo: Despertar os participantes aquecendo-os para as atividade da oficina: 10 Desenvolvimento: Solicita-se que os participantes fiquem de pé e inicia uma série de movimentos que seguem a seguinte ordem: pés, pernas, quadris, barriga, braços, pescoço, cabeça e coluna. • Dinâmicas de integração Objetivo: Integrar o grupo aquecendo-o para a execução das diversas atividades. Também contribui para facilitar a absorção do conteúdo pois os participantes ficam desinibidos e sentem-se a vontade para falar, discutir e refletir expressando suas idéias. • As Dinâmicas utilizadas para integrar: Do caçador: Objetivo: Integrar o grupo Desenvolvimento: São três personagens. Um caçador, um leão e uma velhinha. Os participantes são divididos em dois grupos e cada grupo escolhe uma personagem. A escolha se dá sem um grupo saber o que o outro escolheu. Os grupos são postos em fileira e de costas para o outro grupo. O coordenador conta até três e os grupos viram e fazem pontos segundo o seguintes critérios: se o caçador matar a velhinha ponto para a velhinha; se o leão comer a velhinha ponto para o leão e se o caçador matar o leão ponto para o caçador. Repete a brincadeira três vezes e quem fizer mais pontos ganha a brincadeira. A Banda: Objetivo: Integrar o grupo criando um ritmo comum. Desenvolvimento: Canta a música fazendo, com as mãos, os gestos representando os instrumentos. Letra da música: Um homem andando pela mata tocando um Violão - Ding Ding Ding Don O outro acompanhava tocando seu Piston Pororó Pororó Bis; Ding, Ding, Ding, Ding, Ding Don Pororó, Pororó, Pororó Um homem andando pela mata tocando seu tambor Tarará, Tarará O outro acompanhava tocando Acordeon Nheco, Nheco, Nheco, Nheco Bis; Tarará, Tarará, Tarará Nheco, Nheco, Nheco, Nheco 11 Bibliografía ANDREOLA, Balduíno A. (1996): Dinâmica de Grupo: Jogo da Vida e Didática do Futuro. Editora Vozes, Petrópolis BOAL, Augusto (1991): Teatro do Oprimido e outras Poéticas Políticas. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro BOS, Alexander (1986): Desafios para uma Pedagogia Social. Editora Antroposófica, São Paulo NN (1994): Doze Dragões em Luta Contra Iniciativas Sociais. Editora Antroposófica, São Paulo NN (1990): Nada A Ver Comigo? A Sociedade como reflexo do Próprio Interior. 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Desenvolvimento do Encontro de Catadores eTriadores Logo após a uma simples cerimonia com a presença da esposa do Prefeito Sra. Priscila Siqueira e do Secretário do Meio Ambiente, Sr. Eduardo Hipólito do Rego3, os organizadores (Anna Lúcia F. dos Santos e Fábio Cidrin Gama Alves) depois de cumprimentar os participantes e dar algumas informações sobre a organização do encontro e a utilização do espaço cedido pela PETROBRAS, passou-se a direção dos trabalhos aos moderadores (Valter Silva e Roberta Stumpf). A moderação explicou a forma de trabalho e iniciou-se as apresentações, seguidas do comentário de um desenho (anexo 3) que cada participante deveria ter feito. 3.1 Apresentação individual dos desenhos e das expectativas Neste momento os participantes: catadores, triadores e técnicos, apresentaram-se (nome e entidade) e teceram comentários sobre os desenhos nos quais deveriam estar representadas suas expectativas em relação ao encontro - alguns dos desenhos apresentados estarão no Anexo 3. Sandra Olmedilha (São Bernardo do Campo): “Acredito que o encontro possibilitará “subir mais um degrau“. Espero adquirir novas idéias que possam melhorar o nosso trabalho”. Antônio Alves da Cruz.. (Praia Grande): “Espero adquirir experiência e levá-la à cooperativa, o que em muito acrescentará para obter união e segurança no trabalho realizado por nos”. Elizabete Oliveira Pereira (Embu): “Pretendo com o encontro unir mais os cooperados, e se for preciso, começar tudo de novo“. Regina Siqueira da Silva (Embu): Coordena a coleta e a cooperativa deste município. “Minha expectativa é que com o encontro todos possam trocar experiências. Pretendo também buscar estrutura e união para o nosso trabalho”. José Roberto Marques da Silva (São Paulo - COOPAMARE): “Quero tirar proveito do encontro para levar novas idéias para a nossa cooperativa”. José da Guia dos Santos (São Bernardo do Campo): “Desejo conhecer as experiências, que estão aqui. O encontro vai fazer a vida ficar mais colorida, com mais luz”. 3 Secretario de Meio Ambiente e Urbanismo 14 Dalva Pinheiro de Almeida Pagani (São Bernardo do Campo): “Quero vencer as dificuldades que encontro junto aos ‘catadores’. Desejo que o futuro seja mais verde e sem detrito espalhado”. Afonso Plaza (São Paulo / Santo André): “Pretendo ouvir e aprender com todos os participantes, para transmitir as informações a outras pessoas interessadas no assunto. Marta dos Santos (São Sebastião): “Desejo aprender e transmitir para os demais cooperados o que aprendendi aqui, além de fazer novas amizades”. Elton Ferreira dos Santos (Formiga) (São Sebastião): “Quando eu comecei a triar 10 anos atrás, nao pude imaginar um encontro desse tipo com pessoas de outros estados e até de outros países para falar da questão do lixo. Quero que o encontro integre todos os triadores para que estes possam crescer“. Danilo De Castro (São Sebastião):“... me interessa buscar novas caminhos, e fazer parcerias com outras cooperativas e, assim, unir os cooperados. No que se refere à questão ambiental, desejo diminuir o volume do lixo nos aterros”. Silvana Fátima Borges Chagas (Catanduva): “Quero crescer...”. José Aparecido Vieira (Catanduva): “Desejo apresentar o nosso trabalho”. Thyrza Pires (Florianópolis): “Acredito que o encontro é uma grande luz para quem trabalha com lixo... que é nosso sustento. Desejo a união do grupo de trabalho em Santa Catarina”. Henrique Dias Pereira (São Paulo-Glicério): “Espero a união e o crescimento das pessoas que trabalham com lixo. Agradeço desde já o carinho de todos”. Joaquim Lisboa (Glicério): É catador e separador. “...preocupa-me muito união do grupo e quero transmitir ‘coisas’ (apreeendida no encontro) para os colegas e administradores”. Maria Geralda Candida (São Bernardo): “Vou levar coisas boas daqui para os companheiros de trabalho. Nosso trabalho é alimento para a nossa família“. Hector Aguillar (México): “Quero um meio ambiente mais saudável para nossos filhos”. Edivaldo de Souza Ideltrudes (Macapá): “Tenho grande expectativa ... vou apresentar a cooperativa de Macapá, conhecida como Associação dos Carapirás. Quero fazer amizades e melhorar a vida da ‘gente’ da Associação e criar uma "fábrica mais forte“. Eduardo Ferreira de Paula (SP - COOPAMARE): “...Para mim não tem nada melhor do que ser catador de papel. Minha atividade faz bem para o meio ambiente. ... O encontro 15 possibilitará a união dos homens que trabalham com o lixo. Convido a todos a levantar essa bandeira”. Márcia Braga (CORPEL): “Busco a união dos cooperados. Nós só estamos unidos agora!“ Desejo a troca experiências. Todos precisamos da ajuda governamental, ... precisamos construir algo sólido com a ajuda de Deus e a união de todo.”. Nivaldo Ferreira (Praia Grande): “União e troca de experiências são minhas expectativas quanto ao encontro.” Gilnair Alvez Pereira de Lima (Diadema): “Deveria haver mais encontros como esse para os ‘recicladores’ precisamos conscientizar os outros”. Amenaídes José dos Santos (Ilhabela): “Desejo a união de todos, desejo trocar experiências e crescer... lixo tem importância, é lucro para mim“. Leonilda Dias da Luz (Florianópolis): “Quero apreender o que não sei para melhora o futuro”. Zelita Mendes (Florianópolis): “Quero um galpão para todos (triadores e ou catadores)”. Luis Ocaña (México): “Devemos evitar desmatamento através da reciclagem. Desejo conhecer as experiências aqui para levá-las para o México e conscientizar meus irmãos”. Günther Wehenpohl (Mexico-GTZ): “O trabalho dos cooperados deve ser reconhecido pelas autoridades. Desejo levar informações sobre as experiências brasileiras ao México”. Patrícia Blauth: (São Paulo): “Desejo união”. Alziro Gregório (Niterói, RJ): “Sou técnico de gestão de cooperativa, principalmente de cooperativas de triagem. Meu desenho registra nossas pegadas, nosso caminho. Uma ampulheta marcando o tempo que estamos aqui. Construindo algo concreto. Pessoas observando. Uma casa, e formigas trabalhando, que são um exemplo de trabalho feito em cooperação. O ato da cooperação e solidariedade deve ser, se possível feito diariamente”. Lauro Victor Nobre Martin (São Gonçalo, RJ): “Sou paisagista, represento a RECICLAR, que esta em fase de implantação. Para mim esse momento é muito vivo. Com certeza eu vou levar uma bagagem muito rica para São Gonçalo. Nosso encontro propicia uma troca de informações e de experiências que são fundamentais para que a gente possa ter uma visão maior de todo esse processo. Meu desenho tentar representar: ... essa teia vai se formando, vai se erradiando, não só apenas do Brasil, mas em toda a América Latina para que agente possa ter realmente essa presença global. O circulo representa a unidade que é fundamental, o calor humano. O meio ambiente não é só a questão física, biológica e geo- 16 química. Ele é uma questão contextual - o amor. Com amor a gente gera tudo que a gente precisa para o equilíbrio do planeta”. Silvana dos Santos (São Sebastião - COOPERSUSS): “Eu desenhei uma lâmpada, para a troca de idéias e para que se abra novos horizontes para que possamos fazer a reciclagem cada vez melhor e deixar de poluir o meio ambiente para que nossas crianças tenham um futuro melhor. Onésimo Reyes Martines (México): “trabajo para el gobierno estatal dentro de la área ecológica. Mi dibujo es muy sencillo, deseo que el hombre viva con la naturaleza, se conserve con el sol, el aire, el agua. Aun que tenemos que hacer un recorrido pero que sea conjuntamente para llegar aun arriba. Por un bien estar común natural. En este encuentro espero tomar las experiencia que tenen aquí los catadores para asesora las gente en México que viven en condiciones muy precarias, espero sacar lo mejor para poder difundir aya en México. Ansío pela buena calidad de vida”. Rosana das Graças Braz (EMBU): “No meu desenho apresento o galpão onde a gente trabalha. Minha expectativa é que possamos melhorar nossa cooperativa como as de todos que estão aqui. Desejo trocar idéias”. Jucélio Alves soares (Ilhabela): “Gostaria de ter ajuda para o núcleo que esta sendo criado na Ilhabella ... antes nos eramos lixeiros, hoje somos triadores”. Clarisse Aparecida Romão (Ilhabela): “Quero conhecer pessoas e viver novas experiências”. Luciana Rodrigues (São Sebastião): “Quero luz, tranqüilidade e união para todos que fazem este trabalho”. Nyelse Eliane Trench Martins (Nane) (São Sebastião - CORPESUSS): “Meu desenho, é um mundo dentro de um coração. Os elementos da natureza, Gostaria de apresentar a consciência que todos nos deveríamos ter. Desejo que todos tenham consciência e se sensibilizem em relação ao planeta”. Magali Pacheco (São Sebastião): “Nós da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Assistência Social atuamos junto da Secretaria do Meio Ambiente e Urbanismo na montagem da cooperativa e no desenvolvimento atual desse novo trabalho, que era associação e agora é cooperativa. Meu desenho eu coloquei o homem no centro (nos), tentei usar os quatro elementos da natureza, tentando harmonizar, a árvore e a terra – um campo fértil para as nossa idéias, que sejam plantadas e possam germinar e dêem flores, frutos e uma ação muito forte – o sol, que traga vida, não adianta ficar só sentados ou ficar só falando, temos que sair e por as idéias em ação, fazer acontecer. A água simbolizando toda 17 a parte emocional, que não é o emocional todo choroso, é um emocional que faça crescer e que possa dar um empurrão na hora que se precisa. Com jeitinho e com o amor que a gente tem, nos devemos tentar fazer as pessoas entender as questões. Desejo que com o nosso encontro abra os nossos olhos, os olhos dos cooperados e dos profissionais técnicos para que tenham compreensão e paciência – o homem buscando harmonia e para que a gente saia daqui, pelo menos mais organizados e mais completos. Desejo harmonia entre os homens e a natureza. Que o encontro abra nossos olhos, mas com afeto”. Roberta Stumpf (São Sebastião): “Não trabalho com lixo, sou professora de história e estou aqui para ajudar na organização deste encontro. O que eu espero desse encontro é a união das pessoas que estou conhecendo hoje e que trabalham com uma coisa tão importante. Eu reconheço essa importância e procuro colaborar como cidadã separando o lixo na minha casa. No meu desenho a apresentação desse grande olho é que espero que vocês consigam a atenção, que vocês merecem. Espero que a importância do trabalho dos triadores seja reconhecida por todos”. Valter Silva (São Paulo): Trabalho na Prefeitura de Santo André – Serviço Municipal de Saneamento Ambiental (esgoto e coleta de lixo). Sou pedagogo. Estou fazendo o mestrado na USP na área de Cultura Organizacional. Tenho uma experiência com comunidades de base e com pastoral de favela. Meu desenho são vários caminhos tem o centro que é a vida, neste caminho tem várias pessoas passando e que se cruzam em algum momento. O encontro para mi esta sendoisso: esta sendo o momento no caminho de cada organização de cada cooperativa e de cada pessoa que esta aqui. Nos estávamos em nossos caminhos e de repente nos fizemos um pequeno desvio para nos encontrarmos aqui em SS. Hoje esta sendo o centro de todos os nossos caminhos. Minha expectativa é que possamos voltar aos nossos caminhos sabendo que existem outros vários caminhos e que não devemos perder as esperanças, quando vemos que os nossos caminhos não estão dando certo, não devemos pensar que não tem mais jeito. Devemos lembrar dos outros caminhos, a experiência de um outro (caminho) que esta dando certo, talvez isso possa ajudarmos. Podemos nos corresponder, podemos trocar experiências e assim podemos nos fortalecer. Assim podemos enxergar os diversos caminhos e as diversas experiências. Desejo aprender e abrir caminhos com a troca de experiências”. Anna Lúcia Florisbela dos Santos – (México): “Minha expectativa é que todos ao sair do encontro, sintam-se fortalecidos. Eu desenhei essa corrente não para prender, mas sim para unir - São Sebastião, Ilhabela, São Paulo, a região sul , todo o Brasil, México, os representantes da Argentina que estará chegando amanha, a Alemanha através da GTZ que esta financiando parte desse encontro, enfim desejo a união de todo o mundo. Para demonstrar a importância da nossa atividade enquanto catadores – vamos pensar se os catadores deixarem de trabalhar, como ficaria esse mundo? Nos temos uma missão como já foi dito de abelhinhas ou de formigas de organizar. Como economista eu gostaria de estar 18 na luta com todos aqui para ajudar fazer dessa atividade, muitas vezes desprezada, uma profissão reconhecida como categoria de trabalho”. Fábio Cidrin (São Sebastião): “Minha expectativa do encontro é que as pessoas enxerguem as outras pessoas que estão com elas nesse caminho. Enxergando essas pessoas para que elas tenham as outras todas dentro do coração e para que as ações sejam de fraternidades, de cooperativismo, de ajuda, de união para que todos cresçam. A gente sozinho não faz nada, mas juntos nos podemos transformar o mundo. Espero que hoje a gente comece uma grande união, uma grande rede para fortalecer esse setor que é muito importante, como já muitos disseram e que a gente cresça e apareça”. 3.2 Apresentação das Experiências4 3.2.1 Praia Grande (São Paulo) Antonio Alves da Cruz e Nivaldo Ferreira Nossa experiência existe há um ano e a 4 meses. Temos um centro de triagem - com 8 repartições equipadas com box e tela. Nivaldo, um dos integrantes da associação fez a apresentação da experiência. Ele trabalha no lixão há 18 anos: Eu era comprador lá dentro do lixão, como surgiu essa coisa de meio ambiente e de fechar o lixão.(...) Olha, o lixão esta dentro da cidade. A prefeitura juntou psicólogos e vieram falar com a gente para incentivar nossa organização e ajudar a gente sair do lixão. No início a gente não queria sair e pensamos mesmo em enfrentar a polícia. Lá dentro tinham 203 pessoas trabalhando. A Prefeitura fez o cadastramento desse pessoal. Depois veio a proposta de fazer uma espécie de uma cooperativa. Eles disseram: vai ter um galpão e uma parte do lixo vai para lá (para o galpão). E a prefeitura vai organizar a atividade. De fato a prefeitura botou lá as máquinas, e os caminhões para levar o lixo que nos separamos. Neste meio tempo veio o pessoal da USP. Uns (catadores) participavam outros não, achavam que era trabalho da prefeitura (...). Eu disse então vocês ficam aí, nós vamos. Tivemos lá toda a semana em reuniões e aulas. Quando terminamos a fase de aulas e partimos para parte de trabalho; aí os outros disseram: nos também queremos participar. Mas já era tarde. Fomos até ameaçados por aqueles que no princípio não quiseram participar.(...) além de alguns conflitos entre os próprios cooperados. 4 As presentações foram transcritas por Roberta Stumpf e Pilar Cunha 19 É uma coisa extraordinária formar uma cooperativa. Mas foi uma luta grande. Fizemos uma gincana na rua para as pessoas ajudarem a separar o lixo. Fizemos primeiro no bairro nobre da cidade trabalhamos de porta em porta. A inauguração foi também uma coisa extraordinária com o apoio de muita gente. A cooperativa incentiva a gente. Nos recebemos muitas doações e a psicóloga vem toda a semana conversar com a gente. Agora nos temos mais esperança na vida para agente continuar. É uma luta, mas vale a pena. A caba também por ser um divertimento. A gente convive bem e ri muito. Depois das eleições nos temos planejado trabalhar com outros bairros. Para que os caminhões não levem todo o lixo para o aterro. Eles (técnicos da prefeitura e da USP) nos ajudaram no início, mas agora nos precisamos de mais material. O curso com o projeto foi previsto para 2 anos, e já passou um. Dos fundadores somos 20, mas trabalham no momento 27 (cooperados). Tem mais pessoas que querem entrar, mas temos que esperar a outra grande reunião. Entre nos não existe separação, pode ser o presidente ou diretores, sentamos todos juntos, não há separação. Eu falo isso por que eu faço parte de uma religião. Veja bem, nos tivemos uma festa, então fizeram uma mesa especial para uns convidados (com comida especial). Eu larguei eles pra lá Depois me chamaram. Eu disse mesmo que eu não gosto dessas coisas separadas. Já na cooperativa nos somos todos iguais. Pois é dentro da cooperativa não tem diferença o ordenado é um só. Por exemplo para vir participar aqui. Eu fui escolhido por meio de votação. Pode ser que na próxima seja escolhido outros. Apoio nos temos de muita gente. Mas o problema que temos é que o lixo que esta chegando da coleta, só da para ser trabalhado apenas um dia (4° feira), assim mesmo só meio período. Tenho a esperança que os outros bairros separem também que é para se poder ter mais materiais. Na verdade o dinheiro é ainda muito pouco. Aí nos temos que ir para uma parte do aterro continuar a catar nos outros dias da semana. Só não no domingo. Os associados tem interesse de trabalhar no galpão todos os dias para não subir para o lixão. Mas acaba tendo que subir por que o dinheiro não é suficiente. Na associação o dinheiro é rateado de forma igual, descontando apenas se alguém faltou ao trabalho. No lixão cada um trabalha por si. Olha eu posso falar para vocês, não existe lixão que não tenha coisa boa (...) tem uma mocinha lá que achou 800 Reais, nunca mais voltou no lixo... Na verdade a coisa melhor do mundo seria se a cooperativa de fato funcionar, pois lá se tem o apoio de todo mundo. Lá a gente trabalha de luva, temos uniforme, que é patrocinado, vamos fazer crachás para poder identificar todos os cooperados que trabalham lá, estamos querendo oficializar tudo direitinho. 20 Mas no momento só trabalhamos nas quarta-feiras até o meio-dia. Nos demais dias da semana trabalhamos no lixão. Na verdade, na verdade todos da cooperativa continuam a trabalhar no lixão. Desejam trabalhar na cooperativa, mas só se for todos os dias da semana. A Prefeitura de Praia Grande faz coleta seletiva só duas vezes por semana, em um único bairro; é muito pouco material. 3.2.2 CORPEL (São Paulo) Márcia Braga (CORPEL) Exposição de Márcia, cooperada, que fez questão de esclarecer que desde que nasceu, há 31 anos, é catadora de papel. Como eu disse a vocês, tenho 31 anos na rua pegando papel, agora ficou no ar. Minha mãe tem 35 anos na rua pegando papel. Quando ela me ganhou estava no centro da cidade e eu fui criada dentro de uma caixinha de papelão. Tenho 31 anos e esses anos todos catando papel. Ela (a mãe) criou 14 filhos próprios, mais 4 filhos do meu pai e 5 netos. Tudo isso com dinheiro do papel. Ela comprou dois terrenos, um caminhão e uma perua e fez um depósito lá mesmo em Itaim Paulista . Essa atividade tem ajudado bastante por que outro serviço esta difícil. (Márcia fala de duas diferentes experiências: da cooperativa e da catação que faz sozinha). A cooperativa está no centro da cidade. Lá somos no momento 23 sócios, destes 15 puxam carrinho . Acooperativa começou com o apoio do Centro Gaspar Garcia – dos direitos humanos e de pequenas causas. O Sr. Luiz começou com os moradores de rua. Começou ajudando o pessoal do centro da cidade. Ele via muitas vezes eu e minha mãe, às vezes até tomando chuva, por que às vezes a gente trabalhava até tarde e não dava nem tempo para ir para casa. Ai ajuntávamos umas caixas de papelão e dormíamos na cidade mesmo. Aí ele conversou com minha mãe se ela não queria entrar em um grupo para fazer uma associação. Então ela disse que iria tentar. Ela passou a participar das reuniões. Ela tentou organizar esse grupo já mais de 5 anos. Ela entrou em contato como os outros (catadores). Mas quando ela entrou neste grupo eu disse para ela. Que então eu não ia mais trabalhar com ela. Nesse tempo então que eu fui trabalhar em casa de família. Mas eu me lembro que eu trabalhava em casa de família, mas quando eu saia do serviço eu ia sempre para a rua catar um pouco de papel. Mesmo por que o dinheiro de casa de família não dava (para viver). O grupo como cooperativa já tem 2 anos, que esta organizado. La dentro nem todos os associados puxam carrinho. Com carrinho são umas 15 pessoas. Os outros trabalham dentro do balcão. Na cooperativa é assim. Uma pessoa sai para rua com carrinho trás duas ou três viagem e bota no canto e fica uma outra pessoa separando esse 21 material, esses são sócios entre si. Lá não ganham todos iguais. O que trabalha mais ganha mais. Quem trabalha menos ganha menos. A produção é individual. Foi perguntado: Qual é a participação que vocês tem para com a cooperativa. Vocês contribuem para o fundo de reserva? Fundo de assistência técnica, social e educacional? As despesas administrativas como é rateada entre vocês? O terreno é pago por uma entidade internacional que apoia o grupo, junto com Luiz, tudo que nos pesamos ali dentro, nos pagamos 10% desse montante, que é para ajudar na água e na luz. Por exemplo se acontecer um acidente com alguém, é necessário ter um dinheirinho lá de reserva dos cooperados que é para ajudar aquela pessoa acidentada. Os técnicos que trabalham com a gente são pagos pelo Centro Gaspar Garcia. Continuando, no meu caso, eu tenho meu carrinho. Eu busco o meu papel, eu mesmo que separo. Depois fora da cooperativa eu ainda trabalho na coleta de 16:30 até às 20 horas, por que já estou acostumada. Catar papel pode render muito dinheiro. Na cooperativa eu tenho 1 ano e 4 meses. Neste tempo eu já consegui comprar 3 instrumentos de sopro. O mais barato eu paguei 600 Reais. E quero comprar outro, melhor ainda. Eu vivo sozinha. Dependo de mim mesma. Pago aluguel. Mas eu estou guardando dinheiro para comprar o meu apartamento, depois eu quero alugar ele, e aí sim quero construir a minha casa. Como funciona com a venda? O material é pesado e registrado individualmente. O Material que chega à cooperativa é aquele que foi coletado individualmente pelos cooperados. É pesado e marca-se por peso o que é de cada cooperado. É feito uma planilha do movimento. Mas depois de triado é novamente pesado. Nos finais de semana a gente soma tudo o que foi produzido ou pesado. Depois agente junta tudo para ser vendido. A gente liga para o rapaz vir com a caçamba buscar o material. Mas cada um tem sua produção já registrada. Os 10% do que foi vendido é destinado ao pagamento da água, da luz, além de ir para o fundo de reserva. Uma outra ajuda, que a gente tem e assim mesmo com muito sacrifício é a do Banco (um banco Internacional) que nos dá o papel higiênico. Por que os outros papéis eles já dão para outro grupo reciclar. Olha gente, esse papel higiênico é usado, e é reciclável. Nos vendemos ele a 20 centavos o quilo. Eles juntam para gente, só que aí vem também o plástico da embalagem do papel higiênico, que agente ainda tem que tirar. Por isso tem que ir também para a esteira para ser separado de alguns outros materiais. 22 Para o papel higiênico nos só temos uma pessoa que compra. Como eu já disse, o espaço não é nosso, se paga o aluguel, os carrinhos eles mandam fazer, a roupa (avental, boné, luvas, etc.) eles mandam fazer ou compram. Mas essas ajudas não são da prefeitura. A cooperativa não tem ainda uma prensa, só esteira. Nos catamos na rua. Esse trabalho não é fácil, por que além do esforço físico, tem dia que tem papel tem dia que não tem, por isso necessitamos ainda dessas ajudas. Nos pagamos o INSS, mas eu sei que estamos atrasados em fazer os pagamentos. Esse grupo de apoio foi com a gente no banco abrir uma conta, nos orienta para não gastar o dinheiro todo de uma vez. Dão conselhos, muitos ainda moram na rua. Eles orientam sobre moradia eles vem como pode fazer para consegui uma casa. Dentro da cooperativa se faz também um trabalho social. Obs.: A questão do papel higiênico gerou uma grande polemica. Principalmente sobre a questão higiênica da atividade. Thyrza: Vocês vendem papel higiênico? Que horror isso é um absurdo! (...) Anna Lúcia: Gente, se tem alguém querendo comprar esse papel, por que não vender? Günthe r: Acho que importante como foi dito, não deixar um material que tem um mercado, deixando no momento a questão da saúde fora, seja o papel higiênico ou um outro material qualquer como as folhas de plástico, que as vezes podem estar contaminadas, que tão pouco tem um bom preço no mercado como o PET. Acho que é importante não deixar um para dar oportunidade só para o outro. É necessário ver tudo que tem mercado. O aspecto do papel higiênico é um problema higiênico, sem dúvida. Mas é um problema que se encontra em qualquer lixão. Não é só quando se coleta o papel separado. Todos os lixões por que é costume daqui da AL e menos em Europa, o papel higiênico não vai para o vaso, vai para um cesto ao lado, que vão para os lixões onde tem centenas de pessoas trabalhando. Eu acho que de fato isso não deveria ser reciclado de jeito nenhum. Por que é um ponto contaminante. Mas temos que estar consciente, que há muitos outros pontos contaminantes dentro dos lixões, além do papel higiênico outros como o senhor falou, que são muitos produtos com contaminação química que as vezes os que trabalham ali, nem se sabe que esta contaminado. Thyrza: Quando a gente começou a nossa experiência em Florianópolis, ficamos meses ou mesmo anos, trabalhando a questão da higiene (...) trabalhando com pessoas que não tinham conhecimento (...). São pessoas que não conhecem como funciona a reciclagem, são pessoas que não conhecem a contaminação. Eu trabalho com saúde pública. Eu acho importantíssimo também a gente ter essa consciência. Quando se fala em educação e em cooperado. Nos (os técnicos) temos que ensinar isso para eles, que a gente esta tirando eles 23 dos lixões, a gente esta querendo dar melhores condições de trabalho para eles. Eu acho que não é esse o melhor caminho. Se o Banco ... ou outros bancos fazem essa oferta deve ser por falta de conhecimento e não por má fé. Acho importante que nos ensinemos a todos, que isso não se deve fazer. No Hospital Universitário em Florianópolis aconteceu um fenômeno muito estranho. Durante um ano as mulheres, que freqüentava a Universidade tiveram crises – infecções urinárias e genitais, que nunca se tinha percebido. Eram alunas, funcionárias e professoras. Foi uma coisa assustadora que mereceu uma atenção especial. O Hospital Universitário tinha assim muitas consultas. Se fez uma pesquisa para descobrir o que estava acontecendo. Era uma partilha de papel higiênico e papel toalha, que havia sido comprado pela universidade, que contaminou grande parte das mulheres. (...) A partir daí a universidade não comprou mais aquele papel pardinho, só compra o papel branqueado que leva cloro (...). Hoje já existem vários trabalhos na linha de saúde pública, que mostra que grande parte das infecções hospitalares que não consegue tratar é por culpa do papel toalha. Não se usa mais no hospital o papel toalha, porque sabem que são de papel reciclado, que causa toda essa contaminação. Se nos queremos elevar o nível de nosso trabalho, a gente tem que termuito cuidado. Temos que ensinar a população que isso é perigoso para a saúde, quem gostaria de ficar doente por causa de uma porcaria de um papel higiênico? Eu acho que a gente tem outros lixos muito mais valiosos para que os catadores busquem outras formas de qualidade de vida muito melhor. Um cooperado:. Em nossa cooperativa não entra o papel higiênico para ser triado. Valter: Gostaria de chamar a atenção que nos temos diferença muito grandes de experiências. A experiência citada, que com orgulho ganha essa doação do banco. Esse é um mercado em construção (de materiais recicláveis), e com certeza tem muitas coisas a ser aperfeiçoada. Temos que considerar as diferenças no nível de organizações aqui apresentada. Uns já tem uns anos de experiências e outros estão começando agora. Temos que considerar que as experiências são diferenciadas. Nos queremos contribuir e buscar soluções. Nos vamos buscar os resultados encima das apresentações dos grupos e das apresentações dos técnicos, tentando fazer uma junção entre essas duas coisas. Por que eu percebo que há uma distancia grande entre o que os técnicos e a percepção dos técnicos com uma formação mais apurada com a percepção dos grupos. Temos que entender que algumas apresentações mostram a questão sobre a percepção de sobrevivência, no entanto houve apresentações que já estão em outro nível inclusive aperfeiçoando e diversificando as atividades do grupo. Esses já podem dizer o que querem e o que não querem. Há passos anteriores ou talvez juntos, mas que precisam ser dados. É legal que a gente possa possa estar olhando essas diferenças. A experiência aqui é rica, nos temos a questão da falta da informação, tem a importância do passar a informação no 24 sentido de estar ensinando, tem a questão da própria cooperativa, grupos que não são grupos (coeso) são indivíduos que coletam. Fábio: Eu queria ressaltar que todos nós, principalmente os técnicos, nós trabalhamos com resíduos. Quando a gente trabalha com resíduos a gente tem que estar pensando sempre para onde vai esse resíduo. Existe uma legislação ambiental que define como você vai dispor o resíduo orgânico, por exemplo. Existe uma grande oportunidade das cooperativas prestarem serviços de retiradas de materiais nos grandes geradores. É uma oportunidade que tem que ser trabalhada, pois acho que pode dar muito recursos para a cooperativa. A gente tem que tomar cuidado de não estar sendo usado por grupos ou grandes geradores, que querem só reduzir seus custos de disposição final. Nos sabemos por exemplo que em São Paulo há empresas, empresas mesmo com caminhões e tudo, que retiram resíduos em shopping e jogam no primeiro terreno baldio que encontram. Ou seja, não fazem a disposição adequada. Então a gente tem que tomar cuidado para não estar incorrendo em erros. No caso do orgânico, mesmo que seja dado para lavagem de porcos, existe todo um código sanitário que tem que ser visto e respeitado. Tem que aproximar das cooperativas um pouco da legislação existente para que elas não entrem em uma armadilha, pois amanhã ou depois isso pode ser (transformado) numa grande crítica, que elas podem estar recebendo. Elas estarão entrando no mercado e vão estar fornecendo como exemplo lavagem para porcos onde poderão estar atingindo a saúde pública, ou no caso do papel higiênico, podendo gerar problemas de saúde pública. Temos que orientar as cooperativas sobre legislação para que elas não cometam crimes ambientais. Pode acontecer também que o produto não sirva e tenha que ser jogado no aterro. De repente se tem que pagar para fazer isso. O que vai custar mais do que o gerador pagou para a cooperativa receber o referido material (...). Regina: É fundamental o que o Fábio falou e isso reforça o que a gente pensa – a educação é fundamental para qualquer tipo de empreendimento de formação associativista ou cooperativista. Eu queria colocar que há muitas empresas e instituições que fazem proposta indescente para os catadores por falta de respeito a eles. É importante a educação ambiental, social e política. Se a gente quer trabalhar com categoria de trabalho, nos temos que começar a valorizar esses pontos para podermos valorizar a eles. Acho que nos não podemos nos sujeitar a qualquer tipo de comércio. Se é só porque tem mercado, então vamos vender órgãos. Só a visão econômica é muito perigosa. Outra coisa, quando falamos de cooperativismo e associativismo, existe um preceito social e político. A empresa ela vai dar lucro para uma pessoa só ou dois, três associados dessa empresa, não para todas as pessoas que estão trabalhando. No cooperativismo ela tem o preceito social e político, que esta repensando o modo de produção. Por isso eu fico meio em dúvida em relação as empresas. Em Jundiaí existia uma cooperativa de coletores e triadores e transformou-se em empresa. Até eu gostaria de fazer uma visita para ver como 25 esta funcionando. Os técnicos falaram – olha, que ótimo aumentou a produção. Mas e a qualidade de vida do trabalhador? Eu pergunto quem é que vai ganhar com isso? A gente tem que estar muito atento a essas questões, tanto sociais, ambientais e todos os empreendimentos – acho que isso que é o salto qualitativo, sempre ligado ao modelo sustentável, questão das relações humanas mais afetivas (...). Günther: Também para completar o que o Fábio disse. Por um lado tem as indústrias que querem se livrar de suas basuras (lixo) até papel higiênico etc. Muitas vezes também querem livrar dos resíduos perigosos, que vão também para os lixões de forma ilegal. Eles usam também muitas vezes os catadores para se livrar destes materiais, que pode ser o caso desse papel higiênico. Mas por outro lado tem que ser visto principalmente as indústrias que compram esse material. Elas devem ser controladas e isso não é o trabalho dos catadores e sim das administrações responsáveis pelos resíduos sólidos e do Estado. Eles é que devem fiscalizar essas questões para não aparecer esses tipos problemas. Os sucateiros e as indústrias recicladoras devem ser controlados para cumprirem as leis existentes. Pólita: Revendo o que foi visto no grupo dos técnicos, que as ações não devem ser vista só pelos aspectos econômicos e nem tão pouco somente pelo aspeto social, que é uma tendência dentro do cooperativismo, mas que a gente não se esqueça do fator ambiental. Só para lembrar, o papel higiênico e o papel toalha é um dos resíduos mais biodegradáveis que a gente tem, que a gente produz. Por isso também não se justifica (ser reciclado). Eduardo: Ainda sobre o papel higiênico em SP seja cooperativa ou os catadores que ainda não estão organizados – tem aqueles caminhões estabelecidos, que compete em desigualdade com a gente que trabalha com carrocinha. As vezes o catador acaba pegando esse papel higiênico por que não tem outro papel para ele, por que aqueles caminhões grandões já estão pegando tudo. Na verdade na verdade, nos os cooperativistas estamos nas mãos dos aparistas, que são os atravessadores, então nos temos que fazer o que eles querem. Como não tem papel na rua as vezes o catador é forçado a pegar esse papel, seja ele da cooperativa seja ele individual, isso é o que acontece em SP, infelizmente. Franscisco Lisboa :Eu sou prova do efeito desses caminhões grandes. Eu recolhia papel numa firma (no prédio do metrô) numa faixa de 250 kg por dia , papel branco, boa qualidade. Minha carroça quebrou um dia. Eles passaram e viram aquela quantidade de papel. No dia seguinte fui buscar e o moço que guardava o papel para mim me disse, que o pessoal da firma fez um contrato de 6 meses com o do caminhão para buscarem o papel desse prédio, eu perdi, né... Anna Lúcia: Para mim a questão da cooperativa, sociedade e empresa todas três podem ser possibilidades válidas de trabalho de catação ou de triagem. A empresa não é um bicho de 7 cabeças. Não é a empresa em si que explora. O sistema é que explora. Numa 26 cooperativa onde o trabalho não é bem feito, pode ser que os cooperados sejam também explorados. Neste ramo até agora quemesta fazendo o grande lucro? Não são os transportadores e as próprias indústrias recicladoras? Com certeza não são as cooperativas ou associações. Enquanto a nossa mão de obra de catar e triar continuam sendo mal remuneradas. Nos continuaremos sendo explorados. Quem faz os grandes lucros não somos nós – seja cooperativa, sociedade ou mesmo as pequenas empresas. Temos que refletir muito sobre isso. Hoje em dia se ouve com frequência mais e mais empresas falarem da possibilidade dos empregados participarem dos lucros das empresas. Por que não organizarmos também empresas no ramo? Elas podem ser empresas com mais consciência em relação aos seus trabalhadores. Quão sérios estamos de fato contra as empresas? Se pensamos um pouco mais onde nos compramos nossos alimentos, nossos sapatos, nossas roupas, nossos móveis e eletrodomésticos, etc.? Com poucas exceções são todas de empresas, sejam formais ou informais. Nós não temos que ter medo das empresas.(...). Não é questão só do dinheiro. „... então vamos vender órgãos“ ou assaltar um banco. Para mim o importante é sair da informalidade seja como cooperativa, sociedade ou empresa. É fundamental que o cooperado, o associado ou o trabalhador tenha garantido os seus direitos – tratamento de saúde, aposentadoria, férias, etc. Eva: Eu quero dizer que nós trabalhamos também com atravessador ainda por que a cooperativa já é legalizada, mas não tem endereço. O local que nos ocupamos é ainda da Prefeitura. Apesar de nos trabalharmos com atravessador nos temos consciência que o papel higiênico não deve ir no meio dos outros papéis. Isso aí nos cuidamos bastante para que o papel higiênico não contamine o outro. Anna Lúcia: Afinal, porque no Brasil ou em vários países da América Latina não se põem o papel higiênico diretamente no vaso sanitário? Günther: Porque normalmente o diâmetro das tubulações internas nas casas são bastante pequenas e por isso causam entupimentos freqüentes. Patrícia: É que neste caso se estará transformando um resíduo em outro. Quer dizer o que é lixo esta virando esgoto. Você pode colocar no vaso desde que o teu sistema de tratamento de esgoto esteje dimensionado para isso (...). É aquela velha história: as pessoas perguntam – não é legal usar aquele „tuine“, aquele que você bota na pia da cozinha e tritura e todo o teu lixo vai embora? Na Califórnia teve uma febre disso. Todo mundo instalou na pia de casa. Foi tão grande a carga orgânica, que houve uma poluição marinha, que destruiu grande parte da flora e fauna da costa da Califórnia. Não é transformar uma coisa em outra, se tem que considerar todo um dimensionamento. Se a gente queima o lixo, vem logo a poluição atmosférica (...). 27 3.2.3 Associação de Catadores (São Bernardo do Campo) José da Guia dos Santos e Maria Geralda Candida Na realidade nossa Associação ainda não tem nome, mas já foram capacitados 47 pessoas com apoio da Prefeitura de São Bernardo. Organizamos catadores do lixão do bairro do Alvarenga. Isso iniciou mais ou menos a 3 anos atras com o trabalho das assistentes sociais. Nos ajudaram com documentação do pessoal. Muita gente não tinha nenhum documento de identidade. Nos deram cesta básica, reforço alimentar, uniforme e material escolar para as crianças dos catadores. Deram também outros cursos profissionalizantes como corte e costura, manicura, pintura em tecidos e outros cursos. Realizaram palestra sobre vários assuntos. Deram uma sala para alfabetização de adultos. Há mais ou menos um ano começamos a conversar sobre a formação de associação de catadores, fizemos cursos, e participamos de palestras sobre o associalismo e cooperativismo. Visitamos várias associações e cooperativas com o objetivo de conhecer o trabalho e trocarmos experiências. No momento estamos fazendo um curso na área de reciclagem. Realizado pelo SEBRAE. A nossa expectativa é de iniciar o trabalho da coleta seletiva para triar e comercializar o material vindo da coleta seletiva. O processo de formação da associação mesmo já dura um ano. A diretoria da associação tem um mês, pretendemos iniciar os trabalho em novembro de 2000; Esperamos que com o trabalho em conjunto na associação teremos melhores condições de realizar o nosso trabalho com segurança. Além disso, queremos melhorar a nossa remuneração e a condição de vida de nossa família e ter um futuro melhor. Nos temos recebido ajuda para termos o lugar (galpão), o equipamento para o nosso trabalho. E principalmente que estão implantando a coleta seletiva. Nos também estamos distribuindo os cartões para ensinar o pessoal a separar o lixo na casa. Vai ter o caminhão, nos não vamos ter mais que puxar carrinho. Tudo isso tem melhorado a nossa vida. Eles estão ajudando também com a questão da habitação, por enquanto esta ainda na conversa. Mas eu acho que assim que sair mesmo a associação da gente, vai estar mais garantido esta questão. Eu mesmo trabalho com lixo já fazem 20 anos. Trabalhamos todos no lixão, os 47, tem só 3 pessoas que não trabalhavam antes no lixo, mas estão querendo entrar nosso grupo. Enquanto não abre mesmo, cada um se vira como pode a maioria tem catado na rua, por que o Lixão esta fechado mesmo. Eu acredito que vai ser melhor com a associação por que nos vamos ganhar melhor. Não vai ser melhor só para mim, mas para todos eles. Eu acho que nos vamos ganhar mais, trabalhar menos, vamos ter mais segurança. A gente que trabalha no meio do lixo vive um grande problema, muitos estão descalço, não tem bota, trabalha com a mão, mete a mão em caco de vidro ou em agulha de injeção. E o grande 28 problema lá (lixão) é que a gente esta nas mão do atravessador. Acontece que o atravessador por exemplo, se o alumínio esta a dois Reais, ele só paga mesmo só um real. Na associação você tem condição de fazer um serviço bem feito, você pode fornecer um material de primeira. Aí você tem nome no mercado, quanto mais você vender um produto melhor, mais nome você vai ter. Então mais lucro você vai ter, vai ganhar mais. Eu falo assim, que vai ser melhor pra nos, mas não só pra nos de São Bernardo. Pra todos nós que somos catadores e estamos querendo se organizar. Acho bom ser associado, é melhor trabalhar assim. Por que trabalhar no lixo ou mesmo como carrilheiro na rua, assim que nem eu. Eu trabalho na rua individualmente. Sou explorado geralmente. Sou explorado mesmo. Acho que trabalhando junto vai dar mais lucro pra gente. Nos não temos ainda nenhum apoio para a saúde. Se eu me acidentar, tenho que ir para o pronto socorro por minha conta mesmo. Mas quando tivermos trabalhando mesmo, aí sim vai ter um apoio para saúde pela Prefeitura. Prefeitura cedeu o terreno, máquinas e está implantando a coleta seletiva nos bairros de São Bernardo. Caberá nos os associados divulgar a coleta distribuindo panfletos nas casas. 3.2.4 COOPEMAPE (Embu) Rosana das Graças Braz e Elizabete de Oliveira Pereira Começaram expondo um vídeo. Desde 1997 a cooperativa está legalizada. Nos somos 20 pessoas, mas um saiu agora e tem um doente. Nos estamos pagando para ele. Nos começamos a pagar o INSS, tem apenas um ano. (tem problema de muita rotatividade sai e entra muitos cooperados). Tem muita gente querendo entrar na cooperativa. Mas a prioridade é para aqueles que trabalham no Lixão, mas tem gente que trabalha no Lixão e não quer voltar para a cooperativa. Sendo assim nos permitimos que entre outros mesmo sem experiência com o lixo. Neste caso tem 3 meses para aprender e se adaptar ao trabalho. Muitos que saíram foi porque não acreditaram no trabalho organizado. A prefeitura arrumou 3 meses de experiência trouxe o pessoal como frente de trabalho, ganhando pela Prefeitura, até a gente ter o nosso próprio dinheiro. Enquanto isso nos coletamos na rua e o que rende desse trabalho vamos colocamos no banco até termos uma media para poder ter dessa atividade o nosso próprio salário. Muitos não acreditaram que o trabalho ia da certo e saíram. Agora muitos deles querem voltar. Nos não recebemos salários. A partilha do que foi gerado, nos não dizemos salário,chamamos de contraparte, é dividido igual. É coletado o mês inteiro a gente vai vendendo conforme vai chegando o material e vamos depositando no banco. No final do mês depois de pagar uma divida de 5 mil Reais – que corresponde aos custos dos uniformes, equipamentos 29 e outros. Nos pagamos 900 Reais de INSS de todo o mundo, por que se deixar para cada um pagar o seu eles não pagam mesmo e vai ser mal para todo mundo enquanto cooperativa. O que sobra é divido em partes iguais, descontando é claro alguma falta. A Prefeitura fornece uma cesta básica para cada um, mas se alguém faltar 3 dias ao mês perde o direito da cesta. No lixão já não pode mais ninguém entrar. Tem até policia na entrada. Nos temos presidente, diretores, estatuto e regimento interno escrito. Nos temos o nosso escritório no Meio Ambiente (Secretaria), nossos documentos ficam lá. Temos uma pessoa para administrar. Se alguém quer entrar para a cooperativa. Deve preencher uma ficha e ficar esperando a diretoria reunir e ver se aprova. Não dá para começar de imediato, por que há muitos pedidos. Nos temos bastante serviço, mas pouco espaço, não dá para admitir todos que querem entrar. Há o apoio também da Prefeitura para o que tange a educação ambiental. Para as pessoas que trazem material. Nos damos um tique e eles podem trocar por mudas na Secretaria do Meio Ambiente. Nos começamos o trabalho as 7 horas da manhã. Dois caminhões com dois motoristas pagos pela Prefeitura. A coleta é feita com a colaboração de 3 cooperados. Que recolhem 30 ton. dia. Tiramos cerca de 180 a 200 Reais por mês. A SEBRAE orienta os catadores para administrar a cooperativa. O grupo tem problemas com o caminhão. Pois esse quando esta com defeito a Prefeitura não substitui. Isso significa que ficamos sem material para ser trabalhado. Nosso sonho é ter um caminhão próprio. No fundo há uma insegurança – além do transporte e do local que estamos utilizando, nunca se sabe como vai ser o futuro. Nós sabemos que as coisas não são de fato da cooperativa. Como associados eles se sentem "trabalhadores“. Cooperativa tem um convênio com a Prefeitura. Cooperados são autônomos e pagam INSS; Problemas? O galpão é muito pequeno, e ainda não tem eletricidade. Secretaria do Meio Ambiente propôs a união entre a cooperativa e os carrinheiros, não dá certo por que acabam concorrendo entre si. 30 3.2.5 COOPAMARE (São Paulo) Eduardo de Paula e José Roberto A COOPAMARE nasceu de uma experiência com os grupos de moradores de rua. Em São Paulo na Rua dos Estudantes. Na rua moram e trabalham muita gente. São pessoas honestas. Tem os catadores de papel, tem os que guardam carros, tem os que trabalham de marmiteiro e que também moram na rua. No Glitério tem uma comunidade – Comunidade dos Moradores de Rua. Todos os anos eles promoviam uma festa (Missão do povo da rua). Uma vez se reuniram para preparar a festa, cada um tinha que dar uma ajuda. Os catadores neste ano arrumaram um lugar e pouco a pouco ajuntaram papel vender e comprar as coisas para ajudar na festa. Se realizou a festa. O grupo de catadores foi o que melhor se reuniu. Viram que a idéia de se reunir deu certo. O grupo ficou otimista e perguntaram-se por que não continuar, se deu certo? Eles fizeram varias reuniões. Em 1982 o Prefeito de SP era Jânio Quadro. Era um problema, talvez aqui alguém lembra-se, que o Jânio dizia que o lixo era dele e não deixava ninguém trabalhar com o lixo. Ele tirava do trabalhador a carrocinha. Também foi um tempo difícil, mas se batalhava. Em1986 fundou-se Associação dos Catadores de Papel. Em 14.05.1989 nasceu a COOPAMARE com a ajuda de NGO. Em 1990 mudamos lá para Pinheiros, onde ainda estamos até hoje. Objetivos da COOPAMARE: • prestar serviço ao catador, • propor um ganho maior possível aos catadores, • oferecer cursos de capacitação, • garantir condições sanitárias adequadas no local de trabalho, • dar uniforme aos catadores, • conseguir lugar para guardar os carrinho Proposta para o futuro: Muitos de nós queremos fazer o supletivo. Estamos querendo juntar todas as cooperativas para formar uma cooperativa de segundo grau, por que estamos ainda nas mãos do atravessador. Nos também queremos vender o nosso material diretamente para as fábricas. E temos que nos preparar para isso. 31 Intervenção da Regina: “Sobre a Federação das cooperativas. – Nos estamos trabalhando nisso a CORPEL, a COOPAMARE, Coopemape e a São Francisco, Glicério. Nos estamos nos articulando para a formação da cooperativa de segundo grau. A gente esta também trabalhando depois do encontro que se deu em Belo Horizonte da Asmare de catadores e de materiais reaproveitáveis, nos estamos fazendo contatos com os catadores de rua, catadores de Lixão para estar fortalecendo a movimento para transformar a atividade em categoria de trabalho. Em um segundo momento estaremos falando com desempregados que queiram trabalhar com o lixo. Já existe o comitê metropolitano (SP) onde a COOPAMARE e a Copamape já estão conversando também Santo André e São Bernardo. Nos queremos fazer uma mobilização Nacional para que na semana do Meio Ambiente chegar até em Brasília e reivindicar, já esta acontecendo várias coisas de articulações”. Nos somos 342 associados e 81 cooperados. A diferença é que, para ser cooperado ele tem que passar primeiro por um estágio na associação. Ele deve entender primeiro o que é o cooperativismo. Se tem que ser sócio e depois de um processo torna-se cooperado. Temos a Coleta Seletiva e Cidadania com o patrocínio da Globo (TV). Esse patrocínio é durante um ano. Tem uma coordenadora, um operador, um motorista, e outros gastos. Nos esperamos que depois de um ano nos poderemos levar a coleta seletiva com os nossos próprios pés. No início nos vamos trabalhar com os condomínios. Fora dos sócios e cooperado tem ainda umas 80 pessoas que são moradores de rua e que passam com freqüência por lá para vender material, normalmente latinhas. Esse material é pago na hora, mas tem um preço um pouco mais baixo, por que não pertencem a cooperativa. Mas nós estamos tentando fazer um trabalho com eles também, para que no futuro quem queira passe a ser sócio e mais tarde cooperados. O objetivo nosso é que esse pessoal sejam vinculados a cooperativa. A direção da cooperativa é formada por conselho administrativo presidente, tesoureiro e secretário; o conselho fiscal, há quatro vogais. Na ausência de algum esses podem assumir. Sou presidente, mas não tomo nenhuma decisão sozinho. Salvo um caso de emergência. Até para tirar um cooperado, eu tenho que falar com a diretoria administrativa, discutir o assunto. Mas nem a diretoria administrativa pode decidir por exemplo tirar a pessoa problemática. O assunto tem que ir para uma discussão na assembléia. Temos parcerias com Colégio Santa Cruz, Colégio Santa Maria – aqui temos um trabalho com as crianças de 9 e 10 anos, nos explicamos sobre nossas vidas, falamos da reciclagem, eles visitam a cooperativa. Temos parceria com a PUC (Universidade Católica). Temos uma parceria com uma indústria, com Cata Vidro, com Centro de Saúde da Barra Funda – para 32 que as pessoas da cooperativa ou mesmo moradores de rua que através da gente vai lá possam fazer algum tratamento se necessitar. Para ser cooperado tem que pagar o INSS. O cooperado próprio deve pagar. Mas mesmo assim eu acredito que 80% dos cooperados não pagam. Talvez como o Embu faz seria melhor, por um motivo de responsabilidade e aprendizado para o cooperado. Seria bom que o projeto retire a parcela do INSS e faça o pagamento de todos juntos. Essa é uma boa idéia. Temos um fundo de lazer. Quando fazemos o balanço geral, que é anual, se há sobra nos deixamos para a cooperativa para imprevistos e para comprar equipamentos. Também cobramos 10% na balança, que é para cobrir gastos administrativos (água, luz, gastos com a kombi e o caminhão que nos temos). Nossos gastos são muito altos e esse 10% não cobre tudo, por isso as doações que recebemos são usadas para cobrir esses gastos também. Por exemplo nos temos
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