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Modernismo 1 Prof. Mariana Neto 1 1. (Unifesp 2020) Leia o trecho do poema “Os sapos”, de Manuel Bandeira. O sapo-tanoeiro [...] Diz: — “Meu cancioneiro É bem martelado. Vede como primo Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos. O meu verso é bom Frumento sem joio. Faço rimas com Consoantes de apoio. Vai por cinquenta anos Que lhes dei a norma: Reduzi sem danos A formas a forma. Clame a saparia Em críticas céticas: Não há mais poesia Mas há artes poéticas...” (Estrela da vida inteira, 1993.) No trecho, o “sapo-tanoeiro” representa uma sátira aos a) modernistas. b) românticos. c) naturalistas. d) parnasianos. e) árcades. 2. (Enem PPL 2019) Biografia de Pasárgada Quando eu tinha meus 15 anos e traduzia na classe de grego do D. Pedro II a Ciropédia fiquei encantado com o nome dessa cidadezinha fundada por Ciro, o Antigo, nas montanhas do sul da Pérsia, para lá passar os verões. A minha imaginação de adolescente começou a trabalhar, e vi Pasárgada e vivi durante alguns anos em Pasárgada. Mais de vinte anos depois, num momento de profundo desânimo, saltou-me do subconsciente este grito de evasão: “Vou-me embora pra Pasárgada!” Imediatamente senti que era a célula de um poema. Peguei do lápis e do papel, mas o poema não veio. Não pensei mais nisso. Uns cinco anos mais tarde, o mesmo grito de evasão nas mesmas circunstâncias. Desta vez, o poema saiu quase ao correr da pena. Se há belezas em “Vou-me embora pra Pasárgada!”, elas não passam de acidentes. Não construí o poema, ele construiu-se em mim, nos recessos do subconsciente, utilizando as reminiscências da infância – as histórias que Rosa, minha ama- seca mulata, me contava, o sonho jamais realizado de uma bicicleta etc. BANDEIRA, M. Itinerário de Pasárgada. São Paulo: Global, 2012. O texto é um depoimento de Manuel Bandeira a respeito da criação de um de seus poemas mais conhecidos. De acordo com esse depoimento, o fazer poético em “Vou-me embora pra Pasárgada!” a) acontece de maneira progressiva, natural e pouco intencional. b) decorre de uma inspiração fulminante, num momento de extrema emoção. c) ratifica as informações do senso comum de que Pasárgada é a representação de um lugar utópico. d) resulta das mais fortes lembranças da juventude do poeta e de seu envolvimento com a literatura grega. e) remete a um tempo da vida de Manuel Bandeira marcado por desigualdades sociais e econômicas. 3. (Famema 2019) Leia o poema “Namorados” de Manuel Bandeira (1886-1968). O rapaz chegou-se para junto da moça e disse: – Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara. A moça olhou de lado e esperou. – Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listada? A moça se lembrava: – A gente fica olhando... A meninice brincou de novo nos olhos dela. O rapaz prosseguiu com muita doçura: – Antônia, você parece uma lagarta listada. A moça arregalou os olhos, fez exclamações. O rapaz concluiu: – Antônia, você é engraçada! Você parece louca. (Estrela da vida inteira, 2009.) Verifica-se a ocorrência de personificação no seguinte verso: a) “– Antônia, você parece uma lagarta listada.” b) “A moça arregalou os olhos, fez exclamações.” c) “A meninice brincou de novo nos olhos dela.” d) “– Antônia, você é engraçada! Você parece louca.” e) “A moça olhou de lado e esperou.” 4. (Upf 2018) CAMELÔS Manuel Bandeira Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão: O que vende balõezinhos de cor O macaquinho que trepa no coqueiro O cachorrinho que bate com o rabo Os homenzinhos que jogam boxe A perereca verde que de repente dá um pulo que engraçado E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma Alegria das calçadas Uns falam pelos cotovelos: —“O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai buscar 2 [um pedaço de banana para eu acender o charuto. [Naturalmente o menino pensará: Papai está malu ...” Outros, coitados, têm a língua atada Todos porém sabem mexer nos cordéis com o tino [ingênuo de demiurgos de inutilidades. E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da [meninice... E dão aos homens que passam preocupados ou tristes [uma lição de infância. No poema “Camelôs”, que integra a obra Libertinagem, de Manuel Bandeira, destaca-se a) a admiração do eu lírico pelos camelôs, devido à alegria que provocam e à sua capacidade de relembrarem aos adultos o caráter lúdico da infância. b) o fato de que os camelôs, além de venderem coisas inúteis, atrapalham o movimento dos passantes. c) o fato de que os camelôs, além de venderem coisas inúteis, colaboram para elevar o nível de ansiedade dos passantes. d) o fato de que os camelôs, ao atrapalharem o movimento dos passantes, colaboram para elevar o nível de ansiedade dos adultos que têm pressa. e) a crítica que o eu lírico faz aos camelôs e ao tumulto que provocam, mesmo nutrindo por eles um sentimento de admiração. 5. (Ita 2017) Sobre o poema de Manuel Bandeira, Irene no céu Irene preta Irene boa Irene sempre de bom humor. Imagino Irene entrando no céu: - Licença, meu branco! E São Pedro bonachão: - Entra, Irene. Você não precisa pedir licença. (Em: Libertinagem. Rio de Janeiro: Pongetti, 1930.) é INCORRETO afirmar que a relação afetiva entre o sujeito lírico e Irene a) faz com que a descrição dela seja permeada pela visão carinhosa dele. b) torna a linguagem mais coloquial, espelhando a ligação afetuosa dos dois. c) é responsável pelo tratamento informal dado a uma entidade religiosa. d) é um mero disfarce da desigualdade entre brancos e negros. e) é, na visão dele, compartilhada até mesmo por São Pedro. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto abaixo e responda à(s) questão(ões). PRA MIM BRINCAR Não há nada mais gostoso do que o mim sujeito de verbo no infinitivo. Pra mim brincar. As cariocas que não sabem gramática falam assim. Todos os brasileiros deviam de querer falar como as cariocas que não sabem gramática. – As palavras mais feias da língua portuguesa são quiçá, alhures e miúde. BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org: Emanuel de Moraes. 4ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1986. p. 19. 6. (G1 - ifal 2017) No texto, o poeta modernista Manuel Bandeira faz uma recomendação em relação ao emprego do pronome oblíquo tônico mim, como se verifica no trecho “[...]Todos os brasileiros deviam de querer falar como as cariocas que não sabem gramática.”. Diante disso, pode-se inferir que a sua crítica se centra em a) combater a imposição gramatical proveniente dos poetas parnasianos. b) desrespeitar as normas gramaticais do português padrão. c) desconsiderar as variantes linguísticas presentes no Brasil. d) deslegitimar a norma padrão da língua portuguesa brasileira. e) ironizar as cariocas que não sabem gramática. 7. (Enem 2ª aplicação 2016) Poema tirado de uma notícia de jornal João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980. No poema de Manuel Bandeira, há uma ressignificação de elementos da função referencial da linguagem pela a) atribuição de título ao texto com base em uma notícia veiculada em jornal. b) utilização de frases curtas, características de textos do gênero jornalístico. c) indicação de nomes de lugares como garantia da veracidade da cena narrada. d) enumeração de ações, com foco nos eventos acontecidos à personagem do texto. e) apresentação de elementos próprios da notícia, tais como quem, onde, quandoe o quê. 8. (Unesp 2019) Indo às consequências finais da posição de José de Alencar no Romantismo, esse autor adotou como base da sua obra o esforço de escrever numa língua inspirada pela fala corrente e os modismos populares, não hesitando em usar formas consideradas incorretas, desde que legitimadas pelo uso brasileiro. Com isso, foi o maior demolidor da “pureza vernácula” e do “culto da forma”. (Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.) 3 O texto refere-se a a) Olavo Bilac. b) Machado de Assis. c) Mário de Andrade. d) Aluísio Azevedo. e) Euclides da Cunha. 9. (Uel 2017) Leia o texto a seguir. No fundo do mato virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro: passou mais de seis anos não falando. Se o incitavam a falar, exclamava: – Ai que preguiça!... e não dizia mais nada. Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar. Como a rede da mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha, espantando os mosquitos bem. Então adormecia sonhando palavras feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar. Adaptado de: ANDRADE, M. Macunaíma. Rio de Janeiro: Agir, 2008. p. 7. Enquanto produção cultural, o Modernismo procurava reconhecer as identidades que formavam o povo brasileiro. Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a presença da temática indígena no movimento, tendo por modelo o romance de Mário de Andrade. a) A utilização da temática indígena configurava um projeto nacional de busca dos valores nativos para a formação da identidade brasileira, na época. b) Como herói indígena, Macunaíma difere das representações românticas, já que ele figura como um anti-herói, um personagem de ações valorosas, mas também vis. c) Macunaíma se insere no racismo corrente no início do século XX, que via uma animalidade no indígena, considerado coisa, e não gente. d) O indígena foi considerado pelos modernistas como único representante da identidade brasileira, pois sua cultura era vista como pura e sem interferência de outros povos. e) O trecho reafirma a característica histórico-antropológica do patriarcado brasileiro, que compreendia o indígena como um incivilizado puro e ingênuo. 10. (Unisc 2017) Leia atentamente o trecho de Macunaíma, de Mário de Andrade. No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava: – Ai! que preguiça!... e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a água-doce por lá. No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha. Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos e frequentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo. (ANDRADE, Mano de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Belo Horizonte: Itatiaia, 1987. p. 9) A partir da interpretação do trecho acima, assinale a alternativa correta. a) Macunaíma é um típico herói idealizado do Romantismo. b) Observa-se, no trecho acima, que o comportamento da personagem está em sintonia com o ambiente em que vive, sendo, por esse motivo, um romance típico do Naturalismo. c) O trecho apresenta a inovação em termos de linguagem que caracteriza as obras literárias da primeira geração do Modernismo. d) O texto apresenta as características que marcam o regionalismo crítico da prosa da segunda geração do Modernismo. e) O aprofundamento psicológico da personagem permite afirmar que se trata de um romance da terceira geração do Modernismo brasileiro. 11. (Enem 2ª aplicação 2016) Descobrimento Abancado à escrivaninha em São Paulo Na minha casa da rua Lopes Chaves De sopetão senti um friúme por dentro. Fiquei trêmulo, muito comovido Com o livro palerma olhando pra mim. Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! Muito longe de mim, Na escuridão ativa da noite que caiu, Um homem pálido, magro de cabelos escorrendo nos olhos Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, Faz pouco se deitou, está dormindo. Esse homem é brasileiro que nem eu... ANDRADE, M. Poesias completas. São Paulo: Edusp, 1987. O poema “Descobrimento”, de Mário de Andrade, marca a postura nacionalista manifestada pelos escritores modernistas. Recuperando o fato histórico do “descobrimento”, a construção poética problematiza a representação nacional a fim de a) resgatar o passado indígena brasileiro. b) criticar a colonização portuguesa no Brasil. c) defender a diversidade social e cultural brasileira. d) promover a integração das diferentes regiões do país. e) valorizar a Região Norte, pouco conhecida pelos brasileiros. 12. (Enem 2ª aplicação 2016) O bonde abre a viagem, No banco ninguém, Estou só, stou sem. Depois sobe um homem, No banco sentou, Companheiro vou. O bonde está cheio, De novo porém Não sou mais ninguém. ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Vila Rica, 1993. 4 O desenvolvimento das grandes cidades e a consequente concentração populacional nos centros urbanos geraram mudanças importantes no comportamento dos indivíduos em sociedade. No poema de Mário de Andrade, publicado na década de 1940, a vida na metrópole aparece representada pela contraposição entre a) a solidão e a multidão. b) a carência e a satisfação. c) a mobilidade e a lentidão. d) a amizade e a indiferença. e) a mudança e a estagnação. 13. (Unesp 2016) Duas fortes motivações converteram-se em molas de composição desta obra: a) por um lado, o desejo de contar e cantar episódios em torno de uma figura lendária que trazia em si os atributos do herói, entendido no senso mais lato possível de um ser entre humano e mítico, que desempenha certos papéis, vai em busca de um bem essencial, arrosta perigos, sofre mudanças extraordinárias, enfim vence ou malogra...; b) por outro lado, o desejo não menos imperioso de pensar o povo brasileiro, nossa gente, percorrendo as trilhas cruzadas ou superpostas da sua existência selvagem, colonial e moderna, à procura de uma identidade que, de tão plural que é, beira a surpresa e a indeterminação. (Alfredo Bosi. Céu, inferno, 2003. Adaptado.) Tal comentário aplica-se à obra a) Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida. b) Vidas secas, de Graciliano Ramos. c) Macunaíma, de Mário de Andrade. d) Os sertões, de Euclides da Cunha. e) Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. 14. (Unifesp 2016) Uma análise mais atenta do livro mostra que ele foi construído a partir da combinação de uma infinidade de textos preexistentes, elaborados pela tradição oral ou escrita, popular ou erudita, europeia ou brasileira. A originalidade estrutural deriva, deste modo, do fato de o livro não se basear na mímesis, isto é, na dependência constante que a arte estabelece entre o mundo objetivo e a ficção; mas em ligar-se quase sempre a outros mundos imaginários, a sistemas fechadosde sinais, já regidos por significação autônoma. Esse processo, parasitário na aparência, é no entanto curiosamente inventivo; pois, em vez de recortar com neutralidade nos entrechos originais as partes de que necessita para reagrupá-las, intactas, numa ordem nova, atua quase sempre sobre cada fragmento, alterando-o em profundidade. (Gilda de Mello e Souza. O tupi e o alaúde, 1979. Adaptado.) Tal comentário aplica-se ao livro a) A cidade e as serras, de Eça de Queirós. b) Macunaíma, de Mário de Andrade. c) Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida. d) Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. e) Iracema, de José de Alencar. 15. (Enem 2019) HELOÍSA: Faz versos? PINOTE: Sendo preciso... Quadrinhas... Acrósticos... Sonetos... Reclames. HELOÍSA: Futuristas? PINOTE: Não senhora! Eu já fui futurista. Cheguei a acreditar na independência... Mas foi uma tragédia! Começaram a me tratar de maluco. A me olhar de esguelha. A não me receber mais. As crianças choravam em casa. Tenho três filhos. No jornal também não pagavam, devido à crise. Precisei viver de bicos. Ah! Reneguei tudo. Arranjei aquele instrumento (Mostra a faca) e fiquei passadista. ANDRADE, O. O rei da vela. São Paulo: Globo, 2003. O fragmento da peça teatral de Oswald de Andrade ironiza a reação da sociedade brasileira dos anos 1930 diante de determinada vanguarda europeia. Nessa visão, atribui-se ao público leitor uma postura a) preconceituosa, ao evitar formas poéticas simplificadas. b) conservadora, ao optar por modelos consagrados. c) preciosista, ao preferir modelos literários eruditos. d) nacionalista, ao negar modelos estrangeiros. e) eclética, ao aceitar diversos estilos poéticos. 16. (Acafe 2018) MEUS OITO ANOS Casimiro de Abreu Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais! [...] MEUS OITO ANOS Oswald de Andrade Oh que saudades que eu tenho Da aurora de minha vida Das horas De minha infância Que os anos não trazem mais Naquele quintal de terra Da Rua de Santo Antônio Debaixo da bananeira Sem nenhum laranjais [...] Sobre o poema de Oswald de Andrade, é correto afirmar que: a) o autor usou um recurso denominado bricolagem, uma vez que criou um texto a partir de fragmentos de diversos outros textos com os quais dialoga, em um processo de citação extrema. b) trata-se de uma paródia que, de forma tendenciosa, pauta-se pela recriação de um texto com caráter contestador e crítico, em tom jocoso. c) constitui-se de uma paráfrase do texto Meus Oito Anos, de Casimiro de Abreu, atribuindo-lhe uma nova “roupagem” discursiva, embora mantendo a mesma ideia contida no texto original. d) é uma citação, pois Oswald de Andrade incorpora a seu texto partes do texto de Casimiro de Abreu, com quem dialoga. 5 Todavia, por não expressar a citação entre aspas, caracteriza-se como plágio. 17. (Fuvest 2017) Canção do exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. [...] Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. Gonçalves Dias, Primeiros cantos. Canto do regresso à pátria Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra [...] Não permita Deus que eu morra Sem que volte pra São Paulo Sem que veja a Rua 15 E o progresso de São Paulo. Oswald de Andrade, Pau- Brasil. a) Considerando que os poemas foram escritos, respectivamente, em 1843 e 1924, caracterize seus contextos históricos sob os pontos de vista político e social. b) Comparando os dois poemas, indique uma diferença estética e uma diferença ideológica entre ambos. 18. (Unicamp 2016) Pobre alimária O cavalo e a carroça Estavam atravancados no trilho E como o motorneiro se impacientasse Porque levava os advogados para os escritórios Desatravancaram o veículo E o animal disparou Mas o lesto carroceiro Trepou na boleia E castigou o fugitivo atrelado Com um grandioso chicote (Oswald de Andrade, Pau Brasil. São Paulo: Globo, 2003, p.159.) A imagem e o poema revelam a dinâmica do espaço na cidade de São Paulo na primeira metade do século XX. Qual alternativa abaixo formula corretamente essa dinâmica? a) Trata-se da ascensão de um moderno mundo urbano, onde coexistiam harmonicamente diferentes temporalidades, funções urbanas, sistemas técnicos e formas de trabalho, viabilizando- se, desse modo, a coesão entre o espaço da cidade e o tecido social. b) Trata-se de um espaço agrário e acomodado, num período em que a urbanização não tinha se estabelecido, mas que abrigava em seu interstício alguns vetores da modernização industrial. c) Trata-se de um espaço onde coexistiam distintas temporalidades: uma atrelada ao ritmo lento de um passado agrário e, outra, atrelada ao ritmo acelerado que caracteriza a modernidade urbana. d) Trata-se de uma paisagem urbana e uma divisão do trabalho típicas do período colonial, pois a metropolização é um processo desencadeado a partir da segunda metade do século XX. 19. (Espm 2016) O ensaísta Roberto Schwarz alude ao fato de haver no país um descompasso ideológico, isto é, o desconcerto de uma sociedade escravista, mais as ideias importadas do liberalismo europeu. De onde a sensação de que, no Brasil, as ideias estão deslocadas em relação ao seu uso europeu: há um desacordo entre a situação local e o molde importado. As ‘nossas’ coisas, assim, não seriam nossas. Dos itens abaixo, o exemplo literário que reflete o espírito do tema acima exposto é: a) “Alguém há de cuidar que é frase inchada / Daquela que lá se usa entre essa gente” (Cláudio Manuel da Costa) b) “Invejo o ourives quando escrevo;/ Imito o amor / Com que ele, em ouro, o alto-relevo / Faz de uma flor.” (Olavo Bilac) c) “Minha terra tem primores, / Que tais não encontro eu cá; / Em cismar – sozinho à noite - / Mais prazer encontro eu lá;” (Gon- çalves Dias) d) “A praça! A praça é do povo / Como o céu é do condor,” (Castro Alves) e) “Tupi or not tupi, that is the question”. (Oswald de Andrade) 20. (Fuvest 2020) Leia o poema e responda ao que se pede. Mas a taba cresceu... Tigueras* agressivas, Para trás! Agora o asfalto anda em Tabatinguera. Mal se esgueira um pajé entre locomotivas E o forde assusta os manes** lentos do Anhanguera. [...] Segue pra forca da Tabatinguera. Lento O cortejo acompanha a rubra cadeirinha Pro Ipiranga. Será que em tão pequeno assento A marquesa botou sua imperial bundinha!... 6 Mário de Andrade, “Tabatinguera”, Losango Cáqui (1924). In: Poesias completas v.1. São Paulo: Martins Fontes, 1979. * área plantada onde já se fez a colheita. ** alma dos mortos, restos mortais. a) Identifique um aspecto mencionado no poema que justifique a expressão “a taba cresceu”. b) Destaque um argumento histórico e outro de caráter estético para o emprego de expressões indígenas no poema. c) Explique as condições históricas que favoreceram a citação do “asfalto”, das “locomotivas” e do “forde”. 21. (Unesp 2019) Leia o poema “Pobre alimária”, de Oswald de Andrade, publicado originalmente em 1925. O cavalo e a carroça Estavam atravancados no trilho E como o motorneiro se impacientasse Porque levava os advogados para os escritórios Desatravancaram oveículo E o animal disparou Mas o lesto carroceiro Trepou na boleia E castigou o fugitivo atrelado Com um grandioso chicote (Pau-Brasil, 1990.) Considerando o momento de sua produção, o poema a) celebra a persistência das tradições rurais brasileiras, que inviabilizaram o avanço do processo de industrialização de São Paulo. b) valoriza a variedade e a eficácia dos meios de transporte, que contribuíam para impulsionar a economia brasileira. c) critica a recorrência das práticas de exploração e maus tratos aos animais nos principais centros urbanos brasileiros. d) registra uma rápida cena urbana, que expõe tensões e ambiguidades no processo de modernização da cidade de São Paulo. e) exemplifica o choque social constante entre as elites enriquecidas e a população pobre da cidade de São Paulo. Gabarito: Resposta da questão 1: [D] O poema metalinguístico “Os sapos” apresenta o que, para os modernistas, não deveria ser a poesia. O sapo-boi, o sapo-tanoeiro, o sapo-pipa são personagens metafóricos representativos de determinados poetas que defendem preceitos da poética parnasiana, em especial o sapo-tanoeiro (parnasiano aguado), que passa a descrever o seu cancioneiro, a sua poética, baseado na forma. Bandeira, através da paródia, critica a preocupação excessiva dos parnasianos com a forma, em detrimento do conteúdo. Assim, é correta a opção [D]. Resposta da questão 2: [A] O depoimento de Manuel Bandeira revela que o processo de construção do poema “Vou-me embora pra Pasárgada!” foi lento e gradual. A palavra que mais tarde simbolizará o mundo ideal em que se vai refugiar o eu lírico para escapar da realidade, Pasárgada, surge aos 15 anos, numa aula de geografia. Reaparece na memória vinte anos depois, embora incapacitada para o fazer poético, o que só irá acontecer cinco anos depois de forma espontânea e natural. Assim, é correta a opção [A]. Resposta da questão 3: [C] [A] Incorreta. Ocorre comparação no verso. [B] Incorreta. Percebe-se assíndeto na construção do verso. [C] Correta. Personificação ou prosopopeia é a figura de linguagem em quer algo inanimado adquire características animadas; o verso “A meninice brincou de novo nos olhos dela.” exemplifica essa definição. [D] Incorreta. Ocorre comparação no verso. [E] Incorreta. A linguagem é conotativa no verso destacado. Resposta da questão 4: [A] Embora o poeta trate da inutilidade dos produtos vendidos pelos camelôs, ele o faz de maneira bem-humorada, exaltando os camelôs e destacando seus aspectos positivos (“Abençoados sejam os camelôs”): eles trazem alegria (“Alegria das calçadas”) e provocam lembranças nos adultos, fazendo com que estes recordem do caráter lúdico da infância, como vemos nos últimos versos. Resposta da questão 5: [D] Em “Irene no céu”, o modo como se tratam os personagens branco e negro, representados, respectivamente, por São Pedro e pela própria Irene, (“Licença, meu branco!”, “ Entra, Irene. Você não precisa pedir licença”) revela que a diferença étnica não representa nenhum obstáculo à sinceridade da relação e à afetividade entre os dois. Assim, é incorreta a opção [D]. Resposta da questão 6: [A] Manuel Bandeira foi um poeta modernista bastante crítico ao tradicionalismo parnasiano e às suas regras de composição. Assim, no seu texto “Pra mim brincar” ele busca combater a imposição gramatical proveniente desses poetas parnasianos, mostrando que aquilo que não é gramaticalmente correto também é belo. Resposta da questão 7: [E] No poema de Manuel Bandeira, o uso da função referencial da linguagem reflete a necessidade de transmitir ao interlocutor dados da realidade de uma maneira direta e objetiva, no caso com elementos próprios da notícia, tais como “quem”, “onde”, “quando” e “o quê”. Assim, é correta a opção [E]. Resposta da questão 8: [C] Os autores mencionados em [A], [B], [D] e [E] estão vinculados às estéticas parnasiana, realista, naturalista e pré-modernista, respectivamente. Na segunda década do século XX, alguns autores brasileiros, influenciados pelas vanguardas artísticas que se espalhavam pela Europa, optam por apresentar uma estética inovadora através da reconstrução da cultura brasileira sobre bases nacionais. A obra de Mário de Andrade revela a intenção de o escritor privilegiar o uso da língua segundo as características diferenciais do Brasil, incorporando o vocabulário e a sintaxe irregular de um país onde as raças e as culturas se misturam. Assim, é correta a opção [C]. Resposta da questão 9: [B] O trecho extraído de Macunaíma revela já uma caracterização de um herói bastante distinto e até oposto dos heróis comuns. A sua infância é descrita como um momento em que ele “fez coisas de sarapantar”, isto é, aprontou bastante. É caracterizado, assim, 7 como um herói que dizia palavras feias e aprontava com as pessoas, realizando, portanto, ações vis. Por outro lado, ao longo do romance vemos que Macunaíma também realiza ações valorosas. Assim, ele se difere das representações românticas de heróis com ações puramente valorosas e honráveis, e figura como um anti-herói, variando de ações vis a valorosas. Resposta da questão 10: [C] [A] Incorreta. Macunaíma é o retrato do anti-herói brasileiro, ilustrando o nacionalismo crítico da 1ª geração Modernista. [B] Incorreta. Macunaíma é uma obra da 1ª geração Modernista. [C] Correta. A valorização da linguagem coloquial é uma das propostas da 1ª geração Modernista, como se verifica em “Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos e frequentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo”. [D] Incorreta. Macunaíma é uma obra da 1ª geração Modernista. Além disso, é conhecida por “rapsódia brasileira”, exatamente por buscar retratar a diversidade nacional. [E] Incorreta. Macunaíma é uma obra da 1ª geração Modernista. Além disso, não é preocupação do narrador apresentar abordagem psicológica em seus personagens. Resposta da questão 11: [C] No poema “Descobrimento”, o eu lírico direciona os seus pensamentos para a realidade social do Norte do Brasil, onde o trabalhador é vítima de um trabalho duro e mal remunerado. Ao comparar essa imagem com a realidade que ele mesmo vivencia em São Paulo, percebe as disparidades sociais nas várias regiões do Brasil. Assim, a construção poética problematiza a representação nacional a fim de defender a diversidade social e cultural brasileira, como se afirma em [C]. Resposta da questão 12: [A] A sucessão de orações coordenadas reproduz a sequência de cenas e sensações experimentadas pelo eu lírico ao longo da viagem. Os primeiros versos do poema focalizam a solidão [“estou só, stou sem”], sensação que é alterada nos seguintes, quando alguém se senta a seu lado e parece interagir com ele (“Companheiro vou”). Na sequência, o bonde lota, e o eu lírico volta a sentir-se solitário e anônimo no conjunto heterogêneo de pessoas que se amontoam (“O bonde está cheio,/ De novo porém/ Não sou mais ninguém”. Assim, é correta a opção [A], pois, no poema de Mário de Andrade, a vida na metrópole aparece representada pela contraposição entre a solidão e a multidão. Resposta da questão 13: [C] A referência ao “herói” como um ser entre humano e mítico que vai em busca de um bem essencial e ao seu desejo de representar a “nossa gente” permitem deduzir que se trata de Macunaíma, o herói sem caráter, protagonista da obra homônima de Mario de Andrade. Assim, é correta a opção [C]. Resposta da questão 14: [B] As referências a uma obra elaborada com base em textos preexistentes, transmitidos por via oral ou escrita, em linguagem popular e erudita e que mescla o mundo objetivo com a ficção apontam para a obra Macunaíma de Mário de Andrade, mencionada na opção [B]. Trata-se de uma narrativa que o autor classificou de rapsódia por reunir lendas, folclores,crendices, costumes e provérbios, em linguagem popular e erudita a fim de representar a miscigenação cultural da sociedade brasileira. Resposta da questão 15: [B] A resposta de Pinote ao questionamento de Heloísa sobre se o estilo do poeta seria o Futurismo é reveladora do conservadorismo da sociedade brasileira dos anos 30. O fato de ter abandonado esse estilo para passar a fazer poesia nos moldes clássicos justificava-se pela necessidade de aceitação ao gosto do público da época e, desse modo, o poeta poder garantir também a sua própria sobrevivência financeira. Assim, é correta a opção [B]. Resposta da questão 16: [B] Oswald de Andrade faz uma releitura cômica do poema de Casimiro de Abreu, configurando, assim, uma paródia. Dessa forma, Oswald é irônico ao retomar Casimiro, revelando como o olhar romântico já não é coerente com o momento em que vive. Resposta da questão 17: [Resposta do ponto de vista da disciplina de História] a) Em 1843 o Brasil atravessa um período de fim da Regência e início do Segundo Reinado. A ascensão de d. Pedro II ao trono acabou por acalmar os ânimos políticos e sociais do Império. Em 1924 o país atravessava um período de questionamentos acerca do governo oligárquico. A maior marca desses questionamentos foram os Levantes Tenentistas. [Resposta do ponto de vista da disciplina de Português] a) O contexto histórico de consolidação do Estado nacional brasileiro explica o nacionalismo ufanista de Gonçalves Dias, postura comum aos poetas da época, que tinham como propósito a construção de uma literatura verdadeiramente nacional, que refletisse a identidade da jovem nação brasileira. Nesse contexto se insere o Modernismo, iniciado a partir da Semana de Arte Moderna, em 1922. O propósito dos poetas dessa época, entre eles Oswald de Andrade, era de revolucionar a literatura brasileira. Há, nesse período, também uma tendência nacionalista, mas não o nacionalismo ufanista dos românticos, mas um nacionalismo crítico, capaz de expressar a complexidade da realidade brasileira. b) Diferenças estéticas: o primeiro poema, de Gonçalves Dias, possui rimas e métrica de sete sílabas poéticas – trata-se de uma redondilha maior. Além disso, é uma obra original que descreve a terra brasileira em seus aspectos naturais. O segundo poema, de Oswald de Andrade, estrutura-se predominantemente em sete sílabas poéticas também, com exceção do segundo verso, que possui seis; no entanto, não possui rimas. A temática é urbana e ele parodia “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias. Diferenças ideológicas: o primeiro poema pertence ao Romantismo e apresenta um nacionalismo ufanista. Já o segundo é da primeira fase do modernismo e caracteriza-se pela iconoclastia – o que justifica a paródia ao poema do Romantismo –, pela irreverência e pela criticidade. Resposta da questão 18: [C] No poema “Pobre alimária”, integrante da obra “Pau-Brasil”, Oswald de Andrade reproduz poeticamente a imagem de uma cidade a meio caminho do progresso, mas ainda com características de vila pacata e burguesa. Trata-se de uma cidade que em pouco tempo irá tornar-se a maior do Brasil e adaptar-se a uma nova mobilidade no espaço urbano, mas onde ainda permanecem as estruturas do período colonial. Isso fica mais claro, quando se vê na fotografia que acompanha o poema, a presença de parelhas de bois e 8 carroças em meio à agitação de pessoas. Assim, é correta a opção [C]. Resposta da questão 19: [E] [A] Incorreta. O trecho em questão aponta para o rebuscamento linguístico do texto barroco em oposição à simplicidade defendida pelos árcades. [B] Incorreta. O trecho aponta para convergência de finalidades entre o ourives e o poeta parnasiano, preocupados em alcançar a perfeição formal. [C] Incorreta. O trecho apresenta o saudosismo romântico, em leitura ufanista do próprio país, em detrimento do exílio. [D] Incorreta. O trecho salienta a importância social da participação popular frente a questões sociais – em referência à questão abolicionista defendida por Castro Alves. [E] Correta. Oswald de Andrade, no Manifesto Antropófago, pode ser aproximado das colocações de Roberto Schwarz ao mencionar as questões estrangeiras como modelo a ser seguido pelos brasileiros: a célebre frase de William Shakespeare foi aproveitada pelo modernista para expor a problemática quanto à origem brasileira indígena. Resposta da questão 20: a) O avanço do surgimento de áreas urbanas no país, em detrimento do campo; b) Argumento histórico: a influência indígena na formação da língua brasileira; Argumento estético: o uso de mecanismos modernistas de produção cultural. c) O crescimento da cafeicultura em São Paulo, que impulsionou a industrialização e a urbanização. Resposta da questão 21: [D] Somente a proposição [D] está correta. O Poema de Oswald de Andrade “Pobre alimária”, de 1925, pode ser interpretado como um contraste entre o arcaico e o moderno no cotidiano da cidade de São Paulo vinculado ao processo de modernização.
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